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PLANEJAMENTO DE EXPERIMENTOS

EM LABORATÓRIO

(Análise e Otimização)

Prof. Patricio Peralta-Zamora

XI MET – Encontro Nacional sobre Metodologias de Laboratórios da Embrapa.


2006

“A partir de uma gota de água, um pensador


lógico poderia inferir a possibilidade de um
Atlântico ou de um Niágara, sem jamais ter
visto um e outro ou ouvido falar deles. Assim,
toda vida é uma grande cadeia, cuja natureza
é revelada pela simples apresentação de um
único elo”.
Sherlock Holmes
(Um estudo em vermelho.
Sir Arthur Conan Doyle).
2006

O crime não compensa!

A Ciência Forense não permite!


2006

O curandeiro da selva O homem sem sombra


(1992) (2000)

Cromatografia em fase gasosa


...sem gases?
Ciência é a arte de pensar!
2006
OS DESAFIOS DA QUÍMICA ANALÍTICA

CARÁTER MULTIDISCIPLINAR DA CIÊNCIA

NOVAS NECESSIDADES...NOVAS EXIGÊNCIAS

Convencionais Menos convencionais


Química Ambiental Arqueologia
Indústria Arte
Farmacologia Ciência forense
Medicina
Agronomia
OBJETIVOS

DESENVOLVER, MODIFICAR E COMBINAR TÉCNICAS ANALÍTICAS

Aumentar Sensibilidade Diminuir Custos


Diminuir Interferências Aumentar velocidade
Obter Especiação Aumentar robustez
2006
O DRAMA DA QUÍMICA ANALÍTICA

Desenvolvimento e aplicação de ferramentas


úteis para a determinação quantitativa e qualitativa de
espécies químicas de interesse.

Inúmeras espécies Matrizes de extrema


de interesse complexidade

Concentrações cada
vez menores

GRANDE COMPLEXIDADE
2006
O ARSENAL DA QUÍMICA ANALÍTICA

Métodos clássicos
Titulometria e gravimetria
Métodos eletroanalíticos Quando usar?
Potenciometria, voltametria, etc. Como usar?
Métodos espectroscópicos
Como otimizar?
Absorção, emissão, fluorescência, etc.
Como interpretar?
Métodos cromatográficos
Líquida, gasosa, etc.
2006
AS VERDADES DA ANÁLISE QUÍMICA

 A Química Analítica deixou de ser uma especialidade que


pudesse ser dominada por apenas um especialista.

 Seguindo a tendência da ciência moderna, os profissionais


desta área foram obrigados a optar por uma sub-especialidade.

 Desta forma, surgiram os especialistas em técnicas


espectroscópicas, eletroquímicas, cromatográficas, etc., sub-
especialidades estas, que ainda podem ser divididas, em função do
grande e crescente número de técnicas instrumentais que são
desenvolvidas a cada ano.
2006
AS VERDADES DA ANÁLISE QUÍMICA

Toda análise química é complexa. Muito mais quando a espécie de


interesse se encontra em baixa concentração e em uma matriz de
grande complexidade.

Não conhecer a história de um objeto de análise (procedência,


natureza, composição aproximada, etc.) é meio caminho andado para o
fracasso analítico.

Não existem técnicas analíticas instrumentais completamente livres


de interferência. Em função deste fato, o conceito de especificidade é
utópico.

Não existem técnicas analíticas instrumentais que apresentem uma


sensibilidade ilimitada. Em função deste fato, a determinação de
concentrações muito baixas usualmente representa um desafio, o qual
muitas vezes só pode ser contornado recorrendo-se ao uso de técnicas
de pré-concentração centenárias.
2006

Conselhos preliminares

“Porém, igual a um homem que caminha


solitário e na absoluta escuridão, decidi ir
tão lentamente, e usar de tanta ponderação
em todas as coisas, que, mesmo se avançasse
muito pouco, ao menos evitaria cair”
 

René Descartes
(Discurso do método)
2006

Conselhos preliminares

“Um método pode ser definido como uma


série de regras para tentar resolver um
problema. No caso do método científico,
estas regras são bem gerais. Não são
infalíveis e não suprem o apelo à imaginação
e à intuição do cientista”

Fernando Gewandsznajder
(O método nas ciências naturais e sociais).
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA
PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL

O que se pretende demonstrar com a análise?


Potabilidade de uma amostra de água
Potencial como meio de irrigação .
 
Qual ”O
o uso objetivo
que será dadoda análise
ao resultado? fornece os
primeiros indícios
Potencial comercial para
de uma a antimônio
mina de escolha de
procedimentos e técnicas
Prova residuográfica adequadas”.
(arma de fogo).

Qual o rigor analítico necessário?


Embora o rigor analítico seja recomendável em qualquer circunstancia,
existem atenuantes que podem ser consideradas.
Teor de magnésio em uma amostra de cimento (%)
Análise que objetiva demonstrar o doping de um atleta (ppb).
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA

INFORMAÇÕES RELATIVAS À AMOSTRA

•Faixa de concentração e forma química em que a espécie de


interesse se encontra
Se você não conhece todo o histórico da
sua amostra...desista!
•Interferentes que puderem existir na matriz em análise.

Em tempos
Em época de redede rede
mundial mundial a de
de computadores, coleta de
informações deste tipo e bastante simplificada, até para necessidades
computadores,
analíticas ignorância
pouco ortodoxas. Você é crime!quando descobrir a
poderá se surpreender
quantidade de pessoas que já se interessaram pelo seu objeto de estudo.
Vale a pena salientar que, na falta de informações deste tipo, o
estabelecimento de uma metodologia de análise pode resultar penosamente
demorado e decepcionante.
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA

ESCOLHA DO PROCEDIMENTO ANALÍTICO

CRITÉRIOS :
Compatibilidade entre a concentração da espécie de
interesse e a sensibilidade fornecida pela ferramenta
analítica.
SENSIBILIDADE
LIMITE DE DETECÇÃO
Compatibilidade entre a complexidade da matriz (presença
SELETIVIDADE
de interferentes) e a seletividade da técnica.
ESPECIFICIDADE

Facilidade na implementação da metodologia. Maior número


de etapas (abertura, diluição, pré-concentração, separação,
etc.), maior risco de contaminação ou perda da espécie de
interesse. Assim, quanto mais simples, melhor.

 
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA

ESCOLHA DO PROCEDIMENTO ANALÍTICO

CRITÉRIOS :
 Disponibilidade. Às vezes, terceirizar é melhor que
desenvolver uma rotina analítica complexa,
principalmente para a realização de análises
Caçar pernilongos com espingarda
esporádicas.
não é muito inteligente.

 Segurança. Procedimentos mais seguros e menos


poluentes deverão ser selecionados preferencialmente.

 Custo. Dentro deste contexto, é importante destacar


que a melhor escolha é sempre a mais simples.
 
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA

ESCOLHA DO PROCEDIMENTO ANALÍTICO

CASOS ESPECIAIS:

Tamanho da amostra (análise clínica e forense)


Necessidade de preservação (técnicas não-destrutivas,
autenticação de obras de arte e peças arqueológicas).
Velocidade de análise (controle de qualidade de processos
industriais)
Implementação de sistema on line (monitoramento contínuo,
em tempo real). È importante lembrar que existe um pequeno
número de técnicas instrumentas que permitem este tipo de
controle. Dentre outras, destacam-se as técnicas
espectroscópicas e potenciométricas.
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA

AMOSTRAGEM, PRESERVAÇÃO E ESTOCAGEM

Começa o drama

representatividade
2006
ETAPAS DA ANÁLISE QUÍMICA

AMOSTRAGEM

Teoria de Gy (Pierre Gy)


Sampling for Analytical Purposes, Wiley, 1998

Reconhece7 tipos de erros na amostragem, além do erro inerente


ao procedimento analítico.

Representatividade
Contaminação (estocagem)
Perda (adsorção, volatilização, etc.)
Decomposição (preservação)
Erros involuntários
Erros voluntários (desleixo)
Amostragem: arte de selecionar uma pequena porção de material,
a partir de uma amostra de grandes proporções.
2006
TRATAMENTO DE DADOS ANALÍTICOS

“Disso resulta que é mais freqüente


recolherem-se informações sobre as coisas
desconhecidas que dedicar-se atenção às já
conhecidas”
 
Francis Bacon
(Aforismos sobre a interpretação
da natureza e o reino do homem)
2006
TRATAMENTO DE DADOS ANALÍTICOS

Algarismos significativos

Exatidão (Erros)

Precisão (Desvios)
Repetibilidade
Reprodutibilidade

Rejeição de resultados (Teste Q ou de Dixon)

Comparação de médias (Teste t ou de Student)

Comparação de precisões (Teste F ou de Snedecor)

Expressão de resultados X +/- t s


N
QUIMIOMETRIA

Planejamento fatorial
de experimentos
2006

Planejamento fatorial de experimentos

Sistema multivariado de otimização

Objetivos
Triagem de variáveis
Otimização de variáveis
Interação entre variáveis

Sistema univariado convencional negligencia interação


2006

Otimização univariada convencional

Ponto de partida
C
Valor otimizado de pH

Valor otimizado de pH e C
Universo não explorado

pH
2006

Planejamento fatorial de experimentos

Procedimento

Definir variáveis relevantes


Quali e Quantitativas Conhecimento do
sistema químico
Definir níveis do estudo

Variáveis = n
Níveis = N
Experimentos = Nn
2006

Planejamento fatorial de experimentos


Exemplo 1
Objetivo: otimizar uma síntese orgânica (maximizar)
Variáveis envolvidas: temperatura (T) e catalisador (C)
Número de determinações: (níveis)variáveis: 22: 4 determinações

Variável Nível (-) Nível (+)


T (0C) 40 60
C A B
Combinações Respostas
Ensaio T C TC R1 R2 Rm
1 - - + 57 61 59
2 + - - 92 88 90
3 - + - 55 53 54
4 + + + 66 70 68

Desvio: 2 pp
2006

Planejamento fatorial de experimentos


Exemplo 1
Interpretação geométrica dos resultados

+14 Efeitos
B 54 68
T = (+14+31)/2 = 22,5
Catalisador

-5 -22 C = (-5-22)/2 = -13,5

Melhores condições
+31
A 59 90
Temperatura de 60 0C

Catalisador A
40 60
Temperatura
2006

Planejamento fatorial de experimentos


Exemplo 1

B 54 68
Caminho univariado com sorte
Catalisador

A 59 90 Caminho univariado sem sorte

40 60
Temperatura
2006

Planejamento fatorial de experimentos


Operação evolucionária

A B

C D
2006
Operação evolucionária
Exemplo: Estudo para diminuição do custo na produção de um certo
produto petroquímico.

Fatores para otimização:


Taxa de refluxo da coluna de destilação (Tr)
Relação entre fluxo de reciclagem e fluxo de purga (F)

Variável Nível (-) Nível (0) Nível (+)


Tr 6,7 6,9 7,1
F 7,5 7,7 8,0
Combinações Resposta ($/T)
Ensaio T C R1
1 - - 92
2 + - 95
3 - + 86
4 + + 91
5 0 0 92
2006

Operação evolucionária

Efeito Tr: (-92+95-86+91)/2= +4,0


Efeito F: (-92-95+86+91)/2= -5,0
Efeito Tr vs F: (+92-95-86+91)/2= +1,0

Interpretação
F
8,0 86 91 Conclusão

Menor custo
7,75 92
Menor Tr
Maior F
7,5 92 95

6,7 6,9 7,1


Tr
2006
Novo planejamento

F
8,5 80 81
Efeito Tr: +1,0

8,25 82 Efeito F: -3,0

Efeito Tr vs F: 0,0
8,0 83 84

5,9 6,3 6,7


Tr

Conclusão
Menor custo: Maior F, Tr inexpressivo (+1,0)
2006
Novo planejamento

F
8,75 86 85

8,50 80

8,25 84 83

5,9 6,3 6,7


Tr

Conclusão final
Menor custo: F: 8,5, Tr: 6,3

Tempo gasto: 4,5 meses, Custo: US$ 9000, Lucro: US$ 150000/ano
2006
Deslocamento do planejamento

8,75

8,50 80

8,25

8,0
5,9 6,3

7,75

95 7,50
6,7 6,9 7,1
Triagem de variáveis, Planejamentos fracionados
Variável Nível (-) Nível (+) Otimização de reação
H2SO4 (mol/L) 0,16 0,32
0,015
catalítica para determinação
KI (mol/L) 0,030
H2O2 (mol/L) 0,0020 0,0040
de molibdênio
Tempo (s) 90 130
Combinações Resposta 24 = 16 Exp.
Ensaio 1 2 3 4 R
1 - - - - 52 Efeitos
2 + - - - 61 1: -2,38
3 - + - - 124 2: 109,38
4 + + - - 113 3: 54,38
5 - - + - 85 4: 67,13
6 + - + - 66
7 - + + - 185
8 + + + - 192
12: -1,13
9 - - - + 98 13: 2,88
10 + - - + 86 14: 1,13
11 - + - + 201 23: 25,63
12 + + - + 194 24: 21,88
13 - - + + 122 34: 9,88
14 + - + + 139
15 - + + + 289
16 + + + + 286
Triagem de variáveis, Planejamentos fracionados

Variável Nível (-) Nível (+) Otimização de reação


H2SO4 (mol/L) 0,16 0,32 catalítica para determinação
KI (mol/L) 0,015 0,030 de molibdênio
H2O2 (mol/L) 0,0020 0,0040
Tempo (s) 90 130
24-1 = 8 Exp.
Combinações Resposta
Efeitos
Ensaio 1 2 3 4 R 1: -2,25
1 - - - - 52 2: 114,75
2 + - - + 86 3: 51,75
3 - + - + 201
4 + + - -
4: 69,75
113
5 - - + + 122
6 + - + - 66 12: 8,75
7 - + + - 185 13: 24,75
8 + + + + 286 14: 26,75
23: 26,75
4 = 1x2x3 24: 24,75
34: 8,75
2006
Superfície de resposta
Exemplo: Determinação dos valores de tempo (t) e temperatura (T)
que permitam o maior rendimento de uma reação química.

58,2
Temperatura (0C)

64,6 68,0
86,8
54,3 60,3
73,3 Planejamento 22 = 7 exp.

Caminho de ascensão ao máximo= 3 exp.


64,6 68,0
Planejamento 22 = 4 exp.
62,3
54,3 60,3 Planejamento estrela = 4 exp.

Tempo (min)
2006
Superfície de resposta

Modelo linear
Y=b0 + b1X1 +b2X2

Modelo quadrático
Y=b0 + b1x1 +b2X2+ b11x12 +b22x22 +b12x1x2

Y=87,37 - 1,38X1 +0,36X2 - 2,14X12 - 3,09X22 -4,88X1X2

Gráfico tridimensional que mostra comportamento


da resposta em função de mudanças de t eT

OTIMIZAÇÃO: OK
2006
CONSIDERAÇÃOES FINAIS

A Ciência deixou de ser uma especialidade que possa


ser dominada por apenas um especialista.

Colaborar é preciso!

Toda análise química é complexa. Muito mais quando a


espécie de interesse se encontra em baixa concentração e
em uma matriz de grande complexidade.

Planejar é preciso!

Todo processo tecnológico requer estudos preliminares


orientados a maximizar a sua potencialidade.

Otimizar é preciso!
2006

AGRADECIMENTOS

Comissão Organizadora do Evento

Dr. Airton Kunz

Anelise Sulzbach
Patricio Peralta-Zamora
zamora@quimica.ufpr.br

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA, UFPR

TECNOTRATER
Grupo de desenvolvimento de técnicas avançadas
para tratamento de resíduos

http://www.quimica.ufpr.br/tecnotrat/

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