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Documentação Europeia

Direcção-Geral «Educação e Cultura»

O ABC
do Direito Comunitário

Autor: Klaus-Dieter Borchardt


O ABC do Direito Comunitário

Comissão Europeia
A presente publicação, que faz parte da colecção «Documentação Europeia», é editada em todas as lín-
guas da União Europeia: alemão, dinamarquês, espanhol, finlandês, francês, grego, inglês, italiano, neer-
landês, português e sueco.

NA MESMA COLECÇÃO
A Europa de A a Z (1997)
A Europa em 10 lições (1998)
A Comissão Europeia (1999)

Encontram-se disponíveis numerosas outras informações sobre a União Europeia na rede Internet, via ser-
vidor Europa (http://europa.eu.int)

Comissão Europeia
Direcção-Geral «Educação e Cultura»
Unidade «Publicações» — Rue de la Loi 200, B-1049 Bruxelles

Uma ficha bibliográfica figura no fim desta publicação

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2000

ISBN 92-828-7807-4

© Comunidades Europeias, 2000


Reprodução autorizada

Printed in Belgium

IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO


O ABC
do Direito Comunitário
Quinta edição

Manuscrito: Klaus-Dieter Borchardt


Terminado em Setembro de 1999
Capa: Ilustração de Mario Ramos
ÍNDICE
INTRODUÇÃO: DE PARIS A MAASTRICHT
E AMESTERDÃO VIA ROMA 5

OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA 11

• A UE, UM BASTIÃO DE PAZ 11


• A UNIDADE E A IGUALDADE POR FIOS CONDUTORES 11
• AS LIBERDADES FUNDAMENTAIS 12
• O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE 12
• O RESPEITO DA IDENTIDADE NACIONAL 12
• O ANSEIO DE SEGURANÇA 12
• OS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA UE 13

A «CONSTITUIÇÃO» DA UNIÃO EUROPEIA 18

• A ESTRUTURA DA UNIÃO EUROPEIA: O MODELO DOS TRÊS PILARES 18


• A NATUREZA JURÍDICA DA CE E DA UE 22
• AS FUNÇÕES DA UE 26
• OS PODERES DA UE 27
• AS INSTITUIÇÕES DA UE 30
O Conselho Europeu — O Parlamento Europeu — O Conselho da União Europeia —
A Comissão Europeia — O Tribunal de Justiça e o Tribunal de Primeira Instância das
Comunidades Europeias — O Tribunal de Contas — Instituições auxiliares: O Comité
Económico e Social; O Comité das Regiões; O Banco Europeu de Investimento; O
Banco Central Europeu

A ORDEM JURÍDICA COMUNITÁRIA 57

• A UE, UMA CRIAÇÃO DO DIREITO E UMA COMUNIDADE PELO DIREITO 57


• AS FONTES DO DIREITO COMUNITÁRIO 58
Os Tratados originários: direito comunitário primário — Os actos jurídicos comunitá-
rios: direito comunitário derivado — Os acordos internacionais celebrados pela CE —
As fontes não escritas do direito; Os princípios gerais do direito; O direito consuetudi-
nário — Acordos entre os Estados-Membros
• OS INSTRUMENTOS DE ACÇÃO DA CE 63
As leis comunitárias: regulamentos e decisões gerais CECA — As directivas e as reco-
mendações CECA — As decisões individuais, enquanto «actos administrativos» da CE —
Medidas não vinculativas das instituições comunitárias — Recomendações e pareceres
2 — Resoluções, declarações e programas de acção
• O PROCESSO LEGISLATIVO NA CE 72
O procedimento de consulta ou de proposta — O procedimento de cooperação — O
procedimento de co-decisão — O procedimento do parecer favorável — O procedi-
mento simplificado — Procedimentos de adopção de medidas de execução
• O SISTEMA DE PROTECÇÃO JURÍDICA DA CE 84
Acção por incumprimento dos Tratados — Recurso de anulação — Acção por omissão
— Acção de indemnização — Recursos dos funcionários — Procedimento de recurso
— Protecção jurídica provisória — Pedido de decisão prejudicial
• A RESPONSABILIDADE DO ESTADO-MEMBRO POR VIOLAÇÕES DO DIREITO
COMUNITÁRIO 91

O DIREITO COMUNITÁRIO NO CONJUNTO DO SISTEMA JURÍDICO 94

• A AUTONOMIA DA ORDEM JURÍDICA COMUNITÁRIA 94


• A INTERACÇÃO ENTRE O DIREITO COMUNITÁRIO E O DIREITO NACIONAL 95
• CONFLITO ENTRE O DIREITO COMUNITÁRIO E O DIREITO NACIONAL 97
A aplicabilidade directa do direito comunitário — O primado do direito comunitário

CONCLUSÃO 103

JURISPRUDÊNCIA 105

ANEXO: QUADROS DE CORRESPONDÊNCIA 111

3
INTRODUÇÃO: DE PARIS A
MAASTRICHT E AMESTERDÃO VIA ROMA

organizações, sendo então possível distin-


A té pouco depois do fim da Segunda
Guerra Mundial, o funcionamento
dos Estados e a vida política dos nossos
guir três grandes grupos.

países assentavam ainda, quase exclusiva- • Primeiro grupo:


mente, nas constituições e leis nacionais. as organizações euro-atlânticas
Estas fixavam nos países democráticos as
regras de comportamento a respeitar pelos As organizações euro-atlânticas resultam
indivíduos, pelos partidos e também pelo da aliança concluída após a Segunda
Estado e suas instituições. O desabamento Guerra Mundial entre os Estados Unidos
total da Europa e o declínio económico e da América e a Europa. Não é pois um
político do velho continente permitiram mero acaso se a primeira organização
lançar as bases da renovação e a ideia de europeia do pós-guerra, a Organização
uma nova ordem europeia ganhou reno- Europeia de Cooperação Económica
vado ímpeto. (OECE), fundada em 1948, foi criada por
iniciativa dos Estados Unidos. O então
Na sua globalidade, os esforços de unifi- ministro dos Negócios Estrangeiros,
cação europeia dão uma imagem descon- George Marshall, convidou em 1947 os
certante de uma panóplia de organizações países europeus a unir esforços para a
complexas e difíceis de apreender. Assim, reconstrução económica, garantindo-lhes
coexistem, sem grandes ligações entre si, o apoio dos Estados Unidos, apoio esse
organizações como a Organização de que se concretizou com o Plano Marshall,
Cooperação e Desenvolvimento Econó- lançando as bases para a rápida recons-
mico (OCDE), a União da Europa trução da Europa Ocidental. A primeira
Ocidental (UEO), a Organização do missão da OECE consistiu essencialmente
Tratado do Atlântico Norte (NATO), o na liberalização das trocas comerciais
Conselho da Europa e a União Europeia, entre os países. Em 1960, os países
esta última assente na Comunidade membros da OECE, aos quais entretanto se
Europeia do Carvão e do Aço, na tinham juntado os Estados Unidos e o
Comunidade Europeia da Energia Atómica Canadá, decidiram alargar o campo de
e na Comunidade Económica Europeia. O acção da organização à ajuda aos países
número de países que integram estas orga- em vias de desenvolvimento. A OECE
nizações varia entre 10 (UEO) e 40 tornou-se então OCDE.
(Conselho da Europa).
A criação da OECE foi seguida em 1949
Esta diversidade de instituições europeias pela da NATO, sob forma de uma aliança
só adquire uma estrutura quando se atenta militar com os Estados Unidos e o Canadá.
5
aos objectivos concretos das diferentes A União da Europa Ocidental (UEO) foi
instituída em 1954, com o intuito de Atlântica e afirmando a identidade euro-
reforçar a colaboração em matéria de polí- peia nos domínios da defesa e da segu-
tica de segurança entre os países europeus. rança.
A UEO nasce do Tratado de Bruxelas, já
celebrado entre o Reino Unido, a França, • Segundo grupo:
a Bélgica, o Luxemburgo e os Países o Conselho da Europa e a OSCE
Baixos, aos quais se juntaram então a
República Federal da Alemanha e a Itália. As organizações europeias que integram o
Mais tarde, foi a vez de Portugal, da segundo grupo caracterizam-se por uma
Espanha e da Grécia. Esta organização estrutura que possibilita a cooperação de
proporciona uma plataforma de coope- um maior número possível de países,
ração estreita em matéria de política de tendo sido deliberadamente acordado que
defesa e de segurança, reforçando assim o estas organizações não iriam mais além da
peso político da Europa na Aliança cooperação tradicional entre Estados.

6
Deste grupo faz parte o Conselho da OSCE está vinculada aos princípios consa-
Europa, organização política fundada em grados na Acta Final de Helsínquia (1975)
5 de Maio de 1949. Os Estatutos do e na Carta de Paris de 1990, dos quais
Conselho da Europa não fazem qualquer fazem parte, designadamente, a promoção
referência à criação de uma federação ou de medidas de confiança entre os países
de uma união, nem prevêem qualquer europeus e a criação de uma «rede de
transferência ou exercício em comum de segurança» para a resolução pacífica dos
partes da soberania nacional. Todas as conflitos. A história recente mostrou que
decisões sobre questões importantes são era precisamente neste domínio que a
tomadas por unanimidade. Qualquer país Europa tinha ainda um longo caminho a
pode assim opor um veto à adopção de percorrer.
uma decisão, regra esta que vigora
também no Conselho de Segurança das • Terceiro grupo: a União Europeia
Nações Unidas (ONU). O Conselho da
Europa foi pois concebido como um orga- O terceiro grupo de organizações euro-
nismo de cooperação internacional. A ele peias é composto pela União Europeia, ela
se deve a conclusão de inúmeras con- própria assente na Comunidade Europeia
venções em domínios como a economia, a do Carvão e do Aço, na Comunidade
cultura, a política social e o direito. O Europeia da Energia Atómica e na
exemplo mais importante e mais conhe- Comunidade Europeia.
cido é o da Convenção Europeia de
Salvaguarda dos Direitos do Homem e das A UE distingue-se das tradicionais asso-
Liberdades Fundamentais, assinada em 4 ciações entre Estados por um aspecto fun-
de Novembro de 1950, a qual permitiu damental: reúne países que renunciaram a
instaurar nos Estados signatários não uma parte da respectiva soberania em
apenas um nível mínimo importante de favor da CE, tendo conferido a esta última
protecção dos direitos humanos, mas poderes próprios e independentes dos
também um sistema de garantias jurídicas Estados-Membros. O exercício destes
que habilitam os órgãos instituídos pela poderes confere à CE competências para
convenção, a saber, a Comissão Europeia promulgar actos europeus de efeito equi-
dos Direitos do Homem e o Tribunal valente aos actos nacionais.
Europeu dos Direitos do Homem, a conde-
nar, no âmbito das suas disposições, quais- A primeira pedra da construção de uma
quer atentados aos direitos humanos nos Comunidade Europeia foi lançada pelo
países signatários. então ministro dos Negócios Estrangeiros
francês, Robert Schuman, com a sua
Deste grupo, faz parte ainda a Declaração de 9 de Maio de 1950, em que
Organização para a Segurança e a apresentou um projecto elaborado conjun-
Cooperação na Europa (OSCE), instituída tamente com Jean Monnet para a unifi-
em 1994 e saída da Conferência para a cação da indústria europeia do carvão e
Segurança e a Cooperação na Europa. A do aço. Tratou-se de uma iniciativa histó- 7
rica a favor de uma «Europa organizada e de uma ordem constitucional europeia,
viva», que é «indispensável à civilização» precursora de uma Constituição da CE. A
e sem a qual a «paz no mundo não seria União Europeia conhecera já um impor-
salvaguardada». Este projecto tornou-se tante momento da sua história consubstan-
uma realidade com a conclusão do ciado no Tratado de Amesterdão, assinado
Tratado que institui a Comunidade em 2 de Outubro de 1997, em Amesterdão,
Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que e que entrou em vigor em 1 de Maio de
foi assinado a 18 de Abril de 1951, em 1999, uma vez concluídos os processos de
Paris (Tratado de Paris), e entrou em vigor ratificação nos Estados-Membros. Importa
no dia 23 de Julho de 1952. No seu segui- salientar aqui a introdução no Tratado da
mento, foram alguns anos mais tarde insti- UE de uma cláusula de flexibilidade que
tuídas pelos Tratados de Roma, de 25 de permite uma colaboração mais estreita
Março de 1957, a Comunidade Econó- entre os Estados-Membros, sob determina-
mica Europeia (CEE) e a Comunidade das condições, através das instituições,
Europeia da Energia Atómica (CEEA- dos procedimentos e dos mecanismos pre-
-Euratom), que iniciaram as respectivas vistos pelos tratados comunitários. Estava
actividades com a entrada em vigor dos assim aberta a via, não obstante os limites
tratados, em 1 de Janeiro de 1958. impostos por certas exigências, para uma
Europa a várias velocidades. A União
A criação da União Europeia (UE) pelo Europeia, que o Tratado de Amesterdão
Tratado de Maastricht constituiu um novo criou não substitui as Comunidades
marco no processo da união política euro- Europeias, contrariamente ao que afirmam
peia. Este tratado, assinado em 7 de por vezes os meios de comunicação, mas
Fevereiro de 1992, em Maastricht, mas associa-as às novas «políticas e formas de
que teve de vencer inúmeros obstáculos cooperação» (artigo 47.° do Tratado UE).
quando se passou à fase da ratificação Daqui resulta uma estrutura, a União
(foram precisos dois referendos na Europeia, assente em três pilares: as
Dinamarca e na Alemanha foi interposto Comunidades Europeias, a Política Externa
um recurso no Tribunal Constitucional e de Segurança Comum e a cooperação
contra a aprovação parlamentar do judiciária e policial. Estes três pilares serão
Tratado), até à sua entrada em vigor em 1 extensamente apresentados no capítulo
de Novembro de 1993, definiu-se a si dedicado à Constituição da UE.
próprio como «uma nova etapa no pro-
cesso de criação de uma união cada vez São Estados-Membros da UE, em primeiro
mais estreita entre os povos da Europa». lugar, os seis países fundadores da CE, a
Comporta, além de uma série de alte- saber, a Bélgica, Alemanha (com a reunifi-
rações aos Tratados C(E)E e CEEA, o acto cação dos dois Estados alemães, em 3 de
constitutivo da União Europeia, sem no Outubro de 1990, passou a integrar o terri-
entanto nele colocar a última pedra. Trata- tório da ex-RDA), França, Itália,
-se, à semelhança do desenvolvimento da Luxemburgo e Países Baixos. Em 1 de
8 CE, de um primeiro passo na perspectiva Janeiro de 1973, o Reino Unido, a
Dinamarca (com excepção da Gronelândia, excepção da Suíça). Este processo com-
que, em Fevereiro de 1982, se pronunciou porta três etapas:
por escassa maioria contra a adesão da ilha
à CE) e a Irlanda ingressaram na Comuni- • a Conferência Europeia, que reuniu pela
dade. A prevista adesão da Noruega acabou primeira vez em 12 de Março de 1998,
por não se concretizar devido aos resultados em Londres, e constitui um espaço de
do referendo de Outubro de 1972 (53,5% encontro multilateral para os 10 países
de votos contra). Em 1976 e 1977, a Grécia, da Europa Central e Oriental (PECO),
Portugal e Espanha apresentaram as respec- Chipre e, mais recentemente, Malta.
tivas candidaturas. O «alargamento a Sul» Pretende ser um fórum de consulta polí-
de CE realizou-se em 1 de Janeiro de 1986 tica sobre questões relacionadas com
com a adesão de Portugal e da Espanha, a Política Externa e de Segurança Comum
Grécia era já membro desde 1 de Janeiro de (PESC), Justiça e Assuntos Internos e
1981. A este alargamento, seguiu-se, em 1 cooperação regional.
de Janeiro de 1995, a adesão da Áustria, da
Finlândia e da Suécia à União Europeia, • O processo de adesão envolve os dez
entretanto instituída em 1 de Novembro de países PECO, Chipre e Malta, os quais
1993, com a entrada em vigor do Tratado de devem satisfazer idênticos critérios de
Maastricht. A Noruega mais uma vez adesão à UE e participar no processo de
recusou-se a entrar — à semelhança do que adesão em condições iguais. Mercê de
acontecera 22 anos antes, a população pro- uma «estratégia de pré-adesão» especial,
nunciou-se por uma escassa maioria de todos os candidatos devem estar aptos a
52,4% de votos contra a adesão à UE. integrar tanto quanto possível o acervo
Desde 1 de Janeiro de 1995, a UE conta comunitário, antes mesmo da sua
com 15 Estados-Membros. Outros países adesão. A Comissão apresenta regular-
apresentaram os respectivos pedidos de mente ao Conselho relatórios (o primeiro
adesão: Turquia (1987), Chipre (1990), data de finais de 1998) sobre os progres-
Suíça (1992 — a candidatura ainda não foi sos dos PECO no respectivo percurso de
estudada), Hungria (1994), Polónia (1994), adesão, acompanhados, sempre que é
Roménia (1995), Letónia (1995), Eslováquia oportuno, de recomendações para a
(1995), Estónia (1995), Lituânia (1995), abertura das negociações de adesão.
Bulgária (1995), República Checa (1996),
Eslovénia (1996) e Malta (pedido renovado • As negociações de adesão iniciaram-se
em 1998). Na comunicação intitulada em 31 de Março de 1998 com os seis
«Agenda 2000», de Julho de 1997, a países que a Comissão reputou aptos
Comissão deu parecer ao Conselho sobre (Chipre, Estónia, Eslovénia, Hungria,
os vários pedidos de adesão. Reunido no Polónia e República Checa). Estas nego-
Luxemburgo, em Dezembro de 1997, o ciações decorrem sob a forma de con-
Conselho Europeu definiu o enquadra- ferências bilaterais de adesão com cada
mento do processo de alargamento geral país candidato e não se concluem
para todos os países candidatos (à necessariamente ao mesmo tempo. 9
A ordem jurídica subjacente à CE faz já lhes diz respeito. A compreensão da CE
hoje parte integrante da nossa realidade no seu conjunto, e do seu sistema jurí-
política. Todos os anos, os Tratados dico, não é fácil para o cidadão comum.
comunitários estão na origem de milhares A dificuldade está, desde logo, nos textos
de decisões que influenciam decisiva- dos Tratados que são, por vezes, pouco
mente a realidade dos Estados-Membros claros e cujo alcance é difícil de apreen-
e a vida dos seus cidadãos. Desde há der. Para além disto, há a singularidade
muito que os europeus não são apenas de muitos dos conceitos com que os
cidadãos das suas localidades, das suas Tratados procuram dominar situações
regiões ou dos seus Estados, são igual- novas. Procuraremos mostrar em que
mente cidadãos da Comunidade. Por consiste a construção da CE e explicar ao
isso, é importante que estejam informa- cidadão europeu os pilares da ordem jurí-
dos acerca de uma ordem jurídica que dica europeia (1).

(1) O presente trabalho utiliza a nova nume-


ração dos artigos que o Tratado de Ames-
terdão consagra. O quadro comparativo
apresentado em anexo permitirá encontrar
os artigos mais familiares ao leitor cuja
10
numeração foi alterada.
OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
DA UNIÃO EUROPEIA
obrigações que lhe incumbem por força
A construção de uma Europa unida
assenta em princípios fundamentais
que os Estados-Membros reconhecem e
dos Tratados UE e CE.

cuja concretização cabe aos órgãos execu- • A UE, UM BASTIÃO DE PAZ


tivos da CE. Entre estes princípios funda-
mentais destacam-se a realização de uma Nenhum motivo foi mais poderoso para a
paz duradoura, a unidade, a igualdade, a unificação europeia do que a sede de paz.
liberdade, a segurança e a solidariedade. A No século XX, duas guerras mundiais opu-
UE reconhece-se explicitamente no res- seram Estados europeus que hoje fazem
peito da liberdade, da democracia e do parte da UE. Por isso, fazer política euro-
Estado de direito, valores que são comuns peia significa também fazer política de
a todos os Estados-Membros (n.° 1 do paz; com a criação da UE, conseguiu-se o
artigo 6.° do Tratado UE). Estes princípios, elemento essencial para o estabelecimento
aliados à protecção das liberdades e dos de uma ordem pacífica, que torna impossí-
direitos fundamentais, foram reforçados vel qualquer guerra entre países membros.
pelo Tratado UE, que, pela primeira vez, Mais de 40 anos de paz na Europa
prevê medidas em caso de violação dos provam-no bem.
princípios fundamentais da União (artigos
7.° e 8.° do Tratado UE). Em termos con- • A UNIDADE E A IGUALDADE
cretos, isto significa que, se o Conselho da POR FIOS CONDUTORES
UE, reunido a nível de chefes de Estado ou
de Governo, sob proposta de um terço dos A unidade é o fio condutor da UE. Os
Estados-Membros ou da Comissão, e após Estados europeus precisam de avançar
parecer favorável do Parlamento Europeu, para a unidade para poderem responder
verificar a existência de uma violação aos desafios do presente. E muitos são
grave e persistente dos princípios da aqueles que pensam que a paz na Europa
União, pode decidir por maioria qualifi- e no mundo, a democracia e o Estado de
cada suspender alguns dos direitos decor- direito, a prosperidade económica e o
rentes dos Tratados UE e CE ao Estado- bem-estar social não poderiam ser assegu-
-Membro em causa, incluindo o direito de rados sem a integração europeia e a UE. O
voto do representante desse Estado- desemprego, a inflação, o crescimento
-Membro no Conselho. Ao fazê-lo, o insuficiente, a poluição, deixaram de ser
Conselho terá em conta as eventuais con- problemas nacionais com soluções a nível
sequências dessa suspensão nos direitos e nacional. Só no quadro da UE se pode
obrigações das pessoas singulares e colec- estabelecer uma ordem económica
tivas. O Estado-Membro em questão conti- estável, só através de um esforço europeu
11
nuará, de qualquer modo, vinculado às comum se pode realizar uma política eco-
nómica internacional que aumente a com- de trabalho e ao consumidor ter à sua dis-
petitividade da economia europeia e ajude posição uma diversidade enorme de pro-
a fortalecer os fundamentos sociais do dutos. A livre concorrência abre às empre-
Estado de direito. Sem coesão interna, a sas um universo de consumidores muito
Europa não pode afirmar a sua inde- vasto. O trabalhador escolhe ou muda de
pendência política e económica face ao emprego em função das suas qualificações
resto do mundo, nem reencontrar a sua e dos seus interesses em todo o espaço da
influência na cena internacional e ter um UE. O consumidor consegue, devido a
papel interveniente na política mundial. uma concorrência mais forte, escolher os
produtos melhores e mais baratos.
A unidade só existe onde reina a igual-
dade. Nenhum cidadão europeu pode ser • O PRINCÍPIO
objecto de tratamento diferente, isto é, DA SOLIDARIEDADE
«discriminado», devido à sua nacionali-
dade. É necessário combater a discrimi- A solidariedade é o necessário elemento
nação baseada no sexo, raça, origem correctivo da liberdade. A utilização des-
étnica, religião ou ideologia, deficiência, medida desta faz-se sempre em detrimento
idade ou orientação sexual. Todos os de outrem. Por isso, uma ordem comunitá-
cidadãos europeus são iguais perante a lei. ria, para ser duradoura, tem que reconhe-
Em relação aos Estados-Membros, nenhum cer a solidariedade entre os seus membros
deve beneficiar de posições privilegiadas e como princípio fundamental e repartir uni-
o princípio da igualdade exige que as dife- forme e equitativamente as vantagens, isto
renças que a natureza gera, como a super- é, a prosperidade e os custos.
fície, o número de habitantes de um país e
as disparidades estruturais, sejam tratadas • O RESPEITO DA IDENTIDADE
à luz do princípio da igualdade. NACIONAL

• AS LIBERDADES A União respeitará as identidades nacio-


FUNDAMENTAIS nais dos Estados-Membros, assim o estabe-
lece o n.° 3 do artigo 6.° do Tratado UE.
Corolário da paz, da igualdade e da Os Estados-Membros não devem fundir-se
unidade é a liberdade. A criação de um na UE, mas antes trazer para ela a sua
espaço mais vasto composto por 15 identidade nacional. É à diversidade das
Estados implica a liberdade de movimento características e das identidades nacionais
para além das fronteiras nacionais: liber- que a UE vai buscar a força moral que
dade de circulação de trabalhadores, liber- coloca ao serviço de todos.
dade de estabelecimento e de prestação de
serviços, livre circulação de mercadorias e • O ANSEIO DE SEGURANÇA
de capitais. Estas liberdades fundamentais
permitem ao empresário decidir livre- Todos estes valores fundamentais depen-
12 mente, ao trabalhador escolher o seu local dem em última instância da segurança. Na
época em que vivemos, marcada pelo Europa, por mais de dois séculos, ter sido
movimento e pela mudança e repleta de marcada por esforços constantes no sentido
incertezas, a segurança é uma exigência do reforço da protecção dos direitos funda-
elementar que também a UE tem que ter mentais. Desde a Declaração dos Direitos
em conta. Os cidadãos e as empresas do Homem e do Cidadão, no século XVIII,
devem conhecer as implicações das que os direitos e as liberdades fundamen-
medidas comunitárias e a UE deve dar-lhes tais estão consagrados na maior parte das
as necessárias garantias de estabilidade. constituições dos países civilizados. É o
Trata-se, em suma, de garantir o emprego, que acontece nos Estados-Membros da UE,
dando continuidade às medidas decididas cujas ordens jurídicas assentam na salva-
pelas empresas que confiam na estabili- guarda dos direitos, assim como no respeito
dade do enquadramento económico e, por pela dignidade, liberdade e as possibilida-
fim, de proporcionar a todos as pessoas des de realização da pessoa humana.
que vivem na União Europeia a segurança Existem numerosos acordos internacionais
social a que têm direito. sobre esta matéria, entre os quais se
destaca, pela importância excepcional que
• OS DIREITOS FUNDAMENTAIS reveste, a Convenção Europeia de
NA UE Salvaguarda dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais (CEDH).
Quando se fala de valores fundamentais e
de ideais, forçoso é abordar a questão dos Quem, no entanto, procurar nos Tratados
direitos fundamentais dos cidadãos da comunitários disposições que garantam
União, até pelo facto de a história da expressamente as liberdades individuais do 13
cidadão europeu ficará desapontado. Os Tribunal de Justiça das Comunidades
Tratados, ao contrário dos ordenamentos Europeias (TJCE), algo tardia, designada-
jurídicos dos Estados-Membros, não contêm mente no ano de 1969. Com efeito, o TJCE
qualquer enumeração dos direitos funda- começou por rejeitar todas as acções relati-
mentais. O Parlamento Europeu, o Conselho vas a direitos fundamentais, alegando que as
e a Comissão, enquanto instâncias políticas, questões de direito constitucional nacional
consagraram solenemente o seu empenho não eram da sua competência. Esta posição
na observância dos direitos fundamentais na acabou por ter de ser revista por força de um
Declaração Comum de 5 de Abril de 1977. princípio que o próprio TJCE estabelecera, a
As instituições da Comunidade sublinharam saber, o do primado do direito comunitário
nessa declaração a importância dos direitos sobre o direito nacional, já que este primado
fundamentais para a Comunidade e com- só vale se o direito comunitário puder garan-
prometeram-se a respeitar esses direitos no tir uma salvaguarda dos direitos fundamen-
exercício das suas competências e na pros- tais equivalente à das constituições nacio-
secução dos objectivos comuns. Os chefes nais.
de Estado e de Governo dos Estados-
-Membros associaram-se a esta declaração Ponto de partida para esta evolução juris-
de princípios através duma declaração prudencial foi o processo Stauder, no qual
sobre democracia aprovada na Cimeira de um beneficiário de uma pensão de guerra
Copenhaga, em 7 e 8 de Abril de 1978. É considerou um atentado à sua dignidade
certo que estas declarações não conferem pessoal e ao princípio da igualdade o facto
direitos de aplicação directa aos cidadãos de ter de se identificar para poder comprar
comunitários, mas têm um importante signi- manteiga a preços reduzidos. Embora o
ficado jurídico-político enquanto reconheci- Tribunal tenha começado por considerar
mento universal dos direitos fundamentais a que, de acordo com as disposições comuni-
nível da Comunidade. Também o Tratado tárias, não era obrigatória a identificação, e
confirma esta aposta, conferindo-lhe uma que por isso se tornava desnecessário exa-
forma jurídica vinculativa, obrigando-se a minar o modo como o direito fora violado,
UE a respeitar «os direitos fundamentais tal acabou por reconhecer que o respeito pelos
como os garante a Convenção Europeia de direitos fundamentais fazia parte dos princí-
Salvaguarda dos Direitos do Homem e das pios gerais da ordem jurídica comunitária e
Liberdades Fundamentais, assinada em que lhe competia a ele fazê-los respeitar. O
Roma, em 4 de Novembro de 1950, e tal Tribunal reconheceu assim, pela primeira
como resultam das tradições constitucionais vez, a existência de um regime autónomo
comuns aos Estados-Membros, enquanto de direitos fundamentais na CE.
princípios gerais do direito comunitário»
(n.° 2 do artigo 6.° do Tratado UE). O Tribunal começou por fixar salvaguardas
pontuais dos direitos fundamentais com
Contudo, a salvaguarda dos direitos funda- base numa série de disposições do Tratado.
mentais pelo ordenamento jurídico comu- Procedeu desta forma em relação às inúme-
14 nitário foi assegurada por jurisprudência do ras proibições de discriminação, as quais
constituem emanações dos diferentes aspec- Para tal, reconheceu princípios jurídicos
tos do princípio geral da igualdade. Importa gerais e aplicou-os inspirando-se nas tra-
salientar a proibição de todas as formas de dições constitucionais comuns dos
discriminação em razão da nacionalidade Estados-Membros e nas convenções inter-
(artigo 12.° do Tratado CE), o combate à dis- nacionais sobre protecção dos direitos
criminação em razão do sexo, raça, origem humanos de que estes são partes signatá-
étnica, religião ou crença, deficiência, idade rias. Entre estes textos, conta-se a
ou orientação sexual (artigo 13.° do Tratado Convenção Europeia de Salvaguarda dos
CE), a igualdade de tratamento para as mer- Direitos do Homem e das Liberdades
cadorias e para as pessoas no contexto das Fundamentais (CEDH), que determinou o
quatro liberdades fundamentais (livre circu- conteúdo dos direitos fundamentais da
lação de mercadorias — artigo 28.° do Comunidade e os mecanismos de salva-
Tratado CE; livre circulação dos trabalhado- guarda. Foi nesta base que o Tribunal
res — artigo 39.° do Tratado CE; direito de elevou à categoria de direitos comunitá-
estabelecimento — artigo 43.° do Tratado rios fundamentais uma série de liberdades,
CE e livre prestação de serviços — artigo a saber, o direito de propriedade, o livre
50.° do Tratado CE), as regras de concorrên- exercício de uma actividade profissional, a
cia (artigo 81.° do Tratado CE) bem como o inviolabilidade do domicílio, a liberdade
princípio da igualdade de remuneração de opinião, o direito à protecção da perso-
entre homens e mulheres (artigo 141.° do nalidade, a protecção da família (designa-
Tratado CE). As quatro liberdades fundamen- damente o direito ao reagrupamento fami-
tais da CE, que garantem as liberdades liar para os trabalhadores migrantes), a
essenciais da vida profissional, podem liberdade económica, a liberdade de reli-
também ser consideradas como um direito gião ou de crença, assim como uma série
comunitário fundamental à livre circulação de direitos e garantias processuais, como o
e exercício de uma actividade profissional. direito de ser ouvido, o princípio da confi-
Entre os direitos explicitamente consagrados dencialidade da correspondência entre
conta-se ainda a liberdade de associação advogado e cliente que o Common Law
(artigo 137.° do Tratado CE, n.° 1 do artigo consagra sob a designação de «legal privi-
48.° do Tratado CECA), o direito de petição lege», a proibição da dupla sanção ou
(artigo 21.° do Tratado CE, n.° 2 do artigo ainda a necessidade de justificar os actos
48.° do Tratado CECA) e a protecção da jurídicos comunitários.
confidencialidade dos dados e o segredo
profissional (artigo 287.° do Tratado CE, Um princípio de grande significado, que é
artigo 194.° do Tratado Euratom, n.os 2 e 4 frequentemente evocado em litígios de
do artigo 47.° do Tratado CECA). direito comunitário, é o da igualdade de
tratamento. Em termos gerais, esse princípio
O TJCE prosseguiu o desenvolvimento de dispõe que factos equiparáveis não podem
uma ordem jurídica comunitária de salva- ser objecto de tratamento diferenciado, a
guarda dos direitos fundamentais, à qual não ser que seja provada objectivamente a
foi aditando novos direitos fundamentais. existência de uma diferenciação. No 15
entanto, esse princípio não pode impedir, process»), como por exemplo a garantia da
segundo a jurisprudência do Tribunal de confidencialidade, a proibição da retroac-
Justiça das CE, que sejam adoptadas a nível tividade das disposições mais gravosas e a
nacional medidas para os cidadãos e os pro- proibição de anular ou declarar retroacti-
dutos nacionais que sejam mais restritivas vamente nulos actos constitutivos de direi-
do que as aplicáveis a cidadãos de outros tos ou benefícios, bem como o direito de
Estados-Membros ou a produtos de impor- acção judicial, que está consubstanciado
tação, mesmo que tais medidas sejam con- tanto nos procedimentos administrativos
trárias aos usos a nível internacional. Esta da Comissão Europeia como na possibili-
chamada «discriminação invertida» não dade de recorrer ao Tribunal de Justiça.
pode ser contestada a nível do direito comu- Ganha particular relevo neste contexto a
nitário, tendo em conta a própria limitação exigência de transparência acrescida, que
das competências da Comunidade. O prin- implica que as decisões sejam tomadas de
cípio comunitário da liberalização das uma forma tão aberta e próxima do
trocas, que decorre, de facto, de uma liber- cidadão quanto possível. Elemento essen-
dade fundamental, abrange afinal, na actual cial desta transparência é que qualquer
interpretação do Tribunal, apenas questões cidadão europeu ou qualquer pessoa
de alcance transfronteiriço. Em contrapar- colectiva estabelecida num Estado-
tida, as disposições relacionadas com a pro- -Membro tem direito de aceder aos docu-
dução e comercialização de produtos mentos do Conselho da UE e da Comissão
nacionais, bem como o estatuto jurídico dos Europeia.
cidadãos de cada Estado-Membro, só são
abrangidos pelo direito comunitário quando Embora reconhecendo o trabalho realizado
já existe alguma acção de harmonização a pelo Tribunal de Justiça na definição dos
nível comunitário. direitos fundamentais não escritos, forçoso é
constatar que este processo de determi-
Mercê da jurisprudência do Tribunal de nação dos «direitos fundamentais europeus»
Justiça, o direito comunitário tem vindo a apresenta uma grande lacuna: o Tribunal
consagrar um número considerável de prin- tem de se limitar a casos concretos. Nestas
cípios do Estado de direito relacionados circunstâncias, o Tribunal pode não estar em
com os direitos fundamentais. Um dos prin- condições de desenvolver, em todos os
cípios com maior incidência prática é o da domínios necessários e desejáveis, os direi-
proporcionalidade, que obriga ao exame tos fundamentais a partir de princípios gerais
atento dos bens e dos interesses envolvidos, de direito. Também não lhe é possível deter-
o que abrange, por sua vez, os aspectos da minar a extensão e os limites da protecção
adequação e da necessidade da medida em destes direitos procedendo às generali-
causa, bem como o da proibição da inter- zações e diferenciações necessárias. Este
venção excessiva. Há também que incluir sistema não permite às instituições comuni-
nos direitos fundamentais os princípios tárias estarem seguras de não violar um
gerais do direito administrativo e das garan- direito fundamental. Da mesma forma, é
16 tias processuais dos administrados («due impossível para qualquer cidadão da
Comunidade determinar em todos os casos sua natureza ultrapassava os poderes confe-
se houve uma violação dos seus direitos fun- ridos pelo artigo 308.° do Tratado.
damentais.
Em consequência, a única solução possível
Uma solução encarada desde há muito para o problema dos direitos fundamentais
seria a adesão da CE à Convenção Europeia na CE reside na elaboração de uma Carta
dos Direitos do Homem (CEDH). No de direitos fundamentais da UE, depois de
parecer 2/94, o TJCE considerou que, no feitas as devidas alterações nos tratados CE
estado actual do direito comunitário, a CE e UE. Esta Carta poderia inspirar-se na
não tinha competência para aderir à refe- Declaração dos Direitos e Liberdades
rida convenção. A este propósito, o Tribunal Fundamentais do Parlamento Europeu, que
salientou que, embora a salvaguarda dos proporciona um elenco completo de direi-
direitos humanos constituísse um requisito tos fundamentais. Só assim é possível con-
da legalidade dos actos comunitários, a cretizar um reforço efectivo da salvaguarda
adesão à Convenção exigiria uma alteração dos direitos fundamentais na UE.
substancial do regime comunitário de Semelhante iniciativa requer no entanto o
então, na medida em que teria implicado a consenso dos Estados-Membros quanto ao
inserção da Comunidade num sistema insti- conteúdo e aos limites destes direitos.
tucional distinto, que é o da Convenção. O Acontece que se está longe ainda de um tal
Tribunal considerou ainda que uma tal consenso. Os Estados-Membros ainda não
modificação do regime de protecção dos conseguiram ultrapassar a fase de compro-
direitos humanos na Comunidade, pelas misso geral, embora vinculativo, em torno
suas implicações institucionais, revestiria do respeito e da protecção dos direitos fun-
uma envergadura constitucional que pela damentais no âmbito da UE.

17
A «CONSTITUIÇÃO»
DA UNIÃO EUROPEIA

valores fundamentais, as suas estruturas e as


T odas as sociedades têm uma consti-
tuição. É através dela que é definida a
estrutura do seu sistema político. A consti-
suas instituições?

tuição rege as relações dos membros da •A ESTRUTURA


sociedade entre si e face ao todo, fixa os DA UNIÃO EUROPEIA:
objectivos comuns e define o processo a O MODELO DOS TRÊS PILARES
seguir para a adopção das decisões vincula-
tivas. Sendo a CE uma união de Estados para Primeiro pilar:
a qual foram transferidas tarefas e funções as três Comunidades Europeias
bem definidas, a sua constituição tem que
poder responder às mesmas questões que a O primeiro pilar é composto pelas três
constituição de um Estado. comunidades europeias [C(E)E, CEEA e
CECA], reforçadas e alargadas com a União
Ao contrário das constituições da maioria Económica e Monetária. Com a criação da
dos países que a compõem, a constituição UE, a «Comunidade Económica Europeia»
da União não está inserida num documento tornou-se «Comunidade Europeia». O
único, resulta antes de um conjunto de Tratado CEE passou a designar-se Tratado
normas e valores fundamentais aos quais os CE. Esta modificação reflecte a evolução
responsáveis políticos se consideram vincu- qualitativa da CEE, que passou de uma
lados. Estas normas resultam quer dos pró- comunidade puramente económica para
prios textos dos Tratados constitutivos das uma união política. Esta nova designação
Comunidades Europeias e dos actos jurídi- não põe em causa a existência das três
cos aprovados pelas instituições comunitá- comunidades (CECA, CEEA e CE) já que não
rias quer de usos e costumes consagrados. engendra qualquer alteração formal das
mesmas. A criação da UE levou à alteração
Os Estados regem-se por dois princípios fun- da designação de algumas instituições
damentais: o primado do direito («rule of comunitárias. A partir de 8 de Novembro de
law») e a democracia. Toda a acção da 1993, o Conselho das Comunidades
União, para ser consonante com estes prin- Europeias passou a chamar-se Conselho da
cípios, deve ter legitimidade jurídica e União Europeia. A «Comissão das
democrática: criação, organização, com- Comunidades Europeias» passou a ser a
petências, funcionamento, papel dos países Comissão Europeia. Em 17 de Janeiro de
membros e suas instituições, papel do 1994, o «Tribunal de Contas» passou a
cidadão. designar-se Tribunal de Contas Europeu. Os
actos promulgados pelas diversas insti-
Que respostas pode a ordem jurídica comu- tuições permanecem no entanto vinculados
18
nitária dar às questões relativas aos seus à Comunidade correspondente.
União Europeia

Primeiro pilar: Segundo pilar: Terceiro pilar:


Comunidades Europeias Política Externa cooperação em matéria
e de Segurança Comum de Justiça e Assuntos Internos

CE Política externa: • Cooperação judicial


• União aduaneira • Cooperação, em matéria cível e
e mercado interno posições e acções penal
• Política agrícola comuns • Cooperação policial
• Políticas estruturais • Manutenção da paz • Combate ao racismo
• Política comercial • Direitos humanos e à xenofobia
Regulamentação nova • Democracia • Combate à droga
ou alterada: • Ajuda a países e ao tráfico de armas
• Cidadania da União terceiros • Combate ao crime
• Educação e cultura organizado
• Redes transeuropeias Política de segurança: • Combate ao terrorismo
• Defesa do consu- • Com o apoio da • Combate aos crimes
midor UEO: questões rela- contra crianças e ao
• Saúde tivas à segurança da tráfico de seres
• Investigação UE humanos
e ambiente • Desarmamento
• Política social • Aspectos econó-
• Política de asilo micos do arma-
• Fronteiras externas mento
• Política • A longo prazo:
de imigração quadro de segurança
europeu
CEEA
CECA

19
O primeiro pilar consubstancia a forma objectivo de melhorar a troca de infor-
mais avançada da construção comunitária. mações e a concertação entre os Estados-
No âmbito da CE, as instituições podem -Membros sobre questões importantes de
promulgar, nos domínios da respectiva política externa, sintonizar posições e,
competência, legislação directamente sempre que possível, desencadear acções
aplicável nos Estados-Membros e que conjuntas. No entanto, todas as decisões
prima sobre o direito nacional. No cerne deviam ser tomadas por unanimidade e as
da CE está o mercado interno com as suas questões de segurança permaneciam cir-
liberdades fundamentais (livre circulação cunscritas aos aspectos económicos e polí-
de mercadorias e de trabalhadores, liber- ticos. As crises políticas dos últimos anos
dade de estabelecimento, livre prestação (guerra do Golfo, guerra civil na
de serviços e livre circulação de capitais e Jugoslávia, desmoronamento da União
pagamentos) e regras de concorrência pró- Soviética) vieram revelar claramente as
prias. As políticas comunitárias abrangem insuficiências deste instrumento de polí-
domínios tão vastos como os assuntos eco- tica externa, incapaz de conferir à União
nómicos e monetários (no centro dos quais Europeia um papel de relevo, consonante
está o euro, a moeda única europeia), a com o seu estatuto de maior potência
agricultura, a política de vistos, asilo e imi- comercial do mundo, sobre questões
gração, os transportes, a fiscalidade, o essenciais da política mundial. No Tratado
emprego, as trocas comerciais, os assuntos que institui a União Europeia, os chefes de
sociais, a educação, a juventude, a Estado e de Governo dos Estados-
cultura, a defesa do consumidor, a saúde, -Membros decidiram definir progressiva-
as redes transeuropeias, a indústria, a mente os contornos de uma Política
coesão económica e social, a investigação Externa e de Segurança Comum apostada
e a tecnologia, o ambiente e a ajuda ao nos seguintes objectivos:
desenvolvimento.
• a salvaguarda dos valores comuns, dos
O segundo pilar: cooperação interesses fundamentais, da inde-
no domínio da Política Externa pendência e da integridade da União;
e de Segurança Comum
• reforço da segurança da União, sob
Até à entrada em vigor do Tratado UE, a todas as formas;
concertação política entre os Estados-
-Membros da CE inscrevia-se no âmbito da • a manutenção da paz e o reforço da
Cooperação Política Europeia (CPE), segurança internacional, de acordo
lançada em 1970 e posteriormente com os princípios da Carta das Nações
reforçada e alargada com o Acto Único Unidas e de harmonia com os princí-
Europeu de 1986/1987. Tratava-se de um pios e os objectivos da Acta Final de
processo de consultas regulares dos minis- Helsínquia (1975) e da Carta de Paris
tros dos Negócios Estrangeiros e de con- (1990), que, em 1994, levaram à
20 tactos permanentes a este nível, com o criação da Organização para a
Segurança e a Cooperação na Europa tária é a decisão-quadro, embora, à seme-
(OSCE); lhança do que acontece com outros instru-
mentos de acção da UE, não seja directa-
• promoção da cooperação inter- mente aplicável nos Estados-Membros.
nacional; Estas medidas e decisões não podem ser
objecto de interposição de acções no TJCE.
• reforço da democracia e do Estado de
direito, bem como respeito dos direitos O terceiro pilar: cooperação policial
humanos e das liberdades fundamen- e judiciária
tais.
A cooperação policial e judiciária visa,
Uma vez que a União Europeia não é uma mediante acções comuns no domínio da
estrutura estadual «acabada», estes objecti- prevenção e do combate à criminalidade
vos só podem ser atingidos progressiva- (nomeadamente o terrorismo, o tráfico de
mente. A política externa e, sobretudo, a seres humanos, o comércio ilícito de droga
política de segurança contam-se desde e de armas, a corrupção e a fraude), ao
sempre entre os domínios relativamente aos racismo e à xenofobia, facultar a todos os
quais os Estados-Membros não querem cidadãos um espaço de liberdade e de
abrir mão da própria soberania. É difícil justiça (artigos 29.° e 30.° do Tratado UE).
definir interesses comuns nesta área, já que, As primeiras medidas prometedoras neste
na UE, só a França e o Reino Unido domínio foram já tomadas com a directiva
possuem armas nucleares. Um outro pro- sobre combate ao branqueamento de capi-
blema reside no facto de nem todos os tais e a criação de um serviço europeu de
Estados-Membros da União Europeia polícia (Europol), cuja actividade iniciou
fazerem parte da NATO (Áustria, Finlândia, em 1998.
Irlanda e Suécia) e da UEO (Dinamarca,
Grécia e Irlanda). Actualmente, as decisões A cooperação judiciária visa antes de mais
em matéria de Política Externa e de simplificar e acelerar a cooperação no que
Segurança Comum são tomadas essencial- respeita à tramitação dos processos e à
mente no âmbito da cooperação entre execução das decisões, facilitar os proces-
Estados. Foram entretanto criados vários sos de extradição entre os Estados-
instrumentos de acção, devidamente consa- -Membros, instaurar regras mínimas relati-
grados no Tratado de Amesterdão e que vas aos elementos constitutivos das
deram contornos jurídicos claros à coope- infracções penais e às sanções aplicáveis
ração entre Estados. Assim, no âmbito dos nos domínios da criminalidade organi-
segundo e terceiro pilares tomam-se zada, do terrorismo e do tráfico de droga
decisões de princípio, definem-se posições (artigos 31.° e 32.° do Tratado UE).
comuns, lançam-se medidas e acções con-
juntas e adoptam-se decisões-quadro. Entre Neste domínio, como em matéria de
todos estes mecanismos de decisão, o que Política Externa e de Segurança Comum, a
mais se aproxima de uma directiva comuni- cooperação assenta essencialmente numa 21
colaboração entre Estados que não se O TJCE aproveitou a ocasião para fixar
enquadra no âmbito dos processo de certos aspectos fundamentais da natu-
decisão comunitários. reza jurídica da CE. No acórdão profe-
rido a propósito, pode ler-se:
• A NATUREZA JURÍDICA
DA CE E DA UE «O objectivo do Tratado CEE, que consiste
em instituir um mercado comum cujo fun-
Determinar a natureza jurídica significa cionamento diz directamente respeito aos
classificar juridicamente em termos nacionais da Comu-nidade, implica que
gerais uma organização com base nas este Trata-do seja mais do que um acordo
respectivas características. meramente gerador de obrigações recípro-
cas entre os Estados contratantes. Esta con-
1. A natureza jurídica da CE cepção é confirmada pelo preâmbulo do
Tratado, que, além dos Governos, faz refe-
A natureza jurídica da CE assenta em rência aos povos e, mais concretamente,
dois acórdãos fundamentais do Tribunal pela criação de órgãos investidos de
de Justiça das Comunidades Europeias de poderes soberanos cujo exercício afec-ta
1963 e 1964. quer os Estados-Membros quer os seus
nacionais. (...) Daqui deve concluir-se que
• O processo Van Gend & Loos a Comunidade constitui uma nova ordem
jurídica de direito internacional, a favor da
Neste processo, a empresa de transporte qual os Estados limitaram, ainda que em
neerlandesa Van Gend & Loos intentara domínios restritos, os seus direitos sobera-
uma acção num tribunal dos Países nos, e cujos sujeitos são não só os Estados-
Baixos contra a administração aduaneira -Membros, mas também os seus nacionais
neerlandesa, por esta ter cobrado direitos (...).»
aduaneiros majorados à importação de
um produto químico proveniente da • O processo Costa/ENEL
República Federal da Alemanha. A
empresa considerava haver uma violação Um ano mais tarde, o processo Costa/ENEL
do artigo 12.° do Tratado CEE (agora deu ao TJCE a possibilidade de aprofundar a
artigo 25.° do Tratado CE), que proíbe os sua análise. Este caso assentava nos seguin-
direitos aduaneiros de importação e de tes factos: em 1962, a Itália nacionalizara a
exportação entre os Estados-Membros. O produção e a distribuição de electricidade,
tribunal neerlandês suspendeu o proce- tendo transferido o património das empresas
dimento e apresentou um pedido de do sector para a sociedade ENEL. Enquanto
decisão prejudicial ao Tribunal de Justiça accionista da sociedade atingida pela nacio-
das Comunidades Europeias, para que nalização, a Edison Volta, Flaminio Costa
este esclarecesse o alcance e a interpre- viu-se privado de dividendos a que tinha
tação jurídica do artigo invocado do direito e recusou-se a pagar uma factura de
22 Tratado CE. electricidade de 1 926 liras. Perante o
Giudice Conciliatore de Milão, Flaminio de instituições próprias, de capacidade jurí-
Costa justificou a sua conduta fazendo valer, dica, de capacidade de representação inter-
designadamente, o facto de que a lei da nacional e, mais especialmente, de poderes
nacionalização violava uma série de dispo- reais resultantes de uma limitação de com-
sições do Tratado CEE. O tribunal de Milão petências ou de uma transferência de atri-
apresentou então ao TJCE um pedido de buições dos Estados para a Comunidade,
decisão prejudicial relativamente à interpre- estes limitaram, ainda que em domínios res-
tação de algumas disposições do Tratado tritos, os seus direitos soberanos e criaram,
CEE. No seu acórdão, o TJCE estabeleceu, a assim, um corpo de normas aplicável aos
propósito da natureza jurídica da CE: seus nacionais e a si próprios.»

«Diversamente dos tratados internacionais Com base nestas observações, o Tribunal


ordinários, o Tratado CEE institui uma ordem concluiu que:
jurídica própria que é integrada no sistema
jurídico dos Estados-Membros a partir da «Resulta do conjunto destes elementos
entrada em vigor do Tratado e que se impõe que ao direito emergente do Tratado,
aos seus órgãos jurisdicionais nacionais. emanado de uma fonte autónoma, em
Efectivamente, ao instituírem uma virtude da sua natureza originária especí-
Comunidade de duração ilimitada, dotada fica, não pode ser oposto em juízo um 23
texto interno, qualquer que seja, sem que do direito comunitário devem desenvol-
perca a sua natureza comunitária e sem ver a plenitude do seu efeito de uma
que sejam postos em causa os fundamen- forma completa e uniforme em todos os
tos jurídicos da própria Comunidade. A Estados-Membros e que tais disposições
transferência efectuada pelos Estados, da são fonte de direitos e de obrigações
sua ordem jurídica interna em benefício da quer para os Estados-Membros quer para
ordem jurídica comunitária, dos direitos e os respectivos cidadãos;
obrigações correspondentes às disposições
do Tratado implica, pois, uma limitação • o primado do direito comunitário, que
definitiva dos seus direitos soberanos, impede qualquer revogação ou alte-
sobre a qual não pode prevalecer um acto ração da legislação comunitária pelo
unilateral ulterior incompatível com o direito nacional e garante o primado do
conceito de Comunidade. (...).» direito comunitário em caso de conflito
com o direito nacional.
À luz destes dois acórdãos fundamentais
do TJCE, são os seguintes os elementos A CE constitui pois uma entidade autó-
que conjuntamente conferem carac- noma, dotada de direitos soberanos e de
terísticas específicas à natureza jurídica da uma ordem jurídica independente dos
CE: Estados-Membros que se impõe quer aos
Estados-Membros quer aos respectivos
• a estrutura institucional, que garante cidadãos nos domínios da competência da
que o processo de elaboração das CE.
decisões na CE é também influenciado
pelo interesse geral da Europa, isto é, os 2. A natureza jurídica da UE
interesses comunitários que emergem
dos objectivos; Mais do que um objectivo programático do
processo de integração, a UE é hoje uma
• a transferência de competências para organização internacional sui generis, insti-
as instituições comunitárias num grau tuída pelo Tratado de Amesterdão.
mais importante do que para as outras
organizações internacionais e que O carácter específico desta organização inter-
abrange domínios nos quais os Estados- nacional reside na sua concepção enquanto
-Membros geralmente conservam a res- arquitrave jurídica das três Comunidades
pectiva soberania; Europeias, das suas políticas complementares
e das modalidades de cooperação com os
• a criação de uma ordem jurídica Estados-Membros.
própria, independente da dos Estados-
-Membros; No entanto, a ordem jurídica da União está
longe de igualar a da CE. Assim, os princípios
• a aplicabilidade directa do direito da autonomia, da aplicabilidade directa e do
24 comunitário, que garante que as regras primado do direito comunitário, indispensá-
veis à ordem jurídica da CE, não se aplicam cias próprias. Os Estados-Membros renun-
aos outros dois pilares da UE. Estes últimos ciaram a uma parte da respectiva soberania,
revestem mais o carácter de programas e em favor das Comunidades. Acresce que as
declarações de intenções que se concretizam tarefas confiadas à CE distinguem-se clara-
na cooperação intergovernamental e só cons- mente das que incumbem às outras organi-
tituem uma primeira etapa rumo a uma zações internacionais. Ao passo que estas
União «institucionalizada». O facto de a UE últimas assumem essencialmente missões de
utilizar os órgãos da CE para cumprir a sua carácter técnico bem determinadas, o
missão não altera esta situação, uma vez que campo de acção da CE incide, na sua globa-
estas «instituições da União» devem funcio- lidade, em aspectos essenciais dos Estados.
nar em conformidade com o Tratado UE, a
saber, exclusivamente no âmbito da coope- Estas diferenças entre a CE e as organi-
ração entre Estados-Membros no contexto zações internacionais tradicionais aproxi-
dos segundo e terceiro pilares. O Tratado UE mam-na — à semelhança do que acontece
ainda não é uma «Constituição» da UE que com a UE — de uma estrutura estadual. A
rege a globalidade do sistema político desta renúncia por parte dos Estados-Membros a
União. uma parte da respectiva soberania em favor
da CE constitui um dos elementos que per-
3. Distinção em relação a outras formas mitiram concluir que a estrutura da UE se
de organização política identificava com a de um Estado federal.
Todavia, esta concepção não atende ao
As características da CE e da UE deixam facto de as competências das instituições da
claro os seus pontos comuns e as suas dife- UE estarem circunscritas à realização dos
renças em relação às organizações interna- objectivos consagrados pelos tratados e a
cionais tradicionais e às estruturas federais. certos domínios. Estas instituições não
podem fixar livremente os respectivos
A UE não é uma estrutura acabada, mas objectivos nem responder a todos os desa-
antes um sistema em construção cujos con- fios que a um Estado moderno hoje se
tornos finais não estão ainda definidos. colocam. À UE falta a plenitude de com-
petências que caracteriza um Estado e a
O único ponto comum entre as organizações faculdade de instituir novas competências (a
internacionais tradicionais e a UE reside no chamada competência das competências).
facto que a UE também nasceu de um
tratado internacional. Todavia, a integração Em consequência, a UE não é nem uma
da CE na estrutura organizativa da UE organização internacional clássica nem
afastou consideravelmente esta última das uma associação de Estados, mas uma enti-
suas raízes internacionais. Com efeito, os dade que se situa a meio caminho entre
actos fundadores da CE, que assentam estas formas tradicionais de associação
também em tratados internacionais, levaram entre Estados. Em termos jurídicos, consa-
à criação de comunidades autónomas grou-se o conceito de «organização supra-
dotadas de direitos soberanos e competên- nacional». 25
• AS FUNÇÕES DA UE mesmo ano, na Cimeira de Milão, os
chefes de Estado e de Governo atribuíram
As competências da UE aproximam-na à Comissão a missão política de executar o
muito do ordenamento constitucional de programa «Mercado interno 1992».
um Estado. Não se trata, contrariamente à Contudo, para se conseguir, com algumas
maior parte das outras organizações inter- perspectivas de êxito, avançar em sete
nacionais, de uma transferência de tarefas anos para um objectivo que não tinha sido
técnicas, mas de domínios de actividade possível alcançar com menos Estados-
essenciais dos Estados. -Membros em 30 anos, era necessário algo
mais do que uma simples declaração de
No âmbito do Tratado CE, a UE tem por vontade política e a adopção dum pro-
missão reunir os Estados-Membros em grama: o objectivo «Mercado interno
torno de uma comunidade através da 1992» devia tornar-se parte integrante dos
criação de um mercado comum que reúna Tratados de Roma, o que foi conseguido
os «mercados nacionais» dos Estados- finalmente com o Acto Único Europeu,
-Membros, em que os bens podem ser através do qual foi aditada ao Tratado
vendidos e os serviços prestados em con- C(E)E, entre outras, uma disposição
dições idênticas às de um mercado segundo a qual a Comunidade adoptará as
interno, e da aproximação progressiva das medidas destinadas a estabelecer progres-
políticas económicas e sociais. sivamente até 31 de Dezembro de 1992
[artigo 14.°, ex-artigo 7.°-A, do Tratado CE;
Este projecto de criação de um mercado ex-artigo 8.°-A do Tratado C(E)E]. Este pro-
comum foi reavivado através do programa grama foi, no essencial, realizado dentro
de realização do mercado interno até dos prazos previstos. As instituições comu-
1992, que foi lançado, por um lado, por nitárias conseguiram criar o quadro jurí-
continuarem a vigorar uma série de obstá- dico necessário para o bom funciona-
culos nacionais à plena concretização das mento do mercado interno. Entretanto,
chamadas liberdades do mercado comum este quadro foi amplamente preenchido
e, por outro, devido à não inclusão no com as medidas nacionais de transposição
mercado comum de importantes áreas da e o mercado interno tornou-se uma reali-
economia, como as telecomunicações e os dade, visível no quotidiano, designada-
concursos para fornecimentos públicos. A mente quando as pessoas se deslocam
Comissão apresentou em Junho de 1985, dentro da UE: os controlos de identifi-
no livro branco da realização do mercado cação nas fronteiras nacionais foram desde
interno, aos chefes de Estado e de há muito abolidos.
Governo dos (então) 10 Estados-Membros,
um pacote de medidas abrangendo cerca Com o Tratado da União Europeia, a CE
de trezentos actos jurídicos e um calendá- entrou numa nova era económica e social.
rio preciso, com o objectivo de eliminar A introdução do euro (artigo 121.°, n.° 4,
até ao final de 1992 todos os entraves do Tratado CE) enquanto moeda única
26 ainda existentes na Comunidade. Ainda no europeia em 11 dos 15 Estados-Membros
(o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia dade são chamados a definir uma estraté-
prescindiram voluntariamente de partici- gia de emprego, a promover a qualifi-
par, enquanto que a Grécia está a envidar cação, a formação e a flexibilidade da
esforços para responder aos critérios de mão-de-obra, ao mesmo tempo que os
elegibilidade) em 1 de Janeiro de 1999 mercados de trabalho devem responder
constituiu mais um sinal claro da interpe- com rapidez à evolução da economia.
netração das economias dos Estados- Promover o emprego passou a ser uma
-Membros da UE e reforçou o mercado questão de interesse comum, o que obriga
interno. O euro será o único meio de os Estados-Membros a coordenar a respec-
pagamento na UE a partir de 1 de Janeiro tiva acção neste domínio ao nível do
de 2002, substituindo igualmente as Conselho da UE. A CE deve contribuir para
moedas nacionais em todas as transacções que se atinjam níveis elevados de
e tornando-se a moeda de todos os emprego, incentivando a cooperação
cidadãos da União. A criação de uma entre Estados-Membros, apoiando e,
cidadania da União (artigos 17.° e seguin- sempre que necessário, completando a sua
tes do Tratado CE) reforçou os direitos e os acção, no pleno respeito das competên-
interesses dos cidadãos dos Estados- cias dos Estados-Membros nesta matéria.
-Membros no UE. Qualquer cidadão da
União goza do direito de circular livre- O Tratado UE consagra também novas
mente na UE (artigo 18.° do Tratado CE), políticas e formas de cooperação no
participar e ser eleito nas eleições munici- domínio da política externa e de segu-
pais (artigo 19.° do Tratado CE), e benefi- rança e da cooperação judiciária e poli-
cia, no território de países terceiros, de cial.
protecção por parte das autoridades diplo-
máticas e consulares de qualquer Estado- • OS PODERES DA UE
-Membro (artigo 20.° do Tratado CE), goza
do direito de petição ao Parlamento Nem os tratados que instituíram as
Europeu (artigo 21.° do Tratado CE) e, de Comunidades Europeias nem o Tratado
harmonia com o princípio da não discrimi- UE atribuíram às instituições comunitá-
nação, goza do direito de ser tratado em rias um poder geral para adoptarem as
qualquer Estado-Membro em plano de medidas necessárias à realização dos
igualdade com os nacionais desse Estado- seus objectivos, limitando-se a determi-
-Membro (artigo 17.°, n.° 2, conjugado nar a extensão dos poderes de acção que
com o artigo 12.° do Tratado CE). A lhe foram conferidos (princípio da atri-
situação do desemprego na UE, preocu- buição limitada de poderes). Os Estados-
pante desde há vários anos, levou a que -Membros optaram por esta via para
fosse dada prioridade à definição de uma manterem uma visão de conjunto da
estratégia europeia de emprego. Para tal, renúncia aos seus próprios poderes e
foi integrado no Tratado CE um novo título controlar esse processo. A extensão
sobre emprego (título VIII, artigos 125.° a material destes poderes varia consoante
130.°). Os Estados-Membros e a Comuni- as atribuições da UE e da CE. 27
No âmbito da CE, as competências podem quando foram elaborados os tratados, não
ser vastas, como é o caso, por exemplo, no lhe tendo por isso sido atribuído qualquer
domínio da política comum de transpor- poder de acção. Os principais exemplos
tes, em que todas as disposições úteis desta evolução encontram-se nos sectores
podem ser tomadas (artigo 71.°, n.° 1, do do ambiente e da defesa dos consumido-
Tratado CE), na política agrícola (artigo res, nos inúmeros programas de investi-
34.°, n.° 2, do Tratado CE) e em matéria de gação aprovados desde 1973 fora do
livre circulação dos trabalhadores (artigo âmbito da Comunidade Europeia da
40.° do Tratado CE), em que são tomadas Energia Atómica e na criação do Fundo
todas as disposições necessárias. Em con- Europeu de Desenvolvimento Regional
trapartida, a margem de manobra da CE e para reduzir as disparidades regionais na
respectivos órgãos em matéria de con- UE. Em relação a estes domínios, o Acto
corrência (artigos 81.° e seguintes do Único Europeu e o Tratado UE consagra-
Tratado CE), cultura e política de formação ram algumas competências especiais no
(artigos 150.° e 151.° do Tratado CE), Tratado CE. Estas disposições explícitas
saúde e defesa do consumidor (artigos relativas às competências da CE reduziram
152.° e 153.° do Tratado CE) e ambiente consideravelmente a importância prática
(artigo 175.° do Tratado CE) está circuns- dos poderes subsidiários.
crita a disposições de carácter restrito.
As instituições comunitárias têm poderes
Para além destas competências executivas para tomar medidas nos casos em que
específicas, os tratados comunitários estas sejam necessárias ao exercício eficaz
prevêem que sejam adoptadas as dispo- e ponderado dos poderes expressamente
sições adequadas para permitir às insti- atribuídos (poderes implícitos). É princi-
tuições agir, sempre que tal seja necessário palmente no domínio das relações exter-
para atingir um dos objectivos dos tratados nas que estas competências são utilizadas.
(artigos 308.° do Tratado CE, 203.° do A CE pode contrair obrigações face a
Tratado CEEA e 95.°, n.° 1, do Tratado países não membros ou outras organi-
CECA — poderes de acção subsidiários). zações internacionais em domínios corres-
Todavia, as instituições não têm poderes pondentes às suas atribuições. Exemplo
de acção generalizados para agir em típico é o processo Kramer, de que se
domínios que ultrapassam os objectivos ocupou o Tribunal de Justiça das
previstos nos tratados, do mesmo modo Comunidades Europeias quando foi
que não podem alargar as suas próprias chamado a pronunciar-se sobre a com-
competências em detrimento dos Estados- petência da CE para cooperar com organi-
-Membros invocando poderes de acção zações internacionais a fim de fixar as
subsidiários. Na prática, as possibilidades quotas de captura em matéria de pesca
que estas disposições oferecem têm sido marítima e, eventualmente, assumir com-
utilizadas de forma crescente, uma vez promissos internacionais. O Tribunal de
que a CE é hoje chamada a intervir em Justiça fez derivar a competência externa
28 situações que não estavam previstas da CE, indispensável para este efeito, dos
seus poderes sobre os produtos da pesca são absolutamente necessários e que os
no domínio da política agrícola comum. outros meios de acção ao dispor das auto-
ridades não seriam suficientes para a
No entanto, o exercício dessas compe- obtenção do mesmo resultado. Segundo
tências fica submetido ao princípio da este princípio, há que dar preferência
subsidiariedade (extraído da doutrina sobretudo a leis-quadro, a regulamen-
social da Igreja católica), que, ao ser intro- tações mínimas e ao reconhecimento
duzido no Tratado CE (artigo 5.°), passou a mútuo das disposições nacionais e evitar
ter força constitucional. Este princípio disposições legais que sejam exagerada-
deve ser interpretado através das suas duas mente pormenorizadas. Anexo ao Tratado
facetas, uma positiva e outra negativa. A de Amesterdão está um protocolo relativo
positiva, isto é, a que estimula a existência à aplicação do princípio da subsidiarie-
de competências comunitárias, dispõe dade que define todas as exigências pro-
que a CE deve agir quando os objectivos cessuais e materiais decorrentes do princí-
pretendidos «possam ser melhor alcança- pio da subsidiariedade que os actos comu-
dos ao nível comunitário»; a negativa, isto nitários devem satisfazer. Foram portanto
é, a faceta limitativa do princípio da subsi- definidos critérios precisos para a apli-
diariedade, significa que a CE não deve cação deste princípio, o que facilita igual-
actuar quando a acção dos Estados- mente o controlo jurídico pelo qual deve
-Membros é suficiente para alcançar os passar a aplicação do princípio da subsi-
objectivos pretendidos. Na prática, isto diariedade por parte das instituições
significa que todas as instituições comuni- comunitárias.
tárias, mas sobretudo a Comissão, estão
sistematicamente obrigadas a demonstrar No âmbito dos segundo e terceiro
que são, de facto, necessárias uma regula- pilares da UE (Política Externa e de
mentação e uma acção comunitárias. Segurança Comum, cooperação judiciá-
Parafraseando Montesquieu, dir-se-ia que, ria e policial em matéria penal), as com-
quando não é necessária a adopção de petências das instituições comunitárias
uma regulamentação comunitária, é limitam-se à promoção e ao apoio em
necessário, de facto, que não seja adop- sede de cooperação definida pelos
tada qualquer regulamentação comunitá- Estados-Membros no Conselho Europeu.
ria. Se houver efectivamente necessidade Os Estados-Membros não transferiram
de uma regulamentação a nível comunitá- qualquer poder — total ou parcialmente
rio, há que colocar a questão da intensi- — para as instituições comunitárias. Pelo
dade e do tipo da medida comunitária a contrário, assumem directamente a res-
adoptar. A resposta encontra-se no princí- ponsabilidade pela Política Externa e de
pio da proporcionalidade, consagrado na Segurança Comum e a cooperação judi-
ordem jurídica comunitária através da ciária e policial em matéria penal, ao
jurisprudência do Tribunal de Justiça das mesmo tempo que apostaram em
Comunidades Europeias, que determina a reforçar a respectiva cooperação e coor-
obrigação de provar que os actos jurídicos denar as respectivas acções no âmbito da 29
• AS INSTITUIÇÕES DA UE

Conselho Europeu
15 chefes de Governo
e o presidente
da Comissão

Conselho da UE Tribunal de Justiça das CE


15 ministros 15 juízes

Comité das Regiões Parlamento Europeu Comité Económico


222 membros 626 deputados e Social
222 membros

Tribunal de Contas Comissão Europeia


15 membros 20 membros

Banco Central Banco Europeu


Europeu de Investimento

Votos no Percentagem Percentagem da Número de


Conselho do número total população total comissários
de votos

Alemanha 10 11,36 21,96 2


França 10 11,36 15,63 2
Itália 10 11,36 15,39 2
Reino Unido 10 11,36 15,75 2
Espanha 8 9,09 10,53 2
Bélgica 5 5,68 2,72 1
Grécia 5 5,68 2,81 1
Países Baixos 5 5,68 4,16 1
Portugal 5 5,68 2,66 1
Áustria 4 4,54 2,16 1
Suécia 4 4,54 2,37 1
Dinamarca 3 3,41 1,41 1
Irlanda 3 3,41 0,97 1
Finlândia 3 3,41 1,37 1
30 Luxemburgo 2 2,27 0,11 1
UE através das estruturas institucionais 1957, dos Tratados de Roma. A criação de
comunitárias. instituições comuns foi concluída, em
Julho de 1967, com o «Tratado para a insti-
A terceira questão que se levanta acerca da tuição de um Conselho único e de uma
constituição da CE é a da sua organização. Comissão única das Comunidades
Quais são as instituições da CE? Uma vez Europeias» (Tratado de Fusão). Desde
que exerce funções que habitualmente só então, as três Comunidades têm a mesma
os Estados exercem, cabe perguntar se a estrutura institucional.
CE tem um governo, um parlamento, auto-
ridades administrativas e órgãos jurisdicio- O Conselho Europeu
nais, tal como existem nos Estados- (artigo 4.° do Tratado UE)
-Membros. A execução das tarefas atribuí-
das à CE e a coordenação do processo de O Conselho Europeu tem como antecessor
integração não foram deliberadamente as cimeiras de chefes de Estado e de
entregues exclusivamente à iniciativa dos Governo dos Estados-Membros da CE. Na
Estados-Membros ou da cooperação inter- cimeira de Dezembro de 1974, em Paris,
nacional. Pelo contrário, a CE assenta num os chefes de Estado e de Governo decidi-
sistema institucional que lhe permite con- ram passar a reunir-se três vezes por ano
ferir novos impulsos e novas metas para a enquanto Conselho Europeu. O Acto
União Europeia e, ao mesmo tempo, Único Europeu de 1987 consagrou formal-
desenvolver, nas matérias da sua com- mente o Conselho Europeu enquanto insti-
petência, normas jurídicas igualmente vin- tuição da CE (artigo 23.° do Acto Único).
culativas para todos os Estados-Membros. Trata-se de um órgão da União Europeia
(artigo 4.° do Tratado UE).
Os principais protagonistas neste sistema
são, por um lado, o Conselho Europeu e, O Conselho Europeu reúne, pelo menos
por outro, as instituições da CE, a saber, o duas vezes por ano, os chefes de Estado e
Parlamento Europeu, o Conselho da UE, a de Governo dos Estados-Membros e o pre-
Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça sidente da Comissão da CE, que são assis-
das CE e o Tribunal de Contas das CE. Às tidos pelos ministros dos Negócios
instituições previstas pelos tratados vêm Estrangeiros e por um membro da
juntar-se o Banco Central Europeu, o Comissão (artigo 4.°, n.° 2, do Tratado UE).
Banco Europeu de Investimento, o Comité
Económico e Social e o Comité das Ao Conselho Europeu compete definir as
Regiões, enquanto instituições auxiliares. grandes linhas de orientação da política de
Duas destas instituições, o Tribunal de integração europeia, quer na perspectiva
Justiça e o Parlamento (anteriormente da CE quer na da UE. No âmbito da CE, o
designado por Assembleia), foram, desde o Conselho Europeu aprova decisões políti-
início, comuns às três Comunidades. Foi o cas de fundo, formula directrizes e reco-
que ficou acordado entre os seis Estados mendações dirigidas ao Conselho da UE e
originários aquando da assinatura, em à Comissão Europeia. Assim, a União 31
Económica e Monetária, o sistema mone- tentativas infrutíferas. As primeiras eleições
tário europeu, a eleição do Parlamento directas tiveram lugar em Junho desse ano e
Europeu por sufrágio universal directo, a partir de então de cinco em cinco anos,
acções de política social e as questões da no termo de cada legislatura. Todavia, con-
adesão contam-se entre as áreas de acção tinua a não existir um sistema eleitoral
do Conselho Europeu. comunitário, nos termos em que o previam
os tratados fundadores. Nas eleições euro-
O Parlamento Europeu peias de Junho de 1999, à semelhança do
(artigos 189.° a 201.° do Tratado CE) que acontecera em 1979, aplicou-se o
direito nacional. Assim, no Reino Unido,
Nos termos dos tratados que instituem a por exemplo, manteve-se para as eleições
Comunidade, o Parlamento Europeu (PE) europeias o escrutínio maioritário enquanto
representa os povos dos Estados reunidos que nos outros Estados-Membros se aplicou
na Comunidade (artigo 189.°, primeiro o sistema proporcional.
parágrafo, do Tratado CE). O PE nasceu da
fusão da Assembleia Comum da CECA com O quadro da página 34 retrata a compo-
a Assembleia da CEEA, numa Assembleia sição do PE resultante das últimas eleições,
única, consagrada na Convenção de 1957 realizadas em 1999. O presidente, os vice-
relativa a certas instituições comuns às -presidentes e os questores constituem a
Comunidades (primeiro Tratado de Fusão). Mesa do PE, eleita pelo mesmo, por um
A sua denominação actual decorreu da período de dois anos e meio. A Conferência
alteração do Tratado CE pelo Tratado da dos Presidentes, que reúne o presidente do
União Europeia, o qual mais não fez do que Parlamento e os presidentes dos grupos
consagrar um uso corrente desde 1958, políticos, é competente, nomeadamente,
quando a Assembleia decidira optar pela em matéria de organização dos trabalhos
designação de Parlamento Europeu. do Parlamento, assuntos inerentes às
relações interinstitucionais e com os orga-
• Composição e eleição nismos extracomunitários.

O PE compõe-se de 626 «representantes Em termos puramente matemáticos, há um


dos povos dos Estados-Membros da deputado europeu por cada 808 000
Comunidade». O número de deputados cidadãos alemães e um por cada 60 000
não pode ultrapassar 700. luxemburgueses.

Até 1979, o PE era composto por deputados Com o sufrágio universal, o Parlamento
dos parlamentos nacionais, escolhidos Europeu ganhou legitimidade enquanto
pelos respectivos colegas de bancada. A instituição representativa dos povos dos
eleição dos deputados europeus pela popu- Estados-Membros da CE. Porém, a mera
lação dos Estados-Membros por sufrágio existência de um parlamento directa-
universal directo, já prevista nos tratados, só mente eleito não basta para responder à
32 em 1979 se tornou realidade, após várias exigência fundamental de uma Constitui-
ção democrática, nos termos da qual • Competência
todos os poderes do Estado emanam do
povo. É também necessário que haja As competências do Parlamento Europeu
transparência no processo de tomada de são de três tipos:
decisões, representatividade nos órgãos
responsáveis pela adopção de decisões e 1. Competência decisória: foi signi-
participação dos interessados. É precisa- ficativamente reforçada com a introdução
mente nestes domínios que o actual de dois novos procedimentos legislativos,
ordenamento comunitário deixa ainda o processo de cooperação (introduzido em
muito a desejar, apesar dos progressos 1987 pelo Acto Único Europeu, artigo
realizados nos últimos anos. É por isso 252.° do Tratado CE) e o processo de co-
que a Comunidade é considerada, ainda decisão (introduzido em 1993 pelo
actualmente, uma «democracia subde- Tratado UE, artigo 251.° do Tratado CE),
senvolvida». O Parlamento só exerce de que serão mais adiante explicitados na
forma embrionária as funções de um ver- parte dedicada ao processo legislativo,
dadeiro parlamento das democracias permitindo ao Parlamento não apenas
parlamentares. Em primeiro lugar, o PE propor alterações à legislação comunitária
não intervém na constituição do no âmbito de várias leituras e defendê-las,
governo, pela simples razão de que a UE dentro de certos limites, perante o
não tem um governo na acepção habi- Conselho, como também assumir com-
tual do termo; as funções equiparáveis à petência legislativa ao lado do Conselho
governação previstas no Tratado, sendo no âmbito do processo de co-decisão.
assumidas pelo Conselho e pela Comis-
são. Mesmo assim, o Tratado da União O Parlamento desempenha também desde
Europeia concede ao Parlamento a possi- há muito um papel determinante na esfera
bilidade de influir na composição da orçamental. Cabe-lhe, com efeito, a «última
Comissão, uma vez que o PE passa a palavra» no que se refere às despesas não
dispor do chamado direito de investidura obrigatórias da CE, isto é, as despesas não
que se traduz no facto de o presidente da especificamente previstas pelas normas
Comissão só poder ser designado pelos comunitárias: são as despesas administrati-
governos dos Estados-Membros após vas das instituições comunitárias e nomea-
consulta do Parlamento e de, quer o pre- damente as despesas operacionais ligadas
sidente quer os restantes membros da aos fundos estruturais e às políticas de inves-
Comissão se terem de submeter colegial- tigação, energia, transportes e ambiente, as
mente a um voto de aprovação do PE. quais representam cerca de metade do orça-
Não existe uma influência comparável mento comunitário (46,3% em 1999).
do PE relativamente à composição do Acresce que estas despesas têm uma
Conselho, cujos membros só estão sujei- incidência crucial no desenvolvimento da
tos a controlo parlamentar a nível nacio- CE, dado que (co)determinam os avanços e
nal, uma vez que são ministros de cada o reforço das principais políticas comunitá-
um dos Estados-Membros. rias (designadamente em matéria social, 33
PARLAMENTO EUROPEU

Presidente,
14 vice-presidentes e 5 questores

Grupo do Partido Popular Europeu e Democratas Europeus,


PPE-DE

Grupo do Partido dos Socialistas Europeus, PSE


17 comissões preparam
Grupo do Partido Europeu os trabalhos das sessões
dos Liberais, Democratas plenárias
e Reformistas, ELDR

3
Grupo dos Verdes no Parla- 23
mento Europeu/Grupo da 0
18

Aliança Radical Europeia,


V/ARE
50

Grupo Confederal
da Esquerda Unitária
48

Europeia/Esquerda
Nórdica Verde, 626
42

GUE/NGL
30
16

Grupo União
para a Europa, UPE 27

Grupo para a Europa das Demo-


cracias e das Diferenças, EDD

Não-inscritos

Situação em Setembro de 1999.

D F I UK E NL B EL P S A DK FIN IRL L
99 87 87 87 64 31 25 25 25 22 21 16 16 15 6

34
17 comissões preparam os trabalhos das sessões plenárias:

1. AFET: Comissão dos Assuntos Externos, dos Direitos do Homem, da Segurança


Comum e da Política de Defesa

2. BUDG: Comissão dos Orçamentos

3. CONT: Comissão do Controlo Orçamental

4. LIBE: Comissão das Liberdades e dos Direitos dos Cidadãos, da Justiça


e dos Assuntos Internos

5. ECON: Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários

6. JURI: Comissão dos Assuntos Jurídicos e do Mercado Interno

7. INDU: Comissão da Indústria, do Comércio Externo, da Investigação


e da Energia

8. EMPL: Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais

9. ENVI: Comissão do Meio Ambiente, da Saúde Pública e da Política


do Consumidor

10. AGRI: Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural

11. PECH: Comissão das Pescas

12. REGI: Comissão da Política Regional, dos Transportes e do Turismo

13. CULT: Comissão para a Cultura, a Juventude, a Educação, os Meios


de Comunicação Social e os Desportos

14. DEVE: Comissão para o Desenvolvimento e a Cooperação

15. AFCO: Comissão dos Assuntos Constitucionais

16. FEMM: Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade de Oportunidades

17. PETI: Comissão das Petições

35
regional, de investigação, protecção do 2. Competência consultiva: é exercida
ambiente ou transportes), ao mesmo tempo essencialmente no âmbito dos processos
que constituem um pressuposto essencial de consulta obrigatória, isto é, previstos
para o lançamento de novas acções de polí- nos tratados, ou facultativa, por parte do
tica, nomeadamente nos domínios da edu- Conselho e da Comissão. Até à introdução
cação e da defesa do consumidor. O dos processos de cooperação e de co-
Parlamento pode modificar a repartição -decisão, esta consulta permitia ao
destas despesas e, dentro de certos limites, Parlamento participar naquilo que então
aumentar a respectiva dotação. Tem pois constituía o único processo legislativo
uma importante palavra a dizer na definição existente na CE, o da apresentação de pro-
das políticas comunitárias financiadas por postas. Antes que o Conselho tomasse
despesas não obrigatórias. A outra metade qualquer decisão, o Parlamento devia ou
do orçamento comunitário compõe-se de podia pronunciar-se sobre as propostas da
«despesas obrigatórias», isto é, despesas Comissão. Conforme se verá mais adiante,
explicitamente previstas pelas disposições a função consultiva do Parlamento foi pro-
comunitárias (trata-se essencialmente de gressivamente dando lugar à função deci-
despesas ligadas à política agrícola comum). sória, em virtude da gradual diminuição
O Parlamento só pode propor alterações a do número de casos em que se recorria à
estas despesas desde que não ultrapassem a formulação de propostas, pelo menos no
dotação global de cobertura das mesmas, que se refere ao processo legislativo
sendo aceites se o Conselho a tal não se formal.
opuser por maioria qualificada. Por fim, o
Parlamento pode rejeitar globalmente a pro- 3. Competência de controlo: é exercida
posta de orçamento, dando à Comissão qui- exclusivamente em relação à Comissão e
tação pela execução do orçamento do ano consiste na obrigação, para a Comissão,
anterior. de responder ao Parlamento, explicar as
respectivas posições no decurso das
O Parlamento tem o direito de ser consul- sessões plenárias e apresentar anualmente
tado relativamente a todos os acordos inter- relatório geral de actividades das
nacionais relevantes (artigo 300.°, Comunidades Europeias. O Parlamento
n.° 3, e artigo 310.° do Tratado CE) e aos pode apresentar uma moção de censura
acordos de adesão celebrados com futuros que, se for aprovada por maioria de dois
Estados-Membros para fixar as respectivas terços, implica a demissão da Comissão
condições de adesão (artigo 49.° do Tratado (artigo 201.° do Tratado CE). Até à data
UE). O Parlamento deve ainda pronunciar- foram apresentadas no Parlamento cinco
se sobre a nomeação do presidente da moções de censura (a última data de
Comissão, a composição do Colégio dos Janeiro de 1999), das quais três foram
Comissários, qualquer alteração aos estatu- votadas e rejeitadas. Com a entrada em
tos do BCE e ainda sobre qualquer decisão vigor do Tratado UE, o voto de uma moção
em matéria de processo uniforme de eleição de censura ganhou importância, na
36 do Parlamento. medida em que, nos termos do direito de
investidura que o Tratado lhe confere, o Os deputados do PE estão organizados em
Parlamento participa na nomeação da grupos políticos. Uma vez que o
Comissão que depois pode censurar. Parlamento Europeu é uma instituição
Dado que, na prática, o Conselho comunitária, não se trata de grupos parla-
também se prontifica a responder às mentares nacionais, mas antes de uma
questões formuladas pelo PE, este último estrutura político-partidária de dimensão
tem assim a possibilidade de estabelecer comunitária.
um diálogo político directo com as duas
principais instâncias legislativas da CE. O Parlamento dispõe ainda de 17
Esta possibilidade de controlo político do comissões parlamentares perante as quais
Parlamento Europeu foi consideravel- cada comissário responsável, ou respec-
mente reforçada por outros mecanismos tivo representante, apresenta as decisões
que o Tratado da UE consagrou. O da Comissão Europeia, os documentos
Parlamento pode constituir comissões de apresentados ao Conselho e as posições
inquérito para examinar casos de alega- defendidas junto do Conselho. As
das infracções ou má gestão administra- comissões parlamentares dispõem assim
tiva na CE. Assim aconteceu quando se de uma visão de conjunto das actividades
tratou de apurar a responsabilidade da da Comissão. Além disso, uma vez que
Comissão na reacção tardia à doença das estas reuniões não são públicas, o
«vacas loucas» que se declarou no Reino Parlamento tem assim acesso a infor-
Unido e constituiu uma ameaça para a mações por vezes confidenciais e as
saúde pública. Acresce que o Tratado comissões podem controlar com maior efi-
garante às pessoas singulares e colectivas cácia a actividade da Comissão. Cabe-lhes
o direito de apresentarem petições ao ainda preparar os pareceres do Parlamento
Parlamento, sendo as mesmas examina- sobre as propostas da Comissão, as pro-
das pela Comissão das Petições. Por fim, postas de alteração às «posições comuns»
o Parlamento fez valer o seu direito de do Conselho e as resoluções formuladas
designar um Provedor de Justiça Europeu por iniciativa do Parlamento, assim como
(Ombudsmann) encarregado de examinar organizar regularmente audições de
os litígios que podem decorrer das activi- peritos independentes ou de representan-
dades das instituições ou dos órgãos tes de determinadas organizações ou sec-
comunitários, com excepção do TJCE. O tores.
provedor pode ordenar a realização de
inquéritos e dirigir-se à instituição em O PE reúne mensalmente (excepto em
causa. Presta contas da sua actividade ao Agosto) em sessão plenária, durante uma
Parlamento. semana, em Estrasburgo. Podem ainda ser
organizadas sessões suplementares, desig-
• Metodologia de trabalho nadamente sobre questões orçamentais.
Por fim, sempre que imperativos da actua-
O Regimento fixa os princípios funda- lidade o exigem, o PE pode realizar
mentais que regem a actividade do PE. sessões extraordinárias em Bruxelas, para 37
que possa rapidamente tomar posição muitos são os que no Parlamento Europeu
sobre questões importantes (por exemplo, defendem o aumento do número de
assuntos comunitários ou internacionais, sessões plenárias em Bruxelas. Não é
violação dos direitos humanos). Em princí- certo que Estrasburgo venha a ter as 12
pio, as sessões plenárias são públicas. sessões por ano. Por outro lado, a decisão
do Conselho Europeu permite igualmente
• Tomada de decisão a realização de sessões fora de
Estrasburgo, isto é, essencialmente em
Regra geral, o Parlamento decide por
Bruxelas.
maioria absoluta dos votos expressos.
Todavia, atendendo ao papel cada vez
mais importante do Parlamento, o Tratado
O Conselho da União Europeia
impõe exigências cada vez mais rigorosas
(artigos 202.° a 210.° do Tratado CE)
no que se refere à presença dos deputados.
• Composição e presidência
O Tratado prevê agora toda uma série de
decisões que só podem ser tomadas por
No Conselho da UE estão representados
maioria absoluta de todos os deputados do
os governos dos Estados-Membros, regra
Parlamento. Com o aumento do número
geral, mas não necessariamente, por
de deputados (actualmente é de 626), essa
ministros ou secretários de Estado da
maioria consegue-se com 314 votos.
tutela correspondente ao tema em debate.
Acresce que a votação de uma moção de
O representante de cada Estado-Membro
censura à Comissão exige não apenas a
tem poderes para vincular o seu governo.
maioria dos deputados, mas também dois
As diversas possibilidades de represen-
terços dos votos expressos.
tação governamental deixam claro que
não existem membros permanentes do
• Sede
Conselho, cuja composição varia geral-
Ao confirmar Estrasburgo como sede do mente de uma reunião para outra, em
PE, o Conselho Europeu de Edimburgo função do assunto tratado. O Conselho
pôs fim a uma situação provisória com dos Ministros dos Negócios Estrangeiros,
mais de 30 anos. A prática consagrou a que reúne, regra geral uma vez por mês,
realização das sessões plenárias em forma o Conselho «Assunto Gerais» e
Estrasburgo e Bruxelas, as reuniões dos trata das grandes questões de política.
grupos políticos e das comissões parla- Além deste, os outros Conselhos especia-
mentares em Bruxelas nas semanas em lizados reúnem cerca de 80 vezes por ano
que não há sessão plenária e a locali- para tratar de questões das respectivas
zação no Luxemburgo dos serviços do áreas de competência. Assim, consoante
Secretariado-Geral do Parlamento. A o assunto em debate, fala-se de Conselho
decisão do Conselho Europeu de «Ecofin» (ministros da Economia e
Edimburgo confirmou esta prática e Finanças), Conselho «Agricultura»,
exigiu a realização em Estrasburgo de 12 Conselho «Transportes», Conselho
38 sessões plenárias por ano. Não obstante, «Social», Conselho «Ambiente», etc.
C OMPOSIÇÃO DO C ONSELHO DA UE

Um representante de cada Estado-Membro ao nível ministerial,


variando a composição em função do assunto tratado, por exemplo:

«Assuntos Econó-
«Assuntos Gerais» micos e Financeiros» «Transportes» «Agricultura»
(Conselho Ecofin)

Comité dos Representantes Permanentes


Comité Especial
dos governos dos Estados-Membros
da Agricultura
(Coreper I e II)

Grupos de trabalho

Secretariado-Geral (cerca de 2 200 funcionários)

Áreas de competência

Coordenação
Orçamento Relações
Legislação da política Nomeações
e controlo externas
económica

39
O Conselho é presidido rotativamente pelos decisões vinculativas. Os poderes foram con-
Estados-Membros, por períodos de seis sideravelmente reforçados e alargados na
meses, de acordo com uma ordem preesta- sequência da realização da União
belecida, definida por unanimidade e com Económica e Monetária que o Tratado UE
base no princípio da alternância entre encetou. Assim, os seus poderes para impor a
«grandes» e «pequenos» Estados-Membros. execução das grandes orientações de política
As mudanças de presidência ocorrem em 1 económica, por ele fixadas, foram reforçados
de Janeiro e 1 de Julho de cada ano. Em através do procedimento que lhe permite for-
1999, a presidência foi assegurada pela mular «recomendações» a um Estado-
Alemanha, seguida da Finlândia. Em 2000, -Membro cuja política não siga essas orien-
a Presidência Portuguesa será seguida pela tações (artigo 99.°, n.O 4, do Tratado CE). Por
da França. Em razão da frequente rotativi- fim, o Conselho pode dirigir «notificações», e
dade da presidência da UE, foi instituída mesmo infligir sanções (artigo 104.°, n.os 9 e
uma tróica com o intuito de assegurar a 11, do Tratado CE). O Conselho responde
continuidade dos trabalhos, composta pelo ainda pela elaboração do anteprojecto de
país que assegura a presidência, por aquele orçamento da Comissão (artigo 272.°, n.° 3,
que deteve a anterior e pelo que assegurará do Tratado CE, cabendo-lhe também reco-
a próxima. À presidência do Conselho cabe mendar ao Parlamento que dê quitação à
essencialmente orientar os trabalhos dos Comissão quanto à execução do orçamento
conselhos e respectivos comités, além do (artigo 276.°, n.° 1, do Tratado CE). Compete
protagonismo político que assume no con- ainda ao Conselho nomear os membros do
texto internacional, o que permite nomea- Tribunal de Contas, do Comité Económico e
damente aos «pequenos» países «medir-se» Social e do Comité das Regiões. O Conselho
com os «grandes» no plano político e é a autoridade administrativa suprema de
afirmar-se no contexto da política europeia. todos os funcionários e agentes da CE.
Decide quanto à celebração de acordos entre
O Conselho da UE tem sede em Bruxelas. a Comunidade e os países terceiros ou as
organizações internacionais (artigos 300.° e
• Funções 310.° do Tratado CE).

No âmbito da CE e da CEEA, o Conselho é • Métodos de trabalho


um órgão legislativo (artigo 202.° do Tratado
CE). Em contrapartida, para a CECA, o Os métodos de trabalho do Conselho estão
Conselho é um mero órgão de aprovação, consagrados no seu regulamento interno. Na
que só deve ser consultado para um número prática, as actividades do Conselho desen-
reduzido de decisões particularmente impor- volvem-se em três etapas:
tantes. Ao Conselho compete ainda assegurar
a coordenação das políticas económicas 1. Preparação das reuniões do Conselho
gerais dos Estados-Membros (artigo 202.° do
Tratado CE). A acção neste domínio reveste a Esta tarefa é da responsabilidade de dois
40 forma de resoluções não vinculativas ou de órgãos permanente que fazem parte da estru-
tura organizativa do Conselho, a saber, o e fundamentadas através de relatórios de
Comité dos Representantes Permanentes dos fundo. Estas duas formas de abordar a pre-
governos dos Estados-Membros e o paração dos trabalhos reflecte-se na ordem
Secretariado-Geral. de trabalhos das reuniões do Conselho: as
questões relativamente às quais se conse-
O Comité dos Representantes Perma- guiu acordo constarão do «ponto A» da
nentes dos governos dos Estados- ordem de trabalhos, enquanto que as
-Membros, também designado por questões ainda em aberto serão remetidas
Coreper, tem por missão preparar os tra- para um «ponto B» (ver mais adiante).
balhos do Conselho e executar as tarefas
que lhe são confiadas por este. Para levar a O Secretariado-Geral dá apoio ao
bom termo a sua missão, foi dividido em Conselho (da mesma forma que o fazem o
duas estruturas, o Coreper I (composto Coreper e o CSA) para questões adminis-
pelos representantes permanentes adjun- trativas. Responde, entre outras coisas,
tos, é essencialmente responsável pela pela preparação técnica das reuniões,
preparação das questões mais técnicas tra- organiza os serviços de interpretação (os
tadas pelos conselhos especializados) e o representantes dos Estados-Membros
Coreper II (representantes permanentes, exprimem-se na sua língua), assegura, se
trata essencialmente as questões políticas). necessário, a tradução dos documentos,
As questões de política agrícola não se presta assistência jurídica ao Conselho e
enquadram nesta repartição de tarefas, aos comités e gere o orçamento do
uma vez que são tratadas, desde 1960, Conselho.
pelo «Comité Especial da Agricultura»
(CSA), que assume as funções do Coreper 2. Sessões do Conselho
neste domínio.
As reuniões do Conselho são convocadas
A preparação das reuniões do Conselho pelo respectivo presidente (o representante
decorre ao nível do Coreper e do CSA de do Estado-Membro que assegura a pre-
duas formas: procura-se encontrar um sidência) por iniciativa própria ou a
terreno de entendimento ao nível do pedido de um dos seus membros ou da
comité sobre as questões agendadas. Para Comissão. O presidente do Conselho em
tal, os comités podem recorrer aos cerca exercício estabelece a ordem de trabalhos
de 100 grupos de trabalho especializados provisória de cada sessão, a qual comporta
que gozam de estatuto permanente no uma parte A e uma parte B. São agendados
Conselho. Podem ainda recorrer a «grupos na parte A os pontos relativamente aos
ad hoc» chamados a tratar um assunto quais foi conseguido acordo ao nível do
específico dentro de um prazo determi- Coreper ou do CSA, o que permite que o
nado. Por outro lado, preparam as sessões Conselho os aprove sem debate. A parte B
do Conselho, por forma a que as questões comporta as questões que devem ser dis-
que serão analisadas e resolvidas pelos cutidas pelos membros do Conselho. Um
membros sejam devidamente esclarecidas ponto A pode transformar-se em ponto B 41
no decurso da sessão caso um membro do regra da maioria. Salvo disposições em
Conselho ou a Comissão solicite o respec- contrário, a «maioria simples» é suficiente,
tivo debate aquando da sua adopção. Se cada país dispõe de um voto. Os tratados
assim acontecer, o ponto é suprimido da prevêem todavia o voto por «maioria qua-
ordem de trabalhos, passando a constar da lificada», estabelecendo uma ponderação
parte B da agenda de uma ulterior sessão. dos votos que permite aos países
«grandes» exercer maior influência.
O Conselho delibera com base em docu-
mentos e projectos redigidos nas 11 línguas A importância do voto por maioria não
oficiais. Em caso de urgência, são possíveis reside tanto no facto de que o mesmo
derrogações a esta regra, desde que decidi- permite impedir os «pequenos» países de
das por unanimidade. O mesmo se aplica bloquearem decisões importantes, já que
às propostas de alteração apresentadas e estes países poderiam estar mais sujeitos a
discutidas no decurso de uma sessão. pressões políticas, mas antes na possibili-
dade que encerra de se poder obter o
Com excepção das sessões em que a pre- acordo dos países «grandes», mais aptos a
sidência apresenta o respectivo programa resistirem a pressões de carácter político.
de trabalho semestral e a Comissão o seu O «compromisso de Ioannina» permitiu
programa anual, as sessões do Conselho apesar de tudo introduzir uma medida de
não são públicas. segurança em favor dos «grandes» para os
casos de escassas maiorias conseguidas
É no âmbito das deliberações do Conselho com cada vez mais «pequenos» países. O
que se constrói o equilíbrio entre os inte- compromisso em questão prevê que, se os
resses dos Estados-Membros e os da membros do Conselho que dispõem entre
Comunidade. Embora sejam os interesses 23 e 25 votos manifestarem a respectiva
nacionais que geralmente prevalecem ao intenção de se oporem à tomada de uma
nível do Conselho, os seus membros decisão pelo Conselho por maioria qualifi-
devem todavia ter presentes os objectivos cada, o Conselho deverá envidar os
e as necessidades de toda a CE. O esforços necessários para chegar, dentro
Conselho é uma instituição comunitária, de prazos razoáveis, a uma solução satisfa-
não é uma conferência governamental, tória que possa ser adoptada por um
razão pela qual as suas deliberações visam mínimo de 65 votos. Por outro lado, o
conseguir não o mais pequeno, mas o «compromisso do Luxemburgo» perma-
maior denominador comum entre os inte- nece um importante elemento político,
resses da Comunidade e os dos Estados- pelo menos no que diz respeito ao voto.
-Membros. Este compromisso, que confere a um
Estado-Membro o «direito de veto» em
3. Processo decisório relação a uma medida comunitária atenta-
tória de um interesse nacional relevante,
Por força dos Tratados fundadores, os pôs fim em 1965 a uma crise na qual a
42 votos no Conselho seguem o princípio da França receava que os seus interesses
CONSELHO DA UE: PONDERAÇÃO DOS VOTOS

10 Alemanha 5 Bélgica
10 França 4 Áustria
10 Itália 4 Suécia
10 Reino Unido 3 Dinamarca
8 Espanha 3 Finlândia
5 Portugal 3 Irlanda
5 Grécia 2 Luxemburgo
5 Países Baixos

Maioria qualificada: 62/87

vitais fossem postos em causa no âmbito Sempre que se tratar de decisões relativas a
do financiamento da política agrícola questões políticas particularmente sensíveis,
comum, tendo bloqueado o processo deci- os tratados prevêem o voto por unanimidade,
sório no Conselho através de uma «polí- o que significa que todos os membros do
tica da cadeira vazia», que levou por Conselho devem estar presentes ou represen-
diante durante mais de seis meses. tados. Todavia, as abstenções não podem
obstar à tomada de uma decisão. A regra da
unanimidade aplica-se a todas as questões
relacionadas com fiscalidade, livre circu-
lação de trabalhadores e regulamentos em
matéria de direitos e deveres dos trabalhado-
res.

43
A Comissão Europeia ravelmente a posição do presidente no
(artigos 211.°-219.° do Tratado CE) Colégio dos Comissários. Assim, já não é
«primus inter pares», ocupando agora uma
• Composição posição privilegiada, na medida em que a
(artigos 213.° e 214.° do Tratado CE) Comissão «actua sob a orientação política
do seu presidente» (artigo 219.°, primeiro
Desde a adesão da Áustria, da Finlândia e parágrafo, do Tratado CE). O presidente
da Suécia, em 1 de Janeiro de 1995, a tem «poderes de orientação» relativa-
Comissão conta com 20 membros mente às questões administrativas, parti-
(Alemanha, França, Reino Unido, Itália e cipa na escolha dos outros comissários e é
Espanha estão representados por dois membro do Conselho Europeu.
comissários cada, os restantes Estados-
-Membros, um). O número de comissários Os membros da Comissão são nomeados
pode ser modificado pelo Conselho, deli- «de comum acordo» pelos governos dos
berando por unanimidade. Estados-Membros por um período de
cinco anos. Aplica-se então o procedi-
A Comissão é dirigida por um presidente, mento de investidura previsto pelo Tratado
assistido por dois vice-presidentes. O UE. Os governos dos Estados-Membros
Tratado de Amesterdão reforçou conside- devem designar a personalidade que ten-

C OMPOSIÇÃO DA C OMISSÃO E UROPEIA


20 membros
dos quais
1 presidente
2 vice-presidentes

1 Bélgica 2 Itália
1 Dinamarca 1 Luxemburgo
2 Alemanha 1 Países Baixos
1 Grécia 1 Áustria
2 Espanha 1 Portugal
2 França 1 Finlândia
1 Irlanda 1 Suécia
2 Reino Unido
Competências
Poder de iniciativa em Controlo do respeito e Gestão e aplicação Representação da CE
matéria de legislação da correcta aplicação das disposições junto das organizações
comunitária do direito comunitário comunitárias internacionais

44
cionam nomear presidente da Comissão, Comissão. Os Tratados CE e CEEA apenas
devendo essa designação ser aprovada reconhecem à Comissão poderes legislati-
pelo Parlamento Europeu (artigo 214.°, vos primários em certos domínios (orça-
n.° 2, do Tratado CE). Os restantes mento, fundos estruturais, combate à dis-
membros da Comissão são então designa- criminação fiscal, auxílios, cláusulas de
dos pelos governos dos Estados-Membros, salvaguarda). Bem mais vastas são as com-
após consulta do presidente indigitado. O petências de execução conferidas à
presidente e os membros da Comissão são Comissão pelo Conselho relativamente às
colegialmente sujeitos a um voto de apro- medidas que toma (artigo 202.°, terceiro
vação do Parlamento Europeu, após o que travessão, do Tratado CE).
são nomeados pelos governos dos
Estados-Membros. O seu mandato é reno- A Comissão é também guardiã dos
vável. Tratados. Vela pelo respeito e pela apli-
cação por parte dos Estados-Membros do
Os membros da Comissão são escolhidos direito comunitário primário e derivado.
«em função da sua competência» e Em caso de incumprimento das obrigações
exercem as suas funções «com total inde- que aos Estados-Membros incumbem por
pendência» (artigo 213.°, n.° 2, do Tratado força dos Tratados, a Comissão instaura
CE). Não podem solicitar nem aceitar ins- um procedimento por infracção e pode
truções de nenhum governo. recor-rer ao Tribunal de Justiça (artigo
226.° do Tratado CE). A Comissão inter-
A Comissão tem sede em Bruxelas. vém ainda em casos de infracções à legis-
lação comunitária perpetradas por pessoas
• Funções singulares ou colectivas, podendo infligir
pesadas sanções. Nos últimos anos, a luta
A Comissão é o principal «motor da polí- contra o incumprimento das disposições
tica comunitária». Está na origem de toda comunitárias ocupou parte importante da
a acção da Comunidade, já que lhe actividade da Comissão.
compete apresentar ao Conselho propos-
tas legislativas (o chamado «direito de ini- Estreitamente ligada com a função de
ciativa» da Comissão). A acção da guardiã dos Tratados está a de represen-
Comissão desenvolve-se de acordo com tante dos interesses comunitários. A
regras bem definidas, de acordo com os Comissão não pode defender outros inte-
interesses da Comunidade e sempre que o resses para além dos da Comunidade.
Conselho (artigo 208.° do Tratado CE) e o Deve envidar todos os esforços nas nego-
PE (artigo 197.°, segundo parágrafo, do ciações no Conselho, que são frequente-
Tratado CE) o solicitam. O Tratado CECA mente difíceis, para fazer prevalecer o
investe a Comissão de poderes legislativos. interesse comunitário e chegar a compro-
No entanto, o Conselho goza na matéria missos que tenham esse interesse em
de um direito de aprovação que lhe conta. É, pois, um papel de mediação
permite anular actos adoptados pela entre os Estados-Membros, para o qual a 45
sua neutralidade é especialmente apro- «distante», a da ordem europeia, colo-
priada. cando-a sob a autoridade e no quadro
familiar da ordem nacional.
A Comissão é, por último — embora num
âmbito limitado — um órgão executivo, A Comissão representa a Comunidade
designadamente no domínio do direito da junto das organizações internacionais e
concorrência em que exerce as funções de assegura a gestão corrente das actividades
uma autoridade administrativa clássica: num contexto de delegação activa e
analisa factos, concede autorizações, passiva de competências. Com os poderes
formula proibições e, se for o caso, inflige que o Conselho lhe confere, a Comissão
sanções. As competências administrativas conduz a negociação de acordos entre a
da Comissão são também muito vastas no Comunidade e as organizações interna-
contexto dos fundos estruturais da CE e da cionais ou os países terceiros, incluindo os
execução orçamental. Geralmente, é acordos de adesão com os novos Estados-
todavia aos Estados-Membros que -Membros. A Comissão representa a
compete velar pela correcta execução das Comunidade junto dos órgãos juris-
disposições comunitárias. Esta solução, dicionais nacionais e — por vezes em con-
devidamente consagrada nos tratados, tem junto com o Conselho da UE — junto do
a vantagem de aproximar os cidadãos de Tribunal de Justiça das Comunidades
uma realidade para eles ainda um pouco Europeias.

46
E STRUTURA ADMINISTRATIVA
DA C OMISSÃO E UROPEIA

Comissão (20 membros)


Gabinetes

Secretariado-Geral
Serviço Jurídico
Serviço de Informação e Comunicação

DG Assuntos Económicos DG Justiça e Assuntos Internos


e Financeiros
DG Relações Externas
DG Empresa
DG Comércio
DG Concorrência
DG Desenvolvimento
DG Emprego e Assuntos Sociais
Serviço para o Alargamento
DG Agricultura
Serviço Comum de Relações Externas
DG Transportes
Serviço da Ajuda Humanitária
DG Ambiente
Eurostat
DG Investigação
DG Pessoal e Administração
Centro Comum de Investigação
Inspecção-Geral
DG Sociedade da Informação
DG Orçamento
DG Pesca
DG Mercado Interno DG Controlo Financeiro

DG Política Regional Organismo de Luta Antifraude

DG Energia Serviço Comum de Interpretação-


-Conferências
DG Fiscalidade e União Aduaneira
Serviço de Tradução
DG Educação e Cultura
Serviço das Publicações
DG Saúde e Protecção dos Consumi-
dores

47
O Tribunal de Justiça normas comunitárias estivessem sob con-
e o Tribunal de Primeira Instância trolo dos tribunais nacionais, elas seriam
das Comunidades Europeias interpretadas e aplicadas diferentemente
(artigos 220.° a 245.° do Tratado CE) em cada Estado. A aplicação uniforme do
direito comunitário seria assim posta em
Nenhum ordenamento pode subsistir se as causa. Foram estes os motivos que,
suas normas não forem controladas por quando foi instituída a CECA, levaram à
uma autoridade independente. Além criação do Tribunal de Justiça das
disso, numa comunidade de Estados, se as Comunidades Europeias (TJCE).

C OMPOSIÇÃO DO T RIBUNAL DE J USTIÇA DAS C OMUNIDADES E UROPEIAS

15 juízes
e
8 (9) advogados-gerais,
nomeados por seis anos pelos governos dos Estados-Membros

Tipos de processos

Acção por incumprimento: Recurso de anulação ou acção Reenvio prejudicial


por omissão:
Comissão contra um Estado- uma instituição comunitária ou a pedido de um órgão
-Membro (artigo 226.°) ou um um Estado-Membro contra jurisdicional nacional sobre a
Estado-Membro contra outro actos jurídicos ilegais ou interpretação a e validade do
Estado-Membro (artigo 227.°) omissão (artigos 230.° e 232.°) direito comunitário
(artigo 234.°)

48
O TJCE compõe-se de 15 juízes e 8 (9) decisão — não vinculativa — baseada
advogados-gerais, nomeados «de comum num parecer totalmente independente e
acordo» pelos governos dos Estados- imparcial sobre as questões de direito sus-
-Membros por um período de seis anos. citadas no processo em apreço. Estas con-
Cada Estado-Membro designa um juiz. A clusões são apresentadas na fase oral
fim de assegurar a continuidade da juris- (artigo 59.°, parágrafos 1 e 2 do Regula-
prudência, procede-se de três em três anos mento Processual), sendo publicadas
a uma renovação parcial dos juízes, no conjuntamente com o acórdão na
início do ano judicial, em 6 de Outubro. Colectânea da Jurisprudência. Os advoga-
Os mandatos são renováveis. dos-gerais só podem influenciar o acórdão
através das suas conclusões, já que não
O Tribunal é assistido por oito advogados- participam nas deliberações nem nas
-gerais cuja nomeação decorre de forma votações dos acórdãos.
idêntica à dos juízes e que gozam de idên-
tica independência. Dos oito advogados-
-gerais, quatro vêm sempre dos «grandes» • Escolha dos juízes
Estados-Membros (Alemanha, França, e dos advogados-gerais
Itália e Reino Unido), os restantes quatro
dos outros 11 numa base de alternância. O Os juízes e os advogados-gerais são esco-
lugar do nono advogado-geral foi criado lhidos entre personalidades que ofereçam
exclusivamente para o período de 1 de todas as garantias de independência e
Janeiro de 1995 a 6 de Outubro de 2000. reúnam as condições exigidas, nos respec-
Esta situação ficou a dever-se ao facto de a tivos países, para o exercício das mais altas
adesão da Áustria, da Suécia e da funções jurisdicionais ou que sejam juris-
Finlândia ter gerado um número ímpar de consultos de reconhecida competência
juízes (15), pelo que o lugar suplementar (artigo 223.°, segundo parágrafo, do
até então necessário com 12 Estados- Tratado CE). São geralmente juízes, funcio-
-Membros já não podia ser mantido. nários superiores, políticos, advogados ou
Assim, o segundo juiz italiano, que professores universitários nos Estados-
acabara de ser nomeado em Outubro de -Membros. A diversidade dos horizontes
1994, foi investido das funções de advo- profissionais de onde provêm e a riqueza
gado-geral por um período de seis anos. A da sua experiência constituem importantes
função de advogado-geral é semelhante à trunfos para o Tribunal Europeu, na medida
do comissário do Governo junto do em que permitem tratar as diferentes
Conselho de Estado e dos tribunais admi- questões de facto e de direito sob as mais
nistrativos franceses e foi introduzida para diversas perspectivas teóricas e práticas.
contrabalançar o carácter inicialmente Em todos os Estados-Membros, a escolha
único da jurisdição, isto é, a ausência de de cada juiz ou advogado-geral e o proce-
uma instância de recurso. Compete aos dimento de designação são assuntos da
advogados-gerais apresentar ao TJCE, nas competência do executivo. Os procedi-
chamadas conclusões, uma proposta de mentos em causa variam consoante o país 49
50
e revelam pouca, quando não nenhuma, • Funções
transparência.
O Tribunal de Justiça é a jurisdição
• Repartição das competências suprema e única para todas as questões
decorrentes do direito comunitário.
Sempre que uma causa é submetida ao Compete-lhe garantir «o respeito do
Tribunal, o presidente designa um juiz- direito na interpretação e aplicação do (...)
-relator, encarregado de assegurar até ao Tratado» (artigo 220.° do Tratado CE).
final do processo a preparação das
decisões e propor soluções. É nesta fase Esta apresentação geral comporta três
que se propõe a composição do Tribunal domínios fundamentais:
mais adequada ao exame da questão em
causa, a saber, sessão plenária de 15 ou 1. controlo do respeito do direito comuni-
de 11 juízes, duas secções de sete juízes, tário, quer pelas instituições comunitá-
dos quais apenas cinco participam na rias, no âmbito da aplicação das dispo-
decisão, e quatro secções de três ou sições dos tratados, quer pelos Estados-
quatro juízes, dos quais apenas três deli- -Membros e as pessoas singulares em
beram. termos de obrigações decorrentes do
direito comunitário;
Com excepção dos recursos apresentados
pelos Estados-Membros ou pelas insti- 2. interpretação da legislação comu-
tuições comunitárias que são obrigatoria- nitária;
mente examinados em sessão plenária, o
Tribunal determina, uma vez encerrada a 3. desenvolvimento da legislação comuni-
fase escrita do processo, com base no tária.
relatório do juiz-relator e depois de
ouvido o advogado-geral, se são necessá- O TJCE desempenha estas funções através
rias diligências de instrução e qual a de actividades de consulta jurídica e de
secção que deverá julgar o caso. A jurisprudência. A consulta jurídica assume
decisão é tomada de acordo com critérios os contornos de pareceres vinculativos
estabelecidos internamente, entre os quais sobre acordos que a União pretende cele-
se destacam o grau de complexidade jurí- brar com países terceiros ou organizações
dica, a existência de jurisprudência na internacionais. O seu papel de instância
matéria ou ainda as consequências políti- jurisprudencial é, porém, muito mais signi-
cas e financeiras de um processo. ficativo. Neste contexto, o TJCE têm com-
Qualquer causa pode a todo o momento petências que no sistema jurídico dos
ser reenviada a plenário, mesmo durante Estados-Membros estão repartidas por
ou após as deliberações. Sempre que tal várias jurisdições. Assim, age enquanto
acontecer, a fase oral deve ser reaberta jurisdição constitucional nos litígios entre
antes da sessão plenária. as instituições comunitárias e no controlo
51
da legalidade da legislação comunitária; é mento e à execução das decisões em
uma jurisdição administrativa para veri- matéria cível e comercial.
ficar os actos administrativos adoptados
pela Comissão ou, indirectamente, pelas Como qualquer outro tribunal, o TJCE está
autoridades dos Estados-Membros (com sobrecarregado. O número de processos
base no direito comunitário); funciona não cessa de aumentar com o passar dos
enquanto jurisdição social e do trabalho anos e esta tendência deverá prosseguir em
para as questões atinentes à liberdade razão do potencial de litígios que represen-
de circulação, à segurança social dos tam as múltiplas directivas aprovadas no
trabalhadores e à igualdade de trata- âmbito do mercado único e transpostas
mento entre homens e mulheres no para o direito interno dos Estados-
mundo do trabalho; tem um papel de -Membros. O Tratado da União Europeia
jurisdição financeira para questões de suscita já inúmeras questões que deverão
validade e interpretação das directivas ser resolvidas pelo Tribunal Europeu. Foi
relativas a direito fiscal e aduaneiro, é esta sobrecarga de trabalho que levou em
uma jurisdição penal quando se trata de 1988 à criação, com base no Acto Único,
fiscalizar as multas infligidas pela do Tribunal de Primeira Instância (TPI).
Comissão e uma jurisdição cível para
julgar acções de reparação de danos e O Tribunal de Primeira Instância não é uma
interpretar a Convenção de Bruxelas nova instituição comunitária, mas antes um
relativa à competência, ao reconheci- órgão instituído pelo Tribunal de Justiça.

C OMPOSIÇÃO DO T RIBUNAL DE P RIMEIRA I NSTÂNCIA

15 juízes
designados por unanimidade pelos governos
dos Estados-Membros por um período de seis anos

Tipos de processos
Recursos de anulação, Acções para reparação Litígios entre a Comunidade
acções por omissão de perdas e danos e os seus agentes
propostos por pessoas em razão de responsabilidade (artigo 236.°)
singulares ou colectivas contra contratual e não contratual
actos comunitários ilegais ou (artigos 235.° e
omissão 288.°, n.OS 1 e 2)
(artigos 230.° e 232.°)
52
Possui no entanto uma estrutura adminis- O Tribunal de Contas
trativa própria e um Regulamento (artigos 246.° a 248.° do Tratado CE)
Processual. Num intuito de clareza, os
processos que dão entrada no Tribunal de O Tribunal de Contas foi criado em 22 de
Primeira Instância são classificados com a Julho de 1975 e iniciou funções em Outubro
letra «T» ( = Tribunal), seguida do número de 1977 no Luxemburgo. É composto por
(por exemplo, T-1/99), enquanto que os do 15 membros (o que corresponde ao número
Tribunal de Justiça são classificados com a actual de países), que são nomeados, por
letra «C» ( = Cour), seguida do número um período de seis anos, pelo Conselho,
(por exemplo, C-1/99). após consulta do Parlamento Europeu.

O TPI compõe-se de 15 membros, desig- Cabe-lhe verificar a legalidade e a regulari-


nados em condições e segundo critérios dade das receitas e despesas da CE e garantir
idênticos aos que presidem à nomeação uma correcta gestão financeira.
dos juízes do TJCE. Embora a sua principal Contrariamente aos órgãos congéneres dos
função seja a de um juiz, os membros do Estados-Membros, o Tribunal de Contas da
TPI podem ser chamados a desempenhar UE não dispõe de competência legal para
funções de advogados-gerais em processos fazer executar coercivamente as suas tarefas
julgados em plenária ou em secção de fiscalização ou para punir os responsáveis
sempre que a complexidade do assunto ou pelas infracções que detecta. Em contrapar-
da situação jurídica o exigem. Até à data, tida, o Tribunal de Contas dispõe de total
esta possibilidade só raramente foi utili- autonomia para decidir quanto às matérias a
zada. investigar e aos métodos a utilizar. Os seus
poderes de verificação poderão abranger
pessoas singulares, como por exemplo
O Tribunal funciona em sessão plenária quando fiscaliza junto do beneficiário a con-
(15 juízes) ou em secções compostas de formidade da utilização de fundos comunitá-
três ou cinco juízes. Os processos julgados rios concedidos a título de subvenção.
em sessão plenária são raros, os julgamen-
tos decorrem geralmente em secções. A verdadeira arma do Tribunal de Contas é
o efeito mediático. Os resultados da sua
As competências do Tribunal de Primeira actividade de fiscalização são compilados,
Instância começaram por ser relativa- após o encerramento do ano orçamental,
mente limitadas. Na sequência de uma num relatório anual que é publicado no
revisão ocorrida em 1993, o TPI passou a Jornal Oficial das Comunidades Europeias,
jurisdição de primeira instância para todas tornando-se assim conhecido da opinião
as acções directamente intentadas por pública. Além disso, o Tribunal de Contas
pessoas singulares ou colectivas relativa- pode, em qualquer altura, adoptar posições
mente a actos jurídicos comunitários, relativamente a matérias específicas, que
cabendo recurso para o Tribunal de Justiça são igualmente publicadas no Jornal
das Comunidades Europeias (TJCE). Oficial em relatórios extraordinários. 53
Instituições auxiliares Os conselheiros estão organizados em
três grupos («Empregadores», «Traba-
O Comité Económico e Social lhadores» e «Interesses Diversos»). Os
(artigos 257.° a 262.° do Tratado CE) pareceres que a assembleia plenária
adopta são preparados por «secções»
O Comité Económico e Social (CES) asse- compostas por conselheiros (cujos
gura a representação institucional na CE suplentes podem também participar na
dos diferentes grupos da vida económica qualidade de peritos). Acresce que o
e social, designadamente os empregado- Comité coopera estreitamente com as
res e os trabalhadores, os agricultores, as comissões e os grupos de trabalho do
empresas de transporte, os comerciantes, Parlamento Europeu.
os artesãos, os profissionais liberais e os
Instituído pelo Tratado de Roma, o CES
responsáveis por pequenas e médias
deve em certos casos ser obrigatoria-
empresas. Os consumidores, os ambien-
mente ouvido pelo Conselho, sob pro-
talistas e o sector associativo estão igual-
posta da Comissão. Pode também emitir
mente representados no Comité.
pareceres de sua própria iniciativa. Estes
pareceres constituem uma síntese de
Compõe-se de 222 membros (conselhei-
posições por vezes muito díspares e úteis
ros) provenientes das estruturas mais
para a Comissão e o Conselho, na
representativas dos Estados-Membros e
medida em que dão a conhecer as alte-
são nomeados pelo Conselho (ouvida a
rações que os grupos directamente
Comissão) por um período de quatro
visados pelas propostas gostariam de
anos.
nelas verem introduzidas. Os pareceres
Repartição dos mandatos por país: de iniciativa do CES têm por vezes um
alcance político considerável, como
Bélgica 12 aconteceu com o parecer emitido em 22
Luxemburgo 6 de Fevereiro de 1989 sobre direitos
Dinamarca 9 sociais fundamentais na Comunidade, o
Países Baixos 15 qual lançou as bases da «Carta Social»
Alemanha 24 proposta pela Comissão (e adoptada por
Áustria 12 11 Estados-Membros).
Grécia 12
Portugal 12 O Comité das Regiões
Espanha 21 (artigos 263.° a 265.° do Tratado CE)
Finlândia 9
França 24 Uma nova instância consultiva veio jun-
Suécia 12 tarse ao Comité Económico e Social por
Irlanda 9 força do Tratado da União Europeia: o
Reino Unido 24 Comité das Regiões (CR). À semelhança
54 Itália 24 do Comité Económico e Social, o CR não
é uma instituição da Comunidade menos desenvolvidas e promover projec-
Europeia, uma vez que só exerce funções tos de interesse comum para vários
consultivas e não desempenha — como Estados-Membros.
as autênticas instituições da Comunidade
(PE, Conselho, Comissão e TJCE) — as O Banco Central Europeu
funções cometidas à Comunidade de (artigos 105.° a 115.° do Tratado CE)
forma juridicamente vinculativa.
O Banco Central Europeu (BCE) está no
Tal como o CES, o CR compõe-se de 222 cerne da União Económica e Monetária
membros que representam as autorida- (UEM). Responde pela estabilidade da
des regionais e locais dos Estados- moeda europeia, o euro, e caber-lhe-á
-Membros. A repartição dos 222 manda- determinar o volume das emissões de
tos entre os Estados-Membros segue uma moeda (artigo 106.° do Tratado CE).
ponderação idêntica à do CES. Os
membros são nomeados, sob proposta Para que o BCE possa levar a bom termo
dos Estados-Membros respectivos (e a sua missão, inúmeras são as dispo-
ouvida a Comissão), pelo Conselho, deli- sições que consagram a sua independên-
berando por unanimidade, por um cia. Nem o BCE nem nenhum banco
período de quatro anos. central nacional podem solicitar ou
aceitar instruções das instituições ou
A consulta do CR pelo Conselho ou a organismos comunitários, dos governos
Comissão é por vezes obrigatória, em dos Estados-Membros ou de qualquer
especial quando se trata de questões da outra entidade. As instituições e os orga-
esfera da educação, saúde pública, nismos comunitários, bem como os
cultura, redes transeuropeias, infra-estru- governos dos Estados-Membros, compro-
turas de transportes, telecomunicações e metem-se a não procurar influenciar os
energia, coesão económica e social, órgãos de decisão do BCE (artigo 108.°
política de emprego e legislação social. do Tratado CE).
Acresce que o Conselho consulta regu-
larmente e sem obrigação jurídica o CR O BCE dispõe de um Conselho e de uma
sobre diversos projectos legislativos. Comissão Executiva. O Conselho
compõese dos governadores dos bancos
O Banco Europeu de Investimento centrais nacionais e dos membros da
(artigos 266.° e 267.° do Tratado CE) comissão executiva. Esta última, que
reúne um presidente, um vice-presidente
A Comunidade dispõe, para o seu e quatro vogais, assegura na prática a
«desenvolvimento equilibrado e harmo- gestão do BCE. O presidente e os
nioso», de um organismo financeiro, o membros da Comissão Executiva são
Banco Europeu de Investimento (BEI), nomeados, de entre personalidades de
que concede empréstimos e garantias, reconhecida competência e com expe-
com o objectivo de valorizar as regiões riência profissional nos domínios mone- 55
tário ou bancário, de comum acordo, centrais europeus (artigo 107.° do
pelos Estados-Membros, sob recomen- Tratado CE). Cabe-lhe conceber e execu-
dação do Conselho da UE e após con- tar a política monetária da Comunidade,
sulta do Parlamento Europeu. O seu só ele pode autorizar a emissão de notas
mandato é de oito anos. A fim de garantir e de moedas na Comunidade. Compete-
a independência dos membros da -lhe ainda gerir as reservas cambiais dos
comissão executiva, o seu mandato não Estados-Membros e promover o bom fun-
é renovável (artigo 112.° do Tratado CE). cionamento dos sistemas de pagamentos
da Comunidade (artigo 105.°, n.° 2, do
O Sistema Europeu de Bancos Centrais Tratado CE).
(SEBC) compõe-se do BCE e dos bancos

56
A ORDEM JURÍDICA COMUNITÁRIA

direito comunitário que no seu conjunto


A organização institucional da CE atrás
descrita, principalmente no que res-
peita aos seus valores fundamentais, só
forma a ordem jurídica comunitária. É a
base do sistema institucional. É esse direito
pode tornar-se realidade através do direito que define os processos de decisão das
comunitário. A Comunidade é assim, sob instituições comunitárias e que regula as
dois pontos de vista, um fenómeno jurí- relações destas entre si. Atribui-lhes
dico: é uma criação do direito e é uma poderes de acção através de regulamentos,
ordem jurídica. decisões gerais CECA, directivas, reco-
mendações CECA e decisões individuais,
• A UE, UMA CRIAÇÃO DO que podem ser vinculativos para os
DIREITO E UMA COMUNI- Estados-Membros e seus nacionais. Cada
DADE PELO DIREITO cidadão torna-se assim suporte da
Comunidade. A ordem jurídica comunitá-
A principal inovação da UE em relação às ria influencia cada vez mais directamente
tentativas anteriores reside no facto de a sua vida quotidiana. Confere-lhe direitos
que, para unificar a Europa, não usa a sub- e impõe-lhe obrigações, quer como nacio-
missão ou a força das armas, mas antes a nal de um Estado quer como membro da
força do direito. O direito deve conseguir Comunidade, ficando assim o cidadão
aquilo que, durante séculos, o sangue e as submetido a ordens jurídicas de níveis
armas não lograram obter. Só uma união diferentes, tal como sucede num regime
baseada no livre arbítrio poderá ter um constitucional federal. O direito comunitá-
futuro duradouro, uma união baseada em rio determina igualmente as relações da
valores fundamentais, como a liberdade e Comunidade com os Estados-Membros.
a igualdade, e preservada e concretizada Compete aos últimos tomar as medidas
pelo direito. É neste entendimento que se necessárias ao cumprimento das obri-
baseiam os Tratados originários. gações que lhes incumbem por força dos
Tratados ou dos actos das instituições
A Comunidade não só é uma criação do comunitárias. Compete-lhes ainda ajudar
direito como também recorre exclusiva- a Comunidade a levar a bom termo a sua
mente ao direito na prossecução dos seus missão e abster-se de tomar quaisquer
fins. Por outras palavras, é uma medidas susceptíveis de pôr em risco a
Comunidade «pelo» direito. É o direito realização dos objectivos dos Tratados. Os
comunitário, não a força do poder, que Estados-Membros respondem perante os
regula a coexistência económica e social cidadãos da UE por todos os danos causa-
dos cidadãos dos Estados-Membros. É este dos pela violação do direito comunitário.
57
• AS FONTES DO DIREITO Os Tratados originários:
COMUNITÁRIO direito comunitário primário

O conceito de «fonte de direito» tem uma Fazem parte do direito primário como fonte
acepção dupla: o sentido inicial do termo do direito comunitário os três Tratados origi-
aponta para a razão que está na essência nários, incluindo os anexos e protocolos, os
do direito. Assim, a fonte do direito comu- aditamentos e alterações posteriores, isto é,
nitário foi a vontade de preservar a paz e os actos que criaram a CE e que acima refe-
de construir uma Europa mais próspera rimos como os seus fundamentos institucio-
pela via da integração económica, as duas nais. Os Tratados originários e as respectivas
pedras basilares da Comunidade Europeia. alterações, sobretudo as introduzidas pelo
Em linguagem jurídica, o conceito de Acto Único Europeu e pelo Tratado da
«fonte de direito» consubstancia os modos União Europeia, contêm as normas funda-
de formulação e de revelação do direito. mentais relativas aos objectivos, à organi-
zação e ao modo de funcionamento da
Comunidade, bem como partes do seu
direito económico. São pois as disposições
«constitucionais» da Comunidade, que pro-
As fontes do direito comunitário porcionam às instituições comunitárias um
quadro para o exercício das suas competên-
cias legislativas e administrativas no inte-
1. Direito primário: resse da Comunidade. Uma vez que se trata
— Tratados originários de direito criado directamente pelos
— Princípios gerais de direito Estados-Membros, é designado, em lingua-
gem jurídica, por direito comunitário primá-
2. Acordos internacionais da CE rio.

3. Direito derivado: Os actos jurídicos comunitários:


— Regulamentos e disposições de direito comunitário derivado
— aplicação
— Directivas/Recomendações CECA O direito criado pelas instituições comunitá-
— Decisões gerais e individuais rias no exercício das suas competências tem
a designação de direito comunitário deri-
4. Princípios gerais de direito adminis- vado, a segunda fonte importante do direito
trativo comunitário, o que provém das instituições
comunitárias e tem por base os tratados.
5. Acordos entre os Estados-Membros
Resulta em primeiro lugar de todos os actos
jurídicos enumerados e definidos no artigo
249.° do Tratado CE, no artigo 161.° do
58
Tratado CEEA e no artigo 14.° do Tratado
CECA. Enquanto actos jurídicos vinculati- trário, deve procurar desenvolver as
vos, contêm simultaneamente disposições relações económicas, sociais e políticas
jurídicas de carácter geral e abstracto, bem com todos os países. Com este objectivo, a
como medidas concretas e individuais. Comunidade celebra com os «países não
Permitem ainda que as instituições da membros» (países terceiros) e com outras
Comunidade se pronunciem de forma não organizações internacionais acordos que
vinculativa. vão desde tratados de cooperação nos
domínios comercial, industrial, técnico e
No entanto, estas enumerações de actos social a acordos sobre a comercialização de
jurídicos não são exaustivas, já que o direito certos produtos.
derivado comporta actos jurídicos que não
constam de nenhuma delas. Trata-se desig- Neste contexto, merecem ser destacadas três
nadamente de actos que regem o funciona- formas de relações convencionais da CE
mento interno da CE ou das suas insti- com países terceiros:
tuições, tais como regulamentações ou
acordos entre as instituições ou os regula- Acordos de associação
mentos internos das instituições. Importa
ainda mencionar neste contexto a elabo- A associação é algo que vais mais além da
ração e a publicação dos programas comu- regulamentação puramente comercial e visa
nitários. Existem diferenças consideráveis uma cooperação económica estreita asso-
entre os actos jurídicos do direito comunitá- ciada a um vasto apoio financeiro da CE aos
rio derivado em termos de procedimento de parceiros envolvidos [artigo 310.° (ex-artigo
adopção, força jurídica e destinatários, dife- 238.°) Tratado CE]. Distinguem-se três tipos
renças essas que serão estudadas com mais de acordos de associação:
pormenor na parte dedicada aos instrumen-
tos de acção. • Acordos destinados a salvaguardar
relações especiais de certos Estados-
O direito derivado emergiu de forma pro- -Membros da CE com países terceiros
gressiva, conferindo vitalidade à consti-
tuição comunitária oriunda do direito pri- Motivo para a criação do instrumento da
mário e, pouco a pouco, construindo e com- associação foi sobretudo a existência de
pletando o ordenamento jurídico europeu. países e territórios ultramarinos que man-
tinham relações económicas muito estrei-
Os acordos internacionais celebrados tas com alguns dos países fundadores da
pela CE CE, de que foram colónias. Uma vez que
a introdução de uma regulamentação
Uma terceira fonte de direito comunitário aduaneira comum da CE face ao exterior
está ligada ao papel da Comunidade no iria prejudicar o comércio externo com
plano internacional. Como um dos pólos do esses territórios, havia que adoptar dispo-
mundo, a Europa não se pode limitar à sições especiais destinadas a estender o
gestão dos seus assuntos internos. Pelo con- sistema comunitário de trocas comerciais 59
sem entraves a esses países e territórios • O acordo relativo ao Espaço Económico
ultramarinos. Paralelamente procedeu-se Europeu (EEE)
à eliminação progressiva dos direitos
aduaneiros sobre as mercadorias prove- O acordo EEE proporcionou aos restantes
nientes desses países. A ajuda financeira e países EFTA (Islândia, Noruega,
técnica da CE processa-se através do Listenstaine e Suíça) o acesso ao mercado
Fundo Europeu de Desenvolvimento. interno da CE, ao mesmo tempo que
lançou os alicerces para uma ulterior
• Acordos que visam preparar uma even- adesão destes países à UE, impondo-
tual adesão e criar uma união aduaneira -lhes a adopção de cerca de dois terços
da legislação comunitária. Este processo
A associação pode também destinar-se a visa concretizar a livre circulação de
preparar a eventual adesão de um país à mercadorias, pessoas, serviços e capitais
Comunidade Europeia. Trata-se de um no EEE, com base no acervo comunitário
passo que antecede uma eventual (direito primário e derivado), criar
adesão e que se destina a aproximar as regimes uniformes de concorrência e de
condições económicas do país candi- subvenções e reforçar a cooperação nas
dato à adesão das condições existentes políticas horizontais e de acompanha-
na Comunidade. Este procedimento já mento (por exemplo, nos domínios da
deu provas no caso da Grécia, que havia protecção do ambiente, da investigação
assinado um acordo de associação com e do desenvolvimento ou ainda na
a Comunidade em 1962. Outro acordo esfera da educação).
de associação que abre perspectivas
Acordos de cooperação
para uma posterior adesão é o assinado
em 1964 com a Turquia. Os «acordos
Os acordos de cooperação não vão tão
europeus» da CE com a Bulgária,
longe quanto os acordos de associação, na
Eslovénia, Eslováquia, Hungria, Polónia,
medida em que prevêem apenas uma coo-
República Checa, Roménia e os três
peração económica reforçada. A
Estados bálticos (Estónia, Letónia e
Comunidade tem acordos deste tipo com
Lituânia) têm igualmente por objectivo a
os países do Magrebe (Marrocos, Argélia e
adesão à UE destes países da Europa
Tunísia), os países do Machereque (Egipto,
Central e Oriental. Esta associação
Jordânia, Líbano e Síria) e Israel (artigo
destina-se a auxiliar esses países a
300.° do Tratado CE).
alcançarem as condições exigidas para
poderem aderir à Comunidade num Acordos comerciais
futuro previsível, o que se afigura dese-
jável tanto do ponto de vista económico Foram celebrados inúmeros acordos
como em termos de política externa. A comerciais em matéria de política adua-
CE criou uma união aduaneira com neira e comercial com países terceiros,
Malta (1971), Chipre (1973) e a Turquia grupos de países terceiros ou ainda no
60 (1996). âmbito de organizações comerciais inter-
nacionais. Os acordos comerciais interna- forma mais justa o direito estabelecido
cionais mais importantes são o acordo que através de interpretação, recorrendo ao
instituiu a Organização Mundial do princípio da equidade.
Comércio (OMC) e os acordos multilate-
rais celebrados neste âmbito, designada- A concretização destes princípios é feita
mente o Acordo Geral de Tarifas e através da aplicação do direito, principal-
Comércio (GATT 1994), os códigos anti- mente através da jurisprudência do
dumping e anti-subvenções, o Acordo Tribunal de Justiça da CE, que, no âmbito
Geral sobre o Comércio de Serviços das suas atribuições, «garante o respeito
(GATS), o ADPIC (propriedade intelectual) do direito na interpretação e aplicação do
e o memorando de acordo sobre regras e (...) Tratado». Os principais pontos de
procedimentos em matéria de resolução referência para determinar os princípios
de diferendos. gerais de direito são os princípios gerais
que são comuns às ordens jurídicas dos
As fontes não escritas do direito Estados-Membros. Fornecem o material a
partir do qual se cria, no âmbito do direito
Todas as fontes de direito até aqui descritas comunitário, a regra necessária à solução
têm em comum o facto de serem fontes de de um problema.
direito comunitário escrito. Como qual-
quer outra ordem jurídica, também a Para além dos princípios da autonomia, da
ordem jurídica comunitária não pode ser aplicabilidade directa e do primado do
constituída apenas por normas escritas, direito comunitário, contam-se ainda
pois todas as ordens jurídicas têm lacunas outros princípios jurídicos como a pro-
que deverão ser colmatadas por direito tecção dos direitos fundamentais, o princí-
não escrito. pio da proporcionalidade, a protecção da
confiança legítima, o direito de ser ouvido
Os princípios gerais do direito ou ainda o princípio da responsabilidade
dos Estados-Membros em caso de violação
Os princípios gerais do direito são fontes do direito comunitário.
não escritas do direito comunitário. Trata-
-se de normas que traduzem conceitos O direito consuetudinário
fundamentais de direito e justiça, às quais
qualquer ordem jurídica está obrigada. O Faz parte também das fontes não escritas
direito comunitário escrito, que funda- do direito comunitário e pode definir-se
mentalmente só regula situações económi- como uma prática social reiterada e cons-
cas e sociais, cumpre esta obrigação tante (uso) acompanhada do sentimento
apenas em parte; desta forma, os princí- de que, assim se procedendo, se respeita
pios gerais de direito são uma das fontes ou obedece a uma norma jurídica (con-
mais importantes do direito comunitário. vicção da obrigatoriedade). Desta forma, o
Os referidos princípios permitem colmatar direito consuetudinário pode completar ou
as lacunas existentes ou desenvolver de alterar o direito primário ou o derivado. A 61
existência do costume no direito comuni- é a que decorre da existência de um pro-
tário é, em princípio, reconhecida. cedimento especial para a revisão dos
Todavia, levantam-se consideráveis obstá- Tratados (artigo 48.° do Tratado UE) que,
62 culos na prática. Uma primeira dificuldade apesar de não excluir o costume, deter-
mina uma maior dificuldade quanto ao normas nacionais e criar um direito unifor-
cumprimento dos critérios referidos supra memente aplicável na Comunidade (ver
— uso e convicção da obrigatoriedade. A artigo 293.° do Tratado CE). Estes acordos
segunda dificuldade resulta do facto de revestem a maior importância no domínio
que a validade de qualquer acto das insti- do direito privado internacional. Foi neste
tuições comunitárias só pode ser apre- contexto que foram celebradas convenções
ciada à luz dos tratados e não do compor- relativas à competência judicial em
tamento real ou da vontade da instituição matéria cível e comercial (1968) e ao
de criar relações jurídicas. Em consequên- reconhecimento mútuo das sociedades e
cia, de acordo com os Tratados, o direito pessoas colectivas (1968), a convenção
consuetudinário não pode de forma relativa è eliminação da dupla tributação
alguma ser estabelecido pelas instituições em caso de correcção de lucros entre
comunitárias, mas só eventualmente pelos empresas associadas (1990), a convenção
Estados-Membros e apenas em conformi- sobre legislação aplicável às obrigações
dade com os critérios já mencionados. contratuais (1980) e o acordo em matéria
Note-se, porém, que a adopção pelas insti- de patentes comunitárias (1989).
tuições comunitárias dos critérios do uso e
da convicção da obrigatoriedade no que • OS INSTRUMENTOS
diz respeito à interpretação das dispo- DE ACÇÃO DA CE
sições jurídicas emanadas destas insti-
tuições pode alterar significativamente as O sistema de actos jurídicos comunitários
consequências de carácter jurídico e foi concebido aquando da criação da CE.
prático das mencionadas disposições, A principal questão que se levantou na
devendo, no entanto, ser devidamente altura foi a da natureza e dos efeitos dos
considerados os requisitos e restrições actos comunitários. Considerou-se, por
decorrentes do direito comunitário primá- um lado, que as instituições deviam estar
rio. em condições de harmonizar de forma
eficaz, isto é, sem dependerem da boa
Acordos entre os Estados-Membros vontade dos Estados-Membros, as diversas
e desiguais condições económicas, sociais
Como última fonte de direito comunitário, e até ecológicas dos vários países, de
são de mencionar os acordos celebrados forma a que todos os cidadãos da
entre Estados-Membros. Trata-se, por um Comunidade tivessem as melhores con-
lado, de acordos com vista à regulamen- dições de vida possíveis; por outro lado, as
tação de questões que têm ligação estreita instituições só deviam interferir nas ordens
com a actividade da CE, mas para as quais jurídicas nacionais na medida em que
nenhuma competência foi atribuída às ins- fosse necessário. O sistema normativo da
tituições comunitárias; por outro, trata-se CE obedece ao princípio segundo o qual
de verdadeiros acordos internacionais as disposições nacionais devem ser substi-
entre Estados-Membros, visando, nomea- tuídas por um acto comunitário sempre
damente, alargar o campo de aplicação das que uma regulamentação precisa, comum 63
a todos os Estados-Membros, seja necessá- nos três Tratados comunitários. Existem,
ria. Mas quando não existe tal necessi- no entanto, diferenças na apresentação
dade, há que atender às ordens jurídicas concreta e na designação destes actos
nacionais. entre o Tratado CECA, por um lado, e os
Tratados CE e CEEA, por outro. Enquanto
Foi neste contexto que se desenvolveram o Tratado CECA apenas prevê três tipos
os instrumentos que permitem às insti- de actos — decisões, recomendações e
tuições comunitárias agir, em graus dife- pareceres (artigo 14.°) — os Tratados CE
rentes, sobre as ordens jurídicas nacio- e CEEA prevêem cinco — regulamentos,
nais. A forma extrema desta acção é a directivas, decisões, recomendações e
substituição das normas nacionais por pareceres (artigo 249.° do Tratado CE e
normas comunitárias. Seguem-se as artigo 161.° do Tratado CEEA). Isto
normas que permitem às instituições resulta do facto de se ter verificado que
comunitárias agir indirectamente sobre as formas de actuação previstas no
as ordens jurídicas dos Estados- Tratado CECA não davam uma resposta
-Membros. Prevê-se ainda a possibili- cabal às exigências das outras
dade de, para a regulamentação de casos Comunidades. Ao mesmo tempo pareceu
concretos, serem tomadas medidas em oportuno criar novos tipos de actos a fim
relação a um destinatário determinado de corrigir as lacunas reveladas nos actos
ou determinável. Por último, prevêem-se jurídicos previstos no Tratado CECA. As
actos jurídicos que não contêm qualquer diferenças conceituais daqui resultantes
disposição vinculativa para os Estados- foram deliberadamente assumidas, na
-Membros ou para os cidadãos da perspectiva de virem a ser eliminadas
Comunidade. Encontramos todas estas aquando da fusão das três Comunidades
formas fundamentais de actos jurídicos prevista para mais tarde.

Tratado CECA Tratado CEE Tratado CEEA

Artigo 14.° Artigo 249.° Artigo 161.°

Decisões da carácter geral Regulamentos Regulamentos

Recomendações Directivas Directivas

Decisões (individuais) Decisões Decisões

Recomendações Recomendações

Pareceres Pareceres Pareceres

64
Do ponto de vista dos destinatários e dos mente aos cidadãos comunitários. Os
efeitos que produzem nos Estados- Estados-Membros, as suas instituições e
-Membros, os actos jurídicos do sistema autoridades estão directamente vincula-
normativo dos Tratados europeus podem dos ao direito comunitário que se devem
ser representados no quadro a seguir apre- de respeitar da mesma forma que o
sentado. direito nacional.

As leis comunitárias: regulamentos Não obstante manifestas similitudes com


e decisões gerais CECA as leis nacionais, estes actos não podem
todavia ser considerados «leis europeias»
Os actos jurídicos através dos quais as ins- na medida em que são adoptados no
tituições comunitárias podem interferir âmbito do processo de co-decisão com o
mais profundamente nas ordens jurídicas Parlamento Europeu (ver capítulo
nacionais são os regulamentos dos seguinte). Aos regulamentos e às decisões
Tratados CE e CEEA e as decisões gerais do gerais, diplomas que emanam exclusiva-
Tratado CECA, que têm duas característi- mente do Conselho e da Comissão, falta-
cas não habituais no direito internacional: -lhes esta componente de co-responsabili-
dade parlamentar, o que, pelo menos for-
• seu carácter comunitário, que consiste malmente, constitui característica essen-
na particularidade de impor um direito cial de uma lei.
igual para toda a Comunidade sem ter
em conta as fronteiras e com validade As directivas e as recomendações
uniforme e integral em todos os Estados- CECA
-Membros. Isto significa que os Estados
não podem, por exemplo, aplicar as dis- A directiva, ou recomendação no âmbito
posições de um regulamento apenas par- do Tratado CECA, é, juntamente com o
cialmente ou decidir quais as que irão regulamento, o instrumento de acção mais
aplicar para, desse modo, excluírem as importante da CE. Trata-se de um acto
normas que sejam contrárias a certos através do qual se procura conciliar a
interesses nacionais. Os Estados- necessária unidade do direito comunitário
-Membros também não podem recorrer com a manutenção das diversas peculiari-
a normas ou usos do direito nacional dades nacionais. Assim, o principal objec-
para se subtraírem à obrigatoriedade das tivo da directiva não é (como no caso do
disposições dos regulamentos; regulamento) a unificação do direito, mas
antes uma aproximação das diversas legis-
• a sua aplicabilidade directa, ou seja, o lações que permita eliminar as contra-
facto de o disposto nos regulamentos dições entre as disposições legislativas e
estabelecer um mesmo direito que não administrativas dos Estados-Membros e
carece de normativas especiais de apli- suprimir a pouco e pouco as diferenças, de
cação de carácter nacional, conferindo modo a que sejam criadas nos diversos
direitos e impondo obrigações directa- Estados-Membros condições tão idênticas 65
quanto possível. Em consequência, a • na segunda fase, ao nível nacional, a
directiva é um dos instrumentos básicos realização do objectivo previsto no dis-
para a consecução do mercado interno. positivo comunitário compete ao direito
nacional de cada um dos Estados-
A directiva vincula o Estado-Membro -Membros. Embora os Estados-
apenas quanto ao resultado a alcançar, -Membros tenham liberdade para esco-
deixando às instâncias nacionais a lher a forma e os meios da transposição,
competência quanto à forma e aos são obrigados a assegurar que essa trans-
meios para obter esse resultado. Esta posição seja conforme com o direito
característica reflecte a intenção de comunitário e obedeça aos critérios
intervir na estrutura jurídica e adminis- dessa ordem jurídica. O princípio funda-
trativa nacional de forma mais ate- mental a respeitar é o da criação de uma
nuada, o que permite ter em conta as situação jurídica que permita reconhe-
particularidades dos Estados-Membros cer de forma suficientemente clara e
na realização dos objectivos comunitá- precisa os direitos e as obrigações ema-
rios. As disposições de uma directiva nados da directiva, de modo a que os
não substituem automaticamente as do cidadãos comunitários os possam
direito nacional; são os Estados- invocar perante as instâncias judiciais
-Membros que ficam obrigados a trans- nacionais. Para esse efeito, é sempre
por para o direito nacional as normas necessária a adopção de um acto jurí-
comunitárias, o que implica a necessi- dico nacional de carácter vinculativo ou
dade de um procedimento de criação a supressão ou a alteração de dispo-
do direito dividido em duas fases: sições legislativas, regulamentares e
administrativas vigentes. Uma simples
• na primeira fase, ao nível comunitá- prática administrativa não é suficiente,
rio, a directiva estabelece o objectivo já que a mesma, em virtude da sua
proposto de forma obrigatória para os própria natureza, pode ser alterada con-
destinatários — um, no caso de reco- forme o entender a administração de
mendações CECA, vários ou todos os tutela e não goza de publicidade sufi-
Estados-Membros —, que deverão ciente.
realizá-lo num prazo determinado. As
instituições comunitárias podem Exceptuando os casos em que uma reco-
determinar esse objectivo através de mendação CECA se dirige directamente a
normas de tal modo pormenorizadas uma empresa da Comunidade, normal-
que os Estados-Membros não dispo- mente nem as directivas nem as recomen-
nham de espaço de manobra para dar dações destinadas aos Estados-Membros
uma configuração própria às suas dis- criam direitos e obrigações directos para
posições de transposição. É o que se os cidadãos comunitários; os cidadãos
passa sobretudo no âmbito das comunitários só ficam sujeitos a direitos e
normas técnicas, bem como do obrigações quando as autoridades compe-
66 ambiente; tentes dos Estados-Membros executam a
directiva ou a recomendação CECA. Em Esta jurisprudência do TJCE sobre o efeito
princípio, pouco importa aos cidadãos a directo das directivas e das recomendações
forma como os Estados-Membros dão CECA baseia-se essencialmente na conside-
cumprimento às obrigações de transpo- ração de ordem geral de um Estado-
sição que lhes incumbem por força dos -Membro se estar a comportar de forma
actos de direito comunitário. Porém, se os abusiva e contrária ao direito sempre que
Estados não aprovarem, ou aprovarem de continua a aplicar a sua anterior legislação
forma incompleta, o necessário acto de quando já está obrigado a respeitar o objec-
execução, os cidadãos podem estar a ser tivo do disposto na directiva. Este compor-
prejudicados, se o objectivo previsto pela tamento por parte de um Estado-Membro é
directiva (ou recomendação CECA) lhes abusivo e o reconhecimento do efeito
proporcionasse um benefício efectivo. directo da directiva pretende evitar que o
Para evitar estes inconvenientes, o Estado-Membro em questão obtenha qual-
Tribunal de Justiça tem reiteradamente afir- quer vantagem com a inobservância do
mado na sua jurisprudência que os direito comunitário. Assim, o efeito directo
cidadãos também podem, sob certas con- tem carácter de sanção para o Estado-
dições, fazer valer as disposições de uma -Membro. Neste contexto, é significativo
directiva e invocar os direitos nela previs- que o Tribunal de Justiça só tenha aplicado
tos, bem como, se tal for o caso, invocá- o princípio em processos entre cidadãos e
-los perante os tribunais nacionais. O Estados-Membros e só quando a aplicação
Tribunal estabeleceu as condições neces- da directiva beneficia o cidadão, e não
sárias para que a directiva possa produzir quando o prejudica, ou, por outras pala-
esses efeitos directos: vras, quando a situação do cidadão perante
a lei alterada pela directiva é mais favorável
• as disposições da directiva ou da reco- do que perante a lei inalterada (efeito
mendação CECA devem determinar os directo vertical). Até à data, o TJCE ainda
direitos dos cidadãos e das empresas da não reconheceu o efeito directo nas
Comunidade de forma suficientemente relações entre os próprios cidadãos (efeito
clara e precisa; directo horizontal). O Tribunal considera,
devido ao próprio carácter do efeito
• a invocação desses direitos não deve directo, que este não pode ser aplicado a
estar sujeita a qualquer condição ou relações entre particulares, uma vez que
obrigação; estes não podem ser responsabilizados pela
omissão do Estado. O que está em causa é o
• o legislador nacional não deve dispor de cidadão estar defendido pelos princípios da
qualquer margem de apreciação acerca segurança jurídica e da protecção da con-
do conteúdo desses direitos; fiança legítima, uma vez que deve poder ter
legítima expectativa de que os objectivos
• o prazo de transposição da directiva da directiva são alcançados através das
para o direito interno deverá ter termi- medidas nacionais de transposição destina-
nado. das a dar-lhe aplicação. 67
Todavia, uma vez terminado o prazo de Acresce que nos processos Francovich e
transposição, as directivas adquirem Boniface, de 1991, o TJCE reconheceu que
efeito objectivo na medida em que todos os Estados-Membros eram obrigados a
os órgãos do Estado são obrigados a pagar indemnizações por danos causados
interpretar e aplicar a legislação nacional por ausência de transposição ou por trans-
em conformidade com as directivas posição errónea. Em ambos os processos,
(«interpretação conforme ao direito estava em causa a responsabilidade do
68 comunitário»). Estado italiano pelo facto de a transposição
da Directiva 80/987/CEE do Conselho, As decisões individuais, enquanto
relativa à protecção dos trabalhadores «actos administrativos» da CE
assalariados em caso de insolvência do
empregador, não ter sido feita no prazo A terceira categoria de actos jurídicos no
previsto. Esta directiva garantia o direito sistema normativo da CE é a das decisões CE
do trabalhador a remuneração durante o e das decisões individuais CECA. Uma apli-
período anterior à declaração de insolvên- cação eficaz dos Tratados comunitários, dos
cia ou ao despedimento por insolvência. regulamentos e das decisões gerais CECA só
Para esse fim, deveriam ser criados fundos é concebível quando é dada às instituições
de garantia protegidos contra os outros comunitárias, nos casos em que são elas pró-
credores, cujos meios financeiros resulta- prias as responsáveis pelo cumprimento do
riam de contribuições dos empregadores direito comunitário, a possibilidade de agir
e/ou do Estado. O problema nestes proces- directamente sobre os cidadãos, as empresas
sos residia no facto de a directiva preten- e os Estados-Membros. Trata-se exactamente
der conceder aos trabalhadores o direito da situação que existe nas ordens jurídicas
de continuarem a receber uma remune- nacionais, onde são as autoridades adminis-
ração a partir do fundo de garantia. Ora, trativas que fixam de forma imperativa as
os tribunais nacionais estavam impedidos condições da aplicação de uma lei a um
de assegurar a sua aplicabilidade directa, caso particular.
uma vez que, na ausência de transposição
da directiva, o fundo de garantia não tinha É esta função que as decisões individuais
sido criado e não era possível determinar têm na ordem jurídica comunitária, onde
quem era o devedor das somas a pagar representam o acto típico através do qual as
relacionadas com a situação de insolvên- instituições comunitárias regulam situações
cia. O Tribunal deliberou pois que o concretas. Através de uma decisão deste
Estado italiano, ao não transpor a directiva tipo, as instituições comunitárias podem
atempadamente, privou os trabalhadores exigir a um país membro ou a um cidadão
em causa dos direitos instituídos pela que aja ou se abstenha de agir, assim como
directiva, ficando consequentemente obri- conferir-lhes direitos e impor-lhes obri-
gado a indemnizá-los. Embora a obrigação gações.
de indemnizar não esteja expressamente
prevista no direito comunitário, o TJCE A decisão tem as seguintes características
considera-a parte integrante da ordem jurí- estruturais:
dica comunitária, uma vez que a integri-
dade da sua eficácia e os direitos por ela • tem aplicabilidade individual, o que a dis-
atribuídos estariam postos em causa se os tingue do regulamento. Dirige-se indivi-
cidadãos não tivessem a possibilidade de dualmente apenas aos destinatários, que
exigir e obter uma indemnização por vio- deve obrigatoriamente designar. Para esse
lação dos seus direitos devida a actuação efeito, basta que o universo dos destinatá-
de um Estado-Membro contrária ao direito rios seja claramente identificável na altura
comunitário. da produção de efeitos da decisão e que 69
tal universo não possa posteriormente actos, expressamente prevista nos Tratados
ser alterado. O conteúdo da decisão comunitários, permite às instituições da
deve pois ser adequado para produzir Comunidade pronunciarem-se de forma
efeitos directos e precisos para o desti- não vinculativa, isto é, sem criarem qual-
natário. Nesse sentido, a decisão pode quer obrigação jurídica para os destinatá-
também afectar individualmente tercei- rios relativamente aos Estados-Membros e,
ros, na medida em que estes, devido a em certos casos, aos cidadãos da CE.
características pessoais ou a circunstân-
Trata-se, nos tratados CE e CEEA, de reco-
cias específicas, sejam susceptíveis de
mendações ou de pareceres e, no Tratado
ser identificados em condições similares
CECA, apenas de pareceres. Contrariamente
aos destinatários;
à recomendação CE ou CEEA, a formulação
menos feliz no Tratado CECA utiliza o termo
• é obrigatória em todos os seus elemen- recomendação para designar um acto vincu-
tos, o que a distingue da directiva, que lativo, pelo que corresponde à directiva CE e
só vincula o Estado-Membro destinatá- CEEA. As recomendações sugerem aos desti-
rio quanto ao resultado a alcançar; natários um comportamento, enquanto que
os pareceres são formulados pelas insti-
• tem aplicabilidade directa aos seus des- tuições comunitárias sempre que se trata de
tinatários. Além disso, uma decisão diri- apreciar situações ou acontecimentos con-
gida a um Estado-Membro pode cretos da Comunidade ou dos Estados-
também, em condições idênticas às de -Membros.
uma directiva, ser directamente aplicá-
vel aos cidadãos da Comunidade. As recomendações sugerem aos destinatários
um dado comportamento, sem com isso lhes
As decisões podem ser tomadas por impor uma obrigação legal. Assim, quando
exemplo para autorizar ou proibir auxílios houver motivo para recear que a adopção ou
estatais (artigos 87.° e 88.° do Tratado CE), alteração de uma disposição legislativa,
regulamentar ou administrativa possa distor-
anular acordos ou práticas de entendi-
cer as condições de concorrência no
mento contrárias às regras da concorrência
mercado comum, a Comissão recomendará
(artigo 81.° do Tratado CE) e ainda para
aos Estados interessados as medidas adequa-
infligir sanções ou impor medidas vincula-
das para evitar a distorção em causa (artigo
tivas. 97.°, n.° 1, segunda frase, do Tratado CE).

Medidas não vinculativas Em contrapartida, os pareceres são emitidos


das instituições comunitárias pelas instituições comunitárias sempre que
— Recomendações e pareceres se revele oportuno apreciar uma dada
situação ou factos na Comunidade ou nos
Por fim, existem as recomendações CE e Estados-Membros. Em certos casos, os pare-
70 CEEA e os pareceres. Esta última categoria de ceres podem criar condições prévias à for-
mulação de actos jurídicos vinculativos ou Parlamento Europeu. Consubstanciam
constituem requisito necessário para a pro- posições e intenções comuns em relação ao
positura de uma acção no TJCE (artigos 226.° processo geral de integração e a acções
e 227.° do Tratado CE). específicas no plano comunitário e extraco-
munitário. As resoluções em matéria de
A importância das recomendações e dos assuntos internos tratam das grandes
pareceres é sobretudo política e moral. Os questões políticas da União, da política
autores dos Tratados, ao preverem estes regional, da política energética e da união
actos jurídicos, fizeram-no na expectativa monetária, designadamente a criação do
de que os destinatários, tendo em conta o Sistema Monetário Europeu. A importância
prestígio das instituições comunitárias e o política destas resoluções decorre essencial-
facto de estas disporem de uma visão geral mente da orientação que as mesmas impri-
e de conhecimentos que ultrapassam o mem aos trabalhos futuros do Conselho.
âmbito nacional, os acatariam voluntaria- Enquanto manifestações da vontade política
mente e infeririam da apreciação de uma comum, contribuem decisivamente para a
situação concreta por parte da CE as con- constituição de plataformas de entendi-
sequências necessárias. As recomen- mento ao nível do Conselho. Asseguram
dações e os pareceres podem ter efeitos ainda um mínimo de concordância entre as
jurídicos indirectos quando constituem autoridades nacionais e comunitárias. A
condições para actos jurídicos posteriores avaliação do significado jurídico deste ins-
de carácter obrigatório ou quando a insti- trumento deve ter presentes estes elementos,
tuição comunitária que os formula se com- isto é, a resolução deve manter uma certa
promete a actuar de certa forma, podendo flexibilidade, sem estar demasiado vincu-
assim, em certas circunstâncias, criar legí- lada a requisitos e obrigações jurídicas.
timas expectativas.
Declarações: podem ser de dois tipos.
Quando dizem respeito ao desenvolvimento
Resoluções, declarações e programas da Comunidade, como é o caso das decla-
de acção rações relativas à UE, à democracia, aos
direitos fundamentais, aparentam-se às reso-
Para além dos actos jurídicos expressamente luções e servem essencialmente para atingir
previstos nos tratados, as instituições comu- um vasto público ou um grupo específico de
nitárias dispõem de uma vasta panóplia de destinatários. Há também as declarações
instrumentos de acção para modelar os con- emanadas do processo decisório do
tornos da ordem jurídica comunitária. Na Conselho, através das quais os membros do
prática, os mais importantes são as reso- Conselho exprimem pareceres conjuntos ou
luções, as declarações e os programas de individuais sobre a interpretação das
acção. decisões que tomam. Estas declarações
interpretativas, muito frequentes no
Resoluções: podem emanar do Conselho Conselho, são essenciais na busca de com-
Europeu, do Conselho da UE e do promissos. O alcance jurídico destas decla- 71
rações deve ser avaliado à luz dos princí- europeia», mas antes da vontade conju-
pios fundamentais da interpretação, por gada de vários Estados-Membros. É
força dos quais a interpretação de uma verdade que estes transferiram partes da
norma depende em grande parte das sua soberania para a CE, mas fizeram-no
intenções que presidiram à sua elabo- em função das respectivas expectativas de
ração. Todavia, este princípio só vale se às passarem a dispor de posições de força no
declarações em questão for dada a publici- processo de tomada de decisões da
dade devida, já que o direito comunitário Comunidade. Com o desenvolvimento e o
derivado, que reconhece direitos directos aprofundamento da ordem jurídica comu-
ao cidadão, não poderia ver-se preterido nitária, a repartição de competências no
por disposições acessórias que não tives- processo de tomada de decisões, que no
sem sido tornadas públicas. princípio favorecia excessivamente os
interesses nacionais, evoluiu para um
Programas de acção: são elaborados pelo sistema mais equilibrado, nomeadamente
Conselho e pela Comissão, por iniciativa através do reforço da posição do
própria ou a pedido do Conselho Europeu Parlamento Europeu. Foi assim que se
e têm por objectivo a realização de pro- passou de uma mera consulta do
gramas legislativos e a consecução dos Parlamento Europeu para uma colabo-
objectivos gerais que os tratados consa- ração entre este e o Conselho e posterior-
gram. Sempre que os programas estão mente para a co-decisão que caracteriza
expressamente previstos nos tratados, as agora a participação do PE no processo
instituições comunitárias devem respeitar legislativo da CE. O Tratado de Amester-
estas disposições na elaboração dos dão reforçou a componente democrática
mesmos. Há também outros programas deste processo ao fazer da co-decisão uma
que na prática funcionam como simples regra geral. Todavia, o princípio clássico
orientações, desprovidas de qualquer da separação dos poderes que vigora nos
efeito juridicamente vinculativo. Consubs- Estados-Membros nem sempre é aplicado
tanciam, no entanto, uma vontade política no sistema legislativo da CE, o qual parece
das instituições de se conformarem às dis- privilegiar o «princípio do equilíbrio insti-
posições que deles emanam. tucional». Este princípio garante que todas
as instituições comunitárias chamadas a
participar no processo legislativo o fazem
• O PROCESSO de forma equitativa.
LEGISLATIVO NA CE
O processo legislativo da CE funciona
Enquanto nos Estados, os parlamentos basicamente em quatro níveis, com proce-
exprimem e dão forma à vontade popular, dimentos próprios aplicáveis em cada um
na Comunidade, o Conselho exprime e dá deles:
forma à vontade dos governos dos
Estados-Membros, uma vez que a 1. na adopção de actos jurídicos gerais de
72 Comunidade não resulta de uma «nação carácter obrigatório (regulamentos e
directivas) aplica-se o procedimento de rio de cinco anos em matéria de vistos,
consulta ou de proposta, o procedi- asilo e imigração (artigo 67.°, n.° 1, do
mento de cooperação, o procedimento Tratado CE), na área da concorrência
de codecisão ou o procedimento de (artigos 83.° e 89.° Tratado CE) e da fiscali-
parecer favorável; dade (artigo 93.° do Tratado CE), na defi-
nição das linhas de orientação para as
2. para as medidas de execução, estão políticas de emprego (artigo 128.°, n.° 2,
previstos procedimentos específicos; do Tratado CE), para alargar a política
comercial externa às esferas dos serviços e
3. as decisões individuais vinculativas e os direitos de propriedade industrial (artigo
actos jurídicos não obrigatórios são 133.° do Tratado CE), em matéria de pro-
adoptados através de procedimento tecção social, salvaguarda dos interesses
simplificado; dos trabalhadores e melhoria das con-
dições de emprego (artigo 137.°, n.° 3, do
4. no contexto CECA, vigoram diversas Tratado CE), em relação à criação de
particularidades. empresas comuns no âmbito da execução
de programas de investigação, desenvolvi-
O procedimento de consulta mento tecnológico e demonstração (artigo
ou de proposta 172.° do Tratado CE) e, por fim, no
domínio do ambiente, no que se refere a
O procedimento de proposta foi a primeira questões fiscais, ordenamento do territó-
forma que o processo legislativo da rio, afectação dos solos ou gestão de
Comunidade revestiu, mas, com a intro- recursos hídricos bem como à escolha por
dução do processo de cooperação e de co- parte de um Estado-Membro entre diversas
decisão, foi gradualmente perdendo signi- fontes de energia e a estrutura geral do res-
ficado. Aplica-se ainda nos casos que não pectivo aprovisionamento energético
estão expressamente sujeitos a cooperação (artigo 175.°, n.° 2, do Tratado CE).
ou a co-decisão, a saber, a tomada de
medidas para combater a discriminação O procedimento representa uma divisão
em razão do sexo, raça ou origem étnica, de trabalho entre a Comissão e o
religião ou crença, deficiência, idade ou Conselho. Em termos sucintos, pode-se
orientação sexual (artigo 13.° do Tratado dizer que a Comissão propõe e o Conselho
CE), para reforçar os direitos ligados à decide. No entanto, antes que o Conselho
cidadania da União (artigo 22.°, n.° 2, do possa tomar uma decisão, há que percor-
Tratado CE), no domínio da política agrí- rer diversas fases nas quais se pronunciam
cola comum (artigo 37.°, n.° 2, do Tratado também — em função do que estiver em
CE), no contexto da liberalização de deter- causa — o Parlamento Europeu, o Comité
minados serviços (artigo 52.°, n.° 2, do Económico e Social e o Comité das
Tratado CE), durante um período transitó- Regiões.

73
O PROCEDIMENTO DE CONSULTA OU DE PROPOSTA

Comissão

Propostas

>
Parlamento Europeu
>

>
Comité das Regiões Comité Económico e Social

Pareceres
>

Decisão do Conselho após


consulta do Coreper

Fase de elaboração de uma proposta tiva é tomada pelo serviço da Comissão que
se ocupa do domínio em causa, sendo fre-
Cabe à Comissão desencadear o processo, quente neste fase o recurso a especialistas
com a elaboração de uma proposta (é o nacionais. A consulta destes peritos decorre
chamado direito de iniciativa) sobre a em parte no contexto de comités criados
74 medida comunitária em causa. Esta inicia- para o efeito ou sob forma de processo de
consulta ad hoc por parte dos serviços da fixação dos direitos na pauta aduaneira
Comissão. Na prática, esta consulta reveste comum (artigo 26.° do Tratado CE)]. Para
especial importância, na medida em que efeitos da consulta em causa, o Conselho
permite à Comissão avaliar com maior transmite oficialmente a proposta da
rigor, logo no início do processo de elabo- Comissão ao presidente do Parlamento
ração da proposta, as possibilidades da pro- Europeu, convidando-o formalmente a
posta vir a ser aprovada pelo Conselho e pronunciar-se sobre a mesma. O presi-
agir em conformidade, se for o caso, procu- dente do PE remete a proposta para a
rando desde logo obter compromissos. comissão parlamentar competente, cujas
Importa, no entanto, ter presente que a conclusões são depois discutidas em
Comissão não é obrigada a sujeitar-se aos sessão plenária, após o que é emitido um
pareceres dos peritos nacionais na fase de parecer que aprova, recusa ou modifica a
elaboração da proposta. O projecto da proposta. Todavia, o Conselho não é juri-
autoria da Comissão é então discutido dicamente obrigado a acatar os pareceres
pelos membros da Comissão e votado nem as alterações emanadas do
(maioria simples), sendo de seguida trans- Parlamento. Estes pareceres revestem,
mitido ao Conselho, sob a forma de «pro- porém, grande importância política, já que
posta da Comissão», acompanhado de permitem detectar lacunas jurídicas ou
uma pormenorizada exposição de exigir outras medidas comunitárias, dando
motivos. assim novo ímpeto à política de integração
europeia.
Fase de consulta
Os Tratados obrigam, em alguns casos, o
O Conselho começa por analisar se Conselho a consultar o Comité Económico
precisa de consultar outros órgãos comu- e Social e o Comité das Regiões. À seme-
nitários antes de deliberar. Os Tratados lhança do que acontece com o Parlamento
prevêem a consulta do Parlamento Europeu, os pareceres são transmitidos ao
Europeu relativamente a todas as políticas Conselho e à Comissão, terminando assim
importantes (consulta obrigatória). A não a intervenção destes dois órgãos consulti-
consulta do Parlamento neste caso consti- vos. Também estes pareceres não obrigam
tuiria um grave vício de forma contra o o Conselho.
qual o PE pode apresentar um recurso de
anulação (artigo 230.° do Tratado CE) que Fase de decisão
pode levar à declaração de nulidade da
proposta em causa. Além desta consulta Após consulta do Parlamento Europeu, do
obrigatória, o Parlamento é ouvido, na Comité Económico e Social e do Comité
prática, acerca de todos os restantes pro- das Regiões, a proposta da Comissão,
jectos legislativos [consulta facultativa: por eventualmente alterada de modo a con-
exemplo, harmonização dos regimes de templar as posições daquelas instâncias,
auxílio às exportações para países tercei- regressa ao Conselho, onde é discutida pri-
ros (artigo 132.°, n.° 1, do Tratado CE); meiramente por grupos de trabalho espe- 75
cializados e seguidamente no Comité dos exclusivamente ao domínio da União
Representantes Permanentes dos Estados- Económica e Monetária (artigo 99.°, n.° 5,
-Membros (Coreper). Assim que um acto e artigo 106.°, n.° 2, do Tratado CE). Todos
jurídico está «pronto para aprovação», é as outras áreas de intervenção anterior-
inscrito na ordem de trabalhos de uma mente sujeitas ao procedimento de pro-
próxima reunião do Conselho, como posta regem-se agora pelo sistema da co-
«ponto A», sendo votado sem debate -decisão.
prévio. Em contrapartida, em caso de
divergências não ultrapassáveis ao nível O procedimento de cooperação veio intro-
do Coreper, o acto em questão é agendado duzir uma segunda leitura do Parlamento
como «ponto B» a fim de ser analisado Europeu e do Conselho no processo legis-
pelo Conselho. A decisão tomada pelo lativo comunitário.
Conselho encerra o processo normativo.
Primeira leitura: Tal como acontece com o
procedimento de proposta, o ponto de
Publicação
partida é a proposta da Comissão, a qual
no entanto é transmitida não só ao
Uma vez aprovado, o acto é redigido na
Conselho mas também ao Parlamento
sua forma final nas 11 línguas oficiais
Europeu. O PE é associado a esta fase do
(espanhol, dinamarquês, alemão, grego,
processo normativo com o objectivo de
inglês, francês, italiano, neerlandês, portu-
permitir que este dê conta ao Conselho do
guês, finlandês e sueco), adoptado formal-
seu parecer sobre a proposta da Comissão
mente pelo Conselho «nas línguas da
antes da adopção da «posição comum»,
Comunidade», assinado pelo presidente
conferindo-se desta forma maior eficácia à
do Conselho e, por fim, publicado no
participação do PE no processo legislativo.
Jornal Oficial das Comunidades Europeias
O Comité Económico e Social e o Comité
ou «notificado aos respectivos destinatá-
das Regiões podem também ser consulta-
rios» (artigo 254.°, n.os 1 e 3, do Tratado
dos nesta fase.
CE).

Com base nos pareceres que lhe foram


O procedimento de cooperação transmitidos, o Conselho adopta uma
(artigo 252.° do Tratado CE) posição comum que reflecte as suas pró-
prias convicções, à luz da proposta da
O procedimento de cooperação inspira- Comissão e dos pareceres. Não se trata
-se no já referido procedimento de pro- pois de um documento de compromisso,
posta, prevendo um reforço da influência mas de uma tomada de posição indepen-
do Parlamento Europeu no processo deci- dente que o Conselho assume.
sório da CE, ao mesmo tempo que
imprime um ritmo mais acelerado ao pro- Segunda leitura: O Parlamento analisa a
cesso legislativo. No entanto, aplica-se posição comum em segunda leitura, dis-
76
PROCEDIMENTO DE COOPERAÇÃO

Comissão

Propostas
>

>

>
Parlamento Europeu
CR CES
(primeira leitura)

Parecer

>
Conselho de Ministros

Posição comum
>

Parlamento Europeu
(segunda leitura)

Adopção/ausên- Emenda por Rejeição por


cia de parecer maioria absoluta maioria absoluta
>
>

Conselho de Ministros Conselho de Ministros

Adopção da Adopção só
posição comum por por unanimidade
maioria qualificada
>

Comissão
Emenda do PE Emenda do PE
aceite não aceite

>
> Conselho de Ministros

Adopção por Adopção só por


maioria qualificada unanimidade
77
pondo, no prazo de três meses, de várias a dar parecer sobre as propostas de alte-
possibilidades de intervenção: ração do Parlamento ou a proposta alte-
rada da Comissão, bloqueando assim o
1. se o PE aprovar a posição comum ou processo legislativo.
deixar passar o prazo de três meses sem
sobre ela emitir parecer, não há qual-
quer problema. O Conselho pode então O procedimento de co-decisão
proceder à aprovação final da posição (artigo 251.° do Tratado CE)
comum;

2. o PE pode também rejeitar a posição O procedimento de co-decisão foi conce-


comum ou propor emendas. Em ambos bido como prolongamento do procedi-
os casos, o Conselho poderá impor a mento de cooperação. Ao passo que, no
sua vontade de duas formas: procedimento de cooperação, o Conselho
pode, por unanimidade, passar por cima
— se o PE rejeitar a posição comum, o do parecer do Parlamento Europeu, a co-
Conselho pode impor a sua vontade em -decisão, nos termos em que o Tratado de
segunda leitura por unanimidade ou Amesterdão a consagra, coloca as duas
não adoptar a decisão. Atendendo à instituições num plano de igualdade.
complexidade dos mecanismos de Assim, em caso de malogro da conciliação
decisão no Conselho, a situação é de com o Parlamento, o Conselho não pode
bloqueio, razão pela qual o PE só rara-
adoptar a sua posição comum. É pois
mente rejeita uma posição comum,
indispensável que se chegue a acordo, sob
pena de bloqueio do processo legislativo.
— regra geral, o PE propõe alterações. O
que importa então é saber se a
A co-decisão tornou-se de longe o proce-
Comissão aceitará ou não essas alte-
dimento mais importante na prática legis-
rações. Em caso afirmativo, o Conselho
lativa, aplicando-se a toda a legislação em
seguirá os trâmites normais de apro-
matéria de discriminação em razão da
vação, isto é, a maioria qualificada ou a
unanimidade caso o texto que aprove nacionalidade (artigo 12.° do Tratado CE),
se afaste da proposta revista da disposições destinadas a facilitar o exercí-
Comissão. Em contrapartida, se a cio do direito de estada (artigo 18.°, n.° 2,
Comissão não aceitar as alterações, a do Tratado CE), medidas para garantir a
adopção do documento pelo Conselho livre circulação de trabalhadores (artigo
carece de unanimidade. O PE só dificil- 40.° do Tratado CE), medidas para salva-
mente poderá impor a sua vontade ao guardar os direitos de segurança social dos
Conselho. Para que o seu parecer tenha trabalhadores migrantes (artigo 42.° do
o devido peso, deverá ter o apoio da Tratado CE), directivas para concretizar a
Comissão. O Conselho detém sempre liberdade de estabelecimento (artigo 44.°,
78 um direito de veto, podendo recusar-se n.° 2, e artigo 47.°, n.° 1, do Tratado CE),
PROCEDIMENTO DE CO-DECISÃO

Comissão

Propostas

>

>

>
Parlamento Europeu
CR CES
(primeira leitura)

Parecer

>
Conselho de Ministros

Ausência de emendas do Parlamento ou aprovação de todas as emendas pelo Conselho


Aprovação do acto
ou
Posição comum
>

Parlamento Europeu
(segunda leitura)

Aprovação/sem Emenda com maioria Rejeição


emendas absoluta por maioria absoluta
>

Conselho de Ministros >


Termo
do processo legislativo
Aprovação da
posição comum por
maioria qualificada
>

Comissão
Aceitação das
emendas do PE Rejeição das
emendas do PE
> Conselho de Ministros
>

Aprovação por Aprovação só


maioria absoluta por unanimidade
Rejeição das
emendas
>

Acordo Comité de conciliação Ausência de acordo


Conselho/Parlamento
>

>

79
Confirmação do resultado O acto é considerado
pelo Conselho e PE (ter- rejeitado e conclui-se o
ceira leitura) processo legislativo
realização da livre circulação dos serviços Comissão, remetida ao Conselho e ao
(artigo 55.° do Tratado CE), política de Parlamento Europeu e, se for o caso, aos
transportes (artigo 71.°, n.° 1, e artigo 80.° comités a consultar. O PE delibera em pri-
do Tratado CE), realização do mercado meira leitura e transmite o seu parecer ao
interno (artigo 95.° do Tratado CE), política Conselho. É nesta fase que o CES e o CR
social, incluindo medidas para concretizar têm oportunidade de se pronunciar.
a igualdade de tratamento entre homens e
mulheres (artigos 137.°, 141.° e 148.° do
Tratado CE), medidas de promoção da for- Se o PE não introduzir qualquer alteração
mação profissional (artigo 149.° do à proposta da Comissão ou se o Conselho
Tratado CE), cultura (artigo 151.° do aceitar todas as alterações propostas, o
Tratado CE) saúde (artigo 152.° do Tratado Conselho pode aprovar o acto nesta fase
CE), acções de defesa do consumidor do processo. Caso contrário, passa-se à
(artigo 153.° do Tratado CE), orientações e fase da segunda leitura no PE.
projectos de interesse comum relativos à
realização das redes transeuropeias (artigo
Segunda leitura: com base na proposta da
156.° do Tratado CE), fundos regionais
Comissão, no parecer do Parlamento e dos
(artigo 162.°, n.° 1, do Tratado CE), reali-
comités, e tendo presentes as suas próprias
zação de programas de investigação
convicções, o Conselho adopta uma
(artigo 172.°, n.° 2, do Tratado CE), conse-
posição comum por maioria qualificada, a
cução dos objectivos de protecção do
qual é em seguida objecto de segunda
ambiente consagrados no artigo 174.° do
leitura pelo Parlamento. O Conselho
Tratado CE (artigo 175.°, n.° 1, Tratado CE),
dispões de três possibilidades de inter-
execução de programas de protecção do
venção no prazo de três meses:
ambiente (artigo 175.°, n.° 3, do Tratado
CE), cooperação para o desenvolvimento
(artigo 179.° do Tratado CE), princípios 1) se o PE aprovar a posição comum do
gerais de acesso aos documentos (princí- Conselho ou sobre ela não se pronun-
pio geral da transparência, artigo 280.° do ciar nos três meses subsequentes, o acto
Tratado CE), apuramento estatístico (artigo correspondente à posição comum é
285.° do Tratado CE) e, por fim, criação de dado por aprovado;
uma instância independente a quem
caberá zelar pela protecção dos dados
(artigo 286.° do Tratado CE). 2) se o PE rejeitar em bloco a posição
comum (o que só é possível por maioria
A co-decisão é um processo que comporta absoluta dos deputados), o processo
as seguintes etapas: legislativo é dado por concluído, já que
deixou de haver a possibilidade de o
Primeira leitura: também na co-decisão o Conselho convocar o comité de conci-
ponto de partida é uma proposta da liação nestes casos;
80
3) se o PE introduzir alterações à posição Em caso de malogro do processo de conci-
comum do Conselho, aplica-se o liação, o acto proposto é tido por não
seguinte procedimento: aprovado e conclui-se o processo legisla-
tivo. As consequências deste malogro são
O Conselho pode aprovar a posição pois idênticas às da rejeição da posição
comum nos termos em que o PE a comum pelo Conselho ou pelo Parlamento
alterou, mas assim sendo deve aceitar em terceira leitura. Estas novas dispo-
todas as emendas propostas. Se rejeitar sições, que o Tratado de Amesterdão con-
algumas ou se a maioria necessária não sagrou, vieram pôr termo à prerrogativa do
for conseguida (por exemplo, a unani- Conselho de adoptar uma posição comum
midade quando a Comissão dá parecer não obstante o processo de conciliação
contrário às propostas de alteração do não ter resultado, caso em que o PE só
PE), o presidente do Conselho deve, de podia opor-se à adopção do acto por
acordo com o presidente do PE, convo- maioria absoluta dos deputados.
car o Comité de Conciliação, composto
por 15 representantes do Conselho e 15 O procedimento de co-decisão representa
do Parlamento, em plano de igualdade. um desafio para o Parlamento e simultane-
O objecto do procedimento de conci- amente abre-lhe novas perspectivas de
liação é a posição comum do intervenção. É certo que só poderá funcio-
Conselho, tal como alterada pelo nar eficazmente se o comité de conci-
Parlamento. Esta conciliação visa liação chegar a acordo. No entanto,
chegar a um compromisso viável, contém as premissas de uma transfor-
capaz de recolher as necessárias maio- mação fundamental das relações entre o
rias no Conselho e no PE. Parlamento e o Conselho. Pela primeira
vez, estas duas instituições estão num
Terceira leitura: se o Comité de plano de igualdade no processo legisla-
Conciliação aprovar um projecto comum, tivo. Cabe-lhes agora demonstrar que são
o PE e o Conselho dispõem de seis capazes de encontrar compromissos políti-
semanas para adoptar o acto em terceira cos e de se entenderem em torno de pro-
leitura. Independentemente do parecer da jectos comuns ao nível do comité de con-
Comissão sobre o projecto de compro- ciliação.
misso, é suficiente a maioria qualificada
do Conselho (salvo se no Tratado estiver O procedimento do parecer
prevista a unanimidade para o acto em favorável
causa). O PE pronuncia-se por maioria
absoluta dos votos expressos. O acto é É no âmbito deste procedimento que o
então tido por aprovado pelo Parlamento Parlamento participa mais de perto no
e pelo Conselho, o que aliás consta do res- processo legislativo comunitário.
pectivo título (por exemplo, regulamento Implica que um acto legislativo, para
do Parlamento Europeu e do Conselho). poder ser adoptado, seja aprovado pelo
81
Parlamento. Todavia, este procedimento Comissão. Neste contexto, a Comissão
não permite ao Parlamento influenciar pode formular recomendações e pare-
directamente o teor dos actos. Com efeito, ceres sempre que julgar oportuno
no âmbito deste procedimento, o PE não (artigo 211.°, segundo travessão, do
pode propor nem impor alterações, o seu Tratado CE, artigo 124.°, segundo pará-
papel limita-se a aprovar ou rejeitar o acto grafo, do Tratado CEEA). Em contrapar-
proposto. tida, no âmbito da CECA, só a
Comissão pode emitir pareceres.
Este procedimento aplica-se aos pedidos
de adesão à UE (artigo 49.° do Tratado
Procedimentos de adopção
UE), aos acordos de associação e outros
de medidas de execução
acordos fundamentais celebrados com
países terceiros (artigo 300.°, n.° 3,
segundo parágrafo, do Tratado CE), à con- O direito comunitário preceitua que o
cessão de atribuições específicas ao BCE Conselho atribui à Comissão, nos actos
(artigo 105.°, n.° 6, do Tratado CE), à alte- que adopta, as competências de exe-
ração dos Estatutos do SEBC (artigo 107.°, cução das normas que estabelece (artigo
n.° 5, do Tratado CE) e, por fim, à desig- 202.°, terceiro travessão, do Tratado CE).
nação do presidente da Comissão e dos No exercício dessas competências, a
outros membros do Colégio dos Comissão não pode, no entanto, alterar
Comissários (artigo 214.°, n.° 2, do Tratado nem completar os actos do Conselho que
CE). deve executar. O respeito das condições
gerais estabelecidas pelo Conselho é
garantido pelos comités chamados a
O procedimento simplificado intervir e cujos procedimentos decisórios
foram alterados em 1999, no intuito de
Nos termos deste procedimento, os actos atender a imperativos de simplificação,
de uma instituição comunitária são adop- transparência e, sobretudo, para reforçar
tados sem proposta prévia da Comissão. o papel do Parlamento. O número de
procedimentos no âmbito da «comito-
• Aplica-se essencialmente às medidas logia» passou de cinco para três. O
que a Comissão adopta no exercício Parlamento passou a estar associado a
das suas competências próprias (por todos os processos de adopção de
exemplo, aprovação de auxílios esta- medidas de execução relativas a um acto
tais); jurídico aprovado por co-decisão no
qual o PE desempenhou um papel deter-
• O procedimento simplificado é utili- minante. Nestes casos, o Parlamento
zado também para os actos não vincu- pode apresentar um parecer fundamen-
lativos, designadamente as recomen- tado estabelecendo que a medida em
dações e os pareceres do Conselho e da causa ultrapassa o âmbito do acto jurí-
82
dico em questão e obrigar a Comissão a Antes de adoptar as medidas que preco-
proceder às necessárias alterações. niza, a Comissão tem de consultar um
Acresce que a Comissão tem importantes comité de gestão composto de represen-
deveres de informação e notificação tantes dos Estados-Membros, o qual se
perante o Parlamento. Importa distinguir pronuncia por maioria qualificada (artigo
três procedimentos de «comitologia», 205.°, n.° 2, do Tratado CE). Se o acto a
sendo que cada acto menciona no res- que as medidas da Comissão se referem
pectivo articulado o procedimento aplicá- tiver sido adoptado pelo Parlamento e
vel. pelo Conselho no âmbito da co-decisão,
a Comissão submete à apreciação do
Comité Consultivo: o âmbito de apli- Parlamento as medidas em causa,
cação deste procedimento abrange devendo o PE verificar se a Comissão está
essencialmente as medidas necessárias de facto investida de competências de
para dar execução aos actos do Conselho execução no domínio em causa. Caso
relacionados com a realização do contrário, o PE elabora uma resolução
fundamentada, podendo a Comissão
mercado interno.
apresentar um novo projecto de medidas,
prosseguir o procedimento ou encarregar
O Comité Consultivo compõe-se de
o Parlamento e o Conselho de proceder
representantes dos Estados-Membros e é
às necessárias adaptações por meio de
presidido por um representante da
proposta adequada. A Comissão deve dar
Comissão.
conta ao PE e ao Conselho do seguimento
que entende dar à resolução do
O representante da Comissão apresenta
Parlamento, podendo aprovar as medidas
ao comité um projecto, devendo este pro-
propostas, com efeito imediato. Todavia,
nunciar-se no prazo estabelecido pela
se essas medidas não coincidirem com o
comissão em função da urgência da parecer do comité, a Comissão deve
questão em causa. A Comissão deverá, na notificar imediatamente o Conselho e
medida do possível, ter em conta o suspender a sua aplicação por um
parecer do comité, embora a tal não seja período máximo de três meses, durante o
obrigada. Dará conta da forma como qual o Conselho deve tomar uma decisão
atendeu às observações e alterações que final, por maioria qualificada.
este tiver apresentado.
Comité de Regulamentação: intervém
Comité de Gestão: este procedimento quando estão em causa medidas de
aplica-se designadamente para a adopção alcance geral destinadas a pôr em prática
de medidas de execução no âmbito da disposições essenciais do acto jurídico
política agrícola comum e das pescas ou em questão, designadamente medidas
ainda na implementação de programas relativas à protecção da saúde, à segu-
com importantes implicações orçamen- rança das pessoas, dos animais ou das
tais. plantas. 83
Este comité compõe-se de representantes (TJCE) e o Tribunal de Primeira Instância
dos Estados-Membros e pronuncia-se por (TPI), que o assiste. O TJCE é a instância
maioria qualificada sobre o projecto de suprema para todas as questões relativas à
medidas da Comissão. legislação comunitária e, juntamente com
o TPI, a única jurisdição neste domínio. O
sistema de protecção jurídica da CE pro-
Contrariamente ao que acontece nos pro- porciona as seguintes possibilidades de
cedimentos que envolvem comités de recurso.
gestão, neste caso a posição da Comissão
fica consideravelmente enfraquecida caso
a sua proposta seja rejeitada ou na falta de Acção por incumprimento
parecer do Comité. Quando assim acon- dos Tratados
tece, a Comissão não pode tomar medidas
(artigo 226.° do Tratado CE)
de aplicação imediata, deve propô-las ao
Conselho, dando conta do facto ao
Parlamento, que, por sua vez, verifica se a Este procedimento, da competência exclu-
proposta não excede os limites das com- siva do TJCE, aplica-se quando se consi-
dera que um Estado-Membro não cumpriu
petências de execução previstas no acto
as obrigações que lhe incumbem por força
jurídico a que as medidas se referem e
do direito comunitário. Tendo em conta a
informa o Conselho da sua posição. Cabe
gravidade da acusação, antes de recorrer
a este último, à luz da posição expressa
ao Tribunal de Justiça, existe um procedi-
pelo Parlamento, deliberar por maioria
mento preliminar nos termos do qual é
qualificada sobre a proposta da Comissão
dada oportunidade ao Estado-Membro em
no prazo máximo de três meses. Se o causa para apresentar as suas observações.
Conselho se opuser à proposta, a Se o litígio não ficar resolvido nessa fase, a
Comissão reexaminará a mesma, podendo Comissão ou um Estado-Membro podem
apresentar ao Conselho uma proposta alte- recorrer ao Tribunal de Justiça (artigo 227.°
rada, submeter de novo a sua proposta ou do Tratado). Na prática, a iniciativa parte
encarregar o Parlamento e o Conselho da quase sempre da Comissão. O Tribunal
adopção de medidas por meio de proposta instrui o processo e determina se existe ou
para o efeito. Se, uma vez terminado o não incumprimento. No caso de declarar
prazo, o Conselho não tiver tomado as verificado o incumprimento, o Estado-
medidas de aplicação propostas ou se não -Membro em causa deve tomar as medidas
se tiver expressamente manifestado contra, necessárias para se conformar com o
as medidas são adoptadas pela Comissão. direito comunitário. Se o referido Estado
não tomar as medidas necessárias para a
execução do acórdão, o Tratado da União
• O SISTEMA DE PROTECÇÃO Europeia prevê a possibilidade de o
JURÍDICA DA CE Tribunal o condenar ao pagamento de uma
quantia fixa ou progressiva correspon-
No cerne do sistema de protecção jurídica dente a uma sanção pecuniária (artigo
84 da Comunidade estão o Tribunal de Justiça 228.° do Tratado CE).
Recurso de anulação critério do efeito directo permite, por seu
(artigo 230.° do Tratado CE) lado, excluir a possibilidade das chamadas
«acções populares».
Trata-se de recursos para obter a anulação
de actos jurídicos do Conselho, da Se o recurso tiver fundamento, o Tribunal
Comissão, do Parlamento e do BCE. Os pode anular, com efeitos retroactivos, o
processos que implicam pessoas singula- acto em causa. Em certos casos, o TJCE ou
res ou empresas enquanto demandantes o TPI pode anulá-lo só a partir da data da
ou demandados devem ser iniciados no sentença. A fim de salvaguardar os direitos
TPI. Em contrapartida, os litígios entre ins- e os interesses das partes demandantes, às
tituições são tratados pelo TJCE. mesmas não se aplica a limitação de
efeitos de uma sentença de anulação.
O recurso de anulação tem por funda-
mento a não competência da instituição, Acção por omissão
a violação de formalidades essenciais, a (artigo 232.° do Tratado CE)
violação do direito primário ou do direito
derivado, o abuso de poder. O recurso Este tipo de acção completa a protecção
pode ser interposto por um Estado- jurídica face ao Conselho, à Comissão, ao
-Membro, pela Comissão ou pelo Parlamento e ao BCE, uma vez que dá a
Conselho. Também o PE, o Tribunal de possibilidade de acção judicial contra uma
Contas e o BCE podem apresentar recur- omissão ilegal de um acto comunitário. A
sos desta natureza sempre que estiverem repartição de competências entre o TJCE e
em causa direitos que lhes foram conferi- o TPI segue princípios análogos ao recurso
dos. Em contrapartida, os cidadãos e as de anulação. Antes de se poder interpor a
empresas da Comunidade só podem acção, existe um procedimento prévio nos
interpor recurso de anulação contra termos do qual o demandante deve convi-
decisões de que sejam destinatários ou dar a instituição em causa a agir. Uma
contra decisões que, embora dirigidas a acção deste tipo, quando interposta pelas
terceiros, lhes digam directa e individual- instituições, consiste em requerer que se
mente respeito. Nos termos da juris- verifique que o órgão em questão se
prudência do TJCE, uma pessoa só pode absteve, violando o Tratado, de adoptar
ser individual e directamente destinatária um acto comunitário. Quando o deman-
de uma decisão, se a mesma a individua- dante é uma pessoa singular ou colectiva,
lizar de uma forma que a distinga de o Tribunal de Justiça é instado a constatar
todos os outros agentes. Com este critério que uma das instituições da Comunidade,
do «efeito directo», garante-se que só violando o Tratado, não lhe dirigiu um
sejam submetidos ao TJCE ou ao TPI os acto jurídico (uma decisão). O acórdão do
casos em que esteja claramente estabele- Tribunal limita-se a constatar a ilegalidade
cido o prejuízo infligido ao demandante da omissão, já que o TJCE e o TPI não são
assim como a natureza desse prejuízo, o competentes para ordenar a adopção das
que se pode revelar problemático nos medidas necessárias. A parte vencida fica
casos em que os Estados-Membros ainda apenas obrigada a adoptar as medidas
não tenham transposto para o direito contidas na sentença do TJCE ou do TPI
85
interno os actos jurídicos comunitários. O (artigo 233.° do Tratado CE).
Acção de indemnização 2) tem de haver dano efectivo;
(artigos 235.° e 288.°, n.° 2,
do Tratado CE) 3) tem de haver nexo causal entre o acto da
instituição comunitária e o alegado dano;
Quaisquer pessoas singulares ou colecti-
4) não é necessário provar a culpa da ins-
vas ou os Estados-Membros, afectados
tituição.
pelos actos da CE ou dos seus agentes,
podem recorrer ao TPI (pessoas singulares
Recursos dos funcionários
e colectivas) e ao TJCE (Estados-Membros)
(artigo 236.° Tratado CE)
e solicitar indemnização dos danos causa-
dos. O Tratado só parcialmente regula as
O Tribunal de Primeira Instância é compe-
questões da responsabilidade da CE, a tente em matéria de litígios entre a Co-
qual é regulada pelo direito comum e, em munidade e os seus funcionários ou fami-
princípio, deferida aos órgãos jurisdicio- liares sobrevivos.
nais nacionais. O Tribunal desenvolveu
estes princípios na sua jurisprudência, Procedimento de recurso
tendo fixado as seguintes condições para (artigo 225.°, n.° 1, do Tratado CE,
que possa haver reparação de danos: artigos 110.° e seguintes do
Regulamento Processual do TJCE)
1) tem de haver comportamento ilícito por
parte de uma instituição comunitária ou As relações entre o TJCE e o TPI foram
de um agente da CE no exercício das concebidas de forma a que todas as
suas funções. Quando está em causa a decisões do TPI sejam passíveis de recurso
responsabilidade de uma instituição para o Tribunal de Justiça, limitado às
por um acto legislativo (regulamento ou questões de direito. Este recurso apenas
directiva) ilícito, não é suficiente alegar pode ter por fundamento a incompetência
o carácter ilícito do acto; é necessário do Tribunal de Primeira Instância, irregula-
que tenha sido violada de forma clara e ridades processuais que prejudiquem os
notória uma norma jurídica de ordem interesses do recorrente ou uma violação
superior destinada a proteger os direitos do direito comunitário pelo TPI. Se o
individuais. Não é fácil determinar recurso for procedente, o TJCE anula a
quais são os casos em que existe uma decisão do Tribunal de Primeira Instância.
violação suficientemente qualificada do Pode julgar definitivamente o litígio, se o
direito comunitário. O TJCE tem geral- mesmo estiver em condições de ser
mente em conta o número limitado de julgado, ou remeter o processo para o
pessoas afectadas pelo acto ilícito em Tribunal de Primeira Instância para julga-
questão e o nível do dano alegado, que mento. Se assim for, o TPI fica vinculado à
tem de exceder o risco comercial espe- solução dada às questões de direito pela
rado no sector económico em causa; decisão do Tribunal de Justiça.
86
87
Protecção jurídica provisória dar de imediato execução às medidas e
(artigos 242.° e 243.° do Tratado CE) com os inconvenientes para terceiros
da aplicação de medidas provisórias.
As acções intentadas no TJCE e no TPI,
bem como os recursos das decisões deste Pedido de decisão prejudicial
último órgão jurisdicional não têm efeito (artigo 234.° do Tratado CE)
suspensivo. Nada impede, porém, que o
Tribunal de Justiça ordene a suspensão da O pedido de decisão prejudicial, ou
execução do acto impugnado (artigo 242.° reenvio prejudicial, destina-se a propor-
do Tratado CE) ou ordene as necessárias cionar aos órgãos jurisdicionais nacionais
medidas provisórias (artigo 243.° do a possibilidade de recorrerem ao Tribunal
Tratado CE). de Justiça para esclarecerem questões de
direito comunitário. Sempre que uma
Na prática, o fundamento de um pedido questão desta natureza seja suscitada num
de medidas provisórias é determinado à órgão jurisdicional nacional, esse órgão
luz dos critérios seguintes: pode suspender a instância e submeter ao
Tribunal de Justiça a questão da validade e
1) a probabilidade da existência de um da interpretação do acto à luz dos tratados
direito (Fumum boni juris): à instância comunitários. A questão assim formulada
competente cabe avaliar essa probabili- pelo tribunal nacional é submetida ao
dade, a partir de um estudo sumário dos TJCE, que responde com um acórdão, e
argumentos do recorrente; não com um mero parecer, a fim de
sublinhar, também pela forma, o carácter
2) a urgência da decisão: é determinada vinculativo da sua decisão. Não obstante,
consoante a decisão solicitada se o reenvio prejudicial não é um processo
destina ou não a evitar aos recorrente contencioso destinado a resolver um litígio
danos graves e irreparáveis. Os critérios como os outros procedimentos já descri-
aplicados são a natureza e a gravidade tos, representa apenas um elemento de um
da infracção, assim como o prejuízo processo global que começa e termina
concreto e definitivo em relação à pro- perante um tribunal nacional.
priedade ou a outros bens do recor-
rente. Considera-se que um prejuízo Objectivo: garantir a interpretação uni-
financeiro é grave e irreparável, sempre forme do direito comunitário e com ela a
que o mesmo não possa ser integral- unidade da ordem jurídica comunitária.
mente reparado, mesmo se o recorrente Este procedimento desempenha também
obtiver ganho de causa; um importante papel na protecção dos
direitos individuais. Para que os tribunais
3) equilíbrio dos interesses: os inconve- nacionais possam verificar a conformidade
nientes para o recorrente se não forem da legislação nacional com o direito
decretadas medidas provisórias são comunitário e, em caso de incompatibili-
88 comparados com o interesse da CE em dade, fazer primar o direito comunitário
directamente aplicável, é preciso que o receber tais questões prejudiciais, estas
conteúdo e o alcance das disposições não são pura e simplesmente rejeitadas,
comunitárias estejam claramente defini- sendo antes interpretadas pelo TJCE, já que
dos. Regra geral, só um pedido de decisão o tribunal que decide um reenvio o que
prejudicial pode garantir essa clareza, pelo pretende é conhecer os critérios de inter-
que este procedimento permite também ao pretação da legislação comunitária perti-
cidadão da Comunidade opor-se a acções nente para poder avaliar autonomamente
do seu país contrárias à legislação comuni- a compatibilidade entre a legislação
tária e conseguir a aplicação desta última nacional em questão e a legislação comu-
perante os órgãos jurisdicionais nacionais. nitária. O TJCE aproveita a ocasião para, a
Esta dupla função da decisão prejudicial partir da documentação fornecida, desig-
compensa de certa forma as reduzidas nadamente a fundamentação do reenvio,
possibilidades de os particulares instarem identificar as disposições de direito comu-
directamente o TJCE e reveste importância nitário que carecem de interpretação no
crucial para a protecção jurídica das contexto do litígio em questão.
pessoas singulares. Todavia, para que dê
resultado, os juízes e os tribunais nacio- Capacidade para introduzir um pedido de
nais devem estar «dispostos» a submeter a decisão a título prejudicial: são competen-
questão ao TJCE. tes para introduzir pedidos de decisão a
título prejudicial os «órgãos jurisdicionais
Extensão do pedido de decisão prejudi- dos Estados-Membros». O sentido e o
cial: o TJCE decide sobre a interpretação alcance do conceito de jurisdição deve ser
do direito comunitário e controla a vali- definido de acordo com valores próprios
dade dos actos jurídicos das instituições do direito comunitário e não em função
comunitárias e do Banco Central Europeu. dos dados da ordem jurídica interna do
As disposições de direito interno não Estado reenviante. São os todos os órgãos
podem ser objecto de reenvio prejudicial. independentes a quem compete resolver
No âmbito deste procedimento, o TJCE os litígios num Estado de direito. Em con-
não é competente para interpretar o direito sequência, os tribunais constitucionais dos
nacional nem para decidir da respectiva Estados-Membros e as instâncias de arbi-
conformidade com o direito comunitário. tragem que não integram o sistema judi-
Este aspecto é frequentemente negligen- ciário — com excepção dos tribunais de
ciado nos pedidos de decisão prejudicial arbitragem privados — também são com-
dirigidos ao TJCE. Com efeito, inúmeros petentes para decidir de um reenvio preju-
são os casos em que se interpela o TJCE dicial. Um juiz nacional fará uso do seu
sobre a conformidade de uma disposição direito de decisão de reenvio prejudicial
nacional com uma disposição comunitária em função da pertinência das questões de
ou sobre a aplicabilidade de uma dispo- direito comunitário para a decisão a tomar
sição comunitária específica a um pro- no processo principal, sendo essa decisão
cesso tramitado num órgão jurisdicional da sua exclusiva responsabilidade. As
nacional. Embora o TJCE não possa partes no litígio apenas podem formular 89
observações. O Tribunal de Justiça apenas cial. Entende-se neste contexto todas as
verifica a pertinência das questões para a vias de recurso que permitam verificar
decisão final para efeitos de controlo da questões de facto e de direito ou só de
respectiva admissibilidade, isto é, para se direito. Não se incluem aqui os recursos
certificar de que a questão jacente incide ordinários com efeitos limitados ou especí-
verdadeiramente sobre a interpretação do ficos (revisão, verificação da constitucio-
Tratado CE ou sobre a validade de um acto nalidade). O tribunal obrigado a submeter
emanado de uma instituição comunitária, um pedido de reenvio prejudicial só pode
ou ainda para aferir da presença efectiva subtrair-se a essa obrigação se a questão
de um litígio jurídico, isto é, se os pontos prejudicial não for relevante para a
sobre os quais o TJCE é chamado a pro- solução do litígio, se já foi objecto de um
nunciar-se a título prejudicial não são acórdão do TJCE ou ainda se não subsistir
apenas hipotéticos ou abstractos tendentes qualquer dúvida quanto à interpretação de
a induzir o TJCE a dar um parecer através uma disposição de direito comunitário. Em
de uma decisão prejudicial. É raro que o contrapartida, se um tribunal nacional pre-
TJCE se recuse a apreciar um reenvio invo- tender invocar a invalidade de um acto
cando esta ordem de motivos, já que, dada comunitário, é obrigado a introduzir um
a importância da cooperação entre as pedido de reenvio prejudicial. Neste con-
autoridades judiciárias que o Tratado CE texto, o TJCE estabeleceu claramente que
consagra, o TJCE age neste domínio com detém competência exclusiva para rejeitar
uma certa contenção. Todavia, a juris- disposições inválidas do direito comunitá-
prudência recente demonstra que o TJCE rio. Em consequência, os órgãos jurisdicio-
dá agora provas de maior rigor em matéria nais nacionais devem aplicar e respeitar as
de admissibilidade dos pedidos de decisão disposições comunitárias enquanto o TJCE
a título prejudicial, na medida em que não tiver decidido da respectiva invali-
aplica à letra o requisito já mencionado de dade. Admite-se uma excepção para os tri-
que o reenvio prejudicial deve comportar bunais no âmbito da protecção jurídica
uma descrição suficientemente clara e provisória. Nos termos de jurisprudência
pormenorizada das questões de facto e de recente do TJCE, estes tribunais podem,
direito do processo inicial. Na falta de tais sob certas condições, suspender a exe-
informações, o TJCE declara-se incompe- cução de actos administrativos nacionais
tente para proceder a uma interpretação decorrentes de um regulamento comunitá-
correcta da legislação comunitária e inde- rio ou tomar medidas provisórias a fim de
fere o pedido. previamente decidirem sobre situações ou
relações jurídicas litigiosas sem ter em
Obrigatoriedade de introdução de um conta uma disposição jurídica comunitá-
pedido de decisão a título prejudicial: ria.
qualquer tribunal cujas decisões não
sejam passíveis de recurso judicial previsto Qualquer violação da obrigação de
no direito interno está obrigado a introdu- reenvio implica simultaneamente uma vio-
90 zir um pedido de decisão a título prejudi- lação do Tratado CE e pode levar à propo-
situra de uma acção por incumprimento. direito comunitário que lhe são imputáveis
Na prática, as consequências de uma tal foi reconhecido pelo TJCE no acórdão de 5
acção permanecem circunscritas na de Março de 1996, nos processos apensos
medida em que o governo do Estado- C-46/93, «Brasserie du pêcheur», e C-
-Membro em causa não pode dar segui- -48/93, «Factortame». Este acórdão ins-
mento a uma eventual condenação do creve-se na linha dos anteriores acórdãos
TJCE, já que não pode dar instruções às pronunciados pelo TJCE em matéria de
instâncias jurisdicionais nacionais, por primado do direito comunitário, aplicabili-
força do princípio da independência do dade directa das disposições do direito
poder judicial e da separação dos poderes. comunitário e reconhecimento dos direitos
As possibilidades de êxito são todavia mais fundamentais próprios da Comunidade.
importantes desde que foi reconhecido o Conforme referiu o TJCE, o direito à repa-
princípio da responsabilidade contratual ração dos danos «constitui o corolário
dos Estados-Membros em caso de violação necessário do efeito directo reconhecido às
do direito comunitário (ver ponto disposições comunitárias cuja violação
seguinte), que permite que sejam intenta- estiver na origem do dano causado» e
reforça consideravelmente as possibilida-
das acções de indemnização por danos
des de que os particulares dispõem para
susceptíveis de resultarem do desrespeito
obrigar as autoridades nacionais (executi-
pelo Estado-Membro da obrigação de
vas, legislativas e judiciais) a respeitar e
reenvio.
aplicar a legislação comunitária. O TJCE
desenvolveu assim a jurisprudência ini-
Efeitos do reenvio prejudicial: a decisão ciada com os acórdãos «Francovich» e
prejudicial, que assume a forma de uma «Bonifaci». Ao passo que estes acórdãos
sentença, obriga o órgão jurisdicional que circunscreviam a responsabilidade dos
introduziu o pedido de decisão a título Estados-Membros aos casos em que parti-
prejudicial assim como as outras instân- culares tinham sofrido danos em razão de
cias envolvidas no litígio. Acresce que, na uma transposição tardia de uma directiva
prática, as decisões prejudiciais funcio- que lhes reconhecia direitos subjectivos
nam como precedentes para outros pro- mas da qual não eram destinatários direc-
cessos similares. tos, o acórdão mais recente estabelece o
princípio da responsabilidade geral, que
inclui todas as violações do direito comu-
• A RESPONSABILIDADE nitário imputáveis ao Estado-Membro.
DO ESTADO-MEMBRO
POR VIOLAÇÕES Responsabilidade por actos
DO DIREITO COMUNITÁRIO normativos ou omissões
do Estado-Membro
O princípio da responsabilidade de um
Estado-Membro pelos danos causados aos Esta responsabilidade é reconhecida
particulares em virtude de violações do sempre que estão reunidas três condições, 91
que em si correspondem às que se aplicam cientemente caracterizada, quando esta
à Comissão, numa situação análoga: perdurou, apesar de ter sido proferido
um acórdão em que se reconhecia o
1) a disposição comunitária violada deve incumprimento imputado ou um
ter por objecto o reconhecimento de acórdão num reenvio prejudicial, ou
direitos aos particulares; apesar de existir uma jurisprudência
bem assente do Tribunal de Justiça na
2) a violação deve ser suficientemente matéria, dos quais resulte o carácter
caracterizada, sendo o critério decisivo ilícito do comportamento em causa»;
para considerar que ela se verificou o
da violação manifesta e grave, por um 3) tem de existir um nexo causal directo
Estado-Membro, dos limites que se entre a violação da obrigação que
impõem ao seu poder de apreciação. incumbe ao Estado-Membro e o dano
Esta apreciação incumbe aos órgãos sofrido pelas pessoas lesadas. Não é
indispensável a presença de culpa
jurisdicionais nacionais, pois só eles
grave (intencional ou por negligência)
são competentes para estabelecer os
que ultrapasse a violação suficiente-
factos e caracterizar as violações do mente caracterizada do direito comuni-
direito comunitário em causa. No seu tário.
acórdão, o TJCE formula algumas orien-
tações fundamentais destinadas às juris- Responsabilidade por violação
dições nacionais: do direito comunitário
pelo poder judicial
«… entre os elementos que o órgão
jurisdicional competente pode ser O TJCE estabeleceu inequivocamente que
levado a tomar em consideração, os princípios da responsabilidade também
figuram o grau de clareza e de precisão se aplicam ao terceiro poder, o poder judi-
da regra violada, o âmbito da margem cial. As decisões que dele emanam podem
de apreciação que a regra violada deixa ser apreciadas pelas diferentes instâncias
às autoridades nacionais ou comunitá- de recurso, bem como — na medida em
rias, o carácter intencional ou involun- que tiverem sido proferidas em desrespeito
ou violação das normas do direito comuni-
tário do incumprimento verificado ou
tário — no âmbito de uma acção de
do prejuízo causado, o carácter descul-
indemnização interposta junto dos órgãos
pável ou não de um eventual erro de
jurisdicionais competentes dos Estados-
direito, o facto de as atitudes adoptadas
-Membros. Quando se procede ao apura-
por uma instituição comunitária terem mento da violação do direito comunitário
podido contribuir para a omissão, a através da sentença em questão, é neces-
adopção ou a manutenção de medidas sário reexaminar as questões materiais ati-
ou práticas nacionais contrárias ao nentes à legislação comunitária, sem que o
direito comunitário. De qualquer tribunal competente possa invocar even-
modo, encontramo-nos perante uma tuais efeitos vinculativos da sentença no
92
violação do direito comunitário sufi- mérito da questão. A instância para a qual
os órgãos jurisdicionais nacionais compe- posições nacionais em matéria de respon-
tentes podem recorrer para quaisquer sabilidade e o direito comunitário é de
questões de interpretação e/ou de apre- novo o TJCE, que pode ser demandado no
ciação da validade das disposições comu- âmbito de um reenvio prejudicial (artigo
nitárias ou de compatibilidade entre as dis- 234.° do Tratado CE).

93
O DIREITO COMUNITÁRIO
NO CONJUNTO DO SISTEMA JURÍDICO

desvirtuado pela interacção com o


T endo em conta tudo o que vimos até
agora sobre a estrutura da CE e a sua
ordem jurídica, não é fácil determinar a
direito nacional e de que será aplicável
uniformemente em toda a Comunidade.
posição do direito comunitário no con- Por isso, os conceitos jurídicos comuni-
junto do sistema jurídico e estabelecer as tários são interpretados fundamental-
suas fronteiras com as outras ordens jurídi- mente à luz das exigências do direito
cas. Duas tentativas de classificação são comunitário e dos objectivos da
de rejeitar a priori: a que considera o Comunidade. Esta determinação especi-
direito comunitário como sendo apenas ficamente comunitária dos conceitos é
um conjunto de acordos entre Estados e a imprescindível, uma vez que os direitos
que o vê como parte ou apêndice dos sis- garantidos pela ordem jurídica da
temas jurídicos nacionais. Comunidade poderiam estar em perigo
se os Estados pudessem ter a última
• A AUTONOMIA DA ORDEM palavra para decidir, segundo as diversas
JURÍDICA COMUNITÁRIA interpretações que fizessem das dispo-
sições comunitárias, quanto às liberda-
Ao instituírem a Comunidade, os Estados- des instituídas pelo direito comunitário.
-Membros limitaram os seus poderes legis- Analisemos, por exemplo, o conceito de
lativos soberanos e criaram um sistema «trabalhador», que determina o alcance
jurídico independente que os vincula, tal do direito à liberdade de circulação. O
como aos seus nacionais. conceito especificamente comunitário de
«trabalhador» pode perfeitamente não
O Tribunal de Justiça já tinha chegado a corresponder inteiramente ao utilizado
idênticas constatações no célebre acórdão na ordem jurídica de um ou outro
Costa/Enel, proferido em 1964, ao qual já Estado-Membro. Acresce que os actos
foi feita referência no presente texto. No comunitários são exclusivamente avalia-
processo em questão, Flaminio Costa dos à luz do direito comunitário e não do
opusera-se à nacionalização da produção direito nacional ou constitucional.
e da distribuição de electricidade em Itália
e à transferência do património das empre- Assim, perante esta noção de autonomia
sas do sector para a sociedade ENEL. da ordem jurídica comunitária, como
descrever a relação entre direito comuni-
A autonomia da ordem jurídica comuni- tário e direito nacional?
tária tem um significado fundamental
para a CE, pois constitui a única garantia Mesmo apresentando-se o direito comu-
94 de que o direito comunitário não será nitário como uma ordem jurídica inde-
pendente das ordens jurídicas dos • A INTERACÇÃO ENTRE
Estados-Membros, não se julgue que O DIREITO COMUNITÁRIO
aquela e estas se sobrepõem. Contra esta E O DIREITO NACIONAL
visão limitada da realidade existem dois
argumentos: por um lado, o facto de um Este aspecto das relações entre direito
mesmo indivíduo reunir em si as qualida- comunitário e direito nacional abrange os
des de cidadão de um Estado e de domínios em que ambos se completam
cidadão da Comunidade; por outro lado, mutuamente. O artigo 10.° do Tratado CE
um tal entendimento esqueceria que o ilustra bem esta relação:
direito comunitário só tem significado se
for aceite nas ordens jurídicas dos «Os Estados-Membros tomarão todas as
Estados-Membros. A ordem jurídica medidas gerais ou especiais capazes de
comunitária e as ordens jurídicas nacio- assegurar o cumprimento das obrigações
nais são, na verdade, interdependentes. 95
decorrentes do presente Tratado ou resul-
tantes de actos das instituições da com carácter vinculativo o resultado a
Comunidade. Os Estados-Membros facili- alcançar pelo Estado-Membro. São as
tarão à Comunidade o cumprimento da autoridades nacionais, através da apli-
sua missão. cação do direito nacional, que decidem
acerca dos meios e da forma para o
Os Estados-Membros abster-se-ão de alcançar efectivamente. No âmbito judi-
tomar quaisquer medidas susceptíveis de cial, ambos os sistemas estão estreitamente
pôr em perigo a realização dos objectivos interligados através do processo de
do presente Tratado.» decisão prejudicial previsto no artigo
234.° do Tratado CE, nos termos do qual os
A formulação deste princípio geral ficou a órgãos jurisdicionais nacionais podem (ou
dever-se ao facto de haver consciência de devem, em alguns casos) pedir ao TJCE
que a ordem jurídica comunitária não tem uma decisão prejudicial quanto à interpre-
condições para realizar por si só os objec- tação ou à validade do direito comunitá-
tivos da Comunidade. Ao contrário das rio. A decisão prejudicial demonstra que,
outras ordens jurídicas nacionais, não por um lado, também os órgãos jurisdicio-
constitui um sistema auto-suficiente, pois nais dos Estados-Membros são obrigados a
depende dos sistemas nacionais para a sua respeitar e aplicar o direito comunitário e,
aplicação. Todos os órgãos estatais legisla- por outro, que a interpretação e a decisão
tivos, executivos (incluindo as adminis- quanto à validade do direito comunitário
trações) e judiciais têm pois de reconhecer compete exclusivamente ao TJCE. A
que a ordem jurídica comunitária não é interdependência entre as ordens jurídicas
um sistema «externo» ou «estrangeiro» e comunitárias e nacionais também é ilus-
que os Estados-Membros e as instituições trada pelos casos em que é necessário col-
comunitárias pertencem solidariamente a matar lacunas da ordem jurídica comuni-
um todo indissolúvel destinado a alcançar tária. É o que sucede quando o direito
objectivos comuns. A CE não é apenas comunitário recorre, para completar as
uma comunidade de interesses, é também suas próprias normas, à regulamentação já
uma comunidade solidária. Consequen- existente nas ordens jurídicas dos Estados-
temente, as autoridades nacionais devem -Membros. Assim, pode-se afirmar que
não só respeitar os Tratados comunitários e cada norma comunitária está, em certa
as normas de execução emanadas das ins- medida, dependente da correspondente
tituições comunitárias, mas também norma jurídica nacional. De facto, este
aplicá-los e dar-lhes vida. A interacção princípio aplica-se a todos os aspectos da
entre direito comunitário e direito nacio- execução do direito comunitário, sempre
nal assume aspectos tão multifacetados que este não estabeleça as suas próprias
que vale a pena dar alguns exemplos. normas de execução. Nesses casos, as
autoridades nacionais aplicam o direito
A principal ilustração desta interacção é o comunitário segundo as normas materiais
mecanismo da directiva, já tratado em e formais do seu próprio direito nacional.
96 capítulo anterior. A directiva apenas fixa Obviamente, este princípio está condicio-
nado pela exigência de assegurar a unifor- Um dos grandes méritos do Tribunal de
midade na aplicação do direito comunitá- Justiça das Comunidades Europeias é o de
rio, uma vez que seria inaceitável que os ter reconhecido a aplicabilidade directa
agentes económicos fossem objecto de tra- das disposições de direito comunitário,
tamentos diferentes, donde potencial- apesar da resistência inicial de determina-
mente injustos. dos Estados-Membros, e de ter consoli-
dado assim a existência da ordem jurídica
• CONFLITO ENTRE O DIREITO comunitária. O ponto de partida para esta
COMUNITÁRIO E O DIREITO jurisprudência foi o já referido processo
NACIONAL que envolveu a empresa neerlandesa Van
Gend & Loos, que intentou uma acção
As relações entre o direito comunitário e o junto dos tribunais neerlandeses contra a
direito nacional caracterizam-se igual- administração das alfândegas do seu país,
mente pelo facto de a ordem jurídica por esta pretender cobrar um direito adua-
comunitária «chocar» por vezes com as neiro mais alto na importação de um
ordens jurídicas nacionais. Fala-se então produto químico da República Federal da
em conflito entre o direito comunitário e o Alemanha. A resolução deste litígio depen-
direito nacional. Uma situação como esta dia de se saber se um particular podia
surge sempre que uma disposição comu- invocar o disposto no artigo 12.° do
nitária cria para os cidadãos direitos e Tratado CEE (entretanto, artigo 25.° do
obrigações directos cujo conteúdo está Tratado CE), que proíbe expressamente a
em contradição com uma norma de introdução de novos direitos aduaneiros
direito nacional. Perante este problema, ou o aumento dos existentes. O Tribunal
aparentemente simples, surgem duas pronunciou-se, contra o parecer de vários
questões fundamentais da organização da governos e do seu advogado-geral, pela
CE, cuja solução constitui a pedra de aplicabilidade imediata das disposições
toque da ordem jurídica comunitária: a comunitárias, tendo em conta a natureza e
aplicabilidade directa do direito comuni- os objectivos da Comunidade. Na funda-
tário e o primado do direito comunitário mentação do respectivo acórdão, lê-se:
sobre o direito nacional que lhe é contrá-
rio. «… que a Comunidade constitui uma nova
ordem jurídica (...) cujos sujeitos são não
A aplicabilidade directa do direito só os Estados-Membros, mas também os
comunitário seus nacionais. Por conseguinte, o direito
comunitário, independente da legislação
A aplicabilidade directa do direito comu- dos Estados-Membros, tal como impõe
nitário significa apenas que o direito obrigações aos particulares, também lhes
comunitário cria obrigações e confere atribui direitos que entram na sua esfera
direitos, não só para as instituições da CE jurídica. Tais direitos nascem não só
e os Estados-Membros mas também para quando é feita uma atribuição expressa
os cidadãos da Comunidade. pelo Tratado, mas também como contra- 97
partida de obrigações impostas pelos No que se refere às garantias de livre
Tratados de forma bem definida, quer aos circulação, o Tribunal pronunciou-se a
particulares quer aos Estados-Membros favor das sua aplicabilidade directa no
quer às instituições comunitárias.» processo Van Duyn. Em causa estavam
o seguintes factos: em Maio de 1973, a
Resta porém saber quais são as dispo- Sr. a Van Duyn, cidadã neerlandesa, viu
sições do direito comunitário que são ser-lhe recusada a entrada no Reino
directamente aplicáveis. O TJCE come- Unido por aí querer trabalhar como
çou por examinar esta questão à luz do secretária na «Igreja da Cientologia»,
direito comunitário primário, tendo esta- uma organização que o Ministério do
belecido que todas as disposições dos Tra- Interior britânico considerava «social-
tados que instituem as Comunidades mente perigosa». Invocando as dispo-
Europeias podem ser directamente aplicá- sições do direito comunitário sobre
veis aos nacionais dos Estados-Membros livre circulação, a Sr. a Van Duyn solici-
sempre que: 1) são formuladas sem reser- tou ao High Court que confirmasse o
vas; 2) são auto-suficientes e juridica- seu direito de residência no Reino
mente perfeitas e, por estas razões; 3) não Unido para aí exercer uma actividade
necessitam de qualquer acção dos profissional por conta de outrem e, que
Estados-Membros ou das instituições para tal lhe fosse dada autorização para
comunitárias para a sua execução e eficá- entrar no país. Instado pelo High Court,
cia. no âmbito de um reenvio prejudicial, o
TJCE declarou que o artigo 39.° do
Foi o que o Tribunal decidiu quanto ao ex- Tratado CE era directamente aplicável e
-artigo 12.° do Tratado CEE. A empresa conferia aos particulares direitos que as
«Van Gend & Loos» podia basear-se neste jurisdições nacionais deviam salvaguar-
artigo para fazer valer os seus direitos, que dar.
o tribunal neerlandês tinha que salvaguar-
dar e, consequentemente, tinha de consi- O TJCE foi instado pelo Conselho de
derar ilícito o aumento do direito de Estado belga relativamente à aplicabili-
importação, por contrário à disposição do dade directa do princípio da liberdade
Tratado. Esta jurisprudência foi mais tarde de estabelecimento, em relação ao qual
desenvolvida pelo Tribunal de Justiça para este último tinha sido chamado a pro-
outras disposições do Tratado CEE que são nunciar-se numa acção interposta pelo
para o cidadão da Comunidade muito advogado neerlandês J. Reyners, em
mais importantes do que o artigo 12.° do que este invocava os seus direitos deco-
Tratado CEE, sendo de salientar os rrentes do disposto no artigo 43.° do
acórdãos relativos à aplicabilidade directa Tratado CE. Este advogado viu-se obri-
do artigo 39.° (livre circulação), do artigo gado a intentar esta acção na sequência
43.° (liberdade de estabelecimento) e do de lhe ter sido recusada autorização
artigo 49.° (livre prestação de serviços) do para exercer advocacia na Bélgica, em
98 Tratado CE. razão da sua nacionalidade, apesar de
ter passado os exames necessários na da aplicabilidade directa do princípio da
Bélgica. No seu acórdão de 21 de Julho livre circulação de mercadorias (artigo
de 1974, o Tribunal de Justiça estabele- 28.° do Tratado CE), do princípio da
ceu que uma desigualdade de trata- igualdade de remuneração entre homens
mento entre nacionais e estrangeiros e mulheres (artigo 141.° do Tratado CE),
em matéria de direito de estabeleci- da proibição de qualquer forma de dis-
mento não se podia manter após o criminação (artigo 12.° do Tratado CE) e
período de transição, pois a partir daí o da livre concorrência (artigo 81.° do
artigo 43.° do Tratado CEE era de apli- Tratado CE). No domínio do direito deri-
cação directa e conferia aos cidadãos vado, a questão da aplicabilidade directa
comunitários o direito de acesso a uma coloca-se em relação às directivas (reco-
profissão e o direito de a exercer noutro mendações CECA) e às decisões cujos
Estado-Membro como qualquer nacio- destinatários são os Estados-Membros,
nal desse Estado. Com fundamento uma vez que os regulamentos (decisões
neste acórdão, o Sr. Reyners foi autori- gerais CECA) e as decisões cujos destina-
zado a exercer a sua actividade profis- tários são pessoas singulares ou colecti-
sional de advogado na Bélgica. vas (decisões individuais CECA) são já
directamente aplicáveis por força dos Tra-
O Tribunal de Justiça teve ocasião de se tados (artigo 249.°, n.os 2 e 4, do Tratado
pronunciar sobre a aplicabilidade CE, artigo 14.° do Tratado CECA). Desde
directa do princípio da livre prestação 1970, o TJCE tornou o princípio da apli-
de serviços no âmbito do processo «Van cabilidade directa extensível às dispo-
Binsbergen». Tratava-se, nomeada- sições das directivas e às decisões dirigi-
mente, de saber se uma disposição legal das aos Estados-Membros.
neerlandesa, por força da qual só os resi-
dentes nos Países Baixos podiam intervir Nunca será de mais salientar a importân-
como mandatários ad litem junto de um cia prática da aplicabilidade directa do
órgãos jurisdicional de recurso, era com- direito comunitário, tal como tem sido
patível com as disposições comunitárias reconhecida pelo Tribunal de Justiça:
relativas à livre prestação de serviços. O reforça a posição dos cidadãos, na medida
Tribunal de Justiça respondeu pela nega- em que transforma as liberdades previstas
tiva, fundamentando-se no facto de con- no mercado comum em direitos que
siderar que todas as restrições à liber- podem ser invocados perante os tribunais
dade de estabelecimento a que um nacionais. A aplicabilidade directa é, por
cidadão da Comunidade estivesse assim dizer, uma das traves-mestras em
sujeito em razão da nacionalidade que assenta a ordem jurídica comunitária.
seriam contrárias ao artigo 49.° do
Tratado CE e, por isso, nulas. O primado do direito comunitário

Importa igualmente sublinhar a grande A aplicabilidade directa de uma norma


importância prática do reconhecimento comunitária suscita uma outra questão 99
igualmente fundamental: o que acontece Doutro modo, o que restaria do direito
quando uma disposição comunitária que comunitário se o pretendêssemos
estabelece direitos e obrigações directa- subordinar ao direito nacional? Quase
mente para os cidadãos é incompatível nada! As disposições comunitárias
com uma norma de direito nacional? podiam ser anuladas por qualquer lei
nacional e, assim, estaria igualmente
Tal conflito apenas se resolve se uma das excluída a sua aplicação uniforme nos
normas ceder perante a outra. O direito vários Estados-Membros. Outra conse-
comunitário escrito não contém qualquer quência seria a impossibilidade de a
disposição nesta matéria. Em nenhum dos Comunidade cumprir as tarefas que lhe
Tratados existe uma regra que determine foram cometidas pelos Estados-
qual deve ceder, se o direito comunitário -Membros. O funcionamento da CE
se o direito nacional. O conflito entre estes seria posto em causa e a construção de
dois direitos só pode ser resolvido na uma Europa unida, portadora de
medida em que for dado ao direito comu- grandes esperanças, estaria definitiva-
100 nitário o primado sobre o direito nacional. mente comprometida.
Um problema desta natureza não existe No já mencionado acórdão Costa/ENEL o
nas relações entre direito internacional Tribunal de Justiça formulou duas conside-
e direito nacional. Uma vez que o rações muito significativas no tocante às
direito internacional deve ser integrado relações entre o direito comunitário e o
ou transposto para o direito interno direito nacional:
para poder fazer parte da ordem jurí-
dica de um país, a questão do primado 1. os Estados-Membros transferiram de
resolve-se exclusivamente na base do forma definitiva para uma Comunidade
direito interno. Consoante o lugar que o por eles criada certos direitos soberanos.
direito nacional reconhece ao direito Os referidos Estados não podem voltar
internacional, este último pode primar atrás em relação a essa transferência,
sobre o direito constitucional, ser colo- através de medidas unilaterais incompa-
cado entre o direito constitucional e o tíveis com o conceito de «Comunidade»;
direito comum ou ao mesmo nível que
o direito comum. As relações entre a 2. o Tratado estabelece como princípio fun-
legislação internacional integrada ou damental que um Estado-Membro não
transposta e a legislação nacional pode pôr em causa a particularidade que
regem-se pelo princípio do primado das tem o direito comunitário de se impor
disposições mais recentes sobre as mais uniforme e completamente no conjunto
antigas («lex posterior derogat legi da Comunidade.
priori»). Estas disposições nacionais
que regem os conflitos entre normas Resulta destas considerações que o direito
jurídicas não se aplicam às relações comunitário, criado por força dos poderes
com a legislação comunitária, já que previstos nos Tratados, tem o primado sobre
esta não é parte integrante da legislação toda e qualquer norma jurídica de direito
nacional. Em consequência, qualquer nacional a ele contrária. Prevalece não só
conflito entre a legislação comunitária sobre a legislação anterior, mas também
e a legislação nacional deve ser resol- sobre todos os actos legislativos ulteriores.
vido com base na ordem jurídica comu-
nitária. Em síntese, o TJCE, quando proferiu o
acórdão Costa/Enel, não pôs em causa a
Prevendo estas consequências, o nacionalização do sector da electricidade
Tribunal de Justiça reconheceu o princí- em Itália, mas estabeleceu sem equívoco o
pio do primado do direito comunitário primado do direito comunitário sobre o
sobre o direito nacional, fazendo-o, no direito nacional.
entanto, contra o parecer de alguns
Estados-Membros. Dotou assim a A consequência jurídica deste princípio do
ordem jurídica comunitária de uma primado é que, em caso de conflito entre
segunda trave-mestra, depois da aplica- leis, a disposição nacional contrária à dis-
bilidade directa, transformando-a defi- posição comunitária deixa de ser aplicável
nitivamente num edifício sólido. e não podem ser introduzidas disposições 101
de direito interno contrárias à legislação Tribunal Constitucional alemão deixou
comunitária. claro que não «renunciava» à sua com-
petência jurisdicional no que se refere à
O Tribunal de Justiça manteve-se fiel a aplicação do direito comunitário deri-
estes princípios na sua jurisprudência vado na Alemanha, que exerceria esta
posterior. Num ponto, contudo, desenvol- competência exclusivamente «em coope-
veu-a. Assim, embora no acórdão citado ração» com o Tribunal de Justiça das
supra o Tribunal se tenha apenas pronun- Comunidades Europeias, este último
ciado em relação ao primado do direito competente para garantir a protecção dos
comunitário sobre as leis nacionais, direitos fundamentais de todos na
afirmou também o princípio do primado Comunidade, enquanto que o Tribunal
do direito comunitário nas relações entre Constitucional alemão se limitaria a asse-
este último e o direito constitucional gurar o cumprimento dos requisitos gerais
nacional. Embora no início hesitassem, os essenciais ao exercício dos direitos funda-
tribunais nacionais acabaram por seguir a mentais. O Tribunal Constitucional
interpretação do Tribunal de Justiça. Nos afirmou ainda que, no que se refere aos
Países Baixos, onde a Constituição reco- actos comunitários adoptados exclusiva-
nhece o princípio do primado do direito mente por força da eficácia funcional das
comunitário (artigos 65.° a 67.°), nunca competências comunitárias («efeito útil»),
poderiam surgir dificuldades. Nos outros com base, portanto, numa interpretação
Estados-Membros, os órgãos jurisdicio- lata, os mesmos não têm qualquer valor
nais nacionais reconheceram igualmente vinculativo no âmbito da soberania
este princípio. Em contrapartida, os tribu- alemã. Acrescentou ainda que os órgãos
nais constitucionais da República Federal estatais alemães não podiam aplicar este
da Alemanha e da República Italiana tipo de actos jurídicos por razões consti-
começaram por não aceitar o princípio do tucionais. Em consequência, compete ao
primado do direito comunitário sobre o Tribunal Constitucional examinar se os
direito constitucional interno, em especial actos jurídicos emanados dos órgãos e
no que se refere a garantias nacionais em das instituições comunitárias permane-
matéria de direitos fundamentais. Apenas cem ou não circunscritos aos limites das
admitiram esse primado quando a pro- respectivas competências. Só a aplicação
tecção dos direitos fundamentais na prática desta afirmação permitirá determi-
ordem jurídica comunitária tiver atingido nar se, e em que medida, o Tribunal
um nível correspondente, no essencial, ao Constitucional alemão está realmente a
que consagram as constituições nacio- pôr em causa o primado do direito comu-
nais. Num acórdão que proferiu em 12 de nitário e o monopólio do TJCE em matéria
Outubro de 1993, relativo ao Tratado da de rejeição de actos jurídicos comunitá-
União Europeia (Tratado de Maastricht), o rios ilegais.

102
CONCLUSÃO

Uma outra característica da ordem jurídica


Q ual a visão de conjunto que podemos
extrair da estrutura da Comunidade
Europeia e da sua ordem jurídica?
comunitária, hoje já de importância histó-
rica, é o seu contributo para a paz. Tendo
como objectivo a manutenção da paz e a
A ordem jurídica comunitária é o funda- liberdade, esta nova ordem jurídica substi-
mento essencial da CE e caracteriza-a como tui-se à força quando se trata de resolver
uma comunidade de direito. Só a criação e a conflitos, uma vez que as suas regras de
salvaguarda de um direito novo permitem direito obrigam quer os cidadãos quer os
realizar os objectivos que presidiram à insti- Estados-Membros numa Comunidade soli-
tuição da CE. A ordem jurídica comunitária dária. Torna-se assim um importante instru-
fez muito nesta perspectiva. É graças a ela mento de instauração e salvaguarda da paz.
que cerca de 380 milhões de pessoas
sentem já hoje o mercado comum como A ordem jurídica comunitária, assim como
uma realidade quotidiana, através de nume- a comunidade de direito dela dependente,
rosas realizações como a abertura das fron- só sobrevivem na medida em que o seu
teiras, o desenvolvimento das trocas de mer- respeito e a sua protecção sejam garanti-
cadorias e de serviços, a livre circulação de dos, o que acontece, de facto, mercê dos
mão-de-obra e o crescente número de asso- dois pilares da ordem jurídica comunitária:
ciações de empresas de diferentes países. a aplicabilidade directa do direito comunitá- 103
rio e o seu primado sobre o direito nacional. Apesar das lacunas que a caracterizam,
Estes dois princípios, para cuja existência e o contributo da ordem jurídica da
salvaguarda o Tribunal de Justiça contribuiu Comunidade para a solução dos proble-
de forma decisiva, garantem a aplicação mas políticos, económicos e sociais dos
uniforme e prioritária do direito comunitário Estados-Membros tem um valor inesti-
em todos os Estados-Membros. mável.

104
JURISPRUDÊNCIA

Natureza jurídica e primado Processos C-13 e C-113/91 (Debus),


do direito comunitário Colectânea 1992, p. I-3636 (conflito entre
direito comunitário e direito nacional;
Processo 26/62 (Van Gend & Loos), aplicabilidade directa; primado do direito
comunitário).
Recueil 1963, p. 1 a 53 (natureza jurídica
do direito comunitário; direitos e obri-
Processo C-393/92 (Gemeente Almelo),
gações dos particulares).
Colectânea 1994, p. I-1477 (primado e
aplicação uniforme do direito comunitá-
Processo 6/64 (Costa/ENEL), Recueil 1964, rio).
p. 1141 a 1193 (natureza jurídica do
direito comunitário; aplicabilidade Processos C-46/93 (Brasserie du pêcheur)
directa; primado do direito comunitário). e C-48/93 (Factortame), Colectânea 1996,
p. I-1029 (efeito directo do direito comuni-
Processo 14/68 (Walt Wilhelm e outros), tário, responsabilidade de um Estado-
Recueil 1969, p. 1 (natureza jurídica do -Membro por violação do direito comuni-
direito comunitário; primado do direito tário).
comunitário).
Processos C-10/97-C-22/97 (IN.CO.GE ‘90
Processo 106/77 (Simmenthal), Recueil Srl.), Colectânea 1998, I-6307 (primado do
1978, p. 629 a 658 (direito comunitário; direito comunitário).
aplicabilidade directa; primado).
Processo C-212/97 (Centros Ltd),
Processo 826/79 (Mireco), Recueil, Colectânea 1999, p. I-1459 (medidas
nacionais para prevenir utilização abusiva
p. 2559 (primado do direito comunitário).
do direito comunitário).
Processo C-213/89 (Factortame),
Competência da CE
Colectânea 1990, p. I-2466 (aplicabili-
dade directa; primado do direito comuni-
Processo 8/85 (Fédéchar), Recueil
tário).
1955/1956, p. 291 a 305 (natureza dos
poderes implícitos; fixação administrativa
Processos C-6 e C-9/90 (Francovich e dos preços).
Bonifaci), Colectânea 1991, p. I-5403
(validade do direito comunitário, respon- Processo 22/70 (AETR), Recueil 1971,
sabilidade dos Estados-Membros por p. 263 a 295 (personalidade jurídica e
incumprimento do direito comunitário: competência da CE na celebração de
não transposição de uma directiva). acordos).
105
Processo 6/76 (Kramer), Recueil 1976, Processo 65/75 (Tasca), Recueil 1976,
p. 1279 a 1331 (relações externas; com- p. 192 (regulamentos; efeitos directos).
promissos internacionais; competência da
CE). Processo 31/78 (Bussone), Recuei I 1978,
p. 2429 (regulamentos; efeitos directos).
Parecer 1/76, Recueil 1977, p. 759 e
seguintes (relações externas; compromis- Processo 2/74 (Reyners), Recueil 1974,
p. 631 a 670 (aplicabilidade directa; liber-
sos internacionais; competência da CE).
dade de estabelecimento).

Parecer 1/78, Recueil 1979, p. 2871 (par- Processo 11/77 (Hugh Patrick), Recueil
tilha das competências entre a CE e os 1977, p. 1199 (aplicabilidade directa;
Estados-Membros). direito de estabelecimento).

Processos C-51/90 e C-94/89 (Reino Processo 41/74 (Van Duyn), Recueil 1974,
Unido e.o./Conselho), Colectânea 1991, p. 1337 a 1360 (aplicabilidade directa;
p. I-2786 (subsidiariedade; alcance). livre circulação).

Parecer 2/91 de Colectânea 1993, p. 1061 Processo 9/70 (Grad), Recueil 1970,
(repartição de competências entre a CE e p. 825 a 858 (decisões; aplicabilidade
directa).
os Estados-Membros).

Processo 33/70 (SACE), Recueil 1970,


Parecer 1/91, Colectânea 1993, p. I-6079
p. 1213 a 1231 (directivas; aplicabilidade
(Acordo EEE I; repartição das competên-
directa).
cias).
Processo 148/78 (Ratti), Recueil 1979,
Parecer 1/94, Colectânea 1994, p. I-5267
p. 1629 (directivas, aplicabilidade directa).
(Acordo OMC; repartição das competên-
cias). Processo 70/83 (Kloppenburg), Colectânea
1989, p. 1075 (directivas; aplicabilidade
Parecer 2/94, Colectânea 1996, p. I-1759 directa).
(adesão da CE à CEDH; ausência de com-
petência). Processo 152/84 (Marshall), Colectânea
1986, p. 723 (directivas; aplicabilidade
Processo C-22/96 (PE/Conseil), Colectânea directa).
1998, p. I-3231.
Processo 103/88 (Costanzo), Colectânea
Efeitos dos actos jurídicos 1989, p. 1861 (directivas; aplicabilidade
directa; condições; consequências).
Processo 43/71 (Politi), Recueil 1971,
p. 1039 a 1957 (regulamentos; efeitos Processo 322/88 (Grimaldi), Colectânea
106
directos). 1989, p. 4416 (recomendações; ausência
de aplicabilidade directa; observância dos Direitos fundamentais
tribunais nacionais).
Processo 29/69 (Stauder), Recueil 1969,
p. 419 a 430 (direitos fundamentais; prin-
Processo C-188/89 (Foster), Colectânea
cípios gerais de direito).
1990, p. I-3343 (directivas; efeito directo
horizontal). Processo 11/70 (Internationale
Handelsgesellschaft), Recueil 1970,
Processo C-221/88 (Busseni), Colectânea p. 1124 a 1158 (direitos fundamentais;
1990, p. I-519 (recomendação CECA l princípios gerais de direito).
directiva; efeito directo vertical).
Processo 166/73, 146/73 (Rheinmühlen I,
II), Recueil 1977, p. 33 a 49 e 139 a 152
Processo C-292/89 (Antonissen), Colec-
(regra de direito nacional que vincula as
tânea 1991, p. I-773 (declaração incluída jurisdições internas à apreciação da juris-
na acta do Conselho; obrigação de a ter dição superior).
em conta na interpretação).
Processo 4/73 (Nold), Recueil 1974,
Processo C-156/91 (Hansa Fleisch), p. 491 a 516 (direitos fundamentais; prin-
Colectânea 1992, p. I-5567 (decisões; cípios gerais do direito; tradições constitu-
aplicabilidade directa; condições). cionais comuns).

Processo 36/75 (Rutili), Recueil 1975,


Processo C-91/92 (Faccini Dori), p. 1219 a 1244 (igualdade de tratamento;
Colectânea 1994, p. I-3325 (directivas, referência à Convenção Europeia dos
efeito directo vertical). Direitos do Homem e das Liberdades
Fundamentais).
Processo C-465/93 (Atlanta Frucht-
handelsgesellschaft), Colectânea 1995, Processo 175/73 (Confederação dos
Sindicatos Europeus da Função Pública),
p. I-3761 (apreciação da validade de um
Recueil 1974, p. 917 a 925 (liberdade de
regulamento, reenvio prejudical, medidas
associação).
provisórias, condições).
Processo 130/75 (Prais), Recueil 1976,
Processo C-469/93 (Chiquita Italia), p. 1589 a 1599 (liberdade de religião e de
Colectânea 1995, p. I-4533 (efeito directo culto).
de disposições do GATT e das convenções
de Lomé). Processo 117/76 (Quellmehl), Recueil
1977, p. 1753 a 1770 e seguintes (princí-
pio da igualdade).
Processo C-368/96 (Generics Ltd),
Colectânea 1998, p. I-7967 (declarações Processo 149/77 (Defrenne), Recueil
exaradas em acta, a ter em conta para 1978, p. 1381 (direitos fundamentais; prin-
107
efeitos de interpretação). cípios gerais de direito).
Processo 44/79 (Hauer), Recueil 1979, Processo C-62/90 (Comissão/Alemanha),
p. 3727 (direitos fundamentais; direito de Colectânea 1992, p. I-2575 (direitos fun-
propriedade). damentais, respeito por parte dos Estados-
-Membros; limitação por motivos de inte-
Processo 85/79 (Fioffmann-La Roche), resse geral).
Recueil 1979, p. 461 (direitos fundamentais;
princípio de acesso à justiça). Processo C-219/91 (Ter Voort), Colectânea
1992, p. I-5485 (liberdade de expressão).
Processos 154, 205, 206, 227, 228, 263 e
264/78 (Vafsabbia), Recueil 1980, p. 1010 Processo C-97/91 (Borelli), Colectânea
(direitos fundamentais; direito de proprie- 1992, p. I-6313 (direitos fundamentais;
dade). garantia da via judicial).

Processo 293/83 (Gravier), Recueil 1985, Processo C-357/89 (Raulin), Colectânea


p. 593. 1992, p. I-1027 (obrigação de igualdade
de tratamento; proibição de discriminação
Processo 234/85 (Keller), Colectânea 1986, por motivo de nacionalidade).
p. 2897.
Processo C-132/91 (Katsikas), Colectânea
Processo 12/86 (Demirel), Colectânea 1987, 1992, p. I-6577 (direitos fundamentais,
p. 3719. livre exercício de actividades profissio-
nais).
Processos 46/87 e 227188 (Hoechst),
Colectânea 1989, p. 2919 (direitos funda- Processo C-2/92 (Bostock), Colectânea
mentais; princípio do direito de audiência; 1994, p. I-955 (direitos fundamentais,
procedimento administrativo; inviolabili- direito de propriedade, livre exercício de
dade do domicílio). actividades profissionais, respeito de
certas exigências na aplicação do direito
Processo 374/87 (Orkem), Colectânea 1989, comunitário).
p. 3343 (direitos fundamentais; princípio do
direito de audiência; processo de instrução). Processo C-280/93 (Alemanha/Conselho),
Colectânea 1994, p. I-5065 (direito de pro-
Processo 265/87 (Schräder), Colectânea priedade, livre exercício de actividades
1989, p. 2263 (direito de propriedade; liber- profissionais, restrições justufucadas pelo
dade de exercício da profissão; restrições). interesse geral).

Processo 100/88 (Oyowe e Traore), Processo C-415/93 (Bosman), Colectânea


Colectânea 1989, p. 4304 (direitos funda- 1995, p. I-4921 (direitos fundamentais,
mentais; liberdade de expressão). livre exercício de actividades profissio-
nais).
Processo 5/88 (Wachauf), Colectânea
1989, p. 2633 (possibilidade de restrição Processo C-55/94 (Gebhard), Colectânea
108
dos direitos fundamentais). 1995, p. I-4165 (direitos fundamentais,
direito de estabelecimento, livre exercício Processo 61/79 (Denkavit), Recueil 1980,
de actividades profissionais). p. 1205.

Parecer 2/94, Colectânea 1996, p. I-1759 Processos 66/127 e 128/79 (Salumi),


(direitos fundamentais, adesão da CE à Recueil 1980, p. 1237.
Convenção Europeia dos Direitos do
Homem). Processo 826/79 (Mireco), Recueil 1980,
p. 2559.
Processo T-105/95 [WWF (World Wide
Fund for Nature)/Comissão], Colectânea Processo 70/83 (Kloppenburg), Recueil
1997, p. II-313 (direitos fundamentais em 1984, p. 1075.
matéria processual, acesso do público aos
documentos do Conselho ou da Processo C-322/93 P (Peugeot),
Comissão). Colectânea 1994, p. I-2727.

Processos apensos C-248/95 e C-249/95 Processo C-137/95 (Richardson),


(SAM Schiffahrt e Stapf), Colectânea 1997, Colectânea 1995, p. I-3407.
p. I-4475 (protecção da propriedade,
substância dos direitos). Processos T-551/93, T-231/94-T-234/94
(Industrias Pesqueras Campos e o.),
Processo T-42/96 [Eyckeler & Malt Colectânea 1996, p. II-247.
AG/Comissão («Hilton Beef»)],
Colectânea 1998, p. II-401 (direitos fun- Proporcionalidade
damentais em matéria processual, direi-
tos da defesa). Processo 116/76 (Granaria), Recueil 1977,
p. 1247.
Princípios gerais do direito (selecção)
Processo 8/77 (Sagulo), Recueil 1977,
Segurança jurídica p.1495.

Processos 18 e 35/65 (Gutmann), Recueil Processo 122/78 (Buitoni), Recueil 1979,


1966, p. 149. p. 677.

Processo 78/74 (Deuka), Recueil 1975, Processo 154/78 (Valsabbia), Recueil


p. 421. 1980, p. 907.

Processo 98178 (Racke), Recueil 1979, Processo 808/79 (Pardini), Recueil 1980,
p. 69. p. 2103.

Processo 96/78 (Decker), RecueiI 1979, Processo 125/83 (Corman), Recueil 1985,
p. 101. p. 3039.

Processo 265/78 (Ferwerda), Recueil Processo 265/87 (Schräder), Colectânea


109
1980, p. 617. 1989, p. 2263.
Processo C-331/88 (Fedesa), Colectânea Processo C-152/88 (Sofrimport),
1990, p. I-4057. Colectânea 1990, p. I-2477.

Processo C-87/92 (Hoche), Colectânea Processo C-368/89 (CrispoltoniI),


1993, p. I-4623. Colectânea 1991, p. I-3715.

Processo T-480/93 (Antillean Rice Mills), Processos C-31 a 44/91 (Lageder),


Colectânea 1995, p. II-2305. Colectânea 1993, p. I-1761.

Processo T-162/94 (NMB e o.), Colectânea Processo T-82/91 (Latham), Colectânea


1996, p. II-427. 1994, p. II-61.

Processo C-233/94 (Alemanha/Conselho Processo T-472/93 (Campo Ebro),


e Parlamento), Colectânea 1997, Colectânea 1995, p. II-421.
p. I-2405.
Processo C-22/94 (Irish Farmer
Processo C-161/96 (Südzucker), Association), Colectânea 1997, p. I-1808.
Colectânea 1998, p. I-281.
Processo T-119/95 (Hauer), Colectânea
Protecção da confiança legítima 1998, p. II-2713.

Processo 74/74 (CNTA), Recueil 1975, Princípio da subsidiariedade


p. 533.
Processo T-29/92 (SPO), Colectânea 1995,
Processos 205-215/82 (Deutsche p. II-289.
Mi Ichkontor), Recueil 1983, p. 2633.
Processo C-84/94 (Reino Unido/Conselho),
Processo 120/86 (Mulder), Colectânea Colectânea 1996, p. I-5755.
1988, p. 2344.
Processos apensos C-36 e 37/97
Processo 170/86 (von Deetzen), (Kellinhusen e Ketelsen), Colectânea 1998,
Colectânea 1988, p. 2368. p. I-6337.

Processo C-350/88 (Delacre), Colectânea


1990, p. I-418.

110
Anexo
QUADROS DE CORRESPONDÊNCIA A QUE SE REFERE
O ARTIGO 12.° DO TRATADO DE AMESTERDÃO

A — Tratado da União Europeia B — Tratado que institui


a Comunidade Europeia

Numeração Nova Numeração Nova Numeração Nova


anterior numeração anterior numeração anterior numeração

TÍTULO I TÍTULO I TÍTULO VI (***) TÍTULO VI PARTE I PARTE I


Artigo A Artigo 1.° Artigo K.1 Artigo 29.° Artigo 1° Artigo 1.°
Artigo B Artigo 2.° Artigo K.2 Artigo 30.° Artigo 2.° Artigo 2.°
Artigo C Artigo 3.° Artigo K.3 Artigo 31.° Artigo 3.° Artigo 3.°
Artigo D Artigo 4.° Artigo K.4 Artigo 32.° Artigo 3.°-A Artigo 4.°
Artigo E Artigo 5.° Artigo K.5 Artigo 33.° Artigo 3.°-B Artigo 5.°
Artigo F Artigo 6.° Artigo K.6 Artigo 34.° Artigo 3.°-C (*)Artigo 6.°
Artigo F.1 (*) Artigo 7.° Artigo K.7 Artigo 35.° Artigo 4.° Artigo 7.°
Artigo K.8 Artigo 36.° Artigo 4.°-A Artigo 8.°
TÍTULO II TÍTULO II Artigo K.9 Artigo 37.° Artigo 4.°-B Artigo 9.°
Artigo G Artigo 8.° Artigo K.10 Artigo 38.° Artigo 5.° Artigo 10.°
Artigo K.11 Artigo 39.° Artigo 5.°-A (*)Artigo 11.°
TÍTULO III TÍTULO III Artigo K.12 Artigo 40.° Artigo 6.° Artigo 12.°
Artigo H Artigo 9.° Artigo K.13 Artigo 41.° Artigo 6.°-A (*)Artigo 13.°
Artigo K.14 Artigo 42.° Artigo 7.° (revogado) –
TÍTULO IV TÍTULO IV Artigo 7.°-A Artigo 14.°
Artigo I Artigo 10.° TÍTULO VI-A (**) TÍTULO VII Artigo 7.°-B (revogado) –
Artigo K.15 (*) Artigo 43.° Artigo 7.°-C Artigo 15.°
TÍTULO V (***) TÍTULO V Artigo K.16 (*) Artigo 44.° Artigo 7.°-D (*)Artigo 16.°
Artigo J.1 Artigo 11.° Artigo K.17 (*) Artigo 45.°
Artigo J.2 Artigo 12.° PARTE II PARTE II
Artigo J.3 Artigo 13.° TÍTULO VII TÍTULO VIII Artigo 8.° Artigo 17.°
Artigo J.4 Artigo 14.° Artigo L Artigo 46.° Artigo 8.° Artigo 18.°
Artigo J.5 Artigo 15.° Artigo M Artigo 47.° Artigo 8.°-B Artigo 19.°
Artigo J.6 Artigo 16.° Artigo N Artigo 48.° Artigo 8.°-C Artigo 20.°
Artigo J.7 Artigo 17.° Artigo O Artigo 49.° Artigo 8.°-D Artigo 21.°
Artigo J.8 Artigo 18.° Artigo P Artigo 50.° Artigo 8.°-E Artigo 22.°
Artigo J.9 Artigo 19.° Artigo Q Artigo 51.°
Artigo J.10 Artigo 20.° Artigo R Artigo 52.° PARTE III PARTE III
Artigo J.11 Artigo 21.° Artigo S Artigo 53.° TÍTULO I TÍTULO I
Artigo J.12 Artigo 22.° Artigo 9.° Artigo 23.°
Artigo J.13 Artigo 23.° Artigo 10.° Artigo 24.°
Artigo J.14 Artigo 24.° Artigo 11.° (revogado) –
Artigo J.15 Artigo 25.°
Artigo J.16 Artigo 26.° CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1
Artigo J.17 Artigo 27.° SECÇÃO 1 (suprimida) –
Artigo J.18 Artigo 28.° Artigo 12.° Artigo 25.°
(*) Novo artigo introduzido pelo Tratado Artigo 13.° (revogado) –
de Amesterdão.
Artigo 14.° (revogado) –
(**) Novo título introduzido pelo Tratado
Artigo 15.° (revogado) –
de Amesterdão.
(***) Título reformulado pelo Tratado de Artigo 16.° (revogado) –
Artigo 17.° (revogado) – 111
Amesterdão.
Numeração Nova Numeração Nova Numeração Nova
anterior numeração anterior numeração anterior numeração

SECÇÃO 2 (suprimida) – CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3 TÍTULO V TÍTULO VI


Artigo 18.° (revogado) – Artigo 59.° Artigo 49.°
Artigo 19.° (revogado) – Artigo 60.° Artigo 50.° CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1
Artigo 20.° (revogado) – Artigo 61.° Artigo 51.° SECÇÃO 1 SECÇÃO 1
Artigo 21.° (revogado) – Artigo 62.° (revogado) – Artigo 85.° Artigo 81.°
Artigo 22.° (revogado) – Artigo 63.° Artigo 52.° Artigo 86.° Artigo 82.°
Artigo 23.° (revogado) – Artigo 64.° Artigo 53.° Artigo 87.° Artigo 83.°
Artigo 24.° (revogado) – Artigo 65.° Artigo 54.° Artigo 88.° Artigo 84.°
Artigo 25.° (revogado) – Artigo 66.° Artigo 55.° Artigo 89.° Artigo 85.°
Artigo 26.° (revogado) – Artigo 90.° Artigo 86.°
Artigo 27.° (revogado) – CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 4 SECÇÃO 2 (suprimida) –
Artigo 28.° Artigo 26.° Artigo 67.° (revogado) – Artigo 91.° (revogado) –
Artigo 29.° Artigo 27.° Artigo 68.° (revogado) –
Artigo 69.° (revogado) – SECÇÃO 3 SECÇÃO 2
CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 Artigo 70.° (revogado) – Artigo 92.° Artigo 87.°
Artigo 30.° Artigo 28.° Artigo 71.° (revogado) – Artigo 93.° Artigo 88.°
Artigo 31.° (revogado) – Artigo 72.° (revogado) – Artigo 94.° Artigo 89.°
Artigo 32.° (revogado) – Artigo 73.° (revogado) –
Artigo 33.° (revogado) – Artigo 73.°-A (revogado) – CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2
Artigo 34.° Artigo 29.° Artigo 73.°-B Artigo 56.° Artigo 95.° Artigo 90.°
Artigo 35.° (revogado) – Artigo 73.°-C Artigo 57.° Artigo 96.° Artigo 91.°
Artigo 36.° Artigo 30.° Artigo 73.°-D Artigo 58.° Artigo 97.° (revogado) –
Artigo 37.° Artigo 31.° Artigo 73.°-E (revogado) – Artigo 98.° Artigo 92.°
Artigo 73.°-F Artigo 59.° Artigo 99.° Artigo 93.°
TÍTULO II TÍTULO II Artigo 73.°-G Artigo 60.°
Artigo 38.° Artigo 32.° Artigo 73.°-H (revogado) – CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3
Artigo 39.° Artigo 33.° Artigo 100.° Artigo 94.°
Artigo 40.° Artigo 34.° TÍTULO III a (**) TÍTULO IV Artigo 100.°-A Artigo 95.°
Artigo 41.° Artigo 35.° Artigo 73.°-I (*) Artigo 61.° Artigo 100.°-B (revogado) –
Artigo 42.° Artigo 36.° Artigo 73.°-J (*) Artigo 62.° Artigo 100.°-C (revogado) –
Artigo 43.° Artigo 37.° Artigo 73.°-K (*) Artigo 63.° Artigo 100.°-D (revogado) –
Artigo 44.° (revogado) – Artigo 73.°-L (*) Artigo 64.° Artigo 101.° Artigo 96.°
Artigo 45.° (revogado) – Artigo 73.°-M (*) Artigo 65.° Artigo 102.° Artigo 97.°
Artigo 46.° Artigo 38.° Artigo 73.°-N (*) Artigo 66.°
Artigo 47.° (revogado) – Artigo 73.°-O (*) Artigo 67.° TÍTULO VI TÍTULO VII
Artigo 73.°-P (*) Artigo 68.°
TÍTULO III TÍTULO III Artigo 73.°-Q (*) Artigo 69.° CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1
Artigo 102.°-A Artigo 98.°
CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1 TÍTULO IV TÍTULO V Artigo 103.° Artigo 99.°
Artigo 48.° Artigo 39.° Artigo 74.° Artigo 70.° Artigo 103.°-A Artigo 100.°
Artigo 49.° Artigo 40.° Artigo 75.° Artigo 71.° Artigo 104.° Artigo 101.°
Artigo 50.° Artigo 41.° Artigo 76.° Artigo 72.° Artigo 104.°-A Artigo 102.°
Artigo 51.° Artigo 42.° Artigo 77.° Artigo 73.° Artigo 104.°-B Artigo 103.°
Artigo 78.° Artigo 74.° Artigo 104.°-C Artigo 104.°
CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 Artigo 79.° Artigo 75.°
Artigo 52.° Artigo 43.° Artigo 80.° Artigo 76.° CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2
Artigo 53.° (revogado) – Artigo 81.° Artigo 77.° Artigo 105.° Artigo 105.°
Artigo 54.° Artigo 44.° Artigo 82.° Artigo 78.° Artigo 105.°-A Artigo 106.°
Artigo 55.° Artigo 45.° Artigo 83.° Artigo 79.° Artigo 106.° Artigo 107.°
Artigo 56.° Artigo 46.° Artigo 84.° Artigo 80.° Artigo 107.° Artigo 108.°
Artigo 57.° Artigo 47.° Artigo 108.° Artigo 109.°
Artigo 58.° Artigo 48° Artigo 108.°-A Artigo 110.°
Artigo 109.° Artigo 111.°
112
Numeração Nova Numeração Nova Numeração Nova
anterior numeração anterior numeração anterior numeração

CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3 PARTE IV PARTE IV


Artigo 109.°-A Artigo 112.° Artigo 126.° Artigo 149.° Artigo 131.° Artigo 182.°
Artigo 109.°-B Artigo 113.° Artigo 127.° Artigo 150.° Artigo 132.° Artigo 183.°
Artigo 109.°-C Artigo 114.° Artigo 133.° Artigo 184.°
Artigo 109.°-D Artigo 115.° TÍTULO IX TÍTULO XII Artigo 134.° Artigo 185°
Artigo 128.° Artigo 151.° Artigo 135.° Artigo 186.°
CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 4 Artigo 136.° Artigo 187.°
Artigo 109.°-E Artigo 116.° TÍTULO X TÍTULO XIII Artigo 136.°-A Artigo 188.°
Artigo 109.°-F Artigo 117.° Artigo 129.° Artigo 152.°
Artigo 109.°-G Artigo 118.° PARTE V PARTE V
Artigo 109.°-H Artigo 119.° TÍTULO XI TÍTULO XIV
Artigo 109.°-I Artigo 120.° Artigo 129.°-A Artigo 153.° TÍTULO I TÍTULO I
Artigo 109.°-J Artigo 121.°
Artigo 109.°-K Artigo 122.° TÍTULO XII TÍTULO XV CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1
Artigo 109.°-L Artigo 123.° Artigo 129.°-B Artigo 154.°
Artigo 109.°-M Artigo 124.° Artigo 129.°-C Artigo 155.° SECÇÃO 1 SECÇÃO 1
Artigo 129.°-D Artigo 156.° Artigo 137.° Artigo 189.°
TÍTULO VI a (**) TÍTULO VIII Artigo 138.° Artigo 190.°
Artigo 109.°-N (*) Artigo 125.° TÍTULO XIII TÍTULO XVI Artigo 138.°-A Artigo 191.°
Artigo 109.°-O (*)Artigo 126.° Artigo 130.° Artigo 157.° Artigo 138.°-B Artigo 192.°
Artigo 109.°-P (*) Artigo 127.° Artigo 138.°-C Artigo 193.°
Artigo 109.°-Q (*)Artigo 128.° TÍTULO XIV TÍTULO XVII Artigo 138.°-D Artigo 194.°
Artigo 109.°-R (*) Artigo 129.° Artigo 130.°-A Artigo 158.° Artigo 138.°-E Artigo 195.°
Artigo 109.°-S (*) Artigo 130.° Artigo 130.°-B Artigo 159.° Artigo 139.° Artigo 196.°
Artigo 130.°-C Artigo 160.° Artigo 140.° Artigo 197.°
TÍTULO VII TÍTULO IX Artigo 130.°-D Artigo 161.° Artigo 141.° Artigo 198.°
Artigo 110.° Artigo 131.° Artigo 130.°-E Artigo 162.° Artigo 142.° Artigo 199.°
Artigo 111.° (revogado) – Artigo 143.° Artigo 200.°
Artigo 112.° Artigo 132.° TÍTULO XV TÍTULO XVIII Artigo 144.° Artigo 201.°
Artigo 113.° Artigo 133.° Artigo 130.°-F Artigo 163.°
Artigo 114.° (revogado) – Artigo 130.°-G Artigo 164.° SECÇÃO 2 SECÇÃO 2
Artigo 115.° Artigo 134.° Artigo 130.°-H Artigo 165.° Artigo 145.° Artigo 202.°
Artigo 130.°-I Artigo 166.° Artigo 146.° Artigo 203.°
TÍTULO VII a (**) TÍTULO X Artigo 130.°-J Artigo 167.° Artigo 147.° Artigo 204.°
Artigo 116.° (*) Artigo 135.° Artigo 130.°-K Artigo 168.° Artigo 148° Artigo 205°
Artigo 130.°-L Artigo 169.° Artigo 149.° (revogado) –
TÍTULO VIII TÍTULO XI Artigo 130.°-M Artigo 170.° Artigo 150.° Artigo 206.°
Artigo 130.°-N Artigo 171.° Artigo 151.° Artigo 207.°
CAPÍTULO 1 (***) CAPÍTULO 1 Artigo 130.°-O Artigo 172.° Artigo 152.° Artigo 208.°
Artigo 117.° Artigo 136.° Artigo 130.°-P Artigo 173.° Artigo 153.° Artigo 209.°
Artigo 118.° Artigo 137.° Artigo 130.°-Q (revogado) – Artigo 154.° Artigo 210.°
Artigo 118.°-A Artigo 138.°
Artigo 118.°-B Artigo 139.° TÍTULO XVI TÍTULO XIX SECÇÃO 3 SECÇÃO 3
Artigo 118.°-C Artigo 140.° Artigo 130.°-R Artigo 174.° Artigo 155.° Artigo 211.°
Artigo 119.° Artigo 141.° Artigo 130.°-S Artigo 175.° Artigo 156.° Artigo 212.°
Artigo 119.°-A Artigo 142.° Artigo 130.°-T Artigo 176.° Artigo 157.° Artigo 213.°
Artigo 120.° Artigo 143.° Artigo 158.° Artigo 214.°
Artigo 121.° Artigo 144.° TÍTULO XVII TÍTULO XX Artigo 159.° Artigo 215.°
Artigo 122.° Artigo 145.° Artigo 130.°-U Artigo 177.° Artigo 160.° Artigo 216.°
Artigo 130.°-V Artigo 178.° Artigo 161.° Artigo 217.°
CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 Artigo 130.°-W Artigo 179.° Artigo 162.° Artigo 218.°
Artigo 123.° Artigo 146.° Artigo 130.°-X Artigo 180.° Artigo 163.° Artigo 219.°
Artigo 124.° Artigo 147.° Artigo 130.°-Y Artigo 181.°
Artigo 125.° Artigo 148.° 113
Numeração Nova Numeração Nova Numeração Nova
anterior numeração anterior numeração anterior numeração

SECÇÃO 4 SECÇÃO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 5 Artigo 240.° Artigo 312.°


Artigo 164.° Artigo 220.° Artigo 198.°-D Artigo 266.° Artigo 241.° (revogado) –
Artigo 165.° Artigo 221.° Artigo 198.°-E Artigo 267.° Artigo 242.° (revogado) –
Artigo 166.° Artigo 222.° Artigo 243.° (revogado) –
Artigo 167.° Artigo 223.° TÍTULO II TÍTULO II Artigo 244.° (revogado) –
Artigo 168.° Artigo 224.° Artigo 199.° Artigo 268.° Artigo 245.° (revogado) –
Artigo 168 -A Artigo 225.° Artigo 200.° (revogado) – Artigo 246.° (revogado) –
Artigo 169.° Artigo 226.° Artigo 201.° Artigo 269.°
Artigo 170.° Artigo 227.° Artigo 201.°-A Artigo 270.° DISPOSIÇÕES FINAIS
Artigo 171.° Artigo 228.° Artigo 202.° Artigo 271.°
Artigo 172.° Artigo 229.° Artigo 203.° Artigo 272.° Artigo 247.° Artigo 313.°
Artigo 173.° Artigo 230.° Artigo 204.° Artigo 273.° Artigo 248.° Artigo 314.°
Artigo 174.° Artigo 231.° Artigo 205.° Artigo 274.°
Artigo 175.° Artigo 232.° Artigo 20.°-A Artigo 275.°
Artigo 176.° Artigo 233.° Artigo 206.° Artigo 276.°
Artigo 177.° Artigo 234.° Artigo 206.°-A (revogado) –
Artigo 178.° Artigo 235.° Artigo 207.° Artigo 277.°
Artigo 179.° Artigo 236.° Artigo 208.° Artigo 278.°
Artigo 180.° Artigo 237.° Artigo 209.° Artigo 279.°
Artigo 181.° Artigo 238.° Artigo 209.°-A Artigo 280.°
Artigo 182.° Artigo 239.°
Artigo 183.° Artigo 240.° PARTE VI PARTE VI
Artigo 184.° Artigo 241.° Artigo 210.° Artigo 281.°
Artigo 185.° Artigo 242.° Artigo 211.° Artigo 282.°
Artigo 186.° Artigo 243.° Artigo 212.° (*) Artigo 283.°
Artigo 187.° Artigo 244.° Artigo 213.° Artigo 284.°
Artigo 188.° Artigo 245.° Artigo 213.°-A (*) Artigo 285.°
Artigo 213.°-B (*) Artigo 286.°
SECÇÃO 5 SECÇÃO 5 Artigo 214.° Artigo 287.°
Artigo 188.°-A Artigo 246.° Artigo 215.° Artigo 288.°
Artigo 188.°-B Artigo 247.° Artigo 216.° Artigo 289.°
Artigo 188.°-C Artigo 248.° Artigo 217.° Artigo 290.°
Artigo 218.° (*) Artigo 291.°
CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2 Artigo 219.° Artigo 292.°
Artigo 189.° Artigo 249.° Artigo 220.° Artigo 293.°
Artigo 189.°-A Artigo 250.° Artigo 221.° Artigo 294.°
Artigo 189.°-B Artigo 251.° Artigo 222.° Artigo 295.°
Artigo 189.°-C Artigo 252.° Artigo 223.° Artigo 296.°
Artigo 190.° Artigo 253.° Artigo 224.° Artigo 297.°
Artigo 191.° Artigo 254.° Artigo 225.° Artigo 298.°
Artigo 191.°-A (*) Artigo 255.° Artigo 226.° (revogado) –
Artigo 192.° Artigo 256.° Artigo 227.° Artigo 299.°
Artigo 228.° Artigo 300.°
CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3 Artigo 228.°-A Artigo 301.°
Artigo 193.° Artigo 257.° Artigo 229.° Artigo 302.°
Artigo 194.° Artigo 258.° Artigo 230.° Artigo 303.°
Artigo 195.° Artigo 259.° Artigo 231.° Artigo 304.°
Artigo 196.° Artigo 260.° Artigo 232.° Artigo 305.°
Artigo 197.° Artigo 261.° Artigo 233.° Artigo 306.°
Artigo 198.° Artigo 262.° Artigo 234.° Artigo 307.° (*) Novo artigo introduzido pelo Tratado
Artigo 235.° Artigo 308.° de Amesterdão.
CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 4 Artigo 236.° (*) Artigo 309.° (**) Novo título introduzido pelo Tratado
Artigo 198.°-A Artigo 263.° Artigo 237.° (revogado) – de Amesterdão.
Artigo 198.°-B Artigo 264.° Artigo 238.° Artigo 310.° (***) Capítulo 1 reformulado pelo
114
Artigo 198.°-C Artigo 265.° Artigo 239.° Artigo 311.° Tratado de Amesterdão.
Para mais informações:

O servidor «Europa» na Internet dá acesso aos textos do direito comunitário:


http://europa.eu.int/eur-lex
http://europa.eu.int/celex
Assinale-se, também, o sítio Internet do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias:
http://curia.eu.int
Além disso, tanto o catálogo como as bibliografias, nomeadamente jurídicas, da Biblioteca Central da Comissão
Europeia podem ser consultados através do seguinte endereço:
http://europa.eu.int/eclas

115
Comissão Europeia

O ABC DO DIREITO COMUNITÁRIO


(Quinta edição)

Colecção: Documentação Europeia

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

2000 – 115 p. – 16,2 x 22,9 cm

ISBN 92-828-7807-4

A presente publicação destina-se essencialmente a não juristas. Procura apresentar numa linguagem acessível os
principais aspectos da ordem jurídica europeia.
Mais informações sobre a União Europeia
Na Internet, no servidor Europa (http://europa.eu.int), há informações em todas as línguas oficiais da União Euro-
peia.
Para obter informações e publicações em língua portuguesa sobre a União Europeia, pode contactar:

GABINETE DA COMISSÃO EUROPEIA GABINETE DO PARLAMENTO EUROPEU

Gabinete em Portugal Gabinete em Portugal


Centro Europeu Jean Monnet Centro Europeu Jean Monnet
Largo Jean Monnet, 1-10.° Largo Jean Monnet, 1-6.°
P-1250 Lisboa P-1250 Lisboa
Tel.: (351) 213 50 98 00 Tel.: (351) 213 57 80 31; 213 57 82 98
http://euroinfo.ce.pt Fax: (351) 213 54 00 04
E-mail: EPLisboa@europarl.eu.int

Existem representações ou gabinetes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu em todos os Estados-


-Membros da União Europeia. Noutros países do mundo existem delegações da Comissão Europeia.
PT

A ordem jurídica da Comunidade


Europeia tornou-se parte
integrante da realidade política
nos 15 Estados-Membros.

Todos os anos, com base nos


Tratados europeus, são tomadas
milhares de decisões que influen-

1
ciam de forma determinante a

6
vida dos Estados-Membros e
respectivos povos. Os nacionais dos Estados-Membros da UE deixaram
de ser apenas cidadãos da respectiva cidade, comuna ou Estado: são PD-25-99-221-PT-C
hoje também cidadãos da Comunidade.

A presente publicação destina-se a dar a conhecer a ordem jurídica


europeia. Dirige-se essencialmente a não juristas, procurando
apresentar os textos dos Tratados numa linguagem acessível ao
cidadão comum.

ISBN 92-828-7807-4 SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS


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DAS COMUNIDADES EUROPEIAS
L-2985 Luxembourg

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