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Artigo Fluxo de Materiais e Fluxo de Informacoes
Artigo Fluxo de Materiais e Fluxo de Informacoes
Resumo:
Este artigo apresenta um estudo de caso conduzido numa empresa do ramo industrial,
na qual a lógica do ressuprimento de materiais entre seu Centro de Distribuição e suas filiais
comerciais era fortemente influenciada não apenas por metas de redução dos níveis de
estoque, mas também pela percepção que o ressuprimento enxuto (Just in Time) é o estado da
prática a ser adotado por todas as empresas. A operação da empresa, entretanto, apontava para
um aumento crescente nos custos de transporte e na freqüência de stock-outs em suas filiais.
Através de simulação em planilha eletrônica de políticas alternativas de fornecimento,
foi avaliado que o ressuprimento enxuto não era a lógica de menor custo total, levando a
empresa a iniciar um gerenciamento de mudanças pela compreensão das origens e das
implicações operacionais da filosofia Just in Time. Além disto, foi necessário compreender
que a fragmentação do processo logístico pela contabilidade tradicional não permite avaliar os
trade-offs existentes entre os custos de estoque e transporte. Neste sentido o artigo aborda de
maneira integrada os conceitos de ressuprimento enxuto e análise de custo total da cadeia de
suprimentos, bem como apresenta uma metodologia para determinação e adoção da lógica de
ressuprimento mais adequada à estrutura de custos.
1. Introdução
1
conceitos relevantes da área de logística empresarial, como a análise do custo total e a
adequabilidade do ressuprimento enxuto restrita a algumas determinadas situações
específicas. Finalmente, a seção 5 conclui este artigo, apresentando uma metodologia de seis
etapas principais que engloba todas as idéias discutidas ao longo do texto e objetiva auxiliar
as empresas a avaliar sua atual gestão de materiais, vis-à-vis o trade-off estoque/transporte e a
congruência com os sistemas de mensuração de desempenho.
Custo de Oportunidade
de Manter Estoques
de Peças Acabadas
Este exemplo ilustra a razão pela qual diversos autores sobre regimes enxutos de
produção (SLACK, 1993 e CORREA et al., 1994) classificam a abordagem do lote
econômico de produção como “tradicional” e “reativa”. A equação clássica para cálculo
tamanho do lote econômico é descrita a seguir, onde D é a demanda anual, CP o custo do
processamento associado a um único lote e CME o custo anual de manutenção de uma
2
unidade em estoque (soma das componentes de oportunidade de capital, espaço,
obsolescência e perecibilidade).
2 * D * CP
TLE =
CME
Esta abordagem, além de limitada por não considerar possíveis variabilidades na
demanda e nos lead-times de processamento (SILVER et al., 1985), pode favorecer a tomada
de decisões nas quais a manutenção da fronteira de eficiência do sistema produtivo seja
percebida como imutável. Isto por que a aceitação dos parâmetros utilizados na equação
podem inibir o questionamento, a revisão e redução contínua dos custos da operação
(CORREA et al., 1994) por meio de iniciativas similares àquelas adotadas por Ohno e sua
equipe.
A filosofia de melhoramento contínuo também se estendeu para outras áreas como,
por exemplo, no processo de compras e na gestão dos fornecedores na cadeia de suprimentos.
WOMACK et al. (1992) aborda como a Toyota desenvolveu uma maneira singular para
coordenar o fluxo de peças na cadeia de suprimentos através dos cartões Kanban, originando
o ressuprimento Just in Time. Estes cartões acionavam o transporte consolidado de peças,
geralmente em pequenos conteiners, dos fornecedores para a empresa sempre que necessário.
Cabe destacar que, neste caso específico, o aumento nos gastos com transporte (em função de
uma maior freqüência nos pulsos) foi mais do que compensado pela redução no custo de
oportunidade de manter estoques na cadeia de suprimentos, levando o sistema a uma operação
com menor custo total, conforme ilustra a figura 2.
Custo Total
da Operação
Custo Total
Custo de Oportunidade
de Manter Estoques
Peças e Componentes
de Elevado Valor Agregado
Ex: Indústria Automobilística
A questão que cabe colocar neste momento é se existe algum segmento de negócio no
qual reduções no tamanho do lote de envio não compensariam eventuais deseconomias de
escala no transporte. Em outras palavras, deseja-se identificar e caracterizar para quais
segmentos de negócio os custos de transporte são significativamente superiores aos custos de
manutenção de estoques, inviabilizando economicamente os regimes enxutos de
ressuprimento. O caso que apresentamos na seção a seguir enquadra-se perfeitamente neste
perfil de custos.
3. Estudo de Caso
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A empresa possui um centro de distribuição localizado no município do Rio de
Janeiro, o qual é abastecido por três fontes de suprimento principais: uma fábrica de
equipamentos criogênicos, também localizada no município do Rio de Janeiro, diversos
pequenos fabricantes situados no estado de São Paulo e fornecedores internacionais. As três
fontes respondem respectivamente por 80%, 10% e 10% das quase 3.000 toneladas de
equipamentos compradas no ano de 1998.
IMPORTAÇÃO
10%
80%
RJ
SP 10%
Centro de
Fornecedores Distribuição >50 Filiais Clientes
RJ Comerciais Finais
Figura 4 - Cadeia de Suprimentos da Empresa Analisada
Já o elo CD-Filial segue uma lógica de ressuprimento mais flexível, pela qual são
disparados pulsos de transporte sempre que o nível de estoque por produto (físico e em
trânsito) em cada filial cai a metade do Patamar Máximo de Estoque (PME). O princípio da
operação é semelhante a um sistema de duas gavetas (WATERS, 1992), assegurando que o
volume de produtos em estoque jamais ultrapassará um teto máximo, no caso o próprio PME.
A figura 5 ilustra a lógica simplificada da política de duas gavetas.
5
Estas lógicas distintas para o acionamento do fluxo de materiais em cada elo
acarretam conseqüências significativas na operação da cadeia de suprimentos, em particular
para o Centro de Distribuição. São elas:
• O Centro de Distribuição assume o papel de estoque pulmão do sistema, uma vez que
busca garantir elevada disponibilidade de produto, dada a elevada inflexibilidade na
reprogramação dos pedidos com os fornecedores, para fazer face às demandas das filiais.
• A demanda do Centro de Distribuição não pode ser analisada como sendo uma demanda
dependente (ou o somatório das demandas) de suas filiais para efeito de programação de
compras. Aplicar ao Centro de Distribuição a lógica dos sistemas de Planejamento das
Necessidades de Distribuição (DRP – Distribution Resource Planning) implicaria na
redefinição do tipo de relacionamento com seus fornecedores, com vistas à redução dos
lead-times de fornecimento. Uma discussão mais detalhada sobre estes aspectos pode ser
encontrada em BOWERSOX et al.(1996).
PME =
Patamar Máximo de
Tamanho de Estoque
Lote =
PME/2
Pulso de Tempo
Transporte
Por outro lado, o elo CD-Filial apresenta algumas inconsistências na definição dos
parâmetros de ressuprimento de estoques. O parâmetro PME, por exemplo, é calculado como
a média móvel dos picos diários de vendas dos últimos três meses. Este calculo desconsidera:
Esta metodologia de cálculo do nível de estoque máximo por produto (PME) acarreta
conseqüências significativas na operação das filiais. São elas:
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• Ressuprimentos muito freqüentes de pequenas quantidades. Uma das razões do PME ser
um nível de estoque relativamente baixo e disparar com muita freqüência é o fato de não
incorporar em seu cálculo o lead-time de transporte, bem como a variabilidade da
demanda neste lead-time.
1
Os níveis de Working Capital são um dos indicadores contemplados pelo EVA (Economic Value Added, ou
Valor Econômico Adicionado), nova medida de desempenho financeiro largamente adotada por grandes
corporações norte-americanas nos últimos anos. Para maiores detalhes sobre EVA, consultar COPELAND et al.
(1996)
7
• que a opção pelo ressuprimento enxuto ou Just in Time, ainda que existam numerosos
casos de sucesso, é explicada fundamentalmente pela análise do trade-off
estoque/transporte, e constituiu, em seus primórdios, uma solução particular para o
problema específico da Toyota (PROENÇA, 1994).
Custo de
Oportunidade de
Manter Estoques
Custo Total de
Transporte
Working
Capital
Disponibilidade de
Produto
8
• Avaliar como a variabilidade dos lead-times de ressuprimento afeta os pontos de pedido e
os estoques de segurança,
• Avaliar como variações na taxa de obsolescência e perecibilidade dos produtos afetam os
parâmetros da política,
• Considerar simultaneamente o impacto de descontos unitários por quantidade e descontos
no custo do frete por faixa de peso sobre o tamanho dos lotes de compra,
• Considerar a componente do custo de oportunidade do estoque em trânsito sobre custo
total da operação,
• Coletar estatísticas simuladas sobre nível de serviço (disponibilidade de produto em
prateleira) e custo total da operação,
• Avaliar o impacto do dimensionamento dos estoques de segurança, com base na
probabilidade desejada de stock-out por ciclo, sobre os níveis de serviço.
Tendo em vista todas estas considerações, foram simuladas para um período de 365
dias a política atual de ressuprimento CD-Filial, determinada pelo PME, e políticas
alternativas de ponto de pedido e tamanho de lote de reposição. A figura 7 representa um
exemplo bastante característico dos resultados encontrados em termos de custo total da
operação, consistindo da comparação entre a política atual e a alternativa para um regulador
de pressão de R$ 50,00 (custo de aquisição com ICMS incluso) enviado para a Filial Nordeste
I a partir do CD do Rio de Janeiro (custo de frete consolidado de R$ 24,24 para uma faixa de
peso de até 100 kg). Outras informações relevantes:
• A demanda diária deste produto pode ser aproximada por uma distribuição de
probabilidades Normal (0,90 ; 1,55)
• O custo de oportunidade de capital foi considerado de 24 % ao ano
• O grau de perecibilidade e obsolescência deste produto é desprezível.
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R$4,000.00
R$1,000.00
R$500.00
R$-
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Tamanho de Lote
Percebemos claramente pela figura 7 que a política atual (PME), conforme motivos já
expostos anteriormente, aponta para um tamanho de lote de ressuprimento de 3 unidades, 116
envios por ano e custo total da operação de R$ 2.500,00/ano. Já a política alternativa consiste
de um tamanho de lote de 37 unidades, 8 envios por ano e custo total da operação de
aproximadamente R$ 500,00/ano. A disponibilidade média de produto em prateleira passou
de 47% para 90%.
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Produto
Preço Promoção
Praça
Serviço ao Cliente
Custo Custo
Estoque Transporte
Custo Custo
Compras Armazenagem
Custo
Tecnologia de
Informação
Outro crítico da abordagem do lote econômico como “tradicional” e “reativa”, por ela
não indicar como deslocar a fronteira de eficiência do sistema através do questionamento
contínuo das operações, CHRISTOPHER (1997) concorda que para determinadas
características de produto e demanda, a abordagem do ressuprimento enxuto não é a mais
apropriada. Como a filosofia do ressuprimento Just in Time é a entrega no destino de
pequenas quantidades, com maior freqüência e no momento exato de sua necessidade, o
desafio à gestão da cadeia de suprimentos é encontrar meios pelos quais estas exigências
possam ser satisfeitas, sem o aumento indesejável de custos. Poderão existir trade-offs, mas o
objetivo final deve ser a redução dos custos totais da cadeia de suprimentos.
Neste sentido, a opção pelo ressuprimento enxuto pode não ser sempre adequada ou
justificada para componentes de baixo valor agregado, ou em situações em que a demanda é
relativamente previsível. Na indústria automobilística, a situação é exatamente oposta à
empresa em estudo: componentes de alto valor agregado e pequena previsibilidade na
demanda por componentes, uma vez que existem diversas variações possíveis de estilo,
formas e cores para uma única categoria de peças (p.ex. pára-choques). A figura 9 ilustra em
quais situações é mais vantajosa, em termos de custo total da cadeia de suprimentos, adoção
de regimes de fornecimento enxutos ou de variações da abordagem do lote econômico.
Baixa
Ressuprimento
Previsibilidade Enxuto (JIT)
da Demanda
Variações da
Abordagem do
Alta Lote Econômico
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Vimos até agora que o paradigma do ressuprimento enxuto associado ao modo pelo
qual é avaliado o resultado das operações de um negócio, no caso a redução do Working
Capital, pode levar uma empresa a se posicionar equivocadamente na gestão do fluxo de
materiais entre os elos da cadeia de suprimentos. Neste sentido o gerenciamento das
mudanças fez-se necessário para estabelecer a congruência entre metas e operação, além do
convencimento das pessoas que a mudança era realmente necessária.
Indicadores de
Nível de Serviço
Retorno
Sobre o
Investimento
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eficiência do sistema. Pelo fato da abordagem do lote econômico ser robusta com relação à
variações no tamanho do lote (conforme ilustra a figura 11), alterações significativas de curto
prazo na operação só devem ser levadas em consideração se a diferença relativa ultrapassar
50%.
% CTOo
+ 6,4 %
Total Ótimo da Operação (CTOo)
10.0%
Variação Percentual no Custo
8.0% + 3,5 %
6.0% + 1,7 %
+ 2,5 % % CTOo
4.0%
2.0%
0.0%
-30% -20% -10% 0% 10% 20% 30%
2
O desvio ou erro absoluto é calculado pela fórmula |Vendas Reais – Vendas Previstas|. Segundo Mentzer et al.
(1998), o DMA – Desvio Médio Absoluto (tradução do acrônimo inglês MAD - Mean Absolute Deviation) - é
uma das principais maneiras de se mensurar erros de previsão de vendas nos EUA.
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ser facilmente incorporados na simulação, levando a determinação de tamanhos de lote e
custos da operação mais precisos.
Uma vez validada a lógica atual de ressuprimento, seus custos e seus parâmetros de
operação, podem ser avaliados diversos cenários que impliquem uma modificação substancial
na fronteira de eficiência do sistema e desloquem o tamanho do lote de pedido. Por exemplo:
Bibliografia
BOWERSOX, D.J., CLOSS, D.J. 1996, Logistical Management - The Integrated Supply
Chain Process, 1 ed, McGraw-Hill.
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COPELAND, T., MORRIN, J., 1996, Valuation: Measuring and Managing the Value at
Companies, 2 ed. NewYork, J. Wiley.
CORRÊA, H., GIANESI, I.G.N., 1994, Just in Time, MRP II e OPT - Um Enfoque
Estratégico, 2 ed. São Paulo, Editora Atlas.
MENTZER, J.T., BIENSTOCK, C., 1998, Sales Forecasting Management, 1 ed, New York,
SAGE.
SILVER, E.A., PETERSON, R., 1985, Decision Systems for Inventory Management and
Production Planning, 2 ed, New York, Wiley&Sons.
SLACK, N., CHAMBERS, S., 1997, Administração da Produção, 1 ed. São Paulo, Editora
Atlas.
WATERS, C.D.J., 1992, Inventory Control and Management, 1 ed, New York, Wiley&Sons.
WOMACK, J.P., JONES, D.T., ROOS, D., 1992, A Máquina que Mudou o Mundo, 1 ed., São
Paulo, Editora Campus.
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