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Epístola 29 de Sêneca a Lucílio

Parágrafos 4 a 7
Professora: Dra. Ingeborg Braren
Aluno: Luís Carlos Lima Carpinetti

Ainda não perdi toda a esperança em nosso Marcelino: ainda


agora podemos salvá-lo, se estendermos a ele rapidamente a mão.
Há, porém, o risco de que, ao estendermos a mão, sejamos
puxados: grande é nele a força da inteligência, mas que já tende
para o mal. Não obstante enfrentarei este risco e ousarei mostrar-lhe
seus males. Fará o que costuma fazer: convocará seus famosos
gracejos que podem provocar o riso naqueles que estão de luto; e
primeiramente zombará de si, depois, de nós: ele prevenirá tudo que
eu estiver disposto a falar. Remexerá em nossas escolas e lançará
diante dos filósofos as distribuições gratuitas de vinho, as amantes e
os prazeres da mesa. Mostrar-me-á um cometendo adultério, outro
na taverna, outro na corte; mostrar-me-á o encantador filósofo
Aristão que discorria passeando de liteira: ele tinha reservado este
tempo de sesta para os seus trabalhos. Como alguém indagasse
sobre a seita a que ele pertencia, Scaurus disse que “certamente, ele
não é um peripatético”. Quando Julius Graecinus, homem distinto, foi
consultado sobre o que sentia pelo mesmo filósofo, disse: “Não
posso dizer-te, realmente ignoro o que ele seja capaz de fazer a pé”,
como se estivesse sendo interrogado sobre um gladiador que
combatia de carro. Ele me lançará na cara estes nossos ambulantes
que, se fossem mais honestos, teriam abandonado a filosofia em vez
de vendê-la. Eu determinei, porém, aturar até o fim as afrontas: que
ele provoque em mim o riso, eu talvez lhe arrancarei lágrimas, ou se
se mantiver rindo, eu me alegrarei tanto quanto é possível alegrar-se
com o mal, porque para ele o gênero da loucura atingiu a alegria.
Mas essa alegria não é duradoura. Observa e verás as mesmas
pessoas em um curto intervalo de tempo rirem às gargalhadas e se
enfurecerem violentamente.

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