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Patronímicos

O patronímico (do grego πατρωνυμικός, πατήρ "pai"


e ὄνομα, "nome") é um nome ou apelido de família
(sobrenome) cuja origem encontra-se no nome do pai
ou de um ascendente masculino.
O uso do patronímico foi um procedimento muito comum em todas as
comunidades humanas para distinguir um indivíduo dentro de seu grupo,
no qual havia inúmeras pessoas com o mesmo prenome ("nome de
baptismo"). Assim, "José o filho de João" ou "António o filho de André". Por
economia de palavras, passou-se a usar "José de João" e "António de
André" e, muitas vezes, suprimiu-se também a preposição "de". Desta
forma se explicam os números sobrenomes cuja origem imediata e
evidente é um prenome, como "Anes" ou "Eanes" (filho de João),
"Fernandes" (filho de Fernão/Fernando), "Dias" (filho de Diogo),
"Rodrigues" (filho de Rui/Rodrigo), "Gonçalves" (filho de Gonçalo),
"Tomás", "Jorge", "Simão", etc.
De fato, o patronímico, ou seja, o apelido de família cuja origem
onomástica é o prenome do pai ou de um ancestral masculino configura o
caso mais frequente na formação dos sobrenomes. Estes Patronímicos
referiam-se ao nome do pai, não constituindo verdadeiros nomes de
família, o que só aconteceu a partir do século XVI, aproximadamente. Um
João filho de Ramiro, seria João Ramires, seu filho Nuno, seria Nuno Eanes,
um neto Fernando, filho do último, seria Fernando Nunes, etc.

Patronímicos Portugueses
Os sobrenomes ibéricos com sufixo -es (Português -es, Espanhol -ez)
originam-se de patronímicos medievais, e a origem deste sufixo ainda é
muito discutida. Uns consideram-no como de origem basca, outros vêem
nele apenas uma derivação do genitivo latino –ici.
Onomástica

A onomástica (do grego antigo ὀνομαστική, acto de nomear, dar nome) é o


estudo dos nomes próprios de todos os géneros, das suas origens e dos
processos de denominação no âmbito de uma ou mais línguas ou dialectos.
Nascida na metade do século XIX, a onomástica é considerada uma parte da
linguística, com fortes ligações com à história e à geografia.

Embora a ideia de abordar sistematicamente os nomes próprios tivesse surgido


com os estudos que os eruditos renascentistas fizeram dos clássicos greco-
latinos, considera-se que o estudo dos antropónimos começou verdadeiramente
no século XVII. Algumas das obras desta época, como o Traité de l'origine des
noms et des surnoms de A. de La Rocque (Tratado da Origem dos Nomes e
Apelidos , 1681), ainda hoje têm valor científico; certamente mais do que alguns
trabalhos do século XIX, escritos por curiosos sem grande espírito crítico, ou até
do século XX, em que etimologias discutíveis se misturam com interpretações
astrológicas de valor duvidoso.
É curioso notar que a grande maioria das obras publicadas sobre este tema são
estrangeiras. Ainda está por fazer um estudo definitivo da onomástica
portuguesa. Mas há trabalhos parciais, desde o Onomástico Medieval Português
de A. A. Cortesão aos valiosos estudos de José Pedro Machado, passando pelas
obras de J. Leite de Vasconcelos, Sousa Viterbo, Paiva Boléo, Pedro Serra e
outros.
Pode explicar-se, muito esquematicamente, como podemos vir a conhecer as
origens dos nomes. Recorremos para tal a duas ciências auxiliares da História: a
epigrafia e a paleografia. A primeira ensina-nos a ler as inscrições em pedra,
madeira, marfim, barro, etc.; a segunda os textos escritos em papel, papiro ou
pergaminho. Estes documentos, se forem datados e comparados uns com os
outros, em ordem cronológica, permitem-nos seguir a evolução de um nome, e
por vezes até reconstituir um nome que sabemos que deve ter existido, mas de
que não conhecemos um exemplo escrito.
Chegaram até nós milhares de inscrições antigas que incluem nomes, desde os
textos sumérios até às lápides funerárias paleocristãs. A Idade Média deixou-nos
um número considerável de documentos em pergaminho, geralmente escrituras
ou testamentos, quer isolados quer em códices, de valor inestimável para a
onomástica, e em especial para a antroponímia. Sobretudo a partir do
Renascimento, podemos também contar com obras literárias. Os nomes mais
recentes podem ser estudados através da imprensa, de alguns estudos
sociológicos e até dos diplomas legais.

A onomástica pode ser assim dividida:

1. Toponímia
A toponímia é o estudo dos nomes de lugar, da sua origem e evolução.
O significado dos nomes dos lugares mais antigos perdeu-se com o correr dos
séculos, mas a curiosidade dos povos pelo seu passado comum não esmoreceu.
Ao firmar-se a identidade colectiva de um lugar, era natural que se criassem
lendas para explicar a razão de ser dos seus nomes: "Já pus o pé nela!", por
exemplo, teria dado origem a Penela... O século XVIII, sobretudo, está cheio de
histórias curiosas, de inegável interesse cultural mas sem qualquer valor
científico.
Cabe aos eruditos franceses d'Arbois de Jubainville e Longnon a glória de terem
criado uma nova ciência auxiliar da História, a toponímia, que se dedica ao
estudo da origem e etimologia dos nomes dos locais. É um dos ramos principais
da onomástica, ciência que também abrange a antroponímia, ou estudo dos
nomes das pessoas.
A toponímia é uma ciência difícil, muito mais do que a antroponímia. Exige uma
sólida base de erudição, uma metodologia segura e uma dose razoável de
experiência e de bom senso. Requer o domínio da História, da paleografia, da
epigrafia, da arqueologia e da etnologia, além de bons conhecimentos filológicos
e dialectológicos. E, mesmo assim, há muitas dúvidas que persistem - e que só a
descoberta de novos documentos ou inscrições, ou uma melhor interpretação dos
existentes à luz das conquistas mais avançadas da ciência, poderão resolver.
Apesar de tais dificuldades, a toponímia tem sido muito cultivada nas últimas
décadas, porque se tem revelado preciosa nos mais variados domínios das
ciências históricas e filológicas. É graças à toponímia que se pode ir desfazendo o
mito dos povos germânicos como bárbaros destruidores: os nomes das inúmeras
villæ - explorações agrícolas - que encontramos, sobretudo no norte do País,
mostram que os seus possuidores originais eram, na sua maioria, lavradores de
etnia germânica. É também graças à toponímia que se podem reconstituir as
práticas agrícolas, as tradições religiosas, a extensão e penetração dos costumes
árabes, e até os vestígios das línguas pré-romanas, temas para os quais as fontes
escasseiam ou são de interpretação difícil.
As causas determinantes dos topónimos são variadas, e levam à divisão
convencional da toponímia em sub-grupos, os mais importantes dos quais são:
- a antrotoponímia , que trata dos topónimos derivados de nomes de pessoas;
- a arqueotoponímia , que trata dos topónimos derivados de nomes de sentido
arqueológico;
- a fitotoponímia , que trata dos topónimos derivados de nomes de plantas;
- a geotoponímia , que trata dos topónimos derivados da orografia e da geologia;
- a hagiotoponímia , que trata dos topónimos derivados do culto da Virgem e dos
santos;
- a hidrotoponímia , que trata dos topónimos derivados de nomes de rios, lagos e
fontes;
- a zootoponímia , que trata dos topónimos derivados de nomes de animais.

Como se determina o significado de um topónimo? Há dois caminhos principais. O


mais importante, mas também o mais demorado e difícil, é fazer o levantamento
do maior número possível de formas desse topónimo em documentos antigos e
estabelecer a sua cronologia - mas sem esquecer, ao mesmo tempo, que os
escribas, tabeliães e copistas não raro cometiam erros ou se entregavam a
fantasias de interpretação; e que alguns documentos são de autenticidade
duvidosa. Feito isto, é necessário consultar a documentação mais moderna que
se encontra em arquivos e repartições. E muitas vezes as dúvidas suscitadas pelo
topónimo obrigam a uma visita ao lugar: um suposto étimo que indica uma
colina, por exemplo, não teria razão de ser num local plano.
O segundo caminho, que é um complemento do primeiro, é estudar o topónimo
tal como hoje se apresenta: como se escreve, e sobretudo como é pronunciado -
porque, como sublinhou o insigne filólogo Manuel de Paiva Boléo, "a tradição oral
é geralmente bastante conservadora", e a ortografia oficial nem sempre está
isenta de erros.
Ao estudarmos a toponímia portuguesa, descobrimos dois aspectos que convém
destacar.
O primeiro, que é comum às toponímias dos outros países europeus, é a
existência de famílias de topónimos - formas baseadas no mesmo étimo e
relacionadas entre si. Para tornar a investigação mais interessante, as diferenças
regionais e dialectais criam por vezes famílias aparentadas.
O segundo é a grande afinidade entre a toponímia portuguesa, sobretudo ao
norte do Mondego, e a toponímia galega, o que não é para admirar, pois tivemos
um passado comum, tanto sob o aspecto histórico como linguístico.
Não podemos deixar de nos referir aos grandes nomes da toponímia portuguesa.
Sem deixar de atribuir o devido valor a eruditos como A. A. Cortesão ou Frei
Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, pode dizer-se que a toponímia científica
entrou em Portugal pela mão de J. Leite de Vasconcelos, cujos estudos
onomásticos ainda hoje são citados pelos especialistas.
Posteriormente, Manuel de Paiva Boléo, Ferraz de Carvalho, José Pedro Machado
e Joaquim da Silveira deixaram-nos estudos de grande valor. A influência árabe,
que fora já estudada para Espanha por Miguel Asín Palacios, foi objecto dos
trabalhos de David Lopes e Pedro Cunha Serra. Finalmente, é justo recordar a
obra de A. de Almeida Fernandes, cujas investigações da toponímia medieval
destruíram confusões há muito arreigadas e abriram novos caminhos aos
especialistas.

2. Antroponímia

A antroponímia é o estudo dos nomes próprios das pessoas, sejam prenomes ou


apelidos de família e que tem grande relevância para a história política, cultural,
das instituições e das mentalidades.

Os nomes primitivos tinham um significado exacto, o que, aliás, correspondia às


exigências psicológicas e simbólicas das tribos que os usavam. Na Índia clássica,
as Leis de Manu exigiam que os nomes de mulher fossem doces, agradáveis e
fáceis de pronunciar, e que os dos homens exprimissem a missão essencial da
casta respectiva: os dos brâmanes deviam exprimir uma força benévola, os dos
guerreiros a força, os dos párias a abjecção. Os nomes hebraicos - como, de
resto, os dos povos semíticos contemporâneos - reflectiam a presença e atributos
de Deus, para os homens, e um simbolismo naturalista, no caso das mulheres
(uma jovem meiga, por exemplo, podia chamar-se Rachel , "ovelha").
Nos primeiros tempos do nomadismo e em tribos pequenas, um nome bastava;
mas, à medida que as comunidades iam aumentando, era inevitável haver
duplicações de nomes. O primeiro expediente para melhorar a identificação
pessoal foi acrescentar-lhe uma designação patronímica. Entre os hebreus,
sociedade essencialmente matriarcal, o nome do pai começou por ser
acrescentado como sinal honorífico, e só mais tarde foi geralmente reconhecido
como elemento de identificação.
Numa sociedade primitiva actual, como a dos Macondes (Moçambique), dar o
nome a um recém-nascido é uma cerimónia de grande significado social. Se a
criança é primogénita, recebe o nome do avô ou avó paternos; não o sendo, o dos
avós ou tios maternos. Se o casal tem muitos filhos e não sabe o nome que há-de
dar à criança, a ideia pode vir de um parente que os visite, que lhe dá o seu
nome e, mediante a oferta de uma galinha ou de dinheiro, fica a ser o seu
mbwana : a criança pertence-lhe, e ele adquire certas responsabilidades em
relação a ela.
Todavia, o nome dado ao recém-nascido não o acompanha até à morte. Ao
passar os ritos da puberdade, o mbwana dá-lhe outro, e o nome original não
torna a ser pronunciado. A razão para isto é que o nome está ligado a uma certa
personalidade; mudando esta - como sucede nos ritos da puberdade -, é forçoso
que o nome também mude. É pelo mesmo motivo que o maconde pode mudar
outra vez de nome, se passar por uma grande mudança de personalidade ou de
estatuto social. Pode mesmo suceder que um maconde se canse do nome que
tem e resolva mudá-lo; basta para isso informar os seus parentes e vizinhos que,
a partir daquele momento, se irá chamar Fulano.
À medida que a civilização avança, e com ela aumentam as responsabilidades
sociais, o nome ganha uma precisão e complexidade especiais. Na Grécia
clássica, a criança recebia dos seus pais um nome, sete ou oito dias após o parto;
e estes nomes - baseados nos deuses e seus atributos, nas qualidades físicas e
morais, na vida pública, etc. - variavam imenso. Para designar com precisão um
indivíduo, acrescentava-se ao seu nome um patronímico, ou o nome do pai em
genitivo, e a indicação do demo ou clã a que pertencia: o grande orador
Demóstenes chamava-se, em grego, Demosthénes Demosthénous Paianiéus ,
"Demóstenes, filho de Demóstenes, de Peaneia". Certas pessoas tinham também
sobrenomes. Os nomes das mulheres eram semelhantes, mas, após o casamento,
era frequente o nome do marido, em genitivo, substituir o patronímico.
Em Roma, a criança recebia um prenome (prænomen ) oito ou nove dias após o
seu nascimento, que era acrescentado ao nome da sua gens ou família (nomen
gentilicium ). Se pertencesse a uma classe social média ou elevada, adoptava
também um sobrenome (cognomen ), que indicava o ramo da gens a que
pertencia. Alguns indivíduos tinham ainda um agnomen ou apodo, geralmente
honorífico: Africanus , Torquatus , etc.
Um filho adoptivo recebia o nome de quem o adoptava, acrescentando-lhe um
segundo cognomen , terminado em -anus , que indicava a sua gens de origem: o
filho de Lucius Æmilius Paulus adoptado por Publius Cornelius Scipio ficou a
chamar-se Publius Cornelius Scipio Æmilianus .
Os libertos mantinham geralmente o seu nome de escravo como cognomen ,
acrescentado ao nomen gentilicium de quem os libertava. Não era permitido dar
a um escravo o nome de um homem ilustre, nem a uma criança livre um nome de
escravo.
Este sistema foi usado, com relativamente poucas alterações, até à queda do
Império Romano do Ocidente. As invasões bárbaras e a fundação de vários reinos
germânicos na Europa Central e Ocidental tiveram, entre muitas e variadas
consequências, a de fazer voltar a antroponímia ao velho sistema de nome e
patronímico (geralmente a forma genitiva do nome de baptismo do progenitor).
Este sistema encontrava-se também em uso entre os muçulmanos: ao nome de
nascimento (alam ou ism'alam ), correspondente ao prænomen , seguia-se o
nome de família (nasab ), correspondente ao nomen . Foi apenas quando se
tornou necessário precisar a identificação individual que a este nome básico se
acrescentaram outros elementos: o sobrenome (kunyah ), que precedia o nasab ;
um apodo (laqab ) indicando alguma particularidade física, psicológica ou
episódica; o nome de relação tribal (nisbah ); o nome de profissão (ism mansib );
e, em certos casos, ainda um pseudónimo poético (tahallus ). Na prática, todavia,
os homens do povo contentavam-se com o seu nome (alam ) e uma referência ao
progenitor (nasab ): Suleiman ibn Abdallah, 'Salomão filho de Abdalá'.
O sistema de nome e patronímico utilizado na Europa Ocidental veio a modificar-
se gradualmente durante a Idade Média. Ao nome de baptismo começou a
acrescentar-se um apelido, que entre os nobres podia basear-se no topónimo dos
solares ancestrais - Andrade, Vasconcelos, etc. - e entre os plebeus, que não
possuíam um feudo, podia resultar de uma alcunha, do lugar de proveniência ou
de outra característica distintiva. Estes apelidos vieram a tornar-se hereditários,
sobretudo a partir do século XVI para a nobreza e do século XVII para a burguesia
e o povo. Mesmo assim, a individualidade do nome era um sentimento tão forte
que ainda hoje se encontram sociedades em que a identificação se faz por nome
e patronímico, e não por nome e apelido: é o caso dos países nórdicos, em que ao
nome de baptismo se segue o do progenitor com o sufixo -son ou -dottir ,
conforme se aplique a um filho ou a uma filha. Um outro vestígio dos costumes
ancestrais persiste em Inglaterra, onde é possível, e relativamente fácil, mudar
de apelido mas não de nome de baptismo, que é o que realmente identifica um
indivíduo.
Com o decorrer dos tempos, a lei determinou que os apelidos de um indivíduo
fossem transmitidos aos seus descendentes, como direito que a estes assistia. É
o que ainda hoje sucede. Em Portugal, actualmente, o Código do Registo Civil
regulamenta a atribuição de nomes de baptismo, para evitar extravagâncias
ocasionais.

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