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Tópico: Direitos Políticos

1. Introdução
 Art. 1ª, p. único da CF:
o Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
o Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição.
 O poder decorre do povo, exercendo-o através:
a) Dos seus representantes eleitos, pelo sistema representativo clássico, por meio dos quais os eleitores se
qualificam pelo atributo da cidadania, escolhendo seus representantes e estes passam a exercer um
mandato político.
b) De práticas chamadas em doutrina de “democracia semi direta”, que são basicamente o plebiscito, o
referendo no qual os eleitores exercem também esta soberania.
 Distinção entre Direito Políticos positivos e Direitos Políticos Negativos:
o Faz-se esta distinção para fins de facilitar o estudo das regras dentro deste conjunto que asseguram
ao nacional o direito subjetivo da participação no processo político dentro do Estado Democrático.
o Assegurando ao nacional a participação no processo político, através do seu voto nas eleições, nos
plebiscitos ou exercitando outros direitos políticos, sendo estes os aspectos positivos.
o No que tange o conjunto de regras nos direitos políticos negativos, basicamente são as regras de
inelegibilidade e as previstas na Constituição da perda e suspensão dos direitos políticos, ou seja,
restringe ou impede a participação de alguns nacionais no processo político.
 Base do regime democrático
 Gilmar Mendes: a expressão refere-se:
a) Direito de participação no processo político
b) Direito ao sufrágio universal e ao voto periódico, livre, igual, secreto e direto
c) Autonomia de organização do sistema partidário
d) Igualdade de oportunidade aos partidos
 JAS: conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos
governamentais, por meios das diversas modalidades de direito de sufrágio:
a) Voto
b) Elegibilidade
c) Participação em plebiscito, referendo
d) Direito de iniciativa popular
e) Direito de propor ação popular
f) Direito de organizar e participar de partidos políticos
 Artigo 14 da CF:
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

2. Direito ao sufrágio
 É materializado pelo direito de votar (capacidade eleitoral ativa) e ser votado (capacidade eleitoral passiva)
o Mas engloba também a participação em plebiscitos, referendos e iniciativas populares
 Pode ser:
a) Universal: significa que os direitos políticos são concedidos a todos, sem a necessidade de pertencerem a
determinado grupo ou possuírem qualquer qualificação em especial
o Adotado expressamente pela CF de 88
o Assim, dispõem de direito de sufrágio as pessoas dotadas de capacidade civil, maiores de 18 anos, e,
facultativamente, os analfabetos, os maiores de 70 anos e os que possuem entre 16 e 18 anos
b) Restrito: os direitos políticos somente são concedidos àqueles que preencherem determinadas
características
o Pode ser:
 Censitário: somente concedidos a quem possua determinada condição econômica
 Capacitário: somente a pessoas que possuem determinada qualificação ou capacidade
 Discussão TSE: mediante consulta do TRE-ES, o TSE entendeu que, relativamente aos portadores de deficiência
grave, cuja natureza impossibilite ou torne extremamente oneroso o exercício de suas obrigações eleitorais,
estes estão liberados das sanções relativas ao não alistamento e ao exercício do voto
o Adoção do chamado pensamento do possível, entendendo pela lacuna constitucional no que se refere
ao assunto
o Necessidade de integração por analogia à facultatividade do alistamento e voto pelos maiores de 70
anos, garantidos em função de seu bem-estar
o Legitimação de cláusula implícita que justifica outras exceções ao alistamento e voto obrigatórios,
compatíveis com o projeto fixado pela Constituição
o Edição da Res. 21920/04
 Discussão TSE: exigência de comprovação de quitação de serviço militar para fins de alistamento pelos índios
o Somente em relação aos índios integrados, pois somente estes são alistáveis
2.1. Capacidade eleitoral ativa
o Garante ao nacional o direito de votar
o Sua aquisição se efetua com o alistamento
o Dá ao nacional a condição de cidadão e permite o exercício de alguns direitos políticos
 Mas não implica em obtenção da capacidade eleitoral passiva, que depende de outros requisitos
para se configurar
 Assim, todo aquele que detém capacidade passiva detém a capacidade ativa; mas a recíproca
não é verdadeira (todo elegível é eleitor, mas nem todo eleitor é elegível)
o Artigo 14, § 1º da CF:

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:


I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

o Obrigatoriedade de alistamento e voto para os maiores de 18 anos


 Significa a obrigação de votar ou justificar o não exercício do direito de voto
o Facultativo, entretanto, para os analfabetos, maiores de 70 anos e os que possuem entre 16 e 18 anos
de idade
o Proibição de alistamento: estrangeiros e os conscritos durante a prestação do serviço militar obrigatório
 Artigo 14, § 2º:

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o


período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

 Tal proibição não se aplica a policiais militares


 Se aplica, todavia, a alunos de órgãos de formação da Reserva, além de aos médicos, dentistas
farmacêuticos e veterinários que prestam serviço militar inicial obrigatório
o Características do Voto:
a) Expressamente previstos na Constituição
 Direto:
 Exceção: artigo 81, § 1º da CF:
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-
se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial,
a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga,
pelo Congresso Nacional, na forma da lei.

 Aplicação aos Estados e Municípios, nos termos do Acórdão 3643 de 2008: (Marcelo
Ribeiro)
 Secreto
 Igualdade de valor
 Periodicidade
b) Não expressamente previstos:
 Livre
 Personalidade
 Direito político subjetivo (que não pode ser abolido)
2.2. Plebiscito e Referendo
o Dependerão de autorização do Congresso Nacional (CF, artigo 49), excetuado os casos expressamente
previstos na Constituição:
a) Alteração territorial de Estado e Município (artigo 18, §§ 3º e 4º)
b) Forma e sistema de governo (artigo 2º do ADCT)
o Consulta à população para que deliberem sobre matéria de acentuada relevância, de natureza
constitucional, legislativa ou administrativa
o Plebiscito: consulta prévia à população quanto a matéria a ser posteriormente discutida pelo CN
o Referendo: consulta posterior à população sobre determinado ato ou decisão governamental, para
atribuir-lhe eficácia (condição suspensiva) ou retirar-lhe a eficácia (condição resolutiva)
o Matéria regulada pela Lei 9709/98
 Artigo 3º: exigência de pelo menos 1/3 dos votos dos membros que compõem uma das casas do
CN
 Assim, não é possível a realização de plebiscito ou referendo através de proposta veiculada
por iniciativa popular!
2.3. Iniciativa popular
o Prevista no artigo 61, § 2º da CF

§ 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos


Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não
menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles

o Também tratada pela Lei 9709/98, que estabeleceu que:


a) Deve restringir-se a um único assunto;
b) Não pode ser rejeitada por motivo de vício de forma
o RI da Câmara prevê que não poderá haver o arquivamento de proposições legislativas decorrentes de
iniciativa popular
2.4. Capacidade eleitoral passiva
o Estará presente desde que preenchidos as chamadas condições de elegibilidade e, concomitantemente,
ausentes quaisquer causas de inelegibilidade
2.4.1. Condições de elegibilidade
 Elencadas no artigo 14, § 3º da CF
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

 Pleno exercício dos direitos políticos: significa que o cidadão não pode ter perdido ou ter
suspensos os seus direitos políticos
 Idade mínima: deve ser verificada à data da posse (Lei 9504/97)
 Domicílio Eleitoral: não se confunde com o domicílio civil
 Local onde o candidato possui vínculos políticos e sociais
 Pelo menos um ano antes do pleito
 TSE: local no qual o eleitor apresente ligação material ou afetiva com a circunscrição,
sejam vínculos políticos, comerciais, profissionais, patrimoniais, comunitários ou laços
familiares
 Residência (artigo 55 do CE): para o TSE não se exige prova do local no qual a pessoa
reside, mas vínculos a abonar a residência exigida, como vínculos
patrimoniais/econômicos, profissionais/funcionais, políticos ou comunitários
 Filiação partidária: deve ocorre no mínimo um ano antes das eleições
 Não se admite a dupla militância (cancelamento de ambas)
 TSE: perdem automaticamente a filiação o filiado que se torna:
a) Militar
b) Juiz
c) Promotor
d) Ministro do Tribunal de Contas
 TSE: caso haja prisão do filiado, sua filiação persiste, mas será suspensa para o
cumprimento da pena
3. Inelegibilidade:
 Consiste na ausência de capacidade eleitoral passiva, incidindo como impedimento à candidatura nos Poderes
Executivo e Legislativo
3.1. Espécies de inelegibilidade
3.1.1. Absoluta
 Previstas em função das condições pessoais do candidato
 Somente podem ser previstas pela CF (não há autorização para previsão por norma
infraconstitucional)
 Artigo 14, § 4º da CF:

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

 Assim, não podem concorrer a cargo eletivo:


a) Analfabetos
b) Estrangeiros e conscritos (pois não são alistáveis, nos termos do artigo 14, § 2º da CF)
3.1.2. Relativa
 Não decorrem da condição pessoal do candidato, mas de especial condição existente à época da
eleição
3.1.2.1. Motivos funcionais:
 Estabelecida no artigo 14, §§ 5º e 6º
 § 5º: reeleição

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito


Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos
mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente

o Assim:
a) Os chefes do executivo não poderão ser reeleitos por três vezes
consecutivas para o exercício do mesmo cargo
 Não se exige, para a reeleição, desincompatibilização
 Mas se o candidato assim desejar, poderá pedir licença ao Legislativo ou
ainda renunciar com o objetivo de desincompatibilizar-se
b) Os que os houverem substituído ou sucedido no curso do mandato também
não
o Necessárias ainda as seguintes observações:
1) VP, VG e V. Prefeito também só poderão se reeleger para os mesmos cargos
uma vez
2) VP, VG e V. Prefeito, reeleitos ou não, podem se candidatar ao cargo do
titular, mesmo tendo substituído este no curso do mandato
3) Não pode o chefe do executivo reeleito renunciar ao cargo antes do final do
mandato com o objetivo de pleitear nova recondução para período
subsequente
4) O chefe do executivo reeleito não pode se candidatar, no período
imediatamente subsequente, ao cargo de vice-chefia do executivo
5) O chefe do executivo reeleito não pode se candidatar, no período
imediatamente subsequente, à eleição prevista no artigo 81 da CF
6) Na hipótese de vacância definitiva do cargo de chefia do executivo, o vice
assume efetiva e definitivamente o cargo, e somente poderá candidatar-se a
um período subsequente
 § 6º da CF: para concorrer a outros cargos

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os


Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem
renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.
o Tal inelegibilidade aplica-se á candidatura a qualquer cargo, inclusive suplente
de senador
o VP, VG e V. Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos sem necessidade de
desincompatibilização, desde que, nos 6 meses anteriores ao pleito, não tenham
substituído ou sucedido o titular
3.1.2.2. Motivos de casamento, parentesco ou afinidade
 Artigo 14, § 7º:

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os


parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.

 Denominada INELEGIBILIDADE REFLEXA, pois incide sobre terceiros


 Alcança apenas o território da circunscrição do titular
 Assim:
o Cônjuge, companheiro ou parentes e afins de prefeito não podem se candidatar
no mesmo município
o Cônjuge, companheiro ou parentes e afins de governador não podem se
candidatar no mesmo estado
o Cônjuge, companheiro ou parentes e afins de presidente não podem se
candidatar no Brasil
 Também se aplica para os que tenham substituído o chefe do executivo nos 6 meses
anteriores ao pleito
 Estende-se, por entendimento do TSE, aos que vivem em união homoafetiva
 Alcança inclusive companheiro e cunhado, em função do conceito ampliado de família
adotado pela CF
 STF: no caso de criação de município por desmembramento, o parente do prefeito do
município-mãe não poderá candidatar-se a Chefe do Executivo do município recém-
criado
 Não se aplica no caso de o cônjuge, companheiro ou parente já ser detentor de mandato
eletivo, caso em que poderá candidatar-se à reeleição (NÃO ENTENDI como é possível o
parente ter sido eleito...)
 Súmula Vinculante 18 do STF:

A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não


afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.
 Importante: entendem o TSE e o STF que se o chefe do executivo renunciar ao mandato pelo menos 6 meses
antes da eleição, o cônjuge, companheiro ou parente poderão se candidatar a qualquer cargo eletivo, ainda que o
mesmo daquele, mas desde que aquele pudesse tentar a reeleição
3.1.2.3. Condição de militar:
 Nos termos do artigo 142, § 3º, V da CF, ao militar é vedado, enquanto estiver ativo,
filiar-se a partido político:

§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-


se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
(...)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos
políticos;

 Em sendo assim, caso, tendo deixado a ativa, deseje se candidatar, não esse exige a
prévia filiação de um ano a partido, sendo possível sua candidatura mediante registro da
mesma e autorização de sua parte
 Atendida esta exigência, o militar alistável será elegível desde que:
a) Se contar com menos de 10 anos de serviço, se afaste
b) Se contar com mais de dez anos, não precisa afastar-se, mas, sendo eleito, será
afastado automaticamente com a diplomação
3.1.2.4. Previsões em lei complementar
 LC 64/90
4. Privação dos direitos políticos
o Hipótese excepcional que implica na perda da cidadania política
o A privação poderá ser temporária (suspensão) ou definitiva (perda)
o A CF veda expressamente a cassação dos direitos políticos, a fim de evitar perseguições
o Artigo 15 da CF:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só


se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

o Não aponta quais sejam os casos de perda e de suspensão, mas entende-se que os incisos I e IV tratam
de caso de perda e que os demais são casos de suspensão
o Incapacidade civil: somente mediante sentença que decreta a interdição
o Condenação criminal transitada em julgado: polêmicas:
a) Suspensão dos direitos políticos durante o sursis: como o CP determina que seus efeitos não se
estendem à PRD, como é o caso da suspensão dos direitos políticos, não tem o condão de cancelar a
suspensão
b) Pessoas submetidas à MS: a aplicação de MS se dá por sentença absolutória, mas isto não impede
que se dê a suspensão dos direitos
 Entendimento do TSE: há lacuna constitucional, de modo que, interpretando-se a CF por um
pensamento de possibilidades, não é possível entender-se pela possibilidade de candidatura
daquele a quem foi imposto MS
5. Princípio da anterioridade eleitoral
o Determina o artigo 16 da CF

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência

o O STF entende que tal princípio se aplica também ao TSE, que deveria evitar impulsos de viradas
jurisprudenciais em ano eleitoral

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