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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA


DEPARTAMENTO DE DIREITO
ALUNO: ANDRÉ FELIPE SILVA TORRES
DISCIPLINA: DIREITO DAS SUCESSÕES

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E DO
INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Juazeiro do Norte – Ceará


Março/2010

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA
DEPARTAMENTO DE DIREITO
ALUNO: ANDRÉ FELIPE SILVA TORRES
DISCIPLINA: DIREITO DAS SUCESSÕES

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E DO
INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Trabalho realizado para obtenção de


nota relativa à Avaliação Parcial da
disciplina de Direito das Sucessões,
ministrada pelo prof.: Dr. João
Deusdeth de Carvalho

Juazeiro do Norte – Ceará


Março/2010

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Sumário

0. Introdução......................................................................................................................4
PARTE 1 – DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.........................................................5
1. Disposições Iniciais sobre Sucessão Testamentária......................................................5
1.1. Natureza jurídica do testamento.....................................................................6
2. Capacidade de testar......................................................................................................8
3. Formas ordinárias e especiais de testamento.................................................................9
3.1. Testamento público.........................................................................................9
3.2. Testamento cerrado.........................................................................................9
3.3. Testamento particular...................................................................................10
3.4. Codicilos......................................................................................................10
3.5. Testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar..............................11
4. Disposições testamentárias.........................................................................................13
5. Legados, efeitos e seu pagamento e caducidade........................................................16
5.1. Conceito e Classificação dos Legados.........................................................16
5.2. Efeitos dos legados e seu pagamento...........................................................17
5.3. Caducidade dos Legados.............................................................................18
6. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários..........................................................20
7. Substituição Testamentária.........................................................................................21
7.1. Substituição fideicomissária.........................................................................21
8. Deserdação..................................................................................................................25
9. Redução das disposições testamentárias.....................................................................27
10. Rompimento do Testamento.....................................................................................29
11. O Testamenteiro........................................................................................................30
PARTE 2 – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA......................................................31
1. Inventário.....................................................................................................................31
1.1. Inventariante.................................................................................................31
1.2. Processamento do Inventário........................................................................32
1.3. Arrolamento sumário....................................................................................33
1.4. Arrolamento comum.....................................................................................33
2. Institutos da Colação, Sonegado e do Pagamento das Dívidas...................................34
2.1. Colação.........................................................................................................34
2.2. Sonegados.....................................................................................................35
2.3. Do Pagamento das Dívidas...........................................................................36
3. Partilha.........................................................................................................................37
3.1. Anulação e rescisão da partilha....................................................................38
3.2. Sobrepartilha.................................................................................................38
3.3. Garantia dos quinhões hereditários...............................................................39
Referências......................................................................................................................40

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0. Introdução

A metodologia deste trabalho é precipuamente pesquisa bibliográfica acerca dos


institutos da Sucessão Testamentária e do Inventário e da Partilha. De forma a manter a
manter a didática do nosso estudo, os institutos aqui apresentados seguem
rigorosamente a ordem dos quais são apresentados no Código Civil de 2002. Assim
sendo, partimos do conceito de Sucessão Testamentária e o seu instrumento, o
testamento, bem como suas espécies. A partir daí, segundo o critério lógico do
legislador civil, são apresentados os institutos da sucessão testamentária, pois que são
concebidos com a existência da declaração de última vontade do de cujus. Estes
institutos disciplinam hipóteses relevantes que poderão apresentar-se, no mundo dos
fatos, e o legislador houve por bem normatizá-los, conciliando a vontade do testador
com presunções legais, ao bem da segurança jurídica dos destinatários do direito de
herança e o respeito às normas de caráter cogente.

Por fim, apresentamos o conceito de Inventário e Partilha, que são aplicados


tanto à sucessão legítima quando à testamentária. De fato, um dos princípios que regem
a transferência da universalidade de bens que compõem a herança é a da igualdade na
distribuição dos quinhões hereditários, respeitada, evidentemente, a declaração de
última vontade externada pelo testador. Assim, o Inventário e após, a Partilha, são
institutos que evidenciam a importância dos princípios do direito hereditário. Além
disso propiciam na prática a declaração de domínio e posse dos bens do espólio e a
individualização dos mesmos, extinguindo-se o condomínio necessário (quando houver
mais de um herdeiro) que se originou no momento da abertura da sucessão.

Objetivamos, com este trabalho, apresentar uma noção dos institutos descritos
acima, sem, no entanto, esgotar o assunto, haja vista a quantidade de assuntos
relevantes. Trazemos conceitos tirados das mais variadas fontes, na medida do possível,
a fim de enriquecer o trabalho com várias opiniões. Mas o que encontramos,
geralmente, é a interpretação do Código Civil ao que se referem estes institutos. No
entanto, isso não foge ao espírito de nosso trabalho.

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PARTE 1 – DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

1. Disposições Iniciais sobre Sucessão Testamentária

A sucessão testamentária decorre de manifestação expressa de última vontade,


em contraposição à sucessão legítima, que decorre da lei. Nesta, transmite-se a herança
aos herdeiros legítimos, expressamente indicados na lei (art. 1.829 do Código Civil);
naquela, a universalidade de bens que constituem a herança ou bem determinado ou
determinável é transferido para uma pessoa ou pessoas designadas pela vontade do de
cujus.

O testamento ou codicilo constitui ato de última vontade, pelo qual o autor da


herança dispõe de seus bens para depois da morte, e faz outras disposições
(GONÇALVES, 2009). De fato, o Código Civil conceitua testamento, nos seus arts.
1.857 e 1.858 através de suas características e efeitos:

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por


testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte
deles, para depois de sua morte.
§ 1.º A legítima dos herdeiros necessários não poderá
ser incluída no testamento.
§ 2.º São válidas as disposições testamentárias de
caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a
elas se tenha limitado.

Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo


ser mudado a qualquer tempo.

Assim, o testamento é o ato personalíssimo e revogável, a qualquer tempo, pelo


qual alguém dispõe de seus bens, para depois da morte. Apesar de o art. 1.857 constar
que qualquer pessoa capaz pode dispor da totalidade dos seus bens, há a ressalva, no seu
§ 1º, que a parte da herança que corresponde à legítima não poderá ser objeto de
testamento, sendo nulo o testamento que assim o determinar. O testador que possui

5
herdeiros necessários só pode dispor de metade dos seus bens, constituindo a outra
metade a legítima intangível dos herdeiros forçados (GHIARONI, et al, 2004) e de
acordo com o art. 1.789 do CC.

Também por expressa menção legal, o testamento poderá versar sobre


disposições de caráter não patrimonial. Assim, o testador tem a possibilidade de nomear
tutor para o filho ou neto, indicar curador para o filho ou o cônjuge incapazes,
reconhecer filhos havidos fora do casamento, reabilitar indigno, deserdar o sucessor
necessário e outras disposições também disciplinadas no Diploma civil.

O testador pode instituir herdeiros e/ou legatários, que são, respectivamente,


sucessores a título universal e singular. Os herdeiros recebem partes ideais dos bens do
autor da herança, enquanto que os legatários recebem patrimônio certo e determinado.

1.1. Natureza jurídica do testamento

Segundo Maria Helena Diniz (2002), o testamento é negócio jurídico (que


requer para sua validade agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em
lei) destinado a produzir efeitos após a morte de seu autor. As principais características
do testamento, que definem sua natureza jurídica são:

• Personalíssimo: É ato privativo do autor da herança, não se admitindo que sua


formação seja deixada ao arbítrio de terceira pessoa. Há impossibilidade de o
testamento ser feito por procurador e de o testador transferir para outra pessoa o
direito de nomear sucessor, a qualquer título;

• Unilateral: Aperfeiçoa-se com uma única manifestação de vontade, esta


essencial para a formação e validade do ato. O Código Civil, em seu art. 1.863,
proíbe a feitura de testamentos conjuntivos (feitos por duas ou mais pessoas),
seja simultâneo, recíproco ou correspectivo;

• Solene: o testamento só será válido se elaborado com a observância das


prescrições formais da lei. Em regra, a forma do testamento é a escrita, podendo
assumir a forma pública ou particular. O próprio Código Civil prescreve os tipos
6
de testamento, a saber, os tipos ordinários: público, cerrado e particular; os tipos
especiais: marítimo, aeronáutico e militar. Não se admite outros tipos de
testamento especiais além dos estabelecidos pelo Código Civil (art. 1.887).
Ainda com o pensamento de Ghiaroni (2004, p. 156), a formalidade do
testamento é necessária pois este desempenha tríplice função, de acordo com as
circunstâncias: a função preventiva, contra fraudes e vícios na manifestação da
vontade, a função probatória, que demonstra a existência da disposição da
vontade e a função executiva, na qual o testamento estará pronto para ser
cumprido e executado, verificada a anteriori sua regularidade com as
prescrições formais;

• Gratuidade: O testamento é um ato gratuito, sendo de sua índole a liberalidade.


Há um sacrifício patrimonial somente para uma das partes, e a outra aufere
somente benefícios – certo é de que este sacrifício patrimonial, que é a
transferência da universalidade de bens só se dá com o fato morte. O fato de que
o testador pode dispor condições e encargos para a transferência de bens não lhe
retira o caráter de liberalidade;

• Revogabilidade: O Código Civil de 2002 prescreve, no seu art. 1.969, que o


testamento é livremente revogável, da mesma forma e modo como foi feito,
admitindo-se ainda a revogação tácita, quando há testamento posterior
modificando o anterior. A abertura ou dilaceração do testamento cerrado
também o revoga, de forma tácita. A revogabilidade é considerada a essência do
testamento. Nula será a cláusula que o declare irrevogável; a exceção é a
disposição na parte em que o testador reconhece filho havido fora do casamento,
nos termos do art. 1.609, III do Diploma civil.

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2. Capacidade de testar

A capacidade para testar, também conhecida como capacidade ativa corresponde


à capacidade para expressar a última manifestação de vontade. O Código Civil, no art.
1.860 declara expressamente quem não pode testar:

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os


que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.

As pessoas que, no momento de testar, não estiverem em pleno discernimento,


não são necessariamente incapazes, podendo estar, neste ato, com alguma patologia que
a impeça de mantê-la em seu perfeito juízo. Assim, o Código Civil prescreve esta regra
no intuito de protegê-las, ampliando a incapacidade, que passaria a ser momentânea. No
Parágrafo Único do mesmo artigo é estipulado que os maiores de dezesseis anos podem
testar, determinando que tal capacidade compreende a capacidade genérica para
realização de qualquer negócio jurídico além, da manifestação de vontade para testar.
Assim, dentre os incapazes em geral, apenas os maiores de dezesseis anos podem testar,
uma exceção à regra de que estes seriam relativamente incapazes e precisariam ser
assistidos por seu representante legal.

Como a capacidade é aferida no momento em que o testamento é redigido, caso


haja incapacidade superveniente do testador, esta não invalida o testamento, e nem o
testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

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3. Formas ordinárias e especiais de testamento

Já demonstramos que o Código Civil de 2002 admite, nas formas de testamento,


os testamentos ordinários: público, cerrado e particular, bem como os codicilos; e
especiais: marítimo, aeronáutico e militar. Vamos discorrer sobre eles.

3.1. Testamento público

É o testamento escrito pelo tabelião de Cartório de Notas, em livro notário, de


acordo com a declaração do testador, em presença de duas testemunhas (GONÇALVES,
2009). Desta forma, reveste-se o documento de maior credibilidade e seriedade, além de
um rigor formal. O testador dita para o oficial sua última vontade. A lavratura do termo
pode se dar por escrito, mecanicamente ou digitada em computador. Depois é efetuada a
leitura desse registro pelo tabelião, ou pelo próprio testador, em voz alta e perante esse
grupo anteriormente citado, depois o documento é assinado pelo testador (ou a rogo),
pelas testemunhas e pelo oficial.

Os mudos e os surdos-mudos, por não poderem fazer declarações de voz ao


tabelião não podem testar publicamente. Para os cegos, só se permite este tipo de
testamento; podem ainda fazê-lo os surdos (que não sejam mudos), e os analfabetos.

3.2. Testamento cerrado

Também é chamado de testamento secreto, porque é um documento fechado,


escrito pelo próprio testador, (ou alguém a seu mando, que não pode ser beneficiário,
mesmo por interposta pessoa) que é o único que conhece o seu teor. O documento deve
ser levado ao tabelião, que diante de duas testemunhas, lavra o termo de aprovação,
registrado logo após a última linha do testamento, que vai assinado por ele, pelas
testemunhas e pelo testador. Só possuirá eficácia com o termo de aprovação.

Pelas disposições do art. 1872 do CC, não podem fazer testamento cerrado os
analfabetos (já que é imprescindível para a feitura deste testamento a capacidade de ler).
Os surdos-mudos, contanto que o escreva todo, e o declare, no final do instrumento, em

9
forma escrita que este é o seu testamento cuja aprovação pede ao tabelião poderá
também utilizar-se do testamento cerrado.

3.3. Testamento particular

Segundo Hermano Silva Albuquerque (disponível em http://www.artigonal.com/


direito-artigos/testamento-particular-1527366.html):

O testamento particular (chamado também de


hológrafo) poderá ser escrito de próprio punho ou
através de processo mecânico. Se for feito na primeira
hipótese deverá ser lido e assinado por quem o escreveu
na presença de no mínimo três testemunhas que o
devem subscrever. Feito na segunda hipótese não
poderá conter rasuras ou espaços em branco, devendo
ser assinado pelo testador, depois de tê-lo lido na
presença de pelo menos três testemunhas que o
subscreverão.

Este tipo de testamento depende de confirmação, em juízo, pelas testemunhas,


assim se tornando um ato perfeito, pronto para ser cumprido. Se as testemunhas
falecerem ou se encontrarem em local incerto, o testamento particular não será
cumprido.

Pode ser escrito em língua estrangeira, desde que as testemunhas a entendam, e a


sua feitura só poderá ser feita por quem sabe ler e escrever, não se admitindo a
assinatura a rogo.

3.4. Codicilos

O codicilo, para ser válido deverá ser escrito de próprio punho (podendo ser
datilografado ou processado por computador), assinado e datado por pessoa capaz. Não
são exigidas assinaturas de testemunhas. É ato de última vontade, composto por
disposições especiais tais como determinações sobre o seu enterro, suas esmolas de
pouca monta, seus móveis, suas jóias de pouco valor e de uso pessoal. Importa notar

10
que as disposições do codicilo devem referir-se a bens não valiosos, pois os de maior
valia só podem transmitir por testamento, configurando assim a diferenciação entre os
dois institutos. Apesar de sua destinação para bens de menor valor, o codicilo pode ser
meio hábil para reconhecimento de filho, reabilitar o indigno, nomear testamenteiro e
outras disposições e determinações, conforme permissões espalhadas no Código Civil.

O codicilo só pode ser revogado por outro codicilo ou por testamento posterior
que o revogue expressamente, não o confirme ou modifique-o. No entanto, o testamento
não pode ser revogado por codicilo posterior.

3.5. Testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar.

Constituem formas especiais de testamentos. O marítimo pode ser elaborado por


passageiros e tripulantes, estando o testador em viagem, a bordo de navio nacional de
guerra ou mercante (GONÇALVES, 2009, baseado no art. 1.888 do CC), diante do
surgimento de algum risco de morte; o aeronáutico, da mesma forma, estando o testador
em aeronave comercial ou militar, em circunstâncias de risco. Revestem formas
assemelhadas ao testamento público ou cerrado, só que perante o comandante
(marítimo, a ser registrada no diário de bordo) ou pessoa designada pelo comandante
(aeronáutico).

De acordo com o art. 1.891 do Código Civil:

Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou


aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem
nos 90 (noventa) dias subseqüentes ao seu desembarque
em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro
testamento.

O testamento não valerá se ao tempo em que foi feito o navio estava em porto
onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária.

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Quanto ao testamento militar, é o elaborado por militares ou pessoas à serviço
das Forças Armadas que estejam em campanha de guerra, praça sitiada, ou com
comunicações interrompidas.

Ela também pode assumir as formas assemelhadas ao testamento público e ao


testamento cerrado, podendo assumir a forma nuncupativa, em um caso extremo. Esta é
feita oralmente pelo testador perante duas testemunhas, quando em combate ou feridas.
O testamento nuncupativo sem dúvida é o menos seguro, mas foi idealizado pelo
legislador a fim de amparar a última vontade do testador militar na iminência da morte,
que está em combate ou com ferimentos graves. Não terá validade se o testador não
morrer na guerra ou se convalescer do ferimento.

Ainda de acordo com o Código Civil de 2002:

Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que,


depois dele, o testador esteja, 90 (noventa) dias
seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária,
salvo se esse testamento apresentar as solenidades
prescritas no parágrafo único do artigo antecedente. (ou
seja, salvo se esse testamento tomar a forma de
testamento cerrado).

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4. Disposições testamentárias

No capítulo relacionado às Disposições Testamentárias, o legislador prescreveu


o conteúdo, regras e disposições gerais que poderão ser tratados em testamentos, bem
como normas de permissibilidade e proibição e como deverá ser interpretada a vontade
do testador, de acordo com condições e circunstâncias que se verificarem (regras
interpretativas).

Em suma, o testamento, além de nomear herdeiro ou legatário, pode encerrar


outras disposições, de caráter pessoal.

São regras interpretativas, entre outras (Disponível em http://www.central


juridica.com/doutrina/144/direito_civil/disposicoes_testamentarias.html):

• Na interpretação do testamento dever-se-á buscar a


real intenção do testador e não o sentido literal da
linguagem; na ausência de dados para interpretar a
vontade do disponente, atender-se-á à literalidade das
palavras;
• Havendo dois sentidos na cláusula testamentária,
considerar-se-á o que produzir efeito;
• Deve-se preferir a inteligência que faz valer o ato à
que o torne insubsistente, cláusula obscura, truncada ou
incompleta, que impossibilite determinar a vontade do
testador, será tida como não escrita;
• Se o objeto da disposição constituir-se de
universalidade, abarcará todas as coisas que a compõe,
mesmo se desconhecidas do testador, por serem
descobertas posteriormente;
• Se o autor da herança nomear dois ou mais herdeiros
sem discriminar a parte de cada um, a partilha será feita
por igual, conforme a porção disponível do testador;
• Se o testador impuser a um herdeiro,
simultaneamente, a cláusula de inalienabilidade e de
incomunicabilidade, e a outro apenas a de

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inalienabilidade, exclui este último da
incomunicabilidade;
• Em certos casos dever-se-á verificar que o testador
considerou os usos locais de onde vivia, a qualidade do
legatário, a amizade, etc.; se não puderem solucionar as
dúvidas, procurar-se-á decidir em favor da sucessão
legítima;
• Compete a interpretação do testamento ao juízo do
inventário;
• Deve-se afastar restrição de inalienabilidade dos
rendimentos dos bens legados, gravados de
inalienabilidade, impenhorabilidade e
incomunicabilidade.

São regras permissivas as positivadas no art. 1.897 e 1.911 do CC. No art. 1.897,
é estabelecida a instituição de herdeiro ou legatário e determina que esta possa ser feita
de forma simples e pura (nomeação sob nenhuma condição ou encargo) ou sob condição
(a eficácia da nomeação fica condicionada a um evento futuro e incerto), ou mediante
encargo (testador impõe de forma coercitiva um ônus ou obrigação ao herdeiro ou
legatário), ou por certo motivo (no caso do testador declarar o motivo que o levou a
fazer a liberalidade) ou, finalmente, a termo (quando a eficácia da nomeação fica
condicionada a um evento futuro e certo). Neste último caso, só poderá ser feita nas
substituições fideicomissárias ou quando se tratar de nomeação de legatário.

No art. 1.911 do CC, há a permissibilidade e possibilidade de imposição de ônus


ou gravame sobre os bens integrantes da herança e que compõem a metade disponível
(ou seja, não poderão ser gravadas essas cláusulas de onerosidade sobre os bens da
legítima, salvo se houver justa causa declarada em testamento).

Por fim, as regras proibitivas: o art. 1.898 do Código Civil impede a nomeação
de herdeiro a termo, salvo nas disposições fideicomissárias. Também será nula as
disposições contidas nos incisos I a IV do art. 1.900 do CC, a seguir explicitadas:

Art. 1.900. É nula a disposição:

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I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição
captatória de que este disponha, também por testamento,
em benefício do testador, ou de terceiro;
II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se
possa averiguar;
III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a
determinação de sua identidade a terceiro;
IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar
o valor do legado;
V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts.
1.801 e 1.802. (casos de incapacidade relativa para
herdar, de pessoas que podem influir na disposição do
testamento)

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5. Legados, efeitos e seu pagamento e caducidade

5.1. Conceito e Classificação dos Legados

O legado é coisa certa e determinada, integrante da herança deixada pelo


testador a alguém, a título singular (WALD, 2002). Difere-se da herança porque nesta
se transmite a totalidade ou parte ideal do patrimônio do autor da herança. O legatário,
por sua vez, é a pessoa que é contemplada em testamento ou codicilo para suceder, na
titularidade do bem específico. O herdeiro legítimo também pode ser legatário, ou seja,
recebe a parte ideal que lhe caiba na herança e pode receber um legado – nesse caso, é
chamado de prelegatário ou legatário precípuo.

Os legados podem ser classificados em função de seu objeto, o que é importante


para o disciplinamento de questões que podem se materializar como fatos. Assim, os
legados podem se classificar como:

a) Legado de coisas: pode ainda ser subdividido em legado de coisa alheia, legado de
coisa do herdeiro ou do legatário, legado de coisa comum, legado de coisa
singularizada, legado de coisa localizada, entre outras.

• Legado de coisa alheia: o Código Civil, em seu art. 1.912 determina a ineficácia
do legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento da abertura da
sucessão, o que, em outras palavras, diz que não se pode transferir o domínio se
não é proprietário; no entanto há duas exceções: quando o testador ordena que o
herdeiro ou legatário transfira bem de seu patrimônio para outrem e quando há o
legado de coisa que se determine pelo gênero;
• Legado de coisa comum: ocorre quando o legado é de coisa comum e apenas em
parte pertencer ao testador ou na hipótese de o testador ordenar que o herdeiro
ou legatário entregue coisa de sua propriedade a outrem, só quanto a esta parte
valerá o legado;
• Legado de coisa singularizada: conforme determina o art. 1.916 do CC: se o
testador legar coisa sua, especificando-a por suas características, só terá eficácia

16
o legado se o bem se encontrava entre o patrimônio que corresponde à herança
ou se ainda existir entre os bens do testador, ao tempo da morte deste;
• Legado de coisa localizada: ocorre no caso do legado de coisa encontrar-se em
determinado lugar, somente terá eficácia se no local for achado o legado, salvo
se removido a título transitório.

b) Legado de crédito ou de quitação de dívida: neste caso, este legado só terá eficácia
até a importância deste crédito ou quitação de dívida, ao tempo da morte do testador.

c) Legado de alimentos: neste caso abrange o sustento, a cura, o vestuário, a casa, e a


educação (se for menor) enquanto o legatário viver. Quem fixa o valor da pensão
alimentícia é o próprio testador.

d) Legado de usufruto: o usufruto por parte do legatário será vitalício, quando o testador
não dispor sobre o tempo do legado de usufruto.

e) Legado de imóveis: Se o legado contemplar a transferência do domínio de um


imóvel, novas aquisições, mesmo contíguas ao imóvel legado, não se compreenderão no
legado, salvo disposição diversa do testador. No entanto, as benfeitorias (quaisquer que
sejam) seguem o principal, ou seja, compreendem-se no legado.

5.2. Efeitos dos legados e seu pagamento

Entre os efeitos do legado, quanto à sua aquisição, o principal é a transmissão da


propriedade da coisa. Ela ocorre com a abertura da sucessão e mesmo assim, se o legado
for puro e simples, pois se estiver sob condição suspensiva, terá que aguardar o
implemento da condição. De acordo com Ricardo Sant’Anna de Andrade (Breves
Considerações Acerca da Sucessão Testamentária, p. 12), “se tratar de coisa fungível
(substituível por outra de igual peso, medida e quantidade) já que não é coisa específica,
apenas com a partilha se disporá de uma coisa, com as características estabelecidas e se
entregará ao legatário”.

No entanto, quanto à posse da coisa, o legatário, após a abertura da sucessão,


tem apenas o direito de receber dos herdeiros instituídos o bem legado – o herdeiro

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possui o ônus de entregar a coisa ao legatário. Isso após todo o procedimento de
apuração, arrecadação dos bens que compõe o patrimônio do de cujus e os respectivos
débitos e ônus deixados pelo mesmo, além da litigância sobre a validade do testamento;
se legado condicional ou a termo, o legatário só exerce o direito de petição quando
implementada a condição ou o termo.

O Código Civil de 2002 disciplina circunstâncias abstratas relacionadas aos


efeitos do legado quanto às suas modalidades. Assim sendo, se o legado for em
dinheiro, o mesmo só vence juros desde o dia em que se constitua em mora a pessoa
obrigada a prestá-lo (art. 1.925); se for de renda vitalícia ou pensão, correrá a partir da
morte do testador (art. 1.926).

Na hipótese do legado render frutos, o Código Civil prescreve que estes


pertencem ao legatário desde a morte do testador; ocorrendo o legado de coisa incerta,
sendo determinado apenas o gênero ou a espécie, cabe ao herdeiro a opção de escolha
da coisa, sendo diligente na escolha, ou seja, não escolhendo apenas a melhor. Se a
opção couber ao legatário, este pode escolher a melhor. Se o legado for alternativo, a
opção é feita pelo herdeiro, salvo se o testador estiver estipulado de forma diversa.

Quanto à responsabilidade para o pagamento, o Código Civil é bem explícito:

Art. 1.934. No silêncio do testamento, o cumprimento


dos legados incumbe aos herdeiros e, não os havendo,
aos legatários, na proporção do que herdaram.

Parágrafo único. O encargo estabelecido neste artigo,


não havendo disposição testamentária em contrário,
caberá ao herdeiro ou legatário incumbido pelo testador
da execução do legado; quando indicados mais de um,
os onerados dividirão entre si o ônus, na proporção do
que recebam da herança.

5.3. Caducidade dos Legados

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Caducidade significa ineficácia de disposição testamentária por motivo
superveniente à feitura do testamento, embora válido. A caducidade gera o efeito de,
embora válido o testamento, suas disposições não se aplicam ao momento, ou seja, não
são capazes de gerar o efeito da transferência da herança ou pagamento do legado. As
causas são de natureza material, e não se confundem com a nulidade do testamento, em
que este é inválido por inobservância das formalidades legais ou em razão da
incapacidade do agente.

A caducidade dos legados pode se dar em virtude de causas objetivas (na qual o
próprio bem a legar está impossibilitado de sê-lo) e causas subjetivas (na qual
circunstâncias relacionadas aos sujeitos do negócio jurídico tornam impossível o
pagamento do legado).

Vejamos o teor do art. 1.939 do Código Civil:

Art. 1.939. Caducará o legado:


I - se, depois do testamento, o testador modificar a coisa
legada, ao ponto de já não ter a forma nem lhe caber a
denominação que possuía;
II - se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou
em parte a coisa legada; nesse caso, caducará até onde
ela deixou de pertencer ao testador;
III - se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o
testador, sem culpa do herdeiro ou legatário incumbido
do seu cumprimento;
IV - se o legatário for excluído da sucessão, nos termos
do art. 1.815; (exclusão por indignidade)
V - se o legatário falecer antes do testador.

Os incisos I a III deste artigo demonstram causas objetivas de caducidade. Os


incisos IV e V são causas subjetivas. Além disso, outras causas subjetivas de
caducidade podem ser arroladas, como a renúncia do legatário, que não pode ser parcial;
o falecimento do legatário antes do implemento da condição suspensiva a que estava
subordinada a eficácia do legado; e a falta de legitimação do legatário para suceder.

19
6. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários

Podemos conceituar o direito de acrescer como o direito de acréscimo do


quinhão para os demais herdeiros ou legatários, que não foram excluídos da sucessão,
advindo do não recebimento de um ou mais dos herdeiros ou legatários da parte que lhe
cabe por premoriência (falecimento do legatário antes do testador), incapacidade para
suceder, renúncia, exclusão por indignidade e não implemento da condição sob a qual
foi instituído, ressalvados os casos de representação, ou disposição em contrário do
testador. Desta forma, quando existem vários herdeiros ou legatários, faltando um
destes, seu quinhão acresce o dos outros.

Ressaltamos que as disposições do Código Civil que normatizam este instituto


são de caráter supletivo, pois se o testador dispor claramente a sua vontade, sem
omissões, este instituto resta supérfluo, sem aplicação alguma. Por exemplo, se o
testador nomear substituto (detalharemos posteriormente) ou especificar o quinhão de
cada co-herdeiro ou co-legatário, não haverá o direito de acrescer.

Portanto, os pressupostos do direito de acrescer são, segundo Monteiro et al, p.


260-262 são:
• Conjunção real e/ou mista: quando o testador, em frases distintas naquela e na
mesma frase nesta, dispõe chamando vários herdeiros ou legatários a suceder,
sem discriminar os quinhões para cada um. Na conjunção verbal, há a
designação dos quinhões de cada um, o que não dá o direito de acrescer;
• Impossibilidade de recebimento ou aceitação pelo herdeiro e/ou legatário
instituído;
• Pluralidade de herdeiros e/ou legatários;
• Inexistência de substituto nomeado.

20
7. Substituição Testamentária

O testador pode nomear um ou mais substitutos para suceder os bens no caso da


falta de um dos herdeiros ou legatários. Como vimos no capítulo anterior, o herdeiro
testamentário pode não querer ou faltar à sucessão, no caso de renúncia, premoriência,
exclusão por indignidade ou falta de legitimação e não-verificação da condição
suspensiva. Essa é a dicção do art. 1.947 e 1.948 do Código Civil de 2002. Havendo
encargo, o substituto também o herdará quando o testador não deixar de forma expressa
o contrário, ou seja, não tratar-se de um encargo personalíssimo.

As formas de substituição comumente detalhada na doutrina são:

• Substituição vulgar: indica outra pessoa ou pessoas que irão herdar no lugar do
primeiro instituído, os favorecidos se indicam simultaneamente (arts. 1.947 e
1.949, CC). Não é admitida a substituição de herdeiro necessário.
• Substituição recíproca: alcança dois ou mais co-herdeiros ou co-legatários que se
substituem reciprocamente, ou seja, são substitutos uns dos outros (arts. 1.948 e
1.950, CC).
• Substituição fideicomissária: quando o herdeiro ou legatário recebe o bem de um
fiduciário que o recebeu para transmiti-lo, por sua morte, ou depois de certo
tempo, ou ainda, sob certa condição (arts. 1.951 a 1.960, CC).
• Substituição compendiosa: Consiste num misto de substituição vulgar e
fideicomissária. Neste tipo de substituição, o testador dá substituto ao fiduciário
ou ao fideicomissário, prevendo que um ou outro não queira ou não possa aceitar
a herança ou o legado.

7.1. Substituição fideicomissária

Nesse tipo de substituição, o fiduciário receberá, desde logo, a posse e a


propriedade de toda a herança ou parte desta ou do legado, transmitindo o recebido ao
fideicomissário, depois de sua morte, após determinado tempo ou após implemento de
condição

21
Tal instituto favorece, apenas, os não concebidos quando da morte do testador,
por expressa determinação legal. Havendo, ao ser aberta a sucessão, nascido o
fideicomissário, este terá a propriedade dos bens fideicomitidos, convertendo em
usufruto o direito do fiduciário pelo tempo previsto no testamento.

É de natureza resolúvel o domínio que possui o fiduciário sobre os bens


deixados, podendo este gozar, dispor, gravar e reinvidicar o bem. Se o domínio, porém,
vier a resolver-se, ficará sem efeito a alienação, devendo o bem ser devolvido ao
fideicomissário. Na prática, nenhum terceiro adquire bem de fiduciário.

É vedada a figura do fideicomisso além do segundo grau. Ocorrerá, em caso de


necessidade de substituição do fideicomissário, o direito de acrescer. Também é vedado
ser objeto de fideicomisso, a legítima, podendo apenas ser objeto a parte disponível do
testador.

Requisitos da substituição fideicomissária:

• Dupla vocação, onde o testador (fideicomitente) institui o fiduciário que


receberá a herança com o encardo de repassá-la ao fideicomissário;
• Eventualidade da vocação do fideicomissário, tendo em vista ter o direito do
fideicomissário um caráter eventual;
• Sucessividade, pois os bens irão em primeiro lugar para o fiduciário, depois para
o fideicomissário;
• Capacidade testamentária passiva do fiduciário, verificada quando da abertura da
sucessão, e do fideicomissário quando da substituição;
• Obrigação do fiduciário de conservar a coisa fideicomissada para depois restituí-
la ao fideicomissário.

São os seguintes direitos do fiduciário:

• Ter a propriedade da herança ou do legado, embora restrita e resolúvel, tendo o


direito de usar, gozar, grava, alienar, salvo se o testador houver imposto a
cláusula de inalienabilidade;
• Transmitir a propriedade fiduciária a seus herdeiros legítimos ou testamentário,
até que o fideicomissário receba os bens;

22
• Ter a plena propriedade se o fideicomissário renunciar, ou se este falecer antes
do testador, ou antes de ocorrida a condição do direito do fiduciário;
• Usar de todas as ações do herdeiro, inclusive a de petição de herança.

São deveres do fiduciário:

• Proceder ao inventário dos bens fideicomitidos, visto ser necessário precisar o


objeto do fideicomisso;
• Prestar caução de restituir os bens fideicomitidos, se for exigido pelo
fideicomissário;
• Conservar o bem objeto do instituto, enquanto estiver em sua guarda;
• Restituir a coisa fideicomitida.

Direitos e obrigações do fideicomissário:

São direitos seus:

• Exigir que o fiduciário proceda ao inventário das coisas fideicomitidas e preste


caução de restituí-las;
• Exercer atos destinados à conservação dos bens;
• Receber a parte da liberalidade que adveio ao fiduciário por direito de acrescer;
• Recolher a herança ou legado, como substituto do fiduciário, se este falecer
antes do testador, renunciar a sucessão ou dela for excluído, ou se a condição
sob a qual o mesmo fiduciário foi nomeado não se verificar;
• Renunciar a herança ou legado, inclusive como substituto do fiduciário, que
repudiou a liberalidade;
• Receber os bens, com a extinção do fideicomisso, livres de quaisquer ônus, salvo
o disposto no art. 1.957 do CC;
• Recolher, findo o fideicomisso, o valor do seguro ou o preço da desapropriação
o qual se sub-roga o bem fideicomitido, ocorrendo desapropriação ou destruição
ocasionada por sinistro.

Ocorrerá a caducidade quando houver:

23
• Incapacidade testamentária passiva, ou exclusão do fideicomissário, ou se ele
falecer antes do testador;
• Falecimento do fideicomissário depois do testador, mas antes do fiduciário, ou
antes de realizada a condição ou termo resolutivo;
• Renúncia da herança ou legado feita pelo fideicomissário;
• Perecimento total do bem sujeito ao fideicomisso, sem que tenha havido culpa
ou dolo do fiduciário, e desde que não ocorra sub-rogação no valor do seguro
estipulado sobre a coisa.

24
8. Deserdação

Deserdação é ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro


necessário, mediante disposição testamentária, motivada esta em uma das causas
previstas em lei (GONÇALVES, 2009).

De fato, a deserdação é uma cláusula testamentária que descrevendo a existência


de uma causa grave prevista em lei, priva um ou mais herdeiros necessários de sua
legítima, excluindo-o da sucessão.

Os requisitos de eficácia da deserdação são os seguintes:

a) Existência de herdeiros necessários (art. 1.961 do CC);

b) Testamento válido (art. 1.964, CC);

c) Expressa declaração de causa prevista em lei, que pode assumir, de acordo


com os sujeitos, a seguinte configuração na legislação civil:

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos descendentes por seus
ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou
grave enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,


autorizam a deserdação dos ascendentes pelos
descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do
filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da
filha ou o da neta;

25
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental
ou grave enfermidade.

d) Propositura de ação ordinária: a causa expressada em testamento que tenha


por fim a exclusão do herdeiro deverá ser provada em ação ordinária. A deserdação,
enfim, só terá eficácia com a sentença transitada em julgado. A legitimidade ativa pode
caber ao herdeiro instituído no lugar do deserdado, aos demais herdeiros necessários na
ordem de vocação hereditária a quem aproveitariam a deserdação e até mesmo ao
Estado. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se em prazo decadencial de
quatro anos, contados a partir da data da abertura do testamento. O próprio deserdado
pode tomar a iniciativa, no caso de inércia do interessado, para exigir, por meio de ação
de obrigação de fazer, para que o interessado a promova.

A posse dos bens do de cujus, cujo testamento conste cláusula de deserdação, e


esteja em curso o processo de conhecimento da deserdação deverá ficar, segundo
doutrina majoritária, com o inventariante, que zelaria pela preservação do patrimônio.

Os efeitos da deserdação são idênticos ao da exclusão por indignidade. Os


efeitos são pessoais, atingindo somente o herdeiro excluído; os descendentes deste
poderão herdar por direito de representação.

26
9. Redução das disposições testamentárias

Neste capítulo do Código Civil, o legislador disciplina as hipóteses em que o


testador deixa ao herdeiro instituído além ou aquém de sua cota hereditária disponível.

Quota hereditária disponível é justamente a metade da herança que o testador


poderá dispor livremente; a outra metade constitui a legítima, que cabe aos herdeiros
legítimos segundo a ordem de vocação hereditária.

Quando o testador dispuser de parte de sua quota hereditária disponível, há um


remanescente, que por disposição legal pertencerá aos herdeiros legítimos, consoante
redação do artigo abaixo:

Art. 1.966. O remanescente pertencerá aos herdeiros


legítimos, quando o testador só em parte dispuser da
quota hereditária disponível.

Na hipótese de o testador fazer disposições que excedam a quota hereditária


disponível, dá-se a redução das disposições testamentárias, de forma a preservar a
integridade da legítima. O testamento não é anulado, nem as disposições testamentárias,
mas procede-se apenas a uma transferência de bens da quota disponível para a legítima
(GONÇALVES, 2009).

A redução se dá no inventário, se houver acordo entre os interessados. E


segundo Carlos Roberto Gonçalves (Direito das Sucessões, 11.ed, p. 133) podem os
herdeiros necessários, seus sucessores ou credores, ou ainda os cessionários de seus
direitos demandar ação de redução para recompor a legítima com os bens que excedam
a quota disponível.

Quanto à ordem das reduções, por primeiro atinge-se o herdeiro instituído.


Reduz-se a quota do herdeiro instituído até recompor-se a legítima (mesmo que se
esgote totalmente a quota do herdeiro instituído). Se vários forem os herdeiros
instituídos haverá redução proporcional das quotas (CC , art. 1.967, § 1º). Segundo, se a

27
redução da quota do herdeiro instituído não for suficiente, procede-se a redução dos
legados (CC , art. 1.967, § 1º). A redução nos legados é proporcional aos seus valores.
Por fim, mesmo reduzindo as quotas referidas nos itens primeiro e segundo, não for
possível atingir a legítima, recorre-se então à redução das doações, começando pelas
mais novas (CC , art. 2.007, §. 4º).

28
10. Rompimento do Testamento

O rompimento do testamento, conhecido também como revogação legal, se dá


em virtude de presunção absoluta, prescrita em lei nos artigos 1.973 e 1.974 do CC:

Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao


testador, que não o tinha ou não o conhecia quando
testou, rompe-se o testamento em todas as suas
disposições, se esse descendente sobreviver ao testador.
Art. 1.974. Rompe-se também o testamento feito na
ignorância de existirem outros herdeiros necessários.

A presunção é a de que, tendo sido feito o testamento, se sobrevém ao testador


descendente ou o conhecimento de sua existência, não só do descendente, mas também
de outros herdeiros necessários, ele não teria disposto desta maneira.

Assim sendo, a validade do testamento é fulminada em todas as suas


disposições.

Desta feita, o rompimento do testamento poderá se dar em três hipóteses, com


base nestes dois artigos:
1) Quando sobrevêm descendentes ao testador que não os tinha (CC, art. 1.973, 1 ª
parte). Ex.: “A” fez um testamento e posteriormente, vem a ter filhos, ou netos. O
testamento que foi feito anteriormente se rompe.
2) Quando o testador que não tem filho, descobre a existência de um, cujo fato até então
era ignorado. Ou ainda o testador vem a conhecer que um filho, imaginado morto, que
ao contrário, está vivo.
3) Quando o testador ignorava que existam outros herdeiros necessários (CC, art.
1.974). Esses outros herdeiros necessários são os ascendentes e o cônjuge, já que quanto
aos descendentes está referido nos itens anteriores.

Evidentemente, o testamento não será rompido se o testador já saber da


existência dos herdeiros necessários.

29
11. O Testamenteiro

A figura do testamenteiro no Código Civil, que está prevista a partir do art.


1.976, surge quando o testador designa alguém de sua confiança (podendo ser um dos
herdeiros, o cônjuge, um dos legatários, ou ainda uma pessoa estranha à herança) para
cumprir suas disposições testamentárias, que é exatamente a execução do testamento.
Na falta de testamenteiro nomeado pelo testador, a execução testamentária compete a
um dos cônjuges, e, na falta destes, a herdeiro nomeado pelo juiz.

A função do testamenteiro é voluntária porque o nomeado não está obrigado a


aceitá-la; é personalíssima, privativa da pessoa natural, sendo indelegável, embora possa
o testamenteiro nomear mandatários e constituir procurador com capacidade
postulatória para os atos em juízo; é atividade onerosa porque terá direito a remuneração
(vintena), como regra geral. O montante da vintena é fixado pelo testador; se não o
fixar, será arbitrado pelo juiz, entre os limites de 1 a 5% sobre toda a herança líquida,
conforme a importância dela e a maior ou menor dificuldade no cumprimento do
testamento, salvo disposição testamentária em contrário. Portanto, compete ao
testamenteiro defender a validade do instrumento e dar cumprimento à última vontade
do testador (arts. 1.981 e 1.982, CC).

De acordo com a maneira de como é indicado, há várias espécies de


testamenteiros, a saber: instituído – quando nomeado pelo testador; dativo – se for pelo
juiz; universal – aquele a quem é conferido a posse e a administração da herança (neste
caso, o testador só pode conferir a posse da herança ao testamenteiro se não houver ou
não puderem exercê-la o cônjuge supéstite, descendentes e ascendentes); particular –
aquele que não desfruta da posse e administração da herança.

30
PARTE 2 – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

1. Inventário

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (Direito das Sucessões, 11.ed, p. 157), o


inventário é o processo judicial destinado a relacionar, descrever, avaliar e liquidar
todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, a fim de distribuí-los
entre os seus sucessores. Nesta fase, é apurado o patrimônio do autor da herança, cobra-
se o ativo, honra-se o passivo, bem como avaliam-se bens, pagam-se os legados e o
imposto causa mortis. No final, procede-se à partilha.

Em relação à abertura do inventário, socorremo-nos do Código de Processo


Civil:
Art. 983. O processo de inventário e partilha deve ser
aberto dentro de 60 (sessenta) dias a contar da abertura
da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses
subseqüentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de
ofício ou a requerimento de parte.

Quanto ao procedimento, há três possíveis:


• Solene: É o procedimento tradicional, o mais complexo, de aplicação residual;
• Arrolamento sumário: Se dá quando todos os herdeiros forem maiores e capazes,
e entre eles houver consenso. Independe do valor. O Ministério Público não
intervém;
• Arrolamento comum: Forma simplificada, com regras diferenciadas. Não
pressupõe capacidade, nem consenso. Há um critério objetivo, que é o valor
igual ou inferior a 2.000 OTNs (Obrigações do Tesouro Nacional).

1.1. Inventariante

O art. 990 do CPC indica, em rol taxativo e preferencial, aqueles que podem ser
nomeados inventariantes. Contudo, pode o juiz, fundamentadamente, inverter essa
ordem. Feita a nomeação, deve o inventariante, nos cinco dias subseqüentes, prestar

31
compromisso. Na hipótese de inventário conjunto, deve ser nomeado,
preferencialmente, herdeiro comum.

São atribuições do inventariante:


- Representar o espólio em juízo e fora dele;
- Administrar o espólio;
- Prestar as primeiras e últimas declarações;
- Exibir documentação.

O inventariante pode ser removido de suas funções em razão de descumprimento


das obrigações, a requerimento de qualquer interessado. Se o juiz remover o
inventariante, nomeará outro, observada a ordem do art. 990 do CPC:

Art. 990. O juiz nomeará inventariante:

I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente,


desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo
da morte deste;

II - o herdeiro que se achar na posse e


administração do espólio, se não houver cônjuge ou
companheiro sobrevivente ou estes não puderem ser
nomeados;

III - qualquer herdeiro, nenhum estando na


posse e administração do espólio;

IV - o testamenteiro, se Ihe foi confiada a


administração do espólio ou toda a herança estiver
distribuída em legados;

V - o inventariante judicial, se houver;

Vl - pessoa estranha idônea, onde não houver


inventariante judicial.

1.2. Processamento do Inventário

O espólio será representado após a nomeação e compromisso do inventariante no


processo. Intimado da nomeação, o inventariante prestará, dentro de 05 dias, o
compromisso de desempenhar o cargo e, em vinte dias, as primeiras declarações. Após
as primeiras declarações, o juiz mandará citar: o cônjuge ou companheiro, os legatários,
a Fazenda Pública, o Ministério Público – se houver testamento ou herdeiro incapaz – e

32
o testamenteiro (se o de cujus tiver deixado testamento). Segue-se a avaliação dos bens
inventariados, para fins de cálculo do ITCD e da partilha. Resolvida eventuais
impugnações, será lavrado o termo de últimas declarações. Por fim, chega-se à fase da
partilha.

1.3. Arrolamento sumário

Neste procedimento, o advogado contratado pelos herdeiros (não se pode


esquecer que todos estes devem ser maiores de 21 anos, capazes e estarem de acordo
sobre a partilha), após elaborar uma minuta inicial com base nos documentos
indispensáveis (atestado de óbito, certidões de casamento e nascimento do cônjuge e
dos descendentes e matrícula atualizada dos imóveis que serão partilhados),
primeiramente a encaminha para avaliação dos bens junto à Fazenda Estadual.

De posse desta avaliação e antes mesmo de levá-la a juízo, os herdeiros e o


cônjuge supéstite, com os esclarecimentos do profissional que contrataram, deliberam e
elaboram a divisão dos bens e somente então levam ao conhecimento do juiz para que
este homologue a partilha.

Fornecidas as negativas de impostos e satisfeitas as custas processuais, serão


feitos os formais de partilha que são os documentos que demonstram o que coube a cada
uma das partes do inventário. Com isso, o procedimento está terminado.

1.4. Arrolamento comum

É o procedimento indicado para pequenas heranças, não superiores a 2.000


OTNs. O inventariante apresentará as suas declarações, com a estimativa do valor dos
bens do espólio e o plano de partilha. Se o valor atribuído aos bens for impugnado,
então proceder-se-á a avaliação dos bens. Apresentado o laudo de avaliação, o juiz
ordenará o pagamento das dívidas não impugnadas e decidirá sobre as reclamações.
Provada a quitação dos tributos referentes ao espólio, o juiz julgará a partilha.

33
2. Institutos da Colação, Sonegados e do Pagamento das Dívidas

2.1. Colação

Colação é o ato pelo qual os herdeiros descendentes que concorrem à sucessão


do ascendente comum declaram no inventário as doações que dele em vida receberam,
para que sejam conferidas e igualadas as respectivas legítimas (GONÇALVES, 2009).
O ato não praticado pode ensejar sonegação, que é uma infração civil e que reclama
uma pena, com efeitos que veremos no próximo tópico. De fato, deve haver igualdade
entre os quinhões dos herdeiros necessários, e doações e vantagens feito em vida pelo
ascendente aos seus herdeiros necessários (descendentes) implicam em antecipação das
legítimas. Daí estes serem declarados, para que haja essa igualdade das partes legítimas
dos descendentes e do cônjuge sobrevivente.

Destacamos que o excluído da sucessão ou o que renunciou à mesma também


deverá conferir as doações recebidas, e repor a parte que exceder; e os netos, que
sucederem seus avós, no direito de representação dos pais, são obrigados a realizar a
colação que seus pais teriam de conferir, ainda que não o hajam herdado (CC, art.
2.009).

A colação, em regra, é feita com o retorno dos bens doados à massa da herança
para posterior partilha. Se o donatário já o tiver alienado, procede-se à colação por
estimativa, ou seja, o valor do bem volta à universalidade de bens da herança. “O valor
de colação dos bens doados será aquele, certo ou estimativo, que lhes atribuir o ato de
liberalidade” (CC, art. 2.004).

Serão dispensadas da colação as doações que o testador determinar que saiam da


parte disponível, contanto que não a excedam, sob pena de redução das disposições
testamentárias. O valor computado é o do tempo da doação.

O doador/testador pode, expressamente, determinar a dispensa da colação em


testamento ou no próprio contrato de doação.

Não virão à colação as seguintes hipóteses, disciplinadas pelo legislador civil:

34
Art. 2.010. Não virão à colação os gastos ordinários do
ascendente com o descendente, enquanto menor, na sua
educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento nas
enfermidades, enxoval, assim como as despesas de
casamento, ou as feitas no interesse de sua defesa em
processo-crime.
Art. 2.011. As doações remuneratórias de serviços feitos
ao ascendente também não estão sujeitas a colação.

2.2. Sonegados

O herdeiro, inventariante ou ainda testamenteiro têm a obrigação de informar ao


Estado os bens que compõe a herança. Essa informação deve atender todos os bens que
os referidos tenham conhecimento, estando ou não na sua posse.

A sonegação é ocultação dolosa dos bens que compõe o espólio. É uma infração
que reclama pena civil. Ela pode ser praticada pelo inventariante, quando omite,
intencionalmente, bens ou valores, prestando declarações que não existem outros bens a
inventariar. O herdeiro comete sonegação quando não procede à colação, não indica
bens em seu poder ou de terceiros. O testamenteiro infringe a norma se sonegar bens ao
inventário.

De acordo com Mariana Estima Rissi, disponível em http://www.jurisway.org.


br/v2/dhall.asp?id_dh=3261:

A pena de sonegados tem caráter cível e consiste,


para o herdeiro, na perda do direito sobre o bem
sonegado, que é devolvido ao monte e partilhado entre
os outros herdeiros. Se o bem sonegado não mais se
encontrar em seu patrimônio, o sonegador responderá
pelo seu valor mais perdas e danos.

Quando o sonegador for o inventariante, a pena de


sonegados limitar-se-á a remoção da inventariança, se
não for herdeiro nem meeiro. Se o for perderá também o
direito ao bem sonegado. O testamenteiro está sujeito,
igualmente, a pena de perda da inventariança, bem

35
como da vintena, se a sonegação disser respeito a bens
testados.

A ação de sonegados prescreve em dez anos, e deve ser ajuizada no foro onde
tramita o inventário, estando legitimados ativamente os herdeiros legítimos ou
testamentários e os credores do espólio. A Fazenda Pública também pode cobrar seus
direitos fiscais sobre os bens sonegados.

2.3. Do Pagamento das Dívidas

A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido. Mas se elas


ultrapassarem o valor da herança, os herdeiros não precisarão pagar os excedentes, pois
toda aceitação é feita em benefício do inventário, conforme prescrição do art. 1.792 do
CC. O pagamento das dívidas deverá ser feito antes da divisão dos bens. Porém, caso a
divisão já tenha sido feita, a quantia devida poderá ser paga por todos ou apenas um
herdeiro, que tem o direito de exigir dos demais herdeiros o que ultrapassar a sua parte
no pagamento; ele responde pela parte que lhe cabe, na respectiva proporção do quinhão
hereditário.

36
3. Partilha

De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (Direito das Sucessões, 11.ed, p.


175), partilha é a divisão judicial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre
os herdeiros do falecido e cessionários, separando-se a meação do cônjuge supéstite. Se
houver um único herdeiro, não há de se falar em partilha, mas em adjudicação direta. A
partilha, pois, consiste no procedimento para divisão do acervo hereditário que será
atribuído os sucessores do autor da herança. A sentença de homologação de partilha
declara a propriedade e a posse dos bens aos herdeiros, retroagindo à data da abertura da
sucessão.

A partilha poderá ser amigável, quando realizada entre herdeiros maiores e


capazes e houver unanimidade de acordo, sendo feita por escritura pública, por termo
nos autos ou por escrito particular homologado pelo juiz. É indispensável que os
interessados, ou procuradores com poderes especiais, assinem o instrumento. A partilha
amigável poderá se feita por ato inter vivos, (não poderá prejudicar a legítima) que é
feito por escritura pública ou testamento, com o intuito de dispensar os descendentes do
inventário comum.

Já a partilha post mortem é feita no curso do inventário ou arrolamento. Se o de


cujus deixou testamento, deverá ter um procedimento judicial, para que no fim haja a
homologação pelo juiz, simples ato de jurisdição voluntária.

A partilha judicial é obrigatória sempre que os herdeiros divergirem, ou se


algum deles for menor ou incapaz. Nesta, as partes formularão pedido de quinhão e o
juiz resolverá as pretensões no despacho de deliberação. Desta forma, o partidor
organizará o esboço de partilha de acordo com essa deliberação e considerará a ordem
de pagamentos; as partes serão ouvidas sobre esta deliberação, e a partilha será lançada
nos autos, conforme art. 1.024 do Código de Processo Civil:

Art. 1.024. Feito o esboço, dirão sobre ele as partes no


prazo comum de 5 (cinco) dias. Resolvidas as
reclamações, será a partilha lançada nos autos.

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3.1 Anulação e rescisão da partilha

A partilha pode ser anulada ou rescindida. A amigável, simplesmente


homologada, é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam o negócio jurídico, tais
como o erro, dolo, a coação, etc., É de um ano o prazo para a propositura da competente
ação anulatória (art. 1.029 do CPC).

Já a partilha judicial, que é julgada por sentença pode ser rescindida (art. 1.030,
do CPC):

a) tendo havido erro essencial, dolo, coação ou intervenção de incapaz;

b) se feita em preterição das formalidades legais;

c) se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o era.

A ação rescisória de partilha processa-se perante tribunal, no prazo de dois anos.


Quando a sentença limita-se a julgar os termos do esboço organizado, sem litígios entre
os herdeiros, sua natureza não passa de ser homologatória, não estando sujeita assim à
ação rescisória. Esta só será cabível quando a sentença for de mérito, onde seu conteúdo
decisório se direciona aos quinhões em disputa, exclusão de herdeiros, e, enfim opera a
partilha contenciosa.

3.2. Sobrepartilha

É o procedimento destinado a inventariar bens descobertos após a partilha, ou


bens sonegados, litigiosos, situados em lugar remoto da sede do juízo onde ocorreu o
inventário, ou bens de liquidação difícil ou morosa.

É complementação da partilha, e o seu procedimento é feito observando o


processo de inventário e partilha. Segundo Paulo Sérgio Ubialli (disponível em
http://www.gazetaweb.com.br/edicao_900/seus_direitos.htm), configura-se como uma
nova ação de inventário e partilha que corre no mesmo processo de inventário, podendo
haver tantas sobrepartilhas quantas forem necessárias, desde que evidenciados os seus
pressupostos.

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3.3. Garantia dos quinhões hereditários

Em obediência aos artigos 2.017 e 2.024 do Código Civil, o herdeiro que venha
a perder determinado bem, ou parte dele, o qual lhe teria sido atribuído quando da
partilha, mas que lhe foi tirado em virtude da sentença, tem o direito de ser indenizado
pelos co-herdeiros, a fim de que não tenha prejuízos em relação aos demais. Esta perda
do bem se dá em virtude de eviccção, e o direito sucessório tem como princípio a
igualdade na distribuição do acervo hereditário. Desta feita, justifica-se a presente regra
imposta no Diploma civil.

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Referências

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Sucessões. 11. ed. São Paulo, Saraiva,
2009.

GHIARONI, Regina, FRANÇA, Adiel e outros. Direito das Sucessões. São Paulo,
Freitas Bastos, 2004.

Lídia Salomão. Jurisway. Direito das Sucessões/A sucessão feita por testamento -
disposições gerais. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/ cursoonline.asp?
id_curso=686&pagina=4&id_titulo=8912

Jurisway. Modelo de Codicilo. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/


modelocomentado.asp?idmodelo=7765

Mariana Estima Rissi. Jurisway. Sonegação de bens da herança. Disponível em


http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3261

Hermano Silva Albuquerque. Artigonal – Diretório de Artigos Gratuitos. Testamento


particular. Disponível em http://www.artigonal.com/direito-artigos/testamento-
particular-1527366.html

Juliano Aparecido da Silva. Artigonal – Diretório de Artigos Gratuitos. O


Testamenteiro no Código Civil. Disponível em http://www.artigonal.com/doutrina-
artigos/o-testamenteiro-no-codigo-civil-1537143.html

Central Jurídica. Disposições testamentárias. Disponível em http://www.


centraljuridica.com/doutrina/144/direito_civil/disposicoestestamentarias.html

Marcus Vinícius Pessoa Cavalcanti Villar. ViaJus. Direito de acrescer entre


herdeiros e legatários. Disponível em http://www.viajus.com.br/viajus.php?
pagina=artigos&id=549

Rafael Paiva Cabral. TeuAdvogado. Arrolamento Sumário: Um inventário simples e


rápido. Disponível em http://www.teuadvogado.com.br/artigos/centro2.asp?ID=9

Gisele Leite. Jus Vigilantibus. Sobre o inventário e a partilha. Disponível em


http://jusvi.com/artigos/81

Vitor Frederico Kümpel. Direito Civil – Disposições testamentárias. Curso do Prof.


Damásio à distância.

Ricardo Luís Sant' Anna de Andrade. Breves Considerações acerca da Sucessão


Testamentária. Artigo.

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