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dispõe que a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de

LICC Comentada oficialmente publicada.


Por fim, a contagem de prazo para a entrada em
Redatora: Fernanda Piva vigor das leis que estabeleçam períodos de vacância far-se-á
incluindo a data da publicação e do último dia prazo, entrando em
vigor no dia subseqüente à sua consumação integral.
Revisora: Mariângela Guerreiro Milhoranza § 1º. Nos Estados, estrangeiros, a
Fernanda Piva é Bacharel em Direito pela Unisinos e Coordenadora da obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia
diagramação e montagem das revistas da Notadez. três meses depois de oficialmente publicada.
Não havendo prazo para sua entrada em vigor, a
obrigatoriedade da norma brasileira no exterior se dará após o prazo
Mariângela Milhoranza é Mestre em Direito pela PUC-RS, Especialista em
de 3 meses, contados de sua publicação no Diário Oficial, passando a
Direito Processual Civil pela PUC-RS, Advogada em Porto Alegre/RS;
Professora da FARGS, Egressa da Escola Superior do Ministério Público do ser reconhecida pelo direito internacional público e privado.
Estado do Rio Grande do Sul; Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Sendo assim, a lei antiga subsistirá no exterior até
(CNPQ) “Limites da Jurisdição” sob coordenação do Professor Dr. Araken 3 meses após a publicação oficial da lei nova, ou seja, antes de
de Assis junto ao Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC/RS; escoado esse prazo, a lei nova não terá incidência em país
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Novas Técnicas” sob estrangeiro.
coordenação do Professor Dr. José Maria Rosa Tesheiner; Membro do No caso de a lei nova fixar prazo superior a 3
Instituto de Hermenêutica Jurídica. meses para o início de sua vigência no Brasil, silenciando quanto à
data de entrada em vigor no exterior, impor-se-á o prazo de vigência
interna à do exterior.
 Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a Em relação às circulares e instruções dirigidas a
vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois autoridades e funcionários brasileiros no exterior, são aplicáveis
de oficialmente publicada. desde o momento em que cheguem ao conhecimento dessas pessoas
Até o advento da Lei Complementar 95/98, de forma autêntica.
posteriormente alterada pela LC 107/01, a cláusula de vigência vinha Pode-se citar, de acordo com a doutrina de Vicente
expressa, geralmente, na fórmula tradicional: “Esta lei entra em vigor Raó1, alguns efeitos do início da obrigatoriedade da lei brasileira no
na data de sua publicação”. estrangeiro:
A partir da Lei Complementar nº 95, que alterou o – a lei brasileira passará a ter vigência três meses
Dec.-Lei 4.657/42, a vigência da lei deverá vir indicada de forma depois de sua publicação oficial, desde que não haja estipulação do
expressa, estabelecida em dias, e de modo que contemple prazo prazo para sua entrada em vigor;
razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, passando a – os atos levados a efeito no exterior, de
cláusula padrão a ser: “ Esta lei entra em vigor após decorridos conformidade com a velha norma revogada serão válidos, porque,
(número de dias) de sua publicação”. embora essa lei já estivesse revogada no Brasil, continuará vigorando
No caso de o legislador optar pela imediata em território alienígena até findar-se o prazo de três meses;
entrada em vigor da lei, só poderá fazê-lo se verificar que a mesma é – os regulamentos internos, as portarias, os avisos
de pequena repercussão, reservando-se para esses casos a fórmula e circulares alusivos à organização e funcionamento dos órgãos e
tradicional primeiramente citada. serviços administrativos terão vigência perante as autoridades e
Na falta de disposição expressa da cláusula de funcionários brasileiros no exterior a partir do instante em que lhes
vigência, aplica-se como regra supletiva a do art. 1º da LICC, que forem, autenticamente, comunicados;
– o contrato celebrado no Brasil de acordo com a Assim, nos casos em que se fizer necessária
nova lei alcançará os que se encontrarem fora no país, mesmo que republicação de lei ainda não publicada ou publicada mas ainda não
aquela norma ainda não tenha entrado em vigor no exterior; vigente, por conter incorreções e erros materiais que lhe desfigurem
– a pessoa que for parte numa relação jurídica, ao o texto, a Casa de onde a mesma se originou publicará nova lei
regressar ao Brasil, antes do término do prazo de três meses, corrigida, e o seu período de vigência deverá ser contado a partir da
sujeitar-se-á, no momento de sua chegada, à nova lei já vigente em nova publicação.
nosso país, respeitando-se os atos já praticados no exterior segundo § 4º. As correções a texto de lei já em vigor
a lei brasileira lá vigorante. consideram-se lei nova.
§ 2º. A vigência das leis, que os Governos As emendas ou correções em lei que já esteja em
Estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, vigor são consideradas leis novas, ou seja, para corrigi-la é preciso
depende da aprovação deste e começa no prazo que a passar por todo o processo de criação de uma lei, devendo para isso
legislação estadual fixar. obedecer aos requisitos essenciais e indispensáveis para a sua
Norma sem aplicação desde a Constituição de existência e validade.
1947. Importante ressaltar que se a correção for feita
§ 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, dentro da vigência legal, a lei vigorará até a data do novo diploma
ocorrer nova publicação de seu texto, destinada à correção, o legal publicado para corrigi-la, e se apenas parte da lei for corrigida,
prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a o prazo fluirá somente para a parte retificada; em ambos os casos
correr da nova publicação. respeitando-se os direitos e deveres decorrentes de norma publicada
No que diz respeito aos erros na publicação da lei, com incorreções e ainda não corrigida.
Ferrara é esclarecedor quando alega que “quando se trata de simples Assim, é preciso respeitar o ato jurídico perfeito, o
erros materiais que à primeira vista aparecem como incorreções direito adquirido e a coisa julgada, mesmo que advindos de uma
tipográficas, ou porque a palavra inserida no texto não faz sentido ou publicação errônea, levando-se em conta a boa-fé daquele que a
tem um significado absolutamente estranho ao pensamento que o aplicou. Em se tratando de meros erros de ortografia, facilmente
texto exprime enquanto a palavra, que foneticamente se lhe identificáveis, nada impede que o prazo da vacatio legis decorra da
assemelha, se encastra exatamente na conexão lógica do discurso, data da publicação errada, não aproveitando a quem possa invocar
ou porque estamos em face de omissões ou transposições, é fácil tais erros.
integrar ou corrigir pelo contexto da proposição, deve admitir-se que
o juiz pode exercer a sua crítica, chegando, na aplicação da lei, até a  Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei
emendar-lhe o texto”2. terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
Quando se tratar de erros substanciais, que podem A lei pode trazer seu período de vigência de forma
alterar total ou parcialmente o sentido legal, a nova publicação será expressa, como por exemplo, a Lei Orçamentária, assim como pode
imprescindível. Nesse caso, observar-se-ão as seguintes situações: ter seu período de vigência indeterminado, ou seja, uma vez vigente
– correção da norma em seu texto, por conter ela é válida até que outra lei posterior, de superior ou mesma
erros substanciais, durante a vacatio legis ensejando nova hierarquia, a modifique ou revogue, não podendo revogá-la a
publicação: nova vacatio será iniciada a partir da data da correção, jurisprudência, costume, regulamento, decreto, portaria e avisos, não
anulando-se o tempo decorrido; prevalecendo nem mesmo na parte em que com ela conflitarem3.
– várias publicações diferentes de uma mesma lei, De acordo com Maria Helena Diniz4, no primeiro
motivadas por erro: a data da publicação será uma só e deverá ser a caso, ter-se-à cessação da lei por causas intrínsecas, como por
da publicação definitiva, ou seja, a última (RF, 24:480). exemplo:
a) decurso do tempo para o qual a lei foi anterior, através da nova regulação pela lei posterior ou mesmo por
promulgada, por se tratar de lei temporária, salvo se a sua vigência haver entre ambas total incompatibilidade; e a derrogação, que
for expressamente protraída por meio de outra norma (ex.: lei ocorre quando uma parte da norma torna-se sem efeito, tornando
orçamentária); inválidos somente os dispositivos atingidos.
b) consecução do fim a que a lei se propõe (p. ex., A revogação poderá ser expressa, quando a 2ª lei
lei que manda pagar uma subvenção ou suspende a realização de um declarar a 1ª lei extinta expressamente ou apontar os dispositivos
concurso para preencher vagas com os contratados, a fim de que se que pretende retirar; ou ser tácita quando esta trouxer disposições
efetivem; com o aproveitamento do último funcionário contratado, a incompatíveis com a 1ª lei, mesmo que nela não conste a expressão
norma cessará de existir; é o que sucede também com as disposições “revogam-se as disposições em contrário”.
transitórias, que se encontram no final dos Códigos ou certas leis); § 2º. A lei nova que estabeleça disposições
c) cessação do estado de coisas não permanente gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
(p. ex., lei emanada para atender estado de sítio ou guerra, ou para modifica a lei anterior.
prover situação de emergência oriunda de calamidade pública), ou do A norma geral não revoga a especial, assim como
instituto jurídico pressuposto pela lei, pois finda a anormalidade, a nova especial não revoga a geral, podendo ambas coexistir
extinguir-se-á a lei que a ela se refere. pacificamente, exceto se disciplinarem de maneira distinta a mesma
Alguns doutrinadores5 entendem que há uma matéria ou se a revogarem expressamente.
auto-revogação tácita da lei (revogação interna) quando faltarem as Sendo assim, a mera justaposição de normas,
razões pelas quais foi ditada e pela ocorrência do termo final nela sejam gerais ou especiais, às normas já existentes, não é motivo para
prefixado, alegando que, com o desaparecimento das circunstâncias afetá-las, podendo ambas reger paralelamente as hipóteses por elas
fático-temporais que lhes originaram, a mesma deixará de vigorar disciplinadas, desde que não haja contradição entre ambas.
por ter perdido seu objeto. § 3º. Salvo disposição em contrário, a lei
Entretanto, outros autores6 entendem que não há, revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a
em regra, auto-revogação tácita da lei pela cessação dos motivos que vigência.
lhe deram origem, pois a mesma permanecerá vigente e válida O dispositivo acima trata da repristinação, que é o
apesar de não mais poder incidir, perdendo assim sua eficácia. Por instituto através do qual se restabelece a vigência de uma lei
este entendimento, o brocardo cessante ratione legis, cessat lex revogada pela revogação da lei que a tinha revogado, como por
ipsa não representa meio indireto para revogar a norma, mas sim exemplo: norma “B” revoga a norma “A”; posteriormente uma norma
base para interpretá-la restritivamente, através de suas disposições “C” revoga a norma “B”; a norma “A” volta a valer.
excepcionais. Etimologicamente, repristinação é palavra
Já no segundo caso, em que as leis cujo período de formada do prefixo latino re (fazer de novo, restaurar)
vigência sejam indeterminados, as mesmas serão permanentes, e pristinus (anterior, antigo, vigência), o que significa restauração do
vigorando indefinidamente e produzirão seus efeitos até que outra lei antigo.
as revogue (revogação externa). A repristinação não ocorre automaticamente, ou
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando seja, só se dá por dispositivo expresso da norma; caso contrário, não
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível se restaura a lei revogada, como no seguinte exemplo: norma “A” só
ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei volta a valer se isso estiver explicito na norma “C”, ou seja, não há
anterior. repristinação automática (implícita), esta somente ocorre se for
A revogação é um termo genérico, indicando a expressamente prevista.
idéia da cessação da existência da norma obrigatória, e contém 2 Maria Helena Diniz7 conclui que “como se vê, a lei
espécies: a ab-rogação, que se dá pela supressão total da norma revocatória não voltará ipso facto ao seu antigo vigor, a não ser que
haja firme propósito de sua restauração, mediante declaração que qualquer pessoa pode ter perfeita ciência da ordem jurídica para
expressa de lei nova que a restabeleça, restaurando-a ex nunc, observá-la no momento de agir?”
sendo denominada por issorespristinatória. Faltando menção De acordo com Tércio Sampaio Ferraz Júnior10, o
expressa, a lei revogadora ou repristinatória é lei nova que adota o ato da publicação tem como escopo apenas neutralizar a ignorância,
conteúdo da norma primeiramente revogada. Logo, sem que haja sem contudo eliminá-la, “fazendo com que ela não seja levada em
outra lei que, explicitamente, a revigore, será a norma revogada tida conta, não obstante possa existir”. Desta forma, a norma é
como inexistente. Daí, se a norma revogadora deixar de existir, a conhecida, obrigatória e apta a produzir efeitos jurídicos através da
revogada não se convalesce, a não ser que contenha dispositivo publicação, protegendo a autoridade contra a desagregação que o
dizendo que a lei primeiramente revogada passará a ter vigência. desconhecimento da mesma possa lhe trazer, já que uma autoridade
Todavia, aquela lei revogada não ressuscitará, pois a norma que a ignorada é como se inexistisse.
restabelece não a faz reviver, por ser uma nova lei, cujo teor é Ainda em relação ao artigo 3º, é preciso levar-se
idêntico ao daquela. A lei restauradora nada mais é do que uma nova em conta que o mesmo versa sobre a ignorância da lei ou a ausência
norma com conteúdo igual ao da lei anterior revogada”. de seu conhecimento e também o erro no seu conhecimento. A
ignorância de direito se dá quando não o conhecimento do previsto
 Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando na lei sobre o fato que se trata. Já o erro de direito ocorre pelo
que não a conhece. desconhecimento do fato previsto na norma em função de falso juízo
O conhecimento da lei decorre de sua publicação, sobre o que ela dispõe, ou seja, o agente emite uma declaração de
ou seja, uma vez promulgada, a norma só passa vigorar com sua vontade baseado no falso pressuposto de que está procedendo de
publicação no Diário Oficial, que é o marco para que se repute acordo com a lei.
conhecida por todos. A doutrina e jurisprudência têm entendido que o
Assim, depois de publicada e uma vez decorrido o erro de direito e a ignorância da lei não se confundem, sustentando
prazo da vacatio legis (se houver), a lei passa a ser obrigatória para que o primeiro vicia o consentimento, nas hipóteses em que afete a
todos, sendo inescusável o erro e a ignorância sobre a mesma. manifestação da vontade na sua essência.
De acordo com Coviello8, “do princípio de que – é O novo Código Civil, em seu art. 139, admite o
necessidade social se torne obrigatória para todos, a lei publicada – erro de direito como motivo único ou principal do negócio jurídico,
decorre, necessariamente, a conseqüência de que os seus efeitos desde que não implique recusa à aplicação da lei. Assim, não é
abrangem a todos, independentemente do conhecimento ou da levado em conta o erro de direito nas hipóteses em que o mesmo
ignorância subjetiva... essa conseqüência, tão evidente, que se seja alegado visando à suspensão da eficácia legal por conta de sua
admitiria ainda sem disposição legislativa expressa, é absoluta: uma inobservância; enquanto que nada impede que o seja alegado nos
só exceção destruir-lhe-ia o fundamento racional”. casos em que vise a evitar efeito de ato negocial, cuja formação teve
Sendo assim, o artigo supra contém o rigoroso interferência de vontade viciada por aquele erro.
princípio da inescusabilidade da ignorância da lei, preconizando que
as leis sejam conhecidas, pelo menos potencialmente.  Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso
Maria Helena Diniz9, ao versar sobre o tema, faz o de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
seguinte questionamento: “Como a publicação oficial tem por escopo gerais de direito.
tornar a lei conhecida, embora empiricamente, ante a complexidade Nos casos em que a lei for omissa, cabe ao
e dificuldade técnica de apreensão, possa uma norma permanecer magistrado utilizar-se das fontes integradoras do direito, que incluem
ignorada de fato, pois se nem mesmo cultores do direito têm pleno a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
conhecimento de todas as normas jurídicas, como se poderia dizer A utilização da analogia se dá quando o juiz busca
em outra lei, que tenha suportes fáticos semelhantes, disposições
que a própria lei não apresenta. Já o uso dos costumes, que tratam Em relação ao fim social, a mesma autora afirma
da prática reiterada de um hábito coletivo, público e notório, pode ter que: “pode se dizer que não há norma jurídica que não deva sua
reflexos jurídicos na falta de outra disposição. Finalmente, também origem a um fim, um propósito ou um motivo prático, que consistem
pode o magistrado socorrer-se dos princípios gerais de direito, que em produzir, na realidade social, determinados efeitos que são
nada mais são do que regras orais que se transmitem através dos desejados por serem valiosos, justos, convenientes, adequados à
tempos, séculos às vezes, e que pontificam critérios morais e éticos subsistência de uma sociedade, oportunos, etc”12.
como subsídios do direito. Tércio Sampaio Ferraz Júnior13, observa que os
fins sociais são do direito, já que a ordem jurídica como um todo, é
 Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins um conjunto de normas para tornar possível a sociabilidade humana;
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem logo dever-se-á encontrar nas normas o seu fim (telos), que não
comum. poderá ser anti-social.
A ciência do direito, como atividade interpretativa, Na prática, o intérprete-aplicador deverá, em cada
surge como uma teoria hermenêutica, por ter dentre outras funções, caso sub judice, verificar se a norma atende à finalidade social,
as de: devendo ser interpretada inserida no próprio meio social em que está
a) interpretação das normas, que compreende presente, já que imersa nele e conseqüentemente sob constante
múltiplas possibilidades técnicas interpretativas, dando ao intérprete simbiose com o mesmo, adaptando-a às necessidades sociais
a liberdade jurídica na escolha destas vias, buscando sempre existentes no momento de sua aplicação.
condições para uma decisão possível, baseada em uma interpretação Dessa forma, recebendo continuamente vida e
e um sentido preponderante dentre às várias possibilidades inspiração do meio ambiente, a aplicação da lei seguirá a marcha dos
interpretativas; fenômenos sociais, estando apta a produzir a maior soma possível de
b) verificar a existência da lacuna jurídica, energia jurídica14.
identificando a mesma e apontando os instrumentos integradores No que tange ao bem comum, sua noção é
que possibilitem uma decisão possível mais favorável, com base no bastante complexa e composta de inúmeros elementos ou fatores.
direito; De qualquer forma, são reconhecidos comumente como elementos
c) afastar contradições normativas através da do bem comum a liberdade, a paz, a justiça, a utilidade social, a
indicação de critérios para solucioná-las. solidariedade ou cooperação, não resultando o bem comum da
De acordo com Maria Helena Diniz, a ciência simples justaposição destes elementos, mas de sua harmonização
jurídica exerce funções relevantes, não só para o estudo do direito, face à realidade sociológica15.
mas também para a aplicação jurídica, viabilizando-o como elemento Não há consonância na doutrina sobre a
de controle do comportamento humano ao permitir a flexibilidade importância atribuída a esses elementos, mas de qualquer forma
interpretativa das normas, autorizada pelo art. 5º da Lei de entende-se que ao aplicar norma, decidindo o fato, é dever de seu
Introdução, e ao propiciar, por suas criações teóricas, a adequação intérprete-aplicador estar atento ao fato de que as exigências do bem
das normas no momento de sua aplicação11. comum estejam ligadas ao respeito dos direitos individuais
Assim, ao interpretar a norma, o intérprete deve garantidos pela Constituição.
levar em conta o coeficiente axiológico e social nela contido, baseado Sendo assim, percebe-se que todo o ato
no momento histórico que está vivendo, já que a norma geral em si interpretativo deve estar baseado na concreção de determinado valor
deixa em aberto várias possibilidades, deixando esta decisão a um positivo ou objetivo, objetivo este fundado no bem comum,
ato de produção normativa, sem esquecer que, ao aplicar a norma ao respeitando assim o indivíduo e a coletividade.
caso concreto, deve fazê-lo atendendo à sua finalidade social e ao
bem comum.
 Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, os contratos em curso de constituição, pois a norma hodierna só
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido alcançará os últimos, já que os primeiros são atos jurídicos
e a coisa julgada. perfeitos16.
O art. 6º da LICC declara a inaplicabilidade da lei Ainda em relação aos contratos em curso de
revogada aos processos que estão em curso, com base na constituição, Maria Helena Diniz17preconiza que: “Pelo art. 2.035 do
intangibilidade do ato jurídico perfeito e do direito adquirido, Código Civil, o ato ou negócio jurídico em curso de constituição,
consagrados constitucionalmente. validade celebrado antes vigência do novo diploma legal, em sua
Desta forma, a lei nova só incidirá sobre os fatos formalidade extrínseca seguirá o disposto no regime anterior, mas
ocorridos durante seu período de vigência, não podendo a mesma como não pôde irradiar quaisquer efeitos legais, que se produzirão
alcançar efeitos produzidos por relações jurídicas anteriores à sua somente por ocasião da entrada em vigor da Lei nº 10.406/2002, os
entrada em vigor, ou seja, alcançando apenas situações futuras. contratantes terão o direito de vê-lo cumprido, nos termos da novel
No que diz respeito aos processos pendentes, em lei, que, então, regulará seus efeitos, a não ser que as partes tenham
matéria processual vigora o princípio do isolamento dos atos previsto, na convenção, determinada forma de execução, desde que
processuais, que determina que a novel norma atingirá o processo no não contrariem preceito de ordem pública, como o estabelecido para
ponto em que está, não podendo a mesma retroagir aos atos assegurar a função social da propriedade e do contrato, visto que são
processuais já realizados durante a vigência de lei anterior, visto que resguardados constitucionalmente e pelo art. 5º da Lei de Introdução
seus efeitos ficarão intocáveis e insuscetíveis de alteração pela lei do Código Civil. Os efeitos estabelecidos em cláusulas contratuais
retrooperante, pois sobre eles a nova lei não terá efeito algum. regem-se pela lei vigente ao tempo de sua celebração”.
§ 1º. Reputa-se ato jurídico perfeito o já É importante ressaltar que juízes e tribunais têm
consumado segundo a lei vigente ao tempo que se efetuou. admitido a aplicação da lei nova aos atos e fatos que se encontra,
Entende-se como ato jurídico perfeito o que já se quando estas forem de ordem pública, sem ofensa ao ato jurídico
tornou apto a produzir seus efeitos, pois já consumado, segundo a perfeito18.
norma vigente, ao tempo em que se efetuou. De qualquer forma, pode-se concluir que uma vez
O ato jurídico perfeito é um dos elementos do protegido o ato jurídico perfeito, são resguardados os direitos
direito adquirido e desta forma é um meio de garantir o mesmo, uma subjetivos formados sob a égide da norma anterior, preservando
vez que, se a nova lei desconsiderasse o ato jurídico já consumado assim os direitos legítimos de seus titulares.
sob a vigência de lei precedente, o direito adquirindo decorrente do § 2º. Consideram-se adquiridos assim os
mesmo também desapareceria, já que sem fundamento. direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
Assim, a segurança do ato jurídico perfeito, que é como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo,
resguardada pelo art. 6º, § 1º, da Lei de Introdução, preconiza que o ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
ato jurídico válido, consumado durante a vigência da lei que Direito adquirido é aquele que já se integrou ao
contempla aquele direito, não poderá ser alcançado por lei posterior, patrimônio e à personalidade de seu titular, de modo que nem norma
sendo inclusive imunizado contra quaisquer requisitos formais ou fato posterior possam alterar situação jurídica já consolidada sob
exigidos pela nova lei. sua égide.
Em relação aos contratos em curso de formação, Necessária se faz aqui a distinção entre direito
aplicar-se-á a nova norma, por ter efeito imediato, na fase pré- adquirido, que é aquele que já integrou ao patrimônio e não pode ser
contratual. Nos casos de os contratos terem sido legitimamente atingido pela lei nova, e a expectativa de direito, que é a mera
celebrados, os mesmos serão cumpridos e terão seus efeitos possibilidade ou esperança de adquirir um direito, portanto
regulados pela lei vigente à época de seu nascimento. Carlos dependente de acontecimento futuro para a concreção da efetiva
Maximiliano ressalva que não se confundem os contratos em curso e constituição do mesmo. Assim, preconiza Reynaldo Porchat19 quando
afirma que “Não se pode admitir direito adquirido a adquirir um formal são as sentenças de extinção do processo sem resolução do
direito”. mérito, atingidas pela preclusão.
A situação de ser titular de um direito é regida por Já a coisa julgada material é a que torna imutável
norma de competência, enquanto que a situação de exercer as e indiscutível o preceito contido na sentença de mérito, não mais
permissões e autorizações correspondentes àquele direito subjetivo sujeitando-a a recurso ordinário e extraordinário, como as sentenças
dependerá de normas de conduta. O princípio do direito adquirido de mérito proferidas com fundamento no art. 269 do CPC.
não protegerá o titular do direito contra certos efeitos retroativos de O Supremo Tribunal Federal, através da Súmula
uma norma no que disser respeito à incidência de nova norma de 541, dispôs que a ação rescisória é admitida contra sentença
conduta. Um exemplo prático e elucidativo se dá na venda de um transitada em julgado, ainda que contra ela não tenham se esgotado
imóvel, em que é preciso ser titular do direito de propriedade (norma todos os recursos. Importante diferenciar, no que diz respeito à
de competência) e a realização da referida venda se dá segundo os rescisória, a sentença passada em julgado da coisa julgada, pois a
ditames da norma de conduta que disciplina o ato de vender. Assim, primeira é suscetível de reforma por algum recurso enquanto a
a lei nova tem condão de mudar a norma de competência que rege a segunda não pode ser alterada nem mesmo por ação rescisória. A
situação de ser titular, mas não atingirá o ato de vender se a sentença transitada em julgada poderá ser passível de ação
propriedade já foi adquirida sob a égide da lei anterior; também o rescisória, pois mesmo inadmitindo recurso, não há coisa julgada
tem de modificar a norma de conduta que disciplina o ato de alienar, quando a decisão é nula23.
mas não o fará se a venda já se consumou, sendo um ato jurídico Importante salientar que a ação rescisória não é
perfeito20. um recurso, mas sim uma ação de impugnação, que pode ser
Carvalho Santos21 afirma que a novel norma não proposta nas hipóteses previstas em lei de forma taxativa (CPC, art.
retroage no que atina ao direito em si, mas tem o condão de ser 485, I a IX), com o escopo de desconstituir uma decisão de mérito,
aplicada no que tange ao uso ou exercício desse direito, mesmo em elidindo coisa julgada, se proposta dentro do prazo decadencial de
relação às situações já existentes antes de sua publicação. dois anos (CPC, 495). Uma vez tendo sido proposta, a ação rescisória
§ 3º. Chama-se coisa julgada ou caso julgado não tem o condão de suspender a execução da decisão rescindenda,
a decisão judicial de que já não caiba recurso. não impedindo seu cumprimento, ressaltando a hipótese de
A coisa julgada é um fenômeno processual que concessão de medida cautelar ou antecipatória de tutela,
consiste na imutabilidade e indiscutibilidade da sentença, visto que recompondo-se a lesão causada no caso de a rescisória ter sido
posta ao abrigo dos recursos e de seus efeitos, consolidando os julgada procedente.
mesmos e promovendo a segurança jurídica das partes. Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que
Tércio Sampaio Ferraz Júnior, assevera que “a “a coisa julgada é uma qualidade da sentença, declaratória ou
coisa julgada protege a relação controvertida e decidida contra a constitutiva, e de seus efeitos, consistente na imutabilidade, que
incidência da nova norma. Alterando-se por esta quer as condições poderá existir: a) fora do processo, para impedir que a lei a
de ser titular, quer as de exercer atos correspondentes, o que foi prejudique, ou que o juiz volte a julgar o que já foi decidido (coisa
fixado perante o tribunal não pode ser mais atingido julgada material); b) dentro do processo, em razão de uma preclusão
retroativamente”22. máxima, de uma decisão colocada ao abrigo dos recursos
A coisa julgada é formal quando a sentença não definitivamente preclusos (coisa julgada formal)”.
mais estiver sujeita a recurso ordinário ou extraordinário, ou porque  Assim, a coisa julgada traz a presunção absoluta (jure et de
dela não se recorreu ou nas hipóteses em que dela tenha recorrido jure) de que o direito foi aplicado de forma correta ao caso
sem atender aos princípios fundamentais dos recursos ou aos seus concreto, prestigiando o órgão judicante que a prolatou e
requisitos de admissibilidade, ou mesmo pelo esgotamento de todos garantindo a impossibilidade de sua reforma e sua
os meios recursais (CPC, art. 467). Um exemplo de coisa julgada executoriedade (CPC, art. 489), tendo força vinculante para
as partes litigantes, funcionando como instrumento de dever-se-á levar em conta a lex loci actus, ou seja, a lei do local da
controle ante o dinamismo jurídico. realização do ato.
A lex loci celebrationis impõe que o casamento
 Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa seja celebrado de acordo com a solenidade imposta pela lei do local
determina as regras sobre o começo e o fim da onde o mesmo se realizou, não importando se a forma ordenada pela
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de lei pessoal dos nubentes seja diversa. Isso significa que, em relação
família. às núpcias contraídas no Brasil, no que diz respeito à habilitação
O art. 7º da LICC preconiza a lex domicilii como matrimonial e às formalidades do casamento, a lei a ser observada é
critério fundamental do estatuto pessoal, introduzindo o princípio a brasileira, devendo seguir-se o disposto nos arts. 1.525 a 1.542 do
domiciliar como elemento de conexão para determinar a lei aplicável, Código Civil, mesmo que os nubentes sejam estrangeiros.
ao contrário do princípio nacionalístico, adotado pela antiga lei. As causas suspensivas da celebração do
O princípio domiciliar é o que mais atende à casamento, que estão dispostas no art. 1.523, I a IV, não interessam
conveniência nacional, visto ser o Brasil um país onde o fluxo de à ordem pública internacional, e desta forma, regerão os casamentos
estrangeiros é considerável, eliminando o inconveniente da dupla realizados no Brasil por pessoas não domiciliadas no exterior, mesmo
nacionalidade ou da falta de nacionalidade. que lei alienígena os contrarie.
O começo e o fim da personalidade (as presunções No que diz respeito aos casamentos celebrados no
de morte, o nome, a capacidade e os direitos de família, que exterior, quando de acordo com as formalidades legais do Estado
constituem o estado civil, ou seja, o conjunto de qualidades que onde foi celebrado, serão reconhecidos como válidos no Brasil,
constituem a individualidade jurídica de uma pessoa, terão suas ressalvados os casos de ofensa à ordem pública brasileira e de fraude
questões resolvidas através do direito domiciliar, de acordo com o à lei nacional, se não se observarem os impedimentos matrimoniais
que determina o art. 7º da LICC. fixados pela lei24.
A lex domicilii, para ser aplicada, deverá ser Importante ressaltar que, no que tange à
precedida da análise do aplicador acerca da lei do país onde estiver capacidade matrimonial e aos direitos de família, os mesmos serão
domiciliada a pessoa para, a partir daí, obter a qualificação jurídica regidos pela lei pessoal dos nubentes, ou seja, a lei do seu domicílio e
do estatuto pessoal e dos direitos de família a ela pertinentes. Assim, desta forma, uma vez o casamento tendo sido consumado, seus
o juiz brasileiro deverá qualificar o domicílio de acordo com o lugar efeitos e limitações serão submetidos à lei domiciliar.
no qual a pessoa estabeleceu seu domicílio com ânimo definitivo (CC, § 2º. O casamento de estrangeiros poderá
art. 70), qualificando-o segundo o direito nacional e não de celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares
conformidade com o direito estrangeiro, estabelecendo a ligação do país de ambos os nubentes.
entre a pessoa e o país onde está domiciliado, aplicando a partir daí O disposto no art. 7º, § 2º, da LICC, permite que os
as normas de direito cabíveis. estrangeiros, ao contraírem casamento fora de seu país, possam
§ 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, fazê-lo perante o agente consular ou diplomático de seu país, no
será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos consulado ou fora dele.
dirimentes e às formalidades da celebração. O cônsul estrangeiro é competente para realizar
O § 1º do art. 7º da LICC versa a respeito dos casamento quando a lei nacional o atribuir tal competência e
impedimentos dirimentes e das formalidades da celebração do somente quando os nubentes forem co-nacionais e ele mesmo (o
casamento, quando o mesmo for realizado no Brasil. cônsul) tenha a mesma nacionalidade. Acerca do tema,
Há quem entenda que seja admissível a aplicação Kahn25 afirma que “quanto aos limites, nos quais esses Estados
da lei pessoal dos interessados no que diz respeito às formalidades reconhecerão os casamentos, celebrados pelos agentes diplomáticos
intrínsecas; mas em relação às formalidades extrínsecas do ato, e consulares estrangeiros, no seu território, serão determinados pela
extensão normal que a doutrina e a legislação interna conferem à Desta forma, é a lex domicilii quem vai esclarecer
instituição do casamento diplomático ou consular. Assim, todos os se determinado casamento é válido ou não, mesmo que estrangeira e
Estados que atribuem aos seus agentes, no estrangeiro, competência de conteúdo diverso da norma brasileira, e não a norma de direito
para celebrar um casamento sob a condição de serem seus súditos internacional privado.
os dois contraentes, só reconhecerão, como válidos, os casamentos Maria Helena Diniz27, ao tratar sobre o tema,
contratados, por estrangeiros, no seu território, diante dos agentes salienta que a lex domicilii, quando for repugnante à ordem pública,
diplomáticos e consulares, no caso em que ambos os esposos serão não deverá ser aplicada e indica os meios para facilitar sua
do Estado a que pertence o agente, que procedeu à celebração”. aplicabilidade, sendo necessário: a) a indicação pelos nubentes, no
Importante ressaltar que o casamento de processo do casamento, de onde será o domicílio conjugal (no caso
estrangeiros, domiciliados ou não no Brasil, somente é celebrado dos casamentos realizados no Brasil em que os nubentes tiverem
conforme o direito alienígena no que diz respeito à forma do ato, pois domicílio internacional diverso, os mesmos deverão declarar onde
seus efeitos materiais serão apreciados conforme a lei brasileira (RT, pretendem estabelecer o primeiro domicílio conjugal, pois na falta
200:653), não sendo possível a transcrição de assento de casamento desta declaração, presume-se que o mesmo se dará no Brasil); e b)
de estrangeiro, realizado no Brasil, em consulado de seu país, no reajuste da situação jurídica da capacidade matrimonial, de acordo
cartório do Registro Civil do respectivo domicílio (RT, 185:285). com a lei daquele primeiro domicílio conjugal, que é o estabelecido
No que tange ao casamento de brasileiros no pelo marido, salvo exceções especiais de acordo com os dados
exterior, mesmo que domiciliados fora do Brasil e quando ambos contidos na lei territorial. Nas relações pessoais dos cônjuges e nas
nubentes sejam brasileiros, poderá ser celebrado perante a entre pais e filhos prevalecerá a lei domiciliar.
autoridade consular brasileira, verificando-se a impossibilidade de um Assim, o § 3º do art. 7º da LICC dispõe apenas
casamento diplomático entre uma brasileira e um estrangeiro ou sobre os requisitos intrínsecos ou substanciais do casamento regidos
apátrida. pela lei domiciliar comum aos nubentes, ou, no caso de terem os os
O matrimônio contraído perante agente consular, mesmos domicílio internacional diverso, pela lei do primeiro domicílio
será provado por certidão do assento no registro do consulado conjugal28.
(RT, 207:386), que faz as vezes do cartório do Registro Civil. Na § 4º. O regime de bens, legal ou
hipótese de ambos os nubentes virem para o Brasil, o assento de convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
casamento para surtir efeito em nosso país, deverá ser trasladado nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro
dentro de 180 dias contados na volta ao nosso país, no cartório do domicílio conjugal.
respectivo domicílio ou, na sua, falta, no 1º Ofício da Capital do O presente parágrafo visa a regular as relações
Estado em que passarem a residir (art. 1.544 do CC)26. patrimoniais entre os cônjuges, impondo como elemento de conexão
§ 3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, a lex domicilii dos nubentes à época do ato nupcial ou do primeiro
regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal, tendo em vista os efeitos econômicos admitidos
domicílio conjugal. legalmente ao casamento e aos pactos antenupciais.
O § 3º da LICC dispõe que a invalidade do Assim, observar-se-á o direito brasileiro no caso de
casamento será apurada pela lei do domicílio comum dos nubentes ter sido aqui estabelecido o primeiro domicílio conjugal, se os
ou pela lei de seu primeiro domicílio conjugal. nubentes tiverem domicílios internacionais diferentes; ou o direito
No caso de os nubentes terem domicílio estrangeiro, no caso de ambos tiverem, por ocasião do ato nupcial,
internacional, a lei do primeiro domicílio conjugal estabelecido após o domicílio comum fora do Brasil.
casamento é que prevalecerá para os requisitos intrínsecos do ato Em relação à capacidade para celebração de pacto
nupcial e para as causas de sua nulidade, absoluta ou relativas, antenupcial, cada um dos interessados fica submetido à sua lei
inclusive no que diz respeito aos vícios de consentimento. pessoal ao tempo da celebração do contrato (lex domicilii),
observando a existência de preceito de ordem pública internacional princípio da mutabilidade justificada do regime adotado, disposto no
vedando a celebração ou modificação de pactos antenupciais na Código Civil, que visa a garantir terceiro de qualquer surpresa que
constância do casamento ou alteração do regime de bens por advenha de um regime matrimonial de bens mutável, é exigido o
mudança de nacionalidade ou de domicílio posterior ao casamento, registro da adoção do regime da comunhão parcial de bens,
de nada importando que o domicílio se transfira de um país a outro. funcionando como meio de publicidade da alteração feita pelo
No que tange ao regime matrimonial de bens, prevalece a lei do brasileiro naturalizado29.
domicílio que ambos os nubentes tiverem no momento do casamento § 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se
ou a do primeiro domicílio conjugal, na falta daquele comum, um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será
salientando que de nada adianta a mudança domiciliar com intuito de reconhecido no Brasil depois de três anos da data da
subtrair o regime matrimonial submetido anteriormente. sentença, salvo se houver sido antecedida de separarão
Ainda sobre o tema, é importante ressaltar que na judicial por igual prazo, caso em que a homologação
hipótese de regime ou casamento convencionados no Brasil, ou produzirá efeito imediato, obedecidas as condições
mesmo casamento aqui realizado mas sem convenção de regime, o estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no
mesmo deverá ser apreciado pelo direito brasileiro. No caso de os País. O Supremo Tribunal Federal, na forma de seu regimento
cônjuges pretenderem fixar seu primeiro domicílio fora do Brasil, a interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado,
jurisdição brasileira não será competente, pois o regime nesse caso decisões já proferidas em pedidos de homologação de
será apreciado pela jurisdição internacional. sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de
No caso de duas pessoas casarem aqui, que passem a produzir todos os efeitos legais.
domiciliadas no Brasil, e possuírem bens em diversos países, a lei O divórcio de cônjuges estrangeiros domiciliados
brasileira não poderá se aplicar em relação a estes, em Estados onde no Brasil é reconhecido em nosso país, mas tratando-se de divórcio
impera a lex rei sitae, por respeito à mesma. realizado no estrangeiro, quando um ou ambos os cônjuges forem
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiros, só será aqui admitido após um ano (art. 226, § 6º, da
brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, CF/88) da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de
requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação terá
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a
comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de eficácia das sentenças estrangeiras no país (art. 49 da Lei 6.515/77).
terceiros e dada esta adoção ao competente registro. Maria Helena Diniz verifica que a lei brasileira
O novo Código Civil, em seu artigo 1.639, § 2º, constitui um obstáculo invencível ao reconhecimento do divórcio
dispõe que qualquer modificação após a celebração do ato nupcial é antes do prazo de um ano, contado da sentença, se um ou ambos os
permitida, desde que haja autorização judicial atendendo a um cônjuges forem brasileiros, excetuando-se o fato de que já exista
pedido motivado de ambos os cônjuges, verificadas as razões por concessão da medida cautelar de separação de corpos, cuja data
eles invocadas e a certeza de que tal mudança não venha a causar constitui marco inicial para a contagem daquele prazo legal, embora
qualquer gravame a direitos de terceiros, obedecendo ao princípio da a separação de cama e mesa possa ter significação na contagem do
mutabilidade justificada do regime adotado. prazo da conversão da separação judicial em divórcio30.
O § 5º do art. 7º da LICC permite ao estrangeiro Uma vez homologado o divórcio obtido no
naturalizado brasileiro, com a expressa anuência de seu cônjuge, a estrangeiro, é permitido novo casamento no Brasil, exigindo-se para
adoção da comunhão parcial de bens, que é o regime matrimonial isso a prova da sentença do divórcio na habilitação matrimonial, que
comum no Brasil, resguardados os direitos de terceiros anteriores à é a certidão da sentença de divórcio proferida no estrangeiro,
concessão da naturalização, ficando os mesmos inalterados, como se devidamente homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (EC
o regime não tivesse sofrido qualquer alteração. De acordo com o 45/2004).
O estrangeiro ou apátrida, cuja sentença de § 8º. Quando a pessoa não tiver domicílio,
divórcio ainda não tenha sido homologada, e que deseje contrair considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou
novas núpcias no Brasil, está sujeito à anulação de casamento caso naquele em que se encontre.
sua sentença de divórcio seja negada pelo STJ. Washington de Barros O Código Bustamante, em seu artigo 26,
Monteiro esclarece ainda que a homologação de sentença pode ser preleciona que aquele que não tiver domicílio conhecido, considerar-
negada quando estrangeiros aqui domiciliados se dirigem à justiça de se-á domiciliado no local de sua residência acidental ou naquele em
outro país para obter a sentença de divórcio, burlando a soberania que se encontrar, impossibilitando a hipótese de dupla residência.
nacional, sendo isso apenas tolerado se o divórcio foi pronunciado no Na falta do critério do domicílio, que é a conexão
foro dos cônjuges. No caso de a sentença for proferida em país onde principal, a lei indica critérios de conexão subsidiários, ou seja, o
jamais os cônjuges residiram ou de onde não são naturais, a lugar da residência ou daquele em que a pessoa se achar, aplicados
homologação tem sido denegada, podendo ser apenas concedida, sucessivamente na medida em que o anterior não possa preencher
com restrições, para fins patrimoniais31. sua função, não se tratando de concurso cumulativo, mas sim
§ 7º. Salvo o caso de abandono, o domicílio sucessivo.
do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos
não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob  Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a
sua guarda. eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que
De acordo com o critério da unidade domiciliar, estiverem situados.
mantido § 7º do art. 7º da LICC, no que diz respeito às relações A lei territorial é a que se aplica somente no
pessoais entre os cônjuges, seus direitos e deveres recíprocos, e aos território nacional, atendendo a interesses internos relativos à nação
direitos e obrigações decorrentes da filiação, aplicar-se-á a lei do de origem, obrigando unicamente dentro do território, ou seja, o
domicílio familiar, que se estende aos cônjuges e aos filhos menores órgão judicante somente poderá aplicar no território nacional aquela
não emancipados. norma. A lei é extraterritorial quando permite que o magistrado
Maria Helena Diniz salienta que “Preciso será possa aplicar lei diversa de seu ordenamento jurídico, em relação a
esclarecer que não mais se considera a pessoa do marido em si, mas fatos ocorridos no seu território ou no estrangeiro, como por exemplo
o domicílio da família, ou seja, de ambos os consortes, ou melhor, o nas hipóteses em que o próprio art. 8º, §§ 1º e 2º da LICC dispõem.
do País onde o casal fixou domicílio logo após as núpcias, com O artigo 8º da LICC define a qualificação dos bens
intenção de constituir família e o seu centro negocial”, respeitando como territorial, já que a eles se aplicam as leis do país onde
assim o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges, representando estiverem situados.
um sistema familiar em que as decisões devem ser tomadas de Sendo assim, o critério jurídico que visa a regular
comum acordo entre marido e mulher (arts. 1.567 e 1.569 do CC)32. coisas móveis de situação permanente, incluindo as de uso pessoal
No que tange aos tutelados e curatelados, depois ou imóveis (ius in re) é o da lex rei sitae, que importa na
de assumido o encargo tutelar, em em virtude de estarem sob sua determinação do território, que é o espaço limitado no qual o Estado
guarda, submeter-se-ão à lei domiciliar de seus tutores e curadores. exerce competência. No que diz respeito ao regime da posse, da
Assim, o § 7º do art. 7º trata do caso de domicílio propriedade e dos direitos reais sobre coisa alheia, nenhuma lei
internacional legal quando dispõe que, exceto na hipótese de poderá ter competência maior do que a do território onde se
abandono, o domicílio familiar, eleito pelo casal ou em alguns países encontrarem os bens que constituem seu objeto33.
pelo marido, estende-se ao outro cônjuge, quando for o caso, e aos É importante ressaltar que a lex rei sitae regulará
filhos menores não emancipados, e o do tutor ou curador, aos apenas os bens móveis ou imóveis considerados individualmente (uti
incapazes sob sua guarda (Código Bustamante, art. 24). singuli), pertencentes a nacionais ou estrangeiros, domiciliados no
país ou não; enquanto que os bens uti universitas, como p. ex. o
espólio e o patrimônio conjugal, são regidos pela lei reguladora da Importante salientar que pouco importará a
sucessão (lex domicilii do autor da herança), excetuando-se as localização do bem dado em penhor, pois pela lei este estará situado
hipóteses de desapropriação de imóvel de tutelado ou da massa no domicílio do possuidor (fictio iuris) no momento de ser constituído
falida, ocasiões em que os bens uti universitas também poderão ser o direito real de garantia, resguardando assim a segurança negocial,
disciplinados pela lex rei sitae. e garantindo direitos de terceiros.
Nas hipóteses de mudança de situação de um bem
móvel, a lei que disciplina a nova situação deverá ser aplicada,  Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-
respeitados os direitos adquiridos. Acerca do tema, Pillet e Neboyet se-á a lei do país em que se constituirem.
afirmam que “todo o direito adquirido sobre um móvel corpóreo, na No que diz respeito às obrigações, o art. 9º da
conformidade das disposições da lei do lugar da sua situação, deve LICC dispõe que a lei do país onde se constituírem as mesmas é que
ser respeitado no segundo país, para o qual tenha sido transportado, serão aplicadas para qualificá-las e regê-las.
até que nasça um direito diferente, segundo a lei deste último Em se tratando de obrigações ex lege, o art. 165
país”34. do Código Bustamante afirma que as mesmas serão regidas pelo
Em relação aos navios e aeronaves, os mesmos direito que as estiver estabelecido, já que são conseqüência de uma
serão regidos pela lei do pavilhão, ou seja, pela lei do país em que relação jurídica principal, da qual são acessórias. Devido ao fato de
estiverem matriculados e cuja competência só será afastada nos não serem autônomas, acabam reguladas pela mesma lei que
casos em que a ordem pública o exigir. disciplina a relação principal.
§ 1º. Aplicar-se-á a lei do país em que for As obrigações ex delicto, que são as decorrentes
domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele da prática de um ato ilícito, são regidas pela lei do lugar onde o delito
trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. foi cometido (lex loci delicti commissi), solucionando questões sobre
O § 1º do art. 8º da LICC prevê a aplicação da lex causas justificativas e dirimentes, culpabilidade, qualificação do ato
domicilii do proprietário no que tange aos bens móveis que o mesmo como ilícito, etc. No caso de o ilícito ter sido praticado em vários
trouxer consigo, para uso pessoal ou em razão de negócio mercantil, lugares, levar-se-á em conta o local onde ocorreu o último fato
que podem transitar por vários lugares até chegar ao local de necessário para a caracterização da responsabilidade do lesante.
destino. Em relação às obrigações convencionais (civis e
Em função da instabilidade de localização ou comerciais) e as decorrentes de atos unilaterais, as mesmas se
mesmo da mudança transitória de tais bens, afasta-se aqui a regerão a) quanto à forma ad probationem tantum (simplesmente
aplicação da lex rei sitae, aplicada aos bens localizados para provar) e ad solemnitatem (para a solenidade) pela lei do local
permanentemente, e aplica-se a lex domicilii de seu proprietário, ou onde se originaram, ou seja, deve ser apreciada a forma da
seja, o direito de Estado no qual o mesmo tem domicílio, visando a manifestação volitiva pelo direito vigente no local onde o ato for
atender interesses econômicos, políticos e práticos. realizado. Importante ressaltar que essa norma somente vigorará no
§ 2º. O penhor regula-se pela lei do domicílio fórum que aceitar que o ato seja realizado no exterior, pela forma
que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa estabelecida no ius loci actus; b) quanto à capacidade, pela lei
apenhada. pessoal das partes (art. 7º) que é a lei domiciliar, observando-se a
No que tange ao penhor, a LICC dispõe que a lei do ressalva em relação à ordem pública, uma vez que a lex fori não
domicílio do possuidor da coisa empenhada é que será aplicada, admitirá que produza efeito o ato que tiver conteúdo contrário à lei, à
tanto no que diz respeito ao objeto sobre o qual recairá o direito real moral e ordem pública do país. Na hipótese de as partes estiverem
e quais seus efeitos, quanto nas questões atinentes à publicidade, à domiciliadas em Estados diferentes, a capacidade de cada uma
necessidade ou dispensa de tradição real para sua validade. obedecerá à sua lei domiciliar35.
Necessária se faz a delimitação da norma que intuito de fugir às exigências da lei pátria, ou seja, tal ato não
disciplina as condições intrínsecas dos atos jurídicos decorrentes da subsistirá, por tratar-se de fraude.
declaração de vontade, antes de analisar qual a lei competente para Obeservar-se-ão algumas exceções ao disposto no
reger os efeitos das obrigações deles resultantes. Quando se tratar art. 9º da LICC, nas seguintes hipóteses37:
de ato unilateral, prevalecerá a lei pessoal do declarante, enquanto a) quando se tratar de contrato de trabalho, o
que nos atos bilaterais, como nos contratos, p. exemplo, existem mesmo deverá obedecer à lei do local da execução do serviço ou
cinco correntes doutrinárias: a) competência da lei pessoal dos trabalho. O art. 6º da Convenção de Roma, de 1980, afirma que em
contratantes, através da qual as declarações de vontade devem ser se tratando de contrato individual de trabalho, a aplicação da lei
examinadas separadamente, cada uma de acordo com a lei do escolhida não poderá privar o trabalhador da proteção que lhe for
declarante (Frankenstein, Dreyfus, J. Aubry e Audinet); b) conferida pela lei: a) do país onde o trabalhador, ao executar o
competência da lei do local da celebração negocial (Pillet e Neboyet); trabalho, habitualmente exerce seu ofício; b) do Estado em cujo
c) competência da lei que rege a relação constituída pelo ato jurídico território se encontra situada a empresa que contratou o empregado,
(Machado Villela); d) competência da lei escolhida que não realiza de modo habitual seu trabalho no mesmo país.
internacionalmente pelos contratantes para reger o acordo (proper b) nas hipóteses dos contratos de transferência de
law of the contractI ou applicable law dos ingleses) e e) competência tecnologia, pois nesses casos verificar-se-á competência absoluta do
da lex fori nos conflitos de lei que surjam entre o Brasil e os países direito pátrio interno, em consonância com o art. 17 da LICC e com os
signatários do Código Bustamante (art. 177) e a da lei do local da princípios de direito internacional econômico defendidos pelo Brasil,
constituição da obrigação entre os demais Estados que não o por tratar-se de normas de ordem pública, garantindo interesses
ratificaram36. nacionais.
Em se tratando da forma extrínseca do ato, é c) nos atos relativos à economia dirigida ou aos
a locus regis actum, norma de direito internacional privado, que é regimes de Bolsa e Mercados, que serão subordinados à lex loci
aceita pelos juristas para indicar a lei aplicável. Através dessa norma, solutionis (place of performance), filiando-se à lei do país de sua
o ato, revestido de forma externa prevista pela lei do lugar e do execução.
tempo onde foi celebrado, será válido e poderá servir de como prova § 1º. Destinando-se a obrigação a ser
em qualquer local onde tiver que produzir efeitos. executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será
Em se tratando de contratos internacionais, o esta observada, admitidas as peculiaridades da lei
princípio da autonomia da vontade não é acolhido como elemento de estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
conexão para reger contratos na seara do direito internacional, De acordo com o disposto no § 1º do art. 9º da
preconizando a liberdade contratual dentro das limitações fixadas em LICC, a obrigação contraída no exterior e executada no Brasil será
lei, ou seja, a mesma só prevalecerá quando não for conflitante com observada segundo a lei brasileira, atendendo as peculiaridades da
norma imperativa ou ordem pública, ressaltando-se a previsão que a lei alienígena em relação à forma extrínseca.
própria LICC faz em seu artigo 17 quando considera ineficaz qualquer Isto significa que a lei da constituição do local da
ato que ofenda a ordem pública interna, a soberania nacional e os obrigação mantém-se, pois admitidas serão suas peculiaridades,
bons costumes. Isso não significa que o art. 9º afasta a autonomia da como a validade e a produção de seus efeitos, enquanto a lei
vontade, pois a manifestação da livre vontade dos contratantes é brasileira será competente para disciplinar os atos e medidas
admitida pela LICC quando o for pela lei do contrato local, desde que necessárias para a execução da mesma em território nacional, tais
observada a norma imperativa. como a tradição da coisa, forma de pagamento ou quitação,
Nos casos em que a intenção do agente for de indenização nos casos de inadimplemento, etc.
burlar a lei nacional, praticando negócio em país estrangeiro com o Em relação aos contratos não exeqüíveis no Brasil,
mas aqui acionáveis, não se aplicará o disposto no art. 9º, § 1º, da
LICC, mas sim o locus regis actum, ou seja, a lei local é que regerá o herança e a de seu sucessor e a natureza e a situação dos bens,
ato. unificando a jurisdição do último domicílio do de cujus para
§ 2º. A obrigação resultante do contrato apreciação de todas as questões relativas à sucessão e, desta forma,
reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. simplificando as questões oriundas da mesma.
O lugar onde se tem por concluído o contrato é de Mesmo nos casos em que o finado tiver mais de
fundamental importância para o direito internacional privado, já que uma residência (CC, art. 71), competente será o foro onde o
através dele emanará qual a lei deverá ser aplicada para a disciplinar inventário foi requerido primeiro.
a relação contratual e também a apuração do foro competente. Maria Helena Diniz39, ao tratar sobre o tema,
O art. 9º, § 2º da LICC afirma que a obrigação afirma que a lei do domicílio do de cujus, no momento de sua morte,
resultante do contrato se constitui no lugar em que residir o determinará: a) a instituição e a substituição da pessoa sucessível; b)
proponente, sendo aplicável quando os contratantes estiverem em a ordem de vocação hereditária, quando se tratar de sucessão
Estados diversos, enquanto que o art. 435 do Código Civil reputa legítima; c) a medida dos direitos sucessórios dos herdeiros ou
celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. legatários, sejam eles nacionais ou estrangeiros; d) os limites da
Maria Helena Diniz38 afirma que o verbo “residir” capacidade de testar; e) a existência e a proporção da legítima do
significa “estabelecer morada” ou “achar-se em”, “estar”, e é nessa herdeiro necessário; f) a causa da deserdação; g) a colação; h) a
última acepção que vem sendo empregado o disposto no § 2º, do art. redução das disposições testamentárias; i) a partilha dos bens do
9º da LICC, significando que o lugar em que residir o proponente seja acervo hereditário; j) o pagamento das dívidas do espólio.
o lugar onde estiver o proponente, afastando assim o critério O art. 10 da LICC não faz menção expressa à
domiciliar por entender que a adoção do elemento “residência” daria comoriência ou morte simultânea, e nesses casos, observar-se-ão as
mais mobilidade aos negócios, já que não raro os mesmos se leis de domicílio de cada um dos finados relativas à sucessão, de
efetivam fora do domicílio dos contratantes. acordo com o disposto no art. 29 do Código Bustamante que dispõe
Assim, de acordo com a LICC, a obrigação que nos casos de presunções de sobrevivência ou de morte
contratada entre ausentes será regida pela lei do país onde residir o simultânea, quando não houver prova, as mesmas serão reguladas
proponente, não importando o momento ou local da celebração pela lei pessoal de cada um dos falecidos em relação à sua
contratual, aplicando-se a lei do lugar onde foi feita a proposta. Em respectiva sucessão. Desta forma, tendo os comorientes domicílios
relação aos contratos entre presentes, no que diz respeito ao direito diversos, a sua sucessão será regida pela lei pessoal de cada um.
internacional, serão regidos pela lei do lugar em que foram Nos casos de morte presumida ou ausência, a lei
contraídos, desconsiderando-se a nacionalidade, domicílio ou domiciliar do ausente será aplicada, seja qual for a natureza e a
residência dos contratantes. localização dos bens que compõem seu patrimônio, no que diz
respeito às condições da declaração de ausência e seus efeitos e aos
 Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência direitos eventuais do ausente (Código Bustamante, arts. 73-83).
obedece à lei do país em que domiciliado o defunto Sendo assim, não é possível que a pessoa seja declarada ausente por
ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a juiz brasileiro quando a mesma não tiver tido seu domicílio em nosso
situação dos bens. país, assim como não será possível proceder à sucessão provisória,
O art. 10 da LICC abrange tanto a sucessão causa processar inventário e partilha e declarar presunção de morte, nos
mortis (seja ela legítima ou testamentária) como também a sucessão casos de sucessão definitiva.
por ausência. § 1º. A sucessão de bens de estrangeiros,
Perante a teoria da unidade sucessória, que é a situados no País, será regulada pela lei brasileira em
adotada pela LICC, a sucessãocausa mortis deverá ser regida pelo lei benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os
do domicílio do de cujus, desprezando-se a nacionalidade do autor da
represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei lei do domicílio do auctor sucessionis; b) da capacidade de agir em
pessoal do de cujus. relação aos direitos sucessórios, ou seja, que tem a ver com a
Nos casos aventados pelo § 1º, em relação à aptidão para suceder, para aceitar ou para exercer direitos do
sucessão de bens de estrangeiro situados no País, observa-se sucessor, que se subordina à lei pessoal do herdeiro ou sucessível.
exceção à variação da ordem de vocação hereditária determinada Assim, importante reconhecer que o § 2º do art. 10
pelo art. 1829 do Código Civil40, não se aplicando o princípio de que da LICC diz respeito à capacidade de exercer o direito de suceder,
a existência de herdeiro de uma classe exclui da sucessão os que é reconhecido pela lei domiciliar do autor da herança e regido
herdeiros da classe subseqüente. pela lei pessoal do sucessor, enquanto que a capacidade para
A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, suceder é disciplinada pela lei do domicílio do falecido.
XXXI, também prevê que “a sucessão de bens de estrangeiro
situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do  Art. 11. As organizações destinadas a fins de
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais interesse coletivo, como as sociedades e as
favorável a lei pessoal do de cujus”. fundações, obedecem à lei do Estado em que se
A exceção se dá em relação à possibilidade de constituírem.
alteração da ordem da vocação hereditária pois, nos casos em que, O artigo 11 da LICC impõe que a lei do Estado em
se tratando de bens existentes no Brasil, de propriedade de que as pessoas jurídicas de direito privado se constituírem é que irá
estrangeiro falecido e casado com brasileira ou com filhos brasileiros, determinar as condições de sua existência ou do reconhecimento de
é aplicada a lei nacional do de cujus quando for mais vantajosa aos sua personalidade jurídica, sendo o seu fórum competente para
sucessores do que a lei brasileira. versar sobre sua criação, funcionamento e dissolução, pouco
Assim, estará a sucessão sujeita à aplicação da lei importando o lugar onde se dá o exercício de sua atividade.
brasileira quando: a) os bens estiverem no Brasil; b) houverem A nacionalidade das pessoas jurídicas não é
cônjuge ou filhos brasileiros, ou quem os represente e c) quando a lei mencionada expressamente pela LICC, mas entende-se prevista
pessoal do de cujus não lhes for mais favorável. implicitamente no art. 11 da LICC e expressamente nos arts. 1.126 a
Importante lembrar que anteriormente vigorava no 1.141 do Código Civil, quando é determinada pela lei na qual tem sua
Brasil o instituto do usufruto vidual, que admitia, nos casos de origem, pelo princípio locus regit actum.
casamento entre brasileiro com estrangeira, a sucessão no usufruto § 1º. Não poderão, entretanto. ter no Brasil
de cônjuge supérstite. Hoje admite-se a sucessão no direito real de filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos
habitação, de acordo com o art. 1.831 do CC, no imóvel destinado à constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando
residência, quando este for o único do gênero a ser inventariado, em sujeitas à lei brasileira.
qualquer dos regimes de bens e sem prejuízo da participação que lhe O § 1º do art. 11 da LICC condiciona a abertura de
caiba na herança. filiais, agências ou estabelecimentos de pessoa jurídica estrangeira
§ 2º. A lei do domicílio do herdeiro ou no Brasil à aprovação de seu estatuto social ou ato constitutivo pelo
legatário regula a capacidade para suceder. governo brasileiro, com o intuito de evitar fraudes à lei e fazendo
A interpretação do § 2º, do art. 10 da LICC, deve com que a mesma se sujeite à lei brasileira, uma vez que adquirirá
ser feita com cuidado no que diz respeito à capacidade para suceder. domicílio no Brasil (CC, arts. 1.134 a 1.141).
Maria Helena Diniz41, ao versar sobre o tema, Não será necessária a autorização governamental
ressalva que “se deve repelir toda e qualquer interpretação extensiva nos casos em que a pessoa jurídica estrangeira não pretenda fixar no
a esse dispositivo legal, devido à ambigüidade do termo ‘capacidade Brasil agência ou filial, pois obedecerá à lei do país de sua
para suceder’”. De acordo com a autora, é necessário que se constituição, sendo possível exercer atividade no Brasil desde que
distinga: a) a capacidade para ter direito à sucessão, que se sujeita à não contrária à nossa ordem social.
A competência para decidir e praticar os atos de
funcionamento no Brasil de organizações estrangeiras destinadas a
fins de interesse coletivo, incluindo-se aqui alterações de estatuto e
cassação de autorização de funcionamento, ficou delegada ao  Art. 12. É competente a autoridade judiciária
Ministro de Estado de Desenvolvimento, Indústria e Comércio brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou
Exterior, sendo vedada a subdelegação. aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 2º. Os Governos estrangeiros, bem como as O art. 12 da LICC fixa a competência da autoridade
organizações de qualquer natureza, que eles tenham judicial brasileira nos casos em que o réu, seja ele brasileiro ou
constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, estrangeiro, tenha domicílio no Brasil, podendo aqui ser intentada
não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis qualquer ação que lhes diga respeito. Nas hipóteses em que dois
de desapropriação. sejam réus e apenas um deles esteja aqui domiciliado, admite-se a
O § 2º do art. 11 da LICC versa sobre as restrições competência do juiz que vier a tomar conhecimento da causa em
submetidas às pessoas jurídicas de direito público em relação à primeiro lugar, de acordo com o princípio da prevenção.
aquisição, gozo e exercício de direito real no território brasileiro. Admite-se assim que o estrangeiro, aqui
Tal posição se justifica pelo entendimento que a domiciliado ou não, possa comparecer, como autor ou réu, perante o
ausência de tais restrições representariam um perigo à soberania tribunal brasileiro quando haja alguma controvérsia de seu interesse,
nacional, através da possível ocorrência de problemas diplomáticos. desde que sua capacidade para estar em juízo obedeça à lex
Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “as pessoas domicilii e com a ressalva da lex fori no que diz respeito a preceito de
jurídicas de direito público externo, serão, por lei, absolutamente ordem pública (art. 7º da LICC).
incapazes para adquirir a posse e a propriedade de imóvel situado no Nos casos em que a obrigação for exeqüível no
Brasil ou de bens suscetíveis de desapropriação, como direitos Brasil, competente será a autoridade brasileira, visto tratar-se de
autorais, patentes de invenção, direitos reais sobre coisa alheia de competência especial, prevalecendo sobre a competência do local
fruição, ações de sociedade anônima, etc”42. onde a obrigação foi constituída e sobre a competência da lei
Tal impedimento dar-se-á não somente via domiciliar.
testamento, como também através de qualquer título, como compra Alguns entendem que tal competência é
e venda, doação, permuta, etc. obrigatória, enquanto parte da doutrina entende apenas que o seja
§ 3º. Os Governos estrangeiros podem em relação ao § 1º do art. 12, nas hipóteses de ações concernentes
adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos aos bens imóveis situados no Brasil, afirmando que o art. 12 da LICC
representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. c.c. os arts. 314 e 316 do Código Bustamante, contém norma
O § 3º do art. 11 da LICC trata de exceção ao supletiva, na medida que entende permitida a competência
disposto no parágrafo anterior quando permite que as pessoas estrangeira nos casos em que o réu não for domiciliado no Brasil, se
jurídicas de direito público possam adquirir prédios para sede de a obrigação não tiver que ser aqui executada e nos casos em que a
representantes diplomáticos ou agentes consulares, assegurando o ação não verse sobre imóveis situados no território brasileiro43.
livre exercício de funções diplomáticas e de atividades consulares. § 1º. Só à .autoridade judiciária brasileira
Assim, o direito de propriedade imobiliária de um compete conhecer das ações, relativas a imóveis situados no
Estado estrangeiro ficará restrito ao edifício de sua embaixada, Brasil.
consulado e legações, necessários à prestação de serviços O § 1º do art. 12 da LICC diz respeito não só às
diplomáticos, e aos prédio residenciais dos agentes consulares e ações reais imobiliárias mas sim a todas as ações que tratem de
diplomáticos, mesmo que neles não se encontre a chancelaria. imóveis situados no Brasil e trata-se de norma compulsória, na
medida que impõe a competência judiciária brasileira para processar
e julgar ações que versem sobre imóveis situados no território ordem pública, soberania nacional ou falta de autenticidade. Uma vez
brasileiro, competindo a nossa justiça fazer a qualificação do bem e a concedido o exequatur ou “cumpra-se”, a rogatória é enviada ao juiz
natureza da ação intentada. da comarca onde deverá ser cumprida a diligência, observado o
Nas hipóteses de o imóvel estar localizado em direito estrangeiro quanto ao seu objeto. Tendo sido cumprida, a
países diversos, cada Estado será competente para julgar ação rogatória é devolvida à justiça rogante através do Ministério da
relativa à parcela do bem que se encontrar em seu território. Justiça.
No que diz respeito às ações que versem sobre No que diz respeito ao tema, Maria Helena Diniz
bens móveis, as mesmas deverão ser propostas no foro do domicílio afirma que o exequatur ou sua denegação não produzirão coisa
do réu (CPC, art. 94) e quando tratarem sobre bens móveis que julgada formal, motivo pelo qual os pedidos poderão ser renovados e
venham a se deslocar após proposta a demanda, será competente o as concessões revogadas quando se perceber, por exemplo, que para
foro do domicílio das partes no momento em que a ação foi proposta processar e julgar a causa, apenas a justiça brasileira é competente,
(CPC, art. 87). pois o juiz rogado poderá resolver sobre sua própria
§ 2º. A autoridade judiciária brasileira competência ratione materiae para o ato que se lhe atribui (Código
cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma Bustamante, art. 390)44.
estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por Tendo sido concedido o exequatur à carta
autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, rogatória, não será necessária a homologação da sentença que vier a
quanto ao objeto das diligências. ser prolatada por autoridade estrangeira no mesmo processo.
A previsão do § 2º do art. 12 da LICC diz respeito Sendo indispensável para o encerramento da
ao cumprimento, pela autoridade judiciária brasileira, das cartas e instrução, a carta rogatória deverá ser devolvida, quando requerida
comissões rogatórias com a finalidade de investigação, e das antes do despacho saneador, suspendendo o processo até que seja
diligências deprecadas pelas autoridades locais competentes, devolvida. Nas outras hipóteses não terá efeito suspensivo, podendo
satisfazendo o que lhes foi requerido pela autoridade estrangeira. ser pronunciada decisão sem a devolução da carta devidamente
As cartas rogatórias são pedidos feitos pelo juiz de cumprida.
um país ao de outro solicitando a prática de atos processuais, sem
caráter executório, e subordinam-se à lei do país rogante, no que  Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país
tange ao conteúdo ou matéria de que são objeto e, em relação ao estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto
procedimento, são disciplinadas conforme a lei do país do rogado. As ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os
diligências de caráter executório, como por exemplo arresto e tribunais brasileiros provas que a lei brasileira
seqüestro, não poderão ser objeto de carta rogatória (RTJ, desconheça.
72:659, 93:517 e 103:536). O art. 13 da LICC diz respeito à prova dos fatos
Mesmo se referindo apenas à competência em ocorridos em país estrangeiro, preconizando que a mesma será
sentido estrito, poderá o juiz levantar o conflito de jurisdição a ser regida pela lei do lugar onde ocorrer (lex loci), enquanto que o ônus e
decidido na forma da lei brasileira, pois o próprio art. 17 da LICC meio de produzi-la serão regidos pela lex fori, não sendo admitida, no
impede o cumprimento de rogatória quando a mesma for ofensiva à curso da ação, qualquer prova não autorizada pela lei do juiz, sob
ordem pública e aos bons costumes, já que os atos processuais estão pena de contrariar o sistema da territorialidade da disciplina do
sujeitos à lex fori, sendo inadmitidos os que atentem contra a processo.
legislação brasileira. No que diz respeito à apreciação das provas, a
A carta rogatória é remetida através da via mesma dependerá da lei do juiz (Código Bustamente, art. 401),
diplomática e ao Procurador-Geral da República é dado vista da devendo o mesmo basear-se nas prescrições legais de seu país,
mesma para que possa impugná-la nos casos de contrariedade da averiguando:
a) a ilicitude do ato ou contrato; apresentada não o convencer, não estando o mesmo adstrito às
b) a capacidade das pessoas que se obrigaram; afirmações ou provas produzidas por ela.
c) a observância das formas extrínsecas ou Nos casos em que, mesmo tomando todas as
solenidades requeridas pela lei do lugar da celebração do ato (locus providências necessárias, seja impossível determinar com segurança
regit actum); qual o direito alienígena deva ser aplicado, os juristas têm apontado
d) autenticidade do documento, que deverá estar algumas soluções, como: a) a conversão do julgamento em
traduzido no idioma usado no país da lex fori e legalizado pelo cônsul. diligência; b) o julgamento do litígio contra a parte que alegou o
Importante ressaltar que mesmo o modo de direito estrangeiro e não demonstrou o mesmo; c) a aplicação doius
produção de provas sendo de competência da lex fori, não pode-se communis vigente no fórum, na falta de prova concludente do direito
em hipótese alguma, permitir quaisquer meios probatórios não alienígena; d) rejeição da demanda fundada em tal lei, julgando a
autorizados pela lei do órgão judicante, ou seja, a prova do fato ação improcedentes; e) a decisão conforme a norma provavelmente
ocorrido no estrangeiro deve ser produzida por meio conhecido do em vigor no país em que se cogita e f) julgamento de acordo com os
direito pátrio, caso contrário não será aplicável por juiz local. princípios gerais de direito, ou seja, com um direito comum a que a
norma alienígena se coaduna45.
 Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o
juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da  Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida
vigência. no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
Estando o magistrado diante de um caso de direito a) haver sido proferida por juiz competente;
internacional privado, o mesmo deverá decidir se é aplicável o direito b) terem sido os partes citadas ou haver-se
brasileiro ou o estrangeiro, e, verificando a inaplicabilidade da norma legalmente verificado à revelia;
brasileira, determinará qual a legislação estrangeira aplicável àquele c) ter passado em julgado e estar revestida das
caso concreto. A aplicação da lei estrangeira pelo juiz pode ser dar ex formalidades necessárias para a execução no lugar
officio, quando dela tenha conhecimento e mesmo sendo esta contra em que ,foi proferida;
a vontade das partes. d) estar traduzida por intérprete autorizado;
Nos casos em que desconhecer a norma e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal
estrangeira, já que não é obrigado a conhecê-la e nem tem o dever Federal.
de prová-la, é permitido ao juiz, pelo art. 14 da LICC, reclamar a Parágrafo único. Não dependem de homologação
prova do direito estrangeiro de quem a alega, tendo o juiz o dever de as sentenças meramente declaratórias do estado das
inteirar-se das normas mesmo quando não fornecida pelas partes. pessoas.
Maria Helena Diniz, ao discorrer sobre o tema, A sentença de mérito proferida no estrangeiro é
dispõe que, a observância do direito estrangeiro, seja ex officio pelo destituída tanto de obrigatoriedade quanto de força executória na
juiz ou quando invocado pela parte litigante, poderá se dar das jurisdição de outro país, em virtude da independência das jurisdições.
seguintes formas: a) o magistrado deverá aplicar a lei estrangeira, O art. 15 da LICC versa justamente sobre a
mesmo sem alegação e prova da parte interessada, sempre que o hipótese em que sentença estrangeira deva ser executada no Brasil,
direito privado (lex fori) julgar competente aquela lei; b) se o juiz não já que tal sentença, para ser aqui executada, necessita da aprovação
conhecer o direito estrangeiro poderá exigir prova da parte a quem do nosso órgão judiciário, constituindo o exequatur. O exequatur é o
aproveita (CPC, art. 337); c) o interessado, sem a provocação do juiz, processo através do qual a jurisdição local aceitará a sentença como
poderá alegar a lei que lhe é aplicável, propondo-se a provar sua sua produto de um tribunal, mas indicará se ela poderá ou não ser aqui
existência e conteúdo e d) o órgão judicante poderá de ofício executada, submetendo-a a exame preliminar.
investigar a norma estrangeira alegada pela parte, se a prova
O critério utilizado adotado no Brasil em relação ao executivo, que o indivíduo apresentará, invocando a coação do poder
problema da eficácia jurídica e da força executiva da sentença público, afim de lhe serem assegurados os direitos, que a sentença
estrangeira é o do juízo de delibação. O juízo de delibação é uma declara lhe pertencerem”46.
modalidade de exequatur, através do qual se reconhece a eficácia da
sentença estrangeira para ser executada no território do Estado ou  Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes,
para atender aos direitos adquiridos dela recorrentes, constituíndo se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em
um prévio juízo, sem apreciação do mérito, limitado ao exame de vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer
requisitos extrínsecos (competência, regularidade da citação e remissão por ela feita a outra lei.
respeito à ordem pública nacional) e da competência da autoridade As normas de direito internacional privado,
prolatora da sentença. O processo de exequatur não admite a vigentes nos diferentes Estados, não são uniformes a respeito dos
apresentação de novo pedido que não tenha sido apreciado pelo juiz critérios normativos, motivo pelo qual se justificam os conflitos entre
estrangeiro, cabendo ao juiz do exequatur somente a concessão ou a as próprias normas de direito internacional privado.
recusa da homologação, sem poder alterar o julgamento feito no O artigo 16 da LICC busca, através da corrente
exterior. da referência ao direito material estrangeiro solucionar tais conflitos,
A execução de sentença estrangeira no juízo pela qual a norma de direito internacional privado remete o aplicador
brasileiro somente se dará quando presentes determinados requisitos para reger dada relação jurídica ao direito substancial alienígena,
externos e internos. qualificador do fato sub judice, e não ao direito internacional privado
Os requisitos externos são que a sentença seja estrangeiro. Essa teoria preconiza que o juiz atenda somente à norma
formalmente válida em sua jurisdição de origem, que esteja traduzida de direito internacional privado de seu país, sem se preocupar com a
na língua portuguesa por tradutor juramentado ou intérprete de outro Estado, seja ela idêntica ou não47.
autorizado e que seja autenticada pelo cônsul brasileiro (Súmula 259 Ao tratar sobre o tema, Maria Helena Diniz afirma
do STF), exceto se tiver sido requisitada por via diplomática. Os que “o princípio adotado pelo art. 16 é o de que a remissão feita pela
requisitos internos para que a sentença alienígena seja executada norma brasileira de direito internacional privado a direito estrangeiro
em nosso país são os seguintes: que tenha sido prolatada por juiz importará em remissão às disposições materiais substanciais do
competente; citação válida das partes ou verificada sua revelia, de ordenamento jurídico estrangeiro (sachnormweisung) e não ao
acordo com a lei do local onde tenha sido prolatada a decisão; ordenamento jurídico em sua totalidade, inclusive às normas
trânsito em julgado da sentença proferida no estrangeiro (Súmula alienígenas de direito internacional privado (gesamtverweisung)”.
420 do STF); sentença não contrária à ordem pública, soberania Assim, afirma ainda a autora, o art. 16 da LICC
nacional e aos bons costumes e que tenha sido previamente admite tão-somente a aplicação de norma substancial brasileira
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, de acordo com a EC aplicável ao caso vertente, por ordem da norma de direito
45/2004 e com o art. 483, parágrafo único, do Código de Processo internacional privado do fórum e na da norma de direito internacional
Civil, com ouvida das partes e do Procurador-Geral da República. alienígena, já que as únicas normas sobre conflito normativo que
No que tange à sentença estrangeira meramente poderão ser levadas em conta, para a resolução de um dado fato
declaratória de estado de pessoa, a homologação é dispensada, em interjurisdicional, serão as do fórum e não as de outro Estado48.
função de que este tipo de sentença independe de execução, pois por
si só representa documento idôneo para determinar uma qualidade
ou um fato, tendo mera eficácia documental.  Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem
Clóvis Bevilacqua, ao tratar do tema, ressalva que como quaisquer declarações de vontade, não terão
“Se, entretanto, a sentença sobre o estado envolve relações eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania
patrimoniais, a homologação é necessária, porque será o título nacional, a ordem pública e os bons costumes.
O art. 17 trata da ineficácia das leis estrangeiras mesmo seja celebrado no exterior perante cônsul brasileiro,
no Brasil quando as mesmas forem contrarias à soberania nacional, à ressaltando que ambos os nubentes devam ser brasileiros, já que no
ordem pública ou aos bons costumes, submetendo a eficácia dos atos direito brasileiro exige-se a vinculação da nacionalidade dos
alienígenas aos princípios descritos acima. contraentes à autoridade consular. Ou seja, quando os nubentes
É sabido que o juiz é obrigado a aplicar a lei tiverem nacionalidades diversas, a cerimônia somente poderá ser
estrangeira no caso concreto quando o impuser a norma de direito realizada perante a autoridade local, não tendo o cônsul brasileiro
internacional privado. O art. 17 da LICC confere ao magistrado o competência para celebrá-la, não podendo fazê-lo quando apenas um
poder-dever de afastá-la quando a mesma contrariar a soberania dos cônjuges for brasileiro e o outro for estrangeiro ou apátrida.
nacional, ordem pública e os bons costumes, visto que os mesmos Após a celebração do casamento pelo cônsul, é
constituem limites que visam a assegurar a ordem social. necessário o registro do mesmo no livro competente, no prazo de
Na prática, a análise da aplicação ou não da lei 180 dias contados da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil,
estrangeira dar-se-á no momento em que o órgão judicante apreciará no Cartório do respectivo domicílio ou, na falta deste, no 1º Ofício da
o caso concreto, averiguando se sua aplicação não será contrária aos Capital do Estado em que passarem a residir, expedindo a certidão
nossos princípios de organização política, jurídica e social. do casamento. Se porventura o prazo de 180 dias não for cumprido, o
Assim, através deste artigo, observa-se uma casamento não é invalidado, mas nova habilitação será necessária
restrição ou limitação à aplicação de lei estrangeira no Brasil pois, para retomar a possibilidade do registro49.
quando contrária à nossa ordem social, mesmo quando regularmente No caso de a lei do país em cujo território se
aplicável a certo caso, terá sua competência normal afastada, realizou o casamento de brasileiros não reconhecer o casamento
acarretando a aplicação da lex fori. consular, o mesmo terá validade no Brasil50.

 Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes  Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados
as autoridades consulares brasileiras para lhes no artigo anterior e celebrados pelos cônsules
celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4
e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os
de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido requisitos legais.
no país da sede do Consulado. Parágrafo único. No caso em que a
O artigo 18 da LICC versa sobre a competência celebração desses atos tiver sido recusada pelas
consular brasileira para redigir atos notariais em Estado alienígena, autoridades consulares, com fundamento no artigo 18
possibilitando aos brasileiros que estejam no exterior, domiciliados do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado
ou não no Brasil, possam se dirigir aos representantes consulares do renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias
Brasil para requererem a lavratura de atos de competência normal de contados da data da publicação desta lei.
juiz de casamento, de tabelião ou oficial do registro civil, de acordo O art. 19 da LICC versa sobre a validade do
com sua lei nacional, que é a brasileira. casamento celebrado por cônsul brasileiro no estrangeiro, de
Importante ressaltar que os atos consulares nubentes de nacionalidade brasileira, mesmo que não sejam
constituem exceção ao princípio locus regit actum, já que os domiciliados no Brasil, ou seja, validando também as núpcias de
cônsules, no exercício de seus cargos no exterior, devem seguir as brasileiros domiciliados no exterior.
formalidades prescritas em sua lei nacional, e não as do país onde O parágrafo único do artigo 19 determina um
estão a serviço do Brasil. prazo de noventa dias para que se renove o pedido para a celebração
No que diz respeito ao casamento, o art. 18 da do casamento quando a autoridade consular se recusar a celebrá-lo
LICC, com a alteração do art. 3º da Lei nº 3.238/57, permite que o com fundamento no disposto no art. 18 da LICC.
Oscar Tenório51 entende que o simples pedido de exigência do domicílio e considerando apenas o elemento de conexão
reconsideração no processo de habilitação, quando fundamentado “nacionalidade”, motivo pelo qual brasileiros, domiciliados ou não no
legalmente, já obrigaria o cônsul a celebrar as núpcias, deixando de Brasil, poderão contrair núpcias no exterior perante autoridade
lado a exigência do domicílio no Brasil. consular brasileira
Assim, observa Maria Helena Diniz que a Lei nº
3.238/57 veio a alterar os arts. 7º, § 2º, e 18 da LICC, eliminando a
Notas de Rodapé
1 Raó, Vicente. O Direito e a vida do 14 Monteiro, Washington de 25 Kahn. Die dritte Haager Staaten 42 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.347.
direito. São Paulo: Max Limonad, v.1, Barros. Curso de direito civil; parte geral. Konferenz, in Zeitschrift für internationals 43 Espínola; Espínola Filho. Lei de
p.240-2 e 373-4. São Paulo: Saraiva, 1967, v.1, p.43; Privat-und öffentliches Recht, 1902, v.2, Introdução ao Código Civil comentada, Rio
2 Ferrara. Trattato di diritto civile italiano. Bevilácqua, Clóvis. Teoria geral do direito, p.421. de Janeiro: Freitas Bastos, 1943, v.3, p.
Roma, p. 116-7, v.1, 1921. 4.ed. Ministério da Justiça, 1942, p.59. 26 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.253-4. 274-304; Castro, Amílcar de. Direito
3 Carvalho Santos. Código Civil brasileiro 15 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.173. 27 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.255. Internacional Privado, v.2, p.226; Andrade,
interpretado, Rio de Janeiro, 1934, p. 60-1. 16 Maximiliano, Carlos. Direito 28 Wolff. Private International Law, p.293- Agenor P. de. Manual de direito
4 Diniz, Maria Helena. Lei de Introdução ao Intertemporal, Rio de Janeiro: Freitas 333; Castro, Amílcar. Direito Internacional internacional privado, São Paulo, 1987,
Código Civil Brasileiro Interpretada. 13.ed. Bastos, 1946.Vide também Diniz, Maria Privado, Rio de Janeiro: Forense, 1968, p.321-3; Tenório, Oscar. Direito
São Paulo: Saraiva, 2007, p. 67-8. Helena. Ob. cit., p.191-2. v.2, p.85 e s. internacional privado, Rio de Janeiro:
5 Gèny. Método de interpretación y 17 Diniz, Maria Helena. Comentários ao 29 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 262. Freitas Bastos, v.2, p.356; Ráo, Vicente. O
fuentes en el derecho privado. 2.ed. Madri: Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, 30 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 263. direito, v.1, p.530; Batalha, Wilson de S.
Reus, p.250; Capitant. Introduction à v.22, p.163-184. 31 Monteiro, Washington de Campos. Tratado, p.367 e 386; Cavaglieri,
l’étude du droit civil, 1929, p.82-3; Limongi 18RSTJ, v.7, 1991. Barros. Curso, cit., v.2, p.30. Arrigo. Lezioni di diritto internazionale
França. Instituições de direito civil, São 19 Porchat, Reynaldo. Da retroatividade 32 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 266. privato, Napoli, 1933, p.365 e s. e 374 e
Paulo: Saraiva, 1988, p.23; Ráo, das leis civis, São Paulo, 1909, p.22. 33 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 290. s.; RT, 577:152; RTJ, 45:317.
Vicente. O Direito. cit., v.1, p. 385-6; 20 Ferraz Júnior, Tércio 34 Pillet; Neboyet. Manuel de droit 44 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.363.
Cavalcanti Filho, Teophilo. Ab-rogação da Sampaio. Introdução ao Estudo do international privé, 1924, p.471. 45 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 374 e
lei por si mesma in Enciclopédia Saraiva do Direito, cit., p.226-7; Diniz, Maria 35 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.296. 378.
Direito, v.1, p. 481-2. Helena. Lei de Introdução.., cit., p.196. 36 Idem. 46 Bevilacqua, Clóvis apud Batalha,
6 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.68; 21 Carvalho Santos, Código Civil. cit., v.1, 37 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.302-3. Wilson. Tratado de direito internacional
Ferrara. Trattato, cit., p. 189-91; Batalha, p.54. 38 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.307. privado, São Paulo: Revista dos Tribunais,
Wilson de S. Campos Batalha. Lei de 22 Ferraz Júnior, Tércio Sampaio. Ob. 39 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.312. cit., p. 462.
Introdução ao Código Civil, São Paulo: Max cit., p.226. 40 “Art. 1.829, do CC: a sucessão legítima 47 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 417-18.
Limonad, v.1, p.118-9; 23Revista de Direito 69:117; Revista de defere-se na ordem seguinte: I – aos 48 Idem, p. 421-23.
7 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.87-8. Crítica Judiciária, 15:393. descendentes, em concorrência com o 49 Russo, José. Casamento perante
8 Coviello. Manuale di diritto civile italiano; 24 Código Bustamante, art. 41, reza que cônjuge sobrevivente, salvo se casado este autoridade consular. Revista Brasileira de
parte generale, 1924, v.1, p.45. se terá : “... em toda parte como válido, com o falecido no regime da comunhão Direito de Família. 23:55 a 65.
9 Ob. cit., p. 93. quanto à forma, o matrimônio celebrado universal, ou no da separação obrigatória 50 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p. 442.
10 Ferraz Júnior, Tércio na que estabeleça como eficazes as leis do de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou 51 Tenório, Oscar. Direito Internacional
Privado, cit., v.2, p. 69-70.
Sampaio. Introdução ao estudo do direito, país em que se efetua. Contudo, os se, no regime da comunhão parcial, o
52 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.445.
São Paulo: Atlas, p.210 e 290. Estados, cuja legislação exigir uma autor da herança não houver deixado bens
11 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.145. cerimônia religiosa, poderão negar validade particulares; II – aos descendentes, em
12 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.171. aos matrimônios contraídos por seus concordância com o cônjuge; III – ao
13 Ferraz Júnior, Tércio nacionais no estrangeiro sem a cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais”.
Sampaio. Introdução, cit., p.265. observância dessa formalidade”. 41 Diniz, Maria Helena. Ob. cit., p.318.

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