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2.4.2.

Ocorrências éticas de enfermagem: direitos e deveres do paciente


Segundo Gauderer, com relação aos direitos e deveres do paciente, destaca o
direito do mesmo obter informações sobre seu caso, por meio de cópias do prontuário, de
fato que o mesmo deve apresentar-se com letra legível, incluindo exames, anotações,
evoluções, prescrições, laudos, avaliações, entre outros. O mesmo autor aponta que o
paciente, cônjuge ou filhos, possuem o direito de gravar ou filmar os atos médicos
realizados, requerer que os profissionais se reúnam e discutam uma tomada de decisões
mais adequada ao caso do paciente, morrer dignamente, escolhendo o local e a maneira
que julgar melhor, podendo recusar tratamentos onerosos.
Para os profissionais de enfermagem, o Código de ética dos Profissionais de
Enfermagem, elenca obrigações ou deveres em relação ao paciente, ao colega, às
entidades de classe e à sociedade. O profissional deve assegurar uma assistência de
enfermagem ao paciente livre de qualquer dano ou risco decorrente de imperícia,
imprudência ou negligência.
Já ao paciente cabem alguns deveres com seguir as orientações ou prescrições
do profissional, pois, não o fazendo, desobriga o profissional de continuar lhe prestando
cuidados. Entretanto, o paciente não deve ser abandonado no meio da assistência, por
isso deve-lhe ser assegurado que outro profissional o assista, sendo esse capacitado
para desenvolver os procedimentos, evitando assim, a alegação de que houve abandono.
Portanto, é dever do paciente cooperar e colaborar com a assistência ou tratamento. Por
outro lado, o profissional deve ouvir o paciente, investigar cuidadosamente suas queixas,
respeitar suas crenças e convicções, tratá-lo com respeito e dignidade, aplicando todos
os meios e esforços necessários para sua recuperação sem riscos desnecessários ou
previsíveis.
A CEE possui o papel de orientar os profissionais de enfermagem, por meio de
um processo educativo-reflexivo, contribuindo assim para a elucidação das ocorrências
éticas, por meio de um processo de sindicância imparcial e autônomo, zelando seu
cumprimento de deveres e respeito aos direitos dos profissionais de enfermagem,
buscando acima de tudo a qualidade na assistência.

2.4.3. Características de uma Comissão de Ética de Enfermagem e a legislação do


exercício
A CEE é um órgão representativo do COREN em caráter permanente junto às
instituições de saúde, com funções educativas, fiscalizadoras e consultivas do exercício
profissional e ético dos profissionais de enfermagem. Segundo consta no art. 3º do
Regimento do COREN, Resolução 172/94 do COFEN, a CEE possui como finalidade
garantir a conduta ética dos profissionais de enfermagem da instituição de saúde, através
da análise das intercorrências notificadas por meio de denúncia formal e auditoria; zelar
pelo exercício ético dos profissionais de enfermagem da instituição, e colaborar com o
COREN no combate do exercício ilegal da profissão.
Como forma de motivação para que a CEE se instale na instituição de saúde, é
necessário que o COREN e as próprias instituições invistam na formação adequada de
profissionais que irão atuar na CEE, preparando-os adequadamente. Muitas vezes a falta
de investimentos e incentivos nessa formação poderá comprometer a intenção de
fortalecer a atuação dos órgãos fiscalizadores nas instituições de saúde. Portanto, cabe
ao COREN assessorar os membros da CEE, envolvendo também os chefes de
enfermagem, principalmente os de escalão mais elevado.
Resumindo, o trabalho da CEE busca, acima de tudo, a prevenção de ocorrências
éticas de enfermagem que venham a acarretar riscos e danos ao paciente, envolvendo
profissionais de enfermagem e a instituição. A segurança da sua clientela é a meta
principal de toda instituição, assegurando ao paciente qualquer dano decorrente de
imperícia, imprudência ou negligência. A CEE pode contribuir com profissionais de saúde
e empresas, em conjunto com o serviço de educação continuada e com os gerentes de
enfermagem.
2.4.4. Organização e funcionamento da Comissão de Ética de Enfermagem
2.4.4.1. DAS ELEIÇÕES
Segundo o regimento do COREN-SP art. 4º ss, define que “os membros da CEE
deverão ser eleitos por meio de voto facultativo, secreto e direto dos seus pares”.
E no art. 5º, diz que em relação ao processo de eleição, uma comissão eleitoral
composta de voluntários será responsável pela organização, apuração e divulgação do
pleito. No caso de já existir uma CEE na instituição, a eleição se dará pela forma de
escolha da diretoria, chefia ou divisão de enfermagem da própria instituição, ressaltando-
se que os atuais membros da comissão não poderão concorrer ao pleito. Os profissionais
que concorrerão aos cargos serão divididos em dois grupos, sendo o grupo I formado
pelos enfermeiros, e o grupo II pelos auxiliares e técnicos de enfermagem.
De acordo com o regimento, art. 7º, são critérios de elegibilidade do candidato: ter
no mínimo dois anos de inscrição definitiva, estar quite com as obrigações junto ao
COREN e que não esteja respondendo a processo ético ou administrativo no respectivo
órgão.
É lei, também o fato de que cada categoria profissional vota em seus pares, ou
seja, enfermeiro vota em enfermeiro, e auxiliares/técnicos de enfermagem votam em
seus colegas. O processo eleitoral deverá ser aberto e fechado pelo seu respectivo
presidente, e a apuração dos votos deverá ser realizada imediatamente após a votação,
serão considerados eleitos àqueles que obtiverem maior número de votos,
respectivamente no grupo I e II, e a data de posse, normalmente se designa no mês de
maio.

2.4.4.2. COMPETÊNCIAS DA COMISSÃO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM


Compete a CEE: divulgar e fiscalizar o cumprimento do Código de ética dos
Profissionais de Enfermagem e da Lei do Exercício Profissional, bem como do seu
Decreto Regulamentador, as resoluções e decisões dos Conselhos Federal e Regional
nas instituições, opinar, normatizar, orientar e fiscalizar sempre em relação ao
desempenho ético da profissão, manter atualizado o cadastro de todos os profissionais
de enfermagem da instituição, realizar sindicância sobre fato notificado, quando julgar
necessário, convocando os profissionais envolvidos e suas testemunhas, tomando a
termo seus depoimentos, tendo como base o exercício ético da profissão, as condições
oferecidas pela instituição para tal e a qualidade do atendimento prestado à clientela
atendida, sugerindo mudanças, conforme considerar-se necessário, encaminhar o
relatório com o parecer da CEE ao Conselho, no prazo de 30 dias.
O presidente da CEE deve encaminhar o parecer da Comissão ao COREN de seu
Estado, sempre que houver advertência, censura, multa, suspensão do exercício
profissional ou mesmo cassação, embora essa última medida seja de competência
exclusiva do COFEN e não do COREN. Os conselhos detêm o direito de punir ou de
impor uma penalidade ou sanção do infrator.
É de responsabilidade dos membros da CEE eleger o seu presidente, vice-
presidente e secretário, comparecer às reuniões, participar de debates e desenvolver
suas atribuições legais perante a comissão, a fim de garantir o cumprimento do exercício
de direito dos profissionais que vierem a responder sindicâncias, conforme diz o art. 10º
do Regimento.

2.4.4.3. ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DA COMISSÃO DE ÉTICA


DE ENFERMAGEM
Conforme o art. 11º do regimento, os membros que compõe a CEE devem ser
respectivamente enfermeiros, auxiliares e ou técnicos de enfermagem, empregados na
instituição onde atuam profissionalmente, salvo os profissionais que exercem cargos de
chefia, diretor, gerente de enfermagem, ou que sejam membros de classe. O Regimento
também diz que o estabelecimento de saúde poderá fazer com que a instituição de
ensino que solicitar campo de estágio também participe de processos de sindicância,
assim que necessário for.
Quanto à composição da equipe, são recomendados no mínimo 10 enfermeiros.
Sua composição deverá ser de ao menos cinco membros efetivos e cinco suplentes,
sendo três enfermeiros e dois técnicos e ou auxiliares efetivos e igual número de
suplentes. Os membros efetivos serão indicados para os cargos de presidente, vice-
presidente e secretário, devendo os dois primeiros cargos ser ocupados exclusivamente
por enfermeiros.
Os artigos 14,15 e 16 do Regimento da CEE definem as atribuições do presidente,
vice-presidente e secretário. Ao primeiro compete: presidir, coordenar e dirigir as
reuniões, planejar e controlar as ações programadas, elaborar relatório das sindicâncias,
elaborar parecer final para o Conselho Regional, sempre que houverem indícios de
infração. Ao vice-presidente cabe participar das atividades planejadas e desenvolvidas
pelos membros da CEE, assessorar o presidente ou substituí-lo. O secretário se incumbe
de secretariar as reuniões e elaborar atas, verificar quorum nas sindicâncias, realizar
convocação dos envolvidos em sindicâncias éticas, organizar arquivos de sindicâncias,
executar atividades internas que lhe forem delegadas, e elaborar junto ao presidente e
vice os relatórios das sindicâncias.
A aliança da CEE com o Serviço de Educação Continuada possui um grande
papel educativo a fim de juntos, buscarem a prevenção de ocorrências éticas envolvendo
os profissionais de enfermagem no processo de educação continuada.
Em relação às reuniões, essas deverão acontecer criteriosamente uma vez no
mês ordinariamente, em dia, hora e local previamente determinado, não havendo
empecilhos para convocações extraordinárias, sempre que houver necessidade e
urgência de deliberação. Havendo desistência de um ou mais membros da CEE, os
mesmos serão substituídos pelos suplentes, e na ausência de suplentes pode-se
convocar um novo pleito para completar o mandato, certificando-se o COREN, conforme
o Regimento.
O Regimento da CEE dá grande ênfase à atividade sindicatória da comissão, más
o COREN deve promover a prevenção por meio de ações educativas, motivando os
profissionais, sempre em parceria com os serviços internos do estabelecimento de saúde,
ou seja, havendo a participação de profissionais de outras áreas, onde os mesmos
poderão prestar esclarecimentos junto à CEE, quando convocados.

2.4.5 Sindicância ética: como se faz e quando se faz necessária?


À CEE cabe no momento em que receber notificação de determinada ocorrência
ética, avaliar criteriosamente, se há elementos formais e materiais para a abertura de
uma sindicância ou não. Essa é uma incumbência da CEE, e não da chefia de
enfermagem, gerência ou supervisão. Com isso, o chefe gerente, supervisor ou qualquer
profissional de enfermagem que queira levar ao conhecimento da CEE algum fato que
julgar ser importante, deverá relatar o fato citando o dia, hora, local da ocorrência e
nomes das pessoas envolvidas, destacando se houve ou não prejuízo e de que ordem
seja em relação ao paciente, a colegas ou à instituição. Porém antes de notificar a CEE,
o enfermeiro ou outro profissional de enfermagem que queira fazer o encaminhamento,
deve comunicar a sua decisão ao suposto faltoso, destacando sua defesa, segundo o
qual a pessoa acusada possui o direito de saber qual a acusação que o pesa, para que
possa arrolar testemunhas a seu favor e articular sua defesa.
Cabe à CEE o juízo de discernimento sobre a abertura ou não de um
procedimento sindicatório contra o acusado, devendo sempre fundamentar sua decisão
nas normas de condutas éticas vigentes.

2.4.6 Desmistificando o medo da punição e trabalhando em parceria para um


processo educativo eficaz dos profissionais de enfermagem
De certo modo, como forma de tentar enfrentar o medo sentido pelos profissionais
quanto à prática acidental do erro, começou a valorizarem-se as atividades educativas
desse órgão ao invés das punitivas. Essa expectativa promove com que os profissionais
venham a aprender com seus erros, para não cometerem outra vez.
Muitos estudos realizados a partir da imposição dessa nova prática evidenciam a
necessidade de desmistificar o medo da punição como conseqüência da comunicação de
uma ocorrência ética e quem de direito, nesse caso a CEE, a qual deverá avaliar a
necessidade de abertura de sindicância para ouvir o profissional envolvido na ocorrência
e orientá-lo. Esse trabalho educativo é fundamental para prevenir a repetição do erro que
pode trazer algum dano ao paciente, seja tanto físico, moral ou patrimonial, por isso a
importância da orientação quanto à responsabilidade profissional e quanto às
conseqüências do seu agir ou da sua omissão, cumprindo-se assim o papel de orientar e
não de punir os profissionais de enfermagem no exercício de suas atividades, a CEE
deve fazer o seguimento do profissional que incorreu em uma falta, acompanhando seu
processo educativo e observando sua atitude profissional e o desempenho das ações de
enfermagem. Essa postura ajudará a desmistificar o medo em relação a esse
encaminhamento, aumentando as chances de sucesso das medidas propostas para
prevenir futuras ocorrências, diminuindo a omissão de registros e encaminhamento das
situações para as devidas providências junto à CEE.

2.4.7. Vislumbrando caminhos para a atuação dos profissionais na Comissão de


Ética de Enfermagem e nas ocorrências éticas
As atividades realizadas pela CEE não se limitam apenas nas ocorrências éticas
ou eventos que prejudiquem o paciente ou o colega de trabalho. O papel da CEE é
garantir uma assistência de enfermagem segura, ou seja, isenta de riscos ou danos à
clientela assistida. A participação efetiva do enfermeiro no gerenciamento das situações
que envolvem as ocorrências éticas nas instituições de saúde é de extrema no que diz
respeito ao processo de mudança implementando ações a fim de obter melhorias.
Portanto, é necessário que haja investimento na capacitação permanente de recursos
humanos, por meio de um trabalho em parceria com o processo educativo.
A questão do direito do paciente como consumidor dos serviços é um caso
inegligenciável, devendo sempre ser informado das ocorrências éticas, quando ela
acontece em relação a sua pessoa, pois é um de seus direitos saber do acontecido, e
das medidas tomadas para sanar a situação.
Sabendo-se das obrigações do enfermeiro em garantir uma assistência de
qualidade, e do paciente ter o direito de saber sobre os acontecimentos, de forma
objetiva é impossível que haja omissão de informações. Pois em se tratando de vida e de
saúde, não basta apenas informar, é preciso demonstrar o que foi feito para sanar os
danos.
Um exemplo é no Estado de São Paulo onde existe uma legislação sobre os
direitos dos usuários dos serviços e ações de saúde, Lei 10.241, de 17/03/1999, a qual
dispõe, em seu art. 2º, inciso VI, que o paciente tem o direito de receber informações
claras, objetivas e compreensíveis sobre: hipóteses diagnósticas, diagnósticos
realizados, exames solicitados, ações terapêuticas, riscos, benefícios e inconvenientes
das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas, duração prevista do tratamento
proposto, exames e condutas a que está submetido, finalidade dos materiais coletados
para exame. Além disso, o paciente possui o direito de recusar, de forma livre, voluntária
e esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a
serem realizados, acessar seu prontuário, entre outros.
A atuação da CEE é de grande importância para promover a assistência isenta de
ocorrências ilegais e danosas, contanto que também haja respeito pela individualidade do
profissional e do paciente, sem perder a parceria que existe entre eles e a instituição,
onde a assistência deve ser executada por profissionais capacitados, é direito do
paciente, e a assistência humanizada é dever dos profissionais e da instituição.
2.5 ANOTAÇÕES DE ENFERMAGEM NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
2.5.1. Introdução
Como já dizia Florence, todos os fatos observados pela equipe de enfermagem
devem ser relatados ao médico de forma precisa e correta, nos dias atuais isso virou lei e
deve ser cumprido de forma explícita e corretamente como segue os preceitos éticos e
legais. Naquele tempo o prontuário era considerado uma forma de prestar contas ao
médico, hoje o prontuário possuí a finalidade estatística segundo o Decreto 94.406 de
8/06/87.
Desde o início da formação profissional o enfermeiro aprende que o registro de
enfermagem representa “a comunicação escrita dos fatos essenciais, de forma a manter
uma história contínua dos acontecimentos ocorridos durante um período de tempo”.
Esses acontecimentos seriam desde as queixas apresentadas pelo paciente, e o que o
profissional pode observar no paciente em contexto geral, e serve como meio de
comunicação entre a equipe multidisciplinar, e não apenas com o médico. É importante
salientar que a omissão dos fatos é tão grave quanto um registro incorreto, e é importante
sempre manter os registros atualizados.
Cada vez mais os pacientes querem saber sobre sua evolução clínica, e o
prontuário não é apenas um mero papel de anotações, é um documento, e o paciente
possui o direito de ver, ler e reler o mesmo quantas vezes forem necessárias, o
impedimento desse direito pode acarretar punições a equipe de saúde.
Com todas as evoluções, os profissionais de enfermagem observaram que as
anotações dos prontuários não servem apenas para o paciente, más também para
poderem observar fatos que podem ser utilizados como método de avaliação para
identificar as necessidades de uma educação continuada, avaliação e realização dos
cuidados com qualidade.

2.5.2. Questões ético-legais das anotações de enfermagem


O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem tem, entre seus princípios
fundamentais, que “o profissional de enfermagem exerce suas atividades com justiça,
competência, responsabilidade e honestidade”. Além disso, é dever do pessoal de
enfermagem “cumprir os preceitos éticos e legais da profissão”. A justiça é um dos
preceitos éticos mais importantes, pressupondo igualdade de trato entre os iguais e
diferença entre os desiguais. Com isso, busca-se assegurar que todos tenham o mesmo
acesso aos recursos, de acordo com suas necessidades, mantendo a confidencialidade
dos dados.
Segundo o Código de Ética, a Enfermagem é uma profissão que se compromete
com a saúde do ser humano e da coletividade, atuando na proteção, promoção e
prevenção, respeitando sempre os preceitos éticos e legais da profissão.

2.5.3. Responsabilidade legal e ético-profissional


Responsabilidade é definida como condição de ser responsável, ou seja, o fato de
responder pelos próprios atos ou de outrem. Segundo o Código Civil, Lei 10.406, de
10/01/2002, inclui como fatos jurídicos os atos ilícitos, conforme o art.186, “aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O art. 187 completa,
mencionando que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé
ou pelos bons costumes”.
Portanto, pode-se dizer que a indenização é medida pela extensão do dano, isto
é, quanto maior o dano ou prejuízo, maior a indenização. No caso de lesão física ou outra
ofensa à saúde, o profissional terá de indenizar o paciente, quanto às despesas do
tratamento.
O Código Civil, art. 951 estipula que todas essas disposições indenizatórias são
aplicáveis àqueles que, “no exercício de sua atividade profissional, por negligência,
imperícia ou imprudência, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe
lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho”. A responsabilidade civil caracteriza-se pelo
comportamento doloso ou culposo do agente causador do dano. O comportamento é
considerado doloso quando o agente quis o resultado de seu ato ou omissão, ou seja,
quando possui a intensão, já o ato se considera culposo quando o agente, por ação ou
omissão, deu causa ao resultado por sua culpa, imprudência, negligência ou imperícia.
Portanto pode se dizer que culpa é a voluntária omissão de diligência em calcular
as conseqüências possíveis e previsíveis do próprio fato. Já a negligência, caracteriza-se
pela inação, indolência, inércia, passividade, indiferença, ausência de precaução ou
omissão. A imprudência caracteriza-se pela conduta comissiva, atitudes não justificadas,
precipitadas, sem a devida cautela. A imperícia consiste na falta de conhecimento técnico
da arte ou profissão.
Pelo CP, constitui como crime de maus-tratos, expor a vida da pessoa em perigo,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer
privando o paciente de alimentos ou cuidados indispensáveis. Conforme as
circunstâncias, o crime é caracterizado como lesão corporal leve ou grave. Segundo
Noronha afirma que o crime de maus-tratos constitui delito também na área da
enfermagem quando seus pacientes forem privados de alimentos, cuidados
indispensáveis à saúde, causando danos à sua incolumidade.

2.5.4. Falsidade ideológica


É considerada falsidade ideológica quando se altera uma idéia de um documento,
ou o seu conteúdo em si, sem alterar a forma material desse documento. Pode ser
praticado por omissão ou comissão, por meio de omissão se omite uma declaração que
deveria ser feita, e em forma de comissão se insere ou se faz inserir uma declaração
falsa ou diferente da que deveria ser feita.
O CP especifica no art. 299, que constitui crime de falsidade ideológica “emitir em
documento público ou particular, declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita,
com finalidade de alterar a verdade sobre o determinado fato”.
Nos casos de falsidade ideológica em hospitais, mesmo que o tratamento seja
gratuito, a inserção de declaração ou anotação falsa, que altera a verdade sobre a
ocorrência ou o fato relevante, constitui o crime, ou seja, qualquer alteração da verdade,
por omissão ou comissão, constitui o crime de falsidade ideológica.

2.5.5. As anotações de enfermagem em “home care”


No caso de atendimento home care, o prontuário deve ser preenchido da mesma
forma como se faz em qualquer instituição de saúde, porém o prontuário deve
permanecer no local onde o paciente se encontra, nesse caso, em seu próprio domicílio.
De forma preventiva, todo e qualquer enfermeiro responsável por empresa home care,
deve manter uma cópia carbonada de todos os prontuários, como forma de assegurar a
continuidade dos serviços, sem depender de informações prestadas por familiares em
geral. No caso de cuidados prestados pelos familiares, o enfermeiro deve realizar as
orientações e registrar no prontuário, e o familiar possui o dever de assinar, comprovando
a legitimidade do mesmo.

2.5.6. Conclusão
Contudo podemos concluir que com o aumento no número de erros cometidos
pelos profissionais da área da saúde, principalmente enfermeiros, a grande maioria dos
hospitais já está aderindo a Comissão de Ética da Enfermagem, tendo como órgão
representativo o COREN, essas comissões possuem a função basicamente educativa e
fiscalizadora do exercício profissional, zelando por uma conduta de enfermagem
literalmente competente e livre de danos ao paciente.
Outro fato muito importante que deve ser salientado, é a adoção por parte dos
gerentes ou coordenadores dos serviços de enfermagem a buscarem um padrão elevado
nas anotações e registros por parte de seu pessoal, sendo tanto por escrito ou por via
eletrônica. Isso facilitará a realização de auditorias, atenderá a propósitos legais e servirá
como fonte de pesquisa, trazendo benefícios no que diz respeito a manutenção da
continuidade na eficiência dos serviços de assistência ao paciente, reforçando o
profissionalismo na enfermagem.

2.6. O EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM EM CENTRO CIRÚRGICO


2.6.1. Introdução
Acidentes cirúrgicos ou anestésicos sempre trouxeram grandes discussões nos
meios de comunicação, e nos dias atuais isso se torna cada vez mais evidente, devido ao
aumento no número de casos. Com essa maior divulgação a própria população já
procura melhores esclarecimentos e informações sobre os procedimentos realizados, não
aceitando de nenhuma forma a ocorrência de danos físicos ou pessoais causados por
acidentes.
Entre os artigos do Código Civil vigente que possui impacto sobre as ações de
enfermagem no Centro Cirúrgico, pode ser destacada, a questão de indenização, que é
medida pela extensão do dano, seja ele temporário, permanente ou cause morte, o
profissional possui o dever de arcar com todas as despesas do paciente e da família, e
nos casos de morte pagamento de pensão alimentícia aos dependentes do paciente.
Destacando que essa indenização será aplicada aos profissionais que no decorrer do
desempenho de suas atividades por imperícia, imprudência ou negligência causarem
danos ao paciente.
Portanto o profissional deve assegurar ao paciente uma assistência livre de danos
ou erros, deve protegê-lo contra possíveis danos causados por outros membros da
equipe, e ter responsabilidade por falta cometida, independente de ter sido causada
individualmente ou em equipe.

2.6.2. O exercício da enfermagem no Centro Cirúrgico


O trabalho da enfermagem no Centro Cirúrgico e na Central de Materiais
Esterilizados, inclui responsabilidades muito grandes aos profissionais, como o preparo
da sala e instrumental, aparelhos e equipamentos. Muito mais do que nos outros setores,
é no Centro Cirúrgico que o trabalho da enfermagem se torna mais necessário.
Pode se imaginar que muitas vezes ocorrem erros irreparáveis nas cirurgias, por
isso cabe ao enfermeiro checar tudo antes da realização do procedimento cirúrgico.
Devido a esse fato, o CEPE dispôs do capítulo V, que diz respeito às proibições de como
negar assistência de enfermagem em caso de urgência ou emergência; abandonar
cliente em meio a tratamento sem garantia de continuidade ou assistencial; participar de
tratamento sem consentimento do cliente ou representante legal, exceto em iminente
risco de vida; executar prescrições terapêuticas quando contrárias a segurança, essas
são umas dentre tantas outras proibições que não devem ser praticadas pela equipe.
Dentre as atribuições do enfermeiro dentro do Centro Cirúrgico e Recuperação
pós-Anestésica, o transporte do paciente para a cirurgia, da cirurgia para a área de
Recuperação, desta para a unidade de origem ou sala de cirurgia para a Unidade de
Terapia Intensiva ou outros serviços requer acima de tudo planejamento e atuação do
enfermeiro e de toda a sua equipe, para que tudo ocorra de maneira satisfatória. Em caso
específico, como o transporte do paciente cirúrgico, é muito importante o papel do
enfermeiro na previsão e provisão de recursos materiais e humanos capacitados para tais
atividades, para que o transporte ocorra com o mínimo de riscos vigente.
Outro tema que merece atenção especial e muito estudo é o que trata do reuso
dos materiais de uso único e descartável. A reutilização desses materiais é uma prática
comum dentro das unidades, e o que tem gerado dúvidas e questionamentos éticos e
legais é o fato de que cabe à instituição e são de responsabilidade dos profissionais os
eventuais riscos e danos que essa prática pode acarretar ao paciente.
Cabe lembrar que o enfermeiro do CC é frequentemente responsável pela CME,
cabendo-lhe, portanto a responsabilidade na escolha dos métodos de esterilização e os
produtos que precisam ser submetidos a esse procedimento, não podendo haver
negligência em seu papel gerencial, principalmente nas questões que envolvem o
preparo, a esterilização e o prazo de validade dos produtos, também a guarda e
armazenamento dos mesmos, até sua distribuição para as diferentes áreas do hospital.
É direito do profissional de enfermagem assumir as atribuições que lhe cabem,
portanto deve estar apto para a realização das mesmas, porém não deve assumir
atividades para as quais não se encontra devidamente preparado, procurando assim
prevenir a eminência de erros na exposição do paciente.

2.6.3. Outros problemas no exercício da enfermagem em Centro Cirúrgico


Entre tantos acontecimentos que prejudicam a integridade do paciente, que
ocorrem no CC, podemos citar: quedas do paciente da maca ou mesa de cirurgia,
queimaduras por placa de bisturi elétrico, realização de exames ou cirurgias
desnecessárias, ou proibidas por lei, ou ainda sem o consentimento do paciente, ou com
consentimento obtido através de informação incorreta, infecções pós-operatórias por
contaminação do campo ou materiais utilizados no procedimento, registros de dados
incompletos ou inverídicos, ao horário de início e término da cirurgia, nome do cirurgião e
assistentes, entre outros, o profissional de enfermagem que registrar dados incompletos
ou inverídicos estará praticando o crime de falsidade ideológica.
Portanto deve-se sempre checar e ter certeza do procedimento realizado,
conferindo com o paciente ou com os familiares. A equipe que trabalha nessa linha de
conduta, também cuidará para que as informações sejam registradas de forma correta e
completa em todas as circunstâncias, pois sabem que tais fatos são relevantes para a
vida do paciente. Entretanto, um fato que há de ser discutido é quanto ao esclarecimento
ao paciente sobre o procedimento a se realizar, sobre o cirurgião que escolheu, pagando-
lhe honorários pelo prestígio que possuí perante a sociedade. Mesmo que o tratamento
seja gratuito, isso não cria ao paciente obrigações pecuniárias, a inserção de declaração
falsa, que altere a verdade sobre a ocorrência ou o fato relevante, isso também constitui
crime de falsidade ideológica.

2.6.4. Conclusões
Como forma de minimizar os danos decorrentes pelos atos negligentes dos
profissionais de enfermagem, os mesmo devem analisar os conteúdos de suas ações
profissionais e permanecerem atentos para não serem envolvidos em questões jurídicas,
e se acaso forem arcarem com suas conseqüências, e respondendo pelos seus atos.
Assim, certamente a população valorizará cada vez mais a enfermagem se seus
profissionais assumirem de forma digna os erros e atos cometidos e se
responsabilizarem sobre sua qualificação adequada.

2.7. O EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPÍA INTENSIVA


2.7.1. Introdução
Com toda a evolução científica e tecnológica que está ocorrendo nos dias atuais,
isso trouxe grandes modificações na assistência ao paciente, em especial aqueles que
estão em estado crítico. Essas evoluções requerem uma maior complexidade de
equipamentos e de recursos humanos nas Unidades de Terapia Intensiva.
Devido à imagem um tanto quanto assustadora desse local do hospital, deve-se
ter um cuidado redobrado ao paciente que ali se encontra, muitas vezes os familiares
relatam experiências não muito agradáveis pelas quais seus entes queridos foram
submetidos enquanto ali se encontravam, dizendo que o corpo do paciente é espetado,
perfurado, desnudado e amarrado, e por se tratar de um ambiente de dor e de medo a
equipe de saúde deve manter uma postura ética e profissional muito adequada.
Contudo, é certo que a gravidade do estado de saúde em que o paciente se
encontra obriga a utilização de sofisticados aparelhos e monitores que são de uso vital
para sua sobrevivência. O episódio de internamento nas UTI’s traz a cada indivíduo uma
experiência diferente, onde o medo e a incerteza do que irá acontecer com sua vida, são
sentimentos comuns a serem sentidos e relatados pelos pacientes à equipe. Apesar
dessa visão assustadora, a UTI deve proporcionar um ambiente, acima de tudo
terapêutico que minimize o estresse e a tensão emocional assim como o medo do
desconhecido, onde se facilite a prestação de uma assistência qualificada minimizando a
ocorrência de erros.
Segundo o CREMESP, estipula que as UTI’s devem estar estruturadas de forma a
fornecer suporte nos aspectos hemodinâmicos, metabólico, nutricional, respiratório e de
reabilitação, devendo existir médicos 24 horas responsáveis pelo paciente, e sete dias
por semana, proporcionando a recuperação aos mesmo e qualidade de vida.

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