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A Revolução Cubana

Cuba foi a última colônia americana a libertar-


se do domínio metropolitano. Parte do
domínio espanhol, sua independência foi
obtida após a guerra hispano-americana
(1898), com a ajuda militar norte-
americana. O envolvimento dos Estados
Unidos no conflito com a Espanha foi a
única alternativa encontrada pelos norte-
americanos, há muito tempo interessados
na produção açucareira e nas minas
cubanas.

Em 1902, a Emenda Platt, inserida na


Constituição cubana, assegurava aos Estados
Unidos o direito de intervir militarmente no país para garantir
sua independência. Em 1903, o governo cubano arrendou
aos Estados Unidos a base militar de Guantánamo. A partir daí, não foram poucas as
intervenções de fuzileiros americanos para garantir a ordem em território cubano. Durante
as primeiras décadas do século XX, a participação direta dos Estados Unidos na vida
econômica de Cuba, com investimentos na modernização da produção açucareira, por
exemplo, desnacionalizou a economia cubana, tornando a ilha uma moderna feitoria
agroindustrial. Com os problemas nacionais, decorrentes da dependência externa, a
miséria no campo e a insatisfação social, cresceu o sentimento anti-imperialista e
nacionalista, reprimido duramente pelo governo controlado pelos Estados Unidos.

Entre as classes sociais as disparidades eram gritantes. De um lado, uma pequena elite
permanecia encastelada e servindo aos interessas do capitalismo norte-americano - que
somente entre 1946 e 1958 investiram 80.000.000 de dólares na ilha.

As camadas pobres apresentavam-se como o grupo mais próximo da defesa de um


sentimento de nacionalismo, pois a emergência dessa camada deu-se com a penetração
de capitais estrangeiros que transformaram os camponeses em trabalhadores
assalariados rurais - fato que destoa do restante da história latino-americana, onde esse
tipo social surgiu posteriormente ao advento dos Estados nacionais.

Enquanto os trabalhadores rurais da América Latina passavam pelas mãos dos caudilhos,
os trabalhadores cubanos conheciam diretamente o poder do capital monopolista norte-
americano - que na década de 1950 controlava 40% da produção açucareira. Fato
importante a ser destacado com relação a Cuba é que a maioria dos trabalhadores eram
rurais e não urbano-industriais, pois a industrialização não foi priorizada pelos investidores
estrangeiros.

Os efeitos do imperialismo recaíam sobre esse numeroso grupo, que sofria desde o
desemprego até a exploração brutal da força de trabalho, mas que sustentava uma
posição política contrária à situação pela qual estava passando.

A classe média encontrava-se dividida entre os apoiadores da elite e os intelectuais


sensíveis aos protestos. Comportava-se como um grupo extremamente heterogêneo e
desarticulado internamente, sem oferecer um projeto político para Cuba.

Em 1925, subiu ao poder o ditador Gerardo Machado, que, não resistindo aos efeitos da
crise de 1929, foi derrubado em 1933 por um movimento popular liderado por Ramón Grau
de San Martin.

Em 1934 surge na política cubana a figura de Fulgêncio Batista, um sargento do Exército,


que marcará a história cubana por ter se tornado várias vezes "presidente" do país. O
período de governo de Fulgênio Batista estendeu-se de 1934 até 1959. Somente foi
interrompido entre 1944 e 1952, quando o Partido dos Autênticos elegeu Ramón Grau de
San Martin e seguido a esse, em 1948, foi eleito Pio Socarrás, deposto pelo próprio
Fulgênio Batista.

A partir desse período, a tendência foi de aprofundamento da dominação norte-americana


sobre Cuba, que é descrita como sendo esse momento o "bordel" dos Estados Unidos.

O ano de 1953 marca-se de importância para Cuba, pois o movimento estudantil passa a
promover manifestações contra o governo de Fulgênio Batista.

Em 26 de julho desse ano, Fidel Castro - um advogado e membro do Partido Ortodoxo -


liderou um ataque ao quartel de Moncada. Frustada a tentativa, os rebeldes foram para a
prisão e, em maio de 1955, depois de anistiados, foram para o exílio no México.

Fora de Cuba, Fidel e Raul Castro e médico argentino Ernesto "Che" Guevara
organizaram o movimento 26 de julho, com o claro objetivo de voltar a Cuba a derrubar a
ditadura de Batista.

O desembarque dos revolucionários do iate Granma estava sendo esperado pelas tropas
de Fulgênio Batista e marcou-se por uma sangrenta luta que levou à morte a maior parte
dos integrantes do movimento.

Fidel, Raul e "Che" conseguiram chegar à Sierra Maestra, de onde passaram a organizar
os camponeses para a luta armada. Ao mesmo tempo, os rebeldes buscavam o apoio de
setores da burguesia contrário à ditadura de Fulgêncio Batista e que acreditavam em um
projeto nacionalista para Cuba, dentro do respeito à propriedade privada. Era assinado,
então, o Manifesto de Sierra Maestra, que no ano seguinte, 1958, foi ampliado pela
formação da Frente Cívico-Revolucionária Democrática, no qual a burguesia cubana
concordava com a luta armada para depor Fulgêncio Batista.

Em outubro de 1958 teve início a "Marcha sobre Havana", que cai em mãos dos rebeldes
em janeiro de 1959.

Com a fuga do ditador, montou-se o Governo Provisório, tendo à frente o presidente


Manuel Urrutia e o primeiro-ministro Miró Cardona, que no início era apenas reformista.

São nacionalizadas empresas norte-americanas de petróleo e transporte, reformuladas as


políticas de educação e saúde pública, suprimidos os latifúndios e realizada a reforma
agrária.

A tensão entre a burguesia e as camadas populares se ampliam na medida em que essas


consideravam as reformas precárias em relação às suas necessidades. Logo, o primeiro-
ministro Miró Cardon é substituído por Fidel Castro, o que levou à preponderância dos
anseios populares.

As medidas reformistas foram suficientes para provocar o descontentamento norte-


americano, que foi impondo uma série de medidas restritivas - como por exemplo o boicote
ao açúcar e a tentativa de invasão ao território cubano em apoio aos anticastristas, no
malogrado desembarque à Baía dos Porcos.

As pressões norte-americanas, em meio à Guerra Fria, culminaram com a expulsão de


Cuba da OEA, em 1962. Desse episódio, a URSS aproveita-se para enfraquecer as
posições dos Estados Unidos e prometem instalar uma base de mísseis em Cuba,
gerando um dos episódios mais tensos da Guerra Fria, quando navios americanos
impedem a frota russa de chegar à ilha, em outubro de 1962.

Em troca de pretensa paz mundial, Estados Unidos e URSS assinam um acordo em que a
URSS se compromete a não instalar bases de mísseis em Cuba e os Estados Unidos a
não tentar invadir novamente a ilha.

A partir de então, Cuba passa a vivenciar a primeira experiência socialista da América


Latina. Em 1963, foi criado o Partido Unificado da Revolução Socialista que, em 1965, foi
substituído pelo Partido Comunista Cubano.
Cuba, cuja luta pela independência foi liderada pelo poeta José Martí, foi o último país
latino-americano a conseguir libertar-se da Espanha, em 1898. Os EUA, então sob a
política do Big Stick de Roosevelt, conseguiram incluir na Constituição cubana de 1901
a Emenda Platt, que admitia a possibilidade de uma invasão norte-americana, além de
receber dos cubanos uma área 117 Km2 - a baía de Guantanamo, ainda hoje base norte-
americana em Cuba. A partir da independência, a tutela político-econômica dos EUA
foi garantida por governos locais ditatoriais, como o de Fulgêncio Batista de 1934 a
1958.
Na década de 50, a oposição à ditadura cresceu consideravelmente, surgindo
movimentos guerrilheiros , sob a liderança de Fidel Castro, Camilo Cienfuengos e
Ernesto “Che” Guevara, que a partir de 1956 obtiveram sucessivas vitóriias e ocuparam
cidades e povoados. Em 31 de dezembro de 1958, Fulgêncio Batista, derrotado, fugiu
para a Republica Dominicana.
O novo governo revolucionário, apartir de 1959, definiu uma política de mudanças que
se chocava frontalmente com os tradicionais interesses dos EUA no país. A realização
de reforma agrária e nacionalização das refinarias de açúcar, usinas e indústrias -
maioria norte-americanas - levaram os EUA a suspender a importação do açúcar
cubano. Sendo a venda do açúcar vital à economia cubana, um novo mercado precisaria
surgir, e o país voltou-se para os soviéticos.
Num mundo bipolarizado, apesar da fase de coexistência pacífica, a ligação cubana aos
soviéticos, bastou para o presidente John Kennedy tomar medidas radicais. Em janeiro
de 1961, os EUA romperam relações diplomáticas com Cuba e, em abril, um grupo de
soldados formado por exilados cubanos e mercenários norte-americanos desembarcou
na Baía dos Porcos, recebendo apoia da força aérea numa tentativa de derrubar Fidel
Castro.
A invasão norte-americana foi um completo fracasso, o que aumentou o prestígio de
Fidel, que num discurso após a vitória, anunciou ao mundo que Cuba era socialista. Ao
entrar para os socialistas, Cuba se tornaria um importante ponto estratégico para a União
Soviética, que promoveu a tentativa de instalar mísseis na ilha. Esse fato desencadeou
uma crise entre Kennedy e Kruschev, pondo em risco a paz mundial. Após rigoroso
cerco e ameaça de desembarque, os soviéticos desistiram da idéia.
Ainda em 1962, Cuba foi expulsa da OEA sob a acusação de que disseminava a
subversão pelo continente, embora contasse com aliados de peso na América.
Simultaneamente, Kennedy lançou para a América a Aliança para o Progresso, um
programa de ajuda econômica que veiculava ideais norte-americanos, numa tentativa de
combater as influências da Revolução Cubana sobre outras regiões do continente.
Aos poucos, estabeleceu-se um isolacionismo forçado sobre Cuba, levando o governo
de Havana a apoiar os movimentos guerrilheiros que ocorriam em diversos pontos do
continente, buscando subverter os poderes estabelecidos aliados aso EUA. Nesse
processo, foi fundada, em 1967, a Organização Latino-Americana de Solidariedade
(Olas), em Havana, em apoio às lutas armadas da América Latina, como na Bolívia,
Colômbia e países centro-americanos onde atuava pessoalmente o líder da revolução
cubana Che Guevara, que foi morto no mesmo ano na Bolívia. À atitude ofensiva
cubana, os EUA responderam com uma política de apoio aos golpes militares do
continente, implantando governos ditatoriais para afastar o comunismo.
No fim dos anos 60 e mais decididamente nos anos 70 e 80, governos progressistas
(como Chile e Peru), decididos a escapar do alinhamento automático aos EUA,
restabeleceram relações com Cuba. Reflexo das relações internacionais mais amenas,
durante os governos de Jimmy Cartér e Gerald Ford, estabeleceram-se escritórios de
representação de ambos os países em suas capitais. Todavia, diante da política
internacional pendular, com o governo Reagan retornam-se as pressões e atritos. Os
EUA militarizaram Honduras e El Salvador, como medida de pressão aos sandinistas da
Nicarágua, apoiados pelos cubanos.
A nova política de enfrentamento transformou a América Central em uma região de
guerra civil e crise nos anos 80. Em 1990, o apaziguamento internacional elaborado por
George Bush e Mikhail Gorbatchev motivou uma pequena reversão desse quadro na
região.
A Revolução cubana, na América Latina, foi uma via específica da solução aos
problemas de miséria e ditadura produzidos pelo subdesenvolvimento, cujas soluções
apontavam para o não-alinhamento com os EUA durante a Guerra Fria. Assim, após 25
anos de Revolução, o governo cubano pode proclamar que conseguira o fim do
desemprego, da miséria e do analfabetismo.

No início dos anos 90, com as mudanças no Leste europeu e o fim da URSS, reforçram-
se as pressões por reformas que eliminassem o monolitismo, obstáculo a uma abertura
sintonizada com as transformações dos ex-socialistas e exigidas pelos países
capitalistas.
Ao mesmo tempo em que as relações entre os ex-socialistas europeus enfraqueciam, os
EUA intensificaram o bloqueio econômico iniciado em 1961, multiplicando as
dificuldades de Cuba e do socialismo. Os efeitos têm sido tão negativos, que muitas
conquistas sociais, econômicas e culurais até os anos 80, ou foram anuladas ou estão
sob ameaça de reversão.
O colapso dos socialistas do Leste europeu e da URSS provocou uma retração
econômica, próxima a 50% entre 1990 e 94.
Apesar disso, os dirigentes comunistas cubanos reafirmaram o lema revolucionário
castrista “socialismo ou morte”, passando, em meados da década de 90, a buscar um
reformismo econômico e a aproximação com a comunidade internacional discordante
do bloqueio norte-americano. Outro mecanismo adotado pelo governo cubano foi o
incremento do turismo, sendo que 750 mil visitantes entraram no país em 1994,
trazendo capital que ajudou a enfrentar o bloqueio econômico.
Inúmeras pressões têm sido feitas em busca do fim do bloqueio norte-americano a Cuba,
posição contrária aos que defendem que as conseqüências do mesmo culminará na
queda de Fidel. Esta política é defendida pela população cubana estabelecida na Flórida,
que possui peso nas eleições locais, e que influenciam na política externa dos EUA.
Já não são poucos os defensores de que as mudanças virão em seu ritmo e que o contato
com o resto do mundo mudará a estrutura socialista cuban. A todo este quadro soma-se
a questão da liderança e sucessão de Castro, com 70 anos de idade.
No início de 1996, devido à derrubada, pela Força Aérea cubana, de dois pequenos
aviões norte-americanos pilotados por exilados cubanos anti-castro, a proposta Helms-
Burton foi transformada em lei, determinando sanções às empresas e indivíduos de
qualquer país que mantivesse relações com Cuba. A medida foi criticada por vários
países, até por alguns parceiros comerciais dos EUA e tribunais internacionais,
levantando as possibilidades de uma “guerra comercial” em época do crescimento do
livre comércio no mundo.

Em 1947 Ernesto entra na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em


primeiro lugar por sua própria doença e desenvolvendo logo um especial interesse pela lepra.
Durante 1952, realiza uma longa jornada pela América Latina, junto com seu amigo Alberto
Granados, percorrendo o sul da Argentina, o Chile, o Peru, a Colômbia e a Venezuela. Observam,
se interessam por tudo, analisam a realidade com olho crítico e pensamento profundo. Ernesto
regressa a Buenos Aires decidido a terminar o curso e no dia 12 de julho de 1953 recebe o título
de médico. 

Em julho de 1953, inicia sua segunda viagem pela América Latina. Nessa oportunidade visita
Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Guatemala. Ao visitar as
minas de cobre, as povoações indígenas e os leprosários, Ernesto dá mostras de seu profundo
humanismo, vai crescendo e agigantando seu modo revolucionário de pensar e seu firme
antiimperialismo. Na Guatemala conhece Hilda Gadea, com quem se casa e de cuja união
nasce sua primeira filha.
A fins da década de 1950, quando Fidel e os guerrilheiros invadem Cuba, Che os acompanha,
primeiro como doutor e logo assumindo o comando do exército revolucionário. Finalmente, no
dia 31 de dezembro de 1958, cai o ditador cubano Fulgencio Batista. 

Após o triunfo da Revolução, Che Guevara se transforma na mão direita de Fidel Castro no
novo governo de Cuba. É nomeado Ministro da Indústria e posteriormente Presidente do Banco
Nacional. Desempenha simultaneamente outras tarefas diversas, de caráter militar, político e
diplomático. Em 1959 casa-se, em segundas núpcias, com sua companheira de luta, Aleida
March de la Torre, com quem terá mais quatro filhos. Visitam juntos vários países comunistas
da Europa Oriental e da Ásia.

Oposto energicamente à influência norte-americana no Terceiro Mundo, a presença de


Guevara foi decisiva na configuração do regime de Fidel e na aproximação cubana ao bloco
comunista, abandonando os tradicionais laços que tinham unido Cuba e Estados Unidos. 

Em 1962, após uma conferência no


Uruguai, volta à Argentina e também visita
o Brasil. Che Guevara esteve ainda em
vários países africanos, principalmente no
Congo. Lá lutou junto com os
revolucionários antibelgas, levando uma
força de 120 cubanos. Depois de muitas
batalhas, terminaram derrotados e no
outono de 1965 ele pediu a Fidel que
retirasse a ajuda cubana.

Desde então, Che deixou de aparecer em atividades públicas. Sua missão como embaixador
das idéias da Revolução Cubana tinha chegado ao fim. Em 1966, junto a Fidel, prepara uma
nova missão na Bolívia, como líder dos camponeses e mineiros contrários ao governo militar. A
tentativa acabou significando sua captura e posterior execução no dia 9 de outubro de 1967.
Os restos do Che descansam no mausoléu da Praça Ernesto Che Guevara em Santa Clara,
Cuba.
citações
"Nasci na Argentina; não é um segredo para ninguém. Sou cubano e também sou
argentino e, se não se ofendem as ilustríssimas senhorias da América Latina, me sinto tão
patriota da América Lati na, de qualquer país da América Latina, que no momento em que
fosse necessário, estaria disposto a entregar a minha vida pela liberação de qualquer um
dos países da América Latina, sem pedir nada para ninguém, sem exigir nada, sem
explorar ninguém."

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