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Fuas
Roupinho, alcaide de Porto de Mós, caçava nas suas terras junto ao litoral quando
avistou um veado que de imediato começou a perseguir. De súbito, surgiu um denso
nevoeiro que se levantava do mar. O veado dirigiu-se para o cimo de uma falésia. D.
Fuas, no meio do nevoeiro, isolou-se dos seus companheiros. Quando se deu conta de
estar no topo da falésia, à beira do precipício, em perigo de morte, reconheceu o local.
Estava mesmo ao lado de uma gruta na qual se venerava uma imagem de Nossa Senhora
com o Menino. Rogou então: Senhora, Valei-me!. Imediata e milagrosamente o cavalo
estacou, fincando as patas no bico rochoso suspenso sobre o vazio, o Bico do Milagre,
salvando-se assim o cavaleiro e a sua montada da morte certa que adviria de uma queda
de mais de cem metros.
D. Fuas apeou-se e desceu à gruta para rezar e agradecer o milagre. De seguida mandou
os seus companheiros chamar pedreiros para construirem sobre a gruta, em memória do
milagre, uma pequena capela, a Capela da Memória, para ali ser exposta à veneração
dos fiéis a milagrosa imagem. Antes de entaiparem a gruta os pedreiros desfizeram o
altar ali existente, onde entre as pedras estava escondido um cofre em marfim contendo
algumas relíquias e um pergaminho, no qual se relatava a história da pequena imagem
esculpida em madeira, representando uma Virgem Negra, sentada a amamentar o
Menino Jesus.
A imagem de Nossa Senhora da Nazaré, foi então trazida por Frei Romano, monge de
Cauliniana, e por D. Rodrigo, o último rei Visigodo, para o litoral atlântico. Quando
chegaram ao seu destino, instalaram-se no cume do Monte de São Bartolomeu, num
eremitério vazio que lá existia, e ali permaneceram alguns dias. Decidiram então viver
sós. O frei levou consigo a sagrada imagem e instalou-se numa pequena gruta, sobre o
mar, perto do Monte onde o rei continuou a viver. Passado um ano, frei Romano morreu
e Rodrigo sepultou-o no solo da gruta, onde deixou a sagrada imagem sobre o altar onde
permaneceu 371 anos até, em 1182, ser mudada para a capela que D. Fuas mandou
construir sobre a gruta, após o milagre. A imagem permanece pois, desde 711, no
mesmo sítio, o Sítio da Nazaré.
Segundo a tradição oral, a imagem terá sido esculpida por São José carpinteiro, na
Nazaré, na Galileia, quando Jesus era ainda um bébé de mama. Algumas décadas depois
São Lucas evangelista pintou-a. Conservou-se na Nazaré até ser oferecida a São
Jerónimo de Strídon, que a ofereceu a Santo Agostinho bispo de Hipona no norte de
África, que por sua vez a ofereceu ao mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida. Assim
sendo poderá ser a mais antiga imagem venerada por cristãos.
Até hoje, a tradição aponta aos visitantes a marca deixada por uma das
patas do cavalo de D. Fuas, no extremo do Bico do Milagre, ao lado da Capela
da Memória.
A PADEIRA DE ALJUBARROTA
Brites de Almeida não foi uma mulher vulgar. Era feia, grande, com os
cabelos crespos emuito, muito forte. Não se enquadrava nos típicos padrões
femininos e tinha um comportamento masculino, o que se reflectiu nas
profissões que teve ao longo da vida. Nasceu em Faro, de família pobre e
humilde e em criança preferia mais vagabundear e andar à pancada que
ajudar os pais na taberna de donde estes tiravam o sustento diário. Aos
vinte anos ficou órfã, vendeu os poucos bens que herdou e meteu-se ao
caminho, andando de lugar em lugar e convivendo com todo o tipo de gente.
Aprendeu a manejar a espada e o pau com tal mestria que depressa alcançou
fama de valente. Apesar da sua temível reputação houve um soldado que,
encantado com as suas proezas, a procurou e lhe propôs casamento. Ela, que
não estava interessada em perder a sua independência, impôs-lhe a condição
de lutarem antes do casamento. Como resultado, o soldado ficou ferido de
morte e Brites fugiu de barco para Castela com medo da justiça. Mas o
destino quis que o barco fosse capturado por piratas mouros e Brites foi
vendida como escrava. Com a ajuda de dois outros escravos portugueses
conseguiu fugir para Portugal numa embarcação que, apanhada por uma
tempestade, veio dar à praia da Ericeira. Procurada ainda pela justiça,
Brites cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve. Um
dia, cansada daquela vida, aceitou o trabalho de padeira em Aljubarrota e
casou-se com um honesto lavrador..., provavelmente tão forte quanto ela.
A ABÓBADA