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05/09/2010 - 13h12

Excesso de raios-X expõe pacientes a


risco

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Pacientes brasileiros estão sendo expostos sem necessidade à radiação em


exames de raios-X e tomografias.

Tomografia é o exame que mais emite radiação


Efeitos de doses elevadas em crianças preocupam médicos

A constatação é de pelo menos cinco estudos publicados nos últimos anos na


revista científica "Radiologia Brasileira", que reúnem dados de hospitais de São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná e Pernambuco.

Segundo os pesquisadores, as razões vão desde um maior número de exames


feitos sem necessidade a equipamentos radiológicos descalibrados e
funcionários mal treinados sobre a dose de radiação mais adequada.

O problema é global e afeta principalmente países com níveis elevados de


tratamento de saúde, segundo relatório da ONU divulgado no mês passado em
Genebra.
Anualmente são feitos 3,6 bilhões de radiografias no mundo, um aumento de
40% em relação à ultima década. Em muitos países, a exposição radiológica
médica já supera os casos de exposição por fontes naturais (radiação solar, por
exemplo).

Radiologistas e físicos ouvidos pela Folha dizem que o Brasil segue a mesma
tendência de aumento, mas não há estatísticas sobre o nível de exposição
radiológica a que o paciente é exposto durante os exames.

Os poucos estudos referem-se a serviços de saúde isolados e usam diferentes


metodologias.

Também são isoladas as iniciativas para se reduzir as doses de radiação. "Eu


posso fazer uma tomografia de tórax com uma dose de 20 ou uma dose de 10
e chegar ao mesmo diagnóstico", diz Marcos Menezes, diretor da radiologia do
Instituto do Câncer e do Sírio-Libanês.

Segundo ele, cada perfil de paciente (gordo, magro) exige uma dose diferente
de radiação. "Mas muitos serviços adotam protocolos de doses altas porque,
quanto maior a dose, melhor é a imagem."
O CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia) acaba de criar sua primeira comissão
de radioproteção, que vai elaborar diretrizes sobre o nível radiológico adequado
em diferentes exames de imagem.

"É preciso difundir entre os médicos e a população que os exames que


envolvem radiação ionizante só devem ser pedidos em caso de real
necessidade", diz Sebastião Mendes Tramontin, presidente do CBR.

Editoria de Arte/Folhapress

DOSES DE RADIAÇÃO

A medida tem apoio da Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica), que


coleta dados no país sobre as doses de radiação recebidas por pacientes em
mamografias, radiologias pediátricas, de tórax e intervencionistas.
A exposição a níveis altos de radiação pode causar de lesões graves
(queimadura e queda de cabelo) à morte. Mas isso dificilmente ocorre em um
exame radiológico.

Outra possibilidade são os chamados efeitos estocásticos, em que a


probabilidade de ocorrência de um câncer, por exemplo, é proporcional à dose
de radiação recebida.

Porém, esses efeitos --que constam na literatura internacional-- foram


calculados a partir de dados obtidos com a população sobrevivente de
Hiroshima. "Não sabemos em que dose isso pode acontecer em um exame. Por
isso, diminuimos a dose ao menor valor possível para reduzir o risco", explica a
física Helen Khoury, da Universidade Federal de Pernambuco.

Khory acrescenta: "O risco zero seria não fazer a imagem. Mas aí eu também
não tenho a imagem." Muitos estudos dizem que o corpo humano tem a
capacidade de restaurar o dano celular causado pela baixa radiação.

"Os benefícios obtidos com os exames radiológicos são superiores aos


eventuais riscos da exposição à radiação", afirma Tramontin.

Uma portaria do Ministério da Saúde estabelece os níveis máximos de


exposição à radiação para profissionais de saúde, mas exclui pacientes que
passam por procedimentos radiológicos -por não existir um limite.

A boa notícia é que os novos tomógrafos já têm softwares que modulam a dose
da radiação de acordo com o peso. "Assim, temos a certeza de que estamos
usando a menor dose possível", diz o radiologista Márcio Garcia.

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