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limites e possibilidades
Danilo Rodrigues César1, Débora Abdalla Santos1, Djane Lúcia Moura Conceição
Cruz1, Jerônimo Teles dos Santos1, João Teixeira de Jesus1, Leandro Santos1,
Thalita Gonzaga1
1Universidade Federal da Bahia (UFBA)
danilorcesar@gmail.com, abdalla@ufba.br, djane_cruz@yahoo.com.br,
jeronimoteles@gmail.com, joaocompufba@gmail.com, zapata492@yahoo.com.br
pequenagonzaga@gmail.com
1. Introdução
Entendemos por Inclusão Digital (ID) a possibilidade de acesso dos cidadãos de uma
sociedade às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que incluem, entre
outras, os computadores e serviços de internet. Segundo a Fundação Getúlio Vargas
[FGV 2003] este acesso pode ser dividido em três tipos: acesso ao capital físico
(computador, periféricos, etc.), capital humano (i.e., aulas de informática, educação
básica, etc.) e capital social (internet e outras formas de associativismo). Assim, para
que a inclusão digital seja completa e sustentável é preciso que o cidadão se aproprie
das tecnologias de informação de forma ampla, consciente e autônoma. Incluímos nesta
lista a dimensão ambiental, o cidadão deve estar consciente dos problemas gerados pelo
lixo tecnológico, também chamado resíduo eletroeletrônico.
Recentemente vemos no país diversas iniciativas para promover a inclusão
sociodigital, provenientes dos governos locais e federais, de entidades não
governamentais (ONGs) e iniciativas privadas. Em Silveira e Cassino (2003) são
encontrados vários exemplos – Cidadania Digital: os Telecentros do Município de São
Paulo; Telecentros comunitários: Peça Chave da Inclusão Digital – A Experiência do
sampa.org; A Experiência Pioneira do Software Livre no Rio Grande do Sul. Na era dos
bits, a desigualdade social agora é fortalecida por aqueles que têm ou não acesso à
informação.
Neste contexto, surge o programa Onda Digital que busca diminuir a distância
entre estas duas realidades, reduzindo esta “brecha digital”, colocando a Universidade
como instituição atuante no cenário da inclusão sociodigital. Acreditamos que por
serem centros de excelência na produção e difusão do conhecimento e também,
instituições públicas, as Universidades Federais têm um papel relevante nos processos
de inclusão sociodigital.
Uma das ações do Programa Onda Digital é o Projeto Onda Solidária de
Inclusão Digital1 que tem como missão “Promover o uso das tecnologias livres de
informação e comunicação como meio de contribuir para sustentabilidade e
desenvolvimento sociocultural e econômico local, potencializando ações de reutilização
e descarte adequado do lixo tecnológico”. O projeto Onda Solidária de Inclusão Digital
busca em uma de suas linhas de ação a preservação ambiental, através da formação de
cidadãos consciente e preocupados com a preservação do meio ambiente. Para tal,
destaca-se a reciclagem de computadores e a sensibilização aos problemas gerados pelo
lixo tecnológico.
Entendemos que aliado aos esforços da comunidade científica no
desenvolvimento de metodologias e ferramentas para gestão do meio ambiente e
recursos naturais os fatores sociais devem ser trabalhados em paralelo como forma
efetivamente sustentável para o progresso da vida humana no planeta Terra.
Neste artigo, relatamos nossa experiência em levar a problemática do lixo
tecnológico para uma parte do público alvo do Programa Onda Digital. Em particular,
as experiências com duas oficinas de arte com lixo tecnológico e duas oficinas de
robótica pedagógica livre. Além disto, o projeto Onda Solidária de Inclusão Digital
implantou na comunidade de Pirajá um telecentro comunitário montado apenas com
máquinas recondicionadas que ficou a disposição para acesso livre por 18 meses,
mostrando que podemos utilizar equipamentos eletroeletrônicos considerados como lixo
para uso social.
2 Disponível em <http://www.arede.inf.br/inclusao/edicoes-anteriores/172-edicao-no-64-
novembro2010/3558-premio-arede-2010-especial-educacao-onda-digital>. Acesso em: 24 mar 2011.
cultura digital e meio ambiente está praticando a transdicisplinaridade em prol do
processo pesquisa, ensino e extensão.
Ao propor versar sobre Tecnologias Livres nas instituições de ensino superior
sob a perspectiva de preservação ambiental, é apresentar o problema Lixo Tecnológico
e a Robótica Pedagógica Livre aliada ao uso do Software Livre como soluções possíveis
para minimizar os danos ambientais. Faremos uso da expressão Robótica Pedagógica
Livre como proposta pedagógica; isto é,
consideramos que Robótica Pedagógica Livre é uma denominação para o
conjunto de processos e procedimentos envolvidos em propostas de ensino e
aprendizagem que tomam os dispositivos robóticos como tecnologia de
auxílio para/na construção do conhecimento. Desta forma, quando nos
referirmos à robótica pedagógica não estamos falando da tecnologia ou dos
artefatos robóticos em si, nem do ambiente físico onde as atividades são
desenvolvidas. Não estaremos nos referindo à outra coisa senão à proposta de
possibilidades metodológicas de uso de tecnologias informáticas e robóticas
no processo de ensino e aprendizagem [César 2008].
6 Disponível em <http://libertas.pbh.gov.br/~danilo.cesar/robotica_livre/projeto_robo_escova_livre/>.
Acesso em: 24 mar 2011.
7 Disponível em <http://libertas.pbh.gov.br/~danilo.cesar/robotica_livre/projeto_robo_frank/>. Acesso
em: 24 mar 2011.
ver os leds acendendo e apagando.
A oficina da Erbase foi realizada no período de 15 a 18 de abril de 2008 com
carga horária total de 12 horas e contou com a participação de 20 estudantes
universitários da área de Computação e Informática, inscritos na Erbase. Os
participantes da oficina foram divididos em 4 grupos de 5 pessoas. As equipes foram
formados no primeiro dia e decidiram qual o tema e os materiais que iriam utilizar. No
período de 4 dias, cada equipe construiu uma Interface de Hardware Livre (IHL), além
da construção de um "artefato robótico" com a utilização de sucatas. Na seção de
encerramento da Erbase, cada grupo apresentou seu produto final (kit de robótica
pedagógico livre e artefato robótico) construído a partir do “lixo tecnológico” e
demonstraram os seus movimentos a partir dos softwares livres desenvolvidos. Uma
comissão avaliou os artefatos construídos no quesito aplicabilidade e grau de
dificuldade do software desenvolvido.
Estas duas experiências nos mostraram as diversas possibilidades de uso da
robótica pedagógica livre para o ensino e aprendizagem de conteúdos escolares , ao
mesmo tempo que faz uso de material que seria descartado, em geral de forma
inapropriada, sensibilizando os jovens com a questão do lixo tecnológico.
Entretanto, a Robótica Pedagógica Livre pode exigir um percurso didático mais
longo – dicas para a criação de projetos escolares 8. E para ser bem aproveitada – de
acordo com o contexto da escola e/ou dos alunos –, alguns pré-requisitos como
conhecimentos básicos em eletrônica e em linguagem de programação podem ser
necessários.
Para atingir um público mais de crianças e com oficinas de curta duração,
experimentamos realizar oficinas de arte para construção de artefatos não robóticos.
4. Considerações Finais
A problemática da preservação do meio ambiente dentro da perspectiva do
Desenvolvimento Sustentável, impera mudança radicais para assegurar a continuidade
da vida na terra em condições saudáveis. Para que isso se concretize é imprescindível, a
mudança dos padrões de consumo, pressionando o setor industrial a mudar os seus
meios de produção e acrescentar em sua logística o retorno dos produtos para o
fabricante.
O ato de consumir tem que ir além das fronteiras da aquisição para atender uma
necessidade imediata ou não, passando a ser um ato político, consciente do seu poder
decisório em preservar o meio ambiente.
O conceito de consumo consciente traz a luz vários elementos que sustentam o
argumento que crescimento econômico e preservação do meio ambiente são possíveis
em uma sociedade. Desta maneira, respostas e soluções desencadeadas a partir da
compreensão dos limites impostos não só pelo capital natural, mas também, pelas
limitações do desemprego, precarização das formas de trabalho e outros motivos que,
pedem o redesenho das organizações, visando ações que primem pelo bem estar dos
seres vivos.
Nesse trabalho alcançamos resultados concretos com o recondicionamento de
computadores para compor telecentros comunitários e vivenciamos o potencial inovador
das Tecnologias Livres e seus desdobramentos nas práticas pedagógica, instigando a
transdicisplinaridade, despertando nos jovens a consciência dos problemas causados
pelo lixo tecnológico e criando um ambiente dinâmico de ensino e aprendizagem.
Enfrentamos os limites do que podem ser transformados, mesmo com essas
iniciativas, muito material que foi doado ao Projeto Onda Solidária de Inclusão Digital
continua sem solução para correta destinação. Não serviram para (re)compor
computadores novos, não foram usados nos artefatos robóticos, nem utilizados nas
oficinas de artes.
A abordagem desse tema ainda não é proporcional à sua importância, o que
contribui para o desconhecimento de suas potencialidades, inclusive quanto à
exploração econômica, dadas as diversidades conjunturais inerentes tanto quanto às
possibilidades de reciclagem, quanto ao custo somado das atividades de coleta,
tratamento e destinação final.
Os efeitos da poluição gerada por esses resíduos, junto com as outras diversas
formas que o homem agride a natureza, já estão produzindo resultados notórios. Muitas
pessoas em cidades de países subdesenvolvidos estão deixando de se dedicar à
agricultura para manipular os resíduos eletroeletrônicos na procura de metais preciosos,
expondo o próprio corpo aos componentes tóxicos e descartando as partes não
aproveitadas no solo, sem qualquer proteção, comprometendo uma vasta área ao redor
e, inclusive, sua própria saúde.
O ideal seria buscar o gerenciamento integrado de todos os tipos de resíduos
sólidos, através do envolvimento de diversos setores da sociedade, com o objetivo de
aproveitar todas as possibilidades oferecidas de reciclagem e descarte mais seguro.
Através do gerenciamento integrado, é possível a identificação de alternativas
tecnológicas economicamente viáveis, adequadas à realidade de cada localidade, no
sentido de reduzir os impactos negativos provenientes da produção do lixo.
Referências
César, Danilo Rodrigues, Revista CESoL, 2008. Disponível em
<http://www.cesol.ufc.br/node/58>. Acesso em: 24 mar 2011.
FGV – Fundação Getúlio Vargas, “Mapa da Exclusão Digital”, 2003. Disponível em
<http://www.fgv.br/cps/bd/MID/APRESENTACAO/Texto_Principal_Parte1.pdf>.
Acesso em: 24 mar 2011.
Fontenelle, I. A, “O nome da marca: McDonald´s, fetichismo e cultura descartável”,
São Paulo: Boitempo, 2002. IBDC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor,
Revista do IDEC nº 131. Maio de 2009. Disponível em <http://www.idec.org.br>.
Acesso em: 25 jun 2009.
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Nicolescu, B, “O manifesto da transdisciplinaridade”, São Paulo: TRIOM, 1999.
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Silveira, Sérgio Amadeu; Cassino, João (organizadores), “Software Livre e Inclusão
Digital”, Editora Conrad, 2003.
SVTC – Silicon Valley Toxics Coalition, “Global E-Waste Crisis: E-Waste is the
Fastest Growing Part of the Waste Stream”. Disponível em
<http://www.svtc.org/site/PageServer?pagename=svtc_global_ewaste_crisis>.
Acesso em: 25 jun 2009.