Que nunca serei alguém. Seus olhos --- se eu sei pintar Sei de sobra O que os meus olhos cegou --- Que nunca terei uma obra. Não tinham luz de brilhar. Sei, enfim, Era chama de queimar; Que nunca saberei de mim. E o fogo que a ateou Sim, mas agora, Vivaz, eterno, divino, Enquanto dura esta hora, Como facho do Destino. Este luar, estes ramos, Divino, eterno! --- e suave Esta paz em que estamos, Ao mesmo tempo: mas grave Deixem-me crer E de tão fatal poder, O que nunca poderei ser. Que, num só momento que a vi, Almeida Garrett Queimar toda alma senti... Voz e Aroma Nem ficou mais de meu ser, A brisa vaga no prado, Senão a cinza em que ardi. Perfume nem voz não tem; Quem canta é o ramo agitado, O aroma é da flor que vem. A mim, tornem-me essas flores Que uma a uma vi murchar, Restituam-me os verdores Aos ramos que eu vi secar...
E em torrentes de harmonia Minha alma se exalará, Esta alma que muda e fria Nem sabe se existe já.