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UNIVERSIDADE GAMA FILHO

NÚCLEO DE BRASÍLIA
PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA EM DIREITO DA TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO

Magda De Conto

DIREITO AUTORAL VERSUS DIREITO À INFORMAÇÃO


EM BIBLIOTECAS DIGITAIS

Porto Alegre
2010
Magda De Conto

DIREITO AUTORAL VERSUS DIREITO À INFORMAÇÃO


EM BIBLIOTECAS DIGITAIS
Magda De Conto

DIREITO AUTORAL VERSUS DIREITO À INFORMAÇÃO


EM BIBLIOTECAS DIGITAIS

Trabalho de especialização apresentado ao


Programa de Pós-Graduação à Distância em Direito
da Tecnologia da Informação, da Universidade
Gama Filho, como requisito para obtenção do grau
de Especialista em Direito da Tecnologia da
Informação.

Orientador: Prof. Anderson Soares Furtado Oliveira

Porto Alegre
2010
UNIVERSIDADE GAMA FILHO
Reitora: Profa. Maria José Mesquita Cavalleiro de Macedo Wehling
Pró-Reitor de Humanidades e Ciências Sociais: Prof. Arno Wehling

Coordenação Geral dos Cursos em Direito


Guilherme Valadares Vasconcelos
Anderson Soares Furtado Oliveira

D296d De Conto, Magda


Direito autoral versus direito à informação em bibliotecas digitais / Magda
De Conto; orientador Anderson Soares Furtado Oliveira. – Porto Alegre,
2010.
78 f. ; 27 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação) - Universidade Gama


Filho. Curso à Distância em Direito da Tecnologia da Informação, 2010.

1. Direito Autoral 2. Direito à informação 3. Bibliotecas digitais I. Oliveira,


Anderson Soares Furtado. II. Título.

CDU – 347.78:004

POSEAD – Educação à Distância - Núcleo Brasília


L2 Sul – SGAS Qd. 603, cj. C
Brasília, DF
CEP: 70.200-630
Telefone: (61) 3218-8330
E-mail: acadêmico@posead.com.br
MAGDA DE CONTO

DIREITO AUTORAL versus DIREITO À INFORMAÇÃO


EM BIBLIOTECAS DIGITAIS

Monografia julgada e aprovada em: ....../...../......

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________
Prof. Anderson Soares Furtado Oliveira
Orientador
Universidade Gama Filho

____________________________________________________
Profa.
Universidade Gama Filho

____________________________________________________
Prof.
Universidade Gama Filho

Conceito final: ___________


“Aquilo que nos parece atualmente inerente à
natureza do direito, e, que é em grande parte
concepção inata da humanidade, não deve de
modo algum sua realização prática só ao poder
de convicção jurídica, à idéia da justiça. É,
também, obra da atividade humana, posta em
movimento, e nutrida às vezes por
considerações da vida e da pressão das
circunstâncias por motivos de oportunidade.
Quando estes factos efetuaram o trabalho mais
difícil, a ideia veio aproximar-se da obra e
tomá-la sob a sua proteção, como propriedade
que lhe pertence”.

Rudolf Von Jhering


RESUMO

O presente trabalho traça um histórico dos direitos autorais no mundo e no Brasil,


baseando-se em dois sistemas distintos de proteção aos direitos autorais: o de
Copyright e no Sistema Droit d’ Auteur, elencando concomitantemente algumas
convenções internacionais do qual o Brasil é signatário. Através de levantamento
bibliográfico e revisão da literatura, detalha as principais normas brasileiras a
tratarem deste assunto desde o Império até o presente momento. Analisa a atual
LDA, fazendo um paralelo com o Projeto de Lei em tramitação no Congresso e com
o texto que recentemente foi à consulta pública, ambos versando sobre sua
alteração. Aborda a sociedade da informação como sendo resultante das auto-
estradas da informação, da conectividade, acessibilidade, da interatividade e do uso
da tecnologia como mediante. Coloca o acesso à informação como sendo um direito
fundamental, passível de respeito. Situa o direito autoral em ambientes virtuais, mais
especificamente internet e bibliotecas digitais. Aponta a situação paradoxal existente
entre o direito autoral e o direito à informação, demonstrando o quanto o advento da
sociedade da informação ocasionou e alimenta esta situação. Já em suas
considerações finais coloca que tanto o sistema que protege em sua essência o
editor quanto o que protege o autor estão convergindo para uma proteção mútua, do
empresário e do autor contra plágios e contrafações, tendo em vista que neste
mercado capitalista globalizado, um não sobrevive sem o outro. Segundo os textos
analisados, no Brasil o problema maior não é a lei, mas a sua aplicação, sendo que
as bibliotecas digitais através das licenças de uso podem tornar acessíveis as
informações sem prejuízo ao autor, desde que resistências por parte de autores e
editores sejam quebradas. Pois, a necessidade de autorização para qualquer uso e
a larga duração dos privilégios obstam ao invés de promover a criação, a cultura e o
acesso à informação.

Palavras-chave: Direito Autoral. Direito à Informação. Lei dos Direitos Autorais.


Internet. Bibliotecas Digitais. Licenças de Uso.
ABSTRACT

This dissertation traces a detailed report of author’s protection in the world and in
Brazil, basing into two separate systems of author’s protection: Copyright and the
System Droit d' Auteur, listing concurrently some international conventions to which
Brazil is a signatory. Through bibliographical research and review of the literature,
details the main Brazilian rules treat with this subject since the Empire to the present.
Analyzes the current LDA, showing a parallel of the Bill in Congress with the text that
was recently in a public consultation, both which discuss the alteration of LDA. It
approaches the society of the information as being resulting from the freeways of the
information, connectivity, accessibility, interactivity and the use of technology as a
mediator. It puts the access to information as a fundamental right, susceptible to
respect. It situates the author’s protection in virtual atmospheres, more specifically in
the internet and digital libraries. It points the existent paradoxical situation between
the copyright and the right to the information, demonstrating how the advent of
information society caused and fuels this situation. Already in its closing argument
that puts both the system that protects the publisher in its essence, as it protects the
author are converging to a mutual protection, the entrepreneur and the author
against plagiarism and counterfeiting, considering that in this globalized capitalist
market, one doesn' t survive without the other. According to the texts analyzed, the
biggest problem in Brazil is not the law, but their implementation, and digital libraries
through the use licenses can turn accessible the information without prejudice to the
author, since resistance from authors and publishers are broken. Therefore, the need
for authorization for any use, and long duration of privileges hinders instead of
promoting the creation, the culture and the access to the information.

Keywords: Copyright. Information’s right. Copyright’s law. Author’s protection.


Internet. Digital libraries. Licenses of use.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 8
1.1Tema......................................................................................................... 9
1.2 Problema................................................................................................. 10
1.3 Justificativa............................................................................................. 10
1.4 Objetivos................................................................................................. 11
1.4.1Objetivo Geral......................................................................................... 11
1.4.2 Objetivos Específicos............................................................................ 11

2 METODOLOGIA......................................................................................... 13

3 HISTÓRIA DO DIREITO AUTORAL........................................................... 14

4 DIREITO AUTORAL NO BRASIL............................................................... 22


4.1 Lei dos Direitos Autorais de 1998......................................................... 25
4.2 Atualização e modernização da lei....................................................... 28

5 COMO A INTERNET AFETA O DIREITO AUTORAL................................ 32

6 SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E DIREITO À INFORMAÇÃO ........ 39


6.1 Sociedade do conhecimento................................................................. 39
6.2 Direito à informação............................................................................... 42

7 ERA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECAS DIGITAIS................................ 50


7.1 Bibliotecas digitais................................................................................. 50
7.2 Definição dos direitos autorais em bibliotecas digitais..................... 56
7.3 Uso de licenças...................................................................................... 57

8 DIREITO AUTORAL X DIREITO À INFORMAÇÃO................................... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 69

ANEXO........................................................................................................... 76
8

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de diferentes tecnologias proporcionou-nos o surgimento


da internet, e esta, por sua vez, uma massiva troca de informações entre as
pessoas. Se a prensa de Gutenberg proporcionou a democratização do
conhecimento entre o povo, através da proliferação de livros, o surgimento da web
acelerou vertiginosamente este processo, sendo considerado o terceiro marco (vindo
atrás do surgimento da escrita e da prensa) na arte da transmissão do
conhecimento.
A crescente produção de informação neste ambiente fez surgir verdadeiros
repositórios de dados acessíveis a um grande contingente de pessoas. Muitos
destes repositórios são conhecidos como bibliotecas digitais, ambientes que
disponibilizam a informação de forma organizada, presentes principalmente em
ambientes acadêmicos e governamentais, sem fins lucrativos, tendo como único
intuito o de divulgar o conhecimento ali presente de forma a contribuir com a
construção de uma sociedade mais igualitária, indo de encontro a um dos direitos
fundamentais: o direito à informação.
A evolução da internet, no entanto, interpõe-se diretamente a alguns valores
sociais e mercantis, principalmente quando o assunto envolve a preservação dos
direitos autorais.
Nesse sentido, pode-se observar que a internet ocasionou no mercado
livreiro, da música e das artes um estremecimento, pois os principais detentores dos
direitos autorais viram-se diante de uma troca massiva de arquivos entre usuários
através do uso de aplicativos, atividade esta que provocou baixa vertiginosa de suas
arrecadações, fazendo-os buscar novas formas de remuneração. A internet
aproximou o autor das obras intelectuais de seu usuário, muitas vezes abreviando o
caminho entre a obra-prima e seu apreciador, ou seja, colocando em segundo plano
o papel das editoras e gravadoras.
Autores e editores buscam hoje novos serviços como sendo a solução para
seus produtos e receitas declinantes, muitos deles utilizando-se do mesmo ambiente
que outrora os colocou nesta situação, há quem diga que estamos em plena crise da
propriedade intelectual.
9

As bibliotecas digitais neste contexto estariam violando os direitos autorais ao


disponibilizarem acesso a uma série de informações através de uma única interface
de pesquisa? Atualmente é possível atender ao direito à informação sem ferir os
direitos autorais? Que mecanismos estão sendo desenvolvidos para tornar isso
possível?
Buscando responder a estas questões, o trabalho primeiramente coloca a
evolução histórica do direito autoral, traçando um paralelo entre o copyright e o droit
d’auteur, colocando suas origens, principais diferenças e contribuições.
Em seguida discorre sobre o direito autoral no Brasil, analisando a Lei
9610/1998 bem como o projeto em tramitação no Congresso que tem como objetivo
alterar a mesma.
Logo depois, trata do direito de autor propriamente dito, sua natureza jurídica,
aspectos morais e patrimoniais, sua função sob vários pontos de vista, suas
limitações e a crise nos conceitos tradicionais de autor e obra diante da era digital.
Analisa também as principais questões ligadas ao direito autoral na internet.
Dando seguimento, dedica um capítulo em especial a sociedade da
informação, a democratização do conhecimento e o direito à informação,
O trabalho também examina as bibliotecas digitais como um todo, conceitua,
levanta suas funções para a sociedade, analisa as principais bibliotecas digitais
brasileiras, bem como coloca a aplicabilidade das licenças de uso neste ambiente.
Por fim, coloca os conflitos éticos e jurídicos entre direito à informação e
direito autoral sugerindo algumas alternativas para minimização destes.

1.1 Tema

O presente estudo pretende chamar a atenção para os aspectos envolvidos


na disponibilização de informações em bibliotecas digitais.
Especificamente, versará sobre as limitações impostas pelo direito autoral ao
direito à informação e conseqüentemente, sobre os conflitos éticos e jurídicos
surgidos.
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1.2 Problema

A disponibilização de informação por parte das bibliotecas digitais pode trazer


inúmeros benefícios à sociedade como um todo, partindo-se do pressuposto de que
todo indivíduo tem direito à informação.
Entretanto, isso também pode suscitar vários questionamentos referentes aos
direitos autorais na internet, ambiente em que estão inseridas as bibliotecas digitais, e
gerar diversos conflitos éticos e jurídicos.

1.3 Justificativa

O Direito serve como instrumento destinado a tutelar os interesses coletivos e


se posicionar diante das lides sociais. Porém, com o advento da internet, observa-se
que o Direito não está mais conseguindo acompanhar os avanços tecnológicos e o
comportamento desta sociedade “informacional”, sempre conectada, o que, por
vezes, faz com que muitos aspectos jurídicos neste novo ambiente fiquem
desatendidos. Apesar de a legislação procurar abarcar tudo e todos, colocando, por
exemplo, que os direitos autorais são válidos inclusive no ambiente web, na prática
verifica-se que há carência de uma legislação específica, que regulamente questões
mais pontuais.
É nesse ambiente que as bibliotecas digitais estão inseridas, procurando se
adaptar às questões de disponibilização e uso da informação na web e de respeito
aos direitos autorais. Mas, estão elas de acordo com a legislação vigente? Esta
legislação é adequada para este tipo de ambiente e sociedade informacional? Quais
são as alternativas apresentadas para o pleno cumprimento perante o Direito?

O tema proposto é polêmico, principalmente por se tratar de um assunto


interdisciplinar, envolvendo operadores do Direito, da Ciência da Informação, da
Informática, além de diversos outros segmentos.
11

O maior questionamento sem dúvida é jurídico, refere-se ao fato da


democratização da informação. Até que ponto pode-se considerar o direito à
informação sem ferir o direito das editoras e autores?
De um lado vemos alguns doutrinadores que afirmam que todos têm direito à
informação, que a disponibilização de obras em bibliotecas digitais pelos autores
coibiria o plágio, inclusive. Porém de outro lado temos os mais conservadores, que
alegam, por exemplo, que o uso de licenças de uso não levou a resultados
promissores.
Essa dicotomia necessita ser analisada, comentada e o resultado disso
disseminado de forma a contribuir para o avanço dessa matéria tão interessante que
é o direito digital.

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo Geral

O propósito central do estudo é a construção de um trabalho científico que


aborde como tema o direito à informação, particularmente da informação
disponibilizada em bibliotecas digitais e os aspectos jurídicos envolvidos nesse
processo, com relação à aplicação do direito autoral na internet.

1.4.2 Objetivos Específicos

a) Compreender a relação entre o direito à informação e o direito autoral;


b) Refletir a respeito do impacto das inovações tecnológicas sobre o universo
dos direitos autorais;
c) Esclarecer questões referentes ao direito à informação;
d) Verificar os meios utilizados para a garantia do acesso à informação;
e) Analisar e compreender o histórico da evolução do direito autoral no mundo e
no Brasil;
f) Verificar os meios utilizados para a garantia do direito autoral na internet;
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g) Analisar a atual lei referente aos direitos autorais no Brasil e o projeto em


tramitação no Congresso que visa sua reformulação;
h) Verificar a aplicação do direito autoral e do direito à informação em bibliotecas
digitais;
i) Analisar os princípios que regem os valores da sociedade contemporânea e
que, sendo o Direito o reflexo dos anseios sociais, interferem na edição da
legislação referente ao assunto;
j) Como objetivo conclusivo, o estudo tentará, após a revisão bibliográfica e
jurisprudencial, verificar a tendência mundial quanto à disponibilização de
informações em bibliotecas digitais.
13

2 METODOLOGIA

O presente trabalho terá como metodologia a revisão bibliográfica tradicional,


buscando-se, a partir da doutrina já existente na área do direito autoral, do direito à
informação bem como da ciência da informação o conhecimento disponível,
identificando e analisando as teorias existentes, na tentativa de expor o melhor
entendimento do tema a ser discutido.
Conforme Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos (2003, p. 183), a
pesquisa bibliográfica “é um tipo de pesquisa que oferece meios para definir e
resolver não só problemas científicos bem determinados, como também explorar
novas áreas nas quais os mesmos problemas ainda não se cristalizaram o
suficiente”. Este é o caso do direito autoral na internet, tema polêmico, cujas bases
ainda não estão sólidas.
Buscaram-se na literatura brasileira e estrangeira contribuições de diversos
autores renomados na área como é o caso de José de Oliveira Ascensão, Manuel
Castells, Eliane Y. Abrão, Fábio Ulhoa Coelho, Guilherme Carboni, José Joaquim
Gomes Canotilho, dentre outros e textos de várias convenções, legislações
nacionais e estrangeiras, e jurisprudência, a fim de se obter um panorama geral e
aprofundado do assunto.
Várias fontes foram consultadas como livros, periódicos, teses, dissertações,
sites como o do Ministério da Cultura, da UNESCO, de ONGs e jornais como o
Diário Oficial da União.
Após a coleta do material houve seleção, leitura e análise das principais
idéias, conforme os objetivos do trabalho.
14

3 HISTÓRICO DO DIREITO AUTORAL

Há quem diga que o direito autoral surgiu no momento em que surgiram os


homens na Terra, pois a capacidade criativa o acompanha desde que este nasce,
sendo a criatividade um produto do intelecto e sem dúvida, passível de direitos de
reconhecimento. Assim perpassam todas as aulas de História como se fosse um
filme em “slow-motion”: as pinturas rupestres, a criação de inúmeros utensílios na
pré-história, a criação da escrita, a edificação de diferentes povos, a criação de
obras literárias e teatrais na antigüidade, a transmissão da cultura, as batalhas pela
conquista de território e poder na idade média, as revoluções francesa e industrial,
tudo isso, de uma forma ou de outra, contribuiu para o surgimento e
desenvolvimento do direito autoral.
Na idade antiga (imaginemos Grécia e Roma), havia abundante produção
intelectual, inúmeros artistas eram consagrados pelo público. Porém, não era
assegurado a eles o status de propriedade, nem o de exclusividade. Ou seja, o
direito de autor não protegia as diversas manifestações da obra, porém, a noção de
plágio já era reconhecida e praticada, de uma forma peculiar. Prevalecia o caráter
moral sobre o aspecto patrimonial da autoria, através da condenação da opinião
pública, única medida repressiva, pois o segundo aspecto citado não era
reconhecido. Aquele que apresentasse como sua obra a de outrem era considerado
um verdadeiro ladrão, sofrendo o repúdio do público, desonrado e desqualificado
intelectualmente.
Existia nessa época a expressão “plagium” como sendo crime de furto
cometido contra pessoas livres, que passou a ser adotada para ilustrar essas
situações em que os indivíduos “roubavam” ou copiavam idéias de outras pessoas.
No entanto, não se concebia a criação do intelecto como objeto de direito. O
direito romano amparou o direito de autor somente nos seus aspectos morais
através da actio injuriarum. A ação de injúrias possibilitava às vítimas de uma injúria
reclamar perante um júri uma pena pecuniária. A actio injuriarium permitia aos
Recuperadores que compunham o júri estimar a injúria livremente. Mais tarde, surge
a Lex Cornelia que continha disposições referentes não só a injúrias, mas também
violação de domicílio, que permitia a exposição dos fatos e a fixação, dependendo
dos casos, pela vítima ou pelo pretor, do valor máximo dos prejuízos.
15

Para Carla Eugenia Caldas de Barros (2007, p. 468), a obra em Roma, tinha
duas conotações: a moral e a econômica. A primeira era atribuída ao autor: fama,
glória, honras. Já a remuneração pertencia ao copista, vendedor. Manuella Santos
(2009, p.17) complementa, explicando que em Roma “entendia-se que o homem que
criasse não deveria ‘descer’ à condição de comerciante”.
José Carlos Costa Netto (1998, p. 30) coloca que a reparação do dano moral
é anterior aos romanos. Já existia no Código de Manu que consistia na legislação do
mundo indiano e estabelecia o sistema de castas na sociedade hindu, escrito entre
os séculos II a. C e II d.C e no Código Hamurabi, da Babilônia, datado de 1726 a.C:

Código de Manu, Livro IX, parágrafo 239. O rei na revisão do processo


imporá aos ministros ou juízes responsáveis pela condenação injusta do
inocente uma penal de mil panas.
Código de Hamurabi, art. 127. Se um homem livre estender um dedo contra
uma sacerdotisa ou contra a esposa de um outro e não comprovou,
arrastarão ele diante do juiz e raspar-lhe-ão a metade do seu cabelo.
(COSTA NETTO, 1998, p. 30)

Na idade Média, pode-se dizer que a Igreja detinha o monopólio cultural e


tutelava rigorosamente a produção intelectual. Os únicos letrados nesta época eram
os monges copistas, que reproduziam os manuscritos da Antiguidade clássica à
mão, trabalho este bastante detalhado artesanal e lento. Em função disso, a cópia
de uma obra era praticamente inexistente, primeiro por ser esta de difícil acesso,
segundo porque a língua disseminada era o latim, e por fim, só os letrados a
poderiam fazer, de modo que a utilização de uma obra, quando acontecia, acabava
por não prejudicar os direitos patrimoniais do autor.
Foi na Idade Moderna que houve uma revolução na cultura e literatura.
Emerge o Renascimento, movimento surgido em meio urbano, que propunha uma
ruptura com a tradição medieval, que trouxe idéias humanistas, voltando-se para o
estudo da literatura, da historia e filosofia antiga, valorizando os grandes pensadores
e as correntes clássicas de pensamento em que o individuo é visto como um
cidadão, livre e apto a fazer o seu julgamento de valores. Esta foi uma época em
que houveram grandes feitos artísticos através de pessoas como Leonardo da Vinci,
Michelangelo, progressos na astronomia com Nicolau Copérnico e Johannes Kepler.
Um dos inventos mais marcantes nesta época foi o do alemão Johannes
Gensfleisch zum Gutenberg. Ele desenvolveu o processo de impressão com tipos
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móveis de metal, a chamada impressão tipográfica. Segundo Elisângela Dias


Menezes:

O alemão Johannes Gutenberg nasceu em Mainz, por volta de 1400 e foi o


responsável pela invenção da impressão tipográfica, a partir do
aperfeiçoamento da prensa utilizada para espremer uvas na produção de
vinhos. Gutenberg também inventou os chamados tipos móveis, formados
pro letras de metal. Em 1456 seria impressa a primeira versão tipográfica da
Bíblia com tiragem de aproximadamente seiscentos exemplares.
(MENEZES, 2007, p. 22).

Muitos afirmam que a técnica de impressão já existia na China. Porém, com


relação aos caracteres móveis, não há registros anteriores, de modo que, sua
paternidade é atribuída a Gutenberg.
Esta invenção provocou uma revolução, pois os livros passaram a ser
reproduzidos em série e a custos mais baixos. Com isso, não só as glórias e honras
do autor passaram a ter maior difusão, mas também sua reputação. Os seus nomes
e os assuntos escolhidos passaram a agregar valor às obras, ao contrário dos que
apenas as reproduziam. Conseqüentemente, o que até então só se considerava
uma violação à moral, começou a ser visto como uma violação a um direito. Iniciam-
se neste período, por conseguinte, discussões entre autores e editores, pois a visão
de que os frutos das obras pertenciam aos que as editavam e não aos seus
criadores, passou a ser questionada. Houve, neste sentido, alguns reconhecimentos
por parte dos reis de que o indivíduo possuía direitos sobre o que ele próprio
produziu, porém, estes foram atos isolados.
A informação até então era privilégio da nobreza ou alto clero e concentrava-
se nas mãos de poucos. Com a invenção da impressão tipográfica, houve a difusão
do conhecimento e cultura de forma massiva e a história do direito autoral toma
corpo a partir deste momento.
Surge a figura dos impressores e dos vendedores de livros. Lojas são abertas
nas cidades, ambulantes divulgam as obras no interior, a comercialização se torna
comum em feiras e exposições européias. Neste cenário surge a necessidade de
legislar sobre a publicação de obras. Até então, as obras intelectuais não eram
vistas como uma fonte econômica, mas sim como uma fonte de glória, sem proveitos
comerciais. A sua reprodução não podia ser feita em escala industrial, o autor tinha
a posse do manuscrito original e fiscalizava a multiplicação dos exemplares. Mas
com a invenção de Gutenberg, o autor deixa de ter controle sobre sua obra, gerando
17

mais conflitos com os editores, que passaram a ter lucros significativos, enquanto o
criador continuava somente a alimentar o seu ego com elogios e lisonjas.
Em paralelo surgia a concorrência desleal e crescia o medo da Igreja e da
nobreza com relação à divulgação de informações que provocassem motins e
revoltas contra a classe dominante e idéias contrárias às defendidas pela Igreja.
Para amenizar estas diferenças cria-se o sistema de privilégios. Neste
sistema, os reis concedem a um impressor o direito de exclusividade de uma obra,
mediante critérios políticos. Entretanto, os prazos de duração, as penalidades no
caso de infração, a extensão desses privilégios alterava-se de autoridade para
autoridade. Não havia uma padronização, muitos concediam a uma obra em
especial, outros a uma coleção, envolvendo muitas vezes, diversas autoridades:
municipais, papais, imperiais.
Na Inglaterra e na França este sistema se tornou complexo, vindo mais tarde
a eclodir no copyright e no droit d’ auteur e atendia aos interesses dos editores,
livreiros e da realeza. Se por um lado os primeiros tinham sua reserva de mercado e
lucros garantidos, a monarquia dispunha de mecanismo eficiente para a censura de
idéias contrárias. Sendo assim, muitos conteúdos sofreram modificações ou mesmo
verdadeiras deturpações. Este controle recebeu o nome de copyright, ou seja,
direito de reprodução, sendo que até hoje esta expressão é utilizada quando
tratamos de direito autoral.
Sabiamente coloca o autor português José de Oliveira Ascensão (1997, p. 4),
que desde o início, “a ratio da tutela não foi proteger a criação intelectual, mas os
investimentos”. Os editores não conferiam aos autores qualquer parcela de lucro,
ficando estes a mercê da boa vontade de mecenas, pessoas ricas que motivavam e
patrocinavam o trabalho de escritores e artistas.
Eliane Y. Abrão (2002, p. 29) explica que mediante o monopólio dos livreiros,
surge a pirataria, oferecendo livros a preços populares. Em contrapartida, estes
livreiros ingleses conseguem aprovar um decreto real em 1586, que ampliava seus
poderes, e novamente sem considerar os direitos do autor.
Em 1662 na Inglaterra houve a assinatura do Licensing Act, que proibia a
reprodução de obras sem registro e licença, garantindo ainda assim, o monopólio da
reprodução e comércio de livros à Stationer’s Company, mediante pagamento de
royalties à monarquia, que ganhava duplamente, na cobrança desses royalties e na
censura de obras que divulgavam idéias contrárias a seus interesses. Segundo
18

Fábio Ulhoa Coelho (2009, v. 4, p. 264), o Licensing Act tornou obrigatório o registro
da obra licenciada nesta companhia, e surgiu para aumentar e melhorar o controle
sobre as publicações bem como para assegurar a exclusividade de publicação a
determinado editor.
Esse sistema sobreviveu por 200 anos, apesar de em 1709 ser promulgado
na Inglaterra o Copyright Act, da rainha Ana I da Grã-Bretanha, também conhecido
como Statute of Anne. Esta lei estabeleceu que os impressores e livreiros poderiam
continuar imprimindo as obras dos autores, mas seria necessário primeiramente
adquiri-las destes autores mediante contrato de cessão. Ela também assegurava,
por mais 21 anos a exclusividade da Stationer’s Company sobre as obras já
editadas, permitindo também a qualquer pessoa interessada a estabelecer-se como
editor.
O Statute of Anne é considerado a primeira lei referente ao direito autoral,
apesar de não reconhecer ainda o direito do autor sobre sua obra. O que faz é tentar
regular o mercado, desfazendo o monopólio editorial existente e protegendo
indiretamente o autor, ao abrir para a livre concorrência esse mercado, fazendo com
que o autor pudesse negociar o preço de sua obra de forma mais justa, ou mesmo
dela ser seu editor.
“A noção de que o autor titulariza um direito natural sobre sua criação
intelectual surge 200 anos depois”, segundo Fábio Ulhoa Coelho (2009, v.4, p. 265),
num momento em que os livreiros antes monopolistas moviam processos contra os
novos editores assim que estes passavam a publicar as obras caídas em domínio
público após 21 anos proclamados pelo Statute of Anne. A Stationer’s Company
alegava que não podia se limitar a common law, ou seja, o direito natural que os
autores titulavam e que lhes haviam sido transmitidos. Estes argumentos utilizados
na tentativa de prolongar o monopólio na verdade contribuíram para reconhecer o
direito do autor.
Finalmente, em 1842, o Literary Copyright Act reconhece o direito do autor e
seus sucessores sobre a obra pelo prazo de 42 anos, contados pelo que fosse
maior: da primeira publicação ou 7 anos da sua morte. Logo a seguir, em 1911 é
editado o Copyright Act, que além dos direitos do autor e ator, colocava também os
do compositor, fotógrafo e arquiteto, dentre outros. Nos Estados Unidos em 1790
editou-se o Copyright Act, onde a duração da exclusividade dos autores foi fixada
em 14 anos, contados da primeira publicação, prorrogáveis por mais 14. Foi
19

posteriormente ampliado, sendo que hoje as obras caem em domínio público após
50 anos da morte do autor. Observa-se que o sistema copyright focado
primariamente no mercado editorial se aproxima lentamente do droit d’ auteur, cujo
interesse inicial foi curiosamente o inverso: a tutela dos interesses do criador da obra
intelectual.
Já o droit d’ auteur surge na França, com a Revolução Francesa. Enquanto na
Inglaterra o regime era o do copyright que privilegiava os editores e impressores e
cujo principal direito a ser protegido era o da reprodução de cópias, mais conhecido
como sistema anglo-americano, o droit d’auteur preocupava-se com as idéias do
autor, com os seus direitos morais, sendo o inverso do copyright. Para Fábio Ulhoa
Coelho (2009, v.4, p. 266), “o reconhecimento pelo direito positivo de que o criador
de obra intelectual tornava-se o proprietário dela representou um extraordinário
avanço na promoção e difusão da cultura”.
Ao ser juridicamente considerado proprietário da obra intelectual, o autor
passou a ter em seu patrimônio obras com valor de troca, que poderiam
proporcionar-lhe independência financeira e liberdade de criação, já que não
necessitaria mais viver de favores da nobreza e de seu mecenas.
Nasce desta forma, a proteção dos direitos do autor perante os direitos do
editor. Desenvolve-se o conceito dos direitos morais, que passa a ser mais
importante do que os direitos patrimoniais, uma vez que a obra é algo único,
pessoal, fruto da criatividade e mente de seu criador, ligada a ele de forma perene.
Seguindo este raciocínio, a obra só poderia ser divulgada com nome do autor, e
continuava ligada a ele mesmo depois de sua morte ou extinguindo-se os seus
direitos patrimoniais. Pollaud-Dulian (2005, p. 2 a 37) explica que para este sistema
o registro da obra não era o mais importante para garantir a titularidade do direito
sobre ela, mas que ela tivesse sido derivada de um ato de seu criador, de seu
intelecto.
Vários foram os países que inspirados pelos franceses, promulgaram leis
versando sobre os direitos autorais, inclusive na América Latina. A primeira iniciativa
que se tem registro visando um pacto internacional sobre os direitos autorais ocorreu
em 1840, porém, a convenção mais importante neste cenário foi a Convenção de
Berna de 1886, ratificada pelo Brasil em 9 de fevereiro de 1922 e atualmente em
vigor. Ela inseriu os direitos autorais nas discussões internacionais. Nela são
contemplados três princípios: os Estados signatários pela Convenção devem
20

dispensar aos autores dos demais, proteção idêntica à dispensada aos seus autores
nacionais, não podendo esta depender de qualquer exigência quanto a registros,
depósitos e valores fiscais. Esta proteção é autônoma, não dependendo da
existência de proteção idêntica de outro país. Ainda, pela Convenção de Berna,
artigo 9.2:

Fica reservada às legislações dos países da União a faculdade de permitir a


reprodução das referidas obras, (1) em certos casos especiais, (2) desde
que tal reprodução não prejudique a exploração normal da obra (3) nem
cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses do autor.
(CONVENÇÃO, 1971)

Guilherme Carboni (2007) ao analisar o artigo 9.2 da Convenção de Berna


destaca que a limitação deve ter um propósito que seja justificável em termos de
políticas públicas. Também de que pela Convenção não é permitida a limitação
injustificada de um mercado comercialmente relevante já existente ou que está em
ascensão, a menos que haja interesse público.
Nota-se que a Convenção tenta manter o equilíbrio entre o direito privado e
público, ou seja, equilíbrio entre os direitos dos autores e o interesse público
relacionado à pesquisa, educação e acesso à informação.
A Convenção de Berna foi revisada diversas vezes: em Paris de 15.03.1896 a
04.04.1896; em Berlim de 14.10 a 14.11.1908, em ato assinado em 13 de novembro,
entrando em vigor em 09 de setembro de 1910, e sido promulgada, após o
aditamento em Berna em 1914, pelo Decreto nº 4.541, de 06 de fevereiro de 1922;
em Roma, no período de 07.05 a 02.06.1928, com assinatura em 02 de junho, e
aplicação a partir de 1º de agosto de 1931; em Bruxelas de 06.06 a 26.06.1948;
Estocolmo em 14.07.1967 e, novamente, em Paris em 24.07.1971, com modificação
feita em 28.09.1979.
Em 1952 surge a Convenção de Genebra que ficou conhecida como a
Convenção Universal sobre Direitos de Autor. Teve como propósito conciliar o
sistema dos direitos do autor, de origem francesa e a do copyright, anglo-saxã,
adotada principalmente pelos Estados Unidos. Em vigor, sua última revisão foi em
conjunto com a Convenção de Berna, em julho de 1971 e apesar de passados 39
anos desde sua última revisão, pode-se afirmar que seu objetivo ainda não foi
atingido, uma vez que o direito autoral está em crise diante dos avanços
tecnológicos.
21

A Convenção de Washington de 1946, no sistema jurídico brasileiro através


do Decreto 26.675, de 18 de maio de 1949, é contrária ao princípio de que o direito
autoral se materializa no ato de criação. Para a Convenção, o direito de autor é
transferível e o registro da obra fica sendo uma exigência implícita, marcas do
copyright. Sua relevância para o Brasil é questionável, pois direito autoral brasileiro
baseia-se nas Convenções de Berna, Genebra e no droit d’auteur.
Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 e assinada
pelo Brasil no mesmo ano, afirma que todo ser humano tem direito à proteção dos
interesses morais e materiais de sua obra, seja ela científica, artística, ou literária.
Nela surge de forma implícita, o direito ao acesso à informação, em seu artigo 27,
parte 1.
O mais recente acordo é o que foi aprovado juntamente com a criação da
OMC – Organização Mundial do Comércio em 1994. Trata-se do Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio –
TRIPs. Ele determina que os países pertencentes à OMC cumpram a Convenção de
Berna e atenta também para o cumprimento do seu artigo 6º-bis relacionado aos
direitos morais pelos países que seguem o sistema de copyright. Ele também
assegura os direitos conexos e fixa para as obras em geral, o prazo mínimo de 50
anos para a duração do direito autoral.
22

4 DIREITO AUTORAL NO BRASIL

No Brasil, a primeira noção legal de direitos de autor surgiu com a criação dos
dois primeiros cursos jurídicos no país, em 1827. Dom Pedro I através da Lei de 11
de agosto de 1827 garantia aos professores destes cursos a proteção às suas obras
em seu artigo 7º:

Os Lentes farão a escolha dos compendios da sua profissão, ou os


arranjarão, não existindo já feitos, com tanto que as doutrinas estejam de
accôrdo com o systema jurado pela nação. Estes compendios, depois de
approvados pela Congregação, servirão interinamente; submettendo-se,
porém, á approvação da Assembléa Geral, e o Governo os fará imprimir e
fornecer ás escolas, competindo aos seus autores o privilegio exclusivo da
obra, por dez annos. (BRASIL, 1827)

Para Plínio Cabral (2009, p. 24), observa-se a preocupação do governo em


imprimir e fornecer às escolas o material necessário, bem como a de reconhecer os
autores destas obras, dando-lhes o direito sobre estas por 10 anos.
Em 1830, através do Código Criminal do Império, foi estabelecida a primeira
regulamentação sobre direito autoral no âmbito penal, especificando o delito e
respectivas penas em seu artigo 261:

[...] Art. 261. Imprimir, gravar, lithographar, ou introduzir quaesquer


escriptos, ou estampas, que tiverem sido feitos, compostos, ou traduzidos
por cidadãos brasileiros, emquanto estes viverem, e dez annos depois da
sua morte, se deixarem herdeiros.
Penas - de perda de todos os exemplares para o autor, ou traductor, ou
seus herdeiros; ou na falta delles, do seu valor, e outro tanto, e de multa
igual ao tresdobro do valor dos exemplares.
Se os escriptos, ou estampas pertencerem a Corporações, a prohibição de
imprimir, gravar, lithographar, ou introduzir, durará sómente por espaço de
dez annos. (BRASIL, 1830)

Salienta Roberto Senise Lisboa (2005, p. 500) que o artigo acima institui o
delito de contrafação, mencionando também as punições cabíveis. Ao que
Manuela Santos (2009, p. 45) observa que ao contrário dos demais países, a
primeira regulação dos direitos autorais no Brasil foi feita via legislação penal e não
civil.
23

Em seguida, já no regime republicano, é promulgado o Código penal de 1890


(BRASIL, 1890) que estabelecia punições para quem, sem permissão do autor,
reproduzisse obra artística ou literária, através dos artigos 342 a 350.

Finalmente em 1891 o direito autoral passa a fazer parte do texto


constitucional, impondo-se como princípio normativo, através do artigo 72, mais
especificamente em seu parágrafo 26, coincidentemente logo após a Convenção de
Berna de 1886 (CONVENÇÃO, 1971), do qual o Brasil é país originalmente
signatário. Somente a partir esta convenção que o Brasil incluiu em seus textos
constitucionais a proteção aos direitos de autor aos brasileiros e estrangeiros
residentes no país, ainda que a Constituição do Império de 1824 dispusesse em seu
art. 179, XXVI os princípios de proteção aos direitos de propriedade industrial.

[...] Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à
segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] § 26 - Aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito
exclusivo de reproduzi-Ias, pela imprensa ou por qualquer outro processo
mecânico. Os herdeiros dos autores gozarão desse direito pelo tempo que a
lei determinar. (BRASIL, 1891)

O direito autoral foi incluído nas Constituições brasileiras posteriores: de 1934


através do art. 113, XX, na Constituição de 1946 através do artigo 141, § 19:

[...] Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à
liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] § 19 - Aos autores de obras literárias artísticas ou científicas pertence o
direito exclusivo de reproduzi-las. Os herdeiros dos autores gozarão desse
direito pelo tempo que a lei fixar. (BRASIL, 1946)

E na Constituição de 1967(redação dada pela EC 1/1969) pelo artigo 153, §


25:

[...] Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à
liberdade, à segurança e à propriedade, nos têrmos seguintes:
[...] § 25. Aos autores de obras literárias, artísticas e científicas pertence o
direito exclusivo de utilizá-las. Êsse direito é transmissível por herança, pelo
tempo que a lei fixar. (BRASIL, 1969)
24

Observa-se que ao longo do tempo houveram algumas alterações na redação


dos artigos, principalmente da Constituição 1946 para 1967. Esta última ao invés de
colocar que “aos autores pertence o direito exclusivo de reproduzir suas obras”
passa a colocar “aos autores pertence o direito exclusivo de utilizar suas obras”.
Avança do direito de exclusividade de reprodução de uma obra para uma
terminologia mais ampla, talvez na tentativa de adequar a legislação aos avanços da
sociedade da época.

Atualmente o direito de autor está protegido através do artigo 5º, incisos XXVII
e XXVIII da Constituição Federal de 1988 colocando que aos autores pertence o
direito exclusivo não só de utilização, mas de publicação ou reprodução de sua obra.
(BRASIL, 1988). Ou seja, amplia o rol de alternativas para o autor, e este tem a
opção também de não dar acesso ao público de sua obra.

A primeira norma específica referente ao direito de autor foi a Lei 496, de 1º


de agosto de 1898, chamada de Lei Medeiros de Albuquerque (BRASIL, 1898), que
divergia do Código penal vigente desconsiderando como crime de contrafação a
reprodução de atos oficiais da União, estados e municípios, tornando obrigatória o
registro da obra na Biblioteca Nacional.

Conforme Carla Eugenia Caldas Barros (2007, p. 490), a lei era breve quanto
à responsabilidade civil, “[...] apenas condenava o contrafator à indenização de
perdas e danos causados ao autor da obra”.

A abrangência do direito autoral se ampliou com a edição da Lei 3.071, de 1º


de janeiro de 1916, o Código civil de 1916 (BRASIL, 1916), nos artigos 649 a 673,
em especial nos artigos 650, 652, 655, 657, 666 e 669. Conferiu-se direito ao
compositor de canção, houve preocupação em atribuir ao contrafator a obrigação de
pagar ao autor o valor da obra original no mercado ou o valor avaliado; não se
podendo identificar a tiragem ficava ele obrigado a pagar o valor de mil exemplares,
além dos apreendidos. Tratava também das exceções ao direito de autor.

Merece atenção o Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código


penal brasileiro ainda vigente (BRASIL, 1940), em seu artigo 184. Este penalizava
com a detenção de 3 meses a 1 ano ou multa, quem violasse o direito de autor. Este
artigo passa em 1980 e 1993 por modificações, elevando-se a pena para os casos
25

de venda, aquisição e ocultação ou depósito com fins comerciais, aumentando


também os valores da multa.

Em 1973, surge a lei dos direitos autorais propriamente dita. Trata-se da Lei
5.988 (BRASIL, 1973), revogada pela atual lei autoral, a Lei 9.610, de 19 de
fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998). Ela inaugura uma nova fase da legislação nessa
área, consolidando a legislação até então existente.

4.1 Lei dos Direitos Autorais de 1998

A LDA – Lei dos Direitos Autorais como é conhecida, já em seu artigo 1º


coloca que entende sob esta denominação “os direitos de autor e os que lhes são
conexos”, assegurando através dela, a proteção aos seus direitos prevista em
diversos acordos, convenções e outros diplomas internacionais vigentes no Brasil.
A referida Lei também disciplina o conceito e abrangência das obras
protegidas, relaciona os direitos morais do autor, especifica normas sobre os
direitos patrimoniais, aumentando o prazo de proteção de 60 para 70 anos, após
1º de janeiro subseqüente à morte do autor.
Algumas mudanças significativas ocorreram na Lei 9.610, de 1998, em
relação à Lei 5.988/1973. Houve o aumento do número de exemplares na
indenização por contrafação, de dois mil para três mil exemplares; o Conselho
Nacional de Direito Autoral – CNDA criado na lei anterior, que decidia e estabelecia
algumas questões com relação aos direitos dos autores, foi extinto; ocorrendo
também a extinção do direito de arena (direito que as entidades de prática
desportiva, os clubes, tinham para negociar, autorizar ou não a fixação, transmissão
ou retransmissão de imagem de eventos desportivos ou espetáculos) e do direito
sobre a obra sob encomenda. A nova lei também passou a utilizar o termo “co-
autoria” como sendo uma obra criada em comum, ao invés de “obra em
colaboração” como era utilizado na revogada lei e o termo “audiovisual” em
detrimento de “videograma”.
No artigo 7º, a Lei define como obras intelectuais protegidas, as criações de
espírito, expressas por qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecidos ou a
26

serem inventados, e especifica quais são: os textos de obras literárias, artísticas ou


científicas, as obras dramáticas, as obras coreográficas e pantomímicas, as
composições musicais, as obras audiovisuais, as ilustrações, obras de desenhos,
pinturas, gravuras, esculturas, as coletâneas, compilações e bases de dados que
por sua seleção, organização e disposição de conteúdo configurem uma criação
intelectual, inclusive programas de computador, dentre outros.
Desta forma, a obra pode estar impressa, num CD-ROM, num arquivo de e-
book, num banco de dados ou numa biblioteca digital, ela estará protegida pela lei
dos direitos autorais, sendo esta um texto, som, imagem, base de dados ou
software.
O artigo 11 da Lei 9.610/98 define o autor como sendo “pessoa física criadora
de obra literária, artística ou científica”, podendo este usar nome civil completo,
abreviado, iniciais do nome ou pseudônimo para identificar sua autoria. Não regulou
as obras que surgem em função do contrato de trabalho, prestação de serviço ou
aquelas sob encomenda. Conforme Plínio Cabral (2009, p. 67):

[...] nos países cujo ordenamento jurídico segue as concepções romano-


germânicas, [...] os autoralistas são unânimes em reconhecer unicamente
na pessoa física a capacidade para criar a obra. [...] Já nos países de
tradição anglo-saxônica, especialmente nos Estados Unidos, considera-se
se a pessoa jurídica encomendante da obra o titular originário do direito de
autor, como se ela fosse a criadora.

Sendo assim, na falta de uma regra específica utiliza-se a geral: a titularidade


é do criador da obra. A lei brasileira protege a empresa, pessoa jurídica, mas não
como autora, e sim como titular de direitos autorais (no caso de empresas
desenvolvedoras de software).
Há de se atentar para a questão de autoria do software quando este é
desenvolvido no trabalho ou prestação de serviço. Os direitos relativos a ele são do
empregador, segundo o artigo 4º da Lei do Software (9.609/98):

[...] salvo estipulação em contrário, pertencerão exclusivamente ao


empregador contratante de serviços ou órgão público, os direitos relativos
ao programa de computador, desenvolvido e elaborado durante a vigência
de contrato ou vínculo estatutário, expressamente destinado à pesquisa e
desenvolvimento, ou em que a atividade do empregado, contratado de
serviço ou servidor seja prevista, ou ainda, que decorra da própria natureza
dos encargos concernentes a esses vínculos. (PAESANI, 2005, anexo).
27

Por isso a lei dos direitos autorais, em seu art. 7º, XIII, §1º coloca que os
softwares são objeto de legislação específica, observadas, no entanto, as
disposições desta que são aplicáveis a estes. Isso por vezes tem gerado confusão,
apesar de citar o software em seu texto, não tem competência para regulamentar
este tipo de situação, uma vez que a Lei de Direitos Autorais não regulamentou esta
questão para qualquer outra obra citada no artigo 7º.
A Lei do Software como é conhecida, poderia ser um capítulo dentro da LDA,
em seu texto, reconhece o direito patrimonial, mas quanto aos direitos morais limita-
se a paternidade e integridade da obra (a de não sofrer alterações). E ao exigir o
registro do software confronta-se com a Convenção de Berna, a qual se baseia a
LDA.
Quanto à transferência dos direitos, segundo o artigo 49 da Lei 9610/98, o
autor ou seus sucessores poderá ceder seus direitos total ou parcialmente para
terceiros, a título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de seus
representantes com poderes especiais. A transferência de direitos poderá ser por
meio de Licenciamento, Concessão, Cessão, Autorização ou por outros meios
admitidos em lei. A cessão será por escrito, presumindo-se onerosa, devendo
constar da mesma, como elementos essenciais, seu objeto, condições de exercício
do direito quanto a tempo, lugar e preço.
A LDA em seu texto traz uma relação de itens que não gozam de proteção do
direito autoral, dentre eles: as idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos,
conceitos matemáticos, projetos, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos
ou negócios, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais, títulos isolados e
informações de uso comum.
Nos artigos 46 a 48 são elencados alguns itens que não constituem ofensa
aos direitos de autorais, dentre eles a reprodução de pequenos trechos da obra,
para fins privados, sem o intuito de lucro. O entendimento de “pequeno trecho”,
segundo Carboni (2007) é de cerca de 15 % a 20 % da obra e que não contenha a
essência do texto. A questão da cópia privada, sem dúvida, é a mais polêmica, na
atual Lei dos Direitos Autorais. A Lei 5.988/1973, em seu artigo 49, possibilitava a
cópia integral de um único exemplar, sem intuito de lucro. Ao redigir o novo texto,
este tópico foi alterado para “cópia de pequenos trechos”, não sendo permitida a
cópia de livros esgotados, ou para fins educativos na nova Lei dos Direitos Autorais.
28

Não existe, também, na nossa legislação um inciso que permita uma livre
reprodução em casos envolvendo educação, pesquisa, ciência e qualquer
coisa semelhante, da mesma forma como não existe um artigo que diga que
o impacto econômico da reprodução deva ser levado em consideração. Mas
nós temos de lembrar que a “regra dos três passos”, da Convenção de
Berna, foi “internalizada” pelo nosso sistema jurídico. Então, dessa forma, é
possível fazer uma interpretação desse rol taxativo das limitações, com
base na “regra dos três passos”. (CARBONI, 2008).

A lei também não faz menção à cópia com a finalidade de preservação do


original, de seu conteúdo e suporte ou das cópias de segurança (backups), nem de
cópia para utilização em outros formatos, como por exemplo, de uma fita VHS para
DVD.
Em função disso, e motivados pelo constante avanço da tecnologia, vários
projetos de lei estão em tramitação no Congresso sugerindo modificações à LDA.

4.2 Atualização e modernização da lei

Além de não prever cópias para fins de preservação, vários criadores afirmam
que a forma de arrecadação e distribuição dos seus direitos não são tratados de
forma transparente pela LDA, pois não oferece mecanismos eficazes para
comprovar a lisura da prestação de contas entre editoras, gravadoras ou
associações e seus respectivos criadores, mesmo sendo a fiscalização da
exploração econômica das obras um direito garantido pela Constituição.
O Governo Federal, através do Ministério da Cultura promoveu por 2 anos
(2007 a 2009) o Fórum Nacional de Direito Autoral e colocou, em 2010, para
Consulta Pública as idéias debatidas, e através das contribuições está consolidando
o texto final do anteprojeto de lei que será encaminhado ao Congresso Nacional. O
prazo para apresentação de propostas através do site do Ministério da Cultura
encerrou-se dia 31 de agosto de 2010. Durante este período foram feitas reuniões
setoriais, estudada a legislação de 30 países objetivando identificar fragilidades e
colher sugestões. Assim afirma o sociólogo e Ministro de Estado e Cultura Juca
Ferreira, complementando:

Um dos pontos mais questionados ao longo desse processo foi o da licença


não voluntária: ela destina-se a equacionar casos excepcionais e visa
permitir a reedição de obras esgotadas e as chamadas obras órfãs,
29

fundamentalmente. Não tem aplicação no universo da música. Mas é


relevante no mundo das artes visuais e da literatura. Obras que estão hoje
inacessíveis.(FERREIRA, 2010, p. 28).

A proposta traz inovações interessantes. Numa primeira análise observa-se


que busca harmonizar o direito autoral com o ordenamento jurídico brasileiro -
Código Civil de 2002, Código de Defesa do Consumidor de 1990, Lei de Defesa da
Concorrência e Constituição Federal 1988, incorporando a essa legislação
específica disposições desses códigos. Também está em consonância com os
princípios definidos pelas Convenções de Berna e de Roma, e pelo acordo TRIPS -
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, dos
quais o Brasil é signatário.
Como exemplo tem-se a inclusão da possibilidade de revisar e, até mesmo,
de anular contratos injustos, onde há vantagem excessiva para uma das partes ou
quando há descaso com a obra por parte de quem deveria explorá-la. No artigo 6º, §
2º do texto do anteprojeto:

É anulável o contrato quando o titular de direitos autorais, sob premente


necessidade, ou por inexperiência, tenha se obrigado a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta, podendo
não ser decretada a anulação do negócio se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito
(BRASIL. Ministério da Cultura, 2010)

A lei atual permite a cessão total (transferência definitiva) dos direitos de


autor. Porém, o novo texto em debate não permite mais incluir a cessão de direitos
nos contratos de edição, necessários para a difusão da obra em larga escala. O
autor poderá cedê-los, mas isso terá de ser feito num contrato específico. Isso
evitará que autores sejam impedidos de regravar suas músicas porque cederam
seus direitos a gravadoras ou editoras as quais não estão mais ligados.
Pela proposta ainda, se poderá fazer uso das criações protegidas sem a
necessidade de pedir autorização ou de pagar qualquer retribuição. No entanto,
essas possibilidades deverão atender a três critérios previstos nos acordos
internacionais, já mencionados anteriormente (Convenção de Berna, item 9.2):
utilizados apenas em casos especiais, não podendo afetar a exploração normal da
obra, nem causar prejuízo injustificado aos interesses legítimos do autor.
A legislação vigente restringe excessivamente o uso privado e educacional
das obras. Para se ter uma idéia, as bibliotecas atualmente estão violando a lei ao
30

permitir o empréstimo de suas obras, e os sebos ao revenderem livros e discos, pois


pela LDA o autor deve autorizar a distribuição de sua obra, seja venda, revenda,
empréstimo ou aluguel. O mesmo para arquivos e museus que fazem cópia de
documentos históricos e de reálias para fins de preservação.

Uma pesquisa encomendada pela OMPI – a agência especializada da ONU


para o tema do direito intelectual – em 2008 mostrou que, num universo de
149 países, apenas 21 não permitem que museus, bibliotecas e
cinematecas façam cópias de preservação e conservação de seus acervos.
O Brasil é um deles, ao lado de países da África como Burkina Faso,
Burundi, Líbia, Namíbia; do Oriente como Iraque, Kwait e Yemen; na
América Central e Sul como Haiti, Costa Rica, Argentina (BRASIL, 2009).

Ações corriqueiras, como a cópia de músicas de um CD original para um


aparelho portátil, exibições de audiovisuais para fins didáticos são vedadas pela lei
de 1998. Pelo texto da lei, sem autorização e pagamento prévio, não se pode
realizar cópias.
Porém, pelo atual sistema, estudos (BRASIL, 2009) demonstram que há
grande inadimplência por parte de rádios, emissoras de televisão, restaurantes,
bares, hotéis, e outros que exploram comercialmente as obras. Empresários e
autores reclamam que os valores são estabelecidos por critérios pouco claros e
razoáveis, o que resulta num excesso de ações judiciais custosas e lentas, que
acabam por atrasar o retorno do investimento.
Para contornar isso, o anteprojeto permite a reprodução, sem finalidade
comercial, de livros, músicas ou filmes, que estão com a última publicação esgotada
e também que não estejam em estoque disponível para venda.
O novo texto também torna explícito o conceito de licença (autorização para
uso sem transferência de titularidade) para que o autor conheça as alternativas para
um melhor controle dos usos de suas obras.
Pelo anteprojeto, o Ministério da Cultura, atuará na resolução de conflitos,
inclusive no processo de renovação de concessões públicas outorgadas a
organismos de radiodifusão, acerca da adimplência desses organismos no que
tange aos direitos autorais.
Uma inovação interessante é a de que os empresários passam a ter a
possibilidade de solicitar uma autorização para comercializar obras que estejam
inacessíveis ou com acesso restrito e que sejam de interesse público como obras
esgotadas, ou de autores não localizados, dentre outros (artigos 52-B, 52-C e 52-D).
31

Quanto à reprografia, ela é tratada no capítulo 9, artigo 88-A, e prevê o


pagamento de uma retribuição aos titulares dos direitos autorais sobre as obras
reproduzidas.
A proposta também acrescenta as notícias diárias que têm o caráter de
simples informações de imprensa como obras intelectuais protegidas pelos direitos
autorais, em resposta à intensa polêmica em torno de portais que simplesmente
reproduzem notícias de outros sites a fim de alavancar sua reputação ou buscar
usuários pela força dos nomes comerciais no campo jornalístico.
Arranjadores e orquestradores na música, diretores, roteiristas e compositores
da trilha sonora original nas obras audiovisuais passam a ser reconhecidos como
autores das obras, ampliando o leque de criações intelectuais a serem protegidas.
Observa-se que há um esforço em se evitar múltiplas interpretações, em se
adequar aos avanços tecnológicos, em manter um equilíbrio entre os interesses do
autor, dos investidores e dos usuários, como coloca seu artigo 3º-A:

Na interpretação e aplicação desta Lei atender-se-á às finalidades de


estimular a criação artística e a diversidade cultural garantir a liberdade de
expressão e o acesso à cultura, à educação, à informação e ao
conhecimento, harmonizando-se os interesses dos titulares de direitos
autorais e os da sociedade (BRASIL. Ministério da Cultura, 2010).

Com relação à punição, e sanções a quem não respeitar a nova lei de direitos
autorais, Omar Kaminski (2010) coloca:

Embora a proposta de revisão da lei não tenha caráter punitivo, ela não é
leniente com a corrupção e a impunidade. Por essa razão, irá combater a
disseminada corrupção na forma de “jabá” ou “payola” - mecanismo de
suborno que viabiliza a artificial execução pública de obras e fonogramas.
A proposta prevê a exigência de certidão de quitação de direitos autorais,
emitida pelo Poder Público, por ocasião da renovação de concessões
públicas outorgadas a organismos de radiodifusão. E torna ilícito o uso
abusivo de medidas de proteção tecnológica. A ação civil por violação a
direitos autorais patrimoniais prescreverá em cinco anos, contados a partir
da infração, no que segue o disposto no Novo Código Civil Brasileiro e
corrige lacuna existente na atual legislação.
A proposta de revisão da lei reconhece expressamente a possibilidade de o
juiz ajustar, de forma equitativa, as sanções de natureza civil, em função
das circunstâncias do caso concreto, em linha com as tendências do direito
civil contemporâneo. Incorpora-se também a jurisprudência quanto ao valor
da multa pela execução pública feita em desacordo com a lei, que deve ser
proporcional ao dano gerado.
Com relação aos dispositivos para gestão de direitos, mantêm-se as
penalidades previstas em lei, estabelecendo-se, contudo, igual sanção para
quem por qualquer meio dificultar usos permitidos, incluindo-se a utilização
abusiva de medidas de proteção tecnológica.
32

5 COMO A INTERNET AFETA O DIREITO AUTORAL

Não se pode negar que os avanços tecnológicos e meios de comunicação,


dentre eles a internet, vêm produzindo impactos e discussões no campo do direito
autoral. Aliás, o direito autoral desde sua origem esteve ligado à invenção de uma
nova tecnologia. Até a prensa de Gutenberg, pouco se pensava em direito autoral.
Mas esta, ao possibilitar a cópia em escalas nunca antes imaginadas, fez também
com que os autores e editores passassem a se preocupar com a proteção de seus
interesses. Novos suportes físicos surgiram além do papel, e com eles a proteção
das músicas, esculturas, das manifestações artísticas em geral, havendo a
preocupação da legislação em assegurar também a proteção dos direitos autorais
de conteúdos cujos suportes estariam por vir. Assim foi o caso da Lei 9.610/98.
Apesar de ter sido promulgada em um tempo em que já existia a internet, esta ficou
por um longo tempo tramitando no Congresso, e não menciona a internet em seu
texto, mas os conteúdos através dela gerados estão abarcados no artigo 7º: “são
obras intelectuais protegidas as criações de espírito expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no
futuro...” (BRASIL, 1998). Sendo assim, a Lei 9.610/98 protege o direito autoral
inclusive na internet.
Por mais paradoxal que possa parecer, o desenvolvimento tecnológico e, por
conseguinte, a internet, proporciona a expansão do direito autoral, ao mesmo tempo
em que aproxima os dois sistemas, o copyright e o droit d’ auteur. Se o copyright
favorecia o editor e o droit d’ auteur o autor, atualmente os dois convergem para
preservação do autor e empresário, contra terceiros (plágios e contrafações), em
função da própria internet e da globalização. Porém a tecnologia como um todo
(internet, mídia digital, o desenvolvimento de novos softwares) também ameaça os
mecanismos de proteção e estes parecem sempre querer a sua supressão. Para
Tridente (2009, p. 48):

Se cada nova tecnologia torna possível novas formas de fixação de


conteúdo, possibilita igualmente novas formas de reprodução de conteúdo
não autorizadas pelos titulares de direitos autorais, em outras palavras,
aumenta a pirataria de material protegido.
33

Em contrapartida, essas novas tecnologias ampliam os públicos, e mostram a


possibilidade para as gravadoras, editoras e para outros distribuidores de conteúdos,
de novos meios a serem explorados e de renderem dividendos.
Atualmente observam-se infindáveis ações judiciais desses distribuidores de
conteúdo contra os fabricantes das novas tecnologias, assim como foi há tempos
atrás contra fabricantes de vídeo cassetes, gravadores e máquinas fotográficas.
Agora são contra as mídias digitais e usuários da internet, capazes de reproduzir
cópias fiéis a um custo baixo, de ótima qualidade e de disseminá-las na grande rede.
Para se ter uma idéia, em 1998, A Digital Millennium Copyright Act, uma lei
norte-americana, aumentou as penas previstas para as violações de direito autorais
feitas por meio da internet, bem como criminalizou condutas como a de driblar
tecnologias de controle e de desenvolver softwares capazes dessa conduta, mesmo
que não ferissem os direitos autorais.
Abrindo precedente, o conhecido Napster, programa que possibilitava a troca
de músicas pela internet entre usuários conectados, o primeiro programa P2P1,
perdeu judicialmente o direito de “estar vivo”, para as indústrias de distribuição
musical, em 2001, mesmo que já houvesse orientação nos tribunais dos Estados
Unidos em não banir novas tecnologias. Não adiantou muito, pois logo após
surgiram outros programas para ocupar o lugar deixado por ele. O mais famoso foi o
Kasaa, que possibilitava não só o intercâmbio de músicas, como também de fotos,
filmes, dentre outros. Novamente a Recording Industry Association of America entra
com ações na justiça americana, mas desta vez, os juristas entenderam que não
poderiam barrar essas tecnologias, e derrubando o precedente, retomam a idéia de
que as novas tecnologias não podem ser estancadas somente por que colocam em
perigo “um determinado negócio”.
Atualmente um dos programas P2P mais utilizados para este fim é o eMule.
Paralelo a eles existem os programas compartilhadores de arquivos como o Torrent.
Em pesquisa realizada pela internet, a melhor definição deste sistema foi dada por
Cohen (2003):

BitTorrent é um sistema de download de arquivos P2P. A idéia basica é que


quando um usuário procura por um arquivo, ele baixa "pedaços" do arquivo
de outros usuários até que o arquivo fique completo. Um importante objetivo

1
Peer-to-Peer (do inglês: par-a-par), entre pares (tradução livre ponto a ponto), é uma arquitetura de sistemas distribuídos
caracterizada pela descentralização das funções na rede, onde cada nodo realiza tanto funções de servidor quanto de cliente.
34

de projeto foi garantir colaboração. Na maioria dos sistemas de


compartilhamento de arquivo, uma fração significante dos usuários somente
baixa os arquivos e contribuem perto de nada. Para isso, um arquivo pode
ser baixado somente quando o cliente que está baixando também está
provendo conteúdo para alguém. [tradução]

A troca de arquivos pela internet é algo irreversível. Praticamente todo tipo de


conteúdo pode ser encontrado como séries de televisão, revistas, livros, filmes
recentes e antigos, jogos de futebol. Há de se pensar no que está por trás deste
combate veemente a sua prática bem como à pirataria, pois grande parte dos
consumidores desta informação adquirida por esses meios gratuitos dificilmente
seria consumidora destes mesmos produtos pagos (pay-per-view, assinatura de
canal a cabo, etc.). A indústria de distribuição de conteúdo está vendo seus lucros
irem pelo ralo abaixo, por não saber lidar com essas novas tecnologias e em
contrapartida lança campanhas antipirataria, processa usuários pelo download de
arquivos, quando na verdade, deveria é utilizar estas tecnologias para alavancar seu
negócio.
Não há como frear esta nova tecnologia, assim como não foi possível frear o
Skype2. Mesmo com este software não foi o fim da telefonia. Para Nazareno (2009,
p. 5),

A busca de novos serviços sempre será a solução para produtos e receitas


declinantes. Foi assim com as operadoras de telefonia fixa, pela oferta da
banda larga, e também com as congêneres móveis, pelos novos serviços
ofertados par e passo com a evolução tecnológica. À diferença das outras
indústrias onde os produtos, as fábricas e os insumos são, em geral,
materiais, a indústria do software oferece todo o contrário. Somada a essa
não tangibilidade de bens (os arquivos) está o fato de essa indústria se
reinventar constantemente.

É necessário aceitar a realidade que a internet provocou principalmente:


- a desmaterialização do suporte físico: não existe mais a obra em papel, ela pode
estar na forma de e-book, interpretada através de um vídeo no You Tube;
- alteração do tradicional fluxo de distribuição: autor -> indústria ou mercado ->
usuário: o fluxo pode ser autor-> usuário, ou mesmo usuário-> usuário, este fluxo foi
expandido verdadeiramente em forma de rede, o que incomoda um pouco é que a
indústria de distribuição perdeu espaço com isso;

2
Programa que permite a comunicação de voz e vídeo grátis entre os usuários do software pela Internet.
35

- facilidade na reprodução e modificação de obras intelectuais: a internet


proporcionou a cópia perfeita, fidedigna ao original, e mais do que isso, a
disseminação a milhares de pessoas conectadas;
- surgimento de novos valores na circulação de obras intelectuais: com a
disseminação de obras na internet, muitas delas perdem preço no suporte papel, e
fazem com que a indústria reverta seus investimentos em novos formatos, como o e-
book, apesar de certa resistência. No mercado brasileiro há muito poucos e-books à
venda, geralmente o que se observa é a possibilidade de acesso a obra (algo mais
rentável) do que a venda de um e-book;
- possibilidade de confusão nos atuais papéis de autor e leitor: nas redes de
informação é difícil distinguir quem é quem;
- autoria coletiva nas redes de informação.
Todas estas características fazem da internet um campo propício a
“ilegalidades” no que concerne aos direitos autorais pelas atuais leis vigentes.
Ilegalidades como a de baixar um arquivo protegido pelos direitos autorais. Provoca
também um repensar dessas leis, e o surgimento de alternativas para combater as
ilegalidades, sem que para isso seja necessário agravar as penas.
Uma das alternativas encontradas é a utilização da obra por meio do fair use,
ou, em outras palavras, do uso justo, honesto, legítimo, aceitável, razoável. O
detentor do direito autoral de determinada obra autoriza seu uso em determinadas
condições. Geralmente para uso educacional (incluindo múltiplas cópias para uso
em sala de aula), para pesquisa, comentário ou crítica, divulgação de notícia.
Patricia Peck Pinheiro (2007, p. 96), frisa que este conceito nasceu na legislação
americana, sendo que o fair use permite o acesso à obra sem a necessidade de sua
aquisição e da autorização do autor, pois este já o fez anteriormente desde que
cumpridas as condições.
Para isso é feita uma análise do propósito e do tipo de utilização que será
feita da obra, da proporcionalidade a ser copiada em relação ao todo, o efeito do uso
desta em específico através do fair use e o impacto disso no valor intelectual e
comercial desta obra.
Em outras palavras, busca-se equalitar os direitos exclusivos do direito de
autor, com a promoção do desenvolvimento do conhecimento e com os interesses
da coletividade. Seguindo ester preceito, as obras disponíveis na internet podem ser
36

utilizadas desde que atendam aos quatro quesitos descritos anteriormente, segundo
Manuella Santos (2009, p. 135).
A doutrina do fair use não existe na legislação brasileira, porém a Lei 9.610/98
prevê limitações dos direitos autorais, tratadas no capítulo IV artigo 46 da referida
lei.
Conforme Guilherme Carboni (2008), a OMC – Organização Mundial do
Comércio constituiu um painel em 2008 para analisar as limitações do Digital
Millennium Copyright Act, dos Estados Unidos, sendo que uma das principais
conclusões foi:

[...] a de que se deveria levar em consideração, não somente usos


então existentes da obra, mas também seus usos potenciais. Todas as
formas de exploração de uma obra, que tenham ou, provavelmente, venham
a ter importância econômica ou prática considerável, deveriam ser
reservadas ao autor. [...]

Afirmando ainda de que tais conclusões surpreenderam vários estudiosos do


assunto, como a de que “Nem todos os usos comerciais de uma obra
necessariamente conflitam com sua exploração normal”. Para o doutrinador, isto
resta evidente no caso da cópia privada. Para ele, em determinadas condições a
cópia privada não afeta a exploração normal da obra e não pode ser vista como
substituta em relação à aquisição de um exemplar original. Em 2007 o mesmo autor
participou do Seminário de Gestão da Informação Jurídica em Espaços Digitais,
onde colocou que 62,7 % da população brasileira vivem abaixo da linha da pobreza.
Segundo Guilherme Carboni (2007), para esta parcela da população é impensável
adquirir livros e produtos culturais, acessar a internet e alimentar- se. Sendo assim,
a reprodução integral de obras protegidas por esta população (seja através de
fotocópias ou downloads da internet) não interferiria nos meios normais que os
autores possuem para explorar economicamente suas obras, pois esta parcela da
população brasileira está fora do mercado. O impedimento da reprodução de obras
por estes não implicaria na compra de mais ou menos exemplares de livros
impressos ou e-books, mas apenas na perpetuação da miserabilidade do povo
brasileiro, gerada pela falta de acesso à cultura e à educação.
Porém, parece que esta idéia não é tão bem recebida pela indústria de
distribuição de conteúdos. Prova disso são os constantes lobbies junto ao poder
legislativo para modificação das leis a seu favor. Um exemplo disso foi o caso
37

Mickey Mouse, em que a indústria do entretenimento conseguiu junto ao Congresso


americano estender em mais 20 anos o prazo dos direitos autorais relacionados que
estavam prestes a expirar. Outro exemplo são os milhares de processos contra o
Google, contra usuários de internet por colocar conteúdo protegido na rede, mesmo
em produções caseiras no You Tube (fotos das férias com trilha sonora de banda de
sucesso).
Existem também tecnologias que pretendem controlar o uso de
material protegido pelos direitos autorais na internet, em CDs, DVDs, são as
chamadas codificações eletrônicas, incorporadas pelas legislações (vide artigo 107
da LDA) como a criptografia, marcação dos bits adicionando ao conteúdo
digitalizado uma espécie de marca d’ água, variação de pixels feitas no próprio
objeto digital, bem como a criptografia – utilizada para transformar forma digital em
forma ilegível e aplicada durante a distribuição, dentre outras formas de codes
eletrônicos. Procuram equacionar as atividades de “baixar” ou obter o conteúdo e a
do autor em ser recompensado financeiramente. No documento preparado por
Jeffrey P. Cunard, Keith Hill e Chris Barlas, denominado Evolución reciente en el
campo de la gestión de los derechos digitales, para a OMPI em 2004, há vários
exemplos interessantes e atrativos da aplicação do DRM - Digital Rights
Management:

[Exemplo 1] Un consumidor descarga música en casa desde un servicio de


red, y recibe El permiso necesario para escuchar la música mediante un
dispositivo durante doce meses desde la fecha de la descarga (tantas veces
como desee hacerlo); también puede pasar una copia de dicha música a
hasta diez amigos sin coste alguno, pero ellos solo puede escucharla una
vez si no han obtenido previamente una licencia propia. Sin embargo, el
consumidor es recompensado como forma de gratificar su labor de
distribuidor de ficheros protegidos, ya sea financieramente o en especies,
por el titular del derecho de autor que se beneficia de la distribución a sus
amigos.
[Exemplo 2] Un estudiante “visita” la biblioteca de su Universidad desde su
habitación, que se encuentra fuera del campus, encuentra cinco artículos de
periódico y varios capítulos de diversos libros que le son de utilidad para
redactar un trabajo, los descarga en su computadora personal, quedando
sólo disponibles sobre la base de un préstamo a corto plazo, es decir, em
cinco días los ficheros descargados quedan inaccesibles. Sin embargo, la
biblioteca tiene um acuerdo con un vendedor de libros electrónicos que
ofrece descuentos sobre una gama de libros que son de interés en relación
con los artículos del periódico que descargó el estudiante. Esto se consigue
mediante una correspondencia compleja entre metadatos utilizando DRM.
(CUNARD; HILL; BARLAS, 2004, p. 13)
38

Isso também está sendo discutido, pois de certa forma, são controles sendo
exercidos junto à internet. Assim como atualmente não há como proibir o uso de
programas P2P, há de se utilizar esta tecnologia com cautela, pois no seu âmago o
ciberespaço previa liberdade de navegação, privacidade, anonimato, disseminação
de informações e neutralidade da rede, não podendo o tráfego na internet ser objeto
de monitoração e controle.
Mas também não se pode deixar de considerar que o uso de material
protegido por direitos autorais só pode ser feito mediante prévia autorização do
respectivo titular. Muitas das situações de aproveitamento e uso de obras alheias
são hoje socialmente aceitas, mas ferem o disposto em nossa lei de direitos
autorais, a LDA.
A discussão dos direitos autorais na internet está em consonância com a
discussão na regulação ou não do ciberespaço, recaindo nas questões de
privacidade, anonimato, desenvolvimento de novas tecnologias.
No Brasil, atualmente, o Código Civil em sua esfera autoral e de
responsabilidade civil é um instrumento jurídico eficaz, além da LDA para que os
autores tenham seus direitos tutelados, mesmo na internet, ou como muitos
preferem dizer, no ciberespaço.
Para Carla Eugenia Caldas Barros (2007, p. 560):

A responsabilização civil [na internet] é objetiva sendo desnecessária a


indagação sobre a culpa do infrator direto. Ao prejudicado, cabe apenas
demonstrar o nexo entre a ação contrafeita e o dano, para , quando
possível, obrigar o infrator às compensações necessárias, e, pelo menos, a
retirada de sua obra da página da internet. Caso não se consiga identificar o
contrafator, cabe a aplicação do princípio da solidariedade ativa,
responsabilizando-se de forma subsidiária, o dono da página contrafatora.

Faz-se necessária a flexibilização desta lei e das de outros países, de modo a


tirar da ilegalidade uma série de ações, principalmente utilizando-se a internet,
incorporando a mesma o uso de licenças (serão discutidas mais adiante como o
copyleft, creative commons) e o fair use.
39

6 SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E DIREITO À INFORMAÇÃO

6.1 Sociedade do Conhecimento

Os antecedentes do termo “sociedade do conhecimento” datam da década de


setenta. Em 1973, o sociólogo Daniel Bell (1973) apresenta um conceito de
“sociedade de informação” em seu livro O advento da sociedade pós-industrial. Nele
coloca que o motor desta nova sociedade seria o conhecimento, impulsionando o
desenvolvimento social e econômico, como uma espécie de substituto ao conceito
de “sociedade pós-industrial”. Foi utilizado por algum tempo, caindo em seguida no
esquecimento.
A expressão “sociedade da informação” reaparece nos anos noventa no
contexto do desenvolvimento das TICs – tecnologias da informação e comunicação,
e da internet. A convergência destas tecnologias com a internet fez com que se
alterasse profundamente os métodos da geração, processamento, armazenagem e
disseminação da informação. Esta passou a ser um insumo de valor agregado e o
seu controle passou a significar poder político, cultural e econômico. Para Manuel
Castells3 apud Roseli Silva (2008, p. 184) a sociedade da informação:

[...] se caracteriza por cinco critérios que se traduzem no fenômeno da


globalização: tecnológico (inovação), econômico (o peso da informação na
economia), ocupacional (transformação ocupacional – a maioria dos
empregos depende da informação e do conhecimento), espacial (as
fronteiras deixam de existir) e cultural (crescimento da informação que é
acessível aos cidadãos).

Nessa sociedade as tecnologias se aprimoram para proporcionar o constante


desenvolvimento de processos mais flexíveis e incrementam o valor da informação,
colaborando para uma sociedade global, ligando pontos distantes, anulando
fronteiras e modelando relações sociais.

3
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
40

Já a noção de knowledge society ou “sociedade do conhecimento” surgiu no


final da década de 90 e é empregada como alternativa à “sociedade da informação”.
Manuel Castells, renomado pesquisador espanhol, assim a define:

[...] trata-se de uma sociedade na qual as condições de geração de


conhecimento e processamento de informação foram substancialmente
alteradas por uma revolução tecnológica centrada no processamento de
informação, na geração do conhecimento e nas tecnologias da informação.
(CASTELLS, 1999, p. 47)

Muitos estudiosos colocam que o conceito mais apropriado para utilização


seria sociedade do conhecimento e não sociedade da informação. Mas não há
concenso, e cada um acaba por utilizar o que considera mais adequado. Matellart4,
por exemplo, utiliza “sociedade global da informação”, já Ascensão5 coloca que o
mais correto seria “sociedade da comunicação”, já Castells a expressão “sociedade
informacional”, pois assim como a era anterior se chamou sociedade industrial onde
as formas sociais e tecnológicas da organização industrial se infiltraram também na
sociedade, na economia, na política e na vida cotidiana das pessoas, a informação
está presente hoje a sociedade como sendo algo indispensável.
A UNESCO, em suas políticas institucionais, utiliza o termo “sociedade do
conhecimento” ou sua variante “sociedades do saber”. Abdul Waheed Khan,
subdiretor-geral da UNESCO para Comunicação e Informação, escreve:

Information society is the building block for knowledge societies. Whereas I


see the concept of ‘information society’ as linked to the idea of ‘technological
innovation’, the concept of ‘knowledge societies’ includes a dimension of
social, cultural, economical, political and institutional transformation, and a
more pluralistic and developmental perspective. In my view, the concept of
‘knowledge societies’ is preferable to that of the ‘information society’
because it better captures the complexity and dynamism of the changes
taking place. (...) the knowledge in question is important not only for
economic growth but also for empowering and developing all sectors of
society. (KHAN, 2003, p. 8)

Independentemente do termo utilizado, é fato que o conceito da informação


foi repaginado, tendo o suporte tecnológico como sua razão de ser. Apesar do
“boom” informacional, do desenvolvimento da web, da disponibilização do
conhecimento nas redes, há ainda muitas pessoas sem acesso a tudo isso. É nessa

4
MATTELART, Armand. História da sociedade da informação. São Paulo: Loyola, 2002.
5
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito da internet e da sociedade da informação. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
41

perspectiva que a UNESCO realiza trabalhos voltados a inclusão social e digital,


procurando proporcionar o acesso à informação, um direito de todos.
Segundo o que consta na Cartilha “Consulta pública para a modernização da
lei dos direitos autorais” (BRASIL, 2009), de responsabilidade do Ministério da
Cultura, A Consumers International fez, em 2010, um ranking dos países que mais
facilitam o acesso ao conhecimento em suas leis de direitos autorais. De 34 países,
o Brasil ocupa a 27ª colocação. Fica atrás de Bangladesh, Paquistão, África do Sul,
Índia e Argentina. Verificamos com isso, que apesar da Constituição Federal do
Brasil de 1988 em seu artigo 5º respaldar o direito à informação, e
conseqüentemente ao conhecimento, suas leis muitas vezes não privilegiam esse
acesso, como é o caso da lei dos direitos autorais. O atual projeto de lei, para
alteração da LDA (BRASIL, 2010), cuja consulta pública foi prorrogada até 31 de
agosto de 2010 está recebendo veementes críticas quanto à modificação de seu
artigo 1º, que acrescentou “e orienta-se pelo equilíbrio entre os ditames
constitucionais de proteção aos direitos autorais e de garantia ao pleno exercício dos
direitos culturais e dos demais direitos fundamentais e pela promoção do
desenvolvimento nacional”, que busca justamente equilibrar a questão dos direitos
autorais com o acesso à informação e cultura.
Se hoje, “o conhecimento é a chave para o desenvolvimento social e
econômico” segundo a Declaração de Kronberg sobre o Futuro da Aquisição e
Compartilhamento do Conhecimento (KRONBERG, 2007)6, elaborada em reunião
organizada pela UNESCO na Alemanha, se faz necessário que este conhecimento
seja adquirido, compartilhado e democratizado.
Neste sentido, Mansell e Wehn (1998, cap. 13):

[...] o papel das tecnologias de informação na construção de uma


“sociedade do conhecimento” inovadora poderá ser muito relevante e
contribuir para o desenvolvimento sustentado, mas será acompanhado de
muitos riscos. Nesses países, em especial os de nível médio de renda –
grupo em que se enquadram muitos dos países da América Latina e Caribe
– as novas tecnologias e seu uso requerem investimentos na elevação das
capacidades tecnológicas locais e no desenvolvimento das instituições
políticas, culturais, econômicas e sociais.

6
KRONBERG DECLARATION ON THE FUTURE OF KNOWLEDGE ACQUISITION AND SHARING. Germany, jun. 2007.
Disponível em: <http://www.gossamer-threads.com/lists/wiki/foundation/96502>. Acesso em 31 jul. 2010.
42

Por isso, os países vêm buscando diminuir o que chamamos de exclusão


digital, através de políticas que privilegiam o acesso dos cidadãos às informações
produzidas pelos poderes públicos, buscando estar em consonância com o artigo 19
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, regulamentando este direito de
acesso e proporcionando o contato da população com as tecnologias da informação.
O Brasil em 1996 iniciou alguns estudos tendo como objetivo o levantamento
de dados referentes às tecnologias utilizadas pelo setor empresarial bem como o de
“lançar os alicerces de um projeto estratégico, de amplitude nacional, para integrar e
coordenar o desenvolvimento e a utilização de serviços avançados de computação,
comunicação e informação e de suas aplicações na sociedade”. (TAKAHASHI, 2000,
v). Este estudo se consolidou numa publicação chamada “Livro Verde da Sociedade
da Informação no Brasil”, e trazia tendências no setor da tecnologia da informação
propondo em seu texto algumas metas para implementação do Programa Sociedade
da Informação e uma série de ações para o desenvolvimento de tecnologias no país.
Porém, este projeto não teve êxito, pois não houve o envolvimento necessário dos
setores governamentais, educacionais nem empresariais.

6.2 Direito à informação

Atualmente verifica-se que a sociedade da informação apesar de fornecer


uma série de vantagens como o compartilhamento de conhecimento, o uso de novas
tecnologias digitais, a conectividade com outros indivíduos, a socialização através
das redes sociais, pode também, de uma forma paradoxal, gerar exclusão.
Para Luiz Gonzaga Silva Adolfo (2008, p. 250):

Se na economia pré-revolução industrial a exclusão era medida entre


proprietários e não-proprietários, especialmente de terras, passando à
histórica dicotomia capital e trabalho, naquele abrangido o capital
industrializado, na nova era as formas de exclusão poderão ser melhor
visualizadas entre aqueles que têm e os que não têm acesso à informação.
(...) Como uma nação rica possui um conjunto maior de bens e serviços
econômicos, ela valoriza mais a informação e os serviços informáticos, pois
eles geram mais riqueza. Prova disso é que nos Estados Unidos, Alemanha
e Japão, o hardware e o software de computadores e o processamento de
informações que ocorre nas organizações correspondem a
aproximadamente 10% do Produto interno bruto – PIB, enquanto em
Bangladesch não chega a 0,1%, ou seja, cem vezes menor.
43

Sem dúvida, a colocação anterior potencializa a frase “quem detém a


informação detém o poder”, ou ainda, “quem domina a informação domina o mundo”.
Segundo esta lógica, observa-se que aqueles que possuem maiores condições
financeiras aumentam ainda mais suas posses pelo uso da informação, pela qual
valorizam e pagam. Já os que possuem menos condições financeiras, os que mal
têm para subsistir, não atribuem tanto valor a informação, pois esta não é
considerada como prioridade (a prioridade é se alimentar, de ter o que vestir),
acabando por subutilizar os recursos informacionais e tecnológicos, aumentando a
desigualdade já existente.
Segundo o site da UNESCO, os brasileiros buscam familiarizar-se com as
novas tecnologias de comunicação e informação, porém o país ainda apresenta
percentuais que podem ser melhorados:

No uso da internet, o Brasil ocupa o primeiro lugar na América Latina e o


quinto no mundo. No entanto, o baixo percentual de usuários em relação à
população total (71% dos brasileiros não utilizam o serviço) nos coloca em
62º lugar no ranking mundial e em 4º na América Latina, depois de Costa
Rica, Guiana Francesa e Uruguai. (UNESCO, 2010)

Pela análise dos números apresentados podemos verificar que grande parte
dos brasileiros ainda estão a margem deste processo, não exercendo seus direitos
fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988 como o de acesso à
informação apregoados no artigo 5º, incisos XIV e XXXIII:

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo


da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL,
1988)

O direito à informação é um direito inegável aos cidadãos, existindo poucas


exceções impostas constitucionalmente, como é o caso da Lei 11.111, de 5 de maio
de 2005, que coloca que o “acesso aos documentos públicos de interesse particular
ou de interesse coletivo ou geral será ressalvado exclusivamente nas hipóteses em
que o sigilo seja ou permaneça imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado” (BRASIL, 2005).
44

Assim como nossa Constituição reconhece o direito ao acesso à informação,


vários outros instrumentos internacionais de direitos humanos o fazem, como o
artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e de expressão; esse


direito inclui a liberdade de ter opiniões sem sofrer interferência e de
procurar, receber e divulgar informações e idéias por quaisquer meios, sem
limite de fronteiras.(DECLARAÇÃO, 1948)

Também o artigo 19 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a


Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos (também chamada de Pacto de
San José da Costa Rica) reconheceu a liberdade de informação como primordial ao
homem em seu artigo 13 (caput e inciso 1º), o artigo 9 da Carta Africana sobre os
Direitos Humanos e dos Povos e o artigo 10 da Convenção Européia sobre Direitos
Humanos. Cada um deles reconhece o acesso a informações públicas como direito
humano fundamental.
José Afonso da Silva, procurando interpretar o artigo 19 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos externa:

Nesse sentido, a liberdade de informação compreende a procura, o acesso,


o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e
sem dependência de censura, respondendo cada qual pelos abusos que
cometer. (SILVA, 2001, p. 245)

Ou seja, o indivíduo deverá ter liberdade de acessar as informações, de


transmitir ou comunicá-las a outrem, o direito de ser informado, e de se manter
informado.
Corroborando, Canotilho e Moreira (1984, p. 234), na obra Constituição da
República Portuguesa anotada, ao comentarem o artigo 37 da Constituição de seu
país afirmam que

O direito de informação integra três níveis: o direito de informar, o direito de


se informar e o direito de se ser informado. O primeiro consiste, desde logo,
na liberdade de transmitir ou comunicar informações a outrem, de as
difundir sem impedimentos, mas pode também revestir uma forma positiva,
enquanto direito a informar, ou seja, direito a meios para informar. O direito
de se informar consiste designadamente na liberdade de recolha da
informação, de procura de fontes de informação, isto é, no direito de não se
impedido de se informar. Finalmente, o direito a ser informado é a versão
positiva do direito de se informar, consistindo num direito a ser mantido
adequadamente e verdadeiramente informado, desde logo, pelos meios de
comunicação.
45

Por este pensamento, não só quem transmite possui direito à informação,


mas também aquele que a recebe passivamente, ou seja, tanto o agente
transmissor quanto o receptor.
Segundo Toby Mendel (2008, p. 101), a primeira lei de acesso a informações
de que se tem notícia no mundo foi promulgada pela Suécia há mais de 200 anos.
Ele afirma que a garantia legal do acesso a informações públicas na Suécia foi
baseada justamente na compreensão, pelos partidos políticos, de que a abertura de
informações ajudaria a promover uma disputa de forças mais balanceada, quando
eles não estivessem no poder. Porém, a pioneira decisão sueca não foi seguida com
a mesma velocidade pela maioria das nações. Em 1990, somente 13 países haviam
adotado leis nacionais relacionadas ao tema. Em 2008, mais de 70 países já têm leis
de acesso à informação.
Embora a Constituição Federal de 1988 proteja a liberdade e o acesso à
informação, o exercício deste direito no País é dificultado pela ausência de uma lei
específica, inclusive que regulamente a divulgação de informações pelas instituições
públicas. Na Câmara dos Deputados foi aprovada pelo Plenário em 13 de abril de
2010 a redação final do Projeto de Lei 219-C, de 2003, que regula o acesso a
informações previsto no inciso XXXIII do artigo 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no
§ 2º do art. 216 da Constituição Federal. Neste Projeto de Lei, o artigo 3º assim
coloca:

Art. 3º Os procedimentos previstos nesta Lei se destinam a assegurar o


direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em
conformidade com os princípios básicos da administração pública e com as
seguintes diretrizes:
I – observância da publicidade como preceito geral e o sigilo como exceção;
II – divulgação de informações de interesse público, independentemente de
solicitações;
III – utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da
informação;
IV – fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na
administração pública;
V – desenvolvimento do controle social da administração pública. (BRASIL,
Projeto de Lei, 2003)

O Projeto de Lei 5.228, de 15 de maio de 2009 foi apensado ao Projeto de Lei


219/2003. É o projeto intitulado “Lei de Acesso à Informação. Também garante o
acesso pleno, imediato e gratuito a informações públicas e estabelece critérios para
proteção das informações pessoais e sigilosas. Isenta o servidor de ser
46

responsabilizado civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade


competente de informações concernentes à prática de crime ou improbidade,
revogando também a Lei nº 11.111, de 2005 e os arts. 22 a 24 da Lei nº 8.159, de
1991, regulamentando a Constituição Federal de 1988. Em função das várias
semelhanças com o Projeto de lei de 2003 foi apensado a este.
Neste contexto, direito à informação é o direito de todo indivíduo de acessar
informações públicas, ou seja, informações em poder do Estado ou que sejam de
interesse público. Quanto a isso Toby Mendel (2009, p. 34) comenta:

Para efetivar o direito a informação na prática, não basta simplesmente


exigir que os órgãos públicos atendam a pedidos de informação. O acesso
efetivo para muitas pessoas depende de que esses órgãos publiquem e
divulguem, efetivamente, voluntariamente, de forma pró-ativa, sem
necessidade de requisição, categorias-chave de informação, mesmo na
ausência de um pedido. Isso é refletido em uma série de declarações
internacionais. Os Padrões da ONU, por exemplo, afirmam que a liberdade
de informação implica que os órgãos públicos publiquem e divulguem
amplamente documentos de interesse público significativo, como por
exemplo informações operacionais sobre o funcionamento do órgão público
e o conteúdo de eventuais decisões ou políticas que afetem a população.

Alguns avanços podem ser notados no Brasil, como a tramitação de Projetos


de Lei nas casas legislativas e criação de websites que disponibilizam dados
orçamentários e administrativos e processos legislativos. Porém, ainda está muito
aquém comparado a outros países. O Brasil acrescentou em sua Carta Magna a
garantia constitucional do acesso à informação. Porém, antes de regulamentar o
acesso, regulamentou o sigilo. Ainda não possuímos uma legislação que trate do
acesso à informação pública, ou seja, a informações produzidas pelos mais
diferentes órgãos federais, estaduais e municipais. O artigo 5º, inciso XXXIII, apesar
de trazer um grande avanço, ainda não foi regulamentado.
A publicação editada pela ARTIGO 19, uma organização não governamental
de direitos humanos que trabalha na promoção e defesa da liberdade de expressão
e do acesso à informação, no Brasil desde 2005, coloca:

A falta de detalhamento [na Constituição Federal] é um dos motivos para a


necessidade de regulamentação. Além disso, também é preciso definir
prazos para a liberação das informações, apontar possíveis – e únicas –
exceções que podem impedir as instituições públicas de liberá-las e, ainda,
definir punições para quem barrar ou dificultar o acesso aos dados e
registros. (CANELA; NASCIMENTO, 2009, p. 42)
47

Este mesma entidade editou um documento intitulado “O Direito do público a


estar informado: princípios sobre a legislação de liberdade de informação” (O
DIREITO, 1999), utilizando a vasta experiência e trabalho feito com organizações
associadas em muitos e variados países. Estes princípios foram preparados por
Toby Mendel, Chefe do Programa Jurídico do ARTIGO 19 e tem como objetivo
estabelecer uma norma que possa ser comparada com as leis nacionais para se
saber se estas permitem ou não um acesso genuíno à informação oficial. São os
princípios:

Princípio 1: da máxima divulgação: O princípio de máxima divulgação


estabelece a suposição de que toda a informação mantida por organismos
públicos deverá ser sujeita a divulgação e de que tal suposição só deverá
ser superada em circunstâncias muito limitadas.

Princípio 2: Obrigação de publicar. Os organismos públicos deveriam estar


sob a obrigação de publicar informação considerada essencial.

Princípio 3: Promoção de governo aberto. Organismos públicos devem


promover ativamente um governo aberto. Informar o público sobre os seus
direitos e promover uma cultura de abertura no governo, são aspectos
essenciais para que a finalidade da legislação sobre a liberdade de
informação seja alcançada. (...) a lei deveria providenciar no sentido de se
educar o cidadão e disseminar os elementos relacionados com o direito de
acesso à informação, o alcance da informação ao dispor e a forma como
tais direitos podem ser exercidos.

Princípio 4: As exceções deveriam ser clara e rigorosamente traçadas.


Todas as solicitações individuais de informação a organismos públicos
deveriam ser atendidas, a não ser que o organismo público possa
demonstrar que a informação seja considerada no âmbito do regime
limitado de exceções: a) A informação deve relacionar-se com um dos
objetivos legítimos listados na lei. b) A divulgação deverá ameaçar causar
graves prejuízos a tal objetivo; e c) O prejuízo ao objetivo em questão deve
ser maior do que o interesse público à informação específica.

Princípio 5: Processos para facilitar o acesso. As solicitações de informação


deveriam ser processadas rapidamente e com imparcialidade e uma revisão
independente de quaisquer recusas deveria estar à disposição das partes.

Princípio 6: Custos excessivos não deviam impedir o cidadão de solicitar


informações. O custo de ter acesso à informação que é mantida pelos
organismos públicos não deveria ser tão elevado que dissuadisse potenciais
requerentes de o fazer, uma vez que a idéia fundamental, na base da
liberdade de informação, é exactamente a de promover o acesso aberto à
informação.

Princípio 7: Reuniões de organismos públicos deveriam ser abertas ao


público.

Princípio 8: Divulgação tem primazia. As leis que são inconsistentes com o


princípio de máxima divulgação deveriam ser alteradas ou revogadas.

Princípio 9: Proteção de denunciantes. Indivíduos que divulgam informações


sobre situações impróprias - denunciantes - devem ser protegidos.
48

Podemos afirmar que os governos ao redor do mundo estão em diferentes


fases quanto à aplicação destes princípios a leis que tratam do direito à informação.
Países que possuem constituições mais modernas como Polônia, Bulgária, Estônia
e Argentina possuem dispositivos constitucionais que asseguram o direito de acesso
à informação produzida pelos seus respectivos governos. O Brasil, no entanto, neste
cenário encontra-se um tanto atrasado, em função da resistência governamental em
“abrir seus arquivos” à consulta pública. Como já colocado, o portal da
Transparência auxilia na divulgação das informações governamentais aos cidadãos,
mas ainda é muito pouco, tendo em vista que o direito ao acesso à informação
possui status idêntico ao de outros direitos humanos. Em contato através da
ouvidoria de muitos ministérios e secretarias, por exemplo, não se obtém uma
resposta de que a solicitação será processada, como é o caso da Receita Federal
do Brasil. Em abril deste ano, na tentativa de se obter manuais, apostilas de cursos,
relativas à responsabilidade fiscal junto a este órgão, para ser consultado por outro
órgão público, no caso um tribunal, uma bibliotecária procurou contato junto à SRF,
sem êxito. As tentativas não cessaram na consulta à página, envio de diversos e-
mails e contatos telefônicos. Ou seja, as informações não estão acessíveis nem para
outros órgãos do governo. Muitas das informações estão perdidas, como é o caso
de vários documentos emanados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência
Social, pelas constantes reestruturações (ou diria desestruturações) e pela não
existência de uma política de preservação documental.
Sandra Coliver (1995, p. 41 a 46), afirma que o direito à liberdade de
informação passou por algumas fases principais de sua interpretação quanto às
obrigações que impõe aos Estados. Dentre elas a obrigação de respeitar o direito à
liberdade de informação, o direito receber e divulgar informações, livre da
interferência do Estado. Depois, já nos anos 90, seguiu-se a obrigação do Estado de
proteger, na qual os governos estavam sob uma obrigação positiva de tomar
medidas concretas para prevenir que indivíduos ou grupos privados interferissem na
comunicação legal de informações. Comenta:

Finalmente, o direito à informação tem sido crescentemente compreendido


como impondo aos governos uma obrigação positiva de fornecer
informação, inclusive informação detida pelo Estado. Nos últimos dez anos,
ou há mais tempo, esta obrigação em particular passou a dominar o
trabalho de muitos ativistas que têm defendido o acesso à informação em
49

poder do governo por meio da adoção de leis de liberdade de informação ou


7
leis de acesso. (COLIVER, 1995, p. 45)

Podemos ver isso como algo positivo, uma vez que o direito ao acesso à
informação também contribui para a realização e consolidação de outros direitos,
como o direito de todos de ter acesso a informações ambientais, de se ter acesso a
informações relacionadas à saúde, moradia, educação, dentre outros. Tendo
conhecimento, os cidadãos podem exercer seus direitos constitucionais.

7
Tradução coletada na obra CANELA, Guilherme; NASCIMENTO, Solange (Coord.). Acesso à informação e controle social
das políticas públicas. Brasília, DF: ANDI; ARTIGO 19, 2009. p. 17.
50

7 ERA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECAS DIGITAIS

O avanço da área de tecnologia da informação propiciou o desenvolvimento


desta rede de indivíduos, a internet, e esta por sua vez, a novos avanços e
crescimentos nesta área. Atualmente os indivíduos, através de uma simbiose
digital, geram e absorvem conhecimento, criando uma espécie de comunidade
global, sem barreiras, sem fronteiras. Este é o combustível para a sociedade da
informação, uma sociedade baseada no conhecimento e na inteligência.
A era da informação está intimamente relacionada à evolução da tecnologia,
do modo de tratamento e transmissão de dados, passando pela criação do primeiro
computador pela ENIAC, em 1946, até a invenção da web por Tim Berners-Lee, em
1991, que contribuíram para o surgimento das bibliotecas digitais.

7.1 Bibliotecas digitais

As bibliotecas digitais remontam à Biblioteca de Alexandria, não só pela sua


nomenclatura (em grego biblion = rolos de papiro e theke = armário, prateleira), ou
pela sua forma de organização, mas principalmente pela idéia de se ter todos os
livros e conhecimento reunido em um só lugar.
Devido aos constantes avanços, a biblioteca é hoje um organismo
multifacetado. Não podemos mais vê-la como tradicionalmente fazíamos, como um
depósito ou um ambiente físico, real, em contato direto com seus clientes. Elas
evoluíram. E assim como houve o aumento do fluxo informacional, houve
amadurecimento na forma de armazenar e disponibilizar estas informações.
Em meados dos anos sessenta as grandes bibliotecas iniciaram a passagem
do catálogo em papel para o suporte eletrônico (microfilme, base de dados
bibliográficas). Nas décadas seguintes as bibliotecas passaram disponibilizar a
consulta remota, através do chamado "catálogo on-line" ou OPAC – Online Public
Access Catalog, seguindo-se a automatização de serviços de empréstimo. Surgiram
expressões como bibliotecas online, bibliotecas 24 horas.
51

Nos anos 80 a expressão foi substituída por “biblioteca eletrônica” ou


“biblioteca digitalizada”, tendo em vista que estas disponibilizavam algum conteúdo
anteriormente em papel de forma eletrônica, através do processo da digitalização de
originais.
Já na década de noventa surgiram expressões como “bibliotecas digitais”,
“bibliotecas virtuais”, para designar bibliotecas sem fronteiras, não existentes no
mundo físico e sim somente na web, que continham arquivos digitais (digitalizados
ou originalmente nascidos na forma de bits). Muitas vezes foram utilizadas como
sendo expressões similares, no entanto, existem algumas diferenças entre elas.
Para o autor Carlos Marcondes, a biblioteca digital é:

[...] uma biblioteca que tem como base informacional conteúdos em texto
completo em formatos digitais – livros, artigos, teses, imagens, vídeos e
outros, que estão armazenados e disponíveis para acesso, segundo
processos padronizados, em servidores próprios ou distribuídos e
acessados via rede de computadores em outras bibliotecas.
(MARCONDES, 2006, p. 16)

Já para pesquisadores responsáveis pelo Projeto Phronesis, da Universidade


de Monterrey, no México:

A digital library is an organized collection of documents stored in digital


format. A digital library offers services such as submission, classification
indexing, searching, and retrieval. The documents that are stored in a digital
library can be text, images, video or combinations of these. Ideally, a digital
library will allow to store, search and retrieve full documents. This contrasts
with traditional systems that are only focused on searching library records
based on title, description or keywords. (GARZA-SALAZAR; LAVARIEGA;
SORDIA-SALINAS, 2003, p. 55)

Biblioteca virtual seria o próprio ambiente físico transportado para o espaço


cibernético, ou seja, realidade virtual. Imagine-se colocando um óculos 3D e
adentrando numa biblioteca virtual, escolhendo livros, folheando-os, interagindo com
outras pessoas. Seria a biblioteca do futuro.
Para ser uma biblioteca digital não basta ser uma biblioteca automatizada, ou
possuir um catálogo na web. O Google e a internet não são bibliotecas digitais. O
Google possui um projeto de digitalização do acervo de milhares de bibliotecas e
editoras. Neste projeto somente obras de domínio público são colocadas na íntegra
para leitura, oferecendo ao usuário a disponibilidade de download do texto
52

eletrônico. Somente pequenos trechos de obras protegidas pelo copyright são


disponibilizados para leitura, indicando links para sites de livrarias online parcerias
onde poderia ser feita a compra do livro ou sites de bibliotecas onde poderia obter o
mesmo através de empréstimo, não deixando de ser uma espécie de loja virtual. No
início do projeto a Google sofreu uma série de processos judiciais por infringir a lei
de copyright.
Para ser uma biblioteca digital primeiramente ela deverá ser acessível
remotamente, permitir o acesso simultâneo a documentos digitais ou digitalizados,
disponibilizar diversos tipos de informações: textos, imagens, vídeo, etc. e serviços
para seus clientes ou usuários. O mais importante é que estas informações devem
estar disponíveis integralmente (texto completo), de forma tratada, ou seja, os
objetos digitais8 têm de estar classificados, catalogados e indexados utilizando-se
para isso metadados9 – que são dados sobre estes objetos. Têm de estar
organizadas e pesquisáveis (seja pela interface de busca ou pelos harvests), para
que estas possam estar também acessíveis a longo prazo (preservação10 dos
objetos digitais). Têm de ser um verdadeiro repositório digital11, com links
persistentes12, que tem realmente como objetivo a disseminação de conhecimento,
em tempo real, sem propósito lucrativo. Ou seja, não basta ter um site com uma
porção de documentos e denominar o mesmo de biblioteca digital é preciso que ela
atenda a uma série de requisitos, sendo o principal deles a disseminação de
informações.

As bibliotecas digitais tornam-se, desse modo, um instrumento poderoso de


distribuição, cooperação e acesso ao conhecimento, atendendo e podendo
servir de foco agregador a uma comunidade segmentada, distribuída
geograficamente. (MARCONDES, 2006, p. 11)

O Projeto Gutenberg criado em 1971, é considerado a mais antiga biblioteca


digital do mundo. As obras ali existentes são de domínio público. Segundo a

8
Um objeto digital é muito mais do que um arquivo, é um registro de informação codificado digitalmente, consistindo de
conteúdo informacional, metadados e identificador.
9
Metadados é um conjunto de campos de dados que identificam, descrevem os atributos e o conteúdo de um documento que
está no espaço digital (ex.: título, autor, data de publicação, assunto etc.), facilitando a sua recuperação posterior.
10
Preservação digital é o emprego de mecanismos que permitem o armazenamento em repositórios de objetos digitais e que
garantem a perenidade dos seus conteúdos. Compreende o planejamento, a alocação de recursos e a aplicação de métodos e
tecnologias para assegurar que a informação digital de valor contínuo permaneça acessível e utilizável.
11
Um banco de metadados, freqüentemente representando uma coleção de conteúdos de uma instituição. São sistemas de
informação que armazenam, preservam, divulgam e dão acesso à produção intelectual.
12
Um identificador persistente é uma nomenclatura e identificação que permita que um objeto possua somente um identificador
longínquo. The PURL System (Persistent Uniform Resource Locator: http://www.purl.org/)
53

Wikipédia (2010), em meados de 2006, o Projeto continha mais de 20.000 obras em


seu acervo, dentre livros de romance, contos, poesia, teatro, obras de referência e
até algumas partituras. O primeiro livro em Português publicado pelo Projeto
Gutenberg foi Lendas do Sul (1913) do autor brasileiro João Simões Lopes Neto, em
2001. Seguiram-se Os Lusíadas do português Luís Vaz de Camões.
Também existem alguns poucos textos protegidos por direitos autorais que o
Projecto Gutenberg distribui com uma autorização. Estes estão sujeitos a mais
restrições, especificadas pelo detentor dos direitos autorais. A grande maioria das
obras estão em inglês, mas existem muitas em português. Antes de inserir a obra na
biblioteca digital é feita uma pesquisa com relação aos direitos autorais, sendo que
estas pesquisas são arquivadas para uma consulta futura, evitando-se assim,
processos judiciais pro violação dos direitos autorais.
Atualmente existem várias bibliotecas digitais no mundo e no Brasil, alguns
exemplos a nível mundial:
• Biblioteca Nacional Digital de Portugal (http://purl.pt),
• Portal Europeana (http://www.europeana.eu/portal/),
• Library of Congress (http://memory.loc.gov/ammem/index.html),
• Gallica, França (http://gallica.bnf.fr/),
• Alexandria Digital Library (http://www.alexandria.ucsb.edu/),
• New Zealand Digital Library (http://www.nzdl.org/cgi-bin/library.cgi);

No Brasil as mais conhecidas são:


• Domínio Público (http://www.dominiopublico.gov.br),
• Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (www.bibvirt.futuro.usp.br/),
• Biblioteca Brasiliana Digital – USP (http://www.brasiliana.usp.br/),
• Biblioteca digital brasileira de Teses e Dissertações do IBICT – Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (http://bdtd.ibict.br/)
• Biblioteca digital do Senado (http://www2.senado.gov.br/bdsf/)
• Biblioteca digital da Câmara (http://bd.camara.gov.br/bd/)
• Bdjur (http://bdjur.stj.gov.br/)

A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro contém vídeos em libras e


gravações de vozes de personagens importantes da história brasileira, foi uma das
54

primeiras bibliotecas digitais do Brasil, recebendo uma série de prêmios, tendo em


seu acervo mais de 10.000 obras em domínio público, dentre elas audiolivros,
biografias, obras clássicas da literatura brasileira.
A Biblioteca Digital Domínio Público foi lançada em 2004, desenvolvida em
software livre, contendo inicialmente 500 obras em seu acervo. Pelas estatísticas
apresentadas no portal, atualmente possui 71.000 obras cadastradas, sendo que até
então foram realizadas 26.791.646 consultas. Abaixo levantamento feito em 2010:

Mês Visitas Obras Cadastradas E-mails Recebidos

Julho/10 524.595 2.642 872

Junho/10 663.548 3.209 910

Maio/10 722.915 3.193 1.495

Abril/10 774.836 3.715 1.439

Março/10 766.287 3.670 1.638

Fevereiro/10 209.247 3.224 1.227

Janeiro/10 511.279 3.438 972


Tabela 1: Quantitativo mensal do número de visitas, obras cadastradas e e-mails recebidos. Fonte: Portal Domínio Público

Pelos números podemos verificar que o projeto desenvolvido pelo Ministério


da Educação vem dando certo. As obras digitalizadas sãos as se encontram em
domínio público ou que contam com a licença dos titulares dos direitos autorais.
Assim como a Domínio Público, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações – BDTD é um projeto coordenado pelo IBICT e que integra os sistemas
de informação de teses e dissertações existentes nas instituições de ensino
superior.
Segundo o que consta no site do IBICT (2010),

[...] as instituições de ensino e pesquisa atuam como provedores de dados e


o IBICT opera como agregador, coletando metadados de teses e dissertações
dos provedores, fornecendo serviços de informação sobre esses metadados
e expondo-os para coleta por outros provedores de serviços, em especial
pela Networked Digital Library of Theses and Dissertation - NDLTD.
55

A BDTD utiliza as tecnologias do Open Archives Initiative (OAI) e adota o


modelo baseado em padrões de interoperabilidade consolidado em uma rede
distribuída de bibliotecas digitais de teses e dissertações.
Grande maioria das bibliotecas digitais segue a filosofia do projeto OAI (Open
Archive Initiative - Iniciativa Arquivos Abertos), uma nova filosofia para a publicação
científica, baseada em três princípios: auto-arquivamento, revisão pela comunidade
(pelos seus pares) e interoperabilidade.
O auto-arquivamento refere-se ao direito de o próprio autor enviar o seu texto
para publicação sem intermédio de terceiros. Isso faz com que o texto seja
disponível mais rapidamente, favorecendo também o acesso gratuito a publicações
eletrônicas, que até então estavam na mão de grandes editoras científicas, que
detinham também os direitos de publicação.
A revisão pela comunidade científica tem como propósito a transparência das
críticas e sugestões feitas aos textos eletrônicos depositados no repositório. Já a
interoperabilidade faz com que haja um conjunto mínimo de metadados e protocolo
comum para que seja possível a troca de informação bem como a preservação a
longo prazo destas informações.
Os adeptos a essa idéia defendem o acesso aberto de conteúdos e novas
modalidades de direitos autorais, as licenças copyleft, para a democratização da
informação.
A Bdjur – Biblioteca digital jurídica STJ, a Biblioteca Digital do Senado, a
Biblioteca Digital da Câmara e a Biblioteca Brasiliana Digital – USP, utilizam
software Dspace, um sistema de repositório digital feito em código aberto (open
source), também adepto ao Open Archives e a iniciativa Open Access (acesso livre
ao conhecimento).
Este software foi desenvolvido pelo Massachusets Institute of Technology –
(MIT), nos Estados Unidos, em parceria com a Hewlett-Packard - HP
(http://www.dspace.org). Foi utilizado pela primeira vez em língua portuguesa pela
Universidade do Minho/Portugal (https://repositorium.sdum.uminho.pt/index.jsp).
Ele permite pesquisa ao texto integral das obras, pesquisa dinâmica, links
persistentes (de forma que a obra sempre estará naquele endereço
independentemente de software e da própria web, não se alterará), maior
56

visibilidade, pois os dados podem ser buscados por metabuscadores na web, e


preservação a longo prazo para os objetos digitais.
Mas porque dedicar um capitulo específico a elas? Porque toda esta
discussão com relação aos direitos autorais na web perpassa pela biblioteca digital.
Ela foi tanto uma das várias tecnologias que contribuíram para essa discussão
quanto um ambiente atingido por essas mudanças. Pode parecer um tanto
paradoxal, mas tanto é uma das causas quanto sofre os efeitos. Na internet, as
bibliotecas digitais possuem a função de repositório de obras, preservando-as a
longo prazo como já destacado anteriormente. Através delas os autores podem ter
seus trabalhos permanentemente divulgados, tendo seus direitos autorais protegidos
através da obediência às leis de direitos autorais vigentes e uso de licenças.

7.2 Definição dos direitos autorais em bibliotecas digitais

Para a disponibilização de documentos em uma biblioteca digital há


necessidade de se observar a legislação vigente a respeito dos direitos autorais.
Segundo a Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a lei dos direitos autorais no
Brasil, todas as obras, mesmo quando digitalizadas, não perdem sua proteção,
porque os autores mantêm seus direitos independentemente do meio pelo qual
estas se encontram (Art. 7º).
Em função disso, a inserção de obras protegidas por direitos autorais na
internet (reprodução e transmissão) e em bibliotecas digitais depende de prévia e
expressa autorização dos titulares de direitos autorais (Art. 29, Inc.I). Sendo assim,
há necessidade de se elaborar de um termo de autorização, em que o autor permite
a publicação de sua obra em meio digital. Em anexo alguns modelos.
Autorizada a inserção, existem 4 tipos básicos de utilização desta obra:
• Visualização em tela;
• Reprodução externa do material através de download no computador do
usuário;
• Reprodução externa através da impressão do material em um ou mais
exemplares, com ou sem intuito de lucro;
• Reprodução total ou parcial da obra para uso no próprio ciberespaço.
57

A fim de evitar que a obra seja usada indevidamente, os pacotes de softwares


para bibliotecas digitais (Dspace, etc.) geralmente utilizam alguma licença,
complementar à Lei de Direitos autorais. Desta forma, o autor compartilha sua
monografia, tese, artigo com os usuários desta biblioteca digital, mas sob alguns
limites e critérios estabelecidos, definidos por esta licença, ficando claro o que é
permitido. Por exemplo, o usuário poderá estar autorizado a ler na tela e imprimir o
texto, mas não a fazer o download da obra. Desta forma, a biblioteca digital propõe-
se não só a divulgar o trabalho do autor, mas a coibir o plágio total ou uso indevido
de partes de seu texto. As principais licenças utilizadas em bibliotecas digitais em
complemento a lei dos direitos autorais são as licenças Creative Commons que
serão vistas logo a seguir.

7.3 Uso de licenças

A licença é uma espécie de contrato (que pode ser muito simples, até uma
linha) por meio do qual o titular de direitos sobre determinada criação define
condições e limites para a utilização da obra. Muitos definem como sendo um
documento através do qual se pode especificar condições-padrão para o uso de
determinada obra por outras pessoas. Pode-se permitir o uso de uma obra na
criação de outra, desde que a fonte seja referenciada, ou ainda para fins não
comerciais, ou ainda, que esta seja licenciada pela mesma licença da primeira.
Seguindo esta idéia surgiu o Copyleft. Uma obra sob a licença Copyleft
(deixar copiar) requer que suas modificações, ou extensões da mesma, sejam livres,
passando adiante a liberdade de copiá-la e modificá-la novamente. A licença GPL –
Licença Pública Geral para software livre baseia-a nesta filosofia, bem como o
Creative Commons, e representam uma alternativa ao copyright, o qual restringe
excessivamente a distribuição e utilização de obras intelectuais. Com relação a isso,
Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito
da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro e diretor do Creative Commons
Brasil reforça:
58

Há músicos, produtores de vídeos ou escritores que [...] querem que as


pessoas tenham acesso às suas obras, ou, eventualmente, que outras
pessoas continuem o seu trabalho, seja reinterpretando-o, seja
reconstruindo-o ou recriando-o. Para essas pessoas, não faz sentido nem
econômico, nem artístico, que seus trabalhos se submetam ao regime de
“todos os direitos reservados.” (LEMOS, 2005, p. 83)

Para compreender as raízes do copyleft, é necessário compreender os


fundamentos do projeto GNU (Gnu is Not Unix). Este projeto foi iniciado por Richard
Stallman em 1984, após o mesmo abandonar o Laboratório de Inteligênia Artificial
do Instituto de Tecnlogia de Massachusetts, - MIT, com o objetivo de criar um
sistema operacional totalmente livre, que qualquer pessoa teria direito de usar,
estudar, modificar e redistribuir o programa e seu código fonte, desde que
garantindo para todos os mesmos direitos.
Com isso surgiu a GNU General Public License (Licença Pública Geral),
GNU GPL ou simplesmente GPL. É uma licença para software livre baseada na
liberdade de executar o programa, estudá-lo e adaptá-lo, de redistribuir cópias e
aperfeiçoá-lo e liberar seus aperfeiçoamentos à comunidade usuária do software. A
GPL mantém, porém, os direitos do autor de forma a não permitir que o código-fonte
seja utilizado em programas proprietários, ou que sejam impostos sobre ele
restrições que impeçam que seja distribuído da mesma maneira que foi adquirido.
Ou seja, trabalhos derivados deverão ser distribuídos através da mesma licença
GPL. Um exemplo de programa desenvolvido pelo projeto Gnu é o Gimp, um
software para edição de imagens. A GPL é a licença menos permissiva, mas a que
possibilita maior perenidade. É um instrumento jurídico, que garante que o usuário
não se aproprie de algo sem retornar com um produto melhor.
A criação do termo copyleft é atribuída ao mesmo Richard Stallman, que criou
o projeto Gnu e que em 1985, fundou a Free Software Foundation (FSF). Segundo
Liliana Minardi Paesani (2007, p. 180) “o conceito surge juntamente com a idéia de
software livre e desponta como uma inversão de valores do copyright”. Copyleft é
um trocadilho. É uma inversão do copyright (direitos de reprodução). O termo
substitui o “right” (direita) pelo “left” (esquerda), o que em inglês se refere ao
passado perfeito do verbo “leave”, que significa permitir, deixar. Ainda pode aludir
à ideologia política de esquerda, envolvida nos esforços de democratização da
informação.
59

De acordo com Stallman, o termo foi-lhe sugerido pelo artista e programador


Don Hopkins, que incluiu a expressão "Copyleft - all rights reversed." (todos os
direitos invertidos) numa carta que lhe enviou e de certa maneira, parodia a
expressão All rights reserved, tanto que o símbolo do copyleft é um C invertido.
O copyleft passou a ser utilizado não só para licenciamento de softwares, mas
também para obras literárias, textos, principalmente na modalidade Creative
Commons.
O Creative Commons – CC pode denominar tanto um repositório de licenças
padronizadas para gestão aberta, livre e compartilhada de conteúdos e informação –
copyleft quanto a organização sem fim lucrativos que as redigiu e mantém a
atualização e discussão sobre estas licenças e que presta acessoria gratuita para
garantir que aqueles que desejam liberar suas obras ao domínio público o façam de
maneira ainda legal e preservando seu direito inalienável de ser reconhecido como
autor.
Teve sua origem na Universidade de Stanford, com professor Lawrence
Lessig, estando presente atualmente em mais de 50 países. Também conhecido
como movimento, estabelece um novo modelo de negócios, baseado na liberdade
do autor de estipular quais direitos ele está disposto a conceder sobre sua obra,
flexibilizando o conceito do copyright de “todos os direitos reservados” para “alguns
direitos reservados”. O objetivo é manter os direitos autorais do autor e criador da
obra intelectual e ao mesmo tempo permitir a democratização da informação, e às
pessoas terem alguns direitos sobre a obra.
A licença Creative Commons se aplica a vários tipos de trabalhos, não só a
softwares, como criações artísticas colaborativas e textos. As licenças de software
livre inspiraram a criação do Creative Commons, o conceito original é comum, porém
as licenças deste repositório são mais variadas do que as utilizadas pelo software
livre, dando muito mais opções para o autor quanto os direitos que ele pretende
conceder. O CC (assim conhecido), pode potencializar o valor econômico de obras
culturais como imagens, filmes, músicas, livros, dentre outros. Essas licenças
também são incorporadas em sites que lidam com conteúdo produzido
descentralizadamente como Flickr. Muitos sites de busca como Yahoo possuem
dispositivo de pesquisa especializado em localizar obras licenciadas sob CC.
60

Nas licenças CC o titular dos direitos autorais continua sendo o autor, não é
uma cessão de direitos, pois não há transferência dos mesmos, nem concessão
(cuida da exclusividade de exploração temporária).
As principais licenças Creative Commons são a licença de Atribuição, de Uso
Não-Comercial, a de Não a Obras Derivadas e a de Compartilhamento pela mesma
Licença. O autor poderá fazer combinações, um mix entre elas.
A licença de Atribuição permite a cópia, distribuição e execução da obra –
protegida pelos direitos autorais – e a da obra derivada criada a partir dela, mas
somente se for dado crédito da maneira que o autor estabeleceu. Esta é a única
licença obrigatória.
A licença de Uso Não-Comercial, permite que as pessoas copiem, distribuam
e executem a obra e as obras derivadas criadas a partir dela, mas não para fins
comerciais.
Através da licença Não a Obras Derivadas, é permitido que outras pessoas
copiem, distribuam e executem somente cópias exatas da obra, mas o autor não
autoriza sua obra para elaboração de obras derivadas. Por isso a obra não pode ser
alterada ou reeditada sem a autorização do autor.
No Compartilhamento pela Mesma Licença, o autor permite a cópia, a
distribuição e a utilização de sua obra, como ocorre no caso da licença de
Atribuição, e na licença Vedado uso Comercial, mas impõe a condição de que, no
caso da obra ser utilizada para criação de obras derivadas, estes deverão distribuir
estas obras derivadas somente sob uma licença idêntica à licença que rege a obra
original.
Ainda existem as licenças de Sampling, por exemplo, que permitem que
pequenos pedaços da obra sejam remixados em obras novas, a licença de
Compartilhamento de Música, para músicos que queiram compartilhar suas obras
com seus fãs, entre outras.
Segundo o site Creative Commons Brasil (PROJETO, 2004), o Creative
Commons (CC) disponibiliza licenças que abrangem um espectro de possibilidades
entre a proibição total dos usos sobre uma obra – todos os direitos reservados – e o
domínio público – nenhum direito reservado. As licenças ajudam a manter o direito
autoral ao mesmo tempo em que permite certos usos da obra – um licenciamento
com “alguns direitos reservados”. É um tipo de licença mais flexível, permitindo
61

acesso ao conhecimento (Projeto A2K – Access to Knowledge), garantindo proteção


e liberdade.
O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundação
Getulio Vargas, no Rio de Janeiro é o órgão responsável pela direção, no Brasil, do
projeto Creative Commons. O CTS adaptou as licenças do Creative Commons para
o ordenamento jurídico brasileiro e fez com que o Brasil se tornasse pioneiro no
desenvolvimento de licenças CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL, atualmente utilizadas
pelo governo para o licenciamento de software livre.
Tanto a GPL, que licencia softwares livres, as licenças aplicadas a softwares
Open Source, quanto o Creative Commons são legais, pois se traduzem em
institutos jurídicos de proteção dos direitos autorais. Eles se fundam em um princípio
básico, de que o autor, enquanto dono de todos os direitos de uma criação
intelectual possui a faculdade de fazer o que quiser com esses direitos. Sendo
assim, fundamentam-se no modelo tradicional do direito autoral, o que eles fazem é
autorizar alguns direitos sobre as obras, direitos esses que pertencem, por lei, ao
próprio criador da obra.
62

8 DIREITO AUTORAL X DIREITO À INFORMAÇÃO

Atualmente as leis de direitos autorais preocupam-se em proteger as grandes


indústrias do entretenimento, os detentores dos direitos cedidos em grande maioria
pelos autores através de contratos de cessão; não visam proteger aquele poeta
sonhador, o músico romântico, o pintor excêntrico. Esses somente são lembrados
para justificar os direitos de exclusividade fornecidos pelo direito autoral toda vez
que a matéria entra em discussão, embora isso não corresponda à realidade, pois
grande parte destes direitos não está na mão destes autores, mas de corporações.
O autor português José de Oliveira Ascensão considera:

A associação cada vez mais estreita do direito de autor a setores muito


poderosos da atividade econômica marca também profundamente a nossa
época. O direito de autor nasce amparado na imagem do escritor cuja
criatividade se recompensa. (...) Hoje, porém, podemos dizer que (...) os
objetivos empresariais do direito de autor sejam cada vez mais nítidos e o
significado efetivo do criador intelectual cada vez mais modesto. A situação
econômico-social do autor não corresponde hoje à visão clássica do criador
independente, como que artesanal na elaboração de sua obra. As leis
protecionistas do autor tornam-se ambíguas. Falam do autor, mas autores
são os adquirentes de direitos, e pelo autor agem os mandatários. Essas
leis protegem afinal interesses empresariais, que só casualmente coincidem
como os do criador intelectual. (ASCENSÃO, 1997, p. 8).

Seu surgimento na Inglaterra não foi para proteger os autores, mas sim o
monopólio dos editores e mesmo o droit d’ auteur que surgiu para proteger os
autores na França, hoje esbarra em novos conceitos de autor e obra. A web
imprimiu uma nova dinâmica na relação autor-> obra-> empresários-> usuário.
Muitas obras possuem autoria coletiva, de indivíduos que ora são leitores ora são
autores; grande maioria delas está disponibilizada na web, em redes colaborativas,
em forma de comentários e e-book, muitas delas derivadas de outras obras, e
originais para uma porção de outras mais. Muitos autores recebem contribuição de
seus leitores, muitos programas de televisão são feitos com base nas sugestões dos
telespectadores. Carlos Rogel Vide e Victor Drummond (2005, p. 32) citam ainda as
obras multimídia, intimamente ligadas com a tecnologia digital, chamada também de
numérica. Nelas estão presentes ao mesmo tempo, imagens fixas ou animadas,
textos, músicas. Estas informações estão disponíveis em diversos formatos, sendo
que há a possibilidade de se intervir nesse conteúdo, de acrescentar informações,
63

mesclar textos, etc. A Wikipédia, criada em 2001 é um exemplo desta dinâmica, e


Wiki13, e desafiam o paradigma dos direitos autorais.
Para Alessandra Tridente (2009, p. 132), as regras atuais do direito autoral
revelam acentuada preocupação legal com a proteção aos detentores do direito
autoral.
O que era para proteger o autor e sua obra e contribuir para o
desenvolvimento da cultura, de forma a garantir a subsistência do mesmo e
assegurar a proteção do patrimônio cultural, acaba por fazer exatamente o contrário.
A larga duração dos privilégios dos direitos sobre as obras (grande parte dos países
é de 70 anos), a necessidade de autorização para qualquer uso, até mesmo as
dificuldades na identificação dos titulares do direito autoral (pois o registro das obras
em vários países é facultativo ou não existente) obstam a criação ao invés de
promovê-la, pois estas obras demoram muito tempo para entrarem em domínio
público e servirem de insumo para novas criações.
Obras derivadas, por exemplo, deveriam ter menos tempo de proteção. Toda
criação deveria ser registrada, em um esquema simplificado e os prazos para que as
obras se tornem de domínio público deveriam também ser menores, pois o
argumento de que as obras poderiam demorar décadas para chegar aos mais
diferentes países com a internet “caiu por terra”. Esse era um dos principais pilares
que sustentavam longos prazos para o direito autoral, o fato de demorarem a chegar
a países mais distantes. Nos debates há um consenso na idéia de que os prazos de
exclusividade devem ser longos o suficiente para estimular a criação de obras e
proteger o autor e sua obra, mas não tão longos ao ponto de inibir a criação de
obras derivadas.
Não é verdade que quanto maiores forem os direitos autorais, quanto maiores
forem os direitos de propriedade intelectual dos autores sobre suas obras mais
protegidos eles estariam e conseqüentemente mais garantido estaria o progresso
humano. Pelo contrário, os direitos autorais não protegem o autor, e sim os
detentores dos direitos autorais, o progresso humano é barrado pela série de
entraves já citados presentes nas leis e muitas vezes ferem o direito de acesso à
informação.

13
Wiki: edição colectiva dos documentos usando um sistema que não necessita que o conteúdo tenha que ser revisto antes da
sua publicação
64

É o caso da LDA, pois segundo o seu art. 11, o autor de uma obra só poderá
ser pessoa física, porém, já em seu parágrafo único coloca que a proteção
concedida ao autor pode estender-se a pessoas jurídicas (editoras, gravadoras),
pois o autor, através de um contrato de cessão poderá transferir a titularidade de
seus direitos a uma editora, por exemplo. Embora chamemos a LDA de Lei dos
Direitos Autorais, na verdade ela protege principalmente o titular dos direitos, que,
coincidentemente, na maioria das vezes, não é o autor.
Allan Rocha de Souza, professor da disciplina de Direitos Autorais da UFRJ
coloca:

Uma legislação restritiva como a atualmente vigente, que reflete uma visão
hiperproprietária da proteção autoral, traz incontáveis malefícios, pois, ao
mesmo tempo, reduz o que presume promover (novas criações e uma
economia cultural robusta), restringe injustificadamente direitos
fundamentais sociais de caráter essencial à própria formação das pessoas e
condena parte substancial da população à exclusão cultural, com efeitos
nefastos sobre a democracia e cidadania culturais. Ao final, a exacerbada
restritividade da legislação vigente afeta negativamente sua própria
legitimidade social, reduz o escopo da necessária adesão voluntária,
aumenta os custos de implantação e, com isso, presta um desserviço ao
próprio Estado democrático de direito. (SOUZA, 2010, p. 33)

Outro exemplo é a produção de filmes norte-americanos. Na obra “Direitos


Autorais”, Pedro Paranaguá e Sérgio Branco (2009, p.45-46) afirmam que a indústria
do entretenimento nos Estados Unidos vem transformando a propriedade intelectual,
os direitos autorais em um fator limitador à criatividade. Vários filmes já foram
suspensos temporariamente porque muitos (escultores, artistas, arquitetos, músicos)
alegavam que suas obras estavam sendo mostradas sem o devido ressarcimento,
mesmo que aparecendo no fundo de uma cena. Neste contexto, surgiu a expressão
“clearning”, que segundo os autores, “é o ato de obter todas as licenças: de uso de
mobília de tal artista, de músicas, necessárias para o uso de obras de terceiros que
apareçam no filme, ainda que incidentalmente, de modo a evitar possíveis
transtornos na exibição da obra” (PARANAGUÁ; BRANCO, 2009, p. 46).
O direito à informação defende o livre acesso ao conhecimento. Por outro
lado, o direito autoral visa proteger os autores de infrações cometidas pelos usuários
de suas obras. Entretanto, esses dois direitos visam, como comenta Lemos (2005, p.
17 a 19), o equilíbrio entre o mundo da colaboração e do compartilhamento, com o
mundo da exploração da obra e da remuneração ao autor.
65

O dilema da propriedade intelectual agravado com a internet é a de que a


reprodução não autorizada feita por uma pessoa qualquer pode nunca ser
descoberta pelo autor, pois esta não furtou algo material, mas sim uma coisa
imaterial, não impedindo ainda o autor de usar sua obra, seu próprio trabalho. A
internet agrava isso, no momento em que não se distingue mais o que é original do
que é cópia. Nesta seara, o autor Guilherme Carboni em suas palestras defende a
função social dos direitos autorais.
Se o direito autoral é um ramo da propriedade intelectual, e dadas as
características do direito de propriedade, é possível atribuir ao direito autoral as
peculiaridades do direito de propriedade, excetuando-se a perpetuidade. A
propriedade tem, por determinação constitucional (Constituição do Brasil de 1988),
uma função a cumprir. Sendo assim, o direito autoral, como ramo da propriedade
intelectual também tem uma função social a cumprir, que exerce papel importante
para o equilíbrio entre o direito de autor e o direito de acesso ao conhecimento. Esta
função social está ligada à educação, ao acesso à cultura e à ciência, a idéia de que
a exploração da obra deve favorecer tanto autor quanto a sociedade, de que o
aproveitamento tem de ser racional e adequado. Washington de Barros Monteiro
(2007, p. 91) lembra que “entre os romanos, o exercício do direito de propriedade
era subordinado às exigências do bem comum”.
Para Pedro Paranaguá e Sérgio Branco (2009, p. 18), a LDA atualmente
desautoriza uma série de condutas que estão em conformidade com a função do
instituto da propriedade: cópia de livros esgotados, a cópia para preservação da
obra, a representação e a execução de qualquer obra em instituições educacionais,
desde que sem fins lucrativos.
Carlos Rogel Vide e Victor Drummond (2005, p. 103) mencionam que o artigo
37 da Lei de Propriedade Intelectual prevê a livre reprodução e o empréstimo de
obras (vedadas pela LDA). Assim coloca o artigo 37, apartado 1:

Os titulares dos direitos de autor não poderão se opor às reproduções das


obras , quando aquelas se realizem sem finalidade lucrativa pelos museus,
bibliotecas, fonotecas, hemerotecas ou arquivos de titularidade pública ou
integrada em instituições de caráter cultural ou científico, e a reprodução se
realize exclusivamente pra fins de pesquisa.
66

Observam os autores que as reproduções a que se faz referência são,


exclusivamente, as que se referem às chamadas cópias de substituição do original
extraviado, deteriorado ou então cópias destinadas ao estudo dos pesquisadores.
Outra preocupação dos direitos autorais é com relação à pirataria, a cópia não
permitida. Essa preocupação é valida, porém, podemos verificar que as cópias não
influenciam na vendagem das obras. Na realidade, editorialmente, quanto mais uma
obra circula, mais vende.
O que se busca, é um caminho intermediário, maior flexibilização entre os
direitos autorais e o direito de acesso à informação. Na Minuta da Declaração de
princípios da World Summit on the Information Society – WSIS, realizada em 2003, o
item 26 refere-se ao acesso à informação e ao conhecimento:

A rich public domain is an essential element for the growth of the Information
Society, creating multiple benefits such as an educated public, new jobs,
innovation, business opportunities, and the advancement of sciences.
Information in the public domain should be easily accessible to support the
Information Society, and protected from misappropriation. Public institutions
such as libraries and archives, museums, cultural collections and other
community-based access points should be strengthened so as to promote
the preservation of documentary records and free and equitable access to
information. (WORD SUMMIT..., 2003)

Neste item fica claro que é importante a disponibilização do conhecimento


para desenvolvimento da sociedade como um todo, mas também de que toda
informação deverá ser protegida de apropriações indevidas.
67

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos num momento de transição no que diz respeito aos direitos autorais.
Este tem de acompanhar os avanços tecnológicos e a mudança de comportamento
da sociedade. Faz-se necessária a flexibilização da atual lei dos direitos autorais
brasileira e também de outros países, de modo a tirar da ilegalidade uma série de
ações corriqueiras como passagem de uma música para o Ipod, de um CD-ROM,
para outro, por exemplo, ou de ações utilizando-se a internet, como download de
vídeos e músicas, incorporando a mesma o uso de licenças como as do creative
commons detalhadas ao longo do texto, ou outros mecanismos alternativos como o
fair use. Em outras palavras, há necessidade de se modificar os parâmetros de
proteção legal existentes.
As bibliotecas digitais já utilizam estas licenças de uso em complemento às
leis de direitos autorais. Desta forma, as obras disponibilizadas nestes repositórios
digitais estão protegidas e seus respectivos autores também, evitando-se o uso
indiscriminado e coibindo também o plágio. Ao contrário do que a maioria dos
editores alegam, essa forma de disponibilização não diminui a comercialização
destas obras, pelo contrário, torna-as conhecidas pelo público.
O direito autoral hoje está muito calcado no direito patrimonial, enquanto que
o direito à informação é um direito fundamental, presente no texto de diversas
constituições, parecendo desta forma, direitos antagônicos, porém não o são.
Propomos aqui um olhar diferente ao direito autoral, como um direito de propriedade,
com função social, que se aproximaria ao direito de acesso à informação.
Neste contexto, toda a informação governamental tem de estar disponível
para o público, obedecendo-se ao princípio do acesso à informação presente na
Constituição Federal de 1988, seguindo-se também os preceitos da sociedade da
informação e do conhecimento.
Assim como o autor não pode atualmente viver sem o empresariado que
promove sua obra, o direito autoral também não terá mais como sobreviver sem
abrir mão de sua visão excessivamente patrimonialista e comercial para uma
necessária democratização do acesso à informação. Pois, da forma como hoje está
delineado, não protege eficazmente os autores nem promove uso racional das obras
68

por parte da sociedade. Assim como o copyright e o droit d’auteur estão convergindo
para proteger tanto autores quanto os editores contra as fraudes e plágio, é
necessário ampliar esta abrangência de modo que o direito autoral promova o
equilíbrio estas três segmentos: autores, empresários e sociedade.

O que se propõe então é o equilíbrio entre os direitos. Para isso deverá haver
uma reformulação dos prazos de exclusividade dos direitos autorais, atualmente
girando em torno de 70 anos na maioria dos países, também a formalização do
registro das obras para que os autores possam ser identificados e as obras
derivadas deverão ter menor prazo de proteção se comparadas ao prazo das
originais. Isso auxiliaria no aumento do número de bens culturais disponíveis a
todos, de domínio público, incentivando-se assim novas criações.
69

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ANEXO

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