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PORQUÊ? Explicação
Quem fala? Sujeito que tem capacidade de se designar a si mesmo, como autor de seus
enunciados.
A capacidade de designar-se a si mesmo como autor de seus atos e o poder de intervir nestas
ações, pressuposto pelo conceito ético-jurídico da imputação, são indispensáveis para atribuição
ulterior de direitos e deveres.
Distinção entre componente narrativa da identidade pessoal ou coletiva, capaz de agir e portanto
em constante mutação e a identidade das coisas que é estática. Esta distinção tem importância
para um inquérito sobre identidade dos povos e das nações.
Em última instância resta analisarmos os predicados éticos e morais, que se ligam quer à idéia de
bem (ético) quer à idéia de obrigação (moral), aplicados às ações do indivíduo, que consideramos
boas ou más. Um sujeito de imputação resulta da aplicação reflexiva destes predicados aos
próprios agentes.
A noção de sujeito capaz atinge seu ápice na capacidade de sermos dignos de estima ou de respeito
enquanto somo capazes de avaliar como boas ou más, de declarar como permitidas ou proibidas as
ações dos outros ou as nossas.
Consideramos uma ligação de implicação mútua entre estima de si e avaliação ética (segundo visão
aristotélica- individual) e respeito de si e avaliação moral (sentido kantiano- social). Em conjunto,
estima de si e respeito de si definem a dimensão ética e moral do eu, na medida em que se
caracterizam o homem como sujeito de imputação ético-jurídica.
Segundo Paul Ricoeur: “Estimamo-nos como capazes de estimar nossas próprias ações, respeitamo-
nos por sermos capazes de julgar imparcialmente nossas próprias ações. Assim, auto-estima e
autorespeito dirigem-se reflexivamente a um sujeito capaz.”
Passagem de sujeito capaz para um sujeito de direito efetivo, ocorre em quatro níveis.
A vontade de viver em conjunto é conferida pela instituição política numa estrutura distinta de
todos os sistemas caracterizados como “ordem de reconhecimento”.
“A justiça, é a virtude primeira das instituições sociais, tal como a verdade o é para os sistemas de
pensamento”(Rawls – Uma Teoria da Justiça). A justiça tem a mesma extensão que as “ordens de
reconhecimento”, pois a aplicação da regra de justiça nas interações humanas supõe que se possa
considerar a sociedade como um vasto sistema de distribuição, isto é, de partilha de papéis, de
cargos, de tarefas e muito para além da simples distribuição no plano econômico de valores
materiais.
CONCLUSÃO: Quem é o sujeito de direito? A distinção entre capacidade e realização, que implica
a distinção entre duas versões do liberalismo. Numa primeira hipótese é o sujeito capaz digno de
respeito, que segundo o Contrato Social, é um sujeito de direito completo antes de entrar na
relação contratual, cede direitos reais (naturais) em troca de segurança (Hobbes) ou civilidade e
cidadania (Rosseau e Kant), sendo esta associação a outros indivíduos num corpo político, aleatória
e revogável. Na segunda hipótese, defendida por Ricouer, um sujeito de direito é um cidadão
nascido desta mediação institucional que só pode desejar que todos os homens gozem como ele
dessa mediação política que, juntando-se às condições necessárias que relevam de uma
antropologia filosófica, se torna uma condição suficiente para transição do homem capaz para o
cidadão real.
Posicionando-se além do liberalismo tradicional, Ricoeur entende que sem a mediação institucional
“... o indivíduo é apenas um esboço de homem...”, requer, para sua “realização humana” o
pertencimento a um corpo político, de modo que, este pertencer não seria passível de revogação –
buscando, por isso, ampliar a toda a humanidade o usufruto da mediação política, meio pelo qual
seria possível existir uma verdadeira cidadania.