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COMPORTAMENTO DE CAPRINOS EM PASTOS DE BRACHIARIA

HIBRIDA CV. MULATO

GOATS BEHAVIOUR ON BRACHIARIA HIBRIDA CV. MULATO


PASTURE

Carina Simionato de Barros1, João Ricardo Dittrich2, Chayane da Rocha3, Cláudio José
Araújo da Silva4, Fabiana Marinelli Pontes da Rocha5, Alda Lúcia Gomes Monteiro6, Luís
Felipe Sperry Bratti7, Ana Luísa Palhano Silva8.

RESUMO
O experimento foi realizado no município de Campo largo, Paraná, e teve como
objetivo avaliar o comportamento e o ganho de peso de caprinos em pastagem de Brachiaria
hibrida cv. MULATO nas ofertas de 4 e 8% do peso corporal dos animais em massa seca de
forragem. As avaliações, tanto do pasto, quanto dos animais, foram realizadas nos dias 9, 16 e
20/04/2005, nas quais a pastagem foi caracterizada pela altura, disponibilidade de massa seca
total e parcial de folha e colmo. As atividades dos animais, como pastejo, ócio, ruminação e
deslocamento foram identificadas por observação direta. A velocidade de ingestão de
forragem e o ganho de peso dos animais também foram quantificados. O delineamento foi o
inteiramente casualizado. Os caprinos destinaram a maior parte do tempo avaliado ao pastejo
e durante o ócio, permaneceram mais tempo parados em pé. A velocidade de ingestão foi
diferente (P<0,005) entre os tratamentos 4% (24,93 a 33,47 bocados/minuto) e 8% (21,64 a
26,65 bocados/minuto). A oferta de 8% resultou em maior ganho de peso dos animais
individual e por hectare, mesmo com menor número de animais por área. As ofertas de
forragem testadas determinaram diferença no comportamento dos animais, apesar da maior
oferta proporcionar melhor desempenho animal.
Palavras-chave: disponibilidade, oferta, pastejo, ruminação, taxa de bocados.

1
Mestranda, Ciências Veterinárias UFPR. Bolsista CNPQ. E-mail: carinaveter@gmail.com.
2
Prof. Dr Dpto Zootecnia, SCA, UFPR, E-mail: dittrich@ufpr.br
3
Graduanda Zootecnia UFPR. Bolsista CNPq.
4
Mestrando, Pós Graduação, Agronomia UFPR.
5
Médica Veterinária autônoma.
6
Prof. Drª Dpto Zootecnia, SCA, UFPR.
7
Mestrando Ciências Veterinárias UFPR
8
Prof. Drª FIES e TUIUTI.

Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.14, n.2, p. 187-206. 2007
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ABSTRACT
The experiment was realizes in Campo Largo, Paraná, and had how objective
evaluated the behavior and weight gain of goats on Brachiaria hibrida cv. MULATO pasture
in two offers of 4% and 8% of the animals corporal weight in dry matter of forage. The
evaluations of the pasture and the animals were performed in days 09, 16 e 20/05/2005, in
which the pasture was characterized by height, dry matter availability partial and total of leaf
and stem. The activities of animals as grazing, idling, rumination and displacement were
identified by direct observation, over there evaluation of bite rate and weight gain. The
experimental design was completely randomized. The goats destined the most of the time
evaluated on grazing, and during the idling stayed more time stopped. The ingestion rate was
different (P<0.05) between offers 4% (24,93 a 33,47 bites/minute) and 8% (21,64 a 26,65
bites/minute). The offer of 8% resulted in more weight gain of the animal by hectare, in spite
of minor number of animals by area. The offers of pasture studied didn’t determine
differences in the behaviour of the animals, despite the offer of 8% provide the better
performance of animals.
Key words: avalability, bite rate, grazing, offer, rumination
maior lucratividade aos produtores com
INTRODUÇÃO
sustentabilidade.
Os sistemas de produção utilizados O estudo do comportamento
atualmente nem sempre privilegiam ingestivo utiliza como ferramentas a taxa de
adequada interação solo-planta-animal que bocado, o tempo de pastejo e o tamanho do
possa maximizar a produção. O manejo bocado (FORBES, 1988). Esses parâmetros
acaba por restringir o acesso dos animais à são também indicativos do consumo animal
pastagem e aumentar o fornecimento de em pastejo, que é o principal determinante
concentrado, o que pode gerar aumento de na produção animal, e afetam também a
custo, chegando até à inviabilidade produção vegetal por meio de seus efeitos
econômica. Observa-se tendência geral no sobre a estrutura da pastagem (UNGAR,
Brasil de maior número de criações de 1996).
caprinos em pasto. É importante, assim, Os planos de alimentação no
entender a complexa relação solo-planta- sistema pastoril consideram como base as
animal para que se estabeleça manejo necessidades nutricionais e o consumo de
adequado do sistema que resultará em alimentos. No caso dos requerimentos, são

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fatores de variação do apetite, a raça, nível espessura, e em média nove a dez folhas
de produção, estado fisiológico e ingestão por colmo, que se projetam vertical e
prévia; o consumo considera características horizontalmente garantindo boa densidade e
da forragem (disponibilidade, palatabili- volume de folha. Em relação à qualidade,
dade, estrutura, digestibilidade, composição apresenta em torno de 64,9% e 66,1% de
botânica), os fatores climáticos digestibilidade de matéria seca in vitro nas
(temperatura, chuva e época do ano) e folhas e no colmo, respectivamente, e o teor
outros fatores que incluem disponibilidade de proteína bruta é em média igual a 10,2%,
de água, estado sanitário dos animais, além de possuir altos níveis de carboidratos
comportamento social, suplementação e estruturais nas folhas (152 mg/kg) e colmos
deficiências nutricionais (MARQUES, (161 mg/kg).
2001). O consumo está intimamente Os ruminantes gastam seu tempo
relacionado à demanda de nutrientes do durante o dia em atividades de pastejo,
animal, que por sua vez é determinada pelo ruminação, interações sociais e ócio
estado fisiológico desse (CARVALHO, (HODGSON, 1982). O tempo dispendido
1997). para cada uma dessas atividades depende
As informações sobre a espécie de das características do pasto, condições
pastagem em estudo têm como fonte o ambientais (temperatura, pluviosidade, etc),
Centro Internacional de Agricultura e das exigências nutricionais do animal
Tropical - CIAT (1999). Brachiaria hibrida (COLEMAN et al., 1989; MACOON,
cv. MULATO é o primeiro híbrido do 1999).
gênero Brachiaria, sendo o cruzamento de O pastejo é a principal atividade
número 625 (Brachiaria ruziziensis clon realizada pelo animal e a principal
44-6 e Brachiaria brizantha CIAT 6297), e responsável pela quantidade de alimento
foi obtido no CIAT em 1988. No entanto, ingerido. A regulação do consumo
as sementes começaram a ser voluntário de alimento pode ser dividida em
comercializadas no México a partir de física e metabólica; os fatores físicos são
2001. É uma gramínea perene, vigorosa aqueles ligados ao preenchimento do rúmen
com hábito de crescimento estolonífero e dependem da estrutura da planta, tamanho
com alta capacidade de estabelecimento. A da partícula, teor de fibras, entre outros; e
pastagem atinge até 90-100 cm, possui os fatores metabólicos relacionam-se com a
folhas pilosas de cor verde intenso com 35 composição química do alimento, a fração
a 40 cm de comprimento e 2,5 a 3,0 mm de de compostos que chegam à circulação e
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suprem as necessidades nutricionais (VAN matéria seca relativamente constante, frente


SOEST, 1994). Segundo OLIVEIRA a variações na massa de bocados em
(1991), o volume da digesta no rúmen- situação de baixa disponibilidade de
retículo determina o limite de consumo de forragem (CHACON et al., 1976;
forrageiras de baixa qualidade, o qual pode PENNING et al., 1991). A despeito da
ser explicado por um dos mecanismos de associação entre massa do bocado e tempo
controle do consumo de MERTENS (1994), de bocado, geralmente ela é negativa;
o aumento do teor de FDN resulta em quanto maior a massa de forragem
decréscimo do consumo voluntário do apreendida em um bocado, menor será o
animal, o que interfere diretamente no número de bocados efetuados em
tempo de pastejo. determinado período de tempo.
LACA et al. (1991) observaram que A ruminação é a segunda atividade
a taxa de consumo apresenta menor que maior tempo consome nos ruminantes,
sensibilidade a variações na densidade da e varia de 1,5 a 10, horas por dia, sendo
pastagem que variações na altura da realizada na maioria dos casos com o
mesma, sendo que variações na quantidade animal deitado. O tempo de ruminação está
de forragem consumida ocorrem mais por em grande parte influenciado pelo tempo de
redução na altura que na densidade da pastejo. Os fatores que influenciam a
pastagem, em condições de pastagens ruminação são o tipo, qualidade e
subtropicais. No entanto, em áreas de baixa quantidade disponível selecionada no
disponibilidade de forragem, o animal em pastejo (PÉREZ, 1998).
pastejo apresenta maior taxa de consumo Além de garantir seu alimento, os
em pastagens altas e esparsas que naquelas animais também necessitam de descanso
baixas e densas (LACA et al., 1991; que pode ser realizado no ato de deitar,
CARVALHO, 1999). Nesse contexto, parar em pé e até mesmo caminhar. Os
torna-se interessante caracterizar as relações animais descansam mais frequentemente
entre estrutura da pastagem, consumo e deitados, variando a relação do descanso
outras variáveis comportamentais. deitado e parado em pé por fatores do
O consumo de alimento relaciona-se animal (espécie, idade, estado fisiológico) e
com os bocados, tanto em número, quanto do ambiente (momento do dia, estação do
em tamanho. Mudanças na taxa de bocados ano e clima (ARNOLD et al., 1978). No
têm sido observadas, como mecanismo inverno os animais descansam mais que no
compensatório, para manter a ingestão de verão. Os locais de descanso e a
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permanência neles dependem do ambiente forragem, isto dependerá também do tipo de


físico e do conforto proporcionado ao planta, topografia e idade do animal.
animal, sendo locais diferenciados para o O entendimento da dinâmica do
dia e para a noite. Durante o dia os animais processo de pastejo e das atividades
ecolhem para descansar os próprios locais realizadas pelos caprinos em pastejo é
de pastejo. Quando o vento está a mais de necessário, pois a pastagem tem
38 km/h e a temperatura é menor que 15°C importância vital na criação de caprinos por
os animais buscam refúgio em uma área ser uma forma eficiente, prática e
menos exposta. No caso de sol e econômica de alimentar os animais. Se o
temperatura alta os animais buscam a padrão de comportamento e o consumo de
sombra. Na noite, a preferência é por locais forragem podem sofrer interferência das
mais altos, quentes e solos desnudos e o características estruturais das plantas
número de locais escolhidos para descanso forrageiras como altura, presença de folhas,
noturno é limitado. (PÉREZ, 1998). colmos e material senescente, então torna-
O ato de caminhar está mais se necessário realizar estudos para
associado à busca de água, alimento e da identificar de que forma ocorre essa
facilitação social. A distância percorrida ao interferência e como beneficiar-se dela para
longo do dia varia bastante conforme cada orientar o manejo da pastagem e dos
indivíduo e conforme a disponibilidade de animais com maior produtividade.
pastagem. O objetivo deste trabalho foi
A freqüência de beber água depende identificar o comportamento de caprinos em
da temperatura, condição da forragem e pastejo de Brachiaria hibrida cv.
distribuição de água. Quando as cabras MULATO em duas ofertas: 4% (limitante)
pastejam em abundante forragem verde e 8% (não limitante) do peso corporal dos
diminui o consumo de água. Os animais animais em massa seca de forragem.
bebem depois do pastejo e os horários de
MATERIAL E METODOS
maior consumo são das 12h00 às 16h00,
segundo ARNOLD et al. (1978). No O experimento realizou-se no Capril
entanto esses comportamento é muito Campo Largo, no município de Campo
influenciado pela estação do ano. O Largo–PR, localizado a 20 km de Curitiba–
aumento da distância entre a área de pastejo PR, na região fisiográfica denominada
e a fonte de água pode diminuir linearmente Primeiro Planalto Paranaense com
ou exponencialmente o consumo de coordenadas de 25° 27’ 34’’ de latitude Sul,

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49° 31’ 40’’ de longitude oeste e 956 m disponibilidade de matéria verde seca
(acima do nível do mar) de altitude (lâminas foliares e colmo com bainha) nos
(PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE piquetes foi possível calcular o número de
CAMPO LARGO, 2005). O solo local é animais necessários para manter a oferta
mapeado como Cambissolo (EMBRAPA, estipulada. O piquete 4% foi mantido com
1999). O clima segundo a classificação oferta 4% do peso corporal dos animais de
Köeppen é temperado do tipo Cfb (MAAK, massa seca de Brachiaria hibrida cv.
1968). A precipitação média anual é de MULATO, ou seja, para cada quilo de peso
1.100 a 2.000 mm/ano com chuvas bem corporal dos animais havia 400 gramas de
distribuídas ao longo do ano e os meses massa seca de Brachiaria hibrida cv.
mais secos são os de abril e maio (PLANO MULATO para pastejo. O piquete 8% foi
DIRETOR DO MUNICÍPIO DE CAMPO mantido com oferta 8%, o dobro de matéria
LARGO, 2005). verde seca ofertada em 4%. Em cada
No dia 05/11/2004 iniciaram-se as piquete havia água e sal mineral disponível
atividades para implantação da Brachiaria aos animais.
hibrida cv. MULATO numa área de 0,2 ha, Os animais utilizados para o
com aração, gradagem e adubação NPK a experimento foram cabras adultas meio
lanço com 40 Kg de 04-20-20 em toda área sangue da raça Anglo Nubiano,
(200 Kg/ha). No dia 10/11/2004 realizou-se selecionadas para corte, com 32 kg de peso
o plantio das sementes de Brachiaria, a médio. Esses animais estavam em pastagem
lanço, e cobertura com rastelo. A densidade de Hemarthria altissima antes do
de semeadura foi de 6 kg de sementes.ha-1, experimento, e passaram por uma fase pré-
com base em estudos de ARGEL (2003). experimental de adaptação à ingestão da
Toda a área experimental foi roçada forragem Brachiaria hibrida cv. MULATO
para nivelamento da forragem e foi que não era rotineira, a presença de
realizada adubação nitrogenada na forma de avaliadores, aos equipamentos utilizados e
uréia (50 kg.ha-1). Decorridas três semanas ao manejo para pesagens. Dez animais
da roçada, a área foi cercada, sendo foram avaliados por tratamento, havendo
dividida em dois piquetes (4% e 8%) com disponibilidade de mais animais para serem
850 m² cada. As duas ofertas foram utilizados como reguladores de oferta. Os
estabelecidas pelo controle do número de animais testes eram os avaliados e os
animais em pastejo dentro de cada piquete. reguladores, aqueles que eram retirados ou
Com os dados de peso dos animais e
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colocados no piquete conforme a foi utilizado para a colheita de amostras por


necessidade para ajuste de oferta. estrato da pastagem (metodologia de
Diariamente os animais eram MARTINICHEN, 2006). Em cada piquete
levados ao piquete às 8 horas, conforme o foram colhidas cinco amostras de cada
manejo normal da propriedade, e eram tratamento, sendo que a amostra um era a
recolhidos ao aprisco às 19 horas. menor altura, a cinco a maior altura e as
Três avaliações foram realizadas das demais intermediárias. Antes da colheita da
8 horas às 15 horas nos dias 09/04/05, amostra da forragem, com o sward stick,
16/04/05 e 20/04/05, nas quais foram foram medidos cinco pontos no interior do
obtidos dados referentes às características estratificador para a obtenção da altura
da pastagem e ao comportamento dos média. No primeiro corte da amostra foi
animais. Na pastagem foi medida altura e retirada a porção superior da pastagem de
disponibilidade (lâminas foliares, colmo dez centímetros, seguindo com os cortes até
com bainha, material morto e plantas que o último fosse rente ao solo. As
invasoras). Nos animais foram avaliadas as amostras colhidas de cada estrato foram
atividades realizadas e o tempo para fracionadas em lâminas foliares, colmo com
realizarem vinte bocados. Os avaliadores bainha, material morto e invasoras; e em
foram treinados para padronizar as seguida, foram pesadas e secas em estufa de
observações e coleta de dados. circulação forçada de ar numa temperatura
O sward stick, cuja metodologia foi de 60ºC até peso constante. Todos os
adaptada de BARTHRAM (1985), foi gêneros de plantas encontrados que não
utilizado para medir a altura da pastagem. O eram Brachiaria hibrida cv. MULATO
equipamento consistia em uma haste foram considerados como invasoras.
graduada em centímetros, com uma parte Obteve-se a média de matéria seca de cada
móvel que deslizava descendo em direção à fração em cada estrato de 10 cm da
pastagem e quando tocava a primeira pastagem. A média de matéria seca dos
estrutura de Brachiaria hibrida cv. componentes lâminas foliares e colmo com
MULATO verificava-se a medida. bainha foram somados para obtenção da
Cinqüenta pontos foram medidos, numa matéria seca de cada amostra colhida.
trajetória pré-definida, em cada piquete para Equações de regressão entre altura e
cálculo da altura média nas avaliações. matéria seca dentro do estratificador
Um estratificador de área de 0,10 m2 permitiram o cálculo da disponibilidade de
graduado a cada dez centímetros de altura lâminas foliares e colmo com bainha pela
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média de altura do piquete obtida com o dia de avaliação antes de os animais


sward stick. A média de massa seca de entrarem na área, sendo utilizado para esse
invasoras e de material morto das cinco cálculo os animais testes e os reguladores.
amostras colhidas foi extrapolada para a A pesagem era realizada após jejum de dez
área experimental. A relação folha:colmo horas sem restrição hídrica.
foi obtida pela divisão da massa de lâminas O delineamento experimental foi
foliares pela massa de colmo com bainha. inteiramente casualizado com dez
Os animais foram observados a cada repetições, sendo os animais as unidades
dez minutos, nos quais eram anotadas as experimentais. Correlação simples de
atividades: pastejo, ruminação, Pearson (P=0,05) por PROC CORR e
deslocamento (caminhar), deitar, parar em análise de variância por PROC GLM foram
pé, demais atividades (beber água, ingerir realizadas nos dados obtidos na pastagem e
sal mineral, defecar, urinar). Para ócio nos animais. O programa utilizado foi o
consideraram-se as atividades deitar, parar SAS (2001).
em pé e outras atividades. Nas atividades de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
pastejo e ruminação foi anotado se eram
realizadas com o animal em pé ou deitado. Os dados referentes à temperatura
A média percentual do tempo total de média e à umidade relativa do ar nos dias
avaliação de cada atividade por animal foi de avaliação estão apresentados na Tabela
calculada para estabelecer a média do dia 1. Não ocorreram chuvas durante o período
de avaliação. experimental.
O tempo gasto para realização de Na Tabela 2 estão os dados
vinte bocados foi medido por observação referentes à altura, disponbilidade de massa
direta dos animais testes por avaliadores seca (lâminas foliares e colmo com bainha)
que tinham como instrumento um de Brachiaria hibrida cv. MULATO e de
cronômetro (FORBES & HODGSON, material morto na pastagem.
1985). Quando o intervalo entre os bocados
excedia 30 segundos ou o animal andava
por mais de 30 segundos descartava-se a
observação.
O ganho de peso dos animais foi
calculado pelo peso dos mesmos no último
dia de avaliação menos o peso no primeiro
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TABELA 1. Temperatura média e umidade relativa do ar nos horários de avaliação.


Data Temperatura (°C) Umidade relativa do ar (%)
09/04/05 20,63 ± 1,55 76,14 ± 5,54
16/04/05 21,86 ± 2,24 83,83 ± 10,33
20/04/05 20,66 ± 2,69 70,20 ± 20,24
Fonte: SIMEPAR

TABELA 02. Média de altura, disponibilidade de material seco (MS), composto por lâminas foliares e colmo
com bainha, e material morto de Brachiaria hibrida cv. MULATO.
Data Tratamento Altura (cm) MS (kgMS.ha-1) Material morto (kgMS.-1)
09/04/05 4% 18,87b 1105,21 185,80
8% 25,64ª 2087,24 207,80
16/04/05 4% 12,35b 1332,77 247,20
8% 19,08a 2784,57 413,80
20/04/05 4% 8,91b 1246,40 242,00
8% 14,40a 1697,66 326,20
Médias seguidas de letras minúsculas iguais não diferem (P>0,05) no mesmo dia de avaliação.
4% = piquete com 4% do peso dos animais de oferta de matéria seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.
8% = piquete com 8% do peso dos animais de oferta de matéria seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.

A altura da pastagem foi diferente dos dias, constatou-se visualmente que o


(P=0,0001) entre os tratamentos em cada material morto acumulado aumentou,
avaliação (Tabela 02). Com o decorrer dos apesar de que na avaliação do dia
dias houve redução da altura da pastagem 20/04/2005 isso não foi demonstrado pelos
de Brachiaria hibrida cv. MULATO nos dados conforme Tabela 02.
dois tratamentos. A relação entre a altura da pastagem
A massa seca em 4% era inferior a e a cobertura de forragem foi elevada com
8% nos três dias de avaliação, sendo a coeficientes determinação (R²) maiores que
diferença entre elas de 982,03; 1451,75; 0,71.
451,26 kg de MS nos dias 09, 16 e Na Tabela 03 a pastagem foi
20/04/05, respectivamente. É importante caracterizada por estrato. Não houve
ressaltar que a forrageira em estudo é de diferença (P>0,05) entre os tratamentos 4%
clima tropical e por estar numa região de e 8% em cada avaliação. No entanto, notou-
clima temperado tem sua produção reduzida se que houve diferença entre os estratos na
após o verão, e o experimento foi realizado quantidade de matéria seca de lâminas
no outono. Esse fato pode ser constatado na foliares (P=0,0001), colmo com bainha
quantidade de material morto na pastagem (P=0,0028), material morto (P=0,0001) e
encontrado próximo ao solo. Com o passar plantas invasoras (P=0,0190).
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No estrato de 10 cm, ou seja do solo notou-se que a mesma concentrou-se nos


até 10 cm de altura houve 40,70 a 51,10% estratos de 10 a 20 cm que não são
de lâminas foliares, ao passar para o estrato diferentes (P=0,9275) e sua presença
de 20 cm observa-se que houve aumento do reduziu a partir de 20 cm de altura da
percentual de lâminas foliares que ficou pastagem.
entre 66,56 e 94,60%. Nos estratos O material morto concentrou-se
superiores de 30 e 40 cm o percentual de com mais freqüência próximo ao solo, e no
lâminas foliares foi superior a 85,31%. Na dia 16/04/05 em 4% chegou a compor
avaliação do dia 16/04/2005 no piquete 4% 35,79% do estrato de 10 cm. Devido a esse
o percentual de plantas invasoras ficou percentual elevado o material morto deve
elevado pelo fato de que nas amostras ser considerado nos estudos porque pode
colhidas havia grande quantidade de ser fonte de variação no comportamento e
inflorescência de invasoras que tinham alto na estratégia de forrageamento dos animais.
teor de matéria seca e alteraram o padrão
dos dados.
Com relação à fração colmo com
bainha da Brachiaria hibrida cv. MULATO
TABELA 03. Composição percentual de cada estrato de 10 cm da pastagem de Brachiaria hibrida cv.
MULATO em duas ofertas distintas de matéria seca.
Material Plantas
Lâmina Colmo com
Dia Tratamento* Estrato morto Invasoras
Foliar bainha (%)
(%) (%)
09/04/2005 4% 10 49,89b 24,60ª 13,68 11,84ª
20 93,88ª 2,17 b 0,00 3,95 b
30 100,00a 0,00 0,00 0,00
8% 10 40,70c 32,54ª 11,37 15,39ª
20 84,37b 14,44ª 0,00 1,20 b
30 100,00a 0,00 0,00 0,00
40 100,00a 0,00 0,00 0,00
16/04/2005 4% 10 51,12ª 35,79ª 10,90 b 2,19 b
20 66,56ª 7,20 b 20,85ª 5,40 b
30 89,09 b 15,64ª 0,00 45,28ª
8% 10 49,32ª 25,78ª 21,17ª 3,73 b
20 70,63ª 4,19 b 10,18ª 15,01ª
30 100,00a 0,00 0,00 0,00
40 100,00a 0,00 0,00 0,00
20/04/2005 4% 10 47,51ª 14,94ª 18,17ª 19,38ª
20 94,60ª 0,00 0,00 5,40 b
8% 10 51,61ª 21,22 17,74ª 9,42ª
20 85,31ª 0,00 7,47 b 7,23ª
4% = piquete com 4% do peso dos animais de oferta de matéria verde seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.
8% = piquete com 8% do peso dos animais de oferta de matéria verde seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.

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Médias seguidas de letras minúsculas iguais na mesma coluna (entre estratos) de cada tratamento não diferem
(P>0,05).
* Não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos dentro de cada estrato para todos os componentes da pastagem

As plantas invasoras estavam animais. Durante o período experimental,


presentes nos piquetes e foram 11 dias, o ganho médio diário dos caprinos
quantificadas conforme a Tabela 03. Essas em 4% foi de 69,44 gramas/animal/dia que
estavam nos estratos próximos ao solo. A representa um ganho de 36,25
avaliação realizada para quantificar as kg/hectare/dia. Enquanto que em 8% o
invasoras não foi eficiente porque não ganho médio diário por animal e por
demonstrou o que ocorreu nos piquetes hectare foi de 101,39 e 43,29 kg,
experimentais. Visualmente era notável que respectivamente. Portanto, com 8% de
a quantidade de invasoras foi crescente, oferta de pastagem, o número de animais
especialmente em 4%, com o passar dos por hectare foi menor, mas o ganho médio
dias, pois essas não eram consumidas pelos por hectare foi maior.
caprinos e permaneciam no piquete, ao
contrário da Brachiaria em estudo que
tinha a massa reduzida pelo pastejo.
Na Tabela 04 pode-se verificar o
número de animais por hectare utilizados no
experimento. O tratamento 4% apresentou
maior número de animais por hectare pelo
fato de ter menor oferta de pastagem aos
.TABELA 04 - Carga animal utilizada na pastagem de Brachiaria hibrida cv. MULATO
Data Tratamento Peso animais (kg) Número de animais de 32 kg
9/abr 4% 3.947,18 123
16/abr 4% 3.727,21 116
20/abr 4% 8.329,81 260
9/abr 8% 6.944,13 217
16/abr 8% 4.451,43 139
20/abr 8% 3.031,54 94
4% = piquete com 4% do peso dos animais de oferta de massa seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.
8% = piquete com 8% do peso dos animais de oferta de massa seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.

As atividades realizadas pelos


caprinos durante as avaliações estão
apresentadas em percentuais na Tabela 05.

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TABELA 05. Percentual de tempo gasto pelos caprinos nas atividades de caminhar, deitar, parar em pé,
pastejar, ruminar e outras atividades em pasto de Brachiaria hibrida cv. MULATO durante
as avaliações nos dias 09, 16 e 20/04/2005.
Tratamento 09/04/05 16/04/2005 20/04/2005
Caminhar
P* = 0,0826 4% 12,50 ± 5,33 7,00 ± 6,01 7,23 ± 4,30
8% 9,80 ± 3,70 10,03 ± 6,54 0,71 ± 1,51
Média 11,27 ± 4,76 8,38 ± 6,32 4,90 ± 4,75
Deitar
P = 0,2680 4% 0,52 ± 1,21 5,62 ± 7,28 6,44 ± 5,62
8% 0,33 ± 1,05 6,64 ± 5,83 1,78 ± 1,88
Média 0,43 ± 1,12 6,08 ± 6,53 4,78 ± 5,12
Parar em pé
P = 0,4755 4% 10,41 ± 5,70 9,64 ± 5,83 18,39 ± 8,67
8% 18,11 ± 13,87 11,43 ± 4,30 4,64 ± 6,53
Média 13,91 ± 10,72 10,45 ± 5,86 13,48 ± 10,32
Pastejar
P = 0,0541 4% 71,09 ± 8,64 62,05 ± 9,97 40,44 ± 14,86
8% 65,08 ± 14,47 57,59 ± 12,57 69,64 ± 16,85
Média 68,36 ± 11,76 60,02 ± 11,18 50,87 ± 20,89
Ruminar
P = 0,4297 4% 5,47 ± 4,83 15,20 ± 6,54 27,48 ± 7,35
8% 6,65 ± 6,67 13,75 ± 9,88 23,21 ± 11,07
Média 6,01 ± 5,62 14,54 ± 8,05 25,96 ± 9,10
Outras atividades
P = 0,8879 4% 0 0,47 ± 1,11 0
8% 0 0,54 ± 1,13 0
Média 0 0,51 ± 1,09 0
* P = probabilidade obtida para o tratamento, valores menores que 0,05 diferem estatisticamente (P<0,05).
4% = piquete com 4% do peso dos animais de oferta de massa seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.
8% = piquete com 8% do peso dos animais de oferta de massa seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.

As cabras permaneceram de 0,71 a (Tabela 05). Comparando os dados dos


12,50% do tempo avaliado caminhando caprinos caminhando com os de gado
(Tabela 05). Os animais reconhecem a área, holandês (DEGASPERI, 2003) notou-se
selecionam e buscam alimento caminhando, que os caprinos caminharam cerca de
ao serem colocados nos piquetes para as quatro vezes mais que os bovinos do
avaliações começavam a explorar o local experimento citado.
caminhando por todos os limites, movendo- O descanso dos animais é vital para
se na maioria das vezes próximos às cercas. sua integração e mediação com o meio
Em seguida, iniciavam o pastejo. ambiente, portanto, o período de ócio deve
Não houve diferença (P=0,0826) ser avaliado para melhor compreensão do
entre os tratamentos na atividade caminhar comportamento dos caprinos. O fato dos
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199 Comportamento de caprinos...

animais deitarem contribui para facilitação cobertos pela água da pastagem, como já
social e também para as funções observado por MONRAND-FEHR et al.
fisiológicas e a duração do tempo que os (1984) e PÉREZ (1998). Para observar
animais permanecem deitados depende do essas atividades essa metodologia usada
conforto da área, do tipo da dieta, do não foi adequada, pois apesar de os animas
período de gestação e de fatores climáticos as realizarem não foram anotadas por não
(DEGASPERI, 2003). ocorrerem no instante da observação.
Nas três avaliações não houve Os animais permaneceram maior
diferença (P=0,2680) entre o período parte do tempo pastejando, com médias
deitado comparando 4% com 8% (Tabela percentuais entre 40,44 e 71,09 do tempo de
05). Houve correlação negativa de 0,47 avaliação (Tabela 05), sendo que o valor de
(P<0,001) entre o tempo que o animal probabilidade ficou próximo ao limite. Isso
permaneceu deitado e o tempo de pastejo, pode indicar que os animais utilizaram a
ou seja, quanto mais os animais pastejam, alteração do tempo de pastejo como
menos eles permanecem deitados em ferramenta de compensação de consumo na
descanso, por serem atividades excludentes. menor oferta de matéria seca (4%).
Quando os animais permanecem em Os animais pastejaram por mais
pé os sentidos do olfato e da visão são tempo na menor oferta (4%) nos dois
facilitados na busca de alimentos e de primeiros dias de avaliação. No terceiro dia,
fontes de água, o que pode explicar o fato houve inversão e o maior tempo de pastejo
de os caprinos terem gasto mais tempo do foi observado na oferta de 8%, sendo que
ócio parados em pé que deitados, com nessa avaliação houve redução do
médias percentuais de 4,64 a 18,39 do percentual de folhas no estrato superior do
tempo avaliado, e não houve diferença pasto em relação às demais avaliações.
(P=0,4755) entre os tratamentos (Tabela Observou-se que os animais
05); esses valores são semelhantes aos pastejaram deitados nas três avaliações com
relatados por DEGASPERI et al. (2003) médias de 0,28%; 0,12% e 1,73% do tempo
para o gado holandês. avaliado no primeiro, segundo e terceiro dia
Em relação a outras atividades de avaliação, respectivamente, sendo que
(água, defecar, urinar, ingerir sal) o período não houve diferença entre os tratamentos
de permanência foi pequeno, o que pode ter (P=0,2397). O tempo de pastejo deitado foi
sido influenciado pelo horário das pequeno, mas é importante como
avaliações e também pelos requerimentos
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observação de que os animais também O tempo caminhando não sofreu


pastejaram deitados. grandes variações ao longo das horas do
A ruminação está diretamente dia. O tempo deitado variou de 0 a 35,53%
relacionada com o tipo e a qualidade da da hora, sendo a atividade com maior
dieta e determina a quantidade da ingestão variação. Em relação ao pastejo e à
futura. Não houve efeito (P=0,4997) do ruminação, quanto mais tempo os animais
tratamento sobre o tempo de ruminação. gastaram pastejando, menos tempo
Os percentuais encontrados de passaram ruminando.
ruminação em pé foram 5,26%; 3,33% e O fato de não haver diferença
16,73% do tempo avaliado na primeira, (P>0,05) entre o comportamento dos
segunda e terceira avaliação, caprinos nas duas ofertas de pasto
respectivamente. Na terceira avaliação o estudados pode ser explicado pelo elevado
tempo de ruminação deitado foi maior que percentual de folhas disponível no estrato
o tempo em pé, mas não houve correlação superior da pastagem (Tabela 03).
desse fato com nenhum outro. A ruminação Desse modo, os animais tinham
ocupou de 5,88% a 100% do tempo de não mais folhas que colmos à disposição a cada
pastejo. bocado realizado, pois a maior parte do
Na Figura 01 estão apresentados os colmo ficou concentrada próximo ao solo
dados dos percentuais que os animais não acessível aos caprinos.. Isso também
gastaram em cada atividade em cada hora foi indicativo de que a oferta de 4% com a
do dia nas três avaliações na oferta de 4% estrutura do pasto da forma como estava
de MS/kg PV animal. O horário pode disponível não foi limitante ao desempenho
influenciar as atividades devido às animal.
condições climáticas. Na Figura 02 observa-se que o
Durante o experimento que foi comportamento dos caprinos foi mais
realizado no outono, não houve constante ao longo do dias nas duas
temperaturas elevadas e variações entre as primeiras avaliações, com grandes
horas, o que pode ter colaborado para não oscilações na terceira avaliação que
haver diferença estatística entre os períodos também apresentação grande variação
manhã e tarde. Nota-se na FIGURA 01 que individual entre os animais.
às 15:00 horas houve maior percentual de
pastejo nos três dias de avaliação.

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Figura 01 - A. Percentual gasto pelos caprinos em diferentes atividades no dia 09/04/05, 16/04/05 e 20/04/05
em oferta de 4% MS pasto/kg PV.

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Figura 02 - A. Percentual gasto pelos caprinos em diferentes atividades no dia 09/04/05, 16/04/05 e 20/04/05
em oferta de 8% MS pasto/kg PV.

A taxa de bocados diferiu


(P=0,0031) entre os tratamentos nos dias
09/04/2005 e 20/04/2005, sendo igual
(P=0,6785) no dia 16/04/2005. A taxa de
bocado variou de 21,64 a 33,47 bocados por
minuto está na Tabela 07.

TABELA 06 Taxa de bocado (bocados/minuto) dos caprinos por hora em pastagem de Brachiaria
hibrida cv. MULATO.
4% 8%
Dia Manhã Tarde Manhã Tarde
09/04/2006 32,87 ± 8,19ª 27,36 ± 6,27b 21,25 ± 4,60a 22,08 ± 3,96ª
16/04/2006 31,59 ± 5,89ª 24,93 ± 5,39 b 27,84 ± 7,48ª 25,39 ± 4,68ª
20/04/2006 33,08 ± 8,63ª 25,42 ± 8,03 b 33,08 ± 6,82ª 33,79 ± 6,65ª
Médias na mesma coluna seguidas de letras minúsculas iguais não diferem (P>0,05).
4% = piquete com 4% do peso dos animais de oferta de massa seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.
8% = piquete com 8% do peso dos animais de oferta de massa seca de Brachiaria hibrida cv. MULATO.

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203 Comportamento de caprinos...

Não houve correlação entre a taxa avaliações. No entanto, influenciaram a


de bocado com as variáveis da pastagem. taxa de bocado que foi maior no
Na TABELA 06 nota-se que no primeiro e tratamento com menor oferta, como forma
no terceiro dia de avaliação na menor de compensação para manter consumo
oferta (4%) os animais realizaram mais adequado de nutrientes.
bocados por minuto, resultado provável da Os caprinos destinam a maior
menor massa de cada bocado. Esse parte do dia ao pastejo, e durante o
aumento do número de bocados na menor período de ócio, permanecem mais tempo
oferta de pastagem pode ser uma parados em pé nas condições do presente
compensação de consumo, pois para que o experimento.
animal pudesse ingerir nutrientes O período do dia, manhã e tarde,
suficientes para suprir suas necessidades não influencia a distribuição das
fisiológicas, houve a necessidade de atividades dos animais ao longo do dia,
realizar mais bocados que possuíam mas apresenta efeito sobre a taxa de
menor massa. Na Tabela 08 estão bocados na oferta de 4%.
apresentados os dados de taxa de bocados A oferta de 8% de matéria seca de
por hora do dia e observou-se que não lâminas foliares e colmo de Brachiaria
houve diferença (P=0,1784) entre os hibrida cv. MULATO resultou em maior
horários avaliados. ganho de peso dos animais por hectare,
CARVALHO (1997) em seus apesar de haver menor número de animais
estudos relatou variação na taxa de por hectare.
bocados de 30 a 70 bocados por minuto A oferta de 4% de pasto não limita
para ruminantes em geral. Estudos com o ganho de peso dos caprinos nas
caprinos realizados por SILVA (2006) condições estudadas.
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