Parágrafos 4 a 7 Professora: Dra. Ingeborg Braren Aluno: Luís Carlos Lima Carpinetti
Ainda não perdi toda a esperança em nosso Marcelino: ainda
agora podemos salvá-lo, se estendermos a ele rapidamente a mão. Há, porém, o risco de que, ao estendermos a mão, sejamos puxados: grande é nele a força da inteligência, mas que já tende para o mal. Não obstante enfrentarei este risco e ousarei mostrar-lhe seus males. Fará o que costuma fazer: convocará seus famosos gracejos que podem provocar o riso naqueles que estão de luto; e primeiramente zombará de si, depois, de nós: ele prevenirá tudo que eu estiver disposto a falar. Remexerá em nossas escolas e lançará diante dos filósofos as distribuições gratuitas de vinho, as amantes e os prazeres da mesa. Mostrar-me-á um cometendo adultério, outro na taverna, outro na corte; mostrar-me-á o encantador filósofo Aristão que discorria passeando de liteira: ele tinha reservado este tempo de sesta para os seus trabalhos. Como alguém indagasse sobre a seita a que ele pertencia, Scaurus disse que “certamente, ele não é um peripatético”. Quando Julius Graecinus, homem distinto, foi consultado sobre o que sentia pelo mesmo filósofo, disse: “Não posso dizer-te, realmente ignoro o que ele seja capaz de fazer a pé”, como se estivesse sendo interrogado sobre um gladiador que combatia de carro. Ele me lançará na cara estes nossos ambulantes que, se fossem mais honestos, teriam abandonado a filosofia em vez de vendê-la. Eu determinei, porém, aturar até o fim as afrontas: que ele provoque em mim o riso, eu talvez lhe arrancarei lágrimas, ou se se mantiver rindo, eu me alegrarei tanto quanto é possível alegrar-se com o mal, porque para ele o gênero da loucura atingiu a alegria. Mas essa alegria não é duradoura. Observa e verás as mesmas pessoas em um curto intervalo de tempo rirem às gargalhadas e se enfurecerem violentamente.