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Associação para o Desenvolvimento Social de Joanópolis – Pró-Joá

Projeto “Bacia do Rio Jacareí”

CONSCIENTIZAR VALE A PENA?

Diego de Toledo Lima da Silva¹ (DA SILVA, D. T. L., 2011)


1. Técnico Ambiental da ONG Pró-Joá e Responsável pelo Projeto “Bacia do Rio Jacareí”.
Joanopolis/SP. E-mail: (diegoaikidojoa@hotmail.com).

Em 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água, o nosso recurso natural mais


valioso e indispensável para a vida no planeta. Esta data, criada pela ONU (Organização das
Nações Unidas), é destinada à discussão sobre o tema “água”, as alternativas para sua
conservação e manejo adequado. No âmbito desta data e das atividades comemorativas que são
realizadas no mundo todo, gostaria de conversar com o leitor sobre um tema importante para a
questão água: a conscientização ambiental.
Para desenvolver este objetivo, proponho respondermos a seguinte pergunta:
“Conscientizar vale a pena?”
Formada por dois hidrogênios (H) e um oxigênio (O), a água é uma molécula polar, o que
lhe atribui a propriedade de ser um solvente. Mas ao contrário do que é falado por muitas pessoas,
a água não é um solvente universal, tendo como exemplo a água e o óleo, que não se misturam.
Duas de suas características são apresentar extrema facilidade de regeneração e estar presente na
natureza nos 3 estados: líquido, sólido e gasoso. Também tem baixo potencial de ionização, o que
atribui a água a propriedade de ser mau condutor de eletricidade, como exemplo, quando
realizamos a análise de condutividade elétrica (uma análise que infere uma medida indireta de
poluição da água e da quantidade de sólidos presentes) de uma amostra de água de um curso
d’água (rio, córrego ou represa), os resultados são expressos em Micro Siemens por centímetro
(μS/cm), o que equivale a 10-6, ou seja, 0,000001.
Mas voltando à pergunta proposta, por que eu devo saber de todas estas características
físico-químicas da água?

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A resposta é muito simples, como podemos conservar ou manejar adequadamente a água


se não conhecemos suas características e como ela vai se comportar na natureza. Portanto, muito
é dito nas mídias sobre a necessidade de uso racional e preservação da água, mas como fazer
isso? E para responder mais esta indagação, vamos trabalhar com a água em nosso dia-a-dia.
O primeiro aspecto abordado neste sentido é o caso dos detergentes e sabões em pó,
amplamente empregados em nosso cotidiano, que são um dos constituintes mais importantes no
esgoto, quando considerados no tratamento e no lançamento nos rios e córregos. Isso porque em
sua composição o detergente é formado por um Tensoativo Aniônico, que é responsável pela
característica mais importante e desejada em um detergente, a capacidade de remoção das
sujeiras. Isso é possível devido a sua estrutura, constituída de uma parte hidrofílica (que interage
com a água) e uma parte hidrofóbica (reage com óleos e gorduras).
Geralmente o componente ativo empregado atualmente é o Linear Alquil Benzeno
Sulfonato de Sódio (LASna), comumente chamado de ácido sulfônico. Este componente tem um
baixo custo de produção como também é um excelente detergente, emulsionante, promotor de
espuma e molhante. São compostos de biodegradabilidade mais rápida (degradam-se em contato
com o meio ambiente), se comparados a outro componente ativo também utilizado, o Alquil
Benzeno Sulfonato de Sódio.
Os detergentes afetam profundamente a tensão superficial da água, pois a coesão
molecular da camada superficial das águas é essencial para uma infinidade de seres aquáticos,
inclusive de grande porte, como os patos. Os detergentes reduzem muito a força de coesão entre
as moléculas de água, permitindo maior poder de difusão e penetração. Com este processo,
produzem danos na fauna microbiana aquática (como bactérias e fungos) que vive na superfície
das águas, e afetam todos os seres aquáticos.
Outro problema é a presença de fósforo na formulação química dos detergentes, elemento
considerado o agente do processo de eutrofização dos cursos d’água (enriquecimento de
nutrientes nos cursos d’água, provocando o crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas,
afetando a qualidade da água e provocando o envelhecimento do curso d’água), pois o fósforo é o
principal agente limitante da produtividade do meio aquático.
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Para evitar ou diminuir este tipo de problema, uma solução é o uso racional e adequado
dos detergentes e sabões em pó, e cobrar das empresas fabricantes que os produtos sejam
ambientalmente mais adequados, bem como cobrar do poder público que os esgotos sejam
tratados adequadamente.
O segundo aspecto é o óleo de cozinha usado, muitas vezes despejado na pia da cozinha,
no vaso sanitário ou diretamente no solo. Este resíduo, quando descartado de forma errada,
constitui num vetor de poluição hídrica e de impermeabilização do solo, impactando
negativamente o meio ambiente. Pesquisas apontam que, para cada 1 litro de óleo descartado na
rede de esgoto (quando o esgoto não é tratado), 1 milhão de litros de água são poluídos.
O problema do óleo persiste mesmo nos municípios onde há tratamento, como em
Joanópolis, pois o óleo é um poluente potencial e pode ocasionar diversos problemas nas
tubulações das residências e até mesmo na rede coletora de esgoto, como o entupimento e o
refluxo de efluente.
Para solucionar esta questão, basta armazenar o óleo depois de usado num recipiente
(garrafas PET, por exemplo) e entregar num ponto de coleta (a maioria dos municípios possui
este tipo de Eco-Ponto, como os diversos pontos espalhados em Joanópolis). Levantamento
realizado pela ONG Pró-Joá, ao final do ano de 2010, após 4 meses de implantação dos Eco-
Pontos, demonstrou que foram coletados 450 litros de óleo, garantindo a preservação de 450
milhões de litros da água dos rios e córregos, caso este resíduo fosse descartado sem tratamento.
Para termos idéia do que representa este volume, a ETA (Estação de Tratamento de Água)
de Joanópolis trata, atualmente, uma vazão média de 25 litros por segundo em jornada de 20
horas por dia, o que equivale a 1 milhão e 800 mil litros de água tratados diariamente. O volume
de água preservado com a coleta de óleo de cozinha usado (450 milhões de litros) seria suficiente
para abastecer a população joanopolense durante 250 dias consecutivos!
Entretanto, esta marca só pode ser alcançada com o engajamento e participação da
população, que consciente de suas responsabilidades e preocupada com a qualidade vida, colocou
em prática sua consciência ambiental.

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O terceiro aspecto a ser abordado é a questão do “lixo”, muito séria e fruto de diversos
problemas. Os resíduos sólidos (lixo) constituem uma das questões ambientais mais importantes
da sociedade atual, pois o volume de resíduos gerado por pessoa cresce anualmente, devido à
melhoria do poder de compra da população e, consequentemente, do aumento do consumo. Além
de aumentar o volume de lixo, há a diversificação dos resíduos, com novos produtos e novos
problemas ambientais, como o lixo eletrônico (computadores, celulares, pilhas), lâmpadas
fluorescentes, resíduo hospitalar (frascos de remédio, seringas, curativos e outros produtos
utilizados cotidianamente pela população), entre outros.
Uma questão a ser abordada é como descartamos os resíduos, muitas vezes de maneira
inadequada, despejando nas ruas, cursos d’água, terrenos baldios, nas matas e bocas de lobo.
Estes resíduos que, além de permanecer durante anos no meio, podem acarretar problemas como
entupimento da rede de drenagem e contribuir para a ocorrência de deslizamentos, afetando a
população por problemas costumeiramente vistos na época das chuvas. Mas quando colocamos o
lixo para a coleta por parte do município, para onde estes resíduos estão sendo levados? Para um
lixão, um aterro sanitário? Este aterro está sendo bem ou mal operado?
Quanto à questão do “lixo” devemos criar uma cultura de consumo consciente, exigir dos
fabricantes produtos compatíveis e adequados; realizar a coleta seletiva, separando o resíduo
orgânico (restos de comida, frutas e cascas) do material reciclável (papel, papelão, vidro, latas,
plástico, embalagens de leite, entre outros) e buscar catadores de materiais recicláveis,
cooperativas ou incentivar que a Prefeitura Municipal realize esta atividade, direta ou
indiretamente; quando estivermos fora de nossas residências, descartar os resíduos em locais
adequados, como lixeiras e tambores de coleta, pois o despejo inadequado é um desrespeito ao
meio ambiente e às outras pessoas que frequentam estes ambientes públicos; e buscar
informações de como estão sendo operados os locais de disposição final dos resíduos sólidos
(como os aterros sanitários) e cobrar das Prefeituras Municipais que estes locais sejam bem
operados e tenham prioridade em políticas municipais.
Por fim, o quarto aspecto é o uso da água em nossas atividades diárias. A água utilizada
nas áreas urbanas e rurais tem como fonte um manancial superficial (nascentes, rios, córregos e
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lagos) ou subterrâneo (poços profundos ou rasos), que em locais atendidos pela rede de
abastecimento, passam por tratamento em uma ETA (Estação de Tratamento de Água, como no
caso da área urbana de Joanópolis) ou por um processo de simples desinfecção (aplicação de
cloro), fluoretação (aplicação de flúor) e correção de pH (Potencial Hidrogeniônico), como no
caso de loteamentos atendidos por poços tubulares profundos (como o Loteamento Porto
D’Analis). Após o processo de tratamento, a água é distribuída através de uma extensa rede de
tubulações e um conjunto de equipamentos, que tem como objetivo levar água até a residência ou
estabelecimento do consumidor.
A quantidade de água utilizada diariamente em determinada localidade depende da cultura
da população, dos costumes locais, da quantidade de plantas industriais, da época do ano (frio e
calor), entre outros aspectos. O desperdício de água gera sérios problemas, seja pelo aumento do
consumo global ou pelo simples fato de estarmos jogando fora um bem valioso e raro em nosso
planeta, a água de qualidade. Outro fato são as perdas no sistema de abastecimento, que varia de
local para local, comprometendo a sustentabilidade do sistema de abastecimento público, além de
encarecer o serviço.
Entender que a quantidade e a qualidade da água no meio ambiente variam conforme a
época do ano (chuva e seca) é essencial para compreendermos o porquê de usarmos
racionalmente a água. Enfrentamos picos no ano, uma época de chuva, ocasionando as cheias dos
rios e córregos, inclusive com inundações e enchentes; e uma época de estiagem, com diminuição
do volume de água disponível para captação, podendo em alguns casos, dependendo da duração
da estiagem, comprometer todo o abastecimento de uma população.
Hoje estamos lidando com muita chuva, mas não podemos esquecer que há alguns anos
atrás estávamos lidando com uma severa estiagem, com racionamento e até falta de água e
diminuição dos níveis dos reservatórios de abastecimento. Analisando os dados estatísticos de
chuva, que temos desde 1938 para a região, percebemos que períodos de cheia e estiagem são
cíclicos (alternados), então existem anos muito chuvosos e anos que chove muito pouco.
Acabamos de enfrentar anos muito chuvosos, há a probabilidade que enfrentemos próximos anos
com pouca chuva, podendo vir a causar problemas de abastecimento da população.
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Para esta quarta questão, simples atitudes como diminuição do tempo de banho; fechar as
torneiras quando não estiver usando; verificação de vazamentos na rede; não usar a água como
vassoura para limpar quintais e áreas; manter áreas verdes nas residências (como jardins e hortas,
permitindo a infiltração de água no solo); reaproveitamento da água de chuva para atividades
como limpeza de quintais e rega de plantas; não construirmos nas margens de rios e córregos;
cobrar da empresa de abastecimento público que diminua as perdas de água no sistema; e difundir
estes conceitos com outras pessoas demonstram ser eficientes para criarmos uma cultura de uso
racional da água.
Depois do explanado acima, podemos responder a pergunta que intitula este texto:
“Conscientizar vale a pena?”
Com toda certeza sim, depende apenas de mudança de atitudes, difusão de
informações e consciência ambiental.

Figura 1 – Barragem de abastecimento público, localizada no manancial superficial córrego do


Bocaina, na cabeceira do rio Jacareí. É desta barragem que é captado um volume de 10 litros por
segundo para abastecimento da população joanopolense localizada na área urbana.
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