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O Ser Humano é capaz de reflectir sobre a sua própria natureza, sobre as suas relações
com os seus semelhantes, com as forças naturais e sobre as estruturas sociais que ele
mesmo criou. Esta ideia é mais antiga que a própria história.
As Ciências Sociais são herdeiras deste saber pré-científico milenar sobre a realidade e
a vida social contido na sabedoria oral dos povos (legado da tradição), em textos
religiosos (como feito de revelação especial) e filosóficos (resultado de dedução
racional). A origem principal deste saber foi a recolha indutiva de dados na experiência
vivida dos indivíduos e dos grupos.
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Na cultura antiga e medieval o estudo dos universos natural, humano e divino não se
encontravam separados, mas genericamente reunido no estudo da “Filosofia”.
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A luta epistemológica por aquilo que se considerava ser o conhecimento legítimo já não
era uma luta para saber quem havia de controlar o conhecimento relativo à natureza,
mas antes uma luta em torno de quem havia de controlar o conhecimento relativo ao
mundo humano.
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1) Factores sócio-políticos:
As transformações e as crises sócio-políticas (de que a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial foram processos marcantes), com a derrocada das estruturas
feudais, a formação do Estado moderno e o desenvolvimento da organização
industrial da economia criaram (durante o séc. XVIII e o início do séc. XIX) uma
forte necessidade social no sentido do surgimento das Ciências Sociais.
2) Condições institucionais:
A institucionalização das Ciências Sociais passou por uma revitalização e
reorganização da Universidade, com o declínio da faculdade de teologia e a
progressiva subdivisão da faculdade de Filosofia em várias disciplinas.
A subdivisão disciplinar (faculdades, departamentos, cursos) assentou no
pressuposto de que a investigação sistemática exigia uma concentração
especializada de estudantes e investigadores nos múltiplos domínios da realidade.
Esta reorganização envolveu a progressiva integração dos cientistas naturais na
Universidade como fonte de prestígio e de atracção dos apoios do Estado; ao
mesmo tempo a Universidade passou a ser o espaço privilegiado da tensão entre
humanidades e as ciências exactas e naturais.
- A imposição das ciências da natureza como verdadeira ciência e por isso como
modelo único para todos os saberes com pretensão de cientificidade;
- A separação cada vez mais rígida e estanque dos saberes em 2 esferas distintas: uma
centrada na determinação factual das relações de causalidade entre fenómenos
(ciências), a outra na exploração interpretativa, reflexiva e estética das obras
culturais (humanidades). Traduziu-se a partir do séc. XIX na distinção e separação
das faculdades de ciências e das faculdades de letras.
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Surge assim no séc. XIX ao desejo de fundar sobre a experiência e a organização social
dos homens um conhecimento de natureza científica, isto é, um conhecimento não
especulativo e objectivo. Esta aspiração começou por encontrar espaço de
desenvolvimento em 2 domínios de investigação principais:
1. A investigação histórica, não mais centrada na hagiografia das casas reais, mas
na reconstituição documentada das histórias dos povos e das nações. A história
passaria a se tornar um verdadeiro relato do passado, capaz de explicar o
presente e de oferecer as bases para uma escolha avisada no futuro.
A constituição do espaço das Ciências Sociais foi dominado, na passagem do séc. XIX
para o séc. XX, pelo confronto entre 2 grandes concepções cujo antagonismo
atravessou todas e cada uma das Ciências Sociais em formação:
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• Sociologia: Para o seu inventor, Auguste Comte, haveria de ser a rainha das
Ciências Sociais. Uma ciência social integrada e unificada e caracterizada perlo
“positivismo”. Desenvolvera-se no decurso da 2ª metade do séc. XIX, principalmente a
partir da institucionalização e da transformação, dentro das Universidades, do trabalho
realizado pelas associações para a reforma da sociedade (o mal-estar e os desequilíbrios
vividos pelo número imparável da população operária urbana).
A sociologia tendeu a concentrar-se no estudo das relações e dos problemas da
sociedade nascida das duas grandes revoluções, industrial e democrática, para o que
muito contribuiu a institucionalização universitária do conhecimento formado no
trabalho das associações humanitárias de reforma social -- Humanitarismo: corrente
intelectual do séc. XIX cujo objectivo era contribuir para a resolução de problemas
sociais concretos.
A vontade de conferir a esse conhecimento um carácter positivo e objectivo
(independente dos valores e das ideologias) levou a sociologia a aplicar aos problemas
sociais métodos de pesquisa (inquéritos, estáticas oficiais, etc.) e formas de análise que
permitissem estabelecer relações de causa-efeito entre esses problemas e regras gerais
(leis) da organização social humana. → orientação nomotética.
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A antropologia surgiu assim inicialmente como estudo específico das sociedades dos
povos colonizados, enquanto as outras Ciências Sociais se concentravam sobre a
realidade social dos países ocidentais.
Metodologicamente, a antropologia privilegiou as etnografias particulares dos povos,
através da presença prolongada do antropólogo no seio da sociedade estudada
(“observação participante”). → orientação ideográfica.
• Estudos orientais: Estudo dos povos não europeus que eram dotados de um
grau elevado de “civilização”, nalguns casos mais antigo do que a europeia: a China, a
Índia e o Islão. Começaram por se desenvolver no interior da igreja como auxiliares da
evangelização. No séc. XIX, com a secularização universitária, passaram a situar-se
próximo dos chamados estudo clássicos (voltados para a vida social e cultural das
civilizações da Antiguidade mediterrânea, como a Grécia e Roma). → orientação
ideográfica.
Os estudos orientais estavam mais próximos das humanidades do que das Ciências
Sociais. Exigia a leitura minuciosa dos textos que eram a incarnação da sua sabedoria, o
que exigia capacidades linguísticas e filológicas semelhantes às dos monges no estudo
dos textos cristãos. Pretendia-se alcançar uma compreensão e avaliação correcta do
conjunto de valores e práticas que estavam na origem de civilizações que, embora
consideradas avançadas, eram vistas como estáticas.
• Geografia: Não começou por se impor como uma ciência social. O papel do
espaço foi relativamente negligenciado pelas Ciências Sociais emergentes, como sendo
um aspecto meramente contextual e residual dos fenómenos sociais. Nos finais do séc.
XIX a geografia procedeu à sua reconstrução como disciplina nova, mas resistiu à
categorização. Procurou fazer a ponte entre as ciências da natureza (geografia física) e
as humanidades (geografia humana). A geografia tornou-se anacrónica devido ao seu
pendor generalista, sintetizante e não analítico.
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Esta separação foi reforçada por uma das premissas mais fortes dos séc. XVIII e XIX:
• Evolucionismo: consiste em afirmar que toda e qualquer realidade (incluindo a
sociedade e a cultura) se formam pela passagem de formas “primitivas” para estádios
sucessivamente mais ricos e complexos de organização (Teoria da evolução de Charles
Darwin).
No período de institucionalização das Ciências Sociais, a separação das disciplinas
segundo campos de estudo histórica e geograficamente separados retirava assim uma
justificação suplementar do facto de essa separação parecer adaptar-se a realidades
sociais que se distinguiriam por pertencerem a “estádios de evolução” diferentes.
A perspectiva evolucionista favorecia o desejo de comparação dos conhecimentos sobre
civilizações diferentes e de construção de sínteses teóricas que englobassem, num
percurso supostamente único de evolução da humanidade as informações das diversas
Ciências Sociais.
Entre 1850 e 1945 houve uma série de disciplinas que passaram a ser definidas como
fazendo parte de uma área do conhecimento a que foi dado o nome de Ciências Sociais
= criação, nas principais Universidades, de cátedras e departamentos que ofereciam
cursos conducentes à obtenção de graus nessa disciplina. A institucionalização da
formação foi acompanhada pela institucionalização da investigação: criação de revistas
especializadas, associações de investigadores, catalogação das colecções das
bibliotecas. = esforço no sentido de definir aquilo que as distinguia das demais.
A maior parte das ciências nomotéticas privilegiaram aquilo que as distingui da
história: o interesse em chegar às leis gerais que supostamente regem o comportamento
humano, a prontidão em detectar quais os fenómenos a estudar como casos, a
necessidade de segmentar a realidade humana para poder analisá-la, a possibilidade e a
vantagem de recorrer a métodos estritamente científicos, a opção por provas produzidas
de forma sistemática e pela observação controlada.
O fim da dominação política do ocidente sobre o resto do mundo fez com que novas
vozes dessem entrada na cena política e nas Ciências Sociais.
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Após 1945 cada uma destas linhas viria a ser posta em causa.
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Os estudos por áreas vieram afectar a estrutura dos departamentos de história e das
Ciências Sociais nomotéticas. Surgiram novas revistas transdisciplinares.
Os estudos por áreas, pelo seu carácter multidisciplinar, puseram em causa a validade
da distinção ontológica entre sociedades ocidentais e não ocidentais.
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a) Tendência de cada ciência social para colocar sob o ângulo dos seus conceitos e
metodologias próprios objectos tradicionalmente atribuídos a outras disciplinas:
• Sociologia: alarga-se ao estudo das condições e processos Sociais que
condicionam os comportamentos económicos (sociologia económica) e políticos
(sociologia política) – início da década de 50;
• Ciência Política: alarga o seu interesse aos processos e colectivos Sociais e
económicos que influenciam as instituições políticas formais. Redefiniram o seu
objecto de estudo de maneira a integrar todos os processos Sociais com
implicações ou intenções políticas – grupos de pressão, movimentos de protesto,
organizações comunitárias;
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A reivindicação de universalidade por parte das Ciências Sociais começou por inspirar-
se no modelo newtoniano das Ciências da natureza. Esta homologia é problemática nas
Ciências sociais porque:
• Nas Ciências da natureza, a distinção entre sujeito e objecto é nítida;
• Nas Ciências Sociais, existe uma indistinção fundamental entre o sujeito e o
objecto de estudo, porque o objecto de estudo engloba os investigadores (sujeito)
e porque as pessoas investigadas (objecto) podem entrar em diálogo ou conflito
com a interpretação dos investigadores.
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Desde os finais do séc. XIX que os próprios avanços no interior dos grandes pilares
nomotéticos do saber deram origem a significativas rupturas com os seus pressupostos (
o de carácter absoluto e o da previsibilidade):
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Necessidade de reorganização das bases institucionais das Ciências Sociais,
caracterizada por:
- dispersão organizativa das Ciências Sociais (proliferação de designações novas,
associada à disparidade dos espaços departamentais no inteiro das universidades);
- esbatimento do padrão trimodal (Ciências naturais, Ciências Sociais, humanidades)
que questiona não só as divisões internas nos departamentos, mas as próprias distinções
entre as faculdade;
- separação cada vez mais acentuada da investigação em relação ao ensino, o que
obriga à reformulação do papel da universidade como base organizativa de apoio à
investigação.
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Depois do séc. XVI e XVII, as Ciências exactas e naturais, por reunirem tais condições,
tornaram-se em modelo de cientificidade para as Ciências Sociais.
Todavia, as próprias transformações das Ciências Naturais têm vindo a pôr em causa os
seus pressupostos newtonianos. As alterações dos pressupostos intelectuais
constitutivos das Ciências Sociais decorrem:
As Ciências Sociais têm vindo a evoluir no sentido de um respeito cada vez maior pela
natureza. Ao mesmo tempo, as Ciências naturais têm vindo a evoluir no sentido de
encarar o universo como algo de instável e imprevisível, concebendo-o como uma
realidade activa e não como um automaton submetido ao domínio dos seres humanos
que de alguma forma se situam fora da natureza. Deve-se tentar tratar os seres humanos
e a natureza na sua complexidade e interelações.
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