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ILMO SR.

SUPERINTENDENTE DO DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E


RODAGEM DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIEGO BALIEIRO WERNECK, brasileiro, inscrito no CPF sob o


n.º 036.572.799-70, residente e domiciliado em Curitiba-Pr., à Rua José
Gianinni Pancetti, sobrado 09, Bairro Guabirotuba, CEP:81.510-430, vem
respeitosamente perante este órgão apresentar

DEFESA DE AUTUAÇÃO nos termos do artigo 2º da


Resolução nº 299/08 do CONTRAN, em face da penalidade que lhe foi
imposta por decorrência da suposta caracterização da situação descrita no
auto de infração 1N582243 (anexo) pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas:

DOS FATOS

O RECORRENTE era o condutor do veículo: RENAULT/CLIO


AUT 1.6 16V Placa: APC-7565, na data de 03/06/2010 às 10:00 Horas,
quando transitava no sentido norte da Rodovia SP 225, nas proximidades
do Km 246, Município de Piratininga, recebendo a penalidade descrita no
Auto de Infração 1N582243 pela suposta infração do Artigo 203, V do
Código de Trânsito Brasileiro.

O inconformismo do RECORRENTE deve-se à certeza de que


a autuação é indevida e também por se tratar de motorista cauteloso,
prudente e respeitador que está sendo vítima de um ato arbitrário, onde a
razoabilidade e a proporcionalidade não foram observadas.

A penalidade exposta não pode prosperar, pois foi aplicada de


forma irregular e invalida, conforme adiante se verá.
DO DIREITO

DO DIREITO A AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO ANTES


DE PAGAR MULTA DE TRÂNSITO E RECEBER PENALIDADE

Conforme dispõe a Constituição Federal Pátria em seu Artigo 5º


incisos XXXIV e LV:

“5, XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do


pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou


contra ilegalidade ou abuso de poder;

5, LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;(grifo próprio)

DO ESTADO DE NECESSIDADE

O artigo 24 do Código Penal Pátrio enfatiza:


Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se

O estado de necessidade pressupõe um conflito entre titulares


de interesses lícitos, legítimos, em que um pode parecer licitamente para
que outro sobreviva. Não podendo o estado acudir aquele que está em
perigo, nem devendo tomar partido a priori de qualquer dos titulares dos
bens em conflito, concede o direito de que se ofenda bem alheio para
salvar direito próprio ou de terceiro ante um fato irremediável.

Na mesma linha, ensina-nos o professor Guilherme de Souza


Nucci:

“É o sacrifício de um interesse juridicamente protegido, para salvar de


perigo atual e inevitável o direito do próprio agente ou de terceiro,
desde que outra conduta, nas circunstâncias concretas, não era
razoavelmente exigível1" (grifamos)

1
Guilherme de Souza NUCCI, Código penal comentado, p. 152.
Não age contra a ordem jurídica o que está a lesar direito
de outrem para salvar o seu. Versa este instituto, como destaca João José
Legal2, a prevalência pela lei do mais capaz, do mais ágil, do mais
inteligente, ou do mais feliz, que está autorizado legalmente a salvar seu
direito a qualquer preço, frente a outros direitos de valor igual ou inferior e
que também se acham ameaçados por um perigo comum.

No caso concreto, o condutor que estava à frente conduzia o


veículo de forma inusitada e mudava repentinamente de direção, reduzindo
a velocidade de forma drástica (menos de 40 km/h), de uma maneira que
quase ocasionou uma batida e o acidente de trânsito.

Em vista disso, sensato e prudente provocar a ABSTENÇÃO


DO ATO DE CONTINUAR NA SUA FAIXA DE ROLAMENTO, colocando
seu veículo na faixa oposta para evitar o acidente. Além de que, havia outro
veículo atrás. Se continuasse na mesma faixa, o acidente seria inevitável. A
ABSTENÇÃO DO ATO DE CONTINUAR NA FAIXA DE ROLAMENTO foi
OBJETIVANDO a segurança das pessoas que estavam utilizando a via
naquele momento. Sendo esta uma medida de segurança, a abstenção de
ato, não pode ser ela constituída em sanção de trânsito, pois o ato não
configura, neste caso específico, infração as normas do código. Deve ser
considerada a exclusão da ilicitude.

Tal normatização está prevista no artigo 26, II do Código de


Trânsito Brasileiro cominado com o artigo 23, I do Código Penal, vejamos:

Art. 26 - Os usuários das vias terrestres devem:

I - abster-se de todo ato que possa constituir perigo ou obstáculo para o


trânsito de veículos, de pessoas ou de animais, ou ainda causar danos a
propriedades públicas ou privadas;

II - abster-se de obstruir o trânsito ou torná-lo perigoso, atirando,


depositando ou abandonando na via objetos ou substâncias, ou nela
criando qualquer outro obstáculo. (GRIFAMOS)

Art. 23 - Não há crime quando o Agente pratica o fato:


I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito.

2
João José LEAL, Direito penal geral, p.249.
No caso concreto só existia uma alternativa, contrariar a norma
de trânsito para evitar um acidente. E isso é exclusão de ilicitude. Para os
direitos que foram salvos naquela situação não é justo exigir o sacrifícios
deles. O que é válido é protegê-los. É a abstenção de ato visando a
proteção de direitos não sujeitos ao sacrifício. É a norma sendo
contrariada para a defesa da vida. Além de que, o artigo 5º do CTB diz
que os Órgãos e entidades do sistema nacional de trânsito darão prioridade
em sua ações à defesa da vida. Este espírito de tutela ao bem jurídico vida,
integridade física é também extensivo aos condutores, e foi por esta razão
que você absteve-se do ato de permanecer em sua faixa de rolamento.

Portanto, incabível a manutenção da sanção ora imposta, posto


que comprovadamente o Direito Brasileiro é cristalino ao majorar a proteção
do direito à vida, restando clara a exclusão da ilicitude.

DA SINALIZAÇÃO INADEQUADA

A rodovia não apresentava a sinalização obrigatória, de


forma adequada, dentro das normas do CONTRAN, através das
resoluções 236/07 que estabelece padrões específicos para toda
fiscalização de trânsito por meio de Sinalização Horizontal, do Manual
Brasileiro de Sinalização de Trânsito. Tal fato caracteriza-se como
desrespeito total aos direitos do cidadão, que como condutor deve ser
permanente e corretamente informado sobre a existência de fiscalização na
pista.

A Introdução da Resolução é clara:

A sinalização horizontal é um subsistema da sinalização viária composta


de marcas, símbolos e legendas, apostos sobre o pavimento da pista de
rolamento.

A sinalização horizontal tem a finalidade de fornecer informações que


permitam aos usuários das vias adotarem comportamentos
adequados, de modo a aumentar a segurança e fluidez do trânsito,
ordenar o fluxo de tráfego, canalizar e orientar os usuários da via.

A sinalização horizontal tem a propriedade de transmitir mensagens aos


condutores e pedestres, possibilitando sua percepção e entendimento, sem
desviar a atenção do leito da via.

Em face do seu forte poder de comunicação, a sinalização deve ser


reconhecida e compreendida por todo usuário, independentemente de sua
origem ou da freqüência com que utiliza a via. (grifamos)
Dentre os princípios previstos na mesma resolução,
destacamos os principais, vejamos;

Suficiência - permitir fácil percepção, com quantidade de sinalização


compatível com a necessidade;
Clareza - transmitir mensagens objetivas de fácil compreensão;
Precisão e Confiabilidade - ser precisa e confiável, corresponder à
situação existente; ter credibilidade;
Visibilidade e legibilidade - ser vista à distância necessária; ser
interpretada em tempo hábil para a tomada de decisão;
Manutenção e conservação - estar permanentemente limpa, conservada
e visível;

A sinalização horizontal tem a finalidade de transmitir e


orientar os usuários sobre as condições de utilização adequada da via,
compreendendo as proibições, restrições e informações que lhes
permitam adotar comportamento adequado, de forma a aumentar a
segurança e ordenar os fluxos de tráfego.

É responsabilidade dos órgãos ou entidades de trânsito a


implantação da sinalização horizontal, conforme estabelecido no artigo
90 do CTB.

A sinalização horizontal tem poder de regulamentação em


casos específicos, conforme previsto no CTB e legislação complementar e
assinalados nos respectivos itens das marcas da resolução 236/07.

CUMPRE-NOS DESTACAR QUE NÃO BASTA ESTAR


SINALIZADA, A RODOVIDA DEVE ESTAR CORRETAMENTE
SINALIZADA PARA QUE A SANÇÃO SEJA VÁLIDA, O QUE NÃO É O
PRESENTE CASO.

O artigo 88 do Código de Trânsito Brasileiro é peculiar:

Art. 88 - Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue após sua


construção, ou reaberta ao trânsito após a realização de obras ou de
manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e
horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de
segurança na circulação. (grifamos)

Não basta a rodovia estar sinalizada, deve estar sinalizada de


acordo com a legislação vigente, o que não é o caso da Rodovia em
questão, tendo em vista tratar-se de rodovia recentemente pedagiada que
passa por obras de restauração, estando a sinalização em estado precário.
Ademais, o local indicado no auto de infração é uma reta sem
qualquer restrição para ultrapassagens, conforme pode-se observar pela
imagem do mapa em anexo.

O mapa em questão apenas reforça a precária situação da


sinalização no local, pois, uma vez que se trata de uma reta – Km 246 a 248
– jamais poderá ser sinalizada com faixa contínua.

O artigo 90 do mesmo dispositivo legal é claro ao indicar que as


sanções previstas no Código de Transito Brasileiro não se aplicam nos
casos de sinalização inadequada, in verbis:

ART. 90 - NÃO SERÃO APLICADAS AS SANÇÕES PREVISTAS NESTE


CÓDIGO POR NOBSERVÂNCIA À SINALIZAÇÃO QUANDO ESTA FOR
INSUFICIENTE OU INCORRETA. (GRIFAMOS)

Em hipótese alguma o recorrente pode ser penalizado por


falha no sistema, qual seja, a inadequada sinalização da indicação de
proibição em realizar ultrapassagens, comprovadamente em
desacordo com as normas acima transcritas.

Destarte, a fiscalização de trânsito é primeiramente


EDUCATIVA sendo a multa como SANÇÃO a última instância.

DO PEDIDO

Diante do exposto requer-se, por ser medida de direito e inteira


justiça:

I – O recebimento da presente DEFESA PRÉVIA para julgá-la


totalmente procedente;

II – Anulação do Auto de Infração pelos motivos expostos com


a conseqüente comunicação às Autoridades Competentes da anulação da
MULTA e dos pontos na Carteira de Habilitação do Recorrente;

No mérito, na improvável hipótese de ser mantida a


penalização requer:

III - seja julgada insubsistente a imposição de penalidade contra


este condutor, até final decisão administrativa ou judicial a respeito da
imposição ora administrada;
IV – Suspensão da pontuação no prontuário do condutor até
final decisão administrativa ou judicial a respeito da imposição ora
administrada.

Termos em que
Pede deferimento

De Curitiba - PR. Para São Paulo - SP, 15 de junho de 2010.

Diego Balieiro Werneck


Recorrente/Condutor

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