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ISSN 1519-4612
UFF/ECONOMIA
Agronegócio no
Brasil: perspectivas e
limitações
RESUMO
O objetivo de projeto do IICA é basicamente o de “efetuar uma descrição do estado atual dos
Agronegócios no país com ênfase na determinação de oportunidades de cooperação que
colaborem com a inserção dos produtores ao mundo globalizado com propostas para
implementar ações considerando sua relação com linhas estratégicas e instrumentos de
cooperação.”
Neste artigo procura-se atender esse objetivo da seguinte maneira: efetuar uma caracterização
do desempenho do agronegócio no Brasil no período recente, avaliar as perspectivas futuras
dessa expansão face às limitações em termos de preços, políticas macro econômicas e
problemas ambientais, detalhar os fatores que impulsionaram esse boom no passado, como as
políticas de desenvolvimento tecnológico, de colonização de áreas novas e de construção de
infra-estrutura. Neste particular detalham-se também as políticas de crédito e os novos
instrumentos que surgiram nos últimos anos para substituir os mecanismos tradicionais de
política agrícola (mercados futuros). Avalia-se também o estado atual da infra-estrutura de
estradas, ferrovias e hidrovias assim como os problemas ambientais gerados pelos
desmatamentos e pelas novas pragas que apareceram recentemente, não só no Brasil, mas na
América Latina como um todo, produto da excessiva atividade de monocultura.
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Este trabalho faz parte do projeto “Agronegócios en los países que conforman la región sur del
Hemisferio: definiendo su estado actual como un proceso para crear una agenda de cooperación
técnica regional para el período 2006-2010”, Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura.
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Em 2004, segundo o CEPEA (op cit) o agronegócio teria aumentado sua participação
no PIB atingindo o valor de R$ 533 bilhões. Desse total, o setor de processamento industrial
(agroindústria e indústria da alimentação) contribuiria com 30,07 em valor agregado. A
projeção para 2005, segundo o CEPEA, era de que o PIB do agronegócio seria de R$ 520,59
bilhões. Tal resultado reflete a anunciada redução do PIB da atividade primária,
especialmente na agricultura ocasionada pela queda dos preços internacionais, conforme será
visto adiante.
A indústria de alimentação, de maneira específica, representava (2004) 17,6% do PIB
da indústria de transformação do Brasil em valor agregado, o que equivale a R$ 180,6 bilhões
(ABIA, 2005)2. Em valor agregado, a indústria da alimentação representa 50,7% do
processamento agroindustrial e 41,7% da produção agrícola e agropecuária (ABIA, 2004c in
Burnquist 2005).
Verificou-se, entretanto, que a parte agrícola do agronegócio (porteira dentro),
também vem se expandindo de forma bastante acelerada nos últimos anos. A área plantada
com grãos aumentou 22,8% entre 2001 e 2004. Essa expansão recente difere radicalmente do
padrão que prevaleceu durante toda a década de 1990, em que a área agrícola total com
lavouras permaneceu constante e todo o aumento da produção agrícola vegetal veio de
aumentos de produtividade da terra. Essa expansão recente de área se deu, sobretudo, na soja,
que cresceu, somente nesses três anos agrícolas, 39,8% nas regiões Sul e Sudeste e nada
menos que 66,1% na região Centro-Oeste. (Rezende, Brandão e Marques, 2005).
A Tabela 3 que segue mostra, também, que o crescimento recente da área plantada
com soja, em todas as regiões do Brasil, implicou expansão da área total ocupada com
lavouras, uma vez que não ocorreu redução da área das culturas competidoras (ou seja, das
culturas também de verão, como milho 1ª safra e arroz), em nenhuma região.
Rezende (op cit) destaca que o aumento acelerado da área cultivada, no caso da soja, é
um fenômeno relativamente recente. Entre 1990/91 e 1996/97 a área colhida manteve-se
relativamente estável, com média de 10,7 milhões de hectares e os extremos foram 9,6 e 11,7
milhões de hectares nas safras 1991/92 e 1994/95, respectivamente. Da safra 1997/98 até a
2000/2001 elevou-se para a casa dos 13 milhões de hectares com taxa média de crescimento
de 5,3% a.a. Daí em diante passou a crescer aceleradamente, à taxa média de 12,4% a.a.,
resultando na previsão de colher 22,3 milhões de hectares na safra 2004/2005. Considerando-
2
Ver site www.ABIA.br 2006. Associação Brasileira de Indústria da Alimentação.
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se os extremos da série, a área cultivada com soja foi acrescida em 129% enquanto o
crescimento da produtividade foi de 74% (Carvalho et al, 2005)
O efeito conjunto do aumento da área cultivada e dos ganhos de produtividade
resultou que entre 1990/91 à 1997/98 a produção dobrou, e triplicou entre 1990/91 e 2002/03.
Essa evolução foi puxada pelas exportações, cujo valor praticamente foi multiplicado por
quatro entre 1991 e 2003 e elevou a participação brasileira no mercado externo (market-
share) de aproximadamente 15,7% do valor das exportações mundiais para 26,4% grão
(Carvalho op cit).
Gasques et al (2004) mostram que efetivamente a produtividade da terra foi o principal
componente associado ao acréscimo da Produtividade Total dos Fatores (PTF) ao longo do
período 1975-2002. Como se sabe, a produtividade da terra é influenciada principalmente por
Pesquisa e Desenvolvimento, a cargo de instituições públicas como Embrapa e instituições
privadas, o que relaciona o ponto da produtividade com a tecnologia, conforme será analisado
em capítulo posterior deste artigo. Os efeitos da produtividade da mão-de-obra e do capital
sobre a PTF também foram expressivos, como revela o estudo citado que calcula as taxas de
crescimento destes fatores em 3,37% e 2,69%, respectivamente.
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Sul/Sudeste 935 173 167 -762 -81,5 -6 -3,2
Arroz 4.233 3249 3598 -984 -23,3 349 10,7
Centro Oeste 777 631 862 -146 -18,8 231 36,6
Sul/Sudeste 1.821 1323 1392 -494 -27,1 66 4,9
Total das lavouras acima 30.446 29918 36738 -528 -1,7 6820 22,8
Centro Oeste 5.452 8193 11854 2741 50,3 3660 44,7
Sul/Sudeste 18.736 15996 18034 -2740 -14,6 2038 12,7
Milho 2ª safra 800 2426 3668 1627 203,5 1242 51,2
Trigo 2.146 1710 2727 -436 -20,3 1017 59,5
Feijão 2ª e 3ª safras 3.624 2594 2886 -1030 -28,4 293 11,3
Total dos grãos de 7.447 7929 10525 482 6,5 2595 32,7
inverno*
Total das Lavouras 51.800 51600 60640 -200 -0,4 6781 13,1
Tabela extraída de Rezende, Brandão e Marques, op cit, pp10. Fontes: Conab (Companhia
Nacional de Abastecimento) e IBGE
A fase de alta dos preços internacionais, a partir de 2002, reforçada pelo estímulo
cambial da desvalorização de 1999, resultou num grande dinamismo para a agricultura
brasileira, principalmente nos últimos três anos agrícolas.
Antes disso tinha havido uma fase decrescente dos preços internacionais de soja
(1998-2001) coincidindo com uma fase de elevados estoques mundiais do produto.
Rezende (op cit.) mostra que internamente o preço real dos insumos esteve
predominantemente abaixo da média em função da valorização da moeda nacional que
tornava os insumos importados mais baratos, enquanto inibia a receita das exportações em
reais, mas colaborou em preparar as condições para o posterior incremento da produção.
Este autor destaca que foi a quebra posterior das safras americanas de soja em 2002 e
2003 que permitiu que o aumento da produção de soja no Brasil e na Argentina, ocorrido, a
partir de 1999, não redundasse em queda significativa dos preços mundiais da soja.
Área Quantid
Plantada ade
(1000 há.) (1000 t)
Cultura 2003/2004 2004/2005 Var( 2003/20 2004/200 Var(%)
%) 04 5
Algodão 1.100 1.167 6,1 1.309 1.388 6,0
Arroz 3.654 3.857 5,5 12.829 13.198
2,9
Feijão Total 4.287 3.719 -13,3 2.978 2.896 -2,8
Feijão 1ª Safra 1.371 1.028 -25,0 1.235 1.099 -11,0
Feijão 2ª Safra 2.024 1.829 -9,6 1.036 1.035 -0,1
Feijão 3ª Safra 892 862 -3,4 707 762 7,8
Milho Total 12.822 12.149 -5,2 42.128 35.989 -14,6
Milho 1ª Safra 9.465 9.106 -3,8 31.554 27.869 -11,7
Milho 2ª Safra 3.357 3.043 -9,3 10.574 8.120 -23,2
Soja 21.284 23.104 8,6 49.793 50.195 0,8
Trigo 2.464 2.756 11,9 5.851 5.846 -0,1
Outras 1.758 1.711 -2,7 3.435 3.343 -2,7
Lavourasa
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Brasil 47.370 48.462 2,3 119.114 113.688 -4,6
Fonte: Freitas, Fossati e Bacha 2004.
Este crescimento verifica-se não apenas no caso da soja (o mais significativo), mas
também para suco de laranja, fumo e café que são produtos tradicionais da pauta de
exportações brasileira. Brum et al (2005) afirmam, nesse sentido, que a soja foi uma das
principais responsáveis pela introdução do conceito de agronegócio no país, não só pelo
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volume físico e financeiro envolvido, mas também pela necessidade da visão empresarial de
administração da atividade por parte dos produtores, fornecedores de insumos, processadores
da matéria-prima e negociantes.
A soja é, dentre elas, a cultura de exportação com maior demanda no mercado
internacional, estimada em 180 milhões de toneladas. Os Estados Unidos ocupam a primeira
posição entre os países produtores, respondendo por 78 milhões de toneladas, o Brasil, é o
segundo maior produtor de soja, na safra 2003, produziu cerca de 50 milhões de toneladas.
(Silva, Bernardo, 2005).
Segundo Sanches e Roessing (2005) a geração de tecnologias teria sido um dos fatores
fundamentais para que o Brasil aumentasse sua produção de soja, passando a ocupar o
segundo lugar entre os maiores produtores de soja do mundo. A evolução do plantio e da
produção de soja são bastante acentuadas e rápidas no Brasil: em 1975 a produção brasileira
não passava de 10 milhões de toneladas ao ano, mas em 2003, o país já estava produzindo
cerca de 50 milhões de toneladas.
A expansão de área implicou em mudança de padrões regionais de localização. Os
Estados do Centro-Oeste, que em 1980 tinham 14% da área brasileira ocupada com soja,
contra 77% da região Sul, em 1998 passaram a 36%, enquanto que a região Sul diminuiu sua
área para apenas 48%. Por sua vez, a soja do Cerrado, que representava 16% da área total
plantada em 1980, passou a ocupar 45% em 1998 (Brum et al, 2005).
Segundo Brum (op cit) a soja tem sido o elemento indutor do desenvolvimento da
região do Cerrado, não só ocupando áreas antes improdutivas e avançando sobre regiões de
bovinocultura extensiva, mas também fixando atividades ligadas à produção, comercialização
e industrialização da oleaginosa. Acompanhando seu desenvolvimento, outras culturas têm se
expandido consideravelmente, sobretudo a safrinha de milho. A “safrinha” de milho foi de 4,1
milhões de toneladas em 1997, representando 11,8% da safra deste cereal e cerca de 5% de
toda a safra brasileira de grãos.
Vieira e Almeida (2005) com base em dados de Lovenstein et al, 1995, revelam as
vantagens comparativas da Região Centro-Oeste para a produção de soja:
1) Elevado número de horas com radiação solar (insolação), cuja porção
fotossinteticamente ativa é superior a 1.000 ì mol.cm -2 .min -1 , fatos que a
caracterizam como privilegiada à produção agrícola .
2) Temperaturas médias anuais próximas a 25ºC.A., temperatura máxima
diurna, ao redor de 35º C entre novembro a fevereiro, adequada à produção dos
produtos agrícolas protéico-oleaginosas a exemplo de soja, feijão e mamona;
amiláceas, a exemplo de milho, arroz e mandioca; fibrosas a exemplo de algodão e
rami, além de café, cana-de-açúcar, flores tropicais e várias espécies olerícolas.
3) Precipitação anual varia entre 800 a 1600 mm, dividida em duas
estações. A estação chuvosa, entre outubro a março, apresenta precipitações mensais
superiores a 250 milímetros, que, associada às evaporações mensais inferiores a 120
milímetros, permite a produção dos produtos citados sem irrigação suplementar.
4) Relevo predominante variado entre plano a ondulado, portanto,
adequado à agricultura mecanizada.
Essas vantagens relativas se refletem na função de produção da soja no Centro Oeste
que, como se demonstra à continuação é mais eficiente que a de outras regiões do Brasil e dos
Estados Unidos:
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últimos anos estão sendo construídos centros de excelência em açúcar e álcool, com a
industria mais avançada, potente e competitiva do mundo.
A terceira atividade do agronegocio em ordem de importância é a pecuária bovina. A
pecuária nacional, atualmente, é uma das maiores e mais rentáveis atividades do agronegócio
brasileiro. Machado, L et al (2005) baseados em dados da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA) mostram que esta atividade participou com R$ 64,94 bilhões do
Produto Interno Bruto (PIB) em 2003. Além disso, o Brasil possui o maior rebanho do
mundo, em termos comerciais, com cerca de 168 milhões de cabeças, segundo dados
preliminares da FNP Consultoria para 2003. A disponibilidade de terras a baixo custo
permitiu expandir a produção, para atender a demanda mundial crescente pelo produto
brasileiro.
O cenário internacional favorável às exportações brasileiras de carne bovina
contribuiu para aumentar a parcela de mercado do país no mercado internacional, mesmo
numa época em que as exportações mundiais apresentavam taxas modestas de crescimento. A
conquista de novos mercados como Chile, Egito e Rússia mais o aumento do volume
negociado para aqueles países com os quais o Brasil já comercializava contribuiu para o
enorme crescimento do volume exportado. Machado, et al (op cit) revelam também que “há
alguns anos a carne bovina brasileira era vendida para não mais do que 20 países, sendo que
atualmente o número de clientes chega a mais de 110 países”.
No Brasil, a produção de carne bovina teve um aumento de 21,5% no período de 1995
a 2003, passando de 6 milhões para 7,3 milhões de toneladas. O aumento da produção tem
possibilitado abastecer o mercado doméstico, reduzindo a dependência das exportações para
complementar o abastecimento interno, bem como gerar excedentes exportáveis. O
crescimento na produção brasileira de carne se deve a fatores como investimentos em novas
tecnologias da genética, sanidade, manejo, gerenciamento e nutrição.
O Brasil que até 1997 ocupava a 6ª posição, atrás da Argentina, tornou-se o terceiro
maior exportador mundial em 2001 e ocupa atualmente a primeira posição. Em 2001, houve
uma redução de cerca de 55% nas exportações da Argentina em função dos casos da febre
aftosa detectados naquele país.
Machado et al (op cit) mostram que o enorme crescimento das exportações de carne in
natura (refrigerada e congelada) contribuiu para que o Brasil se tornasse o maior exportador
de carne bovina. Esse crescimento se deve, principalmente, à conquista de novos mercados
consumidores e ao aumento do volume exportado para os países com os quais o Brasil já
comercializava.
As exportações brasileiras de carne bovina enfrentam limitações de acesso ao mercado
externo em quase todos os países, relacionadas às barreiras sanitárias e barreiras comerciais
não-tarifárias. Apesar disso o Brasil conseguiu elevar o seu market share de 0,92% no período
inicial para 8,34% no período final (Machado, 2005, op cit).
3
FAO/INCRA: Guanziroli et al (2001). INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. A metodologia
utilizada baseou-se na seguinte equação: Caracterização dos agricultores familiares: Direção dos trabalhos do
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sucesso deve também ser creditado ao segmento dos produtores familiares. A continuação a
análise desenvolvida no âmbito deste convênio a respeito da agricultura familiar no Brasil.
Segundo o Censo Agropecuário 1995/96, existiam no Brasil, nesse ano, 4.859.864
estabelecimentos rurais, ocupando uma área de 353,6 milhões de hectares. De acordo com a
metodologia adotada, desse total 4.139.369 são estabelecimentos familiares, ocupando uma
área de 107,8 milhões de ha. Os agricultores patronais são representados por 554.501
estabelecimentos, ocupando 240 milhões de ha. 4
Apesar de possuírem poucos recursos produtivos, os agricultores familiares são
responsáveis por um percentual significativo do valor da produção agropecuária brasileira.
Mesmo possuindo apenas 30,5% da área, e contando somente com 25% do financiamento
total obtido, os estabelecimentos familiares são responsáveis por 37,9% por toda a produção
nacional. 5
O percentual do VBP (Valor Bruto de Produção) produzido pela agricultura familiar,
quando consideradas algumas atividades, demonstra a sua importância em produtos
destinados ao mercado interno e também entre os principais produtos que compõem a pauta
de exportação agrícola brasileira. Na pecuária, os agricultores familiares produzem, em
relação ao percentual do VBP nacional, 24% da pecuária de corte, 52% da pecuária de leite,
58% dos suínos e 40% das aves e ovos produzidos.
Gráfico 1
a
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Pe
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estabelecimento é do produtor e UTF > UTC e Área total do estabelecimento ≤ área máxima regional Unidade de Trabalho
Familiar (UTF) Pessoal ocupado da família de 14 anos e mais + (Pessoal ocupado da família de menos de 14 anos) / 2. Para
mais informações ver capítulo 2 do trabalho citado, Delimitação dó Universo dos Agricultores Familiares.
4
A diferença de área com relação a área total refere-se a instituições pias e religiosas e de instituições de
governo.
5
O estudo da FGV mostra dados menos positivos para caracterizar o universo da Agricultura Familiar. Ver para
isso: "Quem produz o que no campo: quanto e onde", produzido pela FGV e a IBRE, 2004. Neste estudo, a
agricultura familiar atinge apenas 30,8 % do valor da produção agropecuária do Brasil.
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permanentes, por 58% da banana, 27% da laranja e 47% da uva, 25% do café e 10% da cana-
de-açúcar.
Entre as cinco regiões, os agricultores familiares da região Sul são os que mais se
destacam pela sua participação no VBP regional, sendo responsáveis por 35% da pecuária de
corte, 80% da pecuária de leite, 69% dos suínos, 61% das aves, 51% da soja 83% da banana,
43% do café, 81% da uva, 59% do algodão, 92% da cebola, 80% do feijão, 98% do fumo,
89% da mandioca, 65% do milho e 49% do trigo produzido na região.
Tabela 8 - Agricultura Familiar: Percentual do VBP em relação ao VBP Total do
produto
% Área Culturas Temporárias
REGIÃO
s/ total Algodão Arroz Cana Cebola Feijão Fumo Mand. Milho Soja
Nordeste 43,5 56,3 70,3 7,5 57,0 79,2 84,5 82,4 65,5 2,7
C. Oeste 12,62 8,9 23,4 2,7 2,2 21,8 84,3 55,6 16,6 8,4
Norte 37,5 83,6 52,6 43,8 31,1 89,4 86,5 86,6 73,3 3,5
Sudeste 29,3 23,5 51,3 8,6 43,9 38,3 74,2 69,8 32,8 20,3
Sul 43,8 58,8 21,3 27,2 92,1 80,3 97,6 88,9 65,0 50,8
BRASIL 30,5 33,2 30,9 9,6 72,4 67,2 97,2 83,9 48,6 31,6
Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE
Elaboração: Convênio FAO/INCRA
Alguns desses produtos estão concentrados em determinadas regiões, sendo muito
pouco produzidos nas demais regiões, como é o caso da uva, cebola, café, algodão, fumo e
soja. Como a produção desses produtos é muito pequena nestas regiões, qualquer produção,
por menor que seja, aparece com destaque tanto para a agricultura patronal como familiar.
O forte desempenho do agronegocio não se correlaciona, entretanto, com um
crescimento do emprego agrícola. Conforme mostra Silva, Graziano, Grossi e Campagnola
(2005) as atividades estritamente agrícolas têm diminuído sua capacidade de empregar
trabalhadores, frente às atividades rurais não agrícolas, que vem avançando
significativamente no setor rural. Segundo dados das PNADs (Pesquisas de Amostras de
Domicílios) a PEA agrícola morando em domicílios rurais cai de 10, 7 milhões de pessoas em
1981 para 8,8 milhões em 2003. A PEA agrícola morando em domicílios urbanos, no entanto,
aumentou no mesmo período, passando de 2,6 milhões em 1981 para 3,8 milhões em 2003.
Este aumento, não compensa, entretanto, a diminuição do emprego, em valores absolutos,
constatada anteriormente. Parte desta diminuição somada ao crescimento demográfico, foi
engrossar as fileiras das chamadas atividades rurais não agrícolas (Graziano, op cit).
As novas atividades agrícolas, de modo geral, substituem outras de tipo tradicional,
que empregavam mais gente, como os consórcios de milho/feijão/mandioca no Nordeste ou a
agricultura canavieira de colheita manual que está sendo substituída pela colheita mecanizada,
entre outras.
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Vários fatores contribuem para que haja grandes chances, no longo prazo, do Brasil
aumentar sua produção agrícola (principalmente de soja e milho). Pelo lado da oferta cabe
destacar que o Brasil possui grandes áreas ainda inexploradas ou deficientemente exploradas
que poderão ser incorporadas à produção agrícola no futuro se houver investimentos em
produtividade e em meios de escoamento das safras. Segundo Sanches e Roessin (op cit) o
Brasil ainda disporia de 106 milhões de hectares de terras para incorporar ao mapa agrícola, o
que permitiria prever que a produção de soja, que hoje está em 50 milhões de toneladas,
pudesse atingir o nível das 75 milhões de toneladas em 2010.
Pelo lado da demanda, de acordo com dados do FMI (Fundo Monetário Internacional)
citados por Sanches e Roessing (op cit), haveria uma tendência ao seu aumento sustentado,
em função, basicamente, do crescimento econômico dos países do terceiro mundo,
principalmente da Ásia que nos próximos anos deverá ser da ordem de 6% a 7% ao ano, em
média. “O crescimento econômico de um continente onde vivem em torno de 55% dos
habitantes do planeta, associado a uma elasticidade-renda da demanda de alimentos bastante
elástica, possui uma influência decisiva no que se refere à demanda” (op cit pp...).”O aumento
da renda per-capita nos países mais pobres indicam pressão de demanda de alimentos como
no caso da China cuja procura de soja é uma demanda derivada da demanda de carnes,
principalmente de aves e suínos”. (pp.9)
Cálculos de Vantagens Comparativas Reveladas (VAR), realizados por Souza (2005) e
que são transcritos na tabela embaixo, mostram que o país possui vantagens comparativas
reveladas para três produtos selecionados (soja, carne bovina e carne de frango) que são
justamente os produtos com maior demanda no mercado internacional. Esse comportamento
ocorre pelo fato destes commodities terem um maior crescimento das exportações frente aos
demais produtos exportados pelo Brasil, relativamente ao crescimento das exportações
mundiais
Tabela 9: Índice de Vantagens Comparativas Reveladas (VCR)
ANO Soja em grãos Carne bovina Carne de Frango
1992 13,30 3,66 11,71
1993 13,80 3,75 13,22
1994 17,94 3,36 11,47
1995 11,49 3,11 11,22
1996 11,47 3,38 12,64
1997 22,58 3,06 13,31
1998 25,67 4,33 11,45
1999 24,50 5,93 15,81
2000 27,47 5,89 14,55
2001 27,62 7,90 17,90
2002 29,93 7,79 20,87
Fonte: Souza , 2005 a partir de dados IPEA (Instituto de Planejamento Econômico) DATA,
FAO e SECEX.
Observa-se também que os três produtos apresentaram, em média, valores crescentes
ao longo do tempo, o que indica que as exportações brasileiras vêm ganhando espaço no
mercado mundial.
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Economia – Texto para Discussão – 186
Isto se reflete nos preços internos dos principais commodities como pode se observar
na tabela que segue:
Conforme pode se perceber, os preços de 2005 da soja estão muito baixos, quando
comparados com os preços vigentes na comercialização das safras de 2003 e 2004, mas, na
realidade, encontram-se iguais a seus patamares históricos, como se nota no gráfico acima que
mostra o comportamento do preço e da produção de soja no mercado internacional.
Rezende (op cit) mostra também que “A queda de preços tem sido muito diferenciada,
dependendo da natureza do produto, da evolução dos seus preços no mercado internacional e
da valorização do real. Café, açúcar e álcool, por exemplo, não sofreram queda porque seus
preços externos compensaram a valorização cambial. Entre setembro de 2004 e agosto de
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2005, o preço real do café arábica passou de R$ 232 por saca de 60 quilos para R$ 262,
registrando um aumento real de 13%, enquanto os do açúcar e do álcool permaneceram
constantes. Esses importantes produtos concentram-se no estado de São Paulo, cuja
agricultura terá, portanto, menores problemas”. (op cit, pp.18) .Especialmente nos casos dos
grãos e oleaginosas, essa diminuição dos preços domésticos teve a ver com uma queda similar
nos preços internacionais. Além disso, ocorreu, nesse período, a valorização cambial, que
também contribuiu para essa redução de preços no mercado doméstico.
Rezende e Silva (2005) dão destaque especial ao caso da pecuária bovina, cujos preços
passaram por uma fase de redução persistente, desde o final do ano passado, com o mercado
refazendo para baixo, continuamente, suas expectativas quanto aos preços relativos a outubro
deste ano. O gráfico abaixo de autoria de Rezende (op cit, pp3) mostra a queda de preços
referida. 6
6
De fato essa queda foi neutralizada pela valorização cambial ocorrida entre agosto de 2004 e agosto de 2005
(de aproximadamente 20%). Os produtores pecuaristas, no entanto, guiam-se pelos preços internos, que de fato
caíram. Os preços internacionais em dólar implicam também numa redução de seus ganhos quando o produto é
exportado.
18
Economia – Texto para Discussão – 186
Gráfico 2
Evolução dos Preços Domésticos do Boi Gordo,
Agosto de 2004 a Agosto de 2005
70
R$/arroba
65
60
55
2,74%
50
ago-04
ago-05
nov-04
dez-04
mai-05
out-04
fev-05
abr-05
mar-05
set-04
jan-05
jul-05
jun-05
Contratos para Outubro de 2005
Fonte: BM&F.
Elaboração: IPEA/DIMAC Preço À Vista
Contratos para Outubro de 2006
Esta crise conjuntural, entretanto, está gerando protestos de vários setores do setor do
agronegócio, tendo havido “tratoraços” em 2005 e reivindicações de renegociação de
empréstimos tomados junto ao BNDS e Banco do Brasil pelos agricultores nas épocas de
bonança e que, supostamente, agora não estariam em condições de reembolsar.
O setor também pediu a prorrogação da parcela das dívidas securitizadas com
vencimento previsto para dezembro de 2005. Pelos cálculos da bancada ruralista, são R$ 240
milhões em jogo. No total, os débitos do programa de recuperação das cooperativas seriam
prorrogáveis R$ 600 milhões. O Ministério da Fazenda se opõe frontalmente à medida.
Outras medidas solicitadas incluem, ainda, o remanejamento de R$ 2 bilhões do
orçamento do programa de renovação da frota de tratores e colheitadeiras (Moderfrota -
Programa de Modernização da Frota de maquinarias Agrícolas) para o crédito de custeio da
atual safra, 2005/06. (Jornal Valor Econômico, /agronegócios. Edição 1213, caderno 305.
Dezembro 2005)
Apesar dos protestos usuais, cabe indagar em que medida essa queda dos preços
agrícolas – com a única exceção de algumas lavouras importantes, como o café e a cana de
açúcar - irá afetar negativamente o comportamento da oferta agrícola no próximo ano.
Rezende (op cit, pp7) diz que “A situação este ano (por 2006), entretanto, é
completamente diferente. Em primeiro lugar, os agricultores tiveram que comercializar sua
safra de grãos a preços muito inferiores aos do ano passado, no que resulta que a renda gerada
19
Economia – Texto para Discussão – 186
no ano agrícola 2004/2005 está sendo muito inferior. A pecuária bovina, como se viu, também
está atravessando um período de queda de renda, devido à diminuição dos preços. Em tal
contexto, a disponibilidade de crédito ganha mais importância na determinação do plantio, e
revela que os agricultores estão, de fato, enfrentando restrições de crédito. Dessa forma, pode-
se concluir que os baixos preços de vários produtos agrícolas, ao lado de condições
financeiras adversas atravessadas pelo setor atualmente, deverá levar, com toda a certeza, a
uma redução ou, no máximo, manutenção da área plantada e uma queda significativa no uso
de insumos para a próxima safra de verão”( pp 8).
As previsões de safra de grãos da companhia nacional de abastecimento (CONAB) e
do IBGE confirmam quedas na área de algodão (entre 28,6% e 34,9%), arroz (entre 11% e 15%),
soja (entre 4,8% e 7,8%) e trigo (14,4%). Além do feijão 1ª safra, só o milho aumenta. (entre
3,8% e 6%).
7
Enquanto o agronegócio cresceu 11,8% em 2005 nos produtos processados, as vendas externas de produtos com
maior valor agregado cresceram o triplo do agronegócio em 2005, cerca de 34%”. Produtos tais como carne de peru
industrializada, cerveja de malta, manteiga e gorduras lácteas, carne de frango , açúcar cristal e outros cresceram a taxas
superiores a 50% em relação ao ano anterior. Jornal O Globo, 23 Janeiro 2006, página 14.
20
Economia – Texto para Discussão – 186
Em produtos nos quais o Brasil não é competitivo são estreitados os laços de comércio
com países vizinhos. É o que acontece com o trigo, cujo custo de produção em termos
médios, no Rio Grande do Sul chega a US$ 9,34/saco , contra US$ 13,36/saco no Paraná e
apenas cerca de US$ 7,00/saco na Argentina. (Brum et al, 2005). Nestas condições, a
competitividade do trigo argentino é muito superior, fato que explica o interesse do Mercosul,
e particularmente da Argentina, na liberalização dos mercados agrícolas quando da
constituição dos acordos da ALCA e da União Européia-Mercosul.
Embora seja correto que o Brasil continue a se empenhar nas negociações
internacionais, buscando remover os subsídios e as barreiras dos países desenvolvidos, deve
se também ter em conta que os efeitos de uma liberalização não são tão relevantes como
comumente se pensa. Gurgel (2005), com base num modelo de equilíbrio geral, estima que os
ganhos para o Brasil de uma completa remoção de todas as formas de proteção comercial
seriam de cerca de 0,6% de aumento no bem-estar, ou de cerca de US$ 3 bilhões de dólares ao
ano. “A maior parte desses ganhos seria conseqüência da remoção multilateral das tarifas às
importações, que sozinhas levariam a um ganho de bem-estar de cerca de US$2,32 bilhões ao
ano. Ao contrário do esperado e discutido nas rodadas de negociações da OMC, a remoção de
subsídios às exportações e à produção doméstica traria pequenos ganhos para a economia
brasileira, inferiores a 0,04% de aumento no bem-estar” (pp 9).
Esta informação devia ser levada em conta, sobretudo quando se deposita tanta
esperança nas negociações internacionais sem pensar nas concessões que Brasil vai ser
obrigado a realizar em setores estratégicos como serviços, proteção industrial e patentes.
Os dados que seguem mostram a participação atual do agronegócio no mercado
internacional:
21
Economia – Texto para Discussão – 186
Esses dados embora reflitam a performance do agronegócio brasileiro nos últimos anos,
não deveriam segundo Belik (2005) gerar uma sensação de excessiva superioridade. Ele
destaca várias limitações do modelo agro exportador, entre elas:
1) O peso do mercado agrícola está relacionado à relativa “letargia” do mercado interno,
por causa da renda interna estagnada em função da política recessiva do atual governo.
2) Baixa geração de emprego do modelo exportador.
3) Oferta excessiva de produtos brasileiros tem como conseqüência o aviltamento dos
preços internacionais.
4) Os níveis de produtividade brasileiros são baixos em comparação com outros países
do mundo, tanto na parte agrícola como na agroindustrial.
Em suma, segundo este autor “Não basta apenas se fixar nos baixos salários brasileiros e
nos recursos naturais para garantir a competitividade. Ao longo das últimas décadas,
verificaram-se através de diversos estudos que estímulos decorrentes de aumento de renda
provocaram significativos aumentos na demanda doméstica chegando inclusive a redirecionar
a atuação de empresas para esse segmento. Essas conclusões demonstram a necessidade de
trabalhar as políticas sociais e de transferência de renda para as famílias mais pobres com a
mesma importância de outras políticas de características mais produtivas” (pp 14)
22
Economia – Texto para Discussão – 186
23
Economia – Texto para Discussão – 186
24
Economia – Texto para Discussão – 186
de 80, em função das pressões do Banco Mundial e do FMI para a contenção do crédito rural
e eliminação do subsídio nele embutido. Visando compensar os agricultores por tal mudança,
os níveis dos preços mínimos sofreram aumentos apreciáveis em termos reais e, a partir de
1985, o governo passou a adquirir volumes expressivos de produtos agrícolas. As aquisições
beneficiaram, principalmente, produtores das áreas mais remotas, especialmente os do
Cerrado. 8
Rezende (2000) mostra como em 1995/96, o Governo, face a enorme acumulação de
estoques nas mãos da CONAB e a ineficiência deste sistema de preços mínimos iniciou a
reforma dessa política. “Novos instrumentos de garantia de preços foram criados - Contratos
de Opção de Venda e Prêmio de Escoamento do Produto - que reduzem os custos para o
Governo associados à PGPM (Política de Preços Mínimos) e são mais consistentes com uma
economia aberta. Além disso, fomentam o desenvolvimento de mecanismos privados de
financiamento da comercialização agrícola e retiram a garantia que o Banco antes tinha na
concessão do crédito de custeio (graças à conversão automática em EGF (Empréstimos do
Governo Federal-COV), forçando o agente financeiro a selecionar melhor o tomador” (op cit
pp 3)
Bacha e Del Bel Filho (2004) explicam como funcionam os novos mecanismos
implementados pelo Governo. O AGF (Aquisições do Governo Federal) é um procedimento
no qual o Governo Federal, estabelecido um preço mínimo, se compromete a adquirir o
produto caso o preço de mercado esteja abaixo deste preço mínimo. Há duas modalidades de
AGF: a AGF direta, que é a aquisição à vista dos produtos que se encontram na pauta de
preços mínimos; e a AGF indireta, que ocorre quando há a transferência a CONAB de
produto vinculado a EGF-COV vencido. O EGF é um instrumento em que o Governo Federal
viabiliza recursos ao produtor para que ele estoque seu produto durante a safra podendo
vendê-lo na entressafra (período em que os preços se situam em patamares maiores).
Segundo os mesmos autores (Bacha e Del Bel Filho,página 2) o AGF e EGF teriam
caráter abrangente e são oferecidos sem custos expressivos aos produtores, mas envolvem
significativas despesas por parte do Tesouro Nacional. A partir de 1997, o Governo Federal
implementou o programa Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) e o programa de Contratos
de Opções de Venda de Produtos Agrícolas (COVPA). O PEP consiste em um subsídio dado
pelo Governo Federal que visa o escoamento do produto com excesso de oferta em uma
região para uma outra região onde há a escassez da oferta ou excesso de demanda desse
produto. O Governo Federal paga a diferença entre o preço mínimo do produto em questão e o
preço pago pelo arrematante junto ao produtor. O arrematante (uma agroindústria, um
exportador, por exemplo) será aquele que oferecer o menor deságio monetário ao governo em
relação ao preço mínimo.
Ao final do processo, o produtor vende seu produto ao preço mínimo estabelecido, o
arrematante paga o preço acertado em leilão e o governo cobre a diferença entre o preço
mínimo e o preço pago pelo arrematante ao produtor. Já o COVPA é um seguro de preços
adquirido pelo produtor rural. É um título emitido pela CONAB, no qual a mesma se
compromete a comprar uma quantidade determinada de produto a um preço estabelecido
8
Outra medida que o Governo tomou em 1995, como reação à crise agrícola, foi a securitização, fruto da Lei Nº
9.138 de 30/11/95. Ela consistiu no alongamento da dívida dos produtores, dando a opção ao produtor de entregar, em
produto, o valor equivalente ao refinanciamento do débito. O valor máximo que poderia ser refinanciado por mutuário era de
R$ 200 mil, atingindo 193 mil produtores somente no Banco do Brasil.
25
Economia – Texto para Discussão – 186
(chamado de “preço de exercício”) em uma determinada data.( Bacha e Bel filho, op cit
pagina 3).
A tabela 13 abaixo mostra como o AGF foi bastante utilizado para culturas
importantes na composição da cesta de alimentos do brasileiro, caso do arroz e feijão, com o
objetivo de formar estoques estratégicos.
O COVPA, por sua vez, foi mais utilizado nas culturas que apresentam maior
capacidade de pagamento por parte do produtor, caso do milho e café, já que este instrumento
incorre em custos ao produtor. O PEP, como era esperado, foi mais comercializado por
culturas que apresentam grandes distâncias entre os centros produtores e centros
consumidores, caso do algodão.
Embora se trate de instrumentos novos e que podem se converter em esquemas de
importância significativa no futuro, ainda são bastante incipientes no que diz respeito ao
volume de produção comercializada por meio deles, como revela a tabela que segue:
A soja, por exemplo, praticamente não utilizou nenhum recurso proveniente destes
instrumentos, de modo que em 1998, ano que apresentou maior relação entre quantidade
amparada e quantidade produzida nesta cultura, apenas 0,01% de sua produção foi alvo desta
política, sendo esta quantia adquirida pelo governo através do programa de Aquisições do
Governo Federal (AGF). A soja se financia com contratos com grandes empresas, como
BUNGE , tradings e grandes cooperativas.
26
Economia – Texto para Discussão – 186
futuro fixando suas posições e dando liquidez às operações desse mercado, atuando também
como a ponta vendedora.
No Brasil esta estratégia foi oficializada em 1991 com a criação da BMF (Bolsa de
Mercadorias e Futuros), mas para a agricultura começou de fato a funcionar a partir do ano de
1994, quando foi estabelecido um mecanismo de acerto financeiro para o gado, que até então
era somente físico. Em 1999 também se passou a permitir a entrada de investidores
estrangeiros o que deu mais força ao mercado futuro, principalmente de café (Souza, 2005).
Em 2001 entrou a funcionar o mercado eletrônico para gado e açúcar, sendo que a
partir desse momento mais de 50% das transações foram feitas eletronicamente. No caso de
café ainda predomina o mercado físico (Souza, 2005).
Finalmente a Lei n o 11.076, de 30 de dezembro de 2004, regulamentou cinco novos
títulos de crédito para o financiamento do agronegócio brasileiro. Segundo Souza (2005) estes
novos instrumentos de financiamento deverão aumentar a participação do setor privado no
financiamento do agronegócio brasileiro, aumentar a disponibilidade de recursos para o setor
e proporcionar um maior giro de capital dentro do próprio sistema.
Os novos instrumentos de financiamento do agronegócio são denominados de:
Certificado de Depósito Agropecuário (CDA), Warrant Agropecuário (WA),
Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), Letra de Crédito do
Agronegócio (LCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) (Souza 2005).
A implantação de fundos de financiamentos da agricultura juntamente com a criação
de títulos visam vincular a agricultura com o mercado financeiro, sem a necessidade de
recorrer ao sistema de crédito rural, aliviando a pressão sobre os recursos financeiros para a
agricultura. Estimula-se assim à captação de recursos e a comercialização de produtos
agrícolas através de bolsa.
Estes instrumentos estão ganhando espaço no agronegócio brasileiro principalmente
na comercialização de café e de gado, com importância secundária em soja, milho, arroz e
álcool, como revela tabela que segue:
Existem duvidas sobre e a efetividade deste sistema para a soja por causa da grande
concentração do mercado comprador e pela volatibilidade dos preços.
Segundo Martins e Aguiar (2005) “para os agentes do complexo soja brasileiro, a
adoção de estratégias de hedge é problemática porque o contrato futuro de soja em grão, da
Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), tem apresentado baixíssimo volume de comércio,
27
Economia – Texto para Discussão – 186
chegando mesmo a ficar quase sem negociação em 2001 e 2002. No final de 2002, uma
versão reformulada do contrato de soja foi lançada pela BM&F, mas os resultados não têm
sido os esperados. Como o volume de comércio é incipiente, o mercado tende a ser
ineficiente, e os investidores correm o risco de não fecharem suas posições por diferença, a
um preço justo, no momento que desejarem” (página 451).
Em 2003 foram negociados, no total, 2.917 contratos na BM&F (BM&F, 2004), valor
insignificante se comparado aos contratos negociados na Chicago Board of Trade (CBOT),
que totalizaram um número superior a 17 milhões de contratos, no mesmo ano (CBOT, 2004).
A alta liquidez dos contratos na CBOT é tida como o principal fator que leva os grandes
agentes do mercado de soja a atuarem nessa bolsa (Martins e Aguair, 2005).
28
Economia – Texto para Discussão – 186
9
Para uma avaliação de estas políticas consultar: Guanziroli, Buainain, Romeiro, Bitencourrt, Sabbato (2001)
Agricultura Familiar e Reforma Agrária no século XXI. Garamond. Rio de Janeiro.
29
Economia – Texto para Discussão – 186
pagamentos das prestações em dia, e nas outras linhas cobra-se um interesse nominal positivo
que varia de 1% ao ano para os de menores rendas, até 7,25% para os do grupo E que têm
rendas maiores. Esta taxa se transforma usualmente em negativa ao se descontar a taxa de
inflação do ano e deve ser equalizada através de um subsídio específico que compara os
rendimentos com os juros cobrados e a taxa SELIC vigente.
Deve ser lembrado, entretanto, que parte expressiva dos subsídios à agricultura dos
países desenvolvidos tem como objetivo sustentar a agricultura familiar, manter as ocupações
rurais e impedir o aumento dos fluxos migratórios para as cidades, e que este tipo de subsídio
foi aceito pela OMC dentro das cláusulas que regulam a Caixa Verde da política agrícola dos
países membros.
No Brasil, num contexto no qual a reforma agrária ainda não se efetivou, e os
agricultores familiares ainda estão em fase de estruturação, os subsídios parecem necessários.
Não se deve descartar, no entanto, a possibilidade de introduzir algumas modificações
na política agrícola de apoio à agricultura familiar, como por exemplo, a substituição dos
rebates e subsídios por um “lump sum” a fundo perdido para desenvolvimento de infra-
estrutura em regiões necessitadas. Isto pode ser mais inteligente e apropriado, já que separa o
que é crédito do que é doação, deixando vigorar regras claras para cada um dos casos,
evitando-se assim o papel não educador e distorcido do rebate no crédito. (Buainain, 1999).
Os clubes de poupança e/ou as cooperativas de crédito podem ser incentivadas a usar
fundos oficiais e a gerar poupanças próprias como acontece no caso das cooperativas de
crédito do grupo CRESOL (Crédito Solidário do Sul) atualmente funcionando no Sul do
Brasil.
As normas para a concessão dos créditos passaram por importantes ajustes ao longo da
implementação do programa, sendo a mais significativa a criação em meados de 1999 de
grupos diferenciados de acesso aos créditos do PRONAF, permitindo que fossem adotados
encargos financeiros diferenciados, com bônus e rebates para aqueles de menor renda. A
classificação foi a seguinte: (i) Grupo A: assentados da reforma agrária (primeiro crédito para
estruturação de suas unidades produtivas); (ii) Grupo B: agricultor familiar até então excluído
das linhas de financiamento, com renda bruta anual familiar de até R$ 1.500, sem utilização
de qualquer tipo de mão-de-obra não familiar; (iii) Grupo C: agricultor familiar com renda
bruta anual entre R$ 1.500 e R$ 8.000 e podendo utilizar mão-de-obra de empregados
temporários; e Grupo D: agricultor familiar com renda bruta anual entre R$ 8.000 e R$ 27.500
e podendo dispor de empregados temporários e até dois empregados permanentes.
Essa classificação sofreu alterações recentes incluindo o estabelecimento de novos
grupos e mudanças nos limites para crédito diferenciado de custeio e investimento, para cada
grupo. Com a nova classificação, permaneceram os grupos A, B, C e D, sendo que esses três
últimos tiveram aumentados os limites de renda familiar anual bruta para acesso aos créditos:
até R$ 2 mil, de R$ 2 mil a R$ 14 mil e de R$ 14 mil a R$ 40 mil, respectivamente. Foram
criados mais dois grupos: o Grupo A/C refere-se ao primeiro crédito de custeio para as
famílias assentadas da reforma agrária que já receberam financiamento do Grupo A, e o
Grupo E (Proger Familiar Rural), abrange os agricultores com renda familiar anual bruta entre
R$ 40 mil e R$ 60 mil, que passam a ter direito às linhas de crédito.
Houve ainda uma diversificação das atividades financiáveis, que passaram a incluir
pequenas agroindústrias familiares, artesanato e turismo rural. Em outras palavras, orientou-se
a concessão do crédito para atender às demandas da exploração familiar como um todo e não
apenas às demandas para o exercício de uma única atividade, como normalmente ocorre no
crédito rural. Atualmente, as linhas de crédito do Programa abrangem o estímulo à produção
30
Economia – Texto para Discussão – 186
GRÁFICO 2
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS NO MONTANTE DO CRÉDITO RURAL DO PRONAF
BRASIL - 1999-2004
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Grupo A Grupo A/C Grupo B Grupo C Grupo D Grupo E Exigibilidade
Bancária
1999 2000 2001 2002 2003 2004 (sem
enquadramento)
Fonte: BACEN (Somente Exigibilidade Bancária), BANCOOB, BANSICREDI, BASA, BB, BN E BNDES. Dados inflacionados pelo INPC de dezembro de 2004.
Conforme foi visto acima, no Brasil foram acionadas uma série de políticas
modernizadoras que permitiram um desempenho excelente do setor do agronegócio. Existe ao
mesmo tempo ainda uma dicotomia entre as políticas ligadas ao agronegócio patronal e as
relacionadas com a agricultura familiar.
Na Europa segue-se um modelo semelhante de diferenciação entre os mesmo tipos de
explorações: as comerciais (Pilar 1 da PAC - Política Agrícola Comum) e as familiares (Pilar
2 da PAC). A primeira corresponde às explorações viáveis economicamente e se associa às
explorações de grande dimensão modernizadas e geridas para o mercado. A segunda é
formada por pequenas e medianas explorações de tipo familiar que carecem de viabilidade
econômica e cuja principal missão é a preservação da paisagem e de recursos naturais e que
para sobreviver tem que estar fortemente subsidiada.
A estratégia deveria ser no sentido contrário, a de integrar as duas formas de produção.
Sergio Sepúlveda do IICA (2005) aponta neste sentido, quando diz que a estratégia deveria
ser a formulação de políticas que consigam que a agricultura e seus atores sociais se
incorporem a processos de acumulação e desenvolvam, a partir de empresas integradas em
31
Economia – Texto para Discussão – 186
32
Economia – Texto para Discussão – 186
O tripé formado por sementes de soja rr (transgênicas), mais plantio direto e uso de
glifosato vêm sendo apresentado como a mais nova das inovações tecnológicas do século XXI
33
Economia – Texto para Discussão – 186
na agricultura. Existem, no entanto, grandes dúvidas sobre os efeitos ambientais do uso das
sementes transgênicas e questões pendentes de solução no que diz respeito ao impacto das
mesmas nos custos de produção e na rentabilidade dos produtores.
Essa diminuição dos custos seria dada pela possibilidade de que a planta uma vez
crescida deverá receber o glifosato, o que permite substituir os pesticidas pós emergentes e
pós plantio por uma aplicação única de Roundap. Isto viabiliza também a utilização no plantio
direto, já que não se aplica o pesticida pós emergente, reduzindo significativamente o trabalho
de preparo e aração da terra. A princípio, portanto, haveria uma diminuição de uso de
agrotóxicos (de duas para uma aplicação) e do custo de arar a terra.
Por outro lado, ao se comparar os herbicidas usados nas produções de soja transgênica
e convencional, verifica-se uma situação ambígua: aparentemente apresentam maiores riscos
de danos os agrotóxicos usados na soja convencional (fitotoxicidade), podendo afetar a
produtividade.
Estes argumentos são questionados pelos ambientalistas, que dizem que a
produtividade da soja rr começa a cair a partir do quarto ano de uso dessa tecnologia e que os
custos também começariam a crescer anulando totalmente os ganhos obtidos nos primeiros
anos. Um dos motivos estaria no pagamento dos royalties a Monsanto pelo uso das sementes.
Roesling e Lazzaroto num artigo recente (2005) fornecem dados de pesquisa de campo
em alguns municípios típicos da atividade de cultura da soja que podem ajudar a clarificar
essa questão. Comparando-se o custo variável por hectare da soja geneticamente modificada,
no curto prazo, em relação ao da convencional, Roesling e Lazaretto (op cit) verificaram que
ele tende a ser menor, com variações de -6,46%, em Palmeira das Missões, até 2,84%, em
Sinop.
O custo variável da soja transgênica de médio prazo, em comparação com o
convencional, na maior parte dos municípios estudados, também tendeu a ser menor,
registrando-se diferenças que variaram entre -5,95%, em Palmeira das Missões, e 3,61%, em
Sinop.
A soja transgênica de médio prazo tenderia a propiciar melhores retornos na maior
parte dos municípios estudados pelos autores citados. Na média ponderada do País, a renda
líquida da produção transgênica teria sido aproximadamente de 6,1% maior (US$194,8/há.
contra US$183,6/há. ou US$4,0/sc contra US$3,8/sc).
Com base nos resultados econômicos, que podem ser obtidos nas produções de soja
geneticamente modificada e convencional, os autores citados fazem as seguintes observações:
a) as estimativas demonstram que a adoção da soja transgênica pode trazer resultados
econômicos distintos para as diversas regiões do Brasil. Além disso, apesar da soja
geneticamente modificada, de modo geral, apresentar custo total ligeiramente menor, quando
comparados os custos e a renda líquida decorrente das produções transgênica e convencional,
estimou-se que não existem grandes diferenças entre esses dois tipos de produção de soja no
Brasil;
b) as pequenas diferenças nos custos e na renda líquida, entre os dois tipos de
produção citados, especialmente no médio prazo, ocorrem em virtude do pagamento da taxa
tecnológica e da utilização de duas aplicações de herbicidas pós-emergentes na maior parte
dos sistemas de produção de soja do País;
c) as despesas com herbicidas pós-emergentes são menores na produção transgênica
pois, considerando o plantio de soja geneticamente modificada, na média ponderada
brasileira, a redução no custo desses defensivos ficou estimada em 64,1% .
34
Economia – Texto para Discussão – 186
Além dos fatores técnicos, têm entrado no debate, fatores de ordem política e
econômica. Uma das principais críticas políticas à liberação dos transgênicos refere-se ao
fortalecimento do monopólio da Monsanto no Brasil. Segundo a Greenpace (2003) esta
empresa começou a penetrar o mercado de agrotóxicos no Brasil nos anos 50, e começou a
sintetizar agrotóxicos no País duas décadas mais tarde. Em meados dos anos 90, a empresa se
estendeu para o ramo de sementes através da aquisição de unidades de pesquisa e de
processamento de soja, milho, sorgo e girassol de várias empresas brasileiras (por exemplo, a
Agroceres e a FT/Monsoy) e norte-americanas (Cargill, DeKalb e Asgrow). A aquisição da
Agroceres, da Cargill e da Braskalb deu à Monsanto uma participação de 60% no mercado
brasileiro de sementes de milho híbrido em 1999.
Este espaço vem se ampliando em função do contrato de parceria firmado com a
EMBRAPA em 2005 que permite a esta empresa incorporar ao seu produto a tolerância ao
herbicida Roundup, da Monsanto.
Produto desta situação, segundo a CNA (Confederação Nacional da Agricultura), a
Monsanto aumentará para R$ 0,88 por quilo de semente transgênica, a título de royalties e
pretende instituir uma taxa adicional por saca de grão produzida com sementes geneticamente
modificadas. Com esse acréscimo, a cobrança aos produtores poderia chegar a R$ 1,20 por
saca., ou seja o dobro da safra passada quando pagaram R$ 0,60 por saca produzida com
sementes transgênicas.
A Monsanto informou a CNA que as cobranças serão feitas de forma independente e
têm objetivos diferenciados. A taxa de R$ 0,88, segundo a empresa, é referente aos royalties
cobrados por quilo da semente adquirida e será exigida pela primeira vez no Brasil. Já a “taxa
de indenização” pelo uso não autorizado da tecnologia RR (Roundup-Ready), já aplicada na
safra passada a um custo de R$ 0,60 por saca, será de 2% sobre o valor da saca no ano
agrícola 2005/2006.
No entanto e apesar dos protestos de certos setores, o Governo legalizou o plantio de
soja no Brasil através do Decreto nº. 5.591, publicado no dia 23 de novembro de 2005 no
Diário Oficial da União. Com isso, o governo brasileiro afirma ter institucionalizado normas
de segurança e fiscalização para a pesquisa, cultivo e comercialização de organismos
transgênicos e reestruturado a CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança –
chegando ao final de um dos seus mais polêmicos conflitos políticos.
A pesar disto é grande o interesse de amplo número de agricultores brasileiros em
adotar essa moderna tecnologia. A Fundação Mato Grosso Visionário estima que pelo menos
500 mil hectares foram plantadas em 2005/2006, o equivalente a cerca de 10% da área total
com a soja transgênica (site FMT).
Esse interesse deve-se, em muito, às possibilidades vislumbradas pelos produtores em
obter duas importantes vantagens adicionais em relação à produção convencional: maior
facilidade na condução do sistema produtivo, especialmente no controle de plantas daninhas,
e ganhos econômicos na produção.
Sempre que surgem tecnologias modernas ocorrem resistências de parte a parte, que
devem ser levadas em consideração, mas em nossa opinião, não deveriam deter os esforços
que vem sendo feitos, especialmente pelas instituições oficiais de pesquisa como a
EMBRAPA, no sentido de buscar sua adaptabilidade e residência às condições brasileiras.
Deve se lembrar também que a EMBRAPA não trabalha exclusivamente sobre soja rr,
e que está desenvolvendo biotecnologias para combate a pragas, novas variedades resistentes
à seca, entre outras, que senão forem freadas, podem vir a transformar também a realidade da
região Semi-árida do Brasil.
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Conforme foi visto no capítulo 1 a região Centro Oeste possui características naturais
em termos de relevo, temperatura, precipitações e exposição ao sol muito favoráveis ao
desenvolvimento do agronegócio e, em particular, da soja. Essas características, entretanto,
não seriam suficientes para garantir o desenvolvimento espontâneo da agricultura na região,
sem a implementação de políticas específicas que permitissem “preparar” a região para a
modernização agrícola. Tratava-se basicamente de “construir” solos aptos à soja substituindo-
os por outros solos, com níveis de acidez aceitáveis. Precisava-se também adaptar os
cultivares de soja as condições tropicais e gerar uma estrutura fundiária capaz de abrigar o
novo modelo de produção.
Segundo a EMBRAPA (2004) a Região Central do Brasil foi favorecida pelos
seguintes fatores:
- Construção de Brasília, gerando diversas melhorias na infra-estrutura da região;
- Incentivos fiscais para abertura de novas áreas e para compra de equipamentos;
- Estabelecimentos de agro-indústrias na região;
- Baixo valor da terra na região nas décadas de 1960 a 1980;
- Desenvolvimento de um bem sucedido conjunto de tecnologias para o cultivo da soja
em baixas latitudes com destaque especial para as novas cultivares adaptadas a essas
condições
- Condições físicas e climáticas favoráveis ao cultivo da soja na região, dentre outros.
Nesta seção dar-se-á importância aos fatores relacionados aos incentivos fiscais
ligados, deixando para uma seção posterior a análise das questões logísticas envolvidas.
Prevendo o boom que aconteceria décadas depois com a soja, em função da demanda
crescente por este produto, vinda dos países asiáticos, o Governo Brasileiro, em cooperação
com a agência de desenvolvimento japonesa JICA (Japan International Cooperation Agency),
decidira transformar uma região clássica de latifúndio/minifúndio, dedicada a pecuária
extensiva e leiteira, numa região de agronegócio, com base na cultura da soja e milho,
principalmente.
Para isso era necessário transformar essa fronteira agrícola, que estava ocupada por
outros modos de produção, numa região na qual pudessem atuar produtores de soja oriundos
do Sul e de colônias Nissei que cultivaram soja com sucesso previamente a sua fixação na
região tropical e que tivessem, portanto, um bom nível econômico e tecnológico.
Um dos instrumentos utilizados para atrair os agricultores foi o crédito ao
investimento e custeio agrícola, com estímulos à incorporação de novas áreas ao processo
produtivo, juntamente com a política de preços mínimos adotada entre 1970 e 1980
privilegiando com compras maiores via AGF e EGFs esta região.
Mas a principal atuação do Estado nesta região foi através dos diversos programas de
colonização financiados e/ou incentivados desde o Ministério de Agricultura até os Governos
Estaduais.
O primeiro responsável pela exploração agrícola intensiva no Cerrado foi o Programa
de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba - PADAP, implantado em 1973 pelo Governo do
Estado de Minas Gerais, numa área de 60000 hectares, englobando municípios do Alto
Paranaíba, onde foram formados 4 núcleos de colonização.
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Isto se reflete no chamado “Custo Brasil” que nos EEUU é, na parte portuária, de U$ 2
por t enquanto no Brasil é de U$ 7 por t. No transporte rodoviário varia dependendo do ponto
de origem da mercadoria: Sorriso a Paranaguá: U$ 39,90 /t Balsas a São Luis: 17,26 e
Cascavel a Paranaguá: 11,61 (Martins, op cit)
Isto faz com que seja necessária a utilização do modal rodoviário para o transporte de
grande parte da produção de soja brasileira, mesmo quando se trata de longas distâncias. O
problema desta predominância também se dá pelo baixo aproveitamento do transporte, pois
um caminhão carrega cerca de 150 vezes menos soja do que uma composição ferroviária e
cerca de 600 vezes menos do que um comboio de barcaças numa hidrovia como a do Rio
Madeira. (Ojima e Ramos, 2005).
No modal ferroviário, o uso de vagões inadequados, somado à baixa qualidade e a
pequena oferta de material rolante podem ser considerados as principais deficiências na infra-
estrutura (Ojima, op cit)
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Já para o modal hidroviário o problema residiria, segundo Caixeta e filho (op cit) na
baixa capacidade de intermodalidade e comboio, além de oferecer pouca atratividade de
investimentos devido às barreiras ambientais. A demanda por transporte em hidrovias é freada
também pela baixa disponibilidade de estruturas de armazenagem e oferta irregular do
serviço, aliadas a condição imposta pela natureza, que se refere à localização geográfica de
nossas bacias hidrográficas.
Os principais corredores de exportação segundo Martins (op cit) são os seguintes:
• Corredor do Rio Madeira: Mato Grosso por rodovia até Porto Velho, depois pelo rio
Madeira até Itacoatiara e depois de navio.
• Ferronorte ferroviário: Mato Grosso pela Ferronorte até Santos.
• Centro Norte corredor: Rio Araguaia (Goiás, Para) até Xambioa em Tocantins, depois
por estrada até Maranhão e finalmente pela estrada de Carajás até Itaquí em São Luiz.
• Cuiabá Santarém: de Pará e MT até porto de Santarém.
Paraná Paranaguá: corredor hidroviário de MT até Cáceres em MT e depois para
Argentina.
• Rio São Francisco, hidroviário de Juazeiro até Salvador e Petrolina e depois a o Suape.
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Gráfico 3
Brasil: Evolução dos Índices de Preços de Venda de Terra de
Lavoura em Junho e Dezembro de cada Ano - 1980 – 2001
(Base: Média 1980 - 1984 = 100
270
240
210
180
150
120
90
60
30
0
Jun_80
Jun_81
Jun_82
Jun_83
Jun_84
Jun_85
Jun_86
Jun_87
Jun_88
Jun_89
Jun_90
Jun_91
Jun_92
Jun_93
Jun_94
Jun_95
Jun_96
Jun_97
Jun_98
Jun_99
Jun_00
Jun_01
Rezende explica com base neste Gráfico que apresenta o comportamento dos preços
de terra de lavoura para o Brasil no período de junho de 1980 a dezembro de 2001 exibindo
“grande variação do preço da terra no Brasil nas conjunturas macroeconômicas em que o risco
percebido das aplicações financeiras sofreu mudanças significativas, piorando (fazendo o
preço da terra subir) ou melhorando (fazendo o preço da terra cair). Praticamente, todas essas
conjunturas macroeconômicas coincidiram com os planos heterodoxos de combate à inflação:
Cruzado (1986), Verão (início de 1989), Planos Collor I e II (inícios de 1990 e 1991) e Plano
Real (1994)” (Rezende op cit, página 25)
A aceleração inflacionária ocorrida no país após 1973 e as dificuldades enfrentadas
pelo governo nas suas tentativas de estabilização da economia transformaram a terra (tanto
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rural, quanto urbana) em importante reserva de valor. Via de regra, o valor da terra, em
termos reais, aumentara com a inflação, o que resulta na ampliação da demanda por terra num
ambiente inflacionário.
No momento atual a valorização está relacionada com a rentabilidade do produto.
Vemos assim que entre junho de 2002 e junho de 2005 o preço médio das terras no país
registrou taxa de crescimento de 63%, acima da inflação acumulada de 49% no mesmo
período, pelo IGP-DI (Fonte: Folha de São Paulo, 27/07/2005).
A valorização crescente dos preços das terras agrícolas no Brasil pode levar à
formação de uma "bolha" nos próximos anos. O valor médio das terras brasileiras em
novembro de 2001 era de R$ 1.673 por hectare. No primeiro bimestre deste ano, a cifra
passou para R$ 2.296, um aumento de 27%. No oeste da Bahia, na região de Barreiras, essa
elevação atingiu 400% (Folha de São Paulo, op cit).
O lado negativo da alta do valor da terra é que ela pode aumentar a escala das
propriedades e levar os pequenos e médios produtores a abandonar as regiões agrícolas
favorecendo os grandes plantadores de soja e pecuaristas.
Segundo Rezende (2003) o aumento da produção de soja através do arrendamento
temporário de terras tem sido uma saída razoável vis a vis o aumento tendencial dos preços da
terra após 2001.
O arrendamento de terras de fato já acontece em estados como Rio Grande do Sul
(arroz) e no Nordeste desde muito tempo atrás. Na região dos Cerrados, no entanto trata-se de
uma atividade bastante recente.
Uma iniciativa pioneira na região que depois se espalhou pelo resto do país foi a Bolsa
de Terras de Uberaba. Em l985 foi instalada a Bolsa de Arrendamentos de Terras, sistema que
começou a integrar extensas áreas antes destinadas principalmente à exploração pecuária com
base no trabalho de agricultores vindos, sobretudo do Sul do país.
O sistema funciona da seguinte forma: são identificados os proprietários que
pretendem arrendar e um funcionário da bolsa caracteriza o tipo de terra, sua topografia etc.
Basta que o candidato ao arrendamento se apresente na bolsa e esta propõe determinados tipos
de contratos entre as partes. Mesmo assim, a negociação é livre. O preço do arrendamento
pode variar muito entre regiões: na Alta Mogiana (SP) cobra-se, por exemplo, 12 sacas de
soja por hectare, contra 6 em Uberaba (site da Bolsa de Uberaba).
Nas terras de cerrado, brutas, que exigem maiores esforços de desmatamento e de
aplicação de calcário o arrendatário é costumeiramente dispensado de qualquer pagamento no
primeiro ano. No segundo ano, o proprietário geralmente cobra o equivalente a 5% da
produção obtida, passando para 10% no terceiro ano e 15% nos dois anos restantes (Fonte:
Dinheiro Verde vol. 1 - número 5 nov. de 1989).
A idéia foi impulsionada pelo fiscal da Carteira de Crédito Agrícola da agência do
Banco do Brasil em Uberaba, José Humberto Guimarães, hoje assessorando a Diretoria de
Operações do banco em Brasília, a Bolsa de Arrendamentos começou a alterar os perfis
agrícola, econômico e social do município. Em 85, Uberaba utilizava apenas 22% de seus 270
mil hectares de terras agricultáveis; com o advento da bolsa, hoje já são utilizados 105 mil
(38%), com um incremento significativo principalmente na cultura da soja, como também nas
culturas de milho e arroz (Fonte: Internet: bolsa de arrendamento de Uberaba). O sistema traz
vantagens tanto para os proprietários arrendatários, como a limpeza de gleba, redução das
despesas de manutenção e dos impostos incidentes sobre as áreas inexploradas, como para os
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parceiros ou arrendatários, que vem viabilizando sua permanência no processo produtivo sem
ter que imobilizar recursos na aquisição de terras.
Além da Bolsa de Uberaba funcionam sistemas eletrônicos, com base no mesmo
princípio, no Banco do Brasil e na Fundação Getúlio Vargas permitindo expandir a
experiência a outros estados da federação.
Outras formas de acesso a terra para pequenos produtores e arrendatários estão sendo
dadas pelo Sistema Nacional de Crédito Fundiário (ex Cédula da Terra) que funciona no
MDA e pelos assentamentos de sem terra do INCRA.
Os sistemas de acesso a terra “via mercado” (Cédula da Terra e Crédito Fundiário)
foram criados após se constatar que a desapropriação por interesse social, por exemplo, na
maioria das vezes apresenta um percurso demorado e oneroso aos cofres públicos, sem contar
que ela só pode ser aplicada em propriedades com mais de 15 módulos fiscais..
Esse mecanismo de aquisição de terras ganhou grande aceitação pelo governo
Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002) especialmente com a implantação do
Banco da Terra em 1998. Até o fim de seu mandato foram destinados cerca de um bilhão de
reais para a implantação desse programa. O Banco da Terra teve suas atividades suspensas no
início de 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) tomou posse como presidente
da República. (Camargo, Cazella et al, 2005).
Após receber o financiamento, o beneficiário teria até 20 anos para saldar sua dívida,
incluídos três anos de carência, com juros que variavam de 6 a 10% ao ano. Os agricultores
que pagassem em dia suas prestações teriam o direito a rebates (descontos que incidem sobre
os juros), sendo que seriam dados 50% de rebate aos financiamentos em regiões tidas como
mais pobres (como o Nordeste, por exemplo) e 30% nas demais regiões.
Por meio deste crédito foram distribuídos, em seus quatro anos de aplicação, cerca de
955 milhões de reais para quase 55 mil famílias em todo o Brasil. Desse total, a maior parte
foi destinada à região Sul do Brasil, que acabou ficando com 46% dos recursos totais
(Camargo, et al op cit).
E dos três estados do sul, Santa Catarina recebeu mais do que os outros dois estados
juntos, o que dá uma noção do que este programa representou neste estado. Por essa razão
serão apresentados na seqüência alguns dos resultados da aplicação do Banco da Terra em
Santa Catarina.
O novo programa de Crédito Fundiário traz muitas semelhanças com o Banco da
Terra, dentre elas: o prazo do financiamento, que também é de 20 anos, com três anos de
carência, o limite de crédito de 40 mil reais, a propriedade continua sendo garantia, o público
a quem se destina (exceto que não especifica que os participantes de ocupação ilegal estejam
excluídos do programa), entre outras. Mas o que mais chama atenção são as diferenças entre
eles, a começar pela estrutura.
No entanto a diferença mais significativa fica a cargo das condições de financiamento.
Enquanto que no Banco da Terra o agricultor arcava com todas as despesas, no Crédito
Fundiário os recursos para implantação da infra-estrutura e dos projetos produtivos
(habitação, energia, rede de água, perfuração de poços, assistência técnica, financiamento para
implantação inicial da atividade rural a ser explorada, bem como a manutenção da família
durante os primeiros seis meses do projeto, entre outros) não são reembolsáveis.
Camargo (op cit) mostra que as taxas de juros cobradas também foram reduzidas
variando de 3 a 6,5% a.a. Apenas com essa mudança um agricultor que obtivesse o
empréstimo de R$ 30.000,00 pagaria em 20 anos o equivalente a R$ 46.427, 74, ou seja, cerca
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de R$ 9.087,00 a menos do que pagaria com o Banco da Terra (R$ 55.514, 83). Esse valor
fica ainda mais reduzido com os bônus de adimplência conferidos aos que efetuarem os
pagamentos até os respectivos vencimentos. Também na proposta do Banco da Terra havia
esse benefício, concedido de acordo com a região do País, porém incidia apenas sobre os
encargos financeiros (juros). No caso do Crédito Fundiário, incide também no principal de
cada parcela, barateando ainda mais o valor das parcelas.
O financiamento pode ser coletivo ou individual, de acordo com a linha de crédito
específica. No caso das linhas Combate à Pobreza Rural e Nossa Primeira Terra, os recursos
para os projetos de infra-estrutura e comunitários não são reembolsáveis. O prazo de
pagamento é de até 17 anos com taxas de juros entre 3,0 e 6,5% a.a., de acordo com o valor
financiado. Esse valor pode chegar a R$ 40 mil por beneficiário, dependendo da linha de
crédito.
No Brasil, estima-se que, apenas nas áreas inferiores a 15 módulos fiscais, existam
atualmente mais de 40 milhões de hectares ociosos, que podem ser transferidos a agricultores
familiares por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário.
Entretanto há algumas restrições para o financiamento da compra da terra. As áreas
não podem estar situadas em reservas indígenas ou em áreas protegidas por legislação
ambiental e que estejam em situação regular. Também devem ter preços condizentes com os
de mercado e apresentarem condições que permitam o seu uso sustentável.
A descentralização é outro eixo do Crédito Fundiário. O programa é da União, mas
Estados, Municípios e sociedade civil têm participação efetiva, através de organizações não
governamentais, conselhos e outras formas de organização social. A descentralização garante
a integração com as ações de programas locais de desenvolvimento, como infra-estrutura,
educação, saúde, saneamento, combate à pobreza e ação social. (MDA, 2005)
O Programa Nacional de Crédito Fundiário, do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), atendeu em 2005 quase oito mil famílias que conseguiram crédito para
comprar a própria terra. Desde 2003, o programa já beneficiou 23 mil famílias de pequenos
agricultores.
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Copersuc 5.0 Copersucar 3.22 Cevala 4.03 Bungea 5.20 Nestlé 6.03
ar 0
Ceval 3.5 Ceval 2.70 Sadia 4.03 Sadia 3.69 Cargilla 4.78
3
Santistaa 3.2 Santistaa 2.45 Cargilla 3.91 Cargilla 3.52 Sadia 3.85
8
Sadia 2.8 Sadia 2.38 Perdigão 2.49 Perdigão 2.20 Copersuc 3.75
9 ar
Frigobrás 1.6 Cargilla 1.92 Parmalata 1.98 RMBa 1.68 Perdigão 2.99
8
RMBa 1.6 Perdigão 1.49 Santistaa 1.98 Parmalata 1.55 Unilevera,b 2.54
8
Perdigão 1.6 Parmalata 1.47 Kraft 1.33 Kraft 1.09 Coamo 1.67
2 Lactaa Lactaa
Yalota 1.5 Sadia 1.43 Ariscoa 1.31 Fleishman 1.08 Parmalata 1.44
1 Frigobrás na
Cargilla 1.5 RMBa 1.29 Nabiscoa 1.21 Aurora 0.87 Fleishman 1.24
0 na
Total (CR10) Total 23.6 Total 28.2 Total 26.3 Total 35.89
28.08 0 8 2
Fonte: Extraído de Farina (2003) página 6
Pode se verificar na tabela anterior que o grupo das 10 maiores empresas de alimentos
no Brasil, que em 1994 obtinham 28,08% do faturamento bruto do setor, passaram em 2001 a
concentrar 35,89% do mesmo. Fica evidenciado também o acelerado crescimento de uma
empresa como Bunge, que em 1999 era de pouca expressão no Brasil, e já em 2001 passa a
controlar 7,59 % do mercado de alimentos.
Segundo site da empresa BUNGE “A Bunge Alimentos manteve a liderança na
originação de soja (compras do produtor), seu processamento e a exportação em 2003,
garantindo a posição de maior exportadora do agronegócio brasileiro.”
Essa concentração se expande a outros setores da economia. Segundo informações da
própria empresa (site da empresa) “a soma das exportações das controladas da Bunge Brasil –
Bunge Alimentos e Bunge Fertilizantes, empresas líderes nos setores em que atuam –
representaram 2,75% das exportações brasileiras. Com esse volume de exportações, a Bunge
Brasil pode ser considerada a terceira maior exportadora do País, com vendas externas
superiores a R$ 7,1 bilhões, 54% em relação a 2002, tendo sido o crescimento de vendas para
a China como um dos principais fatores”.
O impacto do crescimento do agronegócio se reflete na posição conquistada pelas
grandes empresas agrícolas no contexto das maiores empresas brasileiras de todos os setores.
A BUNGE passou a ser em 2004 a quarta empresa brasileira em termos de
faturamento atrás somente da PETROBRAS, Vale do Rio Doce e EMBRAER. Em seqüência
entre as grades figuram várias outras empresas agrícolas como a Cargill (6a) , Aracruz
Celulosa (9a) , SADIA (13%) e Perdigão (20%).(Revista Exame: as maiores e melhores).
Na região Sul do país as empresas relacionadas ao agronegócio ocupam diretamente as
4 primeiras posições entre as maiores empresas (Bunge, Sadia, Perdigão e COAMO).
Na fruticultura também se registra concentração semelhante. Na região do Pólo
Fruticultor de Petrolina Juazeiro, onde se destaca a produção de manga e uva para exportação
várias indústrias/empresas dominam o mercado. Dentre as principais indústrias, destacam-se:
Agrovale (açúcar, álcool e manga); Fruitfort e Curaçá Agrícola (manga); Carrefour –
Labruinier, Vale das Uvas e Orgânica Vale (uva); Grupo Queiroz Galvão – Fazenda
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Timbaúba (uva e manga) e CAJ (uva e manga); Grupo Special Fruit – Sueme (uva e manga);
Fazenda Brasiuvas (uva); e, Fazenda Nova Fronteira Agrícola (manga). (Ortega, 2005).
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10- CONCLUSSÃO
Foi possível verificar, neste trabalho, o avanço notável dos principais sistemas de
produção agrícola no Brasil entre 1980 e 2004. Conformou-se um setor de produção com
indústrias a jusante e a montante, e de produção dentro das porteiras que é responsável por
26% do PIB Brasileiro. As estatísticas mostraram um forte crescimento da soja, do milho,
algodão e da produção de carnes, que são produtos que possuem vantagens comparativas
internacionais relativamente grandes. Superou-se, na última safra, o patamar dos 110
milhões de toneladas de grãos, sendo que soja produzida atingiu os 50 milhões de
toneladas.
Os dados do IBGE revelam também que, parte desse sucesso, deve ser creditada
ao segmento dos agricultores familiares, que é responsável por 37,9% do PIB
agropecuário do Brasil.
No período recente (2001-2004), a diferença da década anterior, o crescimento da
produção se deu mais por aumento da área plantada do que por aumento de rendimentos
físicos. Houve expansão de plantios de soja, por exemplo, em Estados não tradicionais em
cereais como Bahia, Piauí, Maranhão e inclusive Pará, no Amazonas Legal. O Centro
Oeste e Mato Grosso em particular foram às áreas com maior expansão absoluta entre
1980 e 2004.
Entre os fatores que geraram as condições prévias necessárias para que se
concretizasse o boom do agro negocio nos anos 90 no Brasil cabe destacar os seguintes:
a) Papel da intervenção de setor público na geração de tecnologia
apropriada aos Cerrados Brasileiros: cabe citar as variedades de soja adaptadas
aos climas tropicais desenvolvidas pela EMBRAPA-Soja, as tecnologias de
recuperação de solos com grande acidez dos Cerrados , as variedades de frutas
tropicais (manga e outras) adaptadas ao semi-árido nordestino brasileiro que
permitiram que alguns produtos, como a manga, entrassem nos Estados Unidos
na contraestação do México (exemplo), a erradicação do bicudo nos cerrados,
etc.
b) Papel do setor público na criação de condições de infra-
estrutura, geração de recursos humanos e adaptação de recursos naturais na
região dos Cerrados: i) Plano chamado POLOCENTRO e depois PRODECER
(CERRADOS) Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso nos anos 70 e 80 para
destinar terras, de forma subsidiada, a colonos gaúchos e descendentes de
japoneses, que serão os que, posteriormente, produzirão a transformação dos
cerrados por meio de módulos médios de tipo “family farm” (500has, em
média). Desenvolvimento de um sistema de Bolsa de Terras para arrendamento
na região de Cerrados, com centro em Uberaba, que permitiu continuar o
processo de incorporação de terras e produtores ao setor do agronegócio.,ii)
Financiamento a fundo perdido de estradas ligando o Centro Oeste com os
Portos e de infra-estrutura de adutoras e barragens no Rio São Francisco nos
anos 70 o que permitiu a instalação dos perímetros irrigados para plantio de
espécies frutíferas (Nilo Coelho, Bebedouro, etc) na região do semi-árido
Nordestino.
c) Redesenho do sistema de crédito em função da necessidade de
adaptar o país a crise fiscal e aos “constraints” gerados pelas exigências das
organizações internacionais de comércio (OMC, Mastrich, etc). Cabe destacar:
i) A evolução do processo de mudança do sistema de crédito subsidiado e
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