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PARTE I - GRAMÁTICA
01. (AMAN) Assinale a alternativa em que todas as palavras devem ser acentuadas.
a) por (verbo) – celuloide – gratuito b) polo (substantivo) – pleiade – interim
c) latex – itens – maciez d) hifen – abençoo – tabus
e) por-do-sol – decano – pudico
02. (EFOMM) Assinale a alternativa correta em que a palavra sublinhada se acentua por regra diferente das demais.
a) “Ninguém sabe o que pensavam...” b) “... veja aí de quem é o sinal.”
c) “Está aqui o sinal...” d) “O velho até se assustou...”
e) “Eu podia mandar prender vocês...”
03. (EEAR) Assinale a série em que todos os vocábulos estão acentuados graficamente de acordo com as normas vigentes da
língua.
a) virgem, enjôo, canôa b) saci, núvem, límpido
c) ruído, hífen, automóvel d) rítmo, ninguém, corôa
04. (EAGS) Em qual alternativa todas as palavras estão corretas quanto ao acento gráfico?
a) Itú, infância, física b) saúde, jibóia, núvens
c) bônus, hífen, cafeína d) exército, Paratí, ônix
05. (AMAN) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto abaixo:
Lembro-me de que ____ pouco tempo eram alunos, mas _____ medida que os meses passaram, ____ custa de sacrifícios e
de dedicação integral ____ atividades militares, tornaram-se um ____ um dignos do honroso título de Cadete, ____ ser
ostentado até ____ formatura como Aspirante-a-Oficial do Exército Brasileiro.
a) há, à, à, às, a, à, a b) há, a, à, as, à, a, à c) há, à, à, a, a, a, à
d) a, à, à, às, a, a, a e) a, a, à, a, à, a, a
07. (EEAR) Assinale a alternativa em que o acento indicador de crase está empregado corretamente.
a) Ele sempre preferiu dirigir à noite.
b) Meus pais evitam fazer compras à prazo.
c) A população está disposta à colaborar com os agentes de saúde.
d) Não tive coragem de revelar o segredo à ninguém.
08. (EAGS) Assinale a alternativa em que o acento indicador de crase está incorreto.
a) Ficou atento à ruidosa campainha, pois esperava visitas.
b) Obedeço à toda norma do colégio.
c) Depois de tantos dias no mar, chegamos à terra de meus pais.
d) Costumo ir àquela ilha para pescar.
12. (ESPCEX) Leia o fragmento abaixo, extraído da obra O cortiço, de Aluísio de Azevedo (as letras maiúsculas foram,
intencionalmente, trocadas por minúsculas) e, a seguir, responda o que se pede:
“não obstante ( ) as casinhas do cortiço ( ) à proporção que se atamancavam ( ) enchiam-se logo ( ) sem mesmo dar
tempo a que as tintas secasse ( ) havia grande avidez em alugá-las ( ) aquele era o melhor ponto do bairro para a
gente do trabalho ( ) os empregados da pedreira ( ) preferiam todos morar lá ( ) porque ficavam a dois passos da
obrigação ( )
Assinale a alternativa que, seqüencialmente, complete corretamente os sinais de pontuação do fragmento. O “X”
corresponde a nenhuma pontuação:
a) vírgula / vírgula / ponto / dois-pontos / vírgula / dois-pontos / vírgula / ponto / ponto de exclamação
b) vírgula / X / vírgula / ponto / vírgula / dois-pontos / ponto-e-vírgula / vírgula / ponto de interrogação / ponto de
exclamação
c) vírgula / vírgula / ponto / X / vírgula / dois-pontos / vírgula / ponto / ponto de interrogação
d) vírgula / vírgula / vírgula / vírgula / ponto / ponto-e-vírgula / ponto / X / vírgula / ponto final
e) vírgula / vírgula / ponto-e-vírgula / vírgula / vírgula / ponto / ponto / vírgula / vírgula / ponto final
15. (EAGS) Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente as lacunas em:
1 – Os guardas nos ____________ durante horas.
2 – Ela se ___________ mais de uma vez semana passada.
3 – Quando nós ___________ nossos documentos, ficaremos tranqüilos.
a) detiveram, contradisse, reouvermos b) deteram, contradiz, reouvermos
c) detiveram, contradiz, reavermos d) deteram, contradisse, reavermos
16. (EEAR) Em “No momento em que trapalhadas mil ocorriam por lá cismei de me preocupar com os drusos. Eu os vi, na
fronteira de Israel com o Líbano, no breve espaço de uma trégua entre duas batalhas.”, o pretérito do indicativo dos verbos
destacados segue a seqüência:
a) mais-que-perfeito, perfeito, imperfeito b) imperfeito, perfeito, perfeito
c) mais-que-perfeito, perfeito, perfeito d) perfeito, imperfeito, imperfeito
17. (AFA) Aponte a alternativa em que o sentido expresso entre parênteses NÃO corresponde à regência estabelecida.
a) Quero uma cópia deste documento. (desejar, ter vontade ou intenção)
b) O irmão lhe queria mais do que a si mesmo. (amar, gostar de)
c) A assembléia resolveu remeter a decisão do acordo para o mês seguinte. (enviar, destinar)
d) O governo deve proceder aos ajustes fiscais necessários. (realizar, dar início a)
19. (EEAR) No texto “Quando estudante, desobedeci um dos itens do regulamento do colégio, ao não atentar para as datas
da semana de provas, mas lembro-me de que a diretora me perdoou o deslize.”, está empregada incorretamente a
regência do verbo:
a) desobedecer b) atentar c) lembrar-se d) perdoar
21. (EEAR) Nos períodos seguintes, assinale a alternativa em que o verbo está na voz passiva.
a) Antes do término do expediente, o mecânico tinha consertado todos os defeitos daquele carro.
b) A guerra, depois de muitos anos, havia terminado para aquele povo sofrido.
c) O desfile do fim de ano daquela loja foi comentado positivamente pela imprensa local.
d) Com a cestinha de doces no braço, Chapeuzinho ia cantando pela estrada afora.
26. (EFOMM) Assinale a forma verbal que se distingue das demais quanto à transitividade verbal.
a) “Este caso aconteceu mesmo.” b) “Enquanto os homens comiam lá dentro.”
c) “... no céu que tinia como vidro...” d) “E o loureba esfarrapado chegou perto...”
e) “O homem escuro botou o couro em cima do parapeito.”
27. (ESPCEX) Preencha os espaços com as palavras grifadas corretamente e marque a alternativa correta.
“Com _______________ de uns poucos profissionais da música, ninguém percebeu a falta de _________________________
da orquestra durante o ______________ de sábado à noite.”
a) exceção – espontaneidade – concerto b) excessão – espontaniedade – concerto
c) exceção – expontaneidade – conserto d) exceção – espontaniedade – concerto
e) excessão – espontaneidade – conserto
28. (AFA) Assinale a alternativa em que todas as palavras estão grafadas corretamente:
a) Contextar, estender, hesitar, expelir b) Pixe, mexer, estrebuchar, chuchu
c) Majestoso, sarjeta, sargento, ogiva d) Catorze, xácara, espletivo, pretexto
29. (EAGS) Assinale a alternativa em que todos os espaços são completados com a letra i:
a) contribu__; corró__ b) qua__; retribu__ c) s__não; irr__quieto d) dó__; s__quer
30. (EEAR) Em qual alternativa, de acordo com as normas ortográficas vigentes, uma das palavras está incorretamente
grafada?
a) “Dançou e gargalhou como se fosse o próximo.”
b) “Onde queres descanço, sou desejo.”
c) “Vou deixar de ser só esperança.”
d) “Você tem dois pés para cruzar a ponte.”
31. (AMAN) Assinale a alternativa em que há ERRO na substituição dos termos em destaque.
a) Assistirei ao filme. (Assistirei a ele.)
b) A moça me entregou as chaves. (A moça mas entregou.)
c) Os especialistas não encontraram as causas do acidente. (Os especialistas no-las encontraram.)
d) Quis o trabalho bem feito. (Qui-lo bem feito.)
e) Tu pões os avisos na geladeira? (Tu põe-los na geladeira?)
32. (ESPCEX) A presença do pronome relativo possibilita reconhecer facilmente uma oração subordinada adjetiva. Entretanto,
deve-se atentar para o pronome adequado a ser empregado e para a regência do verbo da oração subordinada, que
determinam a correta construção do período abaixo e, a seguir, responda o que se pede.
A alternativa cuja seqüência de pronomes e complementos completem corretamente os períodos na seqüência dada é:
a) sobre a qual – contra cuja – pra o qual – a que b) que – cuja – a que – para que
c) de cuja – em que sua – cujo – ao qual d) de quem – contra qual – ao qual – de que
e) a que – na qual – por quem – que
35. (EEAR) Os termos destacados em “Minha casa nova é tão bonita quanto aquela em que nasci” classificam-se,
respectivamente como pronomes.
a) substantivo, substantivo b) substantivo, adjetivo c) adjetivo, adjetivo d) adjetivo, substantivo
42. (EAGS) Faça a correspondência adequada entre a colocação pronominal e a regra que a justifica. Em seguida, assinale a
alternativa com a seqüência correta.
1 – próclise – palavra negativa ( ) Dar-lhe-ei o prêmio.
2 – ênclise – início da frase ( ) Não lhe disse a verdade.
3 – próclise – pronome indefinido ( ) Tudo me lembra você.
4 – mesóclise – futuro do presente ( ) Encontrou-nos aqui.
a) 2, 3, 4, 1 b) 2, 1, 3, 4 c) 4, 3, 1, 2 d) 4, 1, 3, 2
43. (EFOMM) Dentre as alternativas abaixo, assinale a que NÃO se pode deslocar o pronome átono.
a) “Aí o velho se vendo garantido, começou a gritar ...”
b) “Os dois cabras se aproximaram sem que ele pressentisse.”
c) “- Cidadão, vim lhe vender este couro de bode.”
d) “... marchavam um atrás do outro, na direção do juazeiro, do qual só se avistava a copa...”
e) “O feitor largou a foice no chão, puxou as orelhas do couro, e virou-se achando graça...”
45. (AFA) Assinale a alternativa em que o numeral empregado na frase tem valor indeterminado e enfático.
a) Cerca de dois milhões de crianças passam fome na América Latina.
b) “Do alto dessas pirâmides quarenta séculos nos contemplam.”
c) Sabia de cor mil e trezentas orações.
d) As propostas são para o segundo semestre.
46. (EFOMM) Nos períodos seguintes, as expressões sublinhadas se classificam como numerais. A EXCEÇÃO encontra-se na
alternativa:
a) “Faz mais de trinta anos escrevi uma história de cabra morta por retirante...”
b) “Eram uns doze – foram aparecendo pelo oitão da casa...”
c) “Os dois cabras se aproximaram sem que ele pressentisse...”
d) “O loureba é que virava a cara de um lado para o outro...”
e) “Daqui a uma hora quero o pé de juazeiro limpo...”
47. (ESPCEX) Assinale a alternativa em que todas as palavras são formadas por parassíntese.
a) deslealdade, amadurecer, incapaz, reeditar
b) aquático, antebraço, premeditar, reposição
c) apolítica, capitalista, desalmado, desligar
d) avermelhar, acariciar, subterrâneo, esfriar
e) desobediência, desigualdade, novamente, desleal
48. (AFA) Analisando os sufixos das palavras abaixo, assinale a alternativa em que o sentido expresso entre parênteses NÃO
corresponde ao termo ao qual se refere.
a) ancoradouro (indicador de lugar) b) afetuoso (provido de)
c) materialismo (ação, estado ou qualidade) d) realismo (ciência, arte, doutrina)
52. (IME) Que alternativa apresenta o prefixo in- com o mesmo valor semântico encontrado no vocábulo insólito?
a) instante b) inteligência c) invulgares d) instruções
54. (AFA) Assinale a alternativa que apresenta a classe gramatical do termo destacado na oração abaixo:
“Parece que a cada momento se me rebenta o coração.”
a) pronome relativo b) conjunção subordinativa integrante
c) pronome indefinido d) conjunção subordinativa temporal
56. (ITA) Na linha 6 do texto, a expressão em francês “nouveau riche” (= novo rico) produz um efeito de ironia. Assinale a
opção em que a palavra ou expressão em francês produz o mesmo efeito.
a) Para evitar alguns tipos de roubo, a melhor opção é usar uma “pochette” (= pequena bolsa usada, em geral, presa à
cintura).
b) O presunçoso escritor raramente permitia a entrada de colegas em seu requintado “bureau” (= escritório).
c) A exposição de pintura tem um ar de “dèjá-vu” (= algo já visto).
d) Seu requintado “savoir-faire” (= saber fazer algo) culinário se formou aqui na Europa.
e) O burburinho no “trottoir” (= calçada) da rua Nestor Pestana dava um tom especial àquela noite de outono.
57. (EAGS) Assinale a alternativa em que a classificação da conjunção em destaque é a mesma da destacada em “Daquele
amor nem me fale, que eu fico deprimido, todo cheio de saudade.”
a) “Nós, gatos, já nascemos pobres,
Porém já nascemos livres.”
b) “Pareceu-me que a minha posição melhorava, mas enganei-me.”
c) “Quem acha vive se perdendo,
portanto agora eu vou me defendendo...”
d) “Seu rosto estava iluminado, pois a vida lhe sorria.”
58. (IME) “Seus dedos se tornaram mais rápidos, e sua mímica mais pronunciada, mas essas capacidades ainda não bastam
para a articulação vocal. Só o homem tem o dom da fala, assim como só ele é capaz de realizar atividades manuais
complexas.”
Os termos destacados transmitem, respectivamente, idéias de:
a) adição, adversidade, adição b) concessão, explicação, conclusão
c) conformidade, adversidade, comparação d) adição, concessão, comparação
59. (AFA) Em relação ao plural dos substantivos compostos, assinale a alternativa correta.
a) Os guardas-florestais eram escolhidos mediante rigorosa seleção.
b) Os guardas-chuvas pretos nunca saem da moda.
c) O quarto era tão grande que abrigava três guardas-roupas.
d) Eles não eram vigias, eram guarda-noturnos.
GABARITO
01 b, 02 b, 03 c, 04 c, 05 c, 06 a, 07 a, 08 b, 09 c, 10 c, 11 c, 12 d, 13 c, 14 e, 15 a, 16 b, 17 c, 18 a, 19 a, 20 c, 21 c, 22 d,
23 a, 24 d, 25 c, 26 e, 27 a, 28 c, 29 a, 30 b, 31 c, 32 a, 33 d, 34 a, 35 d, 36 pulei, 37 d, 38 a, 39 c, 40 c, 41 d, 42 d, 43 d,
44 e, 45 c, 46 d, 47 d, 48 c, 49 d, 50 d, 51 d, 52 c, 53 c, 54 b, 55 a, 56 c, 57 d, 58 a, 59 a, 60 c
Sobre o fragmento acima, é correto afirmar que a autora defende a idéia de que:
o falante nativo de uma língua não aprende todas as frases possíveis do idioma, mas, desde criança, mesmo sem se dar
dconta, compreende as regras de construção das seqüências lingüísticas.
as crianças não conseguem absorver todas as frases da língua materna de uma só vez. Isso só será possível quando adulta,
pois, aos poucos, vai armazenando todo o estoque lingüístico ao longo de sua vida.
as seqüências lingüísticas da língua materna só serão aprendidas plenamente pela criança quando, em sua fase escolar, ela
passa a ter contato e compreender as regras formais da língua contidas na Gramática.
os falantes nativos de qualquer idioma falam perfeitamente sem conhecer as regras de construção gramatical, pois este
conhecimento somente será necessário para a utilização da palavra escrita.
o conhecimento formal da Gramática é que possibilitará ao falante de um idioma as condições plenas de se expressar na
língua materna, pois é estudo gramatical que permite realizar as construções possíveis do idioma.
A Daslu e o shopping-bunker
A nova Daslu é o assunto preferido das conversas em São Paulo. Os ricos se entusiasmam com a criação de um local
tão exclusivo e cheio de roupas e objetos sofisticados e internacionais. Os pequeno-burgueses praguejam contra a iniciativa,
indignados com tanta ostentação.
Antes instalada num conjunto de casas na Vila Nova Conceição, região de classe alta, a loja que vende as grifes mais
famosas e caras do mundo passará agora a funcionar um prédio monumental construído no bairro “nouveau riche” da Vila
Olímpia e ao lado do infelizmente pútrido e mal cheiroso rio Pinheiros.
A imprensa aproveita a mudança da Daslu para discorrer sobre as vantagens de uma vida luxuosa e exibir fotos
exclusivas do interior da megaloja de quatro andares e seus salões labirínticos, onde praticamente não há corredores, pois,
como diz a dona da loja, a idéia é que o consumidor se sinta em sua casa.
Estranha casa, deve-se dizer. Para entrar nela é preciso fazer uma carteira de sócio, depois de deixar o carro num
estacionamento que custa R$ 30,00 (a primeira hora). Obviamente, tudo isso tem por objetivo selecionar os consumidores e
intimidar os pouco afortunados – os mesmo que, ao se aventurar na antiga loja, reclamavam da indiferença das vendedoras,
as dasluzetes, muito mais solícitas com aqueles que elas já conheciam ou que demonstravam de cara seu poder de compra.
As complicações na portaria visam também, embora não se diga com clareza, a proteger o local e dar segurança aos
milionários de todo o país que certamente farão da nova Daslu um de seus “points” durante a estada em São Paulo, como já
ocorria com a antiga casa. A segurança é um item cada vez mais prioritário nos negócios hoje em dia – antes mesmo da
inauguração, a loja teve um de seus caminhões de mudança roubado.
As formalidades na entrada levam ainda em conta a privacidade do local de quase 20 mil metros quadrados, não
muito longe da favela Coliseu (sic). A reportagem de um site calculou, por falar nisso, que a soma da renda mensal de todas
as famílias da favela (R$ 10,725,00 segundo o IBGE) daria para comprar apenas duas calças Dolce & Gabbana na loja.
Tais fatores, digamos assim, sinistros da realidade brasileira é que impulsionam o pioneirismo da nova Daslu. Sim a
loja é uma empreitada verdadeiramente inédita. A Daslu, que desenvolveu no Brasil um certo tipo de atendimento exclusivo e
personalizado para ricos, agora introduz, pela primeira vez no mundo, o modelo do shopping-bunker.
Todos sabem como os shopping centers floresceram em São Paulo e nas capitais brasileiras, tanto pelas facilidades
que propiciam para a gente que vive nos centros urbanos congestionados e tumultuado, quanto pela segurança. Ao longo dos
anos, eles foram surgindo aqui e ali, alterando a sociabilidade e a paisagem das cidades. Acabaram se transformando em
uma espécie de praça (fechada), onde as classes alta e média podiam circular com tranqüilidade, sem serem importunadas
pela visão e a presença dos números pobres e miseráveis, que, por sua vez, ocuparam as praças públicas (abertas), como a
da República e a da Sé, em São Paulo. Dentro dos shoppings, os brasileiros sonhamos um mundo de riqueza, organização,
limpeza, segurança, facilidades e sobretudo de distinção que lá fora, nas ruas, está agora longe de existir.
Mas talvez os shoppings, mesmo os mais sofisticados, como o Iguatemi, tenham se tornado democráticos demais
para o gosto da classe alta paulista. A cada pequeno entusiasmo econômico, logo a alvoroçada classe média da cidade
resolve se intrometer aos bandos nas searas exclusivas dos muito ricos. [...]
(http://www1.folha.uol.com.br, por Alcino Leite Neto
Consulta em 08/07/2005.)
63. (ITA) Considerando o contexto e os vários pontos de vista presentes no texto, aponte a opção que, da perspectiva dos
ricos, NÃO constitua atributo da Daslu.
a) sofisticação b) exclusividade c) privacidade d) ostentação e) distinção
64. (ITA) No texto, predomina a linguagem formal. No entanto podem-se perceber nele algumas marcas de linguagem
coloquial, como em:
a) as grifes b) deve-se dizer c) de cara d) sinistros e) a gente
65. (ITA) De acordo com o que está explícito no texto, constitui um objetivo das complicações que dificultam o acesso à loja.
a) a seleção b) a intimidação c) a segurança d) a sofisticação e) a proteção
69. (ITA) No início do sétimo parágrafo, a expressão “Tais fatores [...] sinistros” refere-se a:
a) violência e desigualdade social b) proteção e segurança
c) exclusividade e privacidade d) sofisticação e luxo
e) isolamento e indiferença
70. (ITA) No sexto parágrafo, o autor usa um dado estatístico como argumento para:
operar uma digressão que interrompe o fio da argumentação
exemplificar a idéia apresentada no período anterior
c) contrastar duas condições sociais
d) fazer uma associação fortuita
e) relacionar implicitamente o espaço da loja e o da favela
71. (ITA) Na linha 6 do texto, a expressão em francês “nouveau riche” (= novo rico) produz um efeito de ironia. Assinale a
opção em que a palavra ou expressão em francês produz o mesmo efeito.
Para evitar alguns tipos de roubo, a melhor opção é usar uma “pochette” (= pequena bolsa usada, em geral, presa à cintura).
b) O presunçoso escritor raramente permitia a entrada de colegas em seu requintado “bureau” (= escritório).
c) A exposição de pintura tem um ar de “dèjá-vu” (= algo já visto).
d) Seu requintado “savoir-faire” (= saber fazer algo) culinário se formou aqui na Europa.
e) O burburinho no “trottoir” (= calçada) da rua Nestor Pestana dava um tom especial àquela noite de outono.
Vocabulário:
urânio, hélium, rádium – elementos químicos
loelia – minério
insigne – célebre, notável
74. (EEAR) A partir da leitura dos quatro primeiros versos da 4ª estrofe pode-se inferir que:
a) a guerra, por si mesma já elimina muitas vidas, o que torna a bomba atômica um artefato desnecessário
b) o processo natural da vida já inclui a morte, sendo, pois, a bomba um recurso inútil
c) a raça humana, em todos os tempos, já é produtora competente de ‘processos de morte’
d) os efeitos da bomba, por mais aterradores que sejam, não superam o medo que o homem tem da morte.
Seca
Era hora do almoço dos trabalhadores. Enquanto os homens comiam lá dentro, o fazendeiro velho sentava-se na
rede do alpendre, à frente de casa espiando o sol no céu, que tinia como vidro; procurando desviar os olhos da água do
açude, lá além, que dentro de mais um mês estaria virada de lama.
Os dois cabras se aproximaram sem que ele pressentisse. Era um alto e um baixo; o baixo grosso e escuro, vestido
numa camisa de algodãozinho encardido. O alto era alourado e não se podia dizer que estivesse vestido de coisa nenhuma,
porque era farrapo só. O grosso na mão trazia um couro de cabra, ainda pingando sangue, esfolado que fora fazia pouco. E
nem tirou o caco de chapéu da cabeça, nem salvou ao menos.
O velho até se assustou e bruscamente se pôs a cavalo na rede, a escutar a voz grossa e áspera, tal e qual quem
falava:
- Cidadão, vim lhe vender este couro de bode. Aquele “cidadão”, assim desabrido, já dizia tudo. Ninguém chega de
boa atenção em terreno alheio sem dar bom-dia. E tratando o dono da casa de cidadão. Assim, o fazendeiro achou melhor
fingir que não ouvira ¾ e foi-se pondo de pé.
- O quê? Que é que você quer?
O homem escuro botou o couro em cima do parapeito e o sangue escorreu num fio pelo cal da parede:
- Estou arranchado com minha família debaixo daquele juazeiro grande, ali. Essa cabra passou perto – não sei de
quem era. Matei, e a mulher está cozinhando a carne para comer. Agora, o couro – o senhor ou me dá dinheiro por ele, ou
me dá farinha.
- E de quem é essa cabra? É minha? Quem lhe deu ordem para matar?
O velho estava tão furioso que o dedo dele, espetado no ar, tremia. E o loureba esfarrapado chegou perto e deu a
sua risadinha:
- Ninguém perguntou a ela o nome do dono...
Mas o outro, sempre sério, olhou o velho na cara:
- Matei com ordem da fome. O senhor quer ordem melhor?
Nesse meio, os homens que almoçavam lá dentro escutaram as vozes alteradas e vieram ver o que havia. Eram uns
doze – foram aparecendo pelo oitão da casa, de um em um, e se abriram em redor dos estranhos no terreiro.
Aí o velho se vendo garantido, começou a gritar:
- Na minha terra só eu dou ordem! Vocês são muito é atrevidos – me matarem o bicho e ainda me trazerem o couro
pra vender, por desaforo! Chico Luís, veja aí de quem é o sinal dessa criação.
O feitor largou a foice no chão, puxou as orelhas do couro, e virou-se achando graça para um dos companheiros: era
a sua cabrinha, não era mesmo, compadre Augusto? Está aqui o sinal...
O Augusto veio olhar também e ficou danado:
- Seus perversos, a cabra era da minha menina beber leite, estava cheia de cabrito novo!
Mas o olho do homem escuro era feio, se ele se assustara vendo-se cercado pelos cabras da fazenda, não deu
parecença. O loureba é que virava a cara de um lado para outro, procurando saída; ainda levou a mão ao quadril, tateou o
cabo da faca – mas cada um dos homens tinha uma foice, um terçado, um ferro na mão.
Nesse pé o fazendeiro, para acabar com a história, resolveu mostrar bom coração; e gritou para o corredor:
- Menina! Manda aí uma cuia com um bocado de farinha!
Depois, retornando ao homem:
- Eu podia mandar prender vocês, para aprenderem a não matar bicho alheio! Mas têm crianças, não é? Tenho pena
das crianças. Leve essa farinha, comam e tratem de ir embora. Daqui a uma hora quero o pé de juazeiro limpo e vocês na
estrada. Podem ir!
O homem recebeu a cuia, não disse nada, saiu sem olhar para trás. O outro acompanhou, meio temeroso, tirou
ainda o chapéu em despedida, e pegou no passo do companheiro. O velho reclamava, em voz alta – cabra desgraçado, além
de fazer o malfeito, recebe o favor e nem sequer abana o rabo.
Os trabalhadores, calados, acompanhavam com os olhos os dois estranhos que marcavam um atrás do outro, na
direção do juazeiro, do qual só se avistava a copa alta ali no terreiro. Ninguém sabe o que pensavam; o dono da cabra deu
de mão no couro e foi com ele para trás da casa.
Aí a sineta bateu e os homens saíram para o serviço. Passando pelo juazeiro, lá viram a família ao redor do fogo, os
meninos procurando pescar pedaços da carne que fervia numa lata. Mas o homem escuro, encostado ao tronco, via-os
passar, de braços cruzados, sem baixar os olhos. Ainda foi o dono da cabra que baixou os seus; explicou depois que não
gostava de briga.
MORALIDADE: Este caso aconteceu mesmo. faz mais de trinta anos escrevi uma história de cabra morta por
retirante, mas era diferente. Então, o homem sentia dor de consciência, e até se humilhou quando o dono do bicho morto o
chamou de ladrão. Agora não é mais assim. Agora eles sabem que a fome dá um direito que passa por cima de qualquer
direito dos outros. A moralidade da história é mesmo esta: tudo mudou, mudou muito.
QUEIROZ, Rachel de. Cenas brasileiras
São Paulo: Ática, 1997, p.14-17. (para gostar de ler).
77. (EFOMM) Diz-se pejorativo o que exprime sentido depreciativo, desfavorável ao referir-se a alguém ou alguma coisa. Essa
atitude a autora tem com um dos personagens na passagem:
“Os dois cabras se aproximaram sem que ele pressentisse.”
“O velho até se assustou e bruscamente se pôs a cavalo a rede...”
“O feitor largou o foice no chão, puxou as orelhas do couro, e virou-se...”
“Mas o olho do homem escuro era feio e, se ele se assustara...”
“O loureba é que virava a cara de um lado para outro...”
78. (EFOMM) A morte da cabra deixou o dono dela com raiva, porque:
a) o animal, além de alimentar a filha dele, estava prenhe.
b) o animal, além de alimentar a filha dele, tinha muitos filhotes para alimentar.
c) o animal, além de alimentar a filha dele, cruzaria com um cabrito novo.
d) estava previsto o cruzamento do animal com um cabrito.
e) o animal servia para alimentar a filha dele, mas não gostava de cabrito novo.
79. (EFOMM) “Mas o olho do homem escuro era feio e, se ele se assustara vendo-se cercado pelos cabras da fazenda, não
deu parecença.” Sobre a passagem sublinhada pode-se dizer, em outros termos, que:
a) se ele tinha se assustado ao se ver cercado pelos homens, não deixou transparecer.
b) se ele teria assustado-se por se ver cercado pelos homens da fazenda, não deixou transparecer.
c) caso ele tenha se assustado ao se ver cercado pelos homens da fazenda, não deixou transparecer.
d) se ele tinha assustado-se ao se ver cercado pelos homens da fazenda, não deixou transparecer.
e) caso ele tivesse se assustado por se ver cercado pelos homens da fazenda, não deixou transparecer.
81. (EFOMM) “Assim, o fazendeiro achou melhor fingir que não ouvira ¾ e foi-se pondo de pe.”
Essa afirmação significa que o fazendeiro:
a) entendeu o dito pelo cabra e se levantou.
b) fingiu não ouvir a maior parte do que fora dito pelo cabra.
c) não conseguiu ouvir o que falara o cabra.
d) não entendeu uma boa parte da fala do cabra.
e) mostrou ao cabra que ouvira quase toda a sua fala.
Texto I
A origem de nosso entendimento
Um macaco jamais poderia tocar piano. Falta-lhe, para isso, a capacidade de mover os dedos com velocidade e
precisão para pressionar as teclas em rápida sucessão. Nós, humanos, porém, mesmo quando não sabemos nada de música,
não precisamos de muito tempo para aprender a tocar pelo menos uma melodia curta. Isso sem falar da vertiginosa execução
de pianistas profissionais.
Nossa habilidade manual ultrapassa em muito a dos outros primatas, e isso é um fato que os pesquisadores que
buscam as qualidades que caracterizam o ser humano até agora levaram menos em conta que uma outra diferença: nossa
posse da linguagem ou nossa capacidade de articulação vocal. No entanto, como já se sabe há alguns séculos, ambas as
habilidades estão estreitamente ligadas do ponto de vista neurológico, pois os mesmos centros cerebrais contêm as rotinas e
instruções para a fala e para o uso de nossas mãos.
Nos últimos séculos, a pesquisa comportamental derrubou quase todas as supostas barreiras que separavam os
homens dos animais, como o uso de ferramentas, a comunicação simbólica e a categorização abstrata. O mesmo vale para as
atividades cognitivas, faculdades de pensamento e compreensão que os animais também possuem, embora em forma
rudimentar. Só a linguagem parece ser exclusivamente nossa: apesar de todos os esforços, até hoje nenhum macaco
aprendeu a falar.
Uma característica da fala é o perfeito controle da musculatura do aparelho fonador. É notável que nossa destreza
também se apóie em uma motricidade refinada. Somos capazes de controlar a musculatura das mãos e braços com mais
precisão do que qualquer animal. Mas é importante observar que esse controle motor começa a se manifestar nos primatas.
Seus dedos se tornaram mais rápidos, e sua mímica mais pronunciada, mas essas capacidades ainda não bastam para a
articulação vocal. Só o homem tem o dom da fala, assim como só ele é capaz de realizar atividades manuais complexas.
Muitos animais correm e saltam melhor do que nós. Eles dispõem, para isso, de um complexo aparato neuronal que
emite as instruções de movimento e ajusta seus comandos às circunstâncias. Na evolução da inteligência motora humana,
esse é o fundamento sobre o qual se baseiam nossa capacidade lingüística e nosso controle manual.
(NEUWEILER, Gerhard. A origem de nosso entendimento. (fragmento adaptado) In: Scientifc American –
Brasil. Junho de 2005.)
Texto II
Quintanares
Texto III
Os poemas
82. (IME) “Todo mundo é para mim uma interjeição ampliada, algo instintivo e carregado de emoção.” (Mário Quintana, A
Carta. 1976)
Estas palavras de Mário Quintana ilustram sua maneira de conceber a poesia, intensa e vital, e sua preferência por
aforismos, ou seja, sentenças curtas que possuem grandes significados. Em 30 de julho de 2006, comemoraram-se cem
anos do nascimento do poeta, homenageado por amantes da literatura de todo mundo. Tendo em vista as informações
sobre a obra de Quintana, indique a alternativa que NÃO pode ser considerada verdadeira em relação ao texto “Os
poemas”
a) O alimento do poema se esconde em cada interior.
b) Os poemas se alimentam em cada par de mãos de seus leitores e partem.
c) Os pássaros são poemas que têm como pouso certo um determinado par de mãos.
d) Quando o leitor fecha o livro, os poemas alçam vôo como se fugissem de um alçapão.
83. (IME) Ao completar 60 anos, Mário Quintana foi homenageado na Academia Brasileira de Letras pelo poeta Manuel
Bandeira, que compôs e recitou o poema “Quintanares”. Mais tarde, o neologismo criado por Bandeira tornou-se título de
uma obra de Mário Quintana. De acordo com Manuel Bandeira, Quintanares seria(m):
a) verbo quintanar conjugado na 2ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo.
b) cantares de Mário Quintana. Versos sem disfarces, simples, únicos e repletos de amor.
c) versos compostos tanto em bares como em mansões seculares.
d) cantigas sem esgares que se transformam em lágrimas e são jogadas nos mares.
84. (IME) Assinale a opção que melhor traduz a idéia do último parágrafo do Texto I.
a) A evolução da inteligência humana é o fundamento da capacidade lingüística e do controle manual que os homens
possuem.
b) A capacidade lingüística e o controle manual dos seres humanos se fundamentam sobre um complexo aparato neuronal,
que nos animais permite que estes corram e saltem melhor que os seres humanos.
c) Devido ao complexo aparato neuronal existente somente nos animais, muitos destes saltam e correm melhor do que os
seres humanos.
d) A complexidade do aparato neuronal de muitos animais possibilitou a evolução da inteligência motora humana.
85. (IME) Observe as seguintes sentenças e assinale a opção que indica a relação estabelecida entre as idéias transmitidas
por elas.
I – Um macaco jamais poderia tocar piano.
II – Falta-lhe, para isso, a capacidade de mover os dedos com velocidade e precisão para pressionar as teclas em rápida
sucessão.
a) A sentença I é a causa da II. b) A sentença II contradiz a I.
c) A sentença II é condição para a I. d) A sentença I é conseqüência da II.
Nos enganaram. É isso mesmo. nem tudo termina em beijo. Quase nada, na verdade. E por que é que insistimos que
sim? Talvez eu não devesse atribuir a dúvida a todos nós. Só a mim mesma já está de bom tamanho.
Faço parte da massa de pessoas viciadas em comédias românticas do tipo água-com-açúcar. Sabe que aqueles
filmes podem fazer um mal e tanto? Tudo é sempre tão perfeito, tão maravilhoso! E, claro, no meio do filme há sempre uma
crise entre o casal e, no último quarto, no final, tudo começa a se ajeitar. Tudo caminhando para o grande final. O beijo! A
câmera fecha no casal se beijando na chuva ou na praia, ou entre as flores. Ou ainda todas as anteriores ao mesmo tempo.
O cara é sempre bonito, gostoso, simpático, sorridente, carinhoso, cheiroso, bom cozinheiro, bem-vestido,
inteligente – todas as variáveis existentes. A moça é sempre maravilhosa, determinada, inteligente, bem-humorada, bem-
vestida, delicada, meiga, romântica – e todas as outras variáveis existentes. Então, só o que posso concluir é que, nos
enganaram.
Nem todas somos maravilhosas, meigas, determinadas e tudo o mais ao mesmo tempo. E, acreditem, nem todos
eles são lindos, gostosos e – ao mesmo tempo – inteligentes, simpáticos e tudo o mais... E aí, como é que fica a vida real?
Como é que nos mostram tudo isso e, depois – como se fosse um belo prêmio de consolação – nos dão isso. Acho que acabo
de descobrir por que os filmes românticos terminam quando o casal dá o beijo definitivo. É porque, a partir daí, começa a
realidade. E eles não vão querer nos mostrar a realidade. Não vende.
Daí, por que esses filmes podem fazer um mal e tanto. Ficamos esperando a perfeição. E ela deve ser realmente
como nos filmes. Não aceitamos qualquer amostra barata. E então, um tem mau hálito, outro uma barriguinha, outro usa
meia de ursinho, outro é um pouco lerdo, outro usa aparelho, outro gosta do ë o Tchan! E, se por acaso vocês saem – se é
que se chega a tal ponto – nada de passeios ao luar, velas, beijos debaixo da chuva. No dia seguinte, nada de telefonemas,
mensagens ou e-mails apaixonados, nem mesmo – muito menos – flores.
Então, quando parei para pensar nisso, depois de uma maratona de três desses retratos da perfeição, achei que
talvez devêssemos nunca mais assistir a eles. Greve às comédias românticas! Mas, no fim, acho que isso não resolveria.
Devemos, isso sim, deixar de ser tão covardes. Levantar do sofá, desligar a TV e dar a cara a tapa. É tão cômodo sentar e
dizer “nada é bom o bastante para mim” e não correr o risco de se machucar. Nada mais perfeito do que um amor de
verdade, com todas as suas falhas e imperfeições. Com todas as brigas, encontros e desencontros, mau hálito e meias de
ursinho. Sabe por quê? Porque, no fim, descobrimos que somos perfeitos pelo simples fato de não o sermos.
Annita Velasque.
Publicado no jornal Estado de Minas. 29.03.2005
86. (AFA) Depreende-se do texto que a busca da perfeição, sobretudo nos relacionamentos humanos, é o objetivo de muitas
pessoas. Que passagem do texto confirma essa afirmação?
a) “Faço parte da massa de pessoas viciadas em comédias românticas do tipo água-com-açúcar.”
b) “Tudo caminhando para o grande final. O beijo! A câmera fecha no casal se beijando na chuva ou na praia, ou entre as
flores.”
c) “Eles não vão querer nos mostrar a realidade. Não vende.”
d) “Nada mais perfeito do que um amor de verdade, com todas as suas falhas e imperfeições”
87. (AFA) A narrativa, feita em primeira pessoa, enfatiza os sentimentos e opiniões da autora. São argumentos que
apresenta ao defender a idéia de que as comédias românticas podem fazer “um mal e tanto”, EXCETO:
a) Por apresentar situações e pessoas ideais, o filme retrata uma mentira, pois a perfeição não existe na vida real.
b) As comédias românticas sugerem situações desejáveis, que atraem as pessoas, entretanto, de volta à realidade, essas
pessoas são lançadas à situação que evidenciam limitações diversas e sentem-se frustradas.
c) A idealização apresentada nos filmes tornam as pessoas alienadas.
d) A busca da perfeição nas comédias românticas permite perceber que o mais perfeito é um amor de verdade, com suas
falhas e imperfeições.
O velho
Luiz Caversan
Quando era criança, ele não podia ver um mendigo na rua. Chorava. De dó, de raiva do mundo, de raiva dele
mesmo: por que não fazia alguma coisa para mudar aquilo?
Quanta coisa há para mudar no mundo! E a sua mãe ficava preocupada demais, afinal ele era um menino muito
sensível, só pensava besteira e se preocupava com assunto de gente grande: imagine, mudar o mundo...
Quando ficou um jovem, tinha um pesadelo recorrente. Sonhava que a matéria plástica – era assim que se chamava
qualquer coisa sintética – tomava conta da Terra toda. Como não era consumido pela natureza, como ninguém se preocupava
em reutilizar nada, como as fábricas só aumentavam e aumentavam a produção dos variados tipos de embalagens e móveis
e utensílios diversos de plástico, uma imensa camada do material que não desaparecia nunca começou a recobrir o planeta.
O sonho era recorrente e tinha continuidade, cada noite sonhada um episódio mais tenebroso que o anterior: a
massa enrijecida de plástico disforme e de cor indefinida cobria florestas, mares, países inteiros, eliminando qualquer espaço
para a lavoura, para os animais, para a vida do homem e de tudo o mais.
Apesar de evoluir como uma novela, o sonho acabou sem um final propriamente dito. Um dia simplesmente ele
percebeu que não sonhava mais e que seu medo de ver a terra recoberta de plástico perdera o sentido. Hoje ele é um
homem velho e pensa nessas coisas do passado com certa dificuldade. Não lê mais notícia de jornal nem ouve o rádio ou
assiste à TV.
Concluiu, com o passar dos anos, que as coisas boas e más que tanto o preocuparam ao longo de sua vida
ocorreram e continuarão acontecendo após a sua morte sem que seus medos, culpas e revoltas tivessem a menor
importância ou interferissem minimamente no rumo natural das tragédias, das pequenas ou grandes transformações.
E isso não o deixa triste. Apenas vazio, oco de sentimentos e responsabilidades.
89. (AMAN) Pela leitura do texto “O velho”, pode-se inferir que a mãe via a atitude do filho com:
a) preocupação e condescendência b) desdém e ironia
c) condescendência e tranqüilidade d) preocupação e tristeza
e) angústia e cuidado
90. (AMAN) Julgue se as afirmativas abaixo são verdadeiras (V) ou falsas (F) e marque a alternativa correta.
I – A desilusão com a vida e a perda de ideais do protagonista estão evidenciadas na conclusão do texto.
II – Na fase adulta, as preocupações ambientais e sociais do narrador desapareceram.
III – O tempo cronológico é marcado, na narrativa, pelas fases da vida humana.
a) V – F – V b) V – V – V c) V – F – F d) F – F – F e) F – V – V
Círculo vicioso
Machado de Assis
Vocabulário:
capela – grinalda, coroa
nume – deidade, divindade
umbela – guarda-chuva, ou objeto com a forma de guarda-chuva (no soneto, a abóbada celeste)
rútila – brilhante
lume – luz
enfarar-se – entediar-se, aborrecer-se
93. (EAGS) Assinale a alternativa que justifica o sentido do título “Círculo Vicioso”.
a) Há uma sucessão de idéias que retornam à idéia inicial, o que se evidencia no primeiro e últimos versos.
b) O assunto do texto e o título são independentes, não se relacionam.
c) O título resume o que é narrado no soneto: auto-aceitação dos personagens diante da situação em que se encontram.
d) Os versos não se apresentam claros para o leitor, são viciosos.
94. (EAGS) Qual característica humana evidencia-se nos personagens pelo desejo que demonstram?
a) equilíbrio b) tranqüilidade c) conformismo d) insatisfação
95. (EAGS) Predomina no texto um recurso que se mostra por meio da seqüência vaga-lume, estrela, lua, sol. Trata-se da:
a) coordenação, pois não há diferença gradual entre o personagens
b) gradação, elaborada em ordem crescente
c) oposição, porque a seqüência é contraditória
d) comparação, pois os personagens são apresentados em ordem de igualdade.
96. (EAGS) Comparando-se os personagens aos seres humanos, o fato de a luz ser um atributo comum a todos pode levar-
nos a concluir que as pessoas:
a) apresentam o mesmo um grau de desenvolvimento
b) são sempre iguais umas às outras quando se trata de visão do mundo
c) nunca têm a chance de crescer, embora sejam idênticas
d) possuem o mesmo potencial para realizar-se na vida.
Com um pouco de exagero, costumo dizer que todo jogo é de azar. Falo assim referindo-me ao futebol que, ao
contrário da roleta ou da loteria, implica tática e estratégia, sem falar no principal, que é o talento e a habilidade dos
jogadores. Apesar disso, não consegue eliminar o azar, isto é, o acaso.
E já que falamos em acaso, vale lembrar que, em francês, “acaso” escreve-se “hasard”, como no célebre verso de
Mallarmé, que diz: “um lance de dados jamais eliminará o acaso”. Ele está, no fundo, referindo-se ao fazer do poema que,
em que pese a mestria e lucidez do poeta, está ainda assim sujeito ao azar, ou seja, ao acaso.
Se no poema é assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num campo de
amplas dimensões. Se é verdade que eles jogam conforme esquemas de marcação e ataque, 10 seguindo a orientação do
técnico, deve-se no entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepção da jogada e decide deslocar-se nesta ou
naquela direção, ou manter-se parado, certo de que a bola chegará a seus pés. Nada disso se pode prever, daí resultando um
alto índice de probabilidades, ou seja, de ocorrências imprevisíveis e que, portanto, escapam ao controle.
Tomemos, como exemplo, um lance que quase sempre implica perigo de gol: o tiro de canto. Não é à toa que,
quando se cria essa situação, os jogadores da defesa se afligem em anular as possibilidades que têm os adversários de
fazerem o gol. Sentem-se ao sabor do acaso, da imprevisibilidade. O time adversário desloca para a área do que sofre o tiro
de canto seus jogadores mais altos e, por isso mesmo, treinados para cabecear para dentro do gol. Isto reduz o grau de
imprevisibilidade por aumentar as possibilidades do time atacante de aproveitar em seu favor o tiro de canto e fazer o gol.
Nessa medida, crescem, para a defesa, as dificuldades de evitar o acaso, uma vez que o batedor do escanteio, por mais
exímio que seja, não pode com precisão absoluta lançar a bola na cabeça de determinado jogador. Além do mais, a
inquietação ali na área é grande, todos os jogadores se movimentam, uns tentando escapar à marcação, outros procurando
marca-los. Essa movimentação, multiplicada pelo número de jogadores que se movem, aumenta fantasticamente o grau de
imprevisibilidade do que ocorrerá quando a bola for lançada. A que altura chegará ali? Qual jogador estará, naquele instante,
em posição propícia para cabeceá-la, seja para dentro do gol, seja para longe dele? Não existe treinamento tático, posição
privilegiada, nada que torne previsível o desfecho do tiro de canto. A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e,
dependendo da sorte, será gol ou não.
Não quero dizer com isso que o resultado das partidas de futebol seja apenas fruto do acaso, mas a verdade é que,
sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, não se vai muito longe; jogadores, técnicos e torcedores sabem
disso, tanto que querem se livrar do chamado “pé frio”. Como não pretendo passar por supersticioso, evito aderir
abertamente a essa tese, mas quando vejo, durante uma partida, meu time perder “gols feitos”, nasce-me o desagradável
temor de que aquele não é um bom dia para nós e de que a derrota é certa.
Que eu, mero torcedor, pense assim, é compreensível, mas que dizer de técnicos de futebol que vivem de terço na
mão e medalhas de santos sob a camisa e que, em face de cada lance decisivo, as puxam para fora, as beijam e murmuram
orações? Isso para não falar nos que consultam pais-de-santo e pagam promessas a Iemanjá. É como se dissessem: treino
os jogadores, traço o esquema de jogo, armo jogadas, mas, independentemente disso, existem forças imponderáveis que só
obedecem aos santos e pais-de-santo; são as forças do acaso.
Mas não se pode descartar o fator psicológico que, como se sabe, atua sobre os jogadores de qualquer esporte;
tanto isso é certo que, hoje, entre os preparadores das equipes há sempre um psicólogo. De fato, se o jogador não estiver
psicologicamente preparado para vencer, não dará o melhor de si.
Exemplifico essa crença na psicologia com a história de um técnico inglês que, num jogo decisivo da Copa da Europa,
teve um de seus jogadores machucados. Não era um craque, mas sua perda desfalcaria o time. O médico da equipe, depois
de atender o jogador, disse ao técnico: “Ele já voltou a si do desmaio, mas não sabe quem é”. E o técnico: “Ótimo! Diga que
ele é o Pelé e que volte para o campo imediatamente.”
97. (ITA) Observe o emprego da partícula se, em destaque, nos excertos abaixo:
I. Se no poema é assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num campo de amplas
dimensões.
II. Se é verdade que eles jogam conforme esquemas de marcação e ataque, seguindo a orientação do técnico, deve-se no
entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepção da jogada e decide deslocar-se nesta ou naquela direção, ou
manter separado, certo de que a bola chegará a seus pés.
III. De fato, se o jogador não estiver psicologicamente preparado para vencer, não dará o melhor de si.
A partícula se estabelece uma relação de implicação em:
a) apenas I b) apenas II c) apenas III d) apenas I e II e) apenas II e III
98. (ITA) Segundo o texto, NÃO se pode afirmar que nos jogos de futebol:
a) os resultados são determinados pelo acaso, apesar do talento e técnica dos jogadores.
b) não se pode prever os resultados, pois são influenciados pelo acaso.
c) todos os lances e resultados são frutos do acaso.
d) até os técnicos sabem que as forças do acaso colaboram com os resultados.
e) o azar ou a sorte nos resultados dependem do acaso.
99. (ITA) No penúltimo parágrafo, a conjunção mas estabelece com os demais argumentos do texto uma relação de:
a) restrição b) adversidade c) atenuação d) adição e) retificação
100. (ITA) Da frase “De fato, se o jogador ...”, pode-se concluir que o autor:
a) acredita que o preparo psicológico dos jogadores pode controlar as forças do acaso.
b) confere ao preparo psicológico dos jogadores o poder de produzir bons resultados.
c) ironiza o preparo psicológico dos jogadores, pois ele não é capaz de subjugar o acaso.
d) vincula o preparo psicológico dos jogadores à confiança que devem ter, a fim de tentar vencer o acaso.
e) faz crer que o preparo psicológico dos jogadores torna-se imunes ao acaso e capazes de vencer.
101. (ITA) Na frase, “Apesar disso, não consegue eliminar o azar, isto é, o acaso”, podemos dizer que o azar é:
a) conseqüência do acaso b) sinônimo de acaso c) causa do acaso
d) justificação para o acaso e) o contrário de acaso
103. (ITA) Assinale a opção em que a palavra em destaque permite duplo sentido:
a) Se no poema é assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num campo de amplas
dimensões.
b) [...] o batedor do escanteio, por mais exímio que seja, não pode com precisão absoluta lançar a bola na cabeça de
determinado jogador.
c) A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e, dependendo da sorte, será gol ou não.
d) [...] a verdade é que, sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, não se vai muito longe [...]
e) De fato, se o jogador não estiver psicologicamente preparado para vencer, não dará o melhor de si.
Hoje se fala muito em globalização, mas, se perguntarmos a um executivo o que é mesmo globalização, ele não
sabe. Globalização é quase um instinto humano. Os homens sempre procuraram globalizar seus conhecimentos. Primeiro, por
meio da descoberta, da exploração e da cartografia de todo o planeta. Depois, com as grandes viagens. Com armas e
mercadorias, tentaram–se conquistar as regiões recém-descobertas do mundo. Depois, as conquistas se deram por meio dos
capitais e das idéias. A Igreja a fez com os missionários. A CNN a fez através de sua rede de TV. E o Brasil, por suas novelas.
Hoje, temos tudo isso junto. Há todas as formas de globalização anteriores e temos que acrescentar que, pela primeira vez,
há um “país” hegemônico, que tem seu exército em todo o planeta.
Pela primeira vez, saímos de duas guerras mundiais. Pela primeira vez, saímos de uma guerra fria, pela primeira
vez, temos os meios de comunicação de massa. Com isso tudo, a globalização política passou a ser econômica e agora está
se tornando psicológica. Temos dados desconcertantes: 32 milhões de pessoas por hora consomem Coca-Cola; 18 milhões de
pessoas comem por hora um hambúrguer do McDonald’s. Somos globalizados em tudo. Não só a economia foi globalizada.
Nossa personalidade e nossos sentidos também. Vemos em qualquer lugar os mesmos filmes. Ouvimos em qualquer lugar a
mesma música. Todos os aeroportos do mundo têm o mesmo cheiro. Vivemos em uma globalização psicológica, que, de um
lado, transforma o mundo numa grande vizinhança e mescla as experiências, mas, de outro, aniquila as diferenças. E
aniquilar as diferenças é terrível.
Trecho de entrevista concedida por Domenico de Masi à TV Cultura de São Paulo (programa Roda Viva)
Conhecimento e Religião
Artur Diniz Neto
Os cientistas não são indivíduos diferentes de nós, que vêem tudo o que não vemos; realmente, eles enxergam um
pouquinho do que não conseguimos enxergar, embora ignorem a imensidão do desconhecido, na qual estamos mergulhados.
É por isto que já se afirmou com razão que “a ciência é uma vela na escuridão”. De fato ela ilumina um pouco ao redor de
nós, deixando tudo o mais na escuridão da ignorância e da necessidade.
Num congresso realizado em Nova Iorque, em 1956, os cientistas assinaram uma declaração dizendo que o “vazio
absoluto” não deixa de ser uma parte integrante de nosso universo, este universo em que se acham estrelas, homens e
átomos. Por outras palavras, queriam eles dizer que a matéria de nosso universo estende tentáculos invisíveis,
prolongamentos por toda a parte do vazio. Isto significa dizer que o vazio não é vazio e que os corpos não são separados,
distintos, distantes, mas contíguos. Muitos anos antes disso, um sábio chamado Loren Eiseley já admitia uma infinda ponte
de infinitas formas de seres. E formulou a idéia de rara profundidade e grande inspiração: “é impossível colher uma flor sem
ofender uma estrela”. Se os homens entendessem bem este conceito, suas ações, reações e interações seriam muito
diversas.
A idéia de contigüidade de tudo não é nova. Já havia sido externada por Charles Hoy Fort, por volta de 1910, mas,
naquela época, os cientistas eram impertinentes e intolerantes; descartavam, sem mais exame, qualquer idéia conflitante
com os conceitos oficialmente aceitos.
Há pouco, os jornais noticiaram que a Física chegou a uma descoberta que revoluciona tudo quanto sabíamos: o que
pensávamos que fossem partículas atômicas são, na realidade, aglomerados imensos de partículas mantidas admiravelmente
unidas por uma força estranha, que eles chamaram aglútinon. (...)
A verdadeira religião, que está trazendo maior compreensão da divindade e que vem realizando a ‘transmutação”
alquímica do homem e que está tornando concreta a sonhada fusão ou unicidade das ciências, é a Física. O homem começou
a ter revelações novas, desde que se propôs a estudar o desconhecido. Penetrando cada vez mais no desconhecido, ele
começa a reformular, ou redimensionar o infinito. Porém, de joelhos, porque, “na busca incessante, a Religião encontrou a
Fé, a Filosofia encontrou a Dúvida, a Ciência está encontrando Deus.”
Vocabulário:
contigüidade: estado de contíguo, proximidade
transmutação: transformação, mudança
unicidade: qualidade ou estado de único
111. (Eear) Reescrevendo-se o título, mantendo-o coerente com o texto, tem-se a seguinte opção:
a) Razão e Fé: uma aliança
b) Conhecimento: escravo da religião
c) Conhecimento e Fé: um desencontro
d) Religião ou Conhecimento: forças que se excluem
112. (Eear) De acordo com o primeiro parágrafo, assinale a alternativa em que se explica corretamente a metáfora: “A
ciência é uma vela na escuridão.”
a) Todos estão mergulhados na ignorância, menos os cientistas.
b) O elitismo existente entre os estudiosos prejudica a pesquisa cientifica.
c) Os cientistas enxergam muito além do que a maioria das pessoas consegue ver.
d) O conhecimento que os cientistas possuem é quase nada em relação à imensidão do desconhecido.
113. (Eear) O que se infere a respeito do homem por meio da expressão de joelhos, no contexto do último parágrafo?
a) Ele ainda deseja se humilhar perante os mistérios da vida.
b) A Física é a ciência que sempre o estimulará a nunca se render frente ao ignorado.
c) Ele vem desenvolvendo a consciência de que a religião não está separada da ciência.
d) Mesmo em sua incansável busca pelo conhecimento, ele permanece submisso a preceitos religiosos.
MENDIGO
Paulo Mendes Campos
Eu estava diante de uma banca de jornais na Avenida, quando a mão do mendigo se estendeu. Dei-lhe uma nota tão
suja e tão amassada quanto ele. Guardou-a no bolso, agradeceu com um seco obrigado e começou a ler as manchetes dos
vespertinos. Depois me disse:
- Não acredito um pingo em jornalistas. São muito mentirosos. Mas ta certo: mentem para ganhar a vida. O
importante é o homem ganhar a vida, o resto é besteira.
Calou-se e continuou a ler as notícias eleitorais:
- O Brasil ainda não teve um governo que prestasse. Nem rei, nem presidente. Tudo uma cambada só.
Reconheceu algumas qualidades nessa ou naquela figura (aliás, com invulgar pertinência para um mendigo), mas
isso, a seu ver, não queria dizer nada:
- O problema é o fundo da coisa: o caso é que o homem não presta. Ora, se o homem não presta, todos os futuros
presidentes também serão ruínas. A natureza humana é que é de barro ordinário. Meu pai, por exemplo, foi um homem
bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim.
Suspeitando de que eu não estivesse convencido da sua teoria, passou a demonstrar para mim que também ele era
um sujeito ordinário como os outros:
- O senhor não vê? Estou aqui pedindo esmola, quando poderia estar trabalhando. Eu não tenho defeito físico
nenhum e até que não posso me queixar da saúde.
Tirei do bolso uma nota de cinqüenta e lhe ofereci pela sua franqueza.
- Muito obrigado, moço, mas não vá pensar que eu vou tirar o senhor da minha teoria. Vai me desculpar, mas o
senhor também no fundo é igualzinho aos outros. Aliás, quer saber de uma coisa? Houve um homem de fato bom, cem por
cento bom. Chamava-se Jesus Cristo. Mas o senhor viu o que fizeram com ele?
Vocabulário
vespertino: jornal que se publica à tarde ou à noite
invulgar: que não é vulgar, raro
pertinência: adequação
114. (EEAR) Assinale a alternativa correta quanto ao que se afirma sobre o narrador.
a) Ele é apenas um observador dos fatos, que não se envolve nem tece comentários a respeito do que vê.
b) Ele é o personagem principal dos fatos, que não se envolve e todos os comentários giram em torno dele.
c) Ele é o foco da atenção e da observação da narrativa, uma vez que há a presença dos pronomes de 1ª pessoa “eu”, “me” e
“mim”.
d) Ele é um narrador-personagem, que não só testemunha os fatos, mas também os vivencia e faz comentários sobre eles.
115. (EEAR) Qual das alternativas apresenta uma característica que não pode ser associada ao mendigo?
a) sinceridade b) esclarecimento c) ingenuidade d) autenticidade
116. (EEAR) Assinale a alternativa que apresenta a mesma idéia contida no seguinte trecho: “Meu pai, por exemplo, foi um
homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim”.
a) “Não sou nada. b) “O homem, que, nesta terra miserável,
Nunca serei nada. mora, entre feras, sente inevitável
Não posso querer ser nada.” necessidade de também ser fera.”
c) “Um galo sozinho não tece uma manhã; d) “Como dois e dois são quatro
ele precisará sempre de outros galos.’ sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.”
117. (EEAR) “Tirei do bolso uma nota de cinqüenta e lhe ofereci pela sua franqueza.”
Com relação a essa atitude do narrador, pode-se afirmar que o mendigo
a) passa a admirá-lo pelo gesto solidário
b) começa a enxergá-lo como um ser menos nocivo à sociedade
c) não o vê melhor do que antes, apesar da doação
d) se coloca inferior ao narrador ao receber tamanha quantia
Houve uma época em que meu fogão tinha apenas duas bocas. Sem forno. Eu tinha também um microondas. Não
cozinhava, evidentemente, porque não tinha tempo para isso. Vida moderna, mulher moderna, preocupada com a velocidade
e ocupada com coisas mais importantes. Mudei-me, depois, para um apartamento cuja cozinha era grande, ensolarada,
gostosa de estar nela. O nicho na bancada era para um fogão de seis bocas. Instalei um. Tudo pronto, o cenário me convidou
a cozinhar. Aceitei o primeiro convite, o segundo e, quando dei por mim, já me habituara a preparar a comida.
A alquimia da transformação dos alimentos no fogo tem um espírito. E esse espírito começou a ocupar a minha casa,
criando aconchego e a sensação de uma casa com vida própria. Quando se usa um microondas, não se cozinha. A relação
que temos com o alimento é bastante impessoal. Na comida congelada, o sabor já vem decidido e é o mesmo para todos. Os
cheiros ficam embutidos. O tempo é programado. Mas, quando se trata de usar o fogão, nossos sentidos são todos instigados
e nos envolvem no cuidado do alimento, no cuidado do que nos alimenta. Obrigam-nos à proximidade e à intimidade com
tudo com que lidamos. Cozinhamos com os olhos – que comparam e procuram cores, movimentos, texturas -, com os
ouvidos – que acompanham os sons da fervura, da cebola fritando -, com as mãos – descobrem as consistências e as
temperaturas -, com a boca e o nariz – que orientam na dosagem dos temperos e no ponto do aprontamento. Cozinhamos
com a imaginação e com curiosidade. E o tempo não é mais a duração fria e programada controlada pelos timers e relógios
nem o da nossa mera expectativa. É um tempo de espera, em que nos empenhamos ativamente na preparação de um
acontecimento. É um advento.
Redescobri as sensações e uma sensualidade mais primordial. Reencontrei uma outra feminilidade em mim,
diferente, por exemplo, daquela que se desenvolve diante do espelho. A preocupação estética com a aparência (a de
Afrodite), quando a medida é apenas a do espelho, se serve para nos revelar, serve também para nos adequar aos padrões
de moda e beleza que vêm de fora, do que é comum a todos. A sensualidade que vem do cozinhar, no entanto, não tem
tantos modelos externos. A medida parece brotar de nós mesmos, já que nossas sensações são tão exclusivas,
intransmissíveis, incomparáveis. Cozinhar é um ato que nos faz querer superar o padrão comum. É um gesto para o qual
importa o segredo, o toque especial que nos singulariza. Não nos igualamos a ninguém, nem a nós mesmos, pela
impossibilidade de repetir o mesmo exato sabor para a mesma receita.
Quando se cozinha, cuida-se do alimento, do prazer de comer, mas também da saúde, do crescimento, do bem-estar
– tanto do próprio quanto dos outros. Cuida-se dos humores e dos amores. Não é Afrodite quem reina na cozinha, mas
Deméter, a deusa da fertilidade, do cuidado dos outros e do cuidado para com a vida. Deméter é a mulher que a sociedade
atual desvaloriza, porque ela não trabalha fora de casa, não cuida dos negócios, não se volta para o conhecimento nem é
uma sex model.
Deméter é a mulher minimizada, sobretudo porque ela cuida da vida. A vida, que na nossa sociedade mercantilista
não tem valor nenhum. A vida, que vale hoje menos que um par de tênis, menos que qualquer outro objeto barato.
Talvez por isso mesmo o gesto cotidiano de cozinhar equivalha quase a uma revolução: nele vale sobretudo a vida
mesma. No gesto cotidiano de cozinhar acontece o simples milagre da vida.
Dulce Critelli, Folha de S.Paulo
Vocabulário:
nicho: cavidade ou vão
alquimia: transformação de substâncias em ouro
instigado: estimulado
advento: vinda, chegada
118. (EEAR) Cozinhar é um ato que faz simples o milagre da vida, porque:
a) acontece todos os dias b) é um trabalho não-reconhecido
c) realiza-se hoje com menos freqüência d) não tem nenhum segredo, é de fácil execução
120. (EEAR) Coloque V(verdadeiro) ou F(falso) quanto às idéias contidas no 2º parágrafo. Em seguida, assinale a alternativa
com a seqüência correta:
( ) Não se pode dizer que usar o microondas é cozinhar
( ) Preparar os alimentos no fogo é, quase sempre, uma atividade impessoal
( ) O tempo de espera pela comida feita no fogão não é mera expectativa, é um advento.
( ) Ao se cozinhar no fogão, cria-se um espírito de aconchego, e os cinco sentidos, a imaginação e a curiosidade são
estimulados.
a) F, V, V, F b) V, F, V, F c) F, V, F, V d) V, F, V, V
121. (EEAR) No 3º parágrafo, a autora diz que a sensualidade vinda do ato de cozinhar é mais primordial que a condicionada
a padrões de moda e beleza. Essa conclusão deve-se ao fato de a autora
a) perceber a importante necessidade de primeiro alimentar-se bem para depois cuidar da aparência
b) descobrir que a sensualidade do cozinhar singulariza o ser, enquanto a outra o massifica, torna-o comum
c) sentir-se uma nova mulher, a que sabe conciliar os afazeres domésticos com os cuidados com a aparência
d) conseguir sublimar sua vontade de atender aos padrões estéticos, quando passou a preparar tradicionalmente os
alimentos.
GABARITO
61 a, 62 e, 63 d, 64 c, 65 d, 66 e, 67 e, 68 c, 69 a, 70 c, 71 b, 72 a, 73 b, 74 c, 75 d, 76 d, 77 b, 78 a, 79 e, 80 c, 81 b, 82
c, 83 b, 84 b, 85 d, 86 a, 87 d, 88 d, 89 a, 90 c, 91 e, 92 d, 93 a, 94 d, 95 b, 96 d, 97 a, 98 c, 99 d, 100 d, 101 b, 102 c,
103 d, 104 d, 105 a, 106 d, 107 a, 108 c, 109 c, 110 d, 111 a, 112 d, 113 c, 114 d, 115 c, 116 b, 117 c, 118 a, 119 a, 120 d,
121 b