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TEATRO TOSCO

COMO MONTAR PEÇAS SIMPLES E EFICIENTES


NO MINISTÉRIO COM JOVENS

Davi Lago
www.davilago.com | pietista@hotmail.com

Os tempos mudaram e a forma tradicional de fazer teatro na


igreja ficou ultrapassada. O teatro evangélico é previsível e antiquado:
pessoas vestidas com lençóis representando personagens bíblicos,
diálogos complicados carregados de jargões evangélicos, roteiros pobres,
pantomimas monótonas e confusas.
O objetivo deste texto é trazer orientações simples e práticas
para a estruturação de peças teatrais eficientes no ministério com
jovens contemporâneo.
Nossa proposta é objetiva e direta. Tudo que você lerá é baseado
na experiência com teatro muito bem sucedida da mocidade da Igreja
Batista Getsêmani. Desenvolvemos um estilo de fazer peças leves,
engraçadas e muito eficazes. Batizamos esse método de “Teatro Tosco”.
Na primeira parte demonstramos a importância do teatro no
ministério com jovens. Na segunda, apresentamos o caminho para você
criar peças simples e impactantes.
“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em
nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Cl
3.17).

À serviço dEle,
Com muita alegria,

Davi Lago
Outubro, 2007

I. A importância do teatro no ministério com jovens


O teatro como conhecemos nos dias atuais começou a ser
estruturado pelos gregos nos séculos VI e V a.C. Tragédias e comédias
eram apresentadas perante grandes audiências. Os dramas gregos
estavam inseparavelmente ligados à religião, particularmente por
ocasião dos festivais de Dionísio, o deus do vinho1. Quando os romanos
conquistaram os gregos e assimilaram sua cultura, adotaram também o
teatro.
O apóstolo Paulo quase morreu em um teatro. Ele pregou
durante três anos em Éfeso, uma das mais importantes cidades da Ásia
Menor. Ela era conhecida mundialmente por causa de seu famoso
templo de Ártemis, uma das Sete Maravilhas do mundo antigo,
construída em 550 a.C.
O ministério de Paulo em Éfeso foi marcado por milagres
extraordinários, “Deus fazia milagres extraordinários por meio de Paulo,
de modo que até lenços e aventais que Paulo usava eram levados e
colocados sobre os enfermos. Estes eram curados de suas doenças, e os
espíritos malignos saíam deles” (Ef 19.11-12).
O crescimento da igreja era rápido e logo veio a resistência. Um
ourives chamado Demétrio, que fazia miniaturas de prata do templo de
Ártemis, ficou revoltado porque as pessoas estavam se convertendo a
Cristo e abandonando suas obras e fonte de lucro. Ele iniciou um
tumulto contra o trabalho de Paulo que contagiou toda a cidade. Todos
começaram a gritar: “Grande é a Ártemis dos efésios!”.
Então a Bíblia diz: “o povo foi às pressas para o teatro,
arrastando os companheiros de viagem de Paulo, os macedônios Gaio e
Aristarco” (At 19.29). O comentarista I. Howard Marshall diz que “o
lugar mais apropriado para uma reunião pública de qualquer tamanho
era o teatro ao ar livre. E aquele de Éfeso já foi escavado, e estima-se
que tinha a capacidade para 25.000 pessoas”2.
A narrativa de Atos prossegue: “Paulo queria apresentar-se a
multidão, mas os discípulos não o permitiram. Alguns amigos de Paulo
dentre as autoridades da província chegaram a mandar-lhe um recado,
pedindo-lhe que não se arriscasse a ir ao teatro” (At 19.30-31).
Mesmo com todas essas resistências, o evangelho de Cristo
prevaleceu e o resultado do ministério de Paulo foi a evangelização de
toda a província da Ásia.
A Bíblia sempre influenciou o teatro.
Na Idade Média, o teatro baseava-se na igreja, e as peças de
mistério eram dramas sacros extraídos da Bíblia. As peças encenavam a
vida de Jesus e eram apresentadas com muito respeito. Posteriormente,
à medida que se tornaram mais populares, foram transferidas de dentro
das igrejas para as entradas ou pátios dos templos. Em algumas
localidades, as peças eram apresentadas em seqüência, acompanhando
toda a história da Bíblia.
Os dramas que retratam o julgamento, a crucificação e a
ressurreição de Jesus também datam da Idade Média. Em geral, por
motivos óbvios, são encenados pelas igrejas na época da Semana Santa
e Páscoa. Provavelmente a peça mais famosa sobre a Paixão é a
encenada em Oberammergau, Alemanha. Segundo diz a história, em
1633 os habitantes do povoado oraram para serem libertados de uma
epidemia e, se fossem curados, encenariam uma peça primorosa sobre
a paixão de Cristo, a cada dez anos. Essa peça continua atraindo
pessoas do mundo inteiro até hoje3.
A implantação do teatro, no Brasil, foi obra dos jesuítas,
empenhados em catequizar os índios para o catolicismo e coibir os
hábitos condenáveis dos colonizadores portugueses. O padre José de
Anchieta (1534-1597), em quase uma dezena de autos inspirados na
dramaturgia religiosa medieval e principalmente em Gil Vicente,
notabilizou-se nessa tarefa, de preocupação mais religiosa do que
artística.
Na Idade Moderna, temos William Shakespeare, que citou a
Bíblia 1200 vezes em suas 37 peças4. Em “Hamlet”, o príncipe diz: “O
demônio tem poder para assumir um aspecto agradável”, uma
referência ao que Paulo diz em 2Coríntios 11.14. Em “O Mercador de
Veneza”, Shylock fala sobre o patriarca Jacó: “Quando Jacó cuidava das
ovelhas de seu tio Labão...”5.
Antes de morrer Shakespeare escreveu em seu testamento: “Eu
encomendo minha alma às mãos de Deus, meu Criador, na esperança,
e crendo firmemente, que unicamente por intermédio dos méritos de
Jesus Cristo, meu Salvador, serei feito participante da vida eterna; e
meu corpo à terra, que é do que ele é feito”6.
Na era contemporânea, Eugene O‟Neill, ganhador do Prêmio
Nobel, escreveu a peça inusitada, “Lazarus Laughed” (Lázaro Riu), sobre
Lázaro, o amigo que Jesus ressuscitou. Edmond Rostand autor de
“Cyrano de Bergerac” também escreveu a peça “A mulher de Samaria”.
A aclamada autora Dorothy Sayers, amiga de C.S. Lewis e J.R.R.
Tolkien, era cristã e escreveu uma série de 12 peças sobre Jesus,
chamada “The Man Born To Be King” (Nascido para ser Rei).

Arma evangelística
O objetivo do teatro no ministério com jovens é honrar a Deus,
restaurar vidas, dar testemunho da verdade e da salvação. O teatro é
uma arma para edificar os crentes e para evangelizar. Pregar o
evangelho não é uma opção para o cristão, é uma ordem: “Vão pelo
mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas” (Mc 16.15).
No mundo pós-moderno, as pessoas são apaixonadas por filmes,
televisão, Youtube, vídeos gravados com telefones celulares. Portanto, a
teatralização ao vivo é relevante. Através do teatro é possível derrubar
preconceitos que os incrédulos têm em relação à Cristo. O teatro pode
desmoronar essas barreiras e comunicar com eficácia a verdade do
evangelho.
O teatro é uma arma versátil. É possível encenar peças em
hospitais, escolas infantis, presídios, praças, reuniões de grupos
pequenos, programações especiais na igreja, etc.
Em 2005 realizei uma viagem missionária para o Vale do
Jequitinhonha junto com um grupo de jovens da minha igreja.
Montamos uma peça extremamente simples: um bêbado/drogado, uma
prostituta e um ladrão estavam com suas vidas acabadas. O Diabo
aparecia, acorrentava cada um e ficava dando gargalhadas. Então Jesus
entrava em cena, espancava o Diabo e libertava os três.
O que Deus fez através dessa simples peça foi impressionante.
Nós a apresentamos em 13 escolas. Em todas as apresentações as
crianças, adolescentes e jovens choravam na cena final. Não eram
lagriminhas, era choro de verdade. O Espírito Santo estava ali.
Distribuímos 1820 Bíblias. Aqueles jovens foram marcados para sempre
com a mensagem do evangelho.
Teatros também podem ser utilizados em universidades, desde
que sejam inteligentes. Ouvi Lindsey Brown contar uma história muito
legal no Congresso da ABU 2006 em Viçosa: Um grupo de estudantes
cristãos na Polônia preparou um culto evangelístico no auditório da
universidade. Um rapaz vestido de Morte entrava nas salas de aula e
dizia: “todo mundo vai morrer”. Minutos depois entrava outro vestido de
anjo e perguntava: “a Morte passou por aqui”. Eles respondiam:
“passou”. O anjo dizia: “há uma forma de vencer a morte, venha saber
como às 16h no auditório principal”. Passados mais alguns minutos
aparecia um vestido de Diabo, e perguntava: “um anjo passo por aqui?”.
A turma respondia rindo: “Sim!”. O Diabo falava: “Não acreditem em
nada que ele falou”. Os estudantes caiam na gargalhada. Esta
estratégia levou 250 jovens para o culto, que foi um sucesso.
Também apresentei inúmeras peças em orfanatos. Centenas de
crianças aprenderam a história de Jesus. Encenei para meninos com
câncer no hospital. Foi emocionante vê-los sorrindo. Os exemplos não
têm fim.
A Igreja Willow Creek, nos Estados Unidos, tem alcançado vidas
através de um ministério de teatro monumental, chamado Willow Creek
Drama. Eles são liderados desde 1986 por Steve Pederson, que possui
doutorado (PhD) em Teatro pela Universidade de Iowa. Ele é autor do
livro “Ministério de Teatro” e referência mundial do teatro evangélico.
Esta igreja inovou ao usar o teatro como trampolim para a
pregação. As peças-relâmpago de cinco minutos introduzem o tema da
mensagem. Este é um uso interessante das peças teatrais
especialmente no ministério com jovens.
Contudo, deve ficar claro que a pregação da palavra deve
receber primazia na igreja porque Deus a ordenou. A pregação é o
instrumento escolhido por Deus para conceder vida espiritual e levar as
pessoas à salvação7. Deus “nos gerou pela palavra da verdade” (Tg
1.18). A pregação “tem poder para vos edificar” (At 20.32). O ensino da
Palavra nos alimenta espiritualmente
Calvino disse que “toda vez que o evangelho é pregado, é como
se o próprio Deus viesse em pessoa para solenemente nos conclamar”.
Martyn Lloyd-Jones, talvez o maior expositor bíblico do século XX,
disse: “A necessidade mais urgente na igreja cristã hoje é a pregação
autêntica; por ser a maior e mais urgente necessidade da igreja, é
também evidentemente a maior necessidade do mundo. Não há nada
como a pregação. Ela é a mais elevada tarefa deste mundo, a mais
emocionante, a mais empolgante, a mais compensadora e a mais
maravilhosa”.
Pierre Marcel diz: “Pregar a palavra de Deus não é uma invenção
da igreja, mas uma comissão recebida por ela. Pregar é a função
central, primária e decisiva da igreja”8. Martyn Lloyd-Jones diz ainda:
“Não é possível ler a história da igreja, mesmo superficialmente, sem
descobrir que a pregação sempre ocupou uma posição central e
predominante na vida da igreja”9.
Também deve ficar claro que o teatro é um instrumento.
Sozinho ele nada pode. A salvação pertence ao Senhor. Nenhum
artifício humano pode salvar pecadores. Como escreveu John Stott:
“Somente Jesus Cristo, pelo seu Espírito Santo, pode abrir os olhos
cegos e os ouvidos surdos, fazer os mancos andar e os mudos falar,
despertar a consciência, iluminar a mente, fazer arder o coração, afetar
a vontade, dar vida aos mortos, e resgatar os escravos do domínio de
Satanás”10.
Tudo deve ser feito para a glória de Deus: Cada cena, cada
diálogo, cada ação. “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação,
façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a
Deus Pai” (Cl 3.17). O teatro deve ser centrado em Deus e não no
homem. A glória de Deus é nossa inspiração e doce recompensa.
Concluindo, o teatro é um instrumento pelo qual o Senhor pode
transformar vidas.

II. Como montar peças de teatro no ministério com jovens


Tenho aprendido que planejar cultos evangelísticos/temáticos
para jovens, com música, vídeos e peças de teatro eficientes é difícil e
requer trabalho. É muito diferente, por exemplo, do trabalho de
selecionar hinos sobre o mesmo tema do sermão. É uma tarefa que
demanda muito esforço do pastor de jovens e sua equipe.
Mas não é uma tarefa impossível.

1. Formação da equipe
O ator deve interpretar de forma convincente os dramas, as
alegrias, a vida de um personagem. É este o trabalho e o desafio do ator
nos palcos, nas telas e onde mais houver público.
Os principais critérios que utilizamos para selecionar nossos
atores são:
Em primeiro: vida consagrada. A equipe deve ser formada com
pessoas que nasceram de novo genuinamente. Santidade é a
qualificação bíblica essencial para todo o ministério. Nossos atores são
jovens comprometidos com Jesus. Eles têm vida devocional sólida e um
bom testemunho. Deus usa vasos pequenos, mas não usa vasos sujos.
Segundo: talento dramático. Isso engloba uma boa disposição
física, boa memória, voz forte, dicção para falar alto e claro, capacidade
de comunicação, capacidade de cumprir ordens e determinações,
capacidade de improviso, desembaraço para falar em público,
determinação, disciplina, equilíbrio emocional.
Terceiro: dedicação. A habilidade e o talento valem muito pouco
para quem não está disponível, disposto e pronto a servir. Por isso,
nossos atores não podem ser melindrosos, hipersensíveis. Deve haver
disposição para trabalhar, botar a mão na massa. Pessoas escolhidas
por Deus para uma missão não são pessoas desocupadas e ociosas. O
trabalho de Deus exige energia e disposição. O Senhor chamou Moisés
quando ele estava pastoreando as ovelhas no Sinai. Chamou a Gideão,
quando estava malhando trigo no lagar. Chamou a Amós quando estava
nos prados de Tecoa cuidando do gado. Tirou Davi detrás das ovelhas
para colocá-lo no palácio. Jesus chamou os discípulos quando estavam
pescando e consertando as suas redes. Temos que trabalhar com
dedicação tanto nas coisas pequenas como nas grandes. “Maldito
aquele que faz a obra do Senhor relaxadamente!” (Jr 48.10). “Nunca
lhes falte o zelo, sejam fervorosos no espírito, sirvam ao Senhor” (Rm
12.11).
Quarto: disponibilidade. Não aceitamos na equipe aqueles que
nunca têm tempo para ensaiar.
Quinto: submissão. É preciso reconhecimento, respeito,
submissão às pessoas que Deus coloca sobre nós para nos ajudar no
ministério. “Tenham consideração para com os que se esforçam no
trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e os aconselham.
Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa do trabalho
deles” (1Ts 5.12-13). Humildade não é questão de aparência. É uma
virtude para Deus ver e não para o homem ver. Agostinho disse: “O
orgulho tem contribuído para que anjos sejam transformados em
demônios; e a humildade tem feito de homens, anjos”. Quem quer
trabalhar na igreja deve saber ouvir críticas construtivas. Já disse
Spurgeon: “Melhores são os tapas da verdade do que os beijos da
traição”. As críticas sinceras ajudam os atores a melhorar seu
desempenho. Acate todas as sugestões positivas que receber. Aprenda
com seus erros e aprimore seu desempenho.
Qual o número de componentes ideal? Em nossa igreja damos
oportunidade para todos participarem. Evidentemente os mais
talentosos atuam nos papéis principais.

2. Elaboração do roteiro
Tudo começa com o roteiro, e todo roteiro começa com um alvo.
Defina em primeiro lugar qual é o alvo da sua peça. É uma peça para
alegrar pessoas acamadas em hospitais? É uma peça para ilustrar o
ensino de um sermão? É uma peça para alertar os jovens sobre os
malefícios das drogas?
Alguns exemplos de alvos: “O alvo desta peça é demonstrar as
evidências da ressurreição de Cristo”; “o alvo desta peça é despertar os
jovens para que se envolvam nas atividades da igreja”, “o alvo desta
peça é contar como foi o avivamento no Congo”; “o alvo desta peça é
criar nos jovens uma consciência bíblico-ecológica” e assim por diante.
O teatro cristão deve denunciar o vazio existencial das pessoas
afastadas de Deus, as conseqüências do pecado, a inutilidade das
drogas, a irracionalidade do ateísmo, etc.
Deve também proclamar a gloriosa salvação em Cristo Jesus, a
necessidade de arrependimento, a alegria indizível de viver de maneira
santa para Deus, a beleza do amor, etc.
O roteiro de uma peça para jovens é sempre mais eficiente
quando é bem humorado. Os não-cristãos pensam que os crentes são
mal-humorados e chatos. Exemplo disso está no desenho dos
“Simpsons”: a família careta dos Flanders, os vizinhos evangélicos de
Homer e sua família.
O teatro também quebra preconceitos quando possui um roteiro
inteligente. Os não-cristãos pensam que os crentes são tapados,
alienados e incultos.
A mensagem do teatro tem que ser relevante. O roteiro deve
tratar de temas pertinentes aos jovens, como namoro, sexo, pornografia,
homossexualismo, estudos, amizades, música, moda, obediência aos
pais.
O roteiro pode tratar da vida cristã: oração, leitura da Palavra,
plenitude do Espírito Santo, santidade. Pode também tratar de temas
apologético/teológicos, como a existência de Deus, o problema do mal, o
sofrimento.
Pode contar uma história bíblica. É interessante quando você
re-conta a narrativa bíblica de forma contemporânea. Houve uma peça
sobre João 13, onde Jesus engraxava os sapatos dos discípulos invés de
lavar-lhes os pés. Seja original, fuja da previsibilidade.
Pode também falar sobre a história da igreja ou contar a
biografia de um herói da fé. Por exemplo, em nossa igreja já fizemos
peças sobre a Reforma Protestante e o avivamento na Rua Azusa.
O roteiro pode ser uma adaptação de romances cristãos como
“O Peregrino” de John Bunyan ou “As Crônicas de Nárnia” de C.S.
Lewis.
O roteiro pode ainda abordar um tema atual. Por exemplo, na
Copa do Mundo do ano passado fizemos a peça “Jesus é show de bola”
onde o time dos discípulos de Cristo goleavam o time do inferno. A peça
foi tosca e muito engraçada.
Tudo isso sem falar das tradicionais peças para ocasiões
especiais, como Páscoa, Natal, etc. Ravi Zacharias conta em um livro
que certo da assistiu uma curta peça de teatro apresentada numa
véspera de Natal: “Era principalmente um monólogo de José, quando
pouco após o nascimento de Jesus ele o segurava em seus braços e lhe
falava. Olhava para o rosto do bebê e, com todo o alvoroço de um pai
recente, falava de sua semelhança com a mãe. Após uma pausa, e
muito seriamente, disse: „Eu me pergunto como é seu pai?‟. É claro que
as centenas de pessoas também se perguntavam isso”11.
Roteiros bem elaborados formam peças poderosas em cultos
evangelísticos. Em 2005 realizamos uma peça inesquecível: “Os
Inacreditáveis”. Nosso pastor de jovens, Lúcio Barreto, teve a idéia
original de fazer uma peça inspirada no desenho da Disney “Os
Incríveis”. Os cinco integrantes da “Família Incrível” representavam os
cinco propósitos de Deus para o homem: o pai era o Sr. Evangelismo, a
mãe a Sra. Adoração, os filhos eram o Discipulado, o Ministério e a
Comunhão. Os cinco eram felizes até que tomaram uma surra dos dois
inimigos: Frieza Espiritual e Decepção Com a Igreja.
A “Família Incrível” se tornou a “Família Inacreditável”. O Sr.
Evangelismo se tornou Sr. Ativismo; Sra. Adoração se tornou Sra.
Adoração de Si Mesma; Ministério se tornou Mini e Estéril; Discipulado
se tornou Desci Para o Lado do Mundo; e Comunhão se tornou Isolação.
Os inacreditáveis começam a perder batalhas para vários
inimigos: Depressão, Suicídio, Cansaço, Sonhos Não Realizados,
Sedução do Sexo, Vícios, etc.
Após chegarem ao fundo do poço, os Inacreditáveis vão para um
culto e se reconciliam com Deus. Em seguida, eles invadem o quartel
general dos inimigos e os massacram. Na cena final todos os inimigos
estão espatifados no chão, os Inacreditáveis voltam a ser os Incríveis e
comemoram a vitória.
A repercussão desta peça foi sensacional. Centenas de jovens se
colocaram no lugar da família Incrível e perceberam que muitas áreas
das suas vidas estavam “inacreditáveis”. O resultado em todas as
apresentações da peça foi o mesmo: jovens chorando arrependidos e se
reconciliando com Deus.
Outra peça de sucesso foi “Jesus Incomparável” que
apresentamos após uma série de cinco pregações sobre este tema. É a
história de um jovem revoltado buscando o sentido da vida. Na primeira
cena ele entra e começa resmungar para a platéia: “Minha vida não tem
sentido! Socorro! Alguém me ajude, por favor! Não agüento mais! Estou
triste, desiludido, frustrado, cansado! Socorro! Estou ficando doido!
Socorro!”.
No auge do desespero, entrava em cena John Lennon. O jovem
ficava todo empolgado de ver John Lennon. Eles começam uma
conversa que termina com o jovem fazendo a seguinte pergunta: “John,
como posso ser feliz?”. Então o John Lennon oferece drogas para ele e
sai do palco. O jovem fica todo feliz com a droga. Mas, em seguida,
entrava uma música de “plantão de reportagem urgente”. O
protagonista se assustava e ouvia a voz de um repórter que narrava
uma notícia revelando todos os malefícios causados pelas drogas. O
jovem ficava novamente desiludido e voltava a resmungar para a
platéia.
A peça se desenrola com o aparecimento de várias figuras
históricas. Cada uma oferecia algo para resolver o problema do jovem.
Osama Bin Laden oferecia bombas; Papai Noel oferecia dinheiro e
consumismo; David Beckham oferecia beleza e moda; Chico Xavier
oferecia psicografias; e Che Guevara oferecia comunismo e revolução
sanguinária. O repórter desmascarava cada uma dessas ofertas.
Na cena final ocorre a aparição de Jesus, que finalmente acaba
com a aflição do jovem. O narrador leu Filipenses 2.5-11, e enquanto lia
cada personagem aparecia e se ajoelhava aos pés do Mestre.
Esta peça ficou muito engraçada e com um final emocionante.
Cinqüenta jovens se reconciliaram com Deus e aceitaram o apelo de
salvação naquela noite.
Também realizamos uma peça chamada “LOST”, parodiando a
série de televisão. Foi um projeto ambicioso: durante quatro sábados
cada jovem da nossa mocidade intercedeu por três amigos não-cristãos.
No quinto sábado realizamos uma programação especial, o “culto
LOST”. Nossos jovens entregaram flyers e convites para seus amigos. No
dia da apresentação o templo ficou lotado com três mil jovens.
A peça foi como na série da tv: Tudo começa quando um avião
cai numa ilha. Cada sobrevivente tenta sair da ilha e se salvar: um
construindo uma jangada com seu conhecimento; outro com sua força
física, nadando; outro com dinheiro, ligando para o pai vir buscá-lo de
helicóptero.
Todas as tentativas são frustradas e em seguida “Os Outros”
(um grupo de homens sinistros e misteriosos que habitavam na ilha)
seqüestravam cada sobrevivente. Somente aquele que confiava no
Salvador consegue escapar. Após uma oração ele entra no esconderijo
dos “Outros” e prega para seus colegas: “Só Jesus pode nos salvar deste
desastre, desta vida perdida!”. Jesus, então, aparece, derrota os
“Outros” e liberta cada sobrevivente.
O resultado desse culto foi impressionante: 150 jovens
entregaram suas vidas a Cristo. Hoje estão batizados e envolvidos nos
ministérios de nossa juventude.
O humor é fundamental. A depressão é a doença do século e
atinge a ricos e pobres, cultos e incultos. Uma vez um homem muito
triste foi ao psicólogo. Ele estava em profundo desfalecimento e o doutor
disse: “Vá assistir o grande palhaço que está se apresentando no teatro!
Ele é excelente! Você vai rir e sair de lá muito melhor!”. O homem disse:
“Esse é o problema, eu sou o palhaço”. A alegria do mundo é artificial.
Mas a alegria do Senhor é verdadeira. “Tenho lhes dito estas
palavras para que minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês
seja completa” (Jo 15.11). Nossa alegria é uma pessoa: Jesus Cristo.
Alegria é fruto do Espírito Santo. Devemos fazer tudo com alegria:
“Prestem culto ao Senhor com alegria” (Sl 100.2).
Faça também, cenas com diálogos inteligentes. Mas eles não
podem ser longos e confusos. Não use linguagem carregada de jargões
evangélicos. Expressões como “lavado pelo sangue” não são entendidas
por não-crentes.
Em todas nossas peças colocamos um narrador – que
geralmente também é o diretor da peça. Isso facilita muito as coisas. O
narrador é importante no teatro tosco porque, na medida em que ele
conta a história, você garante que todo público compreenda a trama.
Em regra, a narração do teatro tosco deve ter uma estrutura, mas não
ser decorada, nem lida. Deve ser espontânea, fluente e descontraída.
Roteiros eficientes para o ministério com jovens também têm
que ser contemporâneos. Faça referências e paródias de filmes
conhecidos, desenhos animados, personagens de vídeo games e
histórias em quadrinhos.
Você precisa montar um arquivo de idéias. Tenha um caderno
onde você anota coisas interessantes para colocar nas peças: frases
engraçadas, casos verídicos que você ouve, diálogos de filmes, etc.
Extraia idéias do dia-a-dia, do cinema, da televisão, dos jornais e
revistas, da internet, dos outdoors, das pregações, da sala de aula, das
conversas com amigos, dos livros de História.
Algo que também me ajuda muito quando escrevo roteiros é
utilizar um recurso dos roteiristas de cinema: os storyboards.
Storyboard é um roteiro desenhado, é um filme contado em quadros (no
nosso caso, uma peça contada em quadros). O storyboard lembra uma
história em quadrinhos sem balões. Mas existe uma diferença
fundamental: apesar da semelhança de linguagem e recursos gráficos,
uma história em quadrinhos é a realização definitiva de um projeto,
enquanto que um storyboard é apenas uma etapa na visualização de
algo que será realizado em outro meio. O storyboard é um desenho-
ferramenta, um auxiliar do roteirista. Portanto, eu começo a rabiscar as
cenas da peça como se fosse uma história em quadrinhos. O storyboard
ajuda muito a visualizar a encenação e determinar a marcação no
palco.
O roteiro deve ter um esboço emocional. A peça precisa ter
momentos de grande intensidade e, em seguida, um retorno aos
momentos de descanso. Intensidade o tempo todo é como um raio de
brilho constante que não cai em lugar nenhum. Descanso o tempo todo
torna a peça maçante e monótona, gerando um desastre.
A abertura da peça tem que ser frenética. Se você não conseguir
prender a atenção do povo nos primeiros cinco minutos, será difícil
obtê-la depois. Por isso comece tudo com energia máxima. Por exemplo,
iniciei a peça dos “Inacreditáveis” com a música de abertura do filme
Star Wars, e com os cinco integrantes da família correndo de todas as
partes do auditório em direção ao centro do palco. Quando se
encontraram, eles formaram uma posição de ataque no estilo “Power
Rangers”.
A peça “LOST” começa com a exibição no telão de uma cena do
seriado da televisão onde um avião cai numa ilha. O narrador diz “o
avião caiu na ilha” e as luzes se acendem sobre o palco. Os atores estão
jogados no chão gritando no meio dos destroços da aeronave com caras
cômicas de desespero. Nestas duas aberturas a platéia riu sem parar.
Por fim, a peça deve ter um fechamento apoteótico centralizado
em Cristo. Os roteiros devem ser Cristocêntricos, devem caminhar de
forma que terminem em Jesus. Ele é o centro de tudo. Spurgeon dizia
que você pode traçar uma reta entre qualquer texto bíblico e a cruz. O
mesmo ocorre com nosso teatro. Tudo deve convergir em Cristo. É
Jesus quem está em cena.
Satanás e os personagens malignos não podem ter proeminência
na peça. Vi certa vez um teatro onde o Diabo falava durante 80% do
tempo e Jesus era só coadjuvante. Isso é um absurdo.
Jesus é o Rei de nossos teatros. Ele deve ser o tema, o escopo, a
vida do teatro. Toda encenação é inútil se não tiver um sabor de Jesus.
O entusiasmo por Cristo é a alma da peça.

O estudo do roteiro pelos atores


Uma vez que o roteiro foi finalizado e redigido, o diretor deve
selecionar os atores, e para isso, deve levar em conta os traços físicos e
características de cada personagem. Finalizada a distribuição, os atores
devem ler e estudar seus papéis.
O roteiro de teatro tosco é algo vivo, ele é aprimorado durante os
ensaios. Todos os atores contribuem para o enriquecimento da história.
3. Técnica
Espaço cênico é o espaço onde os atores interpretam e
desenvolvem a peça. O cenário e a iluminação existem para delimitar o
espaço cênico. Quando um facho de luz incide sobre um determinado
ponto do palco, significa que é ali que a ação se desenrolará naquele
momento. Além de delimitar o lugar da cena, a iluminação se encarrega
de estabelecer relações entre o ator e os objetos; o ator e os personagens
em geral12.
Montamos cenários muito simples. Não fazemos mudança de
cenário durante a peça. Aproveitamos todo o espaço do grande púlpito
de nossa igreja e procuramos simplificar o máximo possível. Uma
orientação importante: quando montar o cenário, se for possível, tire
todos os instrumentos musicais do púlpito, para que eles não quebrem
por acidente.
O figurino é composto por todas as roupas e os acessórios dos
personagens. Desenvolva um figurino original, contemporâneo, bem-
humorado. Abandone a mesmice e surpreenda a platéia.
Por exemplo, na peça dos “Inacreditáveis” o inimigo Frieza
Espiritual usava a roupa do Elvis Presley. Na peça “Jesus
Incomparável” os personagens John Lennon, Che Guevara, David
Beckham, Chico Xavier e Bin Laden usavam roupas idênticas às roupas
usadas por essas figuras históricas. Na peça “LOST” os sobreviventes da
queda do avião usavam roupas rasgadas.
Tenha bastante cuidado com decotes, transparências e roupas
colantes a fim de não mostrar partes do corpo, evitando a sensualidade.
Figurinos e acessórios exagerados tornam a peça cômica. Na
peça “Jesus Incomparável”, John Lennon oferece uma sacola de cocaína
para o protagonista e Bob Marley fuma um cigarro de maconha do
tamanho de um cabo de vassoura. Seja criativo no uso de acessórios.
Nesta mesma peça, Bin Laden segura uma bomba: pegamos uma esfera
de isopor, a pintamos de preto e colocamos uma vela de aniversário em
cima como pavio. Quando acendemos a vela, a bomba ficou igual
àquelas de desenho animado.
E mais uma vez eu insisto: Por favor, não faça peças de teatro
para jovens com pessoas vestidas com lençóis e becas representando
personagens bíblicos. Em peças para o público adulto isso é tolerável,
mas para o público jovem é totalmente ultrapassado.
Há uma série de personagens que podem usar maquiagens
interessantes. Um bom exemplo é a maquiagem do Coringa (inimigo do
Batman). Utilize bigodes postiços e perucas gigantes.
A sonoplastia e a trilha sonora também têm que ser bem
elaboradas. O silêncio, a música, e os ruídos têm o poder de provocar
efeitos diversos sobre a sensorialidade do ouvinte. A trilha acentua a
atmosfera da cena.
Para cenas de ação/comédia sugiro as seguintes trilhas
sonoras: Missão Impossível, Chaves, Pantera Cor de Rosa, Super Mario,
Mortal Kombat, Indiana Jones, Inspector Gadget, Doug Funnie, 007,
Família Adams, Arquivo X, Batman, Super Homem, Simpsons, Meninas
Super Poderosas, Rocky Balboa, E.T., 5ª Sinfonia de Beethoven, Aleluia
de Haendel, Fantástica Fábrica de Chocolate, Beatlejuice, Aladim,
Futurama.
Para cenas sérias/tristes/dramáticas sugiro as trilhas de:
Forrest Gump, Mestre dos Mares, O Show de Truman, Náufrago, Sin
City, A Vila.

4. Ensaios
É bem difícil marcar o ensaio num horário acessível para todos
integrantes da equipe. Saiba disso desde o início. Marque o ensaio no
horário que for próprio para a maioria.
O ensaio deve começar com uma oração. Em seguida, o diretor
deve reunir a equipe e resumir novamente o conteúdo da peça.
Enquanto falar deve indicar no espaço cênico onde ocorrerão as cenas
e, na medida do possível, encenar sozinho cada papel.
É importante estabelecer ordem no ensaio. Se o diretor não tem
pulso firme o ensaio vira uma baderna. É comum que todos tenham
idéias, mas se todo mundo falar ao mesmo tempo ninguém entende
nada. Isso deixa o diretor exausto física e mentalmente, o ensaio não
rende e tempo precioso é desperdiçado. Por isso o diretor deve liderar o
ensaio com firmeza. Desde que haja ordem, o diretor pode e deve
permitir que todos opinem e contribuam para o refinamento da peça.
Quando o diretor também é o narrador da peça fica tudo muito
mais fácil no ensaio: o diretor narra e dirige a peça ao mesmo tempo.
Ensaie muito bem a primeira cena da peça e todas as transições
de uma cena para outra. Quando a abertura fica mal ensaiada a peça
afunda.
Certifique-se que a voz dos atores seja audível em todo
auditório. Se o espaço for muito grande, espalhe pedestais com
microfones ao redor do palco. Quando os diálogos de uma peça ocorrem
em tom baixo a platéia desanima.
Oriente o posicionamento dos atores em cada cena. Não esqueça
da velha regra de ouro: os atores não podem dar as costas para os
espectadores. Oriente os atores a usarem conscientemente as
expressões faciais.
Ensaie bem as cenas de ação como: lutas, perseguições,
afogamentos, corridas, etc. Tome muito cuidado com as cenas de
brigas. Já presenciei acidentes entre atores que encenavam lutas. Em
certa peça que apresentamos, um de nossos atores quebrou o nariz na
primeira cena por causa de um soco mal ensaiado. Ele foi direto para o
hospital colocar pontos. Por isso, as lutas devem ser coreografadas com
sutileza.
No ensaio também ocorre a regulagem do tempo. Uma peça num
culto de jovens não pode passar de 40 minutos. Com nossa experiência,
verificamos que uma peça que é ensaiada em 30 minutos rende 40
minutos na apresentação. É comum os atores expandirem um pouco
cada cena.
De qualquer forma, no decorrer do ensaio o diretor deve verificar
as pequenas pausas que somadas marcam um tempo demasiadamente
longo e desnecessário. Enquanto que algumas cenas devam ser
aceleradas, outras deverão ser freadas para que possam passar melhor
o seu efeito.
A quantidade de ensaios depende do rendimento da equipe.
Realizem o número de ensaios necessários até que toda peça possa ser
encenada duas ou três vezes sem nenhuma intervenção do diretor.

O ensaio geral
Na véspera ou no próprio dia da apresentação deve ser realizado
o ensaio geral, que é a pré-estréia da peça. É bom que o pastor assista
este ensaio para que possa fazer suas críticas.
Aqui em nossa igreja devido à experiência, seriedade e dedicação
da nossa equipe conseguimos realizar todos os ensaios no próprio dia
da apresentação. O ensaio começa de manhã e termina faltando uma
hora pra começar o culto. É um “ensaião” intensivo.

Como lidar com a falta de compromisso da equipe


Quando muitas pessoas começam a faltar sucessivamente nas
reuniões e ensaios, os líderes entram em pânico. É como se o grupo
começasse a evaporar.
Muitas vezes, a freqüência de pessoas cai quando os ensaios são
interrompidos por feriados, tempestades e contra-tempos de todo tipo.
O líder deve estar atento a esses fatos e se prevenir remarcando o
ensaio para outro dia. O líder nunca pode passar muito tempo sem
entrar em contato com seus liderados.
O líder também deve estar atento para ver se há algum aspecto
básico da reunião que não está funcionando e lutar para corrigi-los: O
horário do ensaio está adequado? O local do ensaio está adequado? Os
ensaios estão rendendo?
Há pessoas que deixam de ir aos ensaios por causa de algum
erro cometido pelo próprio diretor. Neste caso, cabe ao líder reavaliar
sua conduta, sua dedicação aos compromissos do grupo, seu trato e
suas palavras com seus liderados.
Por fim, existem aquelas equipes que têm seus membros
dispersos em razão de uma grande resistência espiritual. Todo trabalho
da igreja sofre violentos ataques do inimigo. O líder deve sempre ter isso
em mente. Liderar um ministério é muito mais um assunto espiritual do
que qualquer outra coisa. O inferno fará de tudo para que o teatro não
prospere.
Mas nós temos a arma mais poderosa da terra: a oração.
Satanás estremece diante dela. Quando oramos ele não pode fazer
nada. Quando oramos as mãos do inimigo ficam atadas. “Portanto,
submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4.7).
Falaremos disso a seguir.

5. Preparação espiritual
Não há ministério sem lutas. No desafiador ministério de teatro,
existe momentos de frustração, desânimo e esgotamento. Muitas vezes
o integrante da equipe cansa de suas atividades e pensa seriamente em
abandonar tudo.
Para uma missão sobrenatural, precisamos de uma capacitação
sobrenatural. Toda equipe deve buscar a plenitude do Espírito Santo. A
Bíblia nos ordena: “Enchei-vos com o Espírito” (Ef 5.18). Não existe um
mandamento mais abençoado, maravilhoso e magnífico do que este:
“Enchei-vos com o Espírito”. É o Espírito que nos capacita para o
trabalho.
Depois de tanto trabalho precisamos de um sopro do Espírito
para restaurar nossas forças. “Os jovens se cansam e se fatigam, e os
moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam suas
forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam” (Is 40.30-31).
Vigiem para não caírem em tentação. Não brinque com o
pecado, ele mata você. Robert McCheyne disse: “O que Deus abençoa
não é tanto os grandes talentos, mas uma grande semelhança com
Jesus. Um ministro santo é uma temível arma nas mãos de Deus”13.
Realize além das reuniões de ensaio, reuniões de oração.
Marque dias de jejum. “Somente quando nos ajoelhamos diante de
Deus é que nos tornamos aptos para pôr-nos de pé diante dos homens”
(John Kells).
Precisamos interceder. A oração abundante é fundamental
porque enche a atmosfera do culto com a presença de Deus. Ao entrar
no ambiente as pessoas sentem temor e reverência a Deus, percebem
que ali é um local diferente.
A oração traz os necessitados ao culto. A oração move as mãos
de Deus! Em épocas especiais de reavivamento no País de Gales e na
Escócia, Deus levou ocasionalmente pessoas para a igreja numa hora
em que os cultos não haviam sido sequer anunciados. Pessoas de todas
as direções começaram a se reunir ao mesmo tempo. Em 1850 nos
Estados Unidos reuniões diárias de oração eram realizadas ao meio-dia
em centenas de cidades. Milhares e milhares de pessoas não-salvas
eram atraídas para os cultos, e centenas de milhares foram salvas em
um só ano.
Charles Spurgeon, o Príncipe dos Pregadores, disse que oração é
o termômetro da igreja: “A condição da igreja pode ser avaliada com
grande propriedade por suas reuniões de oração. Portanto, a reunião de
oração é um „graçômetro‟, a partir do qual conseguimos avaliar a
importância do divino operando em determinado povo. Se Deus estiver
próximo a uma igreja, é preciso orar. E se ele não estiver, um dos
primeiros sinais será a negligência quanto à oração”14. Ele disse ainda:
“Se uma igreja não ora ela está morta”.
Em todas as peças que apresentamos, um grupo de jovens fica
intercedendo ininterruptamente durante o culto.

6. Apresentação
Uma vez que a peça foi bem ensaiada não há mistérios para o
dia da apresentação. Deixo aqui apenas alguns conselhos:
1. Divulgue a peça de teatro com, pelo menos, um mês de
antecedência. Faça propaganda nos cultos da igreja, distribua flyers e
panfletos, anuncie na internet.
2. A equipe deve chegar antes do culto começar. Todos precisam
estar descansados no dia da apresentação. O desgaste físico derruba a
produtividade de qualquer pessoa. Não se esgote: descanse, durma,
relaxe! Jesus caminhava para todos os lados porque tinha disposição
física. Ele tinha disposição porque descansava. “Certo dia Jesus disse
aos seus discípulos: „Vamos para o outro lado do lago‟. Eles entraram
num barco e partiram. Enquanto navegavam, ele adormeceu” (Lc 8.22-
23).
3. Seja original na recepção. Coloque introdutores vestidos com
roupas e acessórios relacionados ao tema da peça. Coloque banners e
pôsteres da peça.
4. Teste várias vezes os microfones instalados em pedestais ao
redor do palco. Certifique-se que eles estejam funcionando e em volume
adequado. Sem eles ninguém pode ouvir com clareza a voz dos atores.
5. Oriente o público para que não obstrua as passagens por
onde os atores entrarão.
6. Todos os atores precisam estar muito atentos ao momento
certo de entrar em cena.
7. Mesmo os melhores atores tendem a sentir pelo menos um
pouco de nervosismo. E quanto menos experiente, mais o sente.
Portanto, se você for ator e sentir algo (mãos úmidas, suor,
esquecimento de detalhes importantes), respire fundo. Os
fonoaudiólogos ensinam que aumentando a entrada de ar e a absorção
de oxigênio, acalma-se o sistema nervoso e o cérebro funciona melhor.
8. O operador do som não pode esquecer de aumentar o volume
da sonoplastia e trilha sonora.
9. O narrador/diretor deve ficar na mesa de som ao lado do
operador do som. Desta forma narração e música ficam sincronizadas.
10. O narrador precisa ter um copo de água do seu lado.
11. O narrador não deve intervir exageradamente.
12. Filme e grave a peça em dvd.

O apelo
A pregação do evangelho deve comunicar com urgência a
necessidade de uma resposta individual. A pregação deve convocar o
incrédulo a confiar em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. O pastor
John Stott, um dos líderes evangélicos mais respeitados do mundo
disse: “Não basta ensinar o evangelho; precisamos insistir com os
homens para que o recebam”15. Os não-crentes precisam ter uma
oportunidade de manifestar sua vontade de ter um compromisso com
Jesus.
O apelo tradicional de convidar as pessoas ao altar é apenas
uma das formas de exigir das pessoas compromisso com a mensagem.
O apelo não é auto-conversão. O apelo não é uma condição para a
salvação. O ato de “vir à frente” não salva ninguém. “A salvação
pertence ao Senhor!” (Jn 2.9). Somente ele pode salvar vidas! Ele é
Soberano. “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o
atrair” (Jo 6.44).
Portanto, terminada a peça o pastor deve subir imediatamente
ao púlpito e ser direto no apelo. Ele deve pegar o “gancho” e aplicar a
mensagem da peça na vida das pessoas.
Por exemplo: no final da peça dos “Inacreditáveis”, o pr. Lucinho
subiu ao púlpito usando uma máscara igual dos heróis da peça. Ele
enfileirou cada inimigo no púlpito. Começou então a apresentar cada
um deles e questionar a platéia: “Aqui está o Vício! Como é triste ver
quantos jovens estão sendo escravizados por ele! Quantas mortes,
quantas overdoses, quantos futuros arruinados, quantos suicídios!
Quantos de vocês querem se ver livres do Vício esta noite?”. E assim ele
desmascarava cada inimigo: Depressão, Imoralidade, etc.
Tive o privilégio de ver uma poderosa manifestação de Deus
quando fomos ao Vale do Jequitinhonha e apresentamos aquela simples
peça (que citei no início deste texto) no Colégio Estadual de Salinas:
Havia mil jovens no pátio do colégio. Quando entramos, eles nos
zombavam, ridicularizavam e falavam palavrões.
Durante a apresentação da peça eles gritavam: “queremos
cachaça mesmo!”, “queremos essa prostituta ai!” e coisas desse tipo.
Mas quando chegou o fim da peça, Jesus venceu o Diabo e
aqueles jovens se calaram. Em seguida, contamos nosso testemunho de
vida. Contamos como Jesus nos libertou das misérias do pecado e nos
deu uma nova vida.
No fim, eu fiz um apelo curto e direto: “Vocês ouviram esta
mensagem. Vocês precisam se arrepender de seus pecados e confessar
Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Quem quiser uma oração venha
até aqui para orarmos com você!”.
Todos ficaram parados em silêncio. Até que o primeiro veio, e o
segundo e depois o terceiro. Dezenas e centenas de jovens começaram a
se ajoelhar e a chorar arrependidos por seus pecados.
Começamos a orar por aqueles jovens. Alguns demônios se
manifestaram porque não podiam suportar a presença de Jesus
naquele lugar. Começamos a orar e todos estavam chorando. Havia um
conjunto musical da igreja presbiteriana de Salinas conosco e todos eles
também estavam no chão chorando alto.
Naquela manhã 600 jovens fizeram um compromisso com Jesus
Cristo. Vários jovens foram impactados pela mensagem do evangelho.
Distribuímos centenas de exemplares do Novo Testamento. Todos
pediam orações. Glória a Deus! Este é o poder do Evangelho!
O diretor do colégio nos procurou aflito e pediu insistentemente
que repetíssemos aquela apresentação de tarde e de noite.
Mas a decisão de ir à frente não pode ser um ato isolado. A
principal evidência que mostrará se um jovem realmente quer viver com
Jesus, ou não, é sua fome por conhecer mais a respeito de Cristo. Por
isso é muito importante que o ministério com jovens esteja preparado
para fornecer essas instruções, acompanhar esses novos crentes,
discípula-los e levá-los a uma conversão profunda e integração
verdadeira à igreja.

7. Celebração
É um grande privilégio e uma grande benção servir ao Reino de
Deus. Esta é a única obra na terra que produz frutos que podemos
apreciar para sempre no céu. Até mesmo profissões nobres e
respeitadas, como a medicina, cuidam apenas de coisas temporais, pois
a vida que temos neste mundo é passageira. Mas servir e viver de
acordo com a vontade de Deus nos trará benção eterna. Uma vez que
ganhar almas é uma missão com conseqüências eternas, nossa
participação nos trará satisfação infinita.
Quando você se envolve nas atividades da igreja sua capacidade de
resistir às tentações aumenta. A pessoa desocupada está por demais
sujeita a tentações e fracassos. Um célebre exemplo bíblico é o do rei
Davi. Ele adulterou porque, enquanto os homens de Israel estavam no
campo de batalha, no meio de uma guerra, Davi estava à toa no palácio
vendo o que não devia. Uma vida dedicada a salvar outras vidas cresce
espiritualmente. A vida cristã deve ser de progresso, de conquistas
espirituais, tendo em vista a santificação. Quando trabalhamos com
todo o nosso coração no Reino, maior é o nosso amor, maior a fé, maior
o período de oração, maior o compromisso com a Bíblia.
“Os que servirem bem alcançarão uma excelente posição e grande
determinação na fé em Cristo Jesus” (1Tm 3.13). “E se alguém der
mesmo que seja apenas um copo de água fria a um destes pequeninos,
porque ele é meu discípulo, eu lhes asseguro que não perderá a sua
recompensa” (Mt 10.42). “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-
se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do
Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será
inútil” (1Co 15.58). “Sejam fortes e não desanimem, pois o trabalho de
vocês será recompensado” (2Cr 15.7).

Notas

1
CHAMPLIN, Russell Norman; BENTES, João Marques. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia. São Paulo: Candeia, 1995, p. 409.
2
MARSHALL, I. Howard. Atos: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 297.
3
LANG. J. Stephen. 777 curiosidades sobre a Bíblia e seu impacto na história e na cultura.
São Paulo: Vida, 2006, p. 274.
4
LARSEN, David L. Anatomia da pregação. São Paulo: Vida, 2005, p. 112.
5
SHAKESPEARE, William. O mercador de Veneza. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005, p. 30.
6
KENNEDY, D. James. E se Jesus não tivesse nascido? São Paulo: Vida, 2003, p. 231.
7
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 803.
8
LOPES, Hernandes Dias. A importância da pregação expositiva para o crescimento da
igreja. São Paulo: Candeia, 2004, p.83.
9
LLOYD-JONES, D. Martyn. Pregação e pregadores. São José dos Campos: Fiel, 1998.
10
STOTT, John. Eu creio na pregação. São Paulo: Vida, 2003, p. 354.
11
ZACHARIAS. Ravi. Do coração de Deus. Rio de Janeiro: Textus, 2002, p.1.
12
OLIVEIRA, Elinês de. Teatro como sistema modernizante. Disponível em:
<http://www.pucsp.br/pos/cos/cultura/teatro.htm> Acesso em: 14 de agosto de 2007.
13
MC CHEYNE, Robert Murray. Sermões. São Paulo: PES, 2005.
14
MILLER, Steve. Liderança espiritual segundo Spurgeon. São Paulo: Vida, 2004, p. 31.
15
STOTT, John. O perfil do pregador. São Paulo: Sepal, 1991, p. 75.

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