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Proposta de prova-modelo 2

PROPOSTA DE PROVA-MODELO
12.° ANO DE ESCOLARIDADE

Duração da prova: 120 minutos PROPOSTA DE PROVA-MODELO 2

PROVA ESCRITA DE HISTÓRIA

GRUPO I

DA REVOLUÇÃO À ESTABILIZAÇÃO
DA DEMOCRACIA EM PORTUGAL

Documento 1
Considerando que ao fim de 13 anos de luta em terras do Ultramar, o sistema político vigente não con-
seguiu definir concreta e objectivamente uma política ultramarina que conduza à paz entre os Portugueses
de todas as raças e credos;
[…]
Considerando, finalmente, que o dever das Forças Armadas é a defesa do país como tal se entendendo
também a liberdade cívica dos seus cidadãos, o Movimento das Forças Armadas, que acaba de cumprir com
êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa História, proclama à Nação a sua
intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do país e da restituição ao
Povo Português das liberdades cívicas de que tem sido privado.

Documento 2

Um cartaz político de 1974.

Documento 3

As notícias em 14 de Março de 1975.


Propostas de provas-modelo

Documento 4

A posição de alguns oficiais sobre a situação política portuguesa


Parece a [alguns] oficiais que se chegou a um ponto crucial do processo revolucionário iniciado em
25 de Abril de 1974 e que é o momento das grandes opções, tomadas com serenidade e inquebrantável
energia, em relação ao futuro deste país.
Parece-lhes, também, que é o momento de se clarificarem posições políticas e ideológicas, terminando
com ambiguidades que foram semeadas e progressivamente alimentadas por todos aqueles que, dentro e
fora das Forças Armadas, estavam interessados no descrédito de uns tantos para melhor poderem fazer
valer e impor as suas próprias ideias. […]
Encontramo-nos em mais uma encruzilhada da História, e é ao MFA, uma vez mais, que compete assu-
mir o peso maior das responsabilidades para com o Povo português. […].
Trata-se de construir uma sociedade de tolerância e de paz e não uma sociedade sujeita a novos meca-
nismos de opressão.

Documento 5

Estado de sítio
Considerando verificar-se o condicionalismo previsto no n.° 12 do artigo 7.° da Lei Constitucional
n.° 3/74, de 14 de Maio;
Ouvido o Conselho da Revolução […];
Tenho por bem declarar o estado de sítio na área da Região Militar de Lisboa, com suspensão parcial
das garantias constitucionais, assumindo as autoridades militares a superintendência sobre as autoridades
civis e serviços de segurança, nos termos da base XXXI da Lei n.° 2084, de 16 de Agosto de 1956.
Este decreto entra imediatamente em vigor.
Assinado em 25 de Novembro de 1975.
Publique-se.
O Presidente da República, Francisco da Costa Gomes. – José Baptista Pinheiro de Azevedo.

Documento 6

A Constituição de 1976
Artigo 2.°
ESTADO DEMOCRÁTICO E TRANSIÇÃO PARA O SOCIALISMO
A República Portuguesa é um Estado de direito democrático,
baseado na soberania popular, no respeito e na garantia dos direitos e
liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e organização
política democráticas, que tem por objectivo assegurar a transição para
o socialismo mediante a criação de condições para o exercício demo-
crático do poder pelas classes trabalhadoras.
Proposta de prova-modelo 2

1. Insira o conteúdo do documento 2 na evolução do processo revolucionário a que o documento 1


faz referência.

2. Esclareça o título principal da primeira página do Diário de Notícias (documento 3).

3. Relacione a publicação do Decreto n.° 670-A/75, de 25 de Novembro (documento 5), com a posi-
ção dos autores do “Documento dos Nove” (documento 4).

4. Identifique, na Constituição de 1976 (documento 6), manifestações da conjuntura política em que


foi elaborada.

5. Analise a evolução política de Portugal entre Abril de 1974 e Abril de 1976.

A sua resposta deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes tópicos de desenvolvimento:
– a eclosão da revolução e as tensões político-ideológicas na sociedade e no interior do movi-
mento revolucionário;
– a política económica antimonopolista e intervenção do Estado no domínio económico-financeiro;
– a opção constitucional de 1976.
A sua resposta deve integrar, para além dos seus conhecimentos, os dados disponíveis nos documentos 1 a 6.

Identificação das fontes


Doc. 1 – Adaptado de Comunicado do MFA de 25 de Abril de 1974, in Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra, 1996,
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=mfa2
Doc. 2 – Cartaz do Partido Comunista Português, 1974, http://www.imagens.ubi.pt/imagens/cartazes/cartaz_politico.php?cod_cartaz=43
Doc. 3 – Primeira página do Diário de Notícias de 14 de Março de 1975
Doc. 4 – Adaptado de «Documento dos Nove», Jornal Novo, 8 de Agosto de 1975
Doc. 5 – Constituição de 1976

GRUPO II

A UNIÃO EUROPEIA NO DEBATE DO ESTADO-NAÇÃO

União Europeia, um conceito alargado de Estado-Nação?


Por muito contraditória que possa parecer, a integração europeia caracteriza-se pela mesma lógica que
orientou a emergência dos estados-nação na Europa, nos dois últimos séculos. A transição do feudalismo
ou da monarquia para um Estado democrático organizado ao nível central surgiu como resposta à necessi-
dade de uma adaptação eficaz às novas realidades: o Estado-Nação, enquanto entidade política e social
fundamental, com uma autoridade central poderosa, uma comunidade nacional relativamente coesa e fron-
teiras bem definidas, serviu, e continua a servir, objectivos específicos: um desenvolvimento planeado a nível
central, melhores soluções para os problemas sociais e económicos, divulgação de valores e princípios
semelhantes e protecção contra perigos externos.
São precisamente os valores que levaram à criação dos estados-nação que servem de suporte à ideia
da unificação europeia, sistematicamente desenvolvida nos últimos 50 anos. A unificação da Europa não é
uma rejeição do Estado-Nação, é antes um desenvolvimento em termos de escala que se baseia em meca-
nismos novos e mais eficazes, que estão em sintonia com os requisitos dos dias de hoje.
E quais são estes requisitos?
Em primeiro lugar, a necessidade, num mundo cada vez mais competitivo, de manter, expandir e, se
necessário, impor valores e princípios como a democracia, o Estado de Direito, o respeito pelos valores
humanos, a singularidade da personalidade e da iniciativa humanas, assegurando simultaneamente o res-
peito pela comunidade e pelos seus interesses. […].
Em segundo lugar, a necessidade de competitividade. Dada a rivalidade dos grandes estados, com um
enorme potencial para consolidar populações heterogéneas, ou de grupos emergentes de estados, a
Europa não poderá manter a sua posição meramente através de decisões adoptadas a nível nacional ou de

CAESHA12-16
Propostas de provas-modelo

formas rudimentares de harmonização política. Para fazer face aos desafios da globalização, devemos alar-
gar o mais possível a Europa e devemos igualmente aprofundar a integração, através de políticas essenciais
a implementar conjuntamente em todo o continente.
A integração europeia está a avançar, apesar das contrariedades que acompanham cada movimento
político e social. Todavia, devemos acelerar o ritmo da integração, uma vez que a pressão do ambiente
externo está a aumentar.

1. Refira as razões que levam o orador a considerar que a União Europeia não contradiz a ideia de
Estado-Nação.

2. Esclareça os requisitos que, segundo o orador, determinam a afirmação da União Europeia como
um Estado-Nação alargado.

3. Explicite as contrariedades que condicionam o avanço da integração europeia.

Identificação das fontes


Adaptado de Kostas Simitis, Primeiro-Ministro grego, Discurso subordinado ao tema “Vinte anos de participação da Grécia na União Europeia – cinquenta
anos de integração europeia”. Salónica, 31 de Março de 2001.
http://europa.eu.int/constitution/futurum/documents/speech/sp310301_pt.htm

COTAÇÕES

Grupo Itens Pontuação Total

1. 20
2. 20
I 3. 20 130
4. 20
5 50

1. 20
II 2. 20 70
3. 30

TOTAL ....................................................... 200 pontos

Proposta de resolução

GRUPO I
Questão 1
O documento 1 faz referência à operação levada a cabo pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) que, na
madrugada de 25 de Abril de 1974, pôs fim ao Estado Novo.
Perante a recusa obstinada do Governo marcelista em definir uma solução política para o problema colonial, os mili-
tares entenderam que se tornava urgente pôr fim ao regime de ditadura e abrir o caminho para a democratização do
país. A fervorosa aclamação com que a acção revolucionária foi recebida pela população civil confirmou os propósitos
dos militares em restituir ao povo português “as liberdades cívicas” de que, ao longo de 48 anos tinha sido privado.
Do documento 2 podemos inferir que a situação não evoluiu de forma tão pacífica e democrática conforme o
comunicado do MFA deixava prever. Da leitura do cartaz do PCP ficamos a saber que se acentuaram as divisões polí-
ticas na sociedade portuguesa.
Com efeito, as “liberdades cívicas” abriram caminho a excessos levados a cabo por uma tendência revolucionária
de esquerda, onde se insere a organização política autora do cartaz, com o argumento de suster o avanço da contra-
-ofensiva das forças consideradas reaccionárias. Neste ambiente, cresceram por todo o país organizações com forte
poder reivindicativo que evidenciavam a emergência de formas de poder popular que punham em causa a democracia
e as liberdades cívicas, num quadro de democracia pluralista que norteara o movimento militar de Abril de 1974.
Proposta de prova-modelo 2

Questão 2
A nacionalização da banca noticiada pelo Diário de Notícias em 14 de Março de 1975 foi uma das mais poderosas
manifestações da intervenção do Estado no domínio económico-financeiro. Foi uma decisão tomada logo na “primeira
reunião do Conselho da Revolução”, um órgão político instituído para aconselhamento do presidente da República no
exercício das suas funções de soberania, no seguimento da tentativa do golpe militar contra o avanço das forças de
esquerda, três dias antes.
A nacionalização da banca ocorreu, por conseguinte, na fase mais conturbada do processo revolucionário. Foram
tempos em que as forças de esquerda se consolidaram no poder e deram início a um controverso processo de des-
mantelamento dos mais poderosos grupos económicos privados portugueses, onde se insere o acontecimento noti-
ciado. Tratou-se, efectivamente, da substituição de uma velha banca, privada, entendida como uma instituição que
apenas satisfazia os interesses de um grupo minoritário de grandes capitalistas e que tinha sido um dos mais impor-
tantes suportes do regime deposto, por uma nova banca, nacional, entendida como única via de desenvolvimento e
de progresso de um país democrático.

Questão 3
A declaração do estado de sítio na área da Região Militar de Lisboa, em 25 de Novembro de 1975, com todas as
consequências políticas inerentes, deixa entender bem quão complicados eram os tempos políticos que se viviam em
finais de 1975.
Com efeito, em consequência dos sucessos políticos conseguidos pelas forças de esquerda, em que preponde-
rava o Partido Comunista suportado por uma ala radical do MFA e pelo Conselho da Revolução, sob o signo de uma
proclamada aliança do povo com o MFA a que o Diário de Notícias (documento 3) também faz referência, Portugal
afastava-se cada vez mais dos princípios que tinham norteado os revolucionários de Abril e caminhava para um
modelo político muito próximo do das democracias populares do Leste da Europa.
É este quadro político que leva alguns oficiais moderados a considerar que se chegou a um “ponto crucial do pro-
cesso revolucionário iniciado em 25 de Abril de 1974 e que é o momento das grandes opções”. Esse “ponto crucial” é
a cada vez mais clara afirmação do carácter totalitário do processo revolucionário e as “grandes opções” só podem
ser a construção de “uma sociedade de tolerância e de paz e não uma sociedade sujeita a novos mecanismos de
opressão”, ou seja, o fim da fase extremista do processo revolucionário e o regresso aos princípios democráticos e
pluralistas de Abril de 1974.
A declaração do estado de sítio é o culminar de um processo de agravamento das tensões políticas e sociais e de
iminente confronto militar generalizado entre os partidos conservadores e os partidos de esquerda.

Questão 4
Promulgada em 2 de Abril de 1976, a nova constituição foi elaborada no clima de forte radicalização política a que
fizemos referência nas respostas anteriores. Esse clima revolucionário está bem presente no carácter marcadamente
ideológico no sentido do socialismo. O artigo 2.° refere-o claramente ao afirmar que o Estado Português tem por
objectivo criar “condições para o exercício democrático do poder pelas classes de trabalhadoras” tendo em vista
“assegurar a transição para o socialismo”.
É certo que reconhece também que a república portuguesa é um “Estado de direito, baseado na soberania popular,
no respeito e na garantia dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão”, salvaguardando o
carácter pluralista da democracia portuguesa, mas, de algum radicalismo do discurso, podemos concluir que os tempos
mais conturbados do PREC ainda estão bem presentes, pelo menos até 1982, ano da primeira revisão em que este
carácter é claramente corrigido.

Questão 5
Não foi por acaso que o MFA iniciou o comunicado em que explica o seu acto revolucionário com uma referência
aos 13 anos de duração da guerra no Ultramar, concretamente à recusa do Governo, então de Marcello Caetano, a
“definir concreta e objectivamente” uma política que conduzisse “à Paz entre todos os Portugueses de todas as raças
e credos”.
Entendemos então porque é que foi do próprio seio da hierarquia militar que surgiu o movimento que veio pôr fim à
ditadura e abrir o caminho para a restauração da democracia em Portugal.
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Com efeito, perante o impasse em que se encontrava a questão ultramarina e face à intensificação das pressões
internacionais na condenação da política do regime e na reclamação de independência para as colónias, tudo apontava
para a iminência de uma derrota vergonhosa, de que o reconhecimento da autoproclamada independência da Guiné
pela ONU, em 1973, era já uma manifestação. Não admira, por conseguinte, que tenha sido exactamente de um antigo
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governador e comandante-chefe das forças armadas na Guiné, António de Spínola, que saiu a mais consequente
denúncia da falência da solução militar com a publicação, em inícios de 1974, da obra Portugal e o Futuro.
As teses de Spínola foram acolhidas por um movimento de militares, na sua maioria capitães, organizado clandesti-
namente, que, depois de ver resolvida a seu favor uma questão de carácter corporativo, ganha consciência da sua
força e propõe-se encontrar uma solução política para o problema do Ultramar.
Face à obstinação do regime, este movimento já formalmente denominado Movimento dos Capitães ganha mais
força com a adesão de Spínola e de Costa Gomes, destacados dirigentes militares, entretanto exonerados por motivo
das suas já iniludíveis posições políticas, e com a adesão das principais unidades militares do país. Mais forte e mais
bem organizado, o primitivo Movimento dos Capitães assume-se como um Movimento das Forças Armadas cada vez
mais convicto de que o problema do Ultramar tinha de passar pelo derrube da ditadura.
É este movimento militar, sob direcção estratégica do major Otelo Saraiva de Carvalho, que, na madrugada de
25 de Abril de 1974, leva a cabo com êxito a operação “Fim Regime” em consequência da qual e depois de vencida a
ténue resistência de algumas forças que não aderiram ao golpe era anunciado ao país o fim do longo tempo da dita-
dura. Entretanto, já o golpe militar era aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da guerra e da ditadura
que a sustentava, que oferecia cravos aos revoltosos, transformando os acontecimentos de Lisboa numa explosão
social por todo o país, uma autêntica revolução nacional que ficou conhecida como a “Revolução dos Cravos”.
O MFA, segundo o seu comunicado, propunha-se também devolver a todos os cidadãos as “liberdades cívicas” de
que tinham sido privados, o que implicava a restauração da democracia pelo desmantelamento das estruturas de
suporte do Estado Novo, reorganização política do Estado e posterior devolução do poder às forças políticas da oposi-
ção entretanto legitimadas ou constituídas já no contexto da revolução.
Porém, os tempos que se seguiram não foram fáceis para as novas instituições democráticas. Passados os primei-
ros momentos de entusiasmo na aclamação da liberdade conseguida, cedo vieram ao de cima profundas divergências
ideológicas que conduziram a graves confrontações sociais e políticas. Estas divergências tornaram-se evidentes no
próprio seio do MFA, onde se foi afirmando uma tendência mais progressista institucionalizada pela aliança Povo/MFA,
noticiada na edição do Diário de Notícias de 14 de Março (documento 3), a coberto da qual as Forças Armadas mobili-
zavam a população para a defesa e dinamização da revolução. Esta dinamização da revolução traduzia-se no apoio à
actividade de organizações com forte poder reivindicativo, que se afirmavam como verdadeiros órgãos de poder popu-
lar na imposição da resolução dos seus problemas de classe, e na defesa da revolução dos ataques das forças reac-
cionárias, que é referida no cartaz do Partido Comunista Português (documento 2).
Vivem-se tempos em que estudantes e trabalhadores impõem processos sumários de saneamento de docentes e
de empresários ou gestores identificados com o antigo regime, de ocupação de instalações laborais, fábricas e cam-
pos agrícolas, e residências devolutas e outros excessos revolucionários.
Não admira, portanto, que se fossem agravando as dissidências entre o Movimento das Forças Armadas e o presi-
dente da República, general Spínola, sobre os rumos a empreender na evolução política do país. Spínola congregava
as simpatias das forças moderadas e o MFA cada vez mais se identificava com o esquerdismo revolucionário, que se
ia afirmando no exercício do poder.
Foi nesta conjuntura política que ocorreram os primeiros confrontos. O primeiro ainda em 1974, em 28 de Setem-
bro, quando o MFA proíbe uma manifestação de apoio ao presidente da República e as organizações progressistas se
organizam e impedem o acesso dos manifestantes a Lisboa. Fragilizado, Spínola demitiu-se e confirmava-se a identifi-
cação da aliança Povo/MFA com a aliança Partido Comunista/MFA, tão clara era a coincidência dos objectivos e das
práticas. Em 11 de Março de 1975, os militares afectos a Spínola e sob sua tutela política, correspondendo aos
anseios de importantes sectores da vida pública preocupados com os rumos da revolução, tentam uma acção militar
no sentido de suster o ímpeto revolucionário das forças de esquerda. O golpe foi facilmente dominado pelo MFA e as
forças de esquerda saíram reforçadas com a imediata criação do Conselho da Revolução que passou a tutelar a acção
dos órgãos de soberania, em particular do presidente da República. Procede-se a uma remodelação do Governo em
consequência da qual os elementos mais moderados são afastados. O Partido Socialista, vencedor das eleições para
a Assembleia Constituinte, em Abril seguinte, reclama uma maior intervenção na actividade governativa, mas a prepon-
derância política continua a ser detida pelo Partido Comunista com o apoio do sector mais radical do MFA e do Con-
selho da Revolução, que se constituem como verdadeiros detentores do poder, provocando o abandono do poder
pelos socialistas.
Seguem-se os tempos do chamado Verão Quente de 1975 em que se assistiu à intervenção do Estado na elimina-
ção dos privilégios monopolistas do débil sector capitalista português. São os tempos do PREC (Processo Revolucio-
nário em Curso), uma expressão usada para designar a vaga de actividades revolucionárias levadas a cabo pelas for-
ças progressistas com vista ao reforço da transição para o socialismo. Entre elas, salientamos a apropriação pelo
Estado dos sectores-chave da economia nacional em consequência do desmantelamento dos mais poderosos grupos
Proposta de prova-modelo 2

económicos ligados aos sectores da indústria química, transportes e comunicações, cimentos, celuloses, siderurgia,
seguros e banca. Como podemos verificar no documento 3, a banca foi nacionalizada imediatamente, logo na primeira
reunião do Conselho da Revolução, confirmando o ímpeto revolucionário do novo poder político. O Estado intervém
também na administração de pequenas e médias empresas, afastando os antigos administradores, acusados de difi-
cultarem o desenvolvimento do país, e substituindo-os por comissões administrativas de confiança do Governo. Foi o
tempo dos saneamentos selvagens e da fuga de importantes quadros para o Brasil. No Ribatejo e no Alentejo, ocorre
a expropriação institucional das grandes herdades onde a exploração passa a ser feita por Unidades Colectivas de
Produção, na sua maioria controladas pelo Partido Comunista. Paralelamente, os trabalhadores vêem a sua situação
social e económica beneficiada. São os tempos das grandes conquistas dos trabalhadores, entre elas, o direito à
greve e à liberdade sindical, a instituição do salário mínimo, o controlo dos preços de bens de primeira necessidade, a
redução do horário de trabalho, a melhoria das pensões e das reformas, a generalização de subsídios sociais e a pro-
moção das garantias de trabalho pela criação de dificuldades aos despedimentos.
Este fervor revolucionário preocupava os sectores moderados do país que não viam com bons olhos a cada vez
mais clara aproximação de Portugal às democracias populares da Europa de Leste. Afirma-o claramente um grupo de
oficiais que, em Agosto, publica a sua oposição na comunicação social, alertando para a necessidade de inverter o
ímpeto revolucionário fazendo regressar a revolução aos princípios pluralistas de Abril de 1974. Foi o chamado “Docu-
mento dos Nove”, de que o documento 4 constitui um excerto.
Em consequência, as tensões sociais e políticas recrudesceram com a formação de um novo governo de cariz mais
moderado e com a nomeação de Vasco Lourenço, um dos “nove” para comando da Região Militar de Lisboa. Seguiram-
-se tempos de insubordinações e sublevações militares que faziam prever a eclosão de um conflito militar generalizado. É
então que, em 25 de Novembro, argumentando que se estava a preparar uma tentativa de golpe animado pela esquerda
militar e pelo Partido Comunista, um grupo de militares moderados, liderados por Ramalho Eanes, responde com um
contragolpe que obteve sucesso e pôs fim à fase extremista do processo revolucionário. É neste quadro político que o
Governo se vê obrigado a decretar o estado de sítio na região de Lisboa, com todas as implicações políticas.
Este regresso ao pluralismo democrático foi consolidado com a promulgação da Constituição, em 2 de Abril de
1976. Apesar de ter sido elaborada nos “quentes” tempos do PREC e de não esconder, por isso, um forte carácter
socializante, como evidenciámos na resposta à questão anterior, a Constituição consagra, sem qualquer reserva, o
Estado português como uma república democrática e pluralista, ao garantir as liberdades individuais e a alternância
política através da realização de eleições livres e universais que possibilitariam aos cidadãos a escolha dos seus repre-
sentantes para as várias instituições de poder.
A confirmar estes princípios, realizaram-se, ainda em 1976, eleições para todos os órgãos de poder central e local
em consequência das quais terminou o carácter provisório das instituições: em 25 de Abril, realizou-se a primeira elei-
ção para a Assembleia da República, em consequência da qual se formou o I Governo constitucional, chefiado por
Mário Soares do Partido Socialista; em Julho seguinte, decorreu a eleição para Presidente da República, tendo sido
eleito Ramalho Eanes, o grande triunfador do 25 de Novembro; por fim, em Dezembro, ocorreram as eleições para as
primeiras autarquias locais, as câmaras municipais e as juntas de freguesia.
Deste modo, a Constituição de 1976, ao legitimar constitucionalmente a nova orgânica do Estado e ao conseguir
conciliar as diferentes concepções ideológicas subjacentes ao processo revolucionário, pode ser considerada o docu-
mento fundador da democracia portuguesa. É, com efeito, pelos princípios nela definidos que se vão pautar os novos
tempos e os novos rumos da actividade política em Portugal.

GRUPO II
Questão 1
A identificação da soberania nacional com um território definido por fronteiras estáveis constitui o princípio definidor
da ideia de Estado-Nação.
Todavia, os desenvolvimentos da nova ordem internacional, concretamente o fenómeno da globalização das princi-
pais actividades económicas e culturais, a que se junta a necessidade de os Estados se organizarem na resolução de
problemas de carácter transnacional, parece vir a condenar o Estado-Nação ao seu desaparecimento. Em seu lugar,
surge um mundo onde as fronteiras são cada vez mais ténues, falando mesmo os defensores da globalização num
mundo sem fronteiras.
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A União Europeia parece constituir um desses mundos onde as fronteiras dos velhos estados europeus pratica-
mente desapareceram, havendo já quem defenda a solidez de uma fronteira a definir a união política dos estados
da Europa. Seria, para algumas posições nacionalistas dos opositores a esta tese, o fim dos velhos estados-nação
europeus.
Propostas de provas-modelo

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Ora, o primeiro-ministro grego considera no seu discurso que a União Europeia não contradiz a ideia de Estado-
-Nação. Argumenta que, do mesmo modo que a emergência dos estados-nação na Europa, nos dois últimos séculos,
foi uma “resposta à necessidade de uma adaptação eficaz às novas realidades”, também agora os novos “problemas
sociais e económicos”, os novos valores e os novos princípios por que se rege a comunidade europeia e as preocupa-
ções com a “protecção contra perigos comuns” já não se compadecem com individualismos ineficazes, mas exigem
“uma autoridade central poderosa, uma comunidade nacional relativamente coesa e fronteiras bem definidas”. Ao fim e
ao cabo, o orador considera um conceito de Estado-Nação alargado a uma comunidade cuja unificação se vem
desenvolvendo desde meados do século XX, como diz, “um desenvolvimento em termos de escala que se baseia em
mecanismos novos e mais eficazes que estão em sintonia com os requisitos dos dias de hoje”.

Questão 2
São dois os requisitos que, segundo o primeiro-ministro grego, determinam a afirmação da União Europeia como
um Estado-Nação alargado.
O primeiro tem que ver com a impossibilidade de, a nível individual, os países europeus poderem “manter e expan-
dir” os seus valores e os seus princípios “como a democracia, o Estado de Direito, o respeito pelos valores humanos, a
singularidade da personalidade e da iniciativa humanas” e, simultaneamente, assegurar “o respeito pela comunidade e
pelos seus interesses” num mundo cada vez mais competitivo. Ou seja, só enquanto comunidade social unida nos
mesmos objectivos e nos mesmos esforços para os alcançar a Europa pode sobreviver face aos novos valores do
mundo contemporâneo.
O segundo requisito tem que ver com a necessidade de “fazer face aos desafios da globalização”. Ou seja, só atra-
vés de uma integração cada vez mais aprofundada e da adopção de políticas conjuntas em detrimento de “decisões
adoptadas a nível nacional ou de formas rudimentares de harmonização política” é que a Europa pode afirmar-se com-
petitiva perante os grandes estados “com enorme potencial para consolidar populações heterogéneas, ou de grupos
de estados emergentes”, num mundo onde as fronteiras tendem a diluir-se.

Questão 3
São muitas as contrariedades que dificultam a concretização dos requisitos definidos pelo primeiro-ministro grego
e, por conseguinte, condicionam o avanço da integração europeia.
A nível político, são notórias as resistências das populações à perda da sua soberania, sobretudo por parte dos
países mais desenvolvidos e mais orgulhosos do seu passado. Entre eles destaca-se o Reino Unido que nunca se
identificou de forma convicta com o projecto europeu, ao ponto de não aderir à moeda única, tal como a Suécia e a
Dinamarca. Todavia, os “eurocépticos” multiplicam-se por toda a Europa, sobretudo após a aprovação do Tratado da
União Europeia, considerado o avanço que este acordo deu à união política e diplomática dos estados integrantes.
A integração de novos povos com culturas e passados políticos claramente diferenciados da tradição cultural e
política ocidental também não tem favorecido os sentimentos de abertura à constituição de uma Europa unida e muito
menos federal. Acresce que muitos dos novos países apresentam níveis de desenvolvimento económico muito inferio-
res aos dos estados integrantes, o que exige aos antigos membros custos financeiros muitos elevados no sentido de
promover o desenvolvimento dos novos estados-membros.
As dificuldades económicas sentidas pelos Europeus nos inícios do novo milénio de que resulta a incapacidade de
a União Europeia resolver com eficácia o problema do desemprego também não têm contribuído para a sólida implan-
tação de um sentimento europeísta. Demonstram-no os elevados índices de abstenção registados nas eleições para o
Parlamento Europeu, a resistência à adopção de uma política externa comum de que as divisões sobre a intervenção
militar no Iraque, em 2003, dão provas e a controvérsia suscitada pelo projecto de Constituição Europeia e respectivas
medidas tendentes à consolidação da união política. Efectivamente, quando a ratificação depende da consulta popular
através do referendo, as incertezas sobre o seu êxito são muitas.

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