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CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
MÉDIA PARA APROVAÇÃO – 70 PONTOS dos 100 possíveis. Também é necessária, para
aprovação final, a participação em, ao menos, 2 dos 3 fóruns e o cumprimento de das
avaliações propostas.
Certificação Eletrônica: Decorridos 10 dias após a data de conclusão do curso, entre com seu nome de
usuário e senha e clique no ícone Emitir certificado. Você terá a opção de imprimir o CERTIFICADO e
uma DECLARAÇÃO com o conteúdo programático. Poderá também salvar o arquivo, para posterior
impressão. Caso deseje uma impressão especial, bastará utilizar papel com gramatura ou
textura diferenciada.
O ILB não fornece autenticação digital ou quaisquer outras comprovações além do certificado e
da declaração emitidos eletronicamente e impressos pelo próprio aluno.
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aprendizagem
Avaliação Final do
Avaliação Final de
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Conclusões
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Autoavaliação
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Não perca!
Suporte técnico
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(Identifique a mensagem, informando seu nome completo e o curso
em que está inscrito.)
Horários de atendimento ao aluno virtual: 10h às 12h e 15h às 17h (dias úteis)
Nesta Unidade, são tratados alguns dilemas e perspectivas relacionadas à questão das Relações
Internacionais. Serão abordados os temas:
Objetivos da Unidade:
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As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das relações entre os
povos, de uma maneira como nunca experimentada anteriormente. Cada vez mais, as
distâncias estão menores, tempo e espaço perdem o significado que tinham para nossos pais e
avós, e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância
entre dois pontos é uma tecla”.
O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, globalizado,
interligado física e eletronicamente; pode-se tomar café em Londres e almoçar em Washington;
as fronteiras perdem sua importância; o sistema internacional vê-se cada vez mais integrado; a
tecnologia alcança milhões de pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último
século do segundo milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável!
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O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
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conceituações do fenômeno, o qual não é recente, mas se acelerou a partir da segunda metade
do século XX.
Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a idéia crescente do “mundo sem
fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Poucos
lugares do mundo estão a mais de dez dias de viagem, e a comunicação através das fronteiras
é praticamente instantânea.
Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida, “Contra a
Anti-Globalização”.
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DILEMAS DA GLOBALIZAÇÃO
Entretanto, a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. Nesse sentido,
há a criminalidade que ultrapassa as fronteiras dos Estados, com organizações criminosas
exercendo suas atividades ilícitas de maneira organizada e internacional. Crimes como o
narcotráfico, o tráfico de armas, o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há
muito não são problemas exclusivos de um ou outro país, mas são questões globais que devem
ser encaradas globalmente. E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro, que
movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto Interno Bruto
(PIB) mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim, ao lado das grandes conquistas, há novos e grandes desafios: parte significativa da
população mundial ainda permanece no século XIX. Nações ricas e prósperas convivem com
Estados que comportam milhões de miseráveis. Alguns locais do globo ainda não saíram da
Idade Média! Novas e antigas doenças afligem milhões. Cite-se, ainda, a parte significativa da
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raça humana que sofre com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional presencia
crises econômicas, políticas, culturais e sociais. E o destino da humanidade permanece uma
grande incógnita.
Outro importante tema de relações internacionais nesse mundo Convém registrar que para
globalizado envolve os problemas ambientais. Cada vez mais a Relações Internacionais
humanidade toma consciência de que as questões ambientais como disciplina acadêmica
não podem ser tratadas como assuntos internos dos Estados e ou área do conhecimento
que os danos ambientais ultrapassam as fronteiras. A terra é empregaremos iniciais
maiúsculas enquanto que
um corpo único e seus recursos ambientais são patrimônio de
quando nos referirmos ao
todos os seres humanos e das futuras gerações. Daí que os
objeto de estudo usaremos o
males causados ao meio ambiente afetam toda a humanidade.
termo em minúsculo.
No último quartel do século XX, a proteção ao meio ambiente passou a ser uma das grandes
preocupações da comunidade internacional, não só na área governamental, mas também entre
todos os habitantes da terra. A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar
influência, e multiplicaram-se nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos
ambientais, tanto assim que se calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados
sobre meio ambiente.
Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga, sobretudo quando notícias de
violações a esses direitos nos chegam de todas as partes do planeta. No moderno sistema
internacional, agressões contra uma pessoa devem ser consideradas crimes contra toda a raça
humana. O intenso trabalho das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no
continente americano – da qual foi presidente o brasileiro Antônio Augusto Cançado Trindade –
refletem essa nova realidade.
Ademais, à medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem também os conflitos, outro
componente marcante da agenda internacional desde sempre. E no extremo dos conflitos,
temos a guerra, sob suas diferentes formas. Nesse sentido, o século XX foi marcado por uma
grande quantidade de guerras pelo globo, inclusive com dois conflitos que envolveram
praticamente toda a sociedade internacional.
De fato, uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda presenciaremos o fenômeno
da guerra. Entretanto, alguns cogitam mesmo que a guerra no século XXI não será mais entre
países, mas entre civilizações (HUNTINGTON, 1998).
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Eis, portanto, o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas, grandes desafios! E é
nesse contexto que se percebe a necessidade de conhecimento das relações internacionais.
Atualmente, quem não estiver informado sobre o que ocorre no mundo poderá ver-se bastante
limitado, pessoal e profissionalmente.
Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves, por ocasião
do curso presencial ministrado no ILB, no primeiro semestre de 2008. Aumente o
som de seu equipamento e bons estudos!
Duração: 5min24
Caso não consiga visualizar:
1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado;
2) pode precisar atualizar o Flash Player (
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A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o tema
é tratado na Constituição Federal. A Carta Magna, já em seu Título I, referente aos “Princípios
Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os princípios que regem as relações internacionais do
Brasil:
• Independência nacional;
• Prevalência dos Direitos Humanos;
• Autodeterminação dos povos;
• Não-intervenção;
• Igualdade entre os Estados;
• Defesa da paz;
• Solução pacífica dos conflitos;
• Repúdio ao terrorismo e ao racismo;
• Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
• Concessão de asilo político.
Ainda no que concerne à Lei Maior, também os direitos e garantias fundamentais estão
intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade das nações ao longo de
sua história. Foi graças às Revoluções em países como a Inglaterra, a França, os EUA e a
Rússia, e à difusão desses princípios para além de suas fronteiras, que o mundo moldou uma
cultura de direitos fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. E a violação a
esses direitos gera repulsa da comunidade internacional.
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Vereshchetin (1996), por exemplo, vê no que chama de “fator direitos humanos” um dos
principais meios de retomada de uma cultura mínima de proteção internacional no pós-Guerra.
O relacionamento entre Estado e indivíduo, que tradicionalmente foi objeto de preocupação de
leis internas, não mais pode ser considerada uma questão puramente doméstica dos países.
A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a incorporação das
normas internacionais ao sistema jurídico interno e a prevalência dos acordos internacionais dos
quais a Federação Russa faça parte no caso de estes estabelecerem regras que difiram
daquelas estipuladas em lei interna. Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em
vários países. Quando não há dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado
o rumo da interpretação.
Há, portanto, sinais de uma crescente interdependência até mesmo no campo jurídico no
mundo, e o Tribunal Penal Internacional nada mais é do que uma expressão e conseqüência
disso.
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E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuições mais específicas, pois é a Casa Legislativa que
avalia e aprova nossos embaixadores, autoridades máximas das missões diplomáticas
brasileiras, designados para representar o País no Exterior. Compete também ao Senado
autorizar as operações externas de natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
Cada Casa Legislativa possui Comissões encarregadas dos temas de relações exteriores e
defesa nacional. No Senado Federal, por exemplo, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa
Nacional (CRE), composta por 19 membros titulares e 19 suplentes, é competente para tratar
das questões que envolvam as relações internacionais do País.
A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das relações
internacionais do País. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na comunidade das nações e
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ocupar o seu devido papel de destaque, mais importante se faz o conhecimento, na esfera do
Legislativo, dos principais temas de relações internacionais.
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O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os atentados
terroristas de 11 de setembro de 2001. Ao assistirmos àqueles dramáticos acontecimentos em
tempo real, alguns véus foram retirados, e aos poucos tomamos consciência de que as
distâncias físicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais
aumentavam. O terrorismo passa também a ser uma questão global, que afeta países nos
hemisférios Norte e Sul, no Ocidente e no Oriente.
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Até o início do século XX, as relações internacionais não eram estudadas como disciplina
independente. O estudo do tema estava sempre sob o manto de outras ciências, como o
Direito, a Economia, a Sociologia e a Ciência Política.
Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX, nas principais
universidades européias e norte-americanas. Foram constituídos com o objetivo de produzir
conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os Estados. Naquele
contexto, as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao
grande trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem precedentes até então,
que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas, sobretudo no território
europeu. Assim, os temas centrais eram:
Claro que, com o decorrer do século XX, o estudo de Relações Internacionais diversificava-se à
medida que os laços entre os povos tornavam-se mais complexos e novos temas, como
cooperação, desenvolvimento, integração, paz, direitos humanos e globalização, vinham à baila.
Atualmente, a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui à
medida que evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, atualmente há cursos de
Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e profissionais da área atuando
nos mais variados segmentos dos setores público e privado.
Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso, realize as atividades
propostas e, em seguida, passemos às teorias e aos principais conceitos utilizados pelos
profissionais e estudiosos das Relações Internacionais.
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Atividades de autoavaliação -
Para efeito de fixação dos conceitos estudados na Unidade, clique no menu lateral em
"Avaliação" e escolha a que se refere a esta Unidade(U1) e Módulo(M1): Rel I -
Autoavaliação M1U1 e realize a atividade. Lembrando que essas questões serão
corrigidas automaticamente pelo sistema e que permitem que o aluno refaça caso escolha a
opção inadequada.
Avaliação da Unidade -
Para auxiliá-lo a entender e refletir melhor sobre o conteúdo apresentado, responda a
questão proposta. O exercício será corrigido e poderá ser comentado pelo Tutor. Caso
seja necessário, o Professor-Tutor pode solicitar que você reformule a questão, caso
em que ele fará uma observação no seu campo de resposta, orientando-o nesse sentido. Nesse
caso, a atividade aparecerá em cinza no Painel de desempenho. Acompanhe atentamente!
Para acessar a atividade, localize o menu "Avaliação", clique na opção: Trabalhos/Redações -
Avaliação da Unidade 1 Módulo I e trabalhe com afinco.
A Unidade 2 tem como foco os conceitos básicos para a análise e compreensão do campo das
Relações Internacionais.
Objetivos da Unidade :
• Sociedade Internacional;
• Atores;
• Forças Profundas;
• Sistema Internacional;
• Potência;
• Hegemonia.
Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos, que devem servir de guias para
o estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. Tenha um bom
aproveitamento!
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CONCEITOS FUNDAMENTAIS
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• Sociedade Internacional;
• Atores;
• Forças Profundas;
• Sistema Internacional;
• Potência;
• Hegemonia.
Antes de iniciar o estudo desta Unidade, sugerimos que assista atentamente aos dois
vídeos seguintes do Conexão Mundo, “Conceitos Fundamentais de Relações
Internacionais V2”, disponível no sítio do ILB
.
Sociedade Internacional
Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de Relações
Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade Internacional.
Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos Estados nacionais,
que só se deu, nos moldes como os concebemos hoje (compostos de povo, território e
soberania), há dois séculos. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a esse respeito,
não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antigüidade.
Afinal, a partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e diferenciados,
exercendo relações políticas, culturais ou comerciais entre si, tem-se uma Sociedade
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Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução diretamente
relacionada à evolução dos grupos, povos, reinos, Estados, Impérios e nações, enfim, de todos
os Atores que a compõem ou a compuseram e das forças que influenciam a sua atuação.
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A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos teóricos das Relações
Internacionais, que podem ser reunidos em três grandes grupos (CERVERA, 1991). Para os
teóricos do primeiro grupo, é simplesmente impossível definir Sociedade Internacional. Limitam
-se, assim, ao estudo dos componentes da Sociedade Internacional e à evolução das relações
entre eles. Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional em
contraposição a outros grupos sociais. Por essa ótica, a pergunta que se busca responder é
“Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante, portanto, para esses autores, a formulação
de um conceito teórico para Sociedade Internacional. De qualquer maneira, eles não deixam de
apresentar sua definição de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas
explicações, como veremos adiante.
O terceiro grupo, majoritário, afirma não só ser possível, mas também necessário, proceder à
definição do termo “Sociedade Internacional”, para que se possa tratar com mais propriedade o
estudo dos fenômenos internacionais e das relações que se desenvolvem em seu meio. Uma
vez que concordamos com essa percepção, apresentaremos nosso conceito de Sociedade
Internacional. Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados.
Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres humanos que
vivem sobre a terra”. Percebemos uma definição genérica e abrangente, que põe
completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estão agrupados, como as
nações ou os Estados nacionais. Para o autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde-
se com o de “humanidade”. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a
Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo, independentemente de suas
origens e do grupo ou povo a que pertence.
Hedley Bull (2002), com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade Internacional
como um “grupo de comunidades políticas independentes que não formam um sistema
simples”. Definição mais precisa e completa de Sociedade Internacional é de Juan Carlos
Pereira (2001): “um âmbito espacial e global em que se desenvolve um amplo conjunto de
relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou geograficamente organizados
e com poder de decisão.” O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para
uma Comunidade Internacional.
Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela sociedade
global (macrossociedade) que compreende os grupos com um poder social autônomo, entre os
quais se destacam os Estados, que mantêm entre si relações recíprocas, intensas, duradouras e
desiguais sobre as quais é assentada certa ordem comum”.
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Por fim, cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade Internacional, que é baseada
na corrente historiográfica, pela qual buscamos reunir elementos que consideramos essenciais
para a compreensão do termo e de sua evolução desde a Antigüidade:
A nosso ver, Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que
interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de
forças profundas.
Ator Internacional
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Não são todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser identificados como Ator
Internacional. Para nossa classificação, é necessário que a atuação desses entes tenha
destaque internacionalmente. Uma associação, por exemplo, estabelecida dentro de
determinado país e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao âmbito interno
daquele país não é um Ator internacional.
Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator internacional.
Grandes empresas transnacionais de hoje foram, no passado, pequenas organizações
comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam exclusivamente no interior de seu país
de origem, não sendo à época Atores internacionais. À medida que essas empresas cresceram,
expandiram-se para além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e
influir na Sociedade Internacional, tornaram-se Atores internacionais.
Ainda sobre os Atores e seus dados estatísticos, sugere-se a publicação The World Factbook,
produzida anualmente pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), com dados
atualizados sobre as nações do mundo.
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Sistema Internacional
Raymond Aron, em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações, recorreu
ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações internacionais.
Assim, a Sociedade Internacional tem características suficientemente
estáveis para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores
conduzem suas relações dentro de certos padrões.
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Forças Profundas
Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” (PEREIRA,
2001, p. 44). Identifica alguns desses fatores: fator geográfico, fator demográfico, fator
econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de valores, fator político-jurídico e fator
militar-estratégico.
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Além dos conceitos já tratados, caberiam, em nosso curso introdutório, algumas observações
– ainda que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar
nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas unidades. Passemos a eles.
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Potência
O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de Atores. Nesse contexto, o Estado
ocupa papel de destaque. Mas existem diferenças marcantes entre os Estados na esfera
internacional e o grau de influência (poder) que eles exercem. Assim, importante para a
compreensão das relações internacionais é a idéia de Potência e das diferentes gradações
dessa classificação.
Há inúmeras definições para Potência. Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado
moderno e soberano em seu aspecto externo, e quase pode ser definido como a lealdade
máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar”. Rafael Calduch Cervera (1991), por
sua vez, cita o conceito de Potência Internacional segundo C. M. Smouts, ou seja, como
aquele Estado “mais ou menos poderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do
jogo em um ou mais âmbitos-chaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de
relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”.
• assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de
Varsóvia);
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Atualmente, com o colapso da URSS, restou, no planeta, apenas uma Superpotência: os EUA.
Alguns autores vislumbram a possibilidade da China vir a ocupar, na segunda metade do
século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, ainda não há que se falar na China como
Superpotência, uma vez que esta, além de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer
frente ao poderio de Estados como EUA e Rússia, não tem pretensões – nem condições – de
projetar um modelo sócio-político-cultural-ideológico seu para o mundo. A Rússia, por sua vez,
apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do planeta, não
pode ser chamada de Superpotência, exatamente porque também não tem condições de
aspirar a qualquer pretensão hegemônica no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim,
os EUA, considerados os vencedores da Guerra Fria, são hoje o único Estado com as
características básicas da superpotência e, de fato, essa nação tem-se tornado tão poderosa
que já se cunha o conceito de Hiperpotência, algo sem precedentes na História.
A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. Esse
aparato não se resume ao potencial das armas de destruição em massa, mas inclui
armamento convencional significativo, e capacidade de operação militar em mais de um teatro
no globo. Ademais, trata-se de uma Economia de peso diante do sistema, sua influência na
política internacional é marcante e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio-cultural e
político para outras regiões do planeta.
Assim, os EUA não encontram, no início do século XXI, adversários militares à altura, e são a
Grande Potência econômica e a liderança mundial. Do ponto de vista econômico, por exemplo,
apenas a coalizão das grandes economias européias pode fazer frente aos EUA, o mesmo se
podendo dizer das economias asiáticas. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo
não encontra precedentes, e alguns analistas já começam analisar a política externa
estadunidense como uma política de império. De qualquer maneira, o conceito de
Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento.
O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a idéia de
hegemon, ou seja, uma potência tão poderosa que seria necessária uma coalizão de todas as
demais nações para contê-la. A concepção de hegemon ultrapassa a esfera exclusivamente
político-militar, de modo que o Estado que detém esse título influencia a Sociedade
Internacional em esferas diversas, como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até
o Direito. Além disso, essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira
impositiva. De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um misto de coerção e
consenso. Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade
Internacional mesmo após perder esse status.
Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros meios – o
que alguns autores chamam de soft power (poder suave) –, como a presença marcante na
compilação e divulgação de notícias e diversões, na produção de bens de consumo, nas
inúmeras formas de cultura popular e sua identificação com a liberdade política e de mercado,
do que propriamente por meio do hard power (poder militar).
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exemplo. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande
Potência, e até, a Potência Dominante. Os EUA são um bom exemplo disso.
pág. 09
Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de influenciar de
maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional em prol de seus interesses
particulares, um Estado pode ser classificado como Microestado, Potência Local, Potência
Média, Grande Potência ou Superpotência.
Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos dias e que, em
sua maioria, tiveram origem na formação histórica dos Estados nacionais europeus ou no
processo de descolonização. Encontram-se constantemente sob amplo grau de dependência
frente a uma Potência e integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações
internacionais. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado de Mônaco e a
República de San Marino, diversos Estados-arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas
da América Central e Caribe. Apesar de minimamente influentes na Sociedade Internacional,
esses entes ganham força quando se associam e se fazem representar em organismos
internacionais onde tenham poder de voto igual ao de outros Estados.
As Potências Locais são as mais numerosas. Participantes das atividades comuns da vida
internacional, esses entes têm como objetivos principais sua própria sobrevivência e a defesa
de sua soberania territorial. De maneira geral, não têm grandes pretensões internacionais de
projeção de poder e acabam também associados às Grandes Potências ou a Potências
Regionais. Como exemplos para essa categoria, teríamos países como Bolívia, Paraguai,
Camboja, Albânia e Moçambique.
São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a
representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas. Egito, Síria, Nigéria,
Brasil, Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais ou Médias. Esses países exercem
influência em virtude de suas aptidões de liderança sob certos limites geográficos, fundadas
em seus potenciais materiais ou demográficos, suas envergaduras ideológicas ou seu peso
militar, econômico e até social.
Gounelle, no entanto, diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao afirmar que estas
últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias capacidades. Tais pretensões
poderiam ser limitadas a domínios específicos (nuclear, cultural, econômico, diplomático). A
França, a Alemanha, a China e o Japão estariam nessa categoria. De fato, o que Gounelle
relaciona como Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de
Grandes Potências, ou seja, Potências com interesses globais e capacidade de influenciar a
Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar Potências como China e Grã-
Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz comparando-as às Superpotências – à época,
URSS e EUA.
pág. 10
Hegemonia
Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra
International Relations: : the Key Concepts, de Martin Griffiths e
Terry O’Callaghan (London: Routledge, 2002).
Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis, presume-se que haja
uma certa ordem na Sociedade Internacional. Daí que, apesar de ser o Estado mais poderoso
no cenário internacional, o hegemon só pode exercer sua liderança (hegemonia) se houver
relações de poder entre entes em um meio internacional.
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Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de
consenso e coerção. Uma relação que se baseie apenas na coerção – por meio de recursos de
força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente hegemônica, da mesma maneira
que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos
demais Atores.
As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa, por parte das Potências, da
hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, além de política, pode ser militar,
econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou global. Um Estado que seja a Potência
hegemônica em uma dessas áreas muito provavelmente o será na maioria das outras. É claro
que tal liderança pode ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em
nossos dias pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário
internacional.
A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon, cujo interesse é manter o
status quo do sistema, diante de outras Potências que não pouparão esforços para se tornar o
hegemon. De acordo com a teoria da estabilidade hegemônica, o hegemon tem que ter
capacidade de garantir a ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes
da comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, o hegemon deveria dispor de
alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e poder político baseado no
poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter consenso sobre
sua liderança.
Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existência de uma hegemonia, que
tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais, como lei,
ordem e moeda estável. Conforme didática explicação de Griffiths (2004, p. 26-27):
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Deve ser esclarecido, todavia, que, durante a maior parte da Guerra Fria, imaginava-se
que a União Soviética se tornaria uma grande potência econômica. Isso é
especialmente válido para os anos 30: enquanto as economias ocidentais agonizavam
por causa da crise de 1929, a economia soviética crescia a taxas espantosamente
altas.
pág. 12
Duração: 2min55
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http://get.adobe.com/br/flashplayer/)
e fundamentais para a compreensão das unidades seguintes e para a discussão dos temas
tratados neste curso.
Atividade de autoavaliação -
Para efeito de fixação dos conceitos estudados na Unidade, clique no menu lateral
em "Avaliações" e escolha a que se refere a esta Unidade(U2) e Módulo(M1): Rel I -
Autoavaliação M1U2 e realize a atividade. Essas questões serão corrigidas
automaticamente pelo sistema.
Objetivos da Unidade:
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pág. 01
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende
conhecer mediante a formação de teorias e a utilização de um método científico (CERVERA,
1991). A teorização sobre as Relações Internacionais surgiu quando se buscou explicar a
existência e as condutas dos entes internacionais. É na Grécia Antiga, com a obra de Tucídides,
História da Guerra do Peloponeso, que se tem a primeira manifestação embrionária de uma
teoria de Relações Internacionais.
Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais, conforme Karl Popper, certamente têm
em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem. Nas palavras de Tomassini (1989,
p. 55):
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ordem. Assim, pressupondo o Estado como um Ator racional, a teoria defende que o balanço ou
o equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a tendência do sistema internacional. A
Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos compreendidos entre a Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as
condutas dos Estados e ações de governantes em um contexto anárquico e conflituoso, como
será visto nas Unidades 2 e 3 do Módulo seguinte.
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado
para prevenir predominância, hegemonia) e como um padrão da política internacional (em que
a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e, como resultado,
há um equilíbrio geral).
Foi, portanto, na primeira metade do século XX, que os primeiros teóricos de Relações
Internacionais começaram a desenvolver suas explicações sobre o tema em um contexto de
disciplina autônoma. Claro que, em virtude de um objeto de estudo tão complexo, diversas
foram as correntes teóricas instituídas nas últimas décadas. Como não é este um curso de
teoria, pretendemos apresentar apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas.
pág. 02
A fase idealista
como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional, ou melhor, como evitar o conflito,
sobretudo bélico, entre os Estados?
No que concerne ao contexto internacional, lembra Arenal (1984), o clima nunca poderia ter
sido mais favorável ao Idealismo. A Grande Guerra havia demonstrado a fragilidade da
tradicional diplomacia européia como meio para assegurar a ordem e a paz internacional. As
enormes perdas humanas e materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis, também,
pelo advento de uma opinião comum universal segundo a qual a guerra deveria ser erradicada
como instrumento de política dos Estados. Pregava-se, ademais, o estabelecimento de um
modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas contendas.
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pág. 03
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Grócio, como se observa, apresenta uma hipótese inversa à do equilíbrio de poder. Para ele,
existe um fundamento comum de normas morais e jurídicas, e o mundo é uma sociedade
composta de Estados onde reina um consenso normativo suficientemente amplo e intimidador
para que a noção de estado de natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. A tese
de Grócio parte da noção de anarquia, mas a minimiza para efeitos de teorização,
desconsiderando a relação necessária entre anarquia e guerra, relação esta reduzida a mera
“hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”, como fazem os realistas).
pág. 04
A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial, principalmente
com o Pacto da Liga das Nações (o Pacto de Paris), a Carta da Organização das Nações Unidas
(ONU) e a Carta do Tribunal Internacional de Nuremberg, derivam da fórmula grociana, que
concebe a sociedade internacional de forma ordenada, fruto da analogia com a alegoria da
sociedade doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII.
Edward Hallett Carr, autor do clássico Vinte Anos de Crise: 1919-1939, cuja primeira edição foi
lançada logo após o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, em 1939, analisa a
dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática realista dos Estados e ilustra bem a
maneira como os idealistas viam as relações internacionais e os argumentos que utilizavam ao
tratarem das interações entre os povos:
Carr cita, ainda, o discurso do Presidente Wilson – que refletia o pensamento idealista geral, e
que continha a resposta de Wilson “se não funcionar, teremos que fazê-lo funcionar!”, quando
indagado se aquele modelo moralizante e pacifista funcionaria – e esclarece:
Após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações foi um esforço específico da política
internacional de substituir o princípio do equilíbrio de poder pelo princípio da segurança
coletiva. Tal princípio, que sustentou a criação daquela Organização, foi elaborado para remover
a necessidade de equilíbrio ou balanço. Para os realistas, essa sua remoção no período Entre-
Guerras teria sido justamente a causa da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, o sistema
internacional pós-1945 deixou de ser explicado em termos do princípio idealista da segurança
coletiva, e noções de bipolaridade e multiplaridade, típicas das análises de balanço de poder, o
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substituíram. Chegou-se mesmo, nos períodos mais quentes da Guerra Fria, em se falar de
“balanço de terror”.
Para reforçar o conceito dessa Corrente Teórica, assista ao vídeo da aula a seguir.
Duração: 10min
http://get.adobe.com/br/flashplayer/)
pág. 05
A fase realista
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significado último da crise internacional era “o colapso da total estrutura do utopismo baseado
no conceito de harmonia de interesses”.
Behavioristas e Pós-behavioristas
A terceira fase da Teoria das Relações Internacionais desenvolveu-se também nos EUA como
“resposta aos excessos do Realismo”. Trata-se de uma aproximação com a vertente
behaviorista da Sociologia. Essa corrente ficou conhecida como behaviorista ou científica. Para
Arenal (1984, p.82):
O desenvolvimento da corrente “científica” gerou um grande debate nos anos sessenta entre os
tradicionalistas filosófico-intuitivos (idealistas e realistas) e os científicos (behavioristas).
Finalmente, Arenal identifica uma quarta fase, motivada pelo que David Easton (1969) chamou
de “nova revolução da ciência política”, e que se convencionou chamar de pós-behaviorismo.
Essa nova revolução ter-se-ia produzido devido a uma profunda insatisfação com a pesquisa
política e os ensinamentos behavioristas, sobretudo por quererem converter o estudo da política
em uma ciência segundo o modelo físico-natural. As bandeiras levantadas pelos pós-
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behaviorista são ação e relevância. O novo movimento, sem abandonar o enfoque científico do
behaviorismo, dirige sua atenção à conduta humana enquanto tal e aos problemas reais do
mundo, às motivações e aos valores subjacentes a toda conduta. Busca-se uma pesquisa com
ênfase ao caso concreto, dando atenção a um objeto de análise que difere dos objetos das
ciências exatas. O Pós-Behaviorismo constituiu, portanto, a síntese do debate entre as
concepções tradicionalistas e as científicas.
pág. 07
Atualmente, a doutrina reconhece três grandes correntes teóricas das Relações Internacionais:
o Realismo, o Pluralismo e o Globalismo. São também chamados de paradigmas teóricos, dado
que as variadas teorias que existem na disciplina podem ser encaixadas em uma dessas três
correntes. O Realismo trabalha mais com os conceitos de poder e equilíbrio de poder, o
Globalismo com dependência, e o Pluralismo, por sua vez, com os conceitos de processo de
tomada de decisão e transnacionalismo.
Duração: 5min25
Realismo
O Realismo tem algumas proposições básicas. Primeiro, o Estado é o ator principal no meio
internacional, e o estudo das relações internacionais foca essa unidade política. Atores não-
estatais, como as empresas multinacionais, são menos relevantes para a análise, e as
organizações internacionais, como a ONU ou a OTAN, não possuem existência autônoma ou
independente porque são compostas de Estados, as verdadeiras unidades soberanas,
independentes e autônomas, que determinam o comportamento dessas organizações
internacionais.
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O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, que era uma forma de “gerência” do poder, na
visão realista, foi paralisado, durante a Guerra Fria, pelo veto – os interesses de poder da URSS
e dos EUA iam em sentidos opostos e, por conseqüência, impediam a organização de funcionar.
No pós-Guerra Fria, apesar da superação das rivalidades dentro do Conselho, a Organização
ainda não funcionava automaticamente, dependendo, em cada circunstância, do “interesse” dos
Estados para atuar. Realistas citam, por exemplo, o contraste entre a ação rápida na Guerra do
Golfo e a inércia diante da crise iugoslava.
Segundo, os Estados são atores unitários. São unitários porque quaisquer diferenças de visão
entre os líderes políticos ou burocracias dentro do Estado são, no final das contas, resolvidas,
para que o Estado fale uma só voz.
Terceiro, os Estados são atores racionais. São racionais porque, dados certos objetivos,
trabalham com alternativas viáveis para alcançá-los, à luz de suas capacidades, por meio de
uma análise de custo-benefício. Os realistas reconhecem a existência de problemas como falta
ou ruído de informação, incerteza, pré-julgamento e erros de percepção, mas, contudo,
pressupõem que os tomadores de decisão não medem esforços para alcançar a melhor decisão
possível.
pág. 08
Pluralismo
Assista à aula introdutória, gravada no curso presencial no ILB, sobre Pluralismo. Vamos
lá!
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Duração:6min24
Os anos de 1980 e 1990 deram força à corrente teórica conhecida como Pluralismo, que veio
para desafiar as proposições do Realismo. Nessa corrente normalmente se enquadram os
neoliberais.
Para os pluralistas, também não se poderia negar o impacto de atores não-estatais, como
grupos terroristas (como a Al Qaeda e o Hamas), comerciantes de armas da máfia russa,
movimentos guerrilheiros, como as FARC colombianas etc.
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Terceiro, os pluralistas desafiam a suposição realista de que o Estado é um ator racional. Dada
a visão pluralista e fragmentada do Estado, pressupõe-se, ao contrário, o choque de interesses,
a barganha e a necessidade de compromisso que nem sempre levam a um processo de tomada
de decisão racional.
Por fim, para os pluralistas, a agenda da política internacional é extensa. Embora a segurança
nacional seja importante, os pluralistas também se preocupam com um número variado de
questões econômicas, sociais, energéticas e ecológicas que têm surgido com o aumento da
interdependência entre os países e as sociedades nos séculos XX e XXI. Alguns pluralistas, por
exemplo, enfatizam o comércio e as questões monetárias e energéticas, as quais estariam no
topo da agenda internacional. Outros focam o problema demográfico e a expansão da fome no
Terceiro Mundo. Outros, ainda, focam a poluição e a degradação do meio ambiente. Nesse
sentido, os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta política (high politics) e baixa política (low
politics) dos realistas.
pág. 09
Globalismo
Duração: 3min25
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internacional. Para eles, a hierarquia, como uma característica chave, é mais importante do que
a anarquia, dada a desigualdade na distribuição do poder dentro do sistema.
Vimos que os realistas organizam seus estudos em torno da questão básica de como a
estabilidade pode ser mantida num mundo anárquico. Os pluralistas se perguntam como
mudanças pacíficas podem ser promovidas num mundo que é crescentemente interdependente
política, militar, social e economicamente. Os globalistas, por sua vez, se concentram na
questão de por que tantos países do Terceiro Mundo na América Latina, na África e na Ásia não
têm conseguido se desenvolver. Para muitos globalistas, mais ligados à linha marxista, essa
questão faz parte de um campo maior de análise: o desenvolvimento do capitalismo no mundo.
Os globalistas são guiados por quatro proposições. Primeiro, é necessário entender o contexto
global em que Estados e outros atores interagem. Os globalistas argumentam que para explicar
o comportamento em qualquer nível de análise – o individual, o burocrático, o societário e o
estatal –, é necessário, antes, entender a estrutura geral do sistema global no qual esses
comportamentos se manifestam. Assim como os realistas, globalistas acreditam que o ponto de
partida da análise é o sistema internacional. Numa extensão mais larga, o comportamento de
atores individuais é explicado por um sistema que fornece limitações e oportunidades.
Terceiro, os globalistas assumem que existem mecanismos de dominação que impedem que o
Terceiro Mundo se desenvolva e que contribuem para o desenvolvimento desigual ao redor do
planeta. A compreensão desses mecanismos requer o exame das relações de dependência entre
os países industrializados do Norte (América do Norte e Europa) e os vizinhos pobres do
Hemisfério Sul (América Latina, África e Ásia).
Finalmente, os globalistas defendem que os fatores econômicos são absolutamente críticos para
se explicar a evolução e o funcionamento do sistema capitalista mundial e a relegação do
Terceiro Mundo para uma posição subordinada. A economia funciona como uma espécie de “alta
política” para os globalistas.
Para fins didáticos, podemos traçar o seguinte quadro, que relaciona os três paradigmas das
Relações Internacionais:
Unidades Estado como principal Estado e atores não-estatais, Estado, classes, elites,
analíticas unidade de análise. como organizações burocráticas, sociedades e atores não-estatais
elites, sociedades, indivíduo, como operadores do sistema
grupos de indivíduos, capitalista.
organizações internacionais,
corporações multinacionais,
organizações não-
governamentais.
Concepção de Estado unitário e racional. Estado não-unitário e não- Estado não-unitário e racional,
Ator racional: desagregado em visto sob a perspectiva histórica
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Dinâmica Estado como maximizador Conflito, barganha, formação de Política externa como padrões
comporta- de seus próprios interesses coalizões e compromissos nos racionais de dominação dentro e
na política externa. processos transnacionais e de entre Estados e sociedades.
mental
tomada de decisão em política
externa, não necessariamente
levando a resultados ótimos.
Agenda Segurança nacional como Agenda múltipla, com questões Questões econômicas como
questão mais importante. sócio-econômicas tão ou mais mais importantes.
importantes do que questões de
segurança nacional.
pág. 10
Registre-se, outrossim, que as correntes citadas nesta Unidade são as mais difundidas e
tradicionais. Não obstante, neste contexto de pós-modernidade, ganham força perspectivas de
vanguarda, com destaque para o Construtivismo. Foge ao escopo deste curso a análises dessas
outras correntes.
Passemos, portanto, aos principais debates que marcaram a Teoria das Relações Internacionais
no século XX.
Idealismo X Realismo
O debate entre realistas e idealistas iniciou-se na década de 1930. Não obstante, conforme
acentua Arenal (1984), trata-se “de um debate que está presente, com maior ou menor força,
em toda a história da teoria internacional, inclusive tendo recobrado força com novas
perspectivas em nossos dias”. De acordo com John Herz (1951, p.8), o Idealismo é um tipo de
pensamento político que “não conhece os problemas que surgem do dilema da segurança e
poder”, ou que o faz “somente de uma forma superficial”. O Realismo, por sua vez, ao
contrário, considera fatores de segurança e poder inerentes à sociedade humana.
IDEALISMO REALISMO
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Assim, para os idealistas, a política é a arte do bom governo, e o poder político não constitui
fenômeno natural, lei imutável da natureza. A Sociedade Internacional, em um primeiro
momento, poderia até se encontrar em um estado de natureza, mas a anarquia internacional
seria naturalmente substituída não por um sistema baseado no equilíbrio de poder, mas por
uma ordem fundamentada na lei internacional, em instituições e na cooperação entre os povos.
Assim, a conduta racional dos Estados os levaria à constituição de um poder supranacional,
uma confederação de nações, que garantiria a segurança e a paz no Sistema (a “paz perpétua”
de Kant).
Os realistas, por sua vez, consideram a política internacional uma constante e interminável luta
pelo poder, definido em capacidade de influência. Negam o otimismo idealista. Atuar
racionalmente significa agir em favor dos próprios interesses; ou seja, de aumentar o poder, a
capacidade ou habilidade de controlar os outros entes internacionais. Partindo do princípio de
que o homem não é naturalmente bom e que se reúne em sociedade apenas porque é a melhor
maneira que encontrou para garantir a segurança essencial à sua sobrevivência diante da
guerra de todos contra todos, o Realismo percebe o Estado como um gladiador envolvido em
um combate perpétuo pela sobrevivência na Sociedade Internacional anárquica em que as
relações de força predominam.
O Realismo não considera a moral ou a ética como limites à ação do Estado, mas a prudência, o
senso de oportunidade e o cálculo racional. Essa consideração explica o pragmatismo e a falta
de credulidade em organizações internacionais como instituições que não sejam apenas meros
instrumentos de alguns Estados no jogo de poder internacional. Um governo mundial baseado
apenas no Direito e no desejo global de paz é inconcebível para o Realismo.
pág. 12
Tradicionalistas X Científicos
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Uma segunda distinção, segundo Tomassini, repousa no fato de que, enquanto o primeiro
debate referia-se a questões substanciais – aspectos da natureza humana, dos fundamentos da
Sociedade Internacional, da essência do poder –, o segundo debate teve cunho metodológico.
Nesse sentido, tanto pensadores realistas quanto teóricos idealistas poderiam assumir uma
perspectiva científica em suas análises.
Finalmente, Tomassini assinala que, se o debate entre idealistas e realistas, por tratar de
questões substanciais, faz com que as duas correntes sejam eternamente irreconciliáveis, o
segundo debate estabelece uma paulatina aproximação das colocações e um entendimento
final, dando origem aos pós-behavioristas. Os neorealistas são o melhor exemplo desse
resultado.
Certamente foi de grande relevância a contribuição behaviorista para a análise das relações
internacionais. Afinal, foi possível aperfeiçoar os métodos da teoria e sistematizar as análises
sob uma perspectiva mais empírica. Não obstante, o aspecto intuitivo ou racionalista das
ciências sociais jamais poderá ser desprezado. Nesse sentido, não se pode querer atribuir às
ciências humanas equivalência em relação às ciências naturais, exatas. Em Relações
Internacionais, assim como em qualquer ciência social, o homem – seja sob seu aspecto
individual, seja por meio de suas manifestações coletivas – é o objeto central de estudo. Tentar
explicar as relações humanas com base apenas nos critérios exclusivamente quantitativos pode
conduzir o analista a erro em sua avaliação.
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A escola sistêmica encontra suas origens na década de 1950, quando se começou a aplicar
conceitos de análise de sistemas ao estudo das Relações Internacionais. Sua principal diferença
frente ao enfoque convencional consistia no fato de que, enquanto os tradicionalistas concebiam
as relações internacionais como um conjunto de interações entre unidades independentes e
soberanas – os Estados –, não sujeitas a pautas nem a qualquer previsibilidade, a análise
sistêmica percebia as relações internacionais influenciadas ou determinadas pela estrutura ou
pelas tendências de uma unidade mais ampla, que seria o Sistema Internacional em seu
conjunto.
Um sistema geral pode ser definido como algo substantivado em um conjunto de elementos ou
partes interconectados. Essa conexão entre os diversos elementos ocorre por meio de um
princípio claramente identificável ou, mais simplesmente, por um rol de interação hipotético
entre seus distintos componentes. Pode-se dizer, portanto, que um sistema é um conjunto de
unidades que interagem entre si de acordo com padrões relativamente regulares e perceptíveis,
alguns dos quais podem configurar subsistemas que se relacionam com o conjunto, seguindo o
mesmo tipo de padronizações, e cujos limites ou parâmetros também são reconhecíveis, mas
que, em geral, permanecem abertos a influências de um meio ambiente externo.
Tomassini conclui que os enfoques sistêmicos têm permitido conhecer e melhor compreender as
relações existentes entre as distintas unidades nacionais, o Sistema Internacional em seu
conjunto e os diversos subsistemas que operam em seu interior. O enfoque também é
importante para:
Um termo muito usado na análise sistêmica é o de “subsistema”, que também será explorado
no decorrer deste curso. Aplicado às Relações Internacionais, normalmente vem associado à
idéia de região – “subsistemas regionais” – ou às relações dentro de um setor (subsistema
econômico, militar etc).
A região, concebida como um subsistema, implica categorizar o todo (ou sistema) em partes
distintas. O subsistema apresentaria as mesmas características do sistema, sendo que em um
nível diferente. A busca por padrões e processos característicos se daria da mesma forma que
na análise de sistemas, embora não necessariamente apresentando os mesmos resultados.
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Trataremos mais adiante, na Unidade 5, das idéias de subsistema econômico, militar, ideológico
etc.
Entre os principais expoentes da escola sistêmica nas Relações Internacionais estão Morton
Kaplan, Karl Deutsch, e Richard Rosecrance. No caso do Neorealismo, cuja perspectiva é
eminentemente sistêmica, tem-se em Kenneth Waltz seu grande expoente.
pág. 15
Realistas X Pluralistas
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Outros debates
Há outros debates mais recentes e igualmente relevantes, como os debates entre neorealistas e
globalistas e entre neorealistas e neoliberais. Vamos abordá-los na próxima Unidade.
O Realismo passou a sofrer várias críticas devido à dificuldade do Estado em administrar forças
transnacionais. O Globalismo se enfraqueceu com a crise do socialismo real. O Pluralismo se
revelou inadequado, uma vez que as suas preocupações com as questões sociais teriam sido
desprezadas pela nova política internacional (SARAIVA, 1997, p. 361-362). Os seguintes
movimentos passaram a ter relevância para a análise das relações internacionais
contemporâneas:
• soma de fluxos transnacionais como fator que afeta o cotidiano das pessoas e leva à crise
do Estado-nação, cujo universalismo e soberania são questionados;
• Atores não-estatais não necessariamente agem contra o Estado, mas exigem mudanças
de sua conduta – na política interna e externa;
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A transição da bipolaridade para a globalização ocorreu, no entanto, sem que a nova ordem
internacional demonstrasse capacidade para superar problemas globais, como o endividamento
internacional, a hegemonia do mercado financeiro, o arrocho econômico mundial requerido para
o ajuste de economias centrais e o desemprego estrutural. Esses também são temas
importantes para os teóricos de Relações Internacionais no século XXI.
O Realismo
O conflito e a questão da segurança
Críticas ao Realismo
O Neorealismo
Os últimos grandes debates
Neorealistas X Globalistas
Neorealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Conclusões
Objetivos da Unidade:
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O REALISMO
A tentativa mais notória do século XX para explicar as relações internacionais foi conduzida por
um grupo de pensadores que contemplavam a realidade internacional com base nas relações de
força, poder e dominação. Esses autores foram os representantes da corrente teórica conhecida
como Realismo Político ou, simplesmente, Realismo. Trata-se da doutrina mais clássica e aceita
das Relações Internacionais, chegando-se a ponto de muitos a considerarem o tronco central do
estudo teórico do tema. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, ela teve
notório fortalecimento. Devido a essas peculiaridades, optamos por dedicar uma Unidade
específica a essa corrente.
• o caráter praticamente exclusivo do Estado como o único ou, ao menos, o principal Ator
internacional;
• a percepção de que os Estados são entes unitários e racionais ao conduzirem sua política
externa;
• o interesse nacional definido com base no poder, que conduz a uma paradoxal ordem
internacional no sistema anárquico, ordem esta imposta pelas Potências hegemônicas
aos demais Estados e em benefício das primeiras;
• a preocupação com a segurança como umas das grandes orientadoras da conduta dos
Atores, no que os realistas consideram ”alta política” (high politics) em contraposição à
chamada baixa política (low politics);
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Os realistas tiveram por objetivo inicial definir as características que fariam do campo de estudo
das Relações Internacionais uma ciência própria. Daí buscarem distinguir, preliminarmente, a
política internacional da política interna dos Estados. Desenvolveram, então, a percepção
anárquica do sistema internacional.
Assim, os realistas percebem o sistema internacional como anárquico, no qual não existe poder
central ou superior dos Estados soberanos. Para os realistas, os Estados não reconhecem e não
se submetem a qualquer autoridade que não a sua própria, também não estando, em última
análise, internacionalmente sujeitos nem mesmo às regras do Direito. Nesse sentido, os
Estados “são livres para fazer sua própria justiça e podem recorrer à força para defender seus
interesses nacionais” (SENARCLENS, 2000, p. 16).
Em âmbito interno, segundo Hobbes, os homens associam-se e abrem mão de parte de sua
independência para garantir sua segurança, transferindo uma parcela de seu poder para um
soberano – o Estado – que, tornando-se o único e legítimo titular do uso da força (coerção),
protege-os e garante a ordem. Na esfera internacional, entretanto, declaram os realistas, não
há uma autoridade superior à qual os Estados estejam dispostos a transferir parcela de seu
poder ou soberania em troca de segurança.
Para garantir sua segurança, os Estados irão buscar aumentar seu poder – definido pela
capacidade de influenciar os demais Estados e de ser influenciado o mínimo por eles –,
projetando-o no sistema internacional. Esse poder relaciona-se intimamente com o uso da força
– sobretudo de poderio político-militar e os aspectos econômicos relacionados a ele. Em outras
palavras, quanto mais forte for um Estado frente a seus pares, menos sujeito a ser subjugado
por estes ele se encontra.
pág. 03
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-se ao conflito entre os Estados poderosos, que culminará, por sua vez, em uma nova ordem
imposta pelos vencedores.
Os realistas não acreditam em uma ordem internacional instituída por princípios morais e
fraternos. Qualquer forma de cooperação internacional será conduzida pelos Estados enquanto
esses perceberem que a cooperação garantirá mais segurança que a não-cooperação. As
instituições internacionais são frágeis e somente prevalecem enquanto for mais conveniente
para as Potências. No meio internacional, o Direito acaba quando a força começa.
Outro aspecto importante do pensamento realista é a percepção do Estado como o único, ou,
no mínimo, o principal Ator nas Relações Internacionais. Nessa perspectiva, os demais Atores –
reconhecidamente as organizações internacionais – não seriam mais que instrumento de
manobra das Potências para garantir sua hegemonia na Sociedade Internacional. Segundo
Senarclens (2000, p. 18):
Ademais, a liberdade de ação dos Estados na esfera internacional estará relacionada à força que
cada um deles tenha frente aos demais. Em Paz e Guerra entre as Nações, Raymond Aron,
partindo do pressuposto de que os Estados são soberanos – e, portanto, livres para perseguir
sua própria justiça –, admitiu que o direito desses entes de recorrer à força constitui uma das
especificidades das relações internacionais.
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O que os realistas buscam deixar claro é que não se pode querer igualar a China a
Liechtenstein, ou o Brasil à Somália, ou, ainda, os EUA ao Afeganistão. Não adianta, portanto,
querer argüir o artigo 2º da Carta das Nações Unidas para que se imponha o princípio da
igualdade entre os Estados nas relações internacionais. Os Estados são distintos uns dos outros
quanto a grandeza territorial, populações, localização geográfica, capacidade militar, níveis de
desenvolvimento em que se encontram, recursos econômicos, capacidade de exploração desses
recursos. É exatamente em virtude dessas diferenças que os Estados terão maior ou menor
influência no sistema internacional e buscarão formas de defender seus interesses.
O artigo 2º da Carta das Nações Unidas dispõe que a ONU é “fundada sobre o
princípio da igualdade soberana de todos os seus Membros”.
Os realistas percebem diferentes maneiras pelas quais os Estados buscam sua segurança. Para
assegurar a independência, dependendo da posição e do status internacional, optam pela
proteção de uma grande Potência, a participação em sistemas de segurança coletiva ou em
alianças políticas ou militares. De qualquer maneira, a maioria dos Estados dispõe de forças
armadas para garantir sua segurança. Aqueles que renunciaram a elas (a Costa Rica é o caso
mais notório), necessariamente confiam sua defesa à proteção de uma Potência hegemônica.
Philippe Braillard, em Teoria das Relações Internacionais (1990, p. 115), resume bem os
principais conceitos do pensamento de Morgenthau:
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Também sobre o Realismo, veja o texto que trata da moral nas Relações
Internacionais numa perspectiva realista, de
Marcelo Beckert Zapelini.
pág. 06
Críticas ao Realismo
Claro que o Realismo tem sofrido pesadas críticas ao longo de décadas. Por exemplo, afirma-se
que a teoria negligencia aspectos sociais, culturais ou mesmo econômicos, dando valor
exacerbado a fatores político-militares. Outra crítica é de que o conceito de poder na
perspectiva realista estaria mal definido e seu emprego demasiado vago, uma vez que o poder
seria, ao mesmo tempo, “um fim, um meio, um motivo e uma relação”.
Há, ainda, aqueles que lembram que o interesse nacional definido em termos de poder é
discutível, uma vez que é complicado determinar e quantificar esse interesse. Ademais, o
Estado jamais poderia ser considerado um Ator unitário e racional, e as decisões e ações de
política externa são fruto de um complexo conjunto de interesses de forças em diferentes níveis
da sociedade interna. Daí que interesse nacional seria um conceito bastante subjetivo, tanto em
virtude da diversidade das forças do interior do Estado que estabelecem quais são as
prioridades e os interesses da nação, quanto devido à heterogeneidade do sistema
internacional.
Finalmente, há a ponderação de que a teoria realista assenta-se numa visão das relações
internacionais limitada à configuração dessas relações nos séculos XVIII e XIX, ou mesmo na
primeira metade do século XX, sendo inadequada ao sistema internacional contemporâneo,
marcado pela diversidade de Atores e de grupos, como organizações internacionais,
organizações não-governamentais e empresas transnacionais.
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Morgenthau, sugere-se a leitura dos trabalhos de Raymond Aron, com destaque para Paz e
Guerra entre as Nações e dos livros de Henry Kissinger.
pág. 07
O NEORREALISMO
Duração: 7min08
O Neorrealismo é uma versão mais atual do Realismo. Pegou emprestado alguns elementos do
cientificismo behaviorista e, assim, deu um renovo para a corrente realista. O Neorealismo
deriva de um movimento epistemológico que ficou conhecido como Estruturalismo. Segundo os
estruturalistas, a sociedade se define pelas condições de possibilidade de toda organização
social. A análise dos diferentes sistemas constitutivos da Sociedade Internacional e de sua
articulação mostra serem eles a aplicação de certo número de leis lógicas encontráveis em toda
sociedade. Tal ponto de vista se casou com algumas perspectivas “clássicas”, como as que
vêem as “leis” da anarquia e do poder como explicativas da realidade (como a “lei” do balanço
de poder já estudada), dando luz ao Neorrealismo. Para os estruturalistas, são essas as
invariantes ou constantes que dão unidade necessária à fundamentação científica. Enfim, para
os estruturalistas, o importante é identificar os padrões, os arranjos, as organizações
sistemáticas em determinado estado.
Waltz identifica três níveis de análise nas Relações Internacionais: o Indivíduo, o Estado e a
Sociedade (economia doméstica/sistemas políticos), e o Sistema Internacional (ambiente
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anárquico). Dos três níveis de análise identificados por ele, concentra-se no terceiro nível, para
dizer que a anarquia é uma constante, um “dado” na estrutura do Sistema Internacional.
Enquanto esse primeiro critério da estrutura, a anarquia, é uma constante, o segundo, a
distribuição de capacidades, é uma variável, pois varia entre os Estados. O referencial empírico
para essa variável é a quantidade de Superpotências que domina o sistema. Dado o pequeno
número de tais Estados – importante perceber que ele escrevia na época da Guerra Fria –, e,
além disso, para Waltz, não mais que oito já foram importantes, a política internacional,
segundo ele, poderia ser estudada em termos da lógica de poucos sistemas.
Para Waltz, o sistema internacional funciona como o mercado, o qual está interposto entre os
atores econômicos e os resultados que eles produzem. É o mercado que condiciona seus
cálculos, seus comportamentos e suas interações. Assim, para ele, é a estrutura do sistema
internacional que limita o potencial de cooperação entre os Estados e que, por conseqüência,
gera o dilema da segurança, a corrida armamentista e a guerra.
Waltz lembra que as empresas devem desenvolver sua própria estratégia para
sobreviver em um meio competitivo, sendo difíceis ações coletivas que otimizem o lucro
a longo prazo.
Waltz usa a noção de poder estrutural – espécie de poder que pode estar operando quando os
Estados não estiverem agindo da forma que se esperava, dada a desigualdade de distribuição
de poder no sistema internacional. Percebe-se que Waltz se inspirou em Durkheim, para quem
a sociedade não é a simples soma de indivíduos e que todo fato social tem por causa outro fato
social, e jamais um fato da psicologia individual. Em seu trabalho sobre o suicídio, Durkheim
procurou demonstrar que mesmo no ato privado de tirar a própria vida, conta mais a sociedade
presente na consciência do indivíduo do que sua própria história individual. Ou seja, o ambiente
é mais importante do que o agente, e essa é a tese por trás do Neorealismo de Waltz.
Isolando a estrutura, Waltz argumenta que uma estrutura bipolar dominada por duas
Superpotências é mais estável que uma estrutura multipolar dominada por três ou mais
Superpotências, pois é mais provável que se sustente sem guerras espalhadas no sistema. Para
ele, há diferenças expressivas entre multipolaridade e bipolaridade. Na multipolaridade, os
Estados confiam em alianças para manter a segurança, o que é inerentemente instável, uma
vez que existem potências demais para se permitir que qualquer uma delas trace linhas claras e
fixas entre aliados e adversários. Em contraste, na bipolaridade, a desigualdade entre as
Superpotências e cada um dos outros Estados assegura que a ameaça posta a cada um deles
seja mais fácil de ser identificada, e, no sistema bipolar da Guerra Fria, a URSS e os EUA
mantinham o equilíbrio central, confiando mais nos próprios armamentos do que nos aliados.
Ficam, assim, minimizados os perigos decorrentes de previsões erradas. A intimidação nuclear e
a inabilidade das Superpotências em superarem mutuamente as forças retaliadoras aumentam
a estabilidade do sistema. Ou seja, para Waltz, a estrutura do sistema em si gerava a
estabilidade.
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Waltz foi criticado por Raymond Aron, para quem a estabilidade da Guerra Fria tinha mais a ver
com as armas nucleares em si do que com a bipolaridade. Muitos críticos argumentaram que o
modelo de Waltz era muito estático e determinístico, além de desprovido de qualquer dimensão
de mudança estrutural (revolução). Mas essas, na verdade, são as características do
Estruturalismo. Em Waltz, os Estados estão condenados a reproduzir a lógica da anarquia, e
qualquer cooperação que ocorra entre eles ficará subordinada à distribuição de poder. Os
neoliberais criticam Waltz por exagerar o grau de “obsessão” dos Estados pela distribuição de
poder e por ignorar os benefícios coletivos que podem ser alcançados pela cooperação.
Outros acusaram Waltz de tentar legitimar a Guerra Fria sob o manto da ciência. Com o fim da
Guerra Fria, um dos pólos da estrutura ruiu, a URSS, o que não se harmonizava com as
expectativas da teoria de Waltz, segundo as quais as Superpotências amadureceriam para se
tornar “duopolistas sensíveis” no comando de uma estrutura crescentemente estável.
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Visto o Neorealismo, agora podemos abordar os últimos grandes debates teóricos de interesse
para o presente curso introdutório. Tais debates, que surgiram nas últimas décadas do século
XX, refletem as teorizações que se fizeram necessárias para explicar as significativas mudanças
nas relações internacionais produzidas pelo processo de globalização e pelo aumento da
interdependência entre os Atores.
Neorealistas X Globalistas
Um dos últimos debates que merece referência neste curso é o que se dá entre neorealistas e
globalistas.
Como visto, a corrente neorealista surge com o objetivo de desenvolver uma análise mais
precisa das Relações Internacionais, baseada nos pressupostos realistas clássicos, mas com
adaptações que tinham que considerar a nova realidade internacional mais complexa.
O Globalismo, por sua vez, usa algumas das categorias que o Neorealismo usa (como o poder
estrutural), pois também deriva do Estruturalismo, mas surge como uma corrente alternativa.
Os globalistas reconhecem, como os neorealistas, que há limitações estruturais para a
cooperação entre os Estados, mas defendem que isso se dá mais em razão da hierarquia do que
da anarquia no Sistema. Para eles, a hierarquia, como uma característica chave, é mais
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Assim, não basta um consenso ideológico a favor do capitalismo (como pensam os neoliberais)
ou uma concentração do poder militar entre as hegemonias do centro (como pensam os
neorealistas) para que um conflito sério no sistema possa ser evitado. Para os globalistas, não
bastaria nenhum dos dois se não fosse a divisão da maioria numa camada inferior maior.
Este último debate é o mais relevante para o mundo que se descortina diante de nossos olhos
neste início do século XXI. Também pode ser referido como um debate entre neorealistas e
pluralistas, já que os liberais e neoliberais se reúnem no paradigma pluralista.
Como pano de fundo desse debate temos a Teoria da Interdependência. Esse debate teórico
ganhou força nas décadas de 1980 e 1990 e perdura até os dias de hoje. O debate se dá em
torno de questões como: se o sistema internacional mudou ou não sob o impacto da
interdependência, e quais as implicações de tal mudança para a teoria e prática das relações
internacionais. No fundo, quando surgiu o debate, a questão era se o modelo clássico da
“anarquia” estava perdendo seu poder explicativo frente à “interdependência” entre os Estados,
se a agenda tradicional das relações internacionais passou ou não a reduzir a importância da
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A razão desse debate era a crise do sistema Bretton Woods, a crise de conversibilidade do dólar
e os choques de petróleo, eventos que abalaram todo o mundo. E, claro, não se pode deixar de
citar, o fracasso dos EUA na Guerra do Vietnã.
Do outro lado do debate estavam os neoliberais, que afirmavam que o crescimento das forças
econômicas transnacionais, como os fluxos financeiros, a crescente irrelevância do controle
territorial frente ao crescimento econômico e a divisão internacional do trabalho tornavam o
Realismo obsoleto. Os benefícios coletivos do comércio e a influência dos fluxos financeiros para
as políticas domésticas dos Estados assegurariam uma cooperação maior entre os Estados e
contribuiriam para o declínio do uso da força entre eles.
Um dos fortes defensores das teses neorealistas foi Stephen Krasner. Para Krasner (1983), os
Estados soberanos continuam sendo, nos tempos de hoje, agentes racionais e interesseiros,
firmemente preocupados com seus ganhos relativos. Argumentou que os períodos de abertura
na economia mundial correspondem aos períodos nos quais um Estado é nitidamente
dominante. No século XIX, foi a Grã-Bretanha; no período 1945-1960, os EUA. Por
conseqüência, concorda com Waltz: o grau de abertura depende, em si, da distribuição de
poder entre os Estados. A “interdependência” econômica é subordinada ao equilíbrio de poder
econômico e político entre os Estados, e não o contrário.
Krasner também ataca os globalistas. Para ele, os Estados nem sempre colocam a riqueza
acima dos outros objetivos. O poder político e a estabilidade social também são cruciais, e isso
significa que, embora o comércio aberto possa fornecer ganhos absolutos para todos os Estados
que se comprometerem com ele, alguns Estados ganharão mais do que outros, e essas
diferenças de poder são o principal fator determinante e explicativo do comportamento dos
Estados. Krasner ataca os globalistas pelo fracasso em explicarem o envolvimento dos EUA na
Guerra do Vietnã, que provocou tão intensas discordâncias domésticas para tão pouco ganho
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Neoliberais como Robert Keohane (2001) tentariam derrubar essas teses, buscando uma
resposta positiva para a questão de se as instituições explicam ou não o comportamento dos
Estados. O argumento básico de Keohane é que, num mundo interdependente, o paradigma
realista é de uso limitado para ajudar a compreender a dinâmica dos regimes internacionais, ou
seja, as normas, regras e princípios que governam as tomadas de decisão e as operações em
relações internacionais sobre determinadas questões, como o dinheiro.
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Sob condições de interdependência complexa, os neoliberais afirmam que é difícil para Estados
democráticos delinearem e perseguirem políticas exteriores racionais, como defendem os
realistas.
Os neorealistas, tornando o debate mais acalorado, responderam dizendo que não é verdade
que a distribuição de poder político e militar não se relacione com a condição de
interdependência complexa. A Teoria da Estabilidade Hegemônica é normalmente citada como a
conjugação das idéias do realismo com as idéias pluralistas de interdependência (vide Unidade
2). Ela explica, por exemplo, a ligação entre o poder hegemônico e o grau de interdependência
complexa no comércio internacional. Waltz, ao falar sobre a importância do equilíbrio de poder,
mostrou que a interdependência, longe de tornar obsoleto o poder, dependia da habilidade e da
disposição dos EUA em fornecer as condições sob as quais os outros Estados estariam
participando da concorrência por ganhos relativos e cooperando para maximizar seus ganhos
absolutos com base em uma cooperação no comércio e em outros setores de controvérsia.
Portanto, para autores como Gilpin, a liderança hegemônica dos EUA e o anti-sovietismo foram
as bases do compromisso com o “internacionalismo liberal” e com o estabelecimento de
instituições internacionais para facilitar a grande expansão comercial ocorrida entre os Estados
capitalistas nos anos de 1950 e 1960 (chamados de “anos dourados” por Eric Hobsbawm).
Giovanni Arrighi, em sua obra O longo século XX, apresentou tese no mesmo sentido. Sem a
presença de um hegemon, não teria havido os anos dourados do pós-Guerra.
Caso não esteja seguro com relação ao domínio do conteúdo, reveja suas anotações
pessoais e releia o Módulo I. Você deve consultar o seu Professor-Tutor em caso de
dúvidas, por meio do Menu - Comunicação, escolha a opção Mensagem na Plataforma
de Educação a Distância do ILB.
pág. 14
Conclusões
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Nessa Unidade então, estudamos a principal corrente teórica das Relações Internacionais: O
Realismo. Volte ao início da Unidade e verifique se os objetivos propostos foram alcançados. As
atividades que propomos a seguir o ajudarão nesse sentido.
Objetivos da Unidade:
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pág. 01
Convém apenas lembrar que definimos Sociedade Internacional como o conjunto de entes
que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças
profundas. Passemos aos elementos fundamentais da Sociedade Internacional.
pág. 02
Outro ponto a que Calduch chama a atenção é que “a Sociedade Internacional é distinta da
sociedade interestatal”. Mesmo sendo o Estado o principal Ator internacional, compreender a
Sociedade Internacional apenas com base nas relações interestatais conduziria a uma
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Discordamos dessa percepção de Calduch. Afinal, o que não se pode conceber, nos termos
apresentados, é uma sociedade global, interdependente, como a dos dias atuais. Entretanto,
Sociedade Internacional sempre houve, mesmo que sua principal característica fosse a falta de
interação entre as sociedades/civilizações que a compunham.
Todavia, relembre-se que anarquia internacional não é sinônimo de desordem. Há uma ordem
comum no meio internacional, estabelecida pelos próprios Atores para viabilizar suas relações.
Nesse sentido, o papel das grandes Potências é essencial, pois são elas que definem os rumos
do sistema. Não poderiam existir “relações internacionais” sem um ordenamento mínimo na
Sociedade Internacional.
A extensão espacial
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Portanto, da mais remota Antigüidade aos dias atuais, a constante expansão geográfica da
Sociedade Internacional gerou conflitos e mudanças nos Atores e nas relações de poder entre
eles. O que deve ficar claro é que, até o século XX, a característica da Sociedade Internacional
era exatamente a composição espacial de diferentes sociedades internacionais, ainda que com
espaços definidos e com crescentes intercâmbios culturais, comerciais, sociais e políticos, mas
com características distintas e espaço geográfico delimitado.
A diversidade sistêmica
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A estratificação hierárquica
A Sociedade Internacional constitui uma realidade complexa, cujos membros ocupam níveis ou
estratos segundo a desigualdade de poder – político, econômico, militar, social,
cultural/ideológico. Uma vez que há diferentes graus de influência nos assuntos internacionais,
existe uma hierarquia “de fato” entre os Atores na Sociedade Internacional. Daí o conceito de
Calduch para essa estratificação: “conjunto das diferentes e desiguais posições ocupadas pelos
atores internacionais em cada uma das estruturas parciais que formam parte da Sociedade
Internacional.”
Uma primeira observação a ser feita a respeito da estratificação é que a hierarquia internacional
não é única e imutável em cada Sociedade Internacional e muito menos homogênea para cada
subsistema. Assim, a posição ocupada por um Estado no Subsistema econômico internacional
poderá não ser a mesma no subsistema político-militar, ou vice-versa. Para exemplificar, a
influência atual do Brasil na economia internacional é bastante diferente de sua influência na
política ou de seu poder militar, e, mais ainda, de seu papel cultural-ideológico internacional.
Calduch lembra, também, que, junto aos Estados soberanos, “deve-se considerar aqueles
grupos internacionais cujo protagonismo fica limitado a certas áreas da vida internacional, por
exemplo, o Fundo Monetário Internacional, para o subsistema econômico; o [extinto] Pacto de
Varsóvia, para a política; a Agência de notícias Reuters, no plano cultural”. Claro que esses
outros membros da Sociedade Internacional não podem ser desconsiderados, pois é
inquestionável sua influência nos diferentes subsistemas, em alguns casos muito superior à da
maior parte dos Estados-nacionais.
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pág. 06
A polarização
Polarização pode ser definida como a capacidade efetiva de um ou vários Atores internacionais
para adotar decisões, comportamentos ou normas que sejam aceitos pelos demais Atores e, por
meio dos quais alcançam ou garantem uma posição hegemônica na hierarquia internacional.
Para os Atores que ocupam essa posição de destaque, a manutenção da estrutura imperante
mostra-se questão de sobrevivência, pois qualquer sinal de mudança pode significar que outro
pólo está a se estruturar, com a conseqüente – e, às vezes, fatal – alteração no equilíbrio de
poder no sistema. Enquanto a estratificação considera o conjunto dos Atores, a polarização – ou
polaridade – contempla somente aqueles que dominam as relações básicas de cada subsistema
internacional.
O caso da URSS é, como dito, apenas um exemplo. A “ascensão e queda das grandes
potências”, para usar os termos de Paul Kennedy, é um fato que pode ser constatado em
diversos momentos da evolução histórica da Sociedade Internacional, sempre relacionado à
incapacidade de manutenção da hegemonia internacional nos diferentes subsistemas ao longo
do tempo. A evolução é fatal: um Ator hegemônico surge ainda quando o Sistema está
polarizando por outro ou outros atores; aos poucos, vai ocupando o vazio de poder fruto do
enfraquecimento desse ou desses, até adquirir capacidade suficiente para afetar o Sistema.
Entretanto, depois de determinado tempo – anos, décadas ou séculos –, a única certeza é que
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surgirá um novo Ator para ocupar seu espaço no Sistema Internacional. Assim como ocorre na
natureza, numa lógica darwiniana, ocorre também na Sociedade Internacional.
• unipolaridade;
• bipolaridade; e
• multipolaridade.
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transnacionais (Exxon, General Motors, IBM, Citicorp), algumas das quais com capacidade para
influenciar o sistema de forma muito superior à da maior parte dos Estados soberanos do globo.
Registre-se, ademais, que, para perdurar, a relação hegemônica deve basear-se em dois
alicerces: coerção e consenso. Não se pode exercer a liderança em um sistema por muito
tempo apenas com base no uso da força, ao mesmo tempo em que hegemonia fundamentada
simplesmente no consentimento dos pares pode ser ameaçada por uma crise de legitimidade.
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Um terceiro aspecto que deve ser considerado é que um elevado índice de homogeneidade em
um subsistema internacional não se transfere automaticamente aos outros subsistemas. Assim,
há casos em que são vislumbradas relações políticas homogêneas em contraposição à
heterogeneidade econômica e sociocultural em um mesmo grupo de Atores.
Finalmente, vale observar que, para alguns autores, os sistemas homogêneos tendem a ser
mais estáveis (ARON, 1986). Afinal, a homogeneidade permite maior grau de previsibilidade na
conduta internacional dos Atores. Trata-se, entretanto, de uma tendência que não pode ser
considerada de maneira categórica, visto que ao próprio conceito de
estabilidade são atribuídas diferentes interpretações.
O grau de institucionalização
O último elemento fundamental para o estudo das relações internacionais identificado por
Calduch é o grau de institucionalização, que, por sua vez, resumiria todos os anteriores. Para o
mestre espanhol, “o grau de institucionalização de uma Sociedade Internacional é formado pelo
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Esse conceito traduz o entendimento e o consenso social que deve imperar entre componentes
de uma Sociedade Internacional ao estabelecerem ou modificarem suas relações mútuas.
Calduch defende que não se pode analisar o grau de institucionalização apenas com base nas
normas jurídicas: há normas que não estariam envolvidas pelo Direito Internacional, ainda que
este sintetize a maior parte das instituições fundamentais da Sociedade Internacional.
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Concluímos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. Nos Módulos seguintes será
apresentada uma breve análise da evolução histórica da Sociedade Internacional a partir da
era moderna, com esses aspectos teóricos operando como pano de fundo.
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Fechando, então, o estudo introdutório dos aspectos teóricos da primeira fase do nosso curso,
realize as atividades propostas de autoavaliação e, em seguida, a avaliação da unidade. Lembre
-se de que seu Professor-Tutor está apto a dirimir suas dúvidas. Comunique-se com ele sempre
que sentir necessidade de esclarecimentos adicionais.
Atividades de autoavaliação -
No menu lateral em "Avaliações", acesse as questões objetivas referentes a esta
unidade.
Objetivos da Unidade:
Ao término desta unidade o aluno deverá ser capaz de identificar os principais aspectos da
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evolução histórica da Sociedade Internacional, do início da Idade Moderna (século XV) ao fim
das Guerras Napoleônicas (século XIX). Deverá, portanto, estar apto a discorrer sobre:
# As grandes navegações;
# As lutas entre católicos e protestantes;
# A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648);
# A Paz de Westfália (1648) e
# A Europa no século XVIII e a ascensão da França como Potência hegemônica.
pág. 01
O período que vai do ano 1000 até 1800 corresponde à transição do feudalismo para o
capitalismo. Nesse período, a sociedade européia feudal – rural, fragmentada no nível nacional,
unida pela religião e marcada pelos vínculos de vassalagem – transformou-se em outra
completamente distinta, a sociedade capitalista. Nesta, o importante era a vida urbana,
influenciada pelas transações comerciais e fundada nas relações de trabalho assalariado.
O Renascimento
Marvin Perry observa que “o termo Renascimento foi cunhado em referência à tentativa de
artistas e filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição e modelos da Grécia e de Roma”. O
movimento surgiu na Itália, aproximadamente em 1350 e se estendeu até meados do século
XVII. Não surgiu na Itália por acidente. No século XIV, ela era a região mais dinâmica da
Europa: inúmeros centros comerciais, como Gênova, Veneza, Florença e Milão se desenvolviam
com vigor. Essas cidades italianas dominavam o comércio com o Oriente e, com isso,
destacavam-se no contexto europeu como Potências comerciais e, algumas vezes, militares.
Essa percepção antropocêntrica de mundo não significa, todavia, que houvesse uma rejeição à
religião. Sem se afastarem da religião, os renascentistas admitiam considerar o homem, obra
máxima da Criação divina, o centro de suas atenções.
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pág. 02
E o Renascimento não ocorreu apenas nas Artes. A Ciência, da mesma forma, foi afetada pelas
investigações de Copérnico, Kepler e Galileu. Copérnico, por exemplo, foi o criador da teoria
heliocêntrica, que estabelecia o Sol como o centro do universo. Isso era uma revolução, porque
tirava da Terra a primazia sobre os demais corpos celestes.
Fonte :http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm30.html
pág. 03
As Grandes Navegações
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As Grandes Navegações, iniciadas no final do século XV, são um marco na evolução histórica da
Sociedade Internacional. Por meio delas, os europeus aventuram-se além dos limites
tradicionais de seu continente e, de maneira generalizada, lançam-se pelos oceanos e seguem
para os “quatro cantos do mundo”, entrando em contato com as sociedades asiática, africana e
americana como nunca ocorrera antes. Com as Grandes Navegações, tem início um processo
que culminaria na hegemonia européia no mundo e na supremacia da chamada “civilização
ocidental” sobre outros povos – muitas vezes, com resultados fatais para as civilizações não-
européias.
Em segundo lugar, havia que se considerar a escassez de metais preciosos na Europa. Sem
eles, era muito mais difícil a compra de bens da Ásia ou da África. Isso também dificultava o
desenvolvimento das relações comerciais e, conseqüentemente, das relações sociais e políticas
entre as diversas regiões da Europa.
pág. 04
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Os lucros serviam, pois, de motor que levava às incursões no litoral da África e à posterior
circunavegação desse continente, bem como às viagens até a Índia e à “descoberta”, pelos
europeus, da América. E não tardou para que os europeus – primeiro, os portugueses e
espanhóis e, depois, holandeses, franceses e ingleses – instalassem feitorias em locais da Ásia,
África e América que, posteriormente, se transformaram em colônias.
O Mapa 2 ilustra os impérios coloniais português (em vermelho) e espanhol (em verde) em seu
apogeu. Destaque-se a linha divisória do mundo estabelecida por Portugal e Espanha pelo
Tratado de Tordesilhas (1494), por meio do qual, com o assentimento do Papa, os dois Estados
católicos buscavam legitimar seus direitos sobre as terras “descobertas”. Claro que nem os
povos que viviam nessas terras e nem os demais monarcas europeus foram consultados, de
modo que rapidamente Inglaterra, França e Holanda questionariam essa hegemonia luso-
espanhola, inclusive com a irônica requisição do “testamento de Adão” que garantira aos
ibéricos a herança do mundo.
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm36.html
O fato é que logo as principais potências européias se lançariam em busca de novas terras e
novas rotas e uma nova era se iniciaria nas relações internacionais.
Como observa Perry (1999, p. 280), “num desenvolvimento sem precedentes, uma pequena
parte do globo, a Europa ocidental, tornara-se a senhora das vias marítimas, dona de muitas
terras em todo o mundo e o banqueiro e recebedor de lucros numa economia mundial que
começava a despontar”. O pequeno continente dava sinais de seu poder e da dominação que
exerceria nos séculos seguintes sobre povos e impérios de todo o globo.
pág. 05
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O Mapa 3 ilustra a época das grandes navegações e da expansão européia. A partir das terras
conhecidas pelos europeus na Idade Média (trecho em laranja), há a expansão por terra – com
as viagens de Marco Pólo que apresentaram a Europa ao Império Chinês – e por mar – graças a
intrépidos navegadores como Cristóvão Colombo (que descobriu a América), Vasco da Gama (o
qual, ao dobrar o
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm34.html
“Cabo das Tormentas”, passando a chamá-lo de “Cabo da Boa Esperança”, estabeleceu a rota
marítima para as Índias, garantindo a Portugal a hegemonia no comércio com a Ásia) e
Fernando de Magalhães (primeira viagem ao redor do mundo – apesar de ele mesmo ter
morrido no caminho) –, e um Novo Mundo surge diante do europeu renascentista. Cite-se ainda
as viagens do inglês Jean Cabot, que em 1497 chega à Nova Inglaterra, e do francês Jacques
Cartier, que em 1534 chega à foz do rio São Lourenço e “toma as terras do Canadá para a
Coroa Francesa”. O mapa revela as terras conhecidas pelos europeus no fim do século XVI (em
amarelo).
Para melhor compreender o significado das grandes navegações e seu impacto nas
relações internacionais dos séculos XV e XVI, um filme interessante é 1492: A
Conquista do Paraíso, de Ridley Scott. Para saber mais sobre o filme, veja o resumo
e o contexto histórico na internet.
http://www17.senado.gov.br/composer/print/view/all/true 25/03/2011
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Leia também o texto As Grandes Navegações, explore outro sítio interessante sobre
as GRANDES NAVEGAÇÕES E DESCOBRIMENTOS MARÍTIMOS.
pág. 06
Fonte: http://perso.wanadoo.fr/alain.houot/index.html
A segunda importante instituição foi a de exércitos nacionais. Se, antes, os reis dependiam das
relações pessoais com a nobreza, pois precisavam dos senhores feudais e de seus exércitos
particulares, agora tinham uma força militar própria, mantida com os novos impostos
arrecadados.
pág. 07
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das relações particulares com a nobreza para poder governar. Ademais, tinha-se aí o embrião
do que seria a burocracia estatal, essencial para o governo dos Estados modernos.
Por fim, o aparecimento dos estados absolutistas provocou grande mudança no sistema
internacional. Hélio Jaguaribe (2001, p. 481) observa que “o século XVII se caracterizou na
Europa pela emergência de grandes potências, contrastando com o mundo do Renascimento,
quando as cidades-estado da Itália desempenhavam os principais papéis na arena internacional,
cercadas por países potencialmente poderosos, como a França, a Espanha e a Inglaterra, que,
no entanto, viviam em condições medievais. No princípio do século XVII, esses países tinham
conseguido em grande parte alcançar sua integração nacional, e começavam a ter um papel
internacional importante.”
pág. 08
A Reforma
No ano de 529, a Academia de Platão, em Atenas, fora fechada. Em um decreto desse ano, o
imperador romano Justiniano manifestou-se contra a filosofia, iniciando uma acomodação do
desenvolvimento cultural em direção à Igreja. No mesmo ano, é fundada a Ordem dos
Beneditinos, a primeira grande ordem religiosa. Dali em diante, os mosteiros passariam a deter
o monopólio da educação, da reflexão e da meditação. Na Idade Média, teve plena vigência o
clássico ensinamento de Agostinho: “é necessário compreender para crer e crer para
compreender”.
No século XVI iniciou-se um amplo movimento de reforma religiosa, que marcou o fim do
monopólio religioso da Igreja Católica Romana sobre a Europa Ocidental. Esse movimento
afetaria definitivamente a política, a economia, a cultura, a sociedade, enfim, as relações de
poder no cenário europeu e mundial.
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Esse controle, no entanto, acabou por se voltar contra a própria instituição. Como observa Perry
(1999, p. 231), “obstruído pela riqueza, viciado no poder internacional e protegendo seus
próprios interesses, o clero, do papa abaixo, tornou-se alvo de um bombardeio de críticas.”. De
um lado, criticava-se a supremacia da igreja sobre os reis. De outro, a corrupção, o nepotismo,
a busca de riqueza pessoal por parte dos bispos e do papa, o relaxamento do cumprimento das
obrigações espirituais e a venda de indulgências. Inúmeros cristãos passaram a criticar
abertamente as práticas da Igreja e do clero. O mais famoso e mais importante crítico da Igreja
foi o monge Martim Lutero.
Aspecto importante das teses de Lutero repousa no fato de que o monge propunha, em última
instância, a dispensa da necessidade da própria Igreja para que o homem tivesse sua
religiosidade e seu contato com o Criador. As conseqüências da doutrina luterana
ultrapassavam a esfera religiosa, pois ameaçavam a dominação político-ideológica que a Igreja
de Roma exercia sobre os reinos europeus e seus soberanos.
Lutero
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, de Eric Till, conta a história do monge alemão que se rebelou contra o abuso de poder na
Igreja Católica há 500 anos. Trata-se de filme interessante para auxiliar na compreensão da
Reforma e da Contra-Reforma.
pág. 10
No Mapa 5 temos a Europa no século XVI, dividida entre os diferentes grupos de protestantes
(em verde) – calvinistas, luteranos e anglicanos –, católicos fiéis a Roma (em rosa) e ortodoxos
(em laranja). Cite-se ainda a constante pressão do Império Otomano, baluarte do mundo
islâmico e um Ator muito relevante no cenário europeu da época. Claro que as disputas da
cristandade centravam-se em católicos x protestantes, mas alianças com Constantinopla muitas
vezes eram consideradas.
Mapa 5: A Europa à Época da Reforma: a Divisão da Cristandade
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm32.html
É importante observar que o descontentamento com a Igreja era grande em boa parte da
Europa. O protestantismo, não só da linha luterana, espalhou-se com muita rapidez por todo o
norte do continente. A reação católica, a Contra-Reforma, deu-se sob diversas formas. A
primeira delas foi no campo da atuação religiosa. Como observa Perry (1999, p. 242), “a
princípio, a energia para a reforma veio do clero comum, bem como de leigos como Inácio de
Loyola”. Loyola foi o fundador da famosa Companhia de Jesus. Como fora treinado como
soldado, ele organizou os jesuítas de forma rígida e altamente disciplinada.
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1563, modificou ou eliminou muito dos pontos criticados pelos protestantes, como, por
exemplo, a venda de indulgências. Por outro lado, o Concílio não fez quaisquer concessões ao
protestantismo.
Os conflitos entre católicos e protestantes marcaram a Europa por dois séculos e seus
efeitos alcançam nossos dias. Um filme muito interessante para se compreender o
período é A Rainha Margot, de Patrice Chéreau. Veja o resumo e o contexto
histórico do filme.
pág. 11
De fato, as disputas entre católicos e protestantes teriam um importante reflexo nas relações
internacionais européias durante mais de dois séculos, em especial porque estavam associadas
também às rivalidades entre as Potências européias. Do ponto de vista das relações
internacionais, os novos Estados protestantes aliavam-se para se contrapor à dominação
hegemônica da Igreja e de seu principal defensor político, a dinastia dos Habsburgos, o grande
hegemon europeu, que tinha um império que englobava a Espanha e a Áustria. Essas
rivalidades religiosas e políticas culminariam na Guerra dos Trinta Anos.
A Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, primeiro grande conflito armado dos tempos
modernos, envolveu grande parte da Europa. Essa grande confrontação do século XVII poria
termo ao período de um século de disputas entre católicos e protestantes e daria início a um
novo sistema europeu de relações internacionais cujos fundamentos alcançariam o século XXI.
Importante lembrar que a Espanha, católica, era a potência hegemônica no início do século
XVII. O domínio de Felipe III (1598-1621) abrangia toda a Península Ibérica, as colônias da
América, incluindo o Brasil, o sul da Itália, Milão, ilhas no Mediterrâneo, Filipinas e enclaves na
África.
Especialmente equivocada foi a decisão espanhola de ser defensora da fé católica. Isso não
apenas fez ressurgir, em grau muito maior, as guerras religiosas do século anterior, mas
também levou a Espanha a perder a sua condição de principal potência do continente europeu.
O século XVII, ressalta Jaguaribe (2001, p. 485), “foi marcado pelos conflitos religiosos mais
agudos já ocorridos no ocidente. Herdados do século precedente, eles culminaram na Guerra
dos Trinta Anos (1618-1648)”, que foi, pois, a tentativa militar dos católicos de conter o
protestantismo.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr7.html
Antes de entrarmos diretamente na Guerra dos Trinta Anos, convém um rápido parêntese. Em
1556, o Imperador Carlos V, após ter assinado a Paz de Augsburgo, abdicou e dividiu em dois
os seus domínios: de um lado, a Espanha, Países Baixos, colônias americanas e Itália ficaram
para seu filho Felipe II (no mapa, em laranja); de outro, a Áustria, que ficou com seu irmão
Fernando (em amarelo). Com isso, a família Habsburgo ficou dividida em dois ramos, ambos
católicos e, freqüentemente, aliados.
pág. 12
A Guerra
A Guerra dos Trinta Anos começou quando os boêmios (...) tentaram colocar
no seu trono um rei protestante. Os Habsburgos austríacos e espanhóis
reagiram, mandando um exército ao reino da Boêmia; de súbito, todo o
império foi forçado a tomar partido dentro de linhas religiosas. A Boêmia
sofreu uma devastação quase inimaginável: três quartos de suas cidades
foram saqueadas e queimadas e sua aristocracia foi praticamente
exterminada.
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batalha naquele ano. A possibilidade de paz entre Fernando II e os príncipes alemães leva à
cena um novo Ator, a França, preocupada com a excessiva força que poderia ter a Áustria.
Convém reproduzir mais algumas das conclusões de Kissinger (1999, p. 63): “o objetivo de
Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da França, exaurir os Habsburgos e impedir
a emergência de uma grande potência nas fronteiras da França – especialmente na fronteira
alemã. Seu único critério para alianças era que elas atendessem aos interesses da França,
aplicado primeiramente aos estados protestantes, mais tarde até ao Império Otomano
muçulmano”.
Assim, a conduta da França reflete a maneira racional e pragmática como as grandes Potências
atuam no cenário internacional. Apesar de católica, a França não hesitou em aliar-se aos
protestantes para se contrapor à hegemonia espanhola. Essa conduta garantiria o
fortalecimento da França nos anos seguintes, de modo que, com o fim da Guerra e o declínio do
poder espanhol, o Estado francês assumiria o papel de nova Potência hegemônica no
continente.
A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westfália (1648) e uma Nova
Ordem seria estabelecida no cenário europeu e, conseqüentemente, nas relações internacionais
da Era Moderna.
Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o sítio “Vultos e episódios da
Época Moderna”.
pág. 13
A paz foi alcançada porque a guerra, após as suas várias fases, se mostrou impossível de ser
vencida de maneira efetiva. Segundo Jaguaribe (2001, p. 483), “se foi possível chegar
finalmente a um acordo negociado, depois de disputas ferozes, isso se deveu à incapacidade
dos Atores em conflito de impor pela força os seus respectivos dogmas”.
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O primeiro dos tratados, assinado em janeiro de 1648, pôs fim à guerra entre Espanha e
Holanda. Em outubro do mesmo ano, pressionada por seus aliados alemães, a Espanha também
selou a paz com os franceses.
Carpentier e Lebrun (1993, p. 229) anotam que a Europa era “politicamente muito diferente da
de 1560 ou 1600. A Casa da Áustria já não era um perigo para a paz européia.(...) A Espanha,
enfraquecida e amputada, já se não contava entre as potências de primeira plana. A Inglaterra,
saída do isolamento em que havia ficado a seguir à guerra civil(...), as Províncias Unidas
[Holanda], independentes e aumentadas, a Suécia, dominadora do Báltico, eram já grandes
potências (...). O facto essencial era, todavia, a situação de preponderância adquirida pela
França. O reino (...) não só era mais vasto e mais bem defendido como também dispunha de
uma clientela em que se contavam quase todos os países europeus. De resto, o prestígio
intelectual e artístico da França não cessava de crescer. Começara a era da preponderância
francesa na Europa”.
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr9.html
pág. 14
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O legado de Westfália
Importante sublinhar que o Tratado de Westfália marca o fim de cento e cinqüenta anos de
conflito entre os nascentes Estados europeus e o fim das ambições dos Habsburgos. Nasce,
então, um novo tipo de Sistema Internacional, cujos Atores eram, essencialmente, os Estados.
Além disso, a história posterior da Europa caracterizar-se-ia pelo princípio da anti-hegemonia,
isto é, os Estados agiriam no sentido de evitar que um se tornasse a potência hegemônica
(balanço de poder). O Tratado de Westfália, assim, foi responsável por grandes mudanças no
sistema internacional europeu. Ao contrário de boa parte dos acordos e pactos que eram
firmados anteriormente, ele não serviu apenas para pôr fim a um conflito, mas também para
tornar o Estado o principal Ator das relações internacionais. Além disso, os Estados,
independentemente do tamanho, se viram como iguais e participantes de um mesmo Sistema
Internacional.
Essa situação político-jurídica perdura até os nossos dias, apesar de haver hoje,
particularmente da parte dos EUA, um forte movimento supranacional intervencionista, com o
objetivo de suspender as garantias de privacidade de qualquer Estado frente a uma situação de
emergência ou de flagrante violação dos direitos humanos.
pág. 15
A história européia após o tratado de Westfália é a contínua busca, por parte da França, de
obtenção da hegemonia européia e a resistência, por parte dos demais Atores europeus, a esse
intento. Na busca desses objetivos, imperam as relações pragmáticas e as alianças de ocasião.
No século que se seguiu à Paz de Westfália, “a raison d’état [razão de estado] passou a ser o
princípio orientador da diplomacia européia”, registra Kissinger (1999, p. 66).
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr11.html
pág. 16
A segunda fase vai de 1740 a 1792 e se caracteriza pela preponderância marítima da Inglaterra
e pelo equilíbrio das potências continentais. “A luta, no mar e nas colônias, entre a Inglaterra –
onde, a despeito das tendências de poder pessoal de Jorge III, prosseguia a evolução para o
regime parlamentar – e a França – onde o absolutismo de Luís XV e Luís XVI enfrentava
dificuldades cada vez maiores – veio a dar a vantagem à Inglaterra, que se tornou a primeira
potência mundial graças à sua superioridade marítima e ao avanço resultante dos começos da
revolução industrial. Na Europa Central e Oriental, a Prússia de Frederico II, a Áustria de Maria
Teresa e José II e a Rússia de Isabel e de Catarina II eram concorrentes entre si, mas
equilibravam-se e chegaram a acordo para crescer à custa do Império Otomano e da Polônia,
que foi totalmente desmembrada” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 247).
O último período vai de 1792 a 1815 e se caracteriza por ser o momento do apogeu e do
fracasso do projeto de uma Europa francesa. “Entre 1789 e 1815, a Europa respirou ao ritmo
da França. A ‘Grande Nação’ impôs-se, primeiro, pela força das idéias e, depois, pela das
armas. De 1792 até 1815, a guerra opôs permanentemente a França às monarquias européias.
Napoleão Bonaparte, herdeiro dessa guerra, tentou construir uma Europa Continental francesa.
Mas a obstinação britânica, que inspirava e financiava as diversas coligações das coroas,
acabaria por vencer o Grande Império. A França foi, então, vítima não só dos reis como
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também dos povos, cujos sentimentos ajudara a despertar” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p.
277).
Assim, o sistema passou a gravitar em torno da França. Essa ordem começou a ruir quando
modificou-se o equilíbrio de poder no continente, em virtude de transformações radicais no
interior do hegemon. A maior dessas transformações foi a Revolução Francesa, que abalou a
estrutura de poder no interior da Potência hegemônica e acabou repercutindo em todo o
continente – chegando inclusive ao Novo Mundo – com as guerras napoleônicas.
Mais um livro útil como referência sobre o período a partir de uma perspectiva de
Relações Internacionais, além do já sugerido anteriormente - “Ascensão e Queda das
Grandes Potências", de Paul Kennedy -, é "Diplomacia", de Henry Kissinger.
Para fixar o conteúdo desta Unidade, assista aos vídeos A Evolução do Homem e
Navegar é Preciso, da nossa série Conexão Mundo.
Caso não esteja seguro com relação ao domínio de tal conteúdo, reveja suas
anotações pessoais, releia a unidade. Você pode também consultar o seu
Tutor, em caso de dúvidas, por meio da "Mensagem" localizada no
menu Comunicação da Plataforma de Educação a Distância - Trilhas.
Atividades de autoavaliação
-
No menu lateral, acesse em "Avaliações" a opção referente à unidade/módulo
estudado (M2U1).
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Objetivos da Unidade:
Ao concluir o estudo desta Unidade, o aluno deverá ser capaz de discorrer sobre os
principais aspectos das relações internacionais do século XIX, particularmente sobre:
pág. 01
A Revolução Francesa
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Regime. Apesar disso, os ideais revolucionários se expandiriam para muito além das fronteiras
do Reino da França.
Mapa 9: A Europa à época da Revolução Francesa
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr13.html
Registre-se que essa ressonância da Revolução Francesa foi tanto prática quanto simbólica. A
Revolução foi marcante por ter atingido a principal monarquia européia e o maior e mais
populoso país europeu (se excluída a Rússia). De fato, as transformações que marcariam a
Europa e a civilização ocidental no século XIX seriam influenciadas diretamente por aquelas
mudanças ocorridas no âmbito doméstico da França, então a Potência hegemônica no
continente. Nesse sentido, podemos perceber como transformações nas Grandes Potências
acabam afetando todo o sistema internacional, proporcionalmente ao grau de poder dessa
Potência.
Denominou-se Antigo
Assim, para os defensores da ordem, a Revolução era Regime à ordem
perigosa porque retirava os alicerces do Antigo Regime. A estabelecida na Idade
título de exemplo, foi apenas em 1789 que, pela primeira Moderna na qual a
vez na história da França, uma Assembléia Nacional foi monarquia absolutista
eleita e aboliu o feudalismo e seus privilégios. Além disso, conjugou-se com as
também naquele ano, a Bastilha, o símbolo do poder real, principais forças políticas da
foi tomada de assalto, palácios foram saqueados e sociedade: por meio do
revoltas ocorreram no campo, com os camponeses se Mercantilismo, a monarquia
sublevando e questionando, de maneira praticamente aliou-se à burguesia e ao
inédita no país, o modelo de servidão estabelecido pelo mesmo tempo manteve-se
sistema feudal. Como se não bastasse, uma Declaração unida à nobreza e ao alto
dos Direitos do Homem e do Cidadão foi proclamada como clero, concedendo privilégios
preparativo para uma Constituição, e a Igreja foi a esses dois últimos grupos,
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/Rev_Emp/revemp3.html
pág. 03
Napoleão Bonaparte
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Vejamos como se deu a influência das idéias e das novas instituições, segundo Duroselle (1976,
p. 8):
pág. 04
Portanto, a Era Napoleônica foi marcada por uma série de conflitos armados ocorridos entre 1799
e 1815, quando a França enfrentou várias alianças de Potências européias. O principal motivo das
campanhas francesas, após 1789, era defender e difundir os ideais da Revolução Francesa, mas,
com a ascensão de Napoleão, o objetivo passou a ser a expansão da influência e do território
franceses. O império napoleônico chegou a dominar parte significativa da Europa. Napoleão
sonhava com uma Europa em que, sob a hegemonia francesa, não houvesse mais espaço para as
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estruturas absolutistas do Antigo Regime. Nessas regiões, as sementes dos ideais revolucionários
de 1789 foram plantadas e germinariam nas décadas seguintes. Para a contenção do
expansionismo francês, foram necessárias várias coalizões das Grandes Potências.
No Mapa 11 pode-se ter a idéia da dimensão do Império Napoleônico em seu apogeu (em verde).
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/Rev_Emp/revemp4.html
pág. 05
Em 1812, Napoleão conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos chegando até Moscou.
Entretanto, a vitória logo se converteu em grande derrota. Os russos simplesmente
abandonaram Moscou, depois de destruir os campos cultivados e de incendiar a cidade. Sem
abrigo ou provisões, o exército francês, enfrentando o rigoroso inverno, foi obrigado a deixar a
Rússia sob o intenso fogo do exército russo, perdendo aproximadamente 95% dos cerca de 600
mil homens que participaram da desastrosa campanha.
Em 1814, um grande exército da 6.ª Coalizão invadiu a França e ocupou Paris. Napoleão,
obrigado a renunciar, foi exilado na Ilha de Elba (próxima da Córsega, sua terra natal), e a
monarquia francesa restaurada com Luís XVIII, irmão de Luís XVI. Os membros da Coalizão
reuniram-se, então, no Congresso de Viena para restaurar as monarquias na Europa.
No entanto, enquanto era traçado o novo mapa europeu, em março de 1815 Napoleão fugiu de
Elba, voltou à França, e iniciou a formação de um novo exército. O rei enviou uma guarnição de
soldados para prendê-lo, mas estes aderiram a Napoleão. Luís XVIII fugiu para a Bélgica.
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O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranças trazidas pelos 25 anos
anteriores. Os homens que reconstruíram o mapa da Europa em 1815 o fizeram preocupados
em evitar que a ordem sofresse novos abalos. Apesar de todos os negociadores serem
adversários da Revolução, estavam perfeitamente conscientes de que a Europa de 1815 não
poderia voltar a ser aquela de 1792. Não obstante, estavam determinados a evitar novas
catástrofes. Para isso, seriam utilizados dois princípios: o da legitimidade e o do equilíbrio
europeu. Nas palavras de Duroselle (1976, p. 4):
Como resultado dos debates de Viena, o mapa da Europa sofreu alterações importantes que
refletiam a nova configuração de poder estabelecida pelas Grandes Potências. A Alemanha, por
exemplo, passou de 300 Estados para 38 (comparar o Mapa 12 com o Mapa 11).
Um fato, porém, não pode ser deixado de lado. Na conformação do novo sistema de equilíbrio
europeu, a França continuava a grande preocupação. Sua condição hegemônica tinha sido
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pág. 07
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix1.html
Até 1830, o equilíbrio europeu foi assegurado graças aos entendimentos entre Inglaterra,
Rússia, Áustria e Prússia – os “Quatro Grandes” – e à estabilização política da França. Como
resultado de habilidosa diplomacia, já em 1818 os franceses conseguiram associar-se à política
de garantia da ordem na Europa. Estava estruturado o Concerto Europeu, por meio do qual as
Grandes Potências européias conduziriam o continente por décadas. O equilíbrio de forças entre
Inglaterra, Rússia, Áustria, Prússia e França garantia a estabilidade, uma vez que nenhum
desses Estados ou qualquer outro país europeu era suficientemente poderoso para enfrentar
sozinho uma coalizão formada pelos demais. Assim, estabelecia-se um verdadeiro consórcio
entre as Grandes Potências européias, que lhes permitiu projetar seu poder sobre toda a
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Europa e pelo mundo. O século XIX seria o século da Paz na Europa e da hegemonia européia
sobre todo o planeta.
A partir de 1815, a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. A Inglaterra,
por exemplo, divulgava mais e mais o liberalismo político e econômico, e a expansão desses
ideais liberais foi um dos objetivos da política externa inglesa no século XIX, pela qual os
britânicos atuaram, direta ou indiretamente, na independência das colônias espanholas e
portuguesas na América e na organização dessas novas nações americanas. Da mesma forma,
os russos cada vez mais se preocupavam com a decadência e o fatiamento territorial do
Império Otomano. Isso explica, em grande parte, a concorrência e a inimizade que iriam marcar
as relações entre Inglaterra e Rússia em boa parte do século XIX.
A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os Estados
europeus, o que permitia certa estabilidade no cenário internacional. Apesar desse quadro de
tranqüilidade, o século XIX foi tempo de revoluções tanto políticas quanto econômicas.
Politicamente, houve três grandes ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848. O período entre
1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de preços, ou seja, período de grande
tensão. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 1848, bem como as investidas contra-
revolucionárias, estão indicadas nos Mapas 13 a 15.
A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês
na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. Propagou-se o sistema parlamentar
(com inspiração no modelo britânico) de qualificação por propriedade (voto censitário) sob
monarquias constitucionais.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix4.html
pág. 09
A França era o ponto de irradiação, dada a classe média liberal e radical que se formara com o
movimento jacobino na época da Revolução Francesa. Em 1830 também já era possível notar o
aparecimento de uma classe operária como uma força política autoconsciente e independente,
que começava a reunir os jacobinos mais extremados. Já em 1848 a agitação popular tornava-
se contrária à classe média liberal (o “perigo vermelho”).
No Mapa 14, as setas vermelhas indicam a difusão da nova onda revolucionária francesa e, as
setas verdes, a difusão da onda austríaca. As estrelas vermelhas e verdes apontam os centros
revolucionários.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix5.html
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix6.html
De uma forma geral, as revoluções de 1848 foram revoluções sociais de trabalhadores pobres.
Quando se viram diante da revolução “vermelha” (ameaça à propriedade), os moderados
liberais e os conservadores se uniram. Os trabalhadores ficaram isolados diante da união de
forças conservadoras e ex-moderadas aliadas ao velho regime. Com essa aliança, os regimes
conservadores restaurados estavam preparados para fazer concessões ao liberalismo
econômico. A década de 1850 viria a ser, de fato, um período de liberalização sistemática: fim
da legislação de guildas e liberdade para se praticar qualquer forma de comércio; fim do severo
controle estatal sobre a mineração; realização de uma série de tratados de livre-comércio etc.).
Nesse momento, a burguesia deixava de ser uma força revolucionária.
Esses fatos abriram o caminho para a Revolução Industrial, a partir da segunda metade do
século XIX (vários autores se referem a ela como “Segunda Revolução Industrial”, para
distingui-la do avanço industrial no século XVIII). Com a retirada da nobreza e a diversificação
das formas de se fazer dinheiro (início da chamada haute finance – conjugação dos capitais
comercial e financeiro), as décadas de 1850 e 1860 foram prósperas e capazes de incorporar os
cidadãos instruídos ao mercado de trabalho.
pág. 11
De 1850 até pelo menos 1873, o tempo foi de prosperidade. Como observa Duroselle (1976, p.
21), a prosperidade, “interrompida por alguns recessos, rompe o ímpeto revolucionário. Este só
voltará a ressurgir na França em 1869, aproximadamente. Com um nível de vida
momentaneamente acrescido, as massas toleram mais facilmente o jugo, se tiverem a
impressão de que o poder favorece a expansão.”
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vermelho”. Na França, Napoleão III ascendeu República Francesa, deu um golpe de estado
ao poder, criando o II Império. em 1851, que lhe permitiu assumir poderes
ditatoriais e transformar a Segunda República
A outra grande revolução européia foi de no Segundo Império. Entre as ações de
natureza econômica, como já referido, com a política externa de Napoleão III, estão a
intervenção na Guerra da Criméia, o apoio ao
Revolução Industrial. Após 1850, a economia
Piemonte nas guerras que enfrentou como
européia se expandiu com rapidez. Novas
conseqüência da unificação italiana e a
máquinas e novas tecnologias apareceram
promoção e instalação de um efêmero
por toda parte.
Império no México, na pessoa de seu
sobrinho, Maximiliano da Áustria. Em 1870,
por ocasião da Guerra Franco-Prussiana, a
derrota do Exército francês na batalha de
Sedan provocou o aprisionamento do
Imperador, cujo regime foi derrotado.
pág. 12
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix3.html
pág 13
A Europa de 1815 foi construída sobre o princípio de que era essencial preservar o continente
de uma possível ameaça francesa. Assim, no redesenho do mapa continental, o princípio da
nacionalidade fora deixado em segundo plano. Nem por isso, no entanto, inexistia a afirmação
da nacionalidade.
O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionárias da primeira metade do século XIX. O
nacionalismo se propagou a partir da classe média e teve nas escolas e nas universidades seus
grandes defensores. Vários movimentos nacionalistas jovens começaram a se espalhar a partir
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das revoluções de 1830: a Jovem Itália, a Jovem Polônia, a Jovem Suíça, a Jovem Alemanha, a
Jovem França e a Jovem Irlanda.
pág. 14
A Unificação da Itália
A unificação da Itália foi resultado de uma habilidosa Camillo Benso, conde de Cavour
política externa e do aproveitamento das (1810-1861), político italiano, foi
oportunidades quando elas surgiram. O artífice desse Presidente do Conselho em 1852.
processo foi Cavour, primeiro-ministro do Estado do Aliou-se a Napoleão III contra a
Piemonte (norte da península itálica). Ele conseguiu, Áustria, porém este firmou a paz
graças às alianças com Napoleão III, um aliado em 1859 sem consultá-lo. Cavour
contra os austríacos que ocupavam o norte da Itália. demitiu-se quando Victor Emanuel
A sua primeira vitória se deu em 1858. Em troca da II, Rei da Sardenha, aceitou as
cessão da cidade de Nice e da região de Sabóia, condições do Imperador francês.
Cavour obteve a promessa de auxílio da França ao No início de 1860, ajudou
Piemonte em uma eventual guerra deste contra a Giuseppe Garibaldi na conquista
Áustria. Por ocasião do conflito, entretanto, a ajuda do Reino Das Duas Sicílias.
francesa seria menor do que o esperado, e Napoleão Conseguiu a proclamação do Reino
III, receoso das possíveis implicações que uma da Itália em 17 de março de 1861
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aliança contra a Áustria poderia ter, acabou retirando e de Vítor Emanuel II como seu
seu apoio antes do esperado. Mesmo assim, o primeiro soberano.
Piemonte se viu vencedor e aumentou seu território
com a conquista da Lombardia.
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix7.html
pág. 15
A Unificação da Alemanha
Não seria temerário afirmar que a unificação da Alemanha, ocorrida em 1871, foi, após o
Congresso de Viena, o evento mais importante da política internacional do século XIX. A
unificação alemã provocou o desmoronamento dos fundamentos do equilíbrio internacional
surgidos em 1815 e levou a política internacional ao retorno às lutas irrestritas do século XVIII.
Ademais, seus efeitos estariam diretamente relacionados com eventos marcantes do século
seguinte, como a I e a II Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a integração européia.
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O principal temor dos franceses do século XVII era a unificação alemã. Richelieu, por exemplo,
via na Alemanha unificada uma ameaça potencialmente mais perigosa para a França. A
unificação, entretanto, somente foi possível porque a Prússia conseguiu, ao longo de 150 anos,
construir um Estado forte o bastante para que pudesse, no fim do século XIX, almejar a
preponderância entre os Estados alemães.
Na virada do século, os alemães já deixavam claro que desejavam ocupar seu lugar de
destaque entre as Grandes Potências, sendo fundamental para isso o estabelecimento de um
império colonial e a conquista de novos mercados pelo planeta. Entretanto, as pretensões do
Reich acabariam chocando-se com os interesses das Grandes Potências tradicionais – em
especial, Grã-Bretanha e França –, o que levaria a Europa à Primeira Guerra Mundial, em
agosto de 1914.
pág. 16
Expansão colonial
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Outro aspecto importante da Sociedade Internacional do século XIX é a nova expansão colonial.
Durante todo o século, mas sobretudo em sua segunda metade, desenvolveu-se um processo
de conquistas européias sobre a África e Ásia, denominado Neocolonialismo. Na virada do
século, praticamente todo o continente africano, à exceção da Etiópia e da Libéria, estava sob
jugo das Potências européias como parte de seus impérios coloniais.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix8.html
pág. 18
Os EUA começaram a se projetar como Potência após a violenta Guerra Civil, travada para
impedir a separação dos estados do sul do país. Pouco antes, os norte-americanos haviam
consolidado o seu processo de expansão colonial às expensas do México. Além disso, em 1867,
compraram da Rússia o Alasca e, após derrotarem a Espanha, em 1898, adquiriram Porto Rico,
Filipinas e um virtual controle sobre Cuba. Da mesma forma, o Oceano Pacífico tornava-se uma
área de projeção de poder dos EUA.
O Japão é outro exemplo de rápido crescimento econômico. Até 1854, mantivera-se fechado ao
exterior. Nesse ano, uma esquadra norte-americana forçou o país a abrir-se e aceitar o
comércio com o exterior. “Decidido a preservar a independência do país, um grupo de samurais
(...) tomou o governo. A Restauração Meiji de 1867, como ficou conhecido esse episódio,
devolveu o poder ao imperador” (PERRY, 1999, p. 473).
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Inspirado por uma forte ideologia nacionalista, o governo Meiji iniciou um importante conjunto
de reformas: os privilégios sociais foram eliminados, o serviço militar obrigatório foi implantado,
uma Constituição foi elaborada e passou a existir parlamento. Além disso, a economia foi
rapidamente modernizada. Fábricas foram instaladas, tecnologia européia foi comprada,
ferrovias, portos, estradas e telégrafos instalados. Em menos de 20 anos, o novo poder japonês
dava sinais de existência: em 1894, derrotava a China, e, em 1905, a Rússia.
O Estado-nação
Havia razões políticas e econômicas por trás desse processo. De um lado, a necessidade de um
contrato social voltado para a “coisa pública”, em que os “objetivos públicos” deixariam de ter
nos corpos estamentais de privilégios os intermediários da ação político-administrativa estatal;
e, de outro, a necessidade de facilitar a circulação dos bens num território, através da redução,
simplificação e uniformização do sistema tributário (com a superação da fragmentação
legislativa e do patrimonialismo fiscal), e de estimular o equilíbrio entre as regiões de um
Estado e o aumento das trocas inter-regionais.
Uma das conseqüências desse processo foi a anulação sistemática das tradições locais de vários
povos; ou seja, a partir das várias identidades dever-se-ia inventar uma identidade nacional
que integrasse a população em novos referenciais de pertencimento, de associação. Assim, os
vários Estados buscaram constituir internamente suas nações. A mesma demanda conjuntural
ocorria nas grandes massas territoriais e étnicas do centro-leste europeu (Império Prussiano,
Império Austro-Húngaro e Império Russo). Todos passaram a buscar pelo caráter de sua nação
e a igualmente se perguntar se de várias nações era possível formar um espírito comum. Enfim,
construir um Estado-nação significou, do século XIX ao XX, não apenas desenvolver uma
economia e uma organização econômico-político-militar viável, mas também agrupar vários
grupos sociais localmente circunscritos com suas línguas, tradições, costumes e leis próprias
num grande agrupamento social politicamente representado e juridicamente nivelado por um
Estado laico regido por um conjunto geral de leis soberanas – a Constituição.
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Esse era o pano de fundo para um século “de extremos”, o século XX, em que os principais
Atores internacionais se confrontariam numa intensidade nunca antes vista na história da
Sociedade Internacional.
pág. 20
Conclusões
O período de 1815 a 1914, quando comparado aos séculos anteriores e ao século XX,
foi de relativa paz para a Europa. Excetuando-se a Guerra da Criméia (1854), não existiram
grandes conflitos entre as principais potências. O sistema de equilíbrio de poder estabelecido no
Congresso de Viena mostrou-se bastante bem-sucedido e só foi desarticulado a partir do
momento em que Bismarck conseguiu unificar a Alemanha.
Após 1871 e especialmente após 1890, a Europa viveu tempos de incerteza. A guerra voltou a
ser considerada alternativa cada vez mais provável. França e Alemanha não poderiam se
reconciliar por causa da Alsácia-Lorena, território que a primeira perdera para a segunda na
Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871. França e Inglaterra estavam envolvidas em um grande
processo de divisão colonial na África. A Inglaterra e a Rússia, por causa da Índia e da Ásia
Central, encontravam-se em permanente estado de tensão. Na Ásia, uma nova Potência surgia:
o Japão.
Além disso, a mais complexa das áreas de conflito não pode ser esquecida: os Bálcãs. Ali, os
interesses contraditórios de Áustria-Hungria, Rússia, Sérvia e Império Otomano fomentavam
uma rivalidade crescente. Uma disputa de poder daria início à I Guerra Mundial (1914-1918),
que, por sua vez, poria fim à “Era dos Impérios”.
Atividades de autoavaliação
-
Acesso pelo menu lateral "Avaliações".
Aqui, na terceira unidade do Módulo II, além da Primeira Guerra Mundial, tema principal, serão
abordados o período Entre-Guerras, o aparecimento de uma Nova Ordem Internacional e a crise
de 29.
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Objetivos da Unidade:
Pág. 01
A I GUERRA MUNDIAL
Para muitos estudiosos das relações internacionais, o século XX não se inicia em 1901, mas em
1914, com a deflagração do maior de todos os conflitos que o mundo presenciara até então: a I
Guerra Mundial. Durante muito tempo chamado de a Grande Guerra, esse conflito, que durou
de 1914 a 1918, iniciou-se na Europa e acabou envolvendo outras nações do globo, inclusive
novas Potências emergentes que não pertenciam ao continente europeu, com destaque para os
EUA e o Japão.
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pág. 03
Os britânicos, por sua vez, temiam as ambições russas na Ásia Central e as pretensões coloniais
francesas na África. Passaram, também, a temer cada vez mais os alemães, principalmente
depois que estes ensejaram uma política de construção naval em 1897. Além disso, a Alemanha
unificada revelou-se formidável concorrente econômica, superando os ingleses em áreas como
química, siderurgia e energia, mostrando-se, por fim, a partir da queda de Bismarck, mais e
mais interessada em estabelecer um império colonial e disputar espaço com outros países
europeus na África e Ásia.
A Áustria-Hungria era percebida, assim como a Rússia e o Império Otomano, como a Potência
decadente da Sociedade Européia. Cercados por todos os lados, os austríacos tinham interesses
conflitantes com os russos e com os eslavos da península balcânica. Além disso, sendo um país
multiétnico, o Império Austro-Húngaro defrontava-se com crescentes pressões domésticas das
minorias internas que desejavam maior autonomia. Cada vez mais, a Áustria-Hungria
sustentava sua segurança no apoio da Alemanha. Tratados de não-agressão e assistência
recíproca foram celebrados entre os dois Estados germânicos nos anos anteriores à I Guerra
Mundial.
O temor de Bismarck de ver a Alemanha ameaçada nos fronts oriental e ocidental tornou-se
realidade, em grande parte, em virtude da política externa de Guilherme II. Preocupado em
mostrar-se forte e influente, mas sem a habilidade política de Bismarck, o Kaiser acabou
atraindo para si muitos inimigos. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram, principalmente,
para fazer frente ao poderio alemão.
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Para agravar a situação, as políticas governamentais nas Potências européias eram ditadas por
ânimos nacionalistas e não havia nenhuma instituição internacional que pudesse mediar
conflitos. O Congresso de Viena há muito deixara de ter importância e nada de significativo
surgira em seu lugar. É verdade que existia, desde 1899, a Corte Internacional de Justiça de
Haia. Infelizmente, no entanto, ela se mostrou ineficaz. A paz anterior a 1914 era obtida pelas
ameaças mútuas, e não pelas decisões da Corte de Haia. A guerra, por sua vez, era articulada
por meio de alianças secretas entre as Potências: era a diplomacia secreta que marcava as
relações internacionais da Europa até a I Guerra Mundial.
Ainda sobre a Grande Guerra, indica-se Coronel Redl, de István Szabó, que mostra o
funcionamento do exército austro-húngaro às vésperas da Primeira Guerra. Preste
atenção no modo como a organização militar se fundava em valores como tradição e
separação em classes.
pág. 04
Assim, as relações internacionais às vésperas da I Guerra Mundial eram marcadas pela disputa
entre as Grandes Potências por mercados e pelo interesse das novas Potências, em especial a
Alemanha e a Itália, de possuírem impérios coloniais e de se equipararem às principais
Potências coloniais européias. Também caracterizava as relações internacionais anteriores à
Grande Guerra uma significativa corrida armamentista entre os principais Atores europeus, com
rivalidades que afloravam entre eles e refletiam-se em um sistema de alianças estabelecidas,
na maior parte das vezes, por meio da diplomacia secreta.
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As diferenças entre as Potências eram, ademais, significativas. Na arena européia havia novas
Potências, como a Alemanha e a Itália, que desejavam ampliar seu poder e tinham interesses
conflitantes com as Grandes Potências tradicionais e ainda poderosas Grã-Bretanha e França,
que buscavam manter-se na liderança da Sociedade Internacional a qualquer custo. Havia,
ainda, os grandes impérios em decadência – o Império Russo, o Império Austro-Húngaro e o
Império Otomano – que, em virtude das dificuldades domésticas, em especial dos movimentos
nacionalistas separatistas em seu interior, viam-se enfraquecidos demais para permanecerem,
ainda durante muito tempo, em condição de igualdade com a Grã-Bretanha, a França e a
Alemanha.
No início do século XX, a estrutura do Concerto Europeu fora definitivamente substituída pela
política de alianças. De um lado, ainda sob a articulação de Bismarck, as chamadas Potências
Centrais – Alemanha e Áustria – assinaram com a Itália, em 1882, o Tratado da Tríplice Aliança,
que dava a cada parte garantia de assistência das demais em caso de ataque por uma Potência
externa. Como resposta à Tríplice Aliança, franceses, britânicos e russos constituíram a Tríplice
Entente, a qual reuniria as Potências aliadas na Grande Guerra.
A Europa, antes de 1914, viu-se, pois, em uma série de crises. Após sobreviver a duas ou três
realmente graves, o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-
húngaro, foi o estopim que deu início ao conflito.
pág. 05
A Sérvia, por sua vez, como país eslavo, acreditava que contaria com o apoio da Rússia. Como
em um dominó, o sistema de alianças fez com que a guerra entre austríacos e sérvios atingisse,
também, alemães e russos. Estes últimos, graças a outra aliança, atraíram para o conflito os
franceses. Os ingleses entraram na guerra para defender a Bélgica, país que fora invadido pelos
alemães. Assim, um sistema de alianças rígido e um sistema de mobilização militar conduziram
os europeus para a
Guerra. De um lado, estavam Inglaterra, França, Rússia e Sérvia. De outro, Alemanha e Áustria
-Hungria. Durante o desenrolar do conflito, muitos outros países se envolveriam. O Mapa 20
retrata essas alianças às vésperas da I Guerra Mundial.
Mapa 20
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Fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=mapastematicos
Sobre a Guerra... As hostilidades se iniciaram quando, diante da ineficácia das gestões diplomáticas, a Áustria declarou
guerra à Sérvia, em 28 de julho de 1914. A Rússia, aliada dos sérvios, mobilizou-se contra a Áustria, e a Alemanha, aliada
do Império Austro-Húngaro, declarou guerra à Rússia em 1.º de agosto. As tropas alemãs cruzaram a fronteira de
Luxemburgo, em 2 de agosto, e, no dia seguinte, 3 de agosto, a Alemanha declarou guerra à França, a qual era aliada da
Rússia. O governo britânico declarou guerra à Alemanha no dia 4 de agosto, em virtude de os alemães terem violado a
neutralidade belga, da qual os ingleses eram garantes. A Itália permaneceria neutra até 23 de maio de 1915, quando, então,
declarou guerra à Áustria-Hungria. O Japão declarou guerra à Alemanha em 23 de agosto de 1914 e, em 6 de abril de 1917,
os Estados Unidos fizeram o mesmo.
pág. 06
A Guerra
Inicialmente, os que iam para o front acreditavam que a guerra terminaria em poucas semanas.
Não é falso dizer que os soldados, de ambos os lados, iam para a guerra entusiasmados pelo
fervor nacionalista, acreditando que alcançariam vitória fácil e rápida. Infelizmente, no entanto,
o conflito acabou por ser longo e penoso.
Durante décadas, cada um dos países fez planos detalhados. Os alemães, por exemplo, tinham
o famoso Plano Schlieffen. Elaborado pelo general Schlieffen, previa o pior cenário possível:
uma guerra em dois fronts – um contra a França, outro contra a Rússia. Para o sucesso do
plano, era necessária uma rápida vitória contra os franceses, para, depois, vencer a Rússia.
Temerário, arriscado e de difícil execução, o plano acabou por fracassar. A almejada rápida
vitória contra os franceses acabou transformando-se na estática guerra de trincheiras, que
durou a maior parte dos quatro anos de conflito.
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Os russos assumiram a ofensiva, na frente oriental, no início da guerra, mas foram detidos
pelos exércitos austríacos e alemães. Em 1915, as Potências Centrais haviam conseguido
expulsar os russos da Polônia e da Lituânia e tinham tomado todas as fortalezas limítrofes da
Rússia, que ficou sem condições de empreender ações importantes por falta de homens e de
suprimentos. O fracasso na guerra contribuiria para o aumento da crise político-institucional
interna da Rússia, que culminaria na deposição do czar, no estabelecimento de um governo
republicano e na revolução bolchevique de outubro de 1917.
Nos Bálcãs, em 1915, os austríacos, com apoio dos búlgaros, conseguiram derrotar e ocupar a
Sérvia. Eclodiram duas lutas na região em 1916: o ataque conjunto de sérvios e italianos às
forças búlgaras e alemãs e uma ofensiva aliada sobre a Macedônia.
O triunfo obtido pelos alemães contra os russos e sérvios, em 1915, deu-lhes condições de
concentrarem suas operações na frente ocidental. Desencadearam a batalha de Verdun em 21
de fevereiro, mas não conseguiram conquistar esta cidade devido à contra-ofensiva do general
francês Henri Philippe Pétain. Os aliados contra-atacaram, por sua vez, na batalha do Somme,
iniciada em 1º de julho e na qual os britânicos usaram pela primeira vez carros de combate
modernos. Os franceses empreenderam nova ofensiva em outubro, restabelecendo a situação
que existia antes de fevereiro. Todos esses movimentos podem ser vistos no Mapa 21.
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre14_18/gun7.html
Essas batalhas de 1916 já revelavam quão assustadoramente mortífera seria a Grande Guerra:
nos cinco meses da batalha de Verdun, “os exércitos franceses e alemães sofreram mais de
seiscentas mil baixas (mortos, feridos e desaparecidos) e, no primeiro dia da batalha do Somme
(...), o exército britânico (...) teve vinte mil mortos e quase quarenta mil feridos. No
monumento em Thiepval, dedicado aos soldados britânicos mortos em pouco mais de um ano
em Somme, há mais de setenta mil nomes, exclusivamente daqueles cujos corpos nunca foram
encontrados” (ROBERTS, 2002, p. 682).
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A guerra continuaria estática. Os exércitos dos dois lados acabaram fincando posições que se
manteriam por meses. A guerra de trincheiras, com homens com lama até o pescoço, enfiados
em valas imundas e sujeitos a doenças, como cólera e tifo, e a ataques da artilharia inimiga,
alguns empregando gases letais, seria uma traumática realidade quotidiana pela qual a Grande
Guerra seria lembrada. Nesse sentido, a I Guerra Mundial seria distinta de todas as que a
precederam e, de fato, também dos conflitos seguintes, nos quais a guerra dinâmica, de
velocidade, seria a regra. Em resumo, nos primeiros três anos que se seguiram a 1914, poucas
conquistas houve por parte de ambos os lados além daquelas obtidas nos primeiros meses da
guerra.
Em 1917, os aliados tiveram um revés: a Rússia saiu da guerra. Em março daquele ano, uma
revolução culminou na implantação de um governo provisório e na abdicação do Czar Nicolau II.
Em novembro (outubro no calendário russo), uma nova revolução, liderada pelos bolcheviques,
derrubou o governo provisório e tomou o poder. As autoridades russas propuseram à Alemanha
a cessação das hostilidades. Representantes da Rússia, Áustria e Alemanha assinaram o
armistício em 15 de dezembro, cessando, assim, a luta na frente oriental. Os alemães puderam
redirecionar suas forças para o front ocidental.
Outro filme muito interessante é O Batalhão Perdido, de Russell Mulcahy (EUA, 2001,
92 min), que conta a história real de um batalhão norte-americano que se perde no
meio das linhas alemãs durante a I Guerra Mundial.
Várias nações latino-americanas, entre elas o Peru, o Brasil e a Bolívia, apoiariam a ação dos
EUA. O afundamento de alguns navios levou o Brasil, em 26 de outubro de 1917, a participar
da guerra, enviando uma divisão naval em apoio aos aliados. Aviadores brasileiros participaram
do patrulhamento do Atlântico, navios do Lóide Brasileiro transportaram tropas norte-
americanas para a Europa e uma missão médica foi enviada para a França.
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Apesar da entrada dos EUA no conflito, os primeiros meses de 1918 não foram favoráveis às
Potências aliadas. O Mapa 22 ilustra a disposição das forças no início de 1918 (comparar com o
Mapa 21). Em 3 de março, a Rússia assinou o Tratado de Brest-Litovsk, com o qual punha
oficialmente um fim à guerra com os Impérios Centrais. Em 7 de maio, a Romênia, derrotada,
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Mapa 21
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre14_18/gun8.html
pág. 10
Em 1918, no entanto, a luta nos Bálcãs foi catastrófica para os Impérios Centrais. Uma força de
cerca de 700.000 soldados aliados iniciou uma grande ofensiva contra as tropas alemãs,
austríacas e búlgaras na Sérvia. Os búlgaros, derrotados, assinaram um armistício. Além disso,
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os aliados obteriam a vitória definitiva na frente italiana entre outubro e novembro. A comoção
da derrota provocou rebeliões revolucionárias no Império Austro-Húngaro, que se viu obrigado
a assinar um armistício em 3 de novembro. O Imperador Carlos I abdicou oito dias depois, e,
em 12 de novembro, foi proclamada a República da Áustria.
A frente turca também caiu. As forças britânicas tomaram o Líbano e a Síria, ocupando
Damasco e outros pontos estratégicos. A Marinha francesa, por sua vez, ocupou Beirute, e o
governo otomano solicitou um armistício.
Depois da paz em separado com a Rússia, a Alemanha tentou uma ofensiva final contra a
França. Nesse momento derradeiro, porém, os alemães tiveram que enfrentar as recém-
chegadas tropas americanas. Cansados e com parcos recursos materiais, os germânicos
fracassaram em seus ataques finais. Depois de quatro anos, a exaustão atingiu todos os países
combatentes, enquanto os EUA acabavam de entrar no conflito. Em fins de 1918, os principais
aliados da Alemanha – Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária – pararam definitivamente de lutar.
Áustria-Hungria e Turquia simplesmente se desmancharam depois de quatro anos de combate.
A Alemanha, sob pressões internas e externas, pediu a paz. O Kaiser Guilherme II abdicou e o
país se transformou em república. A Alemanha, ao contrário de seus aliados, não se
desintegrou, e o armistício foi feito antes que o seu território fosse invadido. Isso teria grandes
implicações simbólicas posteriormente.
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O saldo da guerra foi a morte de mais de 8 milhões de pessoas. Outras 10 milhões de pessoas
ficaram inválidas. Economicamente, o trauma foi profundo. A França gastou 30% da riqueza
nacional e a Inglaterra, 22%. A produção industrial caiu entre 30 e 40%. Além disso, enormes
dívidas foram contraídas para pagar a guerra. Nunca o mundo assistira a uma hecatombe de
tamanhas proporções, com tantas baixas, tantos mutilados e tanta destruição.
Sob a ótica das relações internacionais, a Grande Guerra provocou mudanças profundas no
equilíbrio de poder no mundo. Os velhos impérios, que foram protagonistas da política entre as
nações nos quatro séculos anteriores, desaparecem. O II Reich chega a termo e uma frágil
democracia é estabelecida na Alemanha, que continuava como Ator de destaque no cenário
europeu e cuja recuperação influenciaria definitivamente os destinos da Europa e o sistema
internacional. Grã-Bretanha e França, apesar de vencedoras da Grande Guerra, foram
obrigadas a admitir que uma nova configuração de poder seria estabelecida, com dois Atores
não-europeus tremendamente importantes, o Japão e a nova Potência que se afirmava, os EUA.
Terminado o conflito, que deveria ter sido rápido e fácil, a Europa estava em situação
lamentável e não mais teria forças para estar à frente da Sociedade Internacional. Os EUA já
deveriam ser consultados sobre os destinos do sistema internacional e, no Oriente, o Japão
avocava sua parcela de influência. E essas transformações estavam apenas começando... O
mundo já dava sinais de deixar de ser eurocêntrico. A Primeira Guerra Mundial foi a grande
tragédia européia.
A Grande Guerra foi um evento marcante na história da humanidade e deu início ao século XX.
Há muitas obras a respeito. Sugere-se, para leitura inicial, o livro de John Keegan, História
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Ilustrada da I Guerra Mundial (Ediouro). Os livros de John Keegan são indicados para
os que se interessam por história militar.
Alguns sítios interessantes sobre a Grande Guerra e também sobre o Brasil no pós-I
Guerra, veja os sítios indicados no Menu de Apoio, escolha a opção Links relacionados
e consulte-os.
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http://blog1.educacional.com.br/default_imprimir.asp?idpost=96161&idBLOG=8662&idusuario=0
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Grã-Bretanha e França, todavia, buscavam defender seus interesses de forma mais incisiva e
pragmática. Os franceses desejavam a reintegração da Alsácia-Lorena a seu território, o
desarmamento alemão e o pagamento de indenizações de guerra. Os ingleses, por sua vez,
queriam o controle sobre a frota e sobre as colônias alemãs. Eram posições antagônicas aos
anseios estadunidenses e refletiam o realismo da política internacional européia do século XIX.
Militarmente, a Alemanha foi desarmada. O exército foi reduzido para 100 mil homens e 4 mil
oficiais. Não mais teria marinha, aviação, tanques ou artilharia pesada. Também não poderia
fabricar material bélico. Por fim, o país se viu obrigado a pagar uma grande indenização
financeira para os
vencedores. Para se ter idéia da indenização que a Alemanha se viu obrigada a pagar, o valor
acordado era tão expressivo que seria pago em parcelas que só acabariam no início da década
de 1980. Claro que esse pagamento não se daria como previsto...
Outros tratados de paz foram firmados entre 1919 e 1923. Como resultado, inúmeros países
surgiram da desintegração do Império Austro-Húngaro, do Império Otomano e do Império
Russo: Finlândia, Letônia, Estônia, Lituânia, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria e Iugoslávia. Um
novo mapa político da Europa era desenhado, com novas nações constituídas do esfacelamento
das colchas de retalho étnicas, que eram os citados velhos impérios.
O Mapa 23 ilustra a nova configuração política européia do pós-I Guerra (em amarelo, os
novos Estados).
Mapa 23
: A Europa em 1924
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre14_18/gun12.html
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A Europa que saía da guerra era bastante diferente daquela que a iniciara. De certo modo, o
impacto da I Guerra para algumas nações européias foi ainda maior do que o da II Guerra
Mundial. Sangrada e traumatizada, a Europa não conseguiu se recuperar por meio dos Tratados
de Paz. Ao contrário de uma paz duradoura, conseguiu-se, apenas, por intermédio de tratados
impiedosos, deixar os alemães desejosos de uma revanche. Diferentemente do Congresso de
Viena (1815), que fora um exemplo de como se obter a paz, Versalhes foi a expressão de raiva
dos vencedores. O resultado é que, vinte anos depois, eclodiria outra guerra mundial.
O Japão, mesmo com papel secundário na I Guerra Mundial, soube tirar proveito do
enfraquecimento das Potências européias. Conseguiu ocupar as possessões alemãs na China e
na Oceania. Além disso, como se envolvera apenas marginalmente no conflito, encontrava-se
pronto para as suas aventuras militares nas décadas de 1920 e 1930 e, posteriormente, na II
Guerra Mundial.
pág. 15
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A Grande Guerra havia sido demasiadamente traumática. Nunca o mundo presenciara tanta
carnificina e destruição em um conflito entre “nações civilizadas”. Os europeus, que haviam
comemorado o início do ansiado conflito, concluíram-no exaustos e dispostos a fazer daquela a
derradeira guerra.
O sentimento mundial e, sobretudo, europeu, ao fim da Grande Guerra, era de que não se
poderia mais tolerar que os povos se dizimassem em um conflito armado, e que a Sociedade
Internacional deveria empreender todos os esforços no intento de garantir um mundo pacífico e
regido pelo Direito, e não pela força.
A Sociedade das Nações, ou Liga das Nações, foi fundada em 28 de abril de 1919. Apesar das
pretensões de Wilson, ela acabou sendo bastante limitada. Um Conselho Permanente, formado
por Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Japão e Itália, serviria como árbitro nas questões
internacionais. Caso não fosse bem sucedido, a Assembléia Geral, composta por todos os
membros, poderia votar sanções morais, econômicas ou militares.
Para fins práticos, os efeitos trazidos pelo advento da Sociedade das Nações foram desprezíveis.
Como exercia, na realidade, pouco poder, quando votava algum tipo de sanção ou de agravo, o
país atingido simplesmente se retirava da Liga. Ademais, a organização já começara
enfraquecida, pois a principal Potência mundial e pátria do seu idealizador, os EUA, acabaram
não aderindo à Liga, por decisão do Congresso norte-americano.
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A Revolução Russa
A Revolução Russa foi um dos eventos mais importantes do século XX, tal como fora a
Revolução Francesa no século XVIII. Surgiu da derrota para o Japão em 1905 (em que disputou
o território da Manchúria), dos escombros da I Guerra Mundial, da disseminação das idéias
socialistas e revolucionárias geradas no século XIX e da incapacidade do governo czarista de
ouvir os anseios populares.
A entrada russa na Grande Guerra, tal como ocorrera em outros países, fora celebrada pelo
povo. O governo de São Petersburgo imaginava que a superioridade numérica da Rússia em
homens seria suficiente para derrotar os alemães. Isso não se mostrou verdadeiro. Apesar de
estar em inferioridade numérica, a Alemanha soube lidar com a incompetência militar e com os
problemas logísticos russos. As derrotas militares não tardaram a surgir e, rapidamente,
transformaram-se em desastres. Além disso, a guerra pressionou, de modo exagerado, a
economia russa: os camponeses foram retirados de suas terras para lutar no fronte, empresas
e indústrias faliram, a inflação corroía o poder de compra e não havia comida suficiente para
abastecer as principais cidades. Em fins de 1916, a Rússia czarista estava à beira do colapso.
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A Revolução Russa e o Stalinismo são o pano de fundo dos filmes Dr. Jivago e Reds de
Warren Beatty. Confira!
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Os bolchevistas eram guiados pelas idéias de Karl Marx e Friedrich Engels, pensadores
comunistas do século XIX. Assim, tinham o objetivo de, uma vez tomado o poder, realizar
profundas mudanças na sociedade. De acordo com Marx, a história se funda na luta de classes
e essa seria superada pela classe mais revolucionária e vanguardista, o proletariado. A
contribuição de Lênin para a política do século XX foi a seguinte: a revolução seria feita através
da condução e organização do disciplinado partido de vanguarda de revolucionários
profissionais. A revolução de 1905 mostrara uma burguesia russa politicamente fraca; a
Constituição liberal-burguesa formulada era muito restrita e o czarismo tornara a se implantar.
Para uma revolução sem burguesia, o partido conduziria a classe operária com o apoio do
campesinato, ansioso por terras.
As repercussões de uma revolução russa seriam mais amplas que as de 1789. A simples
extensão física e a plurinacionalidade de um império que ia do Pacífico à fronteira alemã
significava que sua queda afetaria um número muito maior de países, em dois continentes, que
a de um Estado marginal ou isolado na Europa ou na Ásia.
Uma das primeiras medidas de Lênin foi a retirada da Rússia da guerra. Por meio do armistício
de Brest-Litovsk, entregou parte importante do território e dos recursos industriais e
econômicos russos na Europa para os alemães em troca da paz. Mesmo arriscado, foi um lance
bem-sucedido. Junto com isso, implantou um regime de partido único apoiado em uma
poderosa polícia política, a Tcheka, e no Exército. Depois de três anos de sangrenta guerra civil,
inclusive com a invasão do território russo por forças estrangeiras, a vitória e o controle do país
foram definitivamente alcançados.
Dos escombros do império dos czares surgiu um novo país, a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), primeira nação do mundo sob um regime marxista e que se tornaria a única
Potência do planeta capaz de rivalizar com os EUA. O governo revolucionário enfrentaria ainda
grandes crises políticas e econômicas, mas conseguiria superar esses obstáculos e retomar o
processo de industrialização e de crescimento iniciado pela Rússia czarista. Entretanto, essas
transformações acarretariam a morte de milhões de pessoas, não só em virtude da insuficiência
de alimentos, mas também por causa de decisões desastrosas da política econômica – tomadas
por burocratas do Partido Comunista – e, ainda, como resultado de perseguições e expurgos
contra toda e qualquer pessoa suspeita de ser contrária ao regime. Nesse contexto, a figura de
Josef Stalin, que assumiu o poder após a morte de Lênin, em 1924, e governou ditatorialmente
a URSS até a sua própria morte, em 1953, teve um papel central.
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A Crise de 1929
Fascismo e Nazismo
Após a I Guerra Mundial, a Europa foi tomada por uma onda de radicalização política. Regimes
totalitários, à esquerda e à direita, apareceram por todo o continente. Os antigos regimes
liberais foram, pouco a pouco, substituídos por regimes onde imperava a força. E isso ocorreu
com o apoio popular, que, em diversos países, manifestou descrédito na democracia.
O comunismo, que já havia alcançado o poder na Rússia por ocasião da Revolução de 1917,
apresentava-se, para muitos europeus, como a saída da esquerda. À direita, foi o fascismo que
surgiu como o grande adversário dos regimes democráticos.
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Também não se pode esquecer que a Itália chegou à década de 1920 em grave crise
econômica: o desemprego grassava, empresas quebravam, a inflação era alta e os
trabalhadores perdiam renda. Tratava-se de cenário bastante promissor para soluções
autoritárias. Mussolini aproveitou-se da oportunidade. Em 1921, fundou o Partido Fascista e,
em 1922, realizou a Marcha sobre Roma, dizendo-se defensor da ordem contra o caos e a
anarquia. Inicialmente, o discurso fascista manteve um aspecto de normalidade, mas, em 1925,
os fascistas tomaram, definitivamente, o poder.
Muitos outros países adotaram regimes similares ao italiano ou inspirados nele: Espanha,
Portugal, Polônia, Hungria, Iugoslávia, Grécia, Bulgária, Lituânia, Estônia, Letônia e Áustria,
para citar os Estados europeus. Até no Brasil, em 1937, com o Estado Novo de Getúlio Vargas,
foi estabelecido um regime fortemente influenciado pelas idéias fascistas.
Não obstante, o fascismo não seria a opção mais autoritária de direita no Entre-Guerras. Em
1933, chegava ao poder na Alemanha o principal discípulo das idéias de Mussolini: Adolf Hitler.
O novo líder alemão conseguiu não apenas superá-lo como radicalizar mais ainda a ideologia
fascista: estabelecia-se o nacional-socialismo na Alemanha.
pág. 21
As origens do nazismo
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Simbolicamente, os alemães não se sentiam derrotados porque o território alemão não fora
invadido em 1918. Ademais, quando os combates foram suspensos por meio de um armistício –
e não de uma capitulação –, parecia haver um equilíbrio entre os lados combatentes, pois
ambos estavam exauridos. A culpa para o armistício era jogada sobre as costas do poder civil,
os “entreguistas”, particularmente os socialistas que negociaram o armistício, supostos
responsáveis pelo fracasso.
Em segundo lugar, as condições do Tratado de Versalhes para a Alemanha foram muito mais
duras do que o Presidente Wilson sugerira. Os alemães foram declarados culpados pela guerra,
obrigados a pagar uma reparação gigantesca e impedidos de ter um exército de tamanho
compatível com a realidade de uma Potência.
Por fim, as crises econômicas da década de 20 – primeiro, em 1923, quando o país passou pela
hiperinflação, depois, em 1929, resultado da quebra da bolsa de Nova York – se mostraram
fundamentais para criar um caldo simbólico de ódio e rancor. Razões econômicas que
repercutiram em movimentos sociais questionaram a frágil democracia da República de
Weimar, como foi denominado o regime alemão em sua breve experiência democrática (1919-
1933).
pág. 22
No pós-I Guerra Mundial, o nacionalismo foi definitivamente incorporado pela direita política.
Desde o final do século XIX que as organizações de massa do nacionalismo alemão desviaram-
se do liberalismo herdado de 1848 para uma postura militarista, agressiva e anti-semita. No
Entre-Guerras, ganhava ainda mais força um novo movimento político baseado no chauvinismo,
na xenofobia e na idealização da expansão nacional, na conquista e no próprio ato da guerra.
Tal nacionalismo passou a atrair as classes médias frustradas, os anti-liberais e os anti-
socialistas.
Uma vez no poder, alcançado por meio de eleições democráticas, os nazistas iniciaram
profundas reformas: instituíram um modelo de partido único, dominaram o Judiciário,
estabeleceram a censura, promoveram expurgos no serviço público e nas universidades e
criaram os campos de concentração, para onde eram enviados os elementos indesejados.
Também conseguiram o rápido rearmamento do Exército. Ao lado dessas ações práticas, os
nazistas agiram com muita força no campo simbólico. Uma palavra resume esse processo:
propaganda.
pág. 23
Episódio marcante do Entre-Guerras foi a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O conflito foi
caracterizado pelo confronto entre as grandes correntes ideológicas da época e nele lutaram
voluntários de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil.
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Enquanto os nacionalistas, liderados por Franco, tinham apoio de setores conservadores, como
o Exército e parte do clero católico, e das províncias ocidentais do país, os republicanos
contavam com a Força Aérea e a Marinha, com os trabalhadores, a pequena burguesia radical e
parte do campesinato. Contavam os republicanos também com as regiões industriais que
ocupavam o triângulo Madri-Valência-Barcelona. Bascos e catalães apoiavam a República.
Com o fim da guerra, o governo de Franco instaurou uma ditadura de direita, simpática aos
países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Esse regime se manteria até a morte de Franco em
1975, quando então a monarquia seria restabelecida e o país iniciaria um processo de
redemocratização.
No que concerne às relações internacionais, a Guerra Civil Espanhola foi um conflito que
repercutiu muito além da Península Ibérica: com a participação das Potências – Alemanha e
Itália apoiando Franco e URSS auxiliando os republicanos – e dos grupos de voluntários de
diversas nacionalidades, o conflito adquiriu um caráter internacional e extremamente
ideológico.
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A guerra na Espanha foi o prelúdio da nuvem negra que se abateria sobre a Europa e o mundo
a partir de 1939. Nela as ideologias se confrontaram, os regimes autoritários puderam mostrar
seu poder e testar sua máquina de guerra e as democracias deixaram claro o misto de
desinteresse e impotência para lidar com temas que envolviam o risco de abalo da “segurança
coletiva”.
Toda a extensão da tragédia causada pela Guerra Civil Espanhola pode ser constatada pela
reportagem do The Times, de 28 de abril de 1937, da qual extraímos o seguinte trecho:
“Guernica, a mais antiga cidade dos bascos, centro de suas tradições culturais, foi
completamente destruída ontem à tarde por um reide aéreo dos revoltosos. O
bombardeio dessa cidade aberta, muito atrás das linhas de combate, durou três
horas e quinze minutos, durante as quais uma poderosa esquadra aérea alemã,
composta de bombardeiros Junker e Heinkel, e caças Heinkel, não parava de
despejar sobre a cidade bombas de 1000 libras e, calcula-se, mais de 3000
projéteis incendiários de 2 libras, de lumínio. Ao mesmo tempo, os caças
mergulhavam sobre a cidade para metralhar a parte da população civil refugiada
nos campos(...).”
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A Guerra Civil Espanhola é o pano de fundo do filme Por Quem os Sinos Dobram, de Sam Wood
(EUA, 1943, 159 min), estrelado por Ingrid Bergman e Gary Cooper.
pág. 26
Nos três anos que se seguiram à nomeação de Adolf Hitler Chanceler da Alemanha, em 30 de
janeiro de 1933, o governo nacional-socialista promoveu transformações que rapidamente
reconduziram o país ao seleto clube das Grandes Potências. Em 1936, o III Reich, como ficou
conhecida a Alemanha nazista, já era uma das maiores economias do mundo: havia reduzido o
desemprego em 40% já em 1934; inúmeras obras públicas estavam sendo feitas e a indústria
retomara sua força, de modo que o país já se mostrava internacionalmente competitivo. Como
aconteceu na União Soviética, é inegável que a opção totalitária reergueu o país.
Grã-Bretanha e França, ainda traumatizadas pelos efeitos da Primeira Guerra, evitaram agir
para impedir o avanço da política externa nazista. Era a política do apaziguamento, da paz a
qualquer preço, que se fez ao custo da entrega da Áustria e da Tchecoslováquia para a
Alemanha. Havia também a expectativa, por parte das democracias européias, de que, em seu
avanço para o leste, logo o III Reich se chocaria com a URSS. Assim, Grã-Bretanha e França
contavam com o conflito entre os dois grandes Estados totalitários, o que seria para elas
demasiadamente interessante.
Vide “A Política Exterior do III Reich: Algumas Reflexões”, de Joanisval Brito Gonçalves.
In: Albene Menezes e Mercedes Kothe (orgs.). Brasil e Alemanha, 1827-1997,
Perspectivas Históricas, 170 anos da assinatura do 1º Tratado de Comércio e
Navegação. Brasília: Thesaurus, 1997.
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"Avaliações".
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Redações" Unidade 3 Módulo II. Espera-se que demonstre capacidade de análise e domínio dos
temas. Lembre-se de informar a fonte caso cite texto de terceiros. Sucesso!
Objetivos da Unidade:
pág. 01
Ao contrário da Grande Guerra, a II Guerra Mundial foi, de fato, travada entre praticamente
todos os povos e culturas do planeta, ampliando expressivamente o raio de ação das relações
internacionais contemporâneas. Qualitativamente, a guerra colocaria um fim à supremacia
européia e ao eurocentrismo no sistema internacional, retiraria da França e da Grã-Bretanha a
condição de Potências hegemônicas e deixaria a Alemanha, o Japão e a Itália sem os espaços
internacionais conquistados à força no Entre-Guerras. Ademais, o processo de expansão e
construção do mundo liberal seria substituído por uma nova ordem internacional, bipolarizada,
com a emergência dos EUA e da URSS.
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A II Guerra Mundial pode ser dividida em duas fases. Na primeira, de 1939 a 1941, os países
europeus ainda tentam manter a condução dos destinos das relações internacionais e a guerra
é eminentemente européia, como o fora a I Guerra Mundial. Entranto, com a segunda fase, que
vai de 1941 até 1945, o conflito torna-se mundializado, com a participação de novos Atores,
particularmente os EUA, URSS e o Japão, e se prenuncia uma nova ordem internacional.
Antecedentes:
À medida que avançava a década de 1930, aumentava a descrença na Sociedade das Nações. A
França passou a buscar alianças a Leste, mirando a Polônia e a Tchecoslováquia. A Itália e a
Alemanha, os dois grandes Estados fascistas da Europa, aproximaram-se. A Grã-Bretanha
buscava fugir de engajamentos militares na Europa, considerando justa a reivindicação alemã
por mudanças ao mesmo tempo em que investia no reforço da coesão no âmbito do
Commonwealth e da zona esterlina. A opinião inglesa endossou o pensamento de Keynes de
reduzir as reparações alemãs porque prejudicavam as exportações britânicas.
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EUA e URSS
Apesar de ampliarem sua presença na economia mundial, sob a ótica política, os EUA adotaram
o isolacionismo, buscando não interferir nas relações internacionais do Velho Mundo,
particularmente na política européia. Ademais, o projeto político-comercial pan-americano dos
EUA os mantinha longe da Europa. De fato, mesmo após o início da II Guerra Mundial, a opinião
pública estadunidense permaneceu disposta a não se envolver no conflito, pois encontrava-se
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divida sobre que lado apoiar. Registre-se que o Presidente Franklin Delano Roosevelt se
reelegeu com um discurso de que os EUA não participariam da guerra na Europa.
1934 foi o ano do rearmamento alemão: após se retirar da Sociedade das Nações no ano
anterior, Hitler rompeu unilateralmente com os acordos de Versalhes e Locarno, assinou um
pacto de não-agressão com a Polônia (aliada tradicional da França) e encontrou-se com
Mussolini para evitar choques de interesses na área do Rio Danúbio. A França, em reação,
aproximou-se da URSS e propôs, em vão, um pacto geral sobre o Leste europeu. A Itália, em
resposta, propôs um Pacto dos Quatro Grandes (Grã-Bretanha, França, Alemanha e a própria
Itália), que havia sido tentado no âmbito da Sociedade das Nações, com o fim de rever tratados
e liderar a Europa, o que não foi aceito pelos países menores.
O clima esquentou em 1936, com a Guerra Civil Espanhola. Era o primeiro experimento de uma
guerra civil verdadeiramente européia, uma vez que nela se confrontaram militarmente as
correntes ideológicas de direita e esquerda, com fornecimento de armas de ambos os lados (da
URSS para os republicanos e da Itália e da Alemanha para os franquistas). Fenômeno
semelhante só voltaria a ser visto na época da Guerra Fria.
pág. 03
Os regimes democráticos só buscaram unidade de ação contra Hitler após a aliança com os
soviéticos e a invasão da Polônia, em 1º de setembro de 1939. De fato, franceses e britânicos
foram surpreendidos pelo pacto germano-soviético e, percebendo que não seria mais possível –
pelo menos naquele momento – o tão esperado confronto entre os dois Estados totalitários,
tiveram que deixar de lado a política do apaziguamento. Logo depois de divulgado o acordo
germano-soviético, Grã-Bretanha e França ofereceram garantias para a Polônia, e os EUA
solicitaram a Hitler que, por dez anos, não atacasse 29 nações, cuja lista lhe fizeram chegar.
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logo atacariam os poloneses pelo leste, incorporariam os Estados Bálticos a seu território e, em
novembro de 1945, a Finlândia seria atacada. Começava a II Guerra Mundial.
O Grande Ditador, de Charles Chaplin. Em seu primeiro filme falado, Chaplin interpreta dois
papéis opostos, o de um barbeiro judeu que enfrenta tropas de choque e perseguição religiosa e
o do Grande Ditador Hynkel (sátira a Adolf Hitler). O clímax desse clássico é o célebre discurso
final, um libelo ao triunfo da razão sobre o militarismo.
A Lista de Schindler. Esse filme do diretor Steven Spielberg conta a história real de Oskar
Schindler (Liam Neeson), empresário alemão que salvou centenas de judeus dos campos da
morte nazistas.
Pearl Harbor. Filme que tem como fio condutor os eventos que fizeram com que os Estados
Unidos entrassem na 2.ª Guerra Mundial, logo após o ataque japonês a Pearl Harbor.
O Pianista. Essa bela obra do diretor Roman Polanski mostra o surgimento do Gueto de
Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus em algumas áreas.
Sobre a guerra no Pacífico, vale a pena assistir aos clássicos Tora, Tora, Tora e Midway.
pág. 04
A GUERRA
Nos primeiros meses da guerra, Grã-Bretanha e França planejavam vencer a Alemanha pelos
bloqueios em terra e pelo cerceamento dos mares. Acreditavam que o isolamento levaria à
ruína econômica do III Reich, uma vez que toda a economia alemã voltava-se para a guerra e
já estava ameaçada pela insuficiência de matérias-primas.
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(pagamento à vista) no Atlântico, a partir de novembro de 1939, ao passo que Hitler estava
reduzido aos seus próprios recursos e, no máximo, aos recursos continentais.
Hitler propôs a paz em 6 de outubro de 1939. Grã-Bretanha e França não aceitaram, pois só
lhes interessava a paz se a influência franco-britânica fosse retomada sobre todo o continente
europeu. Por outro lado, para os franceses, a guerra era a oportunidade para arruinar
definitivamente a Alemanha. Assim, diante da reação estática de Londres e Paris e da hesitação
da França, que testemunhava amplos debates internos entre a anglofilia e a anglofobia, Berlim
preparou-se para a invasão da França em 10 de maio de 1940.
pág. 05
A Queda da França
Em pouco mais de trinta dias, após o início das operações contra a França, Paris já era dos
alemães. O êxodo de 8 milhões de franceses enterrava o moral francês. Em manobra de pinça,
e por meio da Blitzkrieg, a guerra-relâmpago, as forças alemãs dividiram ao meio as tropas
francesas e as empurraram, juntamente com a Força Expedicionária Britânica, para a costa do
Mar do Norte, no que culminou na maior operação de retirada da história, quando centenas de
embarcações foram envolvidas no resgate de soldados britânicos e franceses em Dunquerque,
numa fuga desesperada para deixar o continente e escapar dos alemães. Dunquerque foi a
maior humilhação por que passaram britânicos e franceses na guerra.
Winston Churchill, que se tornara primeiro-ministro após o início da guerra, quis evitar a
qualquer custo que os navios franceses se rendessem aos alemães nos portos e acabou por
afundar alguns deles, o que agravou a anglofobia francesa. Ao final, a libertação de 340 mil
soldados britânicos e franceses seria fundamental para os andamentos posteriores da guerra,
tendo particular importância política para o duelo entre Churchill e Hitler.
pág. 06
Em 22 de junho de 1940, a França capitulou e passou a ser o único país vencido a concluir um
armistício. Bélgica e Holanda optaram pela rendição militar, e seus governos foram transferidos
para Londres. Um governo francês pró-alemão se estabeleceu na cidade de Vichy, para onde
fugira o parlamento. O herói da I Guerra Munidal, Marechal Pétain, tornou-se o governante da
França ocupada.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux11.html
A derrota francesa significou uma ruptura da velha ordem internacional do século XIX. O
equilíbrio de poder que havia moldado a sociedade européia, com valores e regras de conduta
comuns, ruiu definitivamente.
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No Oriente, a política japonesa de substituição das potências ocidentais na Ásia – “Ásia aos
asiáticos” – levou aos privilégios econômicos sobre portos aéreos e marítimos. A ocupação
alemã da França deixara o Japão livre no sudeste asiático. O Japão acreditava no nascimento de
um novo império, não mais contra a URSS ou a China, mas a favor de prosperidade econômica,
que, não obstante a derrota ao final da guerra, pode ser sentida até os dias de hoje.
Veja a interessante animação sobre a Segunda Guerra Mundial dando dois cliques
na imagem ao lado. Clique em qualquer lugar do mapa e acompanhem a
movimentação das tropas alemãs e, depois, a dos aliados. ATENÇÃO: após
assistir à animação clique a tecla ESC para retornar ao curso!
pág. 08
Em 1941, desapareceu o mundo que o século XIX construiu e o período de transição iniciado na
I Guerra Mundial (1914-1918). Havia um vazio de poder no mundo com a França invadida e a
Grã-Bretanha falida. A crise do mercado financeiro comandado por Londres e, portanto, o fim
da zona esterlina fizeram ruir a ordem liberal criada pelos ingleses, que até precisaram começar
a usar reservas monetárias para pagar pelos produtos norte-americanos (cash-and-carry), o
que começou a preocupar os EUA.
Também em 1941, dois eventos importantes provocariam nova mudança no equilíbrio de forças
da guerra e da própria ordem internacional: a invasão da URSS conduzida pelos alemães e o
ataque japonês à base estadunidense de Pearl Harbor, que provocaria a entrada dos EUA no
conflito. E o ano seguinte começaria com uma fase em que a guerra se tornara global (vide o
Mapa 25 – em vermelho, a zona de dominação alemã; em azul, a zona de dominação japonesa;
e em verde os aliados em guerra contra a Alemanha e o Japão).
Mapa 25: A II Guerra Mundial – O Mundo em 1942
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux15.html
Em 22 de junho de 1941, tropas alemãs deram início à Operação Barbarossa, avançando sobre
o território da URSS: a necessidade alemã de espaço vital chocava-se com a necessidade
soviética de espaço vital. A operação desencadeava-se em três grandes frentes, em direção a
Leningrado, Moscou e às reservas de petróleo da Ucrânia. A máquina de guerra alemã
encontrou pouca resistência. De fato, em muitas partes da URSS, os alemães que chegavam
eram vistos como liberdadores daqueles povos do jugo de Moscou e do totalitarismo stalinista.
Logo essa percepção mudaria, graças à violência dos alemães nos territórios ocupados,
motivada sobretudo pelo discurso ideológico nazista de destruição ou escravização daqueles
considerados “inferiores” aos arianos.
Stalin foi pego de surpresa com a invasão da URSS. O líder georgiano não acreditava que seu
país seria atacado pelos alemães, apesar dos relatórios da inteligência soviética que afirmavam
ser o ataque iminente. O Exército Vermelho, por sua vez, estava em situação de extrema
fragilidade, particularmente em virtude dos expurgos stalinistas da década de 1930, que
desarticularam o Estado-Maior e aniquilaram o melhor que havia da oficialidade. Demoraria
algum tempo para as forças soviéticas se recomporem.
pág. 09
Com a invasão, os EUA apoiaram a resistência soviética, e a URSS foi incluída na aliança
ocidental já em outubro de 1941. Logo grande quantidade de recursos, de alimentos a
armamentos, seriam enviados em socorro aos soviéticos. Os aliados sabiam que se a URSS
caísse, a hegemonia alemã no velho mundo seria incontestável.
Outro significativo ponto de inflexão na II Guerra Mundial deu-se com o ataque japonês à base
norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941. Dentro dos planos
japoneses de projeção de poder no continente asiático e no Pacífico, o projeto da Grande Ásia,
o choque com os interesses estadunidenses era apenas uma questão de tempo. A operação
contra Pearl Harbour tinha por objetivo neutralizar os EUA no Pacífico, passo importante para a
ulterior anexação das Filipinas, da Malásia e de Hong Kong.
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Em 1944, o rolo compressor dos soviéticos forçou o recuo gradual das tropas alemãs na
Ucrânia, na Bielo-Rússia e na Polônia. Enquanto Tóquio perdia seus satélites, Moscou
aumentava os seus, por um erro estratégico das forças aliadas: desde janeiro de 1943, Stalin
denunciava o abandono do flanco oriental, o que, no final das contas, tornou a luta contra o
Eixo uma forma de sobrevivência do modelo planificado e socialista de Estado. Isso lhe custou a
vida de vinte milhões de soviéticos, quase dois quintos do total da guerra.
pág. 10
O dia D
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux23.html
pág. 11
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre39_45/gdeux25.html
O Japão capitulou quatro meses depois. Ao final de agosto de 1945, após as bombas atômicas
norte-americanas terem arrasado Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto, respectivamente,
todas as ações militares foram suspensas. A URSS declarou guerra ao Império Japonês em
08/08/1945. Mas não havia mais contra quem lutar. O país já se dispusera a negociar a
rendição com os norte-americanos. Pela primeira vez na história da milenar monarquia
japonesa, o Imperador falou para o povo, conclamando-o à rendição incondicional. Terminava a
maior e pior guerra que a humanidade jamais travara.
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Há, ainda, alguns clássicos imperdíveis, como O mais longo dos dias, de Benhard
Wicki, que trata do Dia “D”, o desembarque aliado de 6 de junho de 1944 e Uma
Ponte Longe Demais, do diretor Richard Attenborough, sobre a Operação Market
Garden, um plano ousado para obter um rápido final para a II Guerra por meio da
invasão da Alemanha e destruição das indústrias de guerra do III Reich – esse
ambicioso plano mostrou-se um dos grandes erros da guerra e causou mais baixas aos Aliados
do que toda a invasão da Normandia.
pág. 12
Por fim, em Teerã, a Grã-Bretanha propôs a criação de três organizações regionalizadas (na
América, na Europa e na Ásia), mas os EUA recusaram, pois insistiam numa instituição de raio
mundial, que, por meio de um diretório composto entre os Quatro Grandes, atuaria como a
“polícia do mundo”. Os EUA também recusaram a tese do federalismo europeu. Como se
observa, EUA e URSS já ensaiavam, nessas discussões políticas, tornarem-se Superpotência.
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pág. 13
Os aliados, nas reuniões de São Francisco, entre abril e junho de 1945, e em Potsdam, entre
julho e outubro de 1945, tinham como projeto a criação de instrumentos para o gerenciamento
da paz no pós-guerra. A lógica das alianças e da diplomacia secreta cederia lugar ao esforço de
reconstrução das relações internacionais com base no compromisso e no diálogo.
As reuniões de São Francisco criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), materializando
o sonho wilsoniano, e deixaram evidente a perda de importância da Europa no sistema
internacional que então se delineava, apesar de ter sido garantida a participação da Grã-
Bretanha e da França no Conselho de Segurança da Organização.
pág. 14
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A Revista Veja criou um sítio interessante sobre a II Guerra Mundial. Vale a pena conferir
.
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Esses objetivos devem nortear seus estudos nessa Unidade e esperamos que você
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pág. 01
A GUERRA FRIA
Muitos autores defendem que, após o fim da II Guerra Mundial, não havia mais a idéia de uma
Sociedade Internacional européia, criada a partir de 1815. A instabilidade internacional no
período de 1919 a 1939, que culminou na II Guerra, corroeu um estado de equilíbrio de quase
100 anos. A Europa entrou em uma profunda crise de valores e testemunhou o retorno dos
egoísmos nacionais, como ocorrera no período pós-Westfália.
No âmbito político, o mundo pós-1945 foi marcado pela hegemonia dos EUA e da URSS e um
novo modelo de política internacional: o sistema de zonas de influência de raio planetário,
característico do novo tipo de Ator – a Superpotência. O mundo seria, portanto, dividido em
zonas de influência soviética e estadunidense. O continente americano e o Ocidente Europeu
constituíram-se em zona de influência dos EUA, e o Leste Europeu, da URSS. No Mapa 28, é
possível identificar com clareza essa zona sob a hegemonia soviética.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel1.html
Um dos legados mais relevantes da II Guerra Mundial foi o fato do conflito ter trazido algumas
soluções para o caos em que as relações internacionais se encontravam desde a I Guerra,
época que não se havia logrado criar um mundo pacífico e democrático. A partir de 1945 não
houve mais guerra entre as Grandes Potências, apesar do estado de tensão constante entre as
alianças militares ocidental e do bloco soviético, e o conflito armado foi transferido para o
chamado Terceiro Mundo. O eurocentrismo chegou a termo e os velhos impérios coloniais
desapareceriam entre 1945 e a década de 1970.
Com essa frase, o pensador Raymond Aron definiu o período em que a opinião pública mundial
acompanhou o conturbado relacionamento entre os EUA e a URSS. O termo “Guerra Fria” deve-
se ao fato de nunca ter ocorrido um enfrentamento bélico direto entre as duas Superpotências,
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pág. 04
A ajuda do Plano Marshall foi oferecida aos países da Europa envolvidos na II Guerra Mundial,
inclusive à URSS. Stalin rejeitou o dinheiro americano e denunciou o Plano Marshall como uma
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Em
valores, a
ajuda era
de US$ 13
bilhões na
época, o
que seria
equivalente
a cerca de
US$ 100
bilhões em
2002.
Todavia, há os que separam a segunda fase em duas, com uma fase conhecida como détente
(distensão), entre 1969 a 1979, que marca a fundação de um concerto americano-soviético e o
início da decomposição ideológica do conflito Leste-Oeste.
pág. 05
O período inicial da Guerra Fria é marcado pelo início da rivalidade entre EUA e URSS e pela
divisão do mundo em um modelo bipolar. Nos EUA, que entre 1945 e 1949 eram os únicos
detentores da arma atômica, George Kennan denunciou as pretensões soviéticas de expandir o
modelo socialista pelo mundo e formulou a “doutrina da contenção”.
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Em termos militares, houve reformas na organização militar interna dos EUA, em 1947, e na
estrutura militar da aliança atlântica. No campo doméstico, a Lei de Segurança Nacional (1947)
criava o Departamento de Defesa, a Agência Central de Inteligência (CIA) e o Conselho de
Segurança Nacional. Também foi criada a Força Aérea estadunidense.
No plano internacional, o bloco liderado pelos EUA constituiria um sistema mundial unificado de
defesa, e foi criada, em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), composta
por EUA, França, Grã-Bretanha Bélgica, Canadá, Dinamarca, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países
Baixos, Noruega e Portugal. Tratava-se de um sistema de defesa que deveria fazer frente a
uma eventual agressão soviética contra seus membros.
A contenção do avanço comunista deveria ocorrer nos campos político e militar, mas também
nas áreas ideológica e econômica. Daí o advento do Plano Marshall, cujo objetivo era, por meio
da ajuda econômica, garantir a presença norte-americana na Europa Ocidental e a sua
reconstrução segundo os valores democráticos e capitalistas. Acompanhava o Plano Marshall o
estabelecimento da Organização Européia de Cooperação Econômica (OCDE), instituição que se
encarregaria de aplicar a ajuda estadunidense e servir de foro para novas iniciativas de
cooperação européia. O Plano Marshall estabeleceria os alicerces da reconstrução européia e do
processo de integração, que teve como marco os Tratados de Roma de 1957, embrião da atual
União Européia.
pág. 06
rearmamento
(produção - tecnologias - sustentação e - fortalecimento
industrial e > colocadas no > excitação da > do mercado
desenvolvimento mercado demanda doméstico
tecnológico) doméstica
A assistência militar dos EUA à Europa foi um meio de continuar a prestar assistência ao velho
continente após o fim do Plano Marshall. Os gastos militares no exterior (que saltaram entre
1950 e 1958 e entre 1964 e 1973) forneceram à economia mundial a liquidez necessária para
se expandir, num processo de “keynesianismo militar” global.
Diante das ações estadunidenses, a URSS reagiu. Intensificou o processo de militarização das
fronteiras, o recrudescimento da política de espaços na Europa Oriental e a aceleração do
projeto de desenvolvimento da bomba atômica: essa seria a resposta de Moscou à política anti-
soviética adotada pelos EUA.
Passo importante na fundação do sistema bipolar seria a detonação da primeira bomba atômica
soviética, em 1949. Os soviéticos haviam obtido tecnologia nuclear dos EUA e da Grã-Bretanha
por meio de uma eficiente operação de espionagem. Isso desencadearia uma perseguição aos
comunistas – ou aqueles suspeitos de simpatia à URSS – que provocaria um período de terror
nos EUA conhecido como Macartismo. De toda maneira, com a bomba, a URSS mostrava ao
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pág. 07
Ainda no que concerne à Europa Oriental, ocupada pelo Exército Vermelho, esta foi rapidamente
“sovietizada”. Moscou não aceitaria democracias populares multipartidárias em sua área de
influência. Em 1947, foi criado o Kominform, em substituição à Internacional Comunista. O
Kominform tinha por objetivo propagar a revolução comunista no mundo e garantir o controle
ideológico dos partidos comunistas no Leste por Stalin, momento em que ficou clara a liderança
soviética sobre os movimentos de organização dos comunistas franceses, italianos, iugoslavos,
tchecos, poloneses, húngaros, romenos e búlgaros.
No campo econômico, foi criado o Conselho Econômico de Ajuda Mútua (COMECOM) para
estruturar as relações econômicas entre os membros do bloco socialista e para se contrapor ao
Plano Marshall. O COMECOM simbolizava o internacionalismo soviético na Economia. Composto
inicialmente por seis países (Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e a própria
URSS), o COMECOM teria a adesão da Alemanha Oriental em 1950. Em 1962, o ingresso da
Mongólia representou um primeiro passo para uma estruturação do COMECOM para além da
Europa. Entre 1956 e 1968, Coréia e República Democrática do Vietnã obtiveram o status de
observadores junto ao COMECOM. Em 1964, foi assinado acordo com a República Federativa
Socialista da Iugoslávia e, em 1972, Cuba ingressou na Organização.
pág. 08
A hegemonia soviética na Europa Oriental criou uma área de influência a que Churchill chamou
de “cortina de ferro”. O bloco socialista na Europa e a cortina de ferro estão registrados no
Mapa 29, com as respectivas datas de ingresso de cada país no bloco socialista.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel3.html
Para conhecer o clima de tensão da Guerra Fria, assista Treze dias que abalaram o
mundo (Thirteen days, 2000), dirigido por Roger Donaldson, com Kevin Costner e
Bruce Greenwood. O filme conta a história da Crise dos Mísseis de Cuba (1962), com
ênfase na maneira como se conduziu o processo decisório no Governo Kennedy e as
negociações com os soviéticos, que culminariam na reestruturação das relações entre
as Superpotências.
Outro filme fundamental para a compreensão do período e da maneira como eram tomadas as
decisões é Sob a Névoa da Guerra, dirigido por Errol Morris. Vencedor do Oscar de melhor
documentário de 2004, o filme se molda a partir de uma longa entrevista do cineasta com
Robert Strange McNamara, Secretário de Defesa estadunidense dos governos de John F.
Kennedy e Lyndon Johnson (entre 1961 e 1967). McNamara apresenta, de forma realista, como
se conduziram a política externa e as relações com a URSS e outros atores em uma das épocas
mais conturbadas da Guerra Fria.
pág. 09
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A ONU enviou tropas multinacionais sob o comando dos EUA e os norte-coreanos recuaram de
volta ao Paralelo 38. Migs soviéticos sobrevoaram e bombardearam a Coréia do Sul e, com o
apoio de tropas chinesas, impuseram vitória sobre as tropas norte-americanas, as quais, por
sua vez, por meio da Operação Killer, jogaram bombas de napalm e ameaçaram a China com o
uso de armas atômicas. Só se chegou a um equilíbrio militar ao final de 1951, quando as tropas
dos EUA se retiraram e teve início uma política de acomodação.
Em 1953, foi assinado o armistício de Panmunjom, por meio do qual se criou uma zona de
segurança separando as duas Coréias, compreendendo uma área de quatro quilômetros ao
longo do Paralelo 38, sob a vigilância da ONU. Convém lembrar que o armistício apenas
suspendeu os embates bélicos, de modo que, tecnicamente, a guerra continua até nossos dias.
As duas Coréias se tornaram um monumento dos anos quentes da Guerra Fria (SARAIVA,
1997).
Outro país a se dividir foi o Vietnã, em 1954: Vietnã do Norte, comunista, e o do Sul,
capitalista. A posição dos EUA na Ásia estava fragilizada, e os norte-americanos mais que nunca
temiam o risco do “efeito dominó”, ou seja, de que o que acontecera na China, na Coréia e no
Vietnã acabasse repercutindo por toda a Ásia, com o estabelecimento de regimes comunistas de
influência soviética pelo continente e a conseqüente perda de poder estadunidense na região.
Em virtude dessa ameaça, os tomadores de decisão nos EUA concluíram que o país deveria
envidar todos os esforços possíveis para conter o avanço do comunismo pelo mundo. Essa
decisão teria grandes repercussões pelas décadas da Guerra Fria, entre as quais a entrada dos
EUA na guerra do Vietnã e o apoio estadunidense a regimes capitalistas do extremo oriente –
Japão, Coréia do Sul e Taiwan, por exemplo.
No que concerne à Guerra do Vietnã, dois filmes são sugeridos: Apocalipse Now, de
Francis Ford Copolla, estrelado por Marlon Brando, e Platoon, de Oliver Stone. Ambos foram
produções marcantes que revelaram muitos dos horrores da Guerra do Vietnã, a grande chaga
na política externa dos EUA na segunda metade do século XX.
pág. 10
Desembarque na Baía
dos Porcos - trata-se
A fragilidade dos EUA em relação à hegemonia global também de uma fracassada
começava a acontecer em outras regiões do planeta. A tentativa de cubanos
Comunidade Econômica Européia foi instituída, em 1957, pelo contrários à Revolução
Tratado de Roma, tendo como núcleo a unidade franco- de desembarcarem na
germânica, e se apresentou como alternativa ao plano norte- ilha e porem fim ao
americano de integração do continente. Na incontestável zona de regime de Fidel Castro.
influência norte-americana, a América Latina, o estabelecimento Os anticastristas
de um regime comunista pró-soviético em Cuba, após a encontravam-se nos
Revolução de 1959 (que, inicialmente, nem tendências EUA e tiveram apoio da
comunistas tinha), com o fracassado desembarque na Baía dos CIA e do governo norte
Porcos, revelou que as estruturas da Guerra Fria não eram tão -americano para
absolutas quanto se desejava, e que era claro o risco da perda realizar a ação armada
da influência norte-americana em quaisquer regiões do planeta. contra o regime de
Castro.
Os EUA começaram a perceber que grandes volumes de bombas
e maciços investimentos na segurança internacional não eram
suficientes para construir a legitimidade internacional. A URSS,
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por sua vez, tornava-se mais forte, mas pouco disposta a bater
de frente com os EUA.
Com a morte de Stalin e a chegada ao poder de Nikita Krushev, acabariam os anos quentes e
começaria a fase da coexistência pacífica.
pág. 11
Alguns autores conjugam as fases da coexistência pacífica com a da détente. Outros, porém,
consideram que essa segunda fase marca o início da flexibilização da ordem bipolar, e a
terceira, mais tardia, marca um momento de deliberada atitude das duas Superpotências de pôr
fim à era de diferenças. Por motivos didáticos, adotamos essa posição.
A coexistência pacífica foi a fase da flexibilização da política externa dos EUA e da URSS em
que, respectivamente, Eisenhower substituiu Truman e Krushev substituiu Stalin.
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A crise dos mísseis em Cuba (1962): tentativa de Krushev, por meio da alocação de
√ mísseis na ilha de Cuba, de alterar o equilíbrio de poder mundial em prol da URSS,
tendo em vista o avanço do projeto de Mísseis Antibalísticos (ABMs) dos EUA e a
nova doutrina militar da OTAN na Europa (nuclearização).
pág. 12
Assim, o mundo continuava dividido entre as esferas de poder das duas Superpotências.
Entretanto, sobretudo após a crise dos mísseis de Cuba, quando EUA e URSS quase entraram
em um confronto direto, a decisão de Washington e Moscou foi de estabelecer mecanismos que
permitissem a convivência entre os dois blocos e evitassem uma hecatombe nuclear.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel8.html
Por mais estranho que possa parecer, há dois filmes que simbolizam bem a percepção
norte-americana dos valores do capitalismo na Guerra Fria na década de 1980: Rambo III e
Rocky IV. Em Rambo III, um veterano da Guerra do Vietnã (Sylvester Stallone) é enviado ao
Afeganistão para libertar seu mentor, que caiu nas mãos dos soviéticos, durante a ocupação
daquele país, e conta com o apoio dos Talibãs. Interessante, sobretudo, se relacionarmos o
filme à realidade de duas décadas depois: a película retrata os vínculos dos EUA com os
guerrilheiros afegãos no combate aos soviéticos. Stallone passa a ser o símbolo do herói
estadunidense dos anos 1980 e a causa Talibã um dos focos da política externa dos EUA. Atente
para a dedicatória ao final do filme.
Já em Rocky IV, o personagem de Stallone encontra um adversário diferente para lutar nos
ringues de boxe: Drago (Dolf Lundgren), um lutador de 1,90 m de altura e 130 kg que
representa a URSS. O programa de treinamento de Rocky o leva à fria Sibéria, onde ele se
prepara para o combate em Moscou. O filme é marcado pela exaltação ao patriotismo norte-
americano.
pág. 13
Muitos autores defendem que só se pode falar em Guerra Fria até o final dos anos de 1960,
uma vez que a fase que se segue é apenas um concerto entre as duas Superpotências. Outros
preferem chamar essa fase de “Segunda Guerra Fria”, pois é o momento em que as duas
Superpotências transferem sua competição para o chamado Terceiro Mundo (Vietnã, Angola,
Afeganistão, Líbia, entre outros).
Se a década de 1960 fez transparecer uma perda de poder dos soviéticos, a década de 1970
assinalava uma perda do domínio norte-americano e seu relativo isolamento: na Guerra do
Vietnã (1959-1975) e na Guerra do Yom Kippur (1973), os EUA não receberam ajuda européia.
A crise do petróleo parecia sugerir enfraquecimento no domínio internacional dos EUA,
enquanto fez os preços das jazidas de petróleo e gás natural da URSS quadruplicarem. Entre
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1974 e 1979, regimes na África, na Ásia e na América Latina começaram a ser atraídos para o
lado soviético. Além disso, o escândalo envolvendo a administração Richard Nixon (Watergate)
causou uma certa desordem na presidência dos EUA.
• os planos SALT (Strategic Arms Limitation Talks) congelaram por cinco anos o
1) desenvolvimento e a produção de armas
estratégicas e o controle sobre mísseis intercontinentais e lançadores
balísticos submarinos;
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A década de 1980 marcou o que muitos autores chamam de “Nova Guerra Fria”. No período,
mereceu destaque a exacerbação anticomunista do novo presidente norte-americano, Ronald
Reagan, estabelecendo-se um retorno ao Realismo nas relações internacionais (em substituição
ao Idealismo de Jimmy Carter). As concessões unilaterais efetuadas pelo governo Carter foram
substituídas por uma política de confrontação diplomática e de endurecimento econômico, com
bloqueio econômico e tecnológico aos países do sistema soviético.
O aumento das despesas militares resultou em acúmulo de déficits orçamentários para ambos
os lados. No entanto, os EUA possuíam uma clara vantagem nesse processo: os estadunidenses
podiam financiar sua dívida pública por meio de emissão de uma moeda que era o principal
meio de reserva internacional ou pela colocação de títulos do Tesouro dos EUA no mercado –
mecanismos impossíveis de serem utilizados pela URSS, dada a sua tradicional separação da
economia mundial. Assim, segundo Paulo Roberto de Almeida, o ocaso final do modo de
produção socialista teve início quando os EUA adotaram o programa armamentista conhecido
como Guerra nas Estrelas, forçando a URSS a tentar reproduzir o “keynesianismo militar” do
governo Reagan, que se revelava oneroso demais.
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escapando das mãos soviéticas sem que Moscou tivesse como impedir o processo. O assunto
será tratado na Undiade seguinte.
O Mapa 31 mostra o colapso do bloco socialista, com as novas fronteiras européias ao final do
século XX.
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel20.html
Do ponto de vista econômico, a década de 1980 testemunhou amplo processo de conversão das
economias planejadas em economias de mercado: reformas econômicas introduzidas na
República Popular da China pela equipe de Deng Xiao-Ping; liberalização do regime soviético a
partir de 1985, com a adoção da Perestroika por Gorbatchev, que alcançou o Vietnã a partir de
1986, espalhou-se pela Europa Oriental a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989, e
culminou na conversão para a economia de mercado de praticamente todas as ex-repúblicas
socialistas que apareceram após a desintegração da URSS, concluída em 1991. Do período que
vai de 1917 a 1991, algo ficou claro para o mundo: o capitalismo mostrava-se muito mais
adaptável ao Sistema Internacional do que o socialismo.
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mostram os efeitos da radiação sobre as pessoas, e marcou uma posição de parte da opinião
pública dos EUA contrária à corrida nuclear.
Recentemente foi produzido mais um filme retratando esse período conturbado da relação entre
as Superpotências nos anos 60, K-19: The Widowmaker, dirigido por Kathryn Bigelow, com
elenco principal formado Harrison Ford e Liam Neeson. A história é um thriller de conspiração
de guerra baseada em fatos reais, envolvendo um acidente com o submarino nuclear russo “K-
19”, em 1961, que poderia ter causado um conflito internacional de grandes proporções,
culminando até numa guerra atômica. Esse acontecimento real foi ocultado por vinte e oito
anos pelos russos. Os marinheiros envolvidos na operação foram afastados de suas funções e
proibidos de revelar a história, até que finalmente os fatos vieram à tona após o fim da União
Soviética.
Atividades de autoavaliação -
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Avaliação da Unidade -
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Trabalhos / Redações.
Unidade 3 - O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990
Objetivos da Unidade:
Estamos na reta final do nosso estudo introdutório! Seja perseverante, estude com
afinco!
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A década de 1980 foi, para muitos, uma década de ruptura. Começaram a aparecer, na
doutrina internacional, expressões como: “queda dos impérios”, “fim do Estado-nação”, “fim do
Estado-territorial” e ascensão do “Estado-comercial”, “fim do Terceiro Mundo”, “fim das
ideologias”. A década marcou o fim do dualismo econômico entre socialismo e capitalismo e o
aprofundamento da diferenciação entre países pobres e países ricos, com as crises da dívida
externa nos países em desenvolvimento.
Do ponto de vista das relações internacionais, o período foi de superação do conflito Leste-
Oeste e de fragmentação do Terceiro Mundo. Surgia um sistema pós-hegemônico, no qual
vários grandes Atores mundiais passavam a reger coletivamente os negócios internacionais
(multipolaridade estratégica). Um desses novos Atores, que funcionava em uma espécie de
consórcio informal, foi o Grupo dos Sete (G7), composto por EUA, Japão, Alemanha, França,
Itália, Grã-Bretanha e Canadá, as nações mais ricas do planeta. A partir de 1992, a Rússia,
apesar de não ser a oitava economia do globo, incorporou-se ao Grupo, que passou a ser
conhecido como G8.
A Perestroika, ou “reestruturação
A tentativa de Gorbatchev de reforma do regime econômica”, é iniciada em 1986, logo após
soviético, com a Perestroika e a Glasnost, e o rápido a instalação do governo Gorbatchev.
abandono do comunismo nos países da Europa Constituía-se em um projeto ambicioso de
Central e Oriental, seguido pelo desaparecimento da reintrodução dos mecanismos de mercado,
renovação do direito à propriedade privada
própria URSS, em 1991, provocaram a mais
em diferentes setores e retomada do
expressiva transformação no sistema internacional
crescimento, tendo, entre seus objetivos,
desde o final da II Guerra Mundial. Após a perda de
de liquidar os monopólios estatais,
controle do bloco socialista, em virtude das rápidas
descentralizar as decisões empresariais e
transformações nos antigos regimes do Leste criar setores industriais, comerciais e de
Europeu, a URSS viu sua influência declinar no serviços em mãos da iniciativa privada
cenário internacional. No início da década de 1990, nacional e estrangeira. O Estado
começou o que seria praticamente inconcebível dez continuava como principal detentor dos
anos antes: a sua desintegração. As primeiras principais meios de produção, mas foi
Repúblicas a se separarem foram os Estados bálticos autorizada a propriedade privada em
– Letônia, Estônia e Lituânia –, que haviam sido setores secundários de bens de consumo,
incorporados à URSS no início da II Guerra Mundial. comércio varejista e serviços não
Após uma grave crise institucional em agosto de essenciais. Na agricultura, foi permitido o
1991, marcada pela vitória popular liderada por Boris arrendamento de terras estatais e
Yeltsin sobre uma tentativa de golpe da linha dura cooperativas por grupos familiares e
soviética, o governo de Gorbatchev perdeu a indivíduos. A retomada do crescimento
seria projetada por meio da conversão de
legitimidade e, em 25 de dezembro de 1991, o último
indústrias militares em civis, voltadas para
líder soviético anunciava formalmente o fim da URSS.
a produção de bens de consumo, e pelo
ingresso de investimentos estrangeiros.
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Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel19.html
Um dos eventos mais marcantes do fim da Guerra Fria foi o acidente nuclear de
Chernobyl. Para buscar mais informações sobre essa tragédia, considerada uma das
maiores tragédias do século XX, confira o sítio.
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Após o fim da Guerra Fria, o mundo viu-se diante do desafio de produzir um novo paradigma
para as relações internacionais. A doutrina internacional não entrava em consenso a respeito da
natureza das relações internacionais ao final do século XX. Alguns teóricos voltaram a falar em
Sociedade Internacional, conforme concebido pela Escola Inglesa, apesar do convívio entre
regras velhas e regras novas; outros preferiram falar em Sistema Internacional, defendendo
que a ordem bipolar de poder foi substituída por uma ordem multipolar; outros, ainda,
preconizaram que sequer se pode continuar a falar em equilíbrio de poder; por fim, há os que
defendiam ser a década de 1990 apenas um período de transição nas relações internacionais.
Todavia, pode-se dizer, numa perspectiva realista, que o sistema internacional dos anos de
1990 ainda trazia consigo a natureza anárquica, a hierarquia das Potências, a prevalência de
relações hegemônicas, a estrutura capitalista e liberal de conformação e os conflitos de
interesses. Não obstante, o mundo passava a buscar novos princípios e regras de conduta,
mudanças na estrutura do sistema internacional, o que ficou claro a partir de meados da
década de 1980.
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Contudo, o novo mundo tornava-se mais incerto, mais complexo e mais imprevisível:
√ novas levas de imigrantes rumaram das zonas pobres para os países desenvolvidos;
a quantidade de armas que havia no mundo, fruto da lógica da Guerra Fria, somada à
√ formação de vazios de poder e de leis em muitos países, estimulou o aparecimento de
redes internacionais de crime e de organizações político-terroristas;
ocorreu um refluxo nas políticas de segurança em alguns Estados, como foi o caso da
√ França, que passou a realizar uma série de testes nucleares nos anos de 1995 e 1996;
os EUA viram-se como única Superpotência global, mas sem condições de estruturar
√ por si uma nova ordem internacional. Assim, sua política externa passou a orientar-se
para (1) a criação de um duopólio com a Rússia (ao alargar o G7 para G8), com o
intuito de não ter que arcarem sozinhos com a ordem a construir; (2) o papel de
“Estado catalisador” de uma ordem que seria também construída com aliados, como na
Guerra do Golfo e na Guerra da Iugoslávia; (3) o papel de garante de uma ordem
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teve-se a contestação dos valores do Ocidente pela dinâmica região formada no Leste
√ Asiático, como liberalismo, democracia e direitos humanos, com a negativa de sua
universalidade;
blocos regionais foram criados: União Européia (UE); Cooperação Econômica da Ásia-
√ Pacífico (APEC); Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA); Associação
Latino-Americana de Integração (ALADI); Associação das Nações do Sudeste Asiático
(ASEAN); Mercado Comum do Sul (Mercosul);
Um filme que retrata de maneira bem-humorada essa nova ordem internacional sob a
ótica de quem “perdeu a Guerra Fria” é Adeus, Lênin (Alemanha, 2003), dirigido por
Wolfgang Becker, sobre as transformações na Alemanha a partir da reunificação, em
1989.
pág. 05
Globalização e regionalização
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Apesar de mais notório, o caso europeu não ocorreu isoladamente. Em todos os continentes
testemunharam-se processos de integração, fortalecendo organizações e uniões regionais. Na
América do Sul, a criação e o desenvolvimento do Mercosul é um bom exemplo. Quem poderia
supor, há algumas décadas, que Brasil e Argentina teriam um no outro seu principal parceiro e
que as rivalidades militares entre os dois desapareceriam?
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a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos (Viena, 1993):
difundiu a implementação de medidas nacionais, a interação e a ação conjunta dos
órgãos e agências da ONU e de órgãos globais e regionais para o fomento de uma cultura
comum e universal sobre direitos humanos;
a Rodada Uruguai do GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas (1994), que instituiu a
Organização Mundial do Comércio (OMC): regulamentação dos fluxos de bens, serviços e
propriedade intelectual entre os países e a solução de controvérsias a respeito.
Direitos humanos, meio ambiente e comércio internacional são, portanto, questões-chave desde
os anos 1990. São temas que afetam não a um Estado isoladamente ou a um grupo específico
de pessoas, mas que dizem respeito à humanidade como um todo.
pág. 07
A Questão da Segurança
Houve aumento considerável na demanda por serviços de garantia e manutenção de paz junto
à ONU, expresso no número crescente de resoluções do Conselho de Segurança, apesar de esse
fato não ter sido acompanhado de vontade política para a sua implementação.
Pequenas e grandes operações de paz, com baixos ou nulos índices de sucesso, como no
Camboja, na Somália, em Ruanda e na ex-Iugoslávia, começaram a lançar dúvidas sobre a real
capacidade operacional da ONU. O custo relativamente reduzido dessas operações em
comparação com os orçamentos nacionais de segurança demonstrava que não se tratava de um
óbice financeiro, mas, de um impasse político nas relações internacionais.
A Europa da década de 1990 buscou a fórmula do concerto do século XIX mais do que a
construção de um novo equilíbrio de poder. A Rússia, por sua vez, após extinguir o Pacto de
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Varsóvia e opor-se à extensão da OTAN ao Leste, reivindicou papel especial nesse concerto, ao
mesmo tempo em que a Grã-Bretanha reforçou sua inclinação para a OTAN e para os EUA, e a
França buscou caminhos independentes, como a retomada do desenvolvimento de uma força
nuclear própria.
pág. 08
O Oriente Médio tornou-se um barril de pólvora após o fim da Guerra Fria ter “descongelado” o
ambiente litigioso que se formara desde 1948, com a criação do Estado de Israel, na Palestina,
pela ONU. A questão palestina tornou-se um dos principais motivos de instabilidade na região,
contribuindo para o desenvolvimento de núcleos terroristas – alguns efetivamente apoiados por
países islâmicos –, que viam não só em Israel e nos EUA, mas também nos valores ocidentais,
um inimigo contra o qual se justificaria uma “guerra santa”. A Guerra do Golfo evidenciou a
divisão dos mundos árabe e muçulmano, e uma comunidade de segurança ao estilo europeu
ainda está longe do horizonte regional.
A Pax Americana, por seus métodos e imposições unilaterais, vem sendo cada vez mais
contestada pelo Ocidente, principalmente pelos países da Organização dos Estados Americanos
(OEA) e da União Européia. O papel dos EUA como principal agente do policiamento mundial,
segundo muitos autores, tem pouca chance de vingar como novo paradigma geopolítico
mundial, em virtude da sua visão unilateral e introspectiva da ordem internacional, da baixa
capacidade de diálogo, do peso do xenofobismo (principalmente em períodos eleitorais) e da
dificuldade em tolerar os interesses de outros povos e comunidades em jogo nas relações
internacionais. Isso ficou ainda mais claro com o Governo Bush (2001-2008) e a sua política de
“guerra preventiva” após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em território
estadunidense.
Muitos livros buscam tratar das transformações das relações internacionais após a Guerra Fria.
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Objetivos da Unidade:
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Recapitulando...
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Também passamos pelas principais correntes teóricas que buscam entender e explicar as
relações internacionais. Foi possível perceber que há diferentes maneiras de se conceber o
complicado mecanismo das relações entre os povos, inclusive com explicações antagônicas e
conflitantes, mas fundamentadas.
O Realismo continua sendo a corrente teórica mais importante das Relações Internacionais. A
visão de mundo realista tem se mostrado imperante no processo decisório das Grandes
Potências, principalmente após o 11 de setembro de 2001, que fez o mundo levar a sério uma
nova ameaça: o terrorismo. Ademais, ainda que não estejamos de acordo com a maneira
pragmática – para alguns até inescrupulosa – como os realistas tentam explicar e conduzir as
relações internacionais, é importante conhecê-la bem, pois aqueles que forem de alguma
maneira atuar no cenário internacional irão deparar-se constantemente com condutas realistas,
sobretudo com relação aos temas mais sensíveis.
Outro importante tema objeto deste curso foi a Sociedade Internacional e sua evolução ao
longo dos séculos, particularmente do século XVI ao século XX. Foram exploradas informações
gerais sobre alguns aspectos relevantes da História da Civilização Ocidental, que são
necessários à compreensão do Sistema Internacional de nossos dias.
Nunca vivemos em um período tão complexo quanto o dos últimos cem anos e, em especial, no
novo século que se inicia. Com a Sociedade Internacional globalizada, cada vez mais questões
nacionais e regionais acabam influenciando todo o sistema internacional. O século XXI se inicia
com uma agenda internacional complexa, conflitante e diversificada.
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Quando tratamos de agenda internacional, nos referimos aos grandes temas objeto
da atenção da comunidade das nações.
Assim, temos que buscar analisar e entender o sistema internacional por meio de seus
subsistemas – político, econômico, social, jurídico, cultural, militar-estratégico –, dos Atores
envolvidos no processo – há muito deixaram de ser apenas os Estados nacionais e hoje
englobam organizações internacionais, organizações não-governamentais, a opinião pública,
partidos políticos, empresas multinacionais e, claro, os indivíduos –, das Forças Profundas que
afetam as condutas dos Atores – aspectos econômicos, ideológicos, culturais, tecnológicos e
estratégicos – e, finalmente, da maneira como se dão as interações nesses subsistemas e entre
eles.
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A Questão Da Segurança
Há muito que a ordem internacional não parecia tão insegura. Com o colapso da URSS e o fim
da Guerra Fria, acreditava-se que, finalmente, o planeta chegaria a um estado em que a paz
seria norteadora e as relações internacionais não teriam mais na guerra um de seus aspectos
centrais. A década de 1990 provou que essas aspirações continuavam uma utopia. Conflitos
regionais, guerras civis, crises institucionais em diversas partes do globo revelavam o que os
realistas sempre afirmaram: não pode existir vazio de poder – onde as forças da Guerra Fria e
do sistema bipolar não mais operavam, sem que nada as substituísse, a anomia imperou. O
século XX acabou muito mais conturbado e complexo do que começara.
O século XXI se inicia com a questão da segurança internacional como uma das temáticas
centrais. Isso se deve, sobretudo, à nova política externa dos EUA após os atentados de 11 de
setembro de 2001. A prioridade da Potência hegemônica seria a defesa de seus interesses e a
segurança de seus cidadãos, onde quer que estivessem ameaçados. E o Governo de George W.
Bush deixou claro que, na cruzada internacional que os EUA empreenderiam, quem não
estivesse com eles estaria contra eles.
As Novas Ameaças passaram a ser uns dos aspectos mais importantes da agenda internacional.
Os problemas do crime organizado transnacional e do terrorismo internacional foram
catalisados pelos novos recursos da Sociedade
Internacional globalizada pós-Guerra Fria. Para
muitos, são novas forças que interferem na conduta
dos Atores.
Sem dúvida, a problemática da segurança marcará a Agenda internacional ainda durante muito
tempo. E esse é o aspecto do qual não podemos descuidar ao estudarmos Relações
Internacionais, mesmo que o Brasil aparente ser um país muito distante desses temas.
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O governo de Bill Clinton nos EUA (1993-2000) apontara para uma crise do paradigma realista
e uma ascensão do pluralista. Eleito em 1992, Clinton prometeu uma liderança global de “baixo
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custo” e uma dedicação maior à economia doméstica. Diante disso, vários acadêmicos norte-
americanos, como W. Kristol e R. Kagan, passaram a defender uma política externa neo-
reaganista para os EUA, que se traduziria em uma reafirmação do “excepcionalismo” do país no
cenário internacional, argumentando que fora o legado militarista da política de Ronald Reagan
que permitira a vitória contra o Iraque no início da década, que era a presença de soldados
norte-americanos no Golfo Pérsico que continha a agressividade de Saddam Hussein e do
fundamentalismo islâmico do Irã, que essa presença era o principal fator que impedia a
escalada de conflitos, como quase aconteceu entre a Grécia e a Turquia, que foi o papel dos
EUA como líder global que manteve o regime político no Haiti e no Paraguai etc.
No outono de 2001, o presidente dos EUA, depois de o país ter sido atacado, pela primeira vez
na História, em seu próprio território, por um ato terrorista que usou aviões como mísseis, fez
pronunciamento – lançando mão de qualificativos religiosos e maniqueístas–, asseverando que,
na luta contra o terror, os países do mundo que não estivessem com os EUA, estariam,
automaticamente, contra os EUA, e, portanto, que não se aceitaria qualquer ameaça à
hegemonia norte-americana. A semelhança entre ambos os discursos é óbvia.
Iniciou-se uma nova doutrina militar no início do século XXI: a da guerra preventiva. Os EUA
voltaram a fazer intervenções unilaterais
como fizeram na década de 1980 na
América Central. O neo-reaganismo cantado
por Kristol e Kagan anos antes ganhou
forma.
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Processos de Integração
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Novos foros internacionais são estruturados para discutir as questões econômicas entre os
países. A Organização Mundial do Comércio ganha força. Ao lado desses foros para se debater a
economia global, seria impossível que não se estruturassem outros, para tratarem de questões
sociais e até políticas.
Superpopulação e Subdesenvolvimento
Apesar das grandes conquistas tecnológicas e do bom padrão de vida em algumas partes do
globo, uma porção significativa da humanidade ainda vive em nações subdesenvolvidas ou em
desenvolvimento. O problema do subdesenvolvimento, em alguns setores da Sociedade
Internacional, torna-se, cada vez mais, relevante para os países desenvolvidos, sobretudo com
relação aos problemas causados pelas migrações e pelo crescimento populacional nos países
mais pobres.
Questões ambientais
Meio ambiente é outro tema importante que merecerá atenção dos membros da Sociedade
Internacional do século XXI. Afinal, o planeta inteiro tem sofrido os efeitos da atividade humana
moderna. Questões como o desmatamento, a poluição, a extinção de diversas espécies de
plantas e animais, o processo acelerado de desertificação em diversas fases do globo e a
escassez de água potável, as mudanças climáticas – com catástrofes a elas associadas – e o
efeito estufa marcarão a agenda internacional desse
primeiro século do terceiro milênio.
Novos regimes internacionais vêm sendo criados e operando no sentido de regularizar o uso de
bens de patrimônio da humanidade, como a água, o ar e o espaço. Em 1997, líderes de 160
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países firmaram o Protocolo de Kyoto, estabelecendo que entre 2008 e 2012 sejam cortados ao
menos 5% nas emissões de gases causadores do efeito estufa na atmosfera em relação aos
níveis de 1990. O regime, que sofreu forte resistência no início, hoje vem sendo
gradativamente reconhecido como importante para a sobrevivência do planeta. A
biodiversidade, sendo considerada também um patrimônio da humanidade, portanto, é objeto
de articulação entre os Estados, para a regularização da exploração de seus recursos.
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A Sociedade Internacional do início do século XXI é marcada pela defesa da democracia e dos
direitos humanos em todo o planeta. Apesar de ainda existirem governos autoritários e
ditatoriais em diversas partes do globo, acredita-se que esses regimes caminhem rumo à
extinção. A democracia tem-se apresentado como a opção definitiva de regime político. Por
meio da guerra no Oriente Médio, por exemplo, os EUA buscam exportá-la aos países árabes e
persas não-democráticos; por meio das exigências para o ingresso na União Européia, a Europa
tenta fortalecê-la no Leste Europeu. Esse é um fenômeno que muito tem influenciado as
relações internacionais.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E
Desde a Carta da ONU, em seus artigos 55 e 56, busca-se pela Com o fim de criar condições de estabilidade e b
formação de uma nova ética mundial em torno dos direitos pacíficas e amistosas entre as Nações, basea
humanos. Os direitos humanos têm sido apontados como o igualdade de direitos e da autodeterminação
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sujeito de direito no Direito Internacional, conforme se pôde ver em uma decisão do Tribunal
Internacional para a ex-Iugoslávia em 1996 e, mais recentemente, com o Estatuto do Tribunal
Penal Internacional, de 1998, o qual prevê, expressamente, os crimes contra a humanidade.
Outro ponto importante diz respeito aos Atores de destaque no sistema internacional no século
XXI, aí incluídos os Atores não-estatais – organizações não-governamentais e empresas
multinacionais, entre outros – e aqueles Estados, ou blocos, que se destacarão como alternativa
ao pólo hegemônico dos EUA – por exemplo, a União Européia e a China.
O Tribunal Penal Internacional e o seu Estatuo, ao imporem novos limites às ações de guerra,
inclusive às guerras civis, apresenta-se como um novo Ator que pode ter papel importante nas
relações internacionais do século XXI.
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Convém relembrar que, como um dos maiores e mais populosos países do globo, com uma das
maiores economias do planeta e com pretensões de liderança internacional, é fundamental que
o País não se descuide de temas de relações internacionais.
O Congresso Nacional tem papel importante nas relações internacionais do Brasil. Nesse
sentido, dispõe de Comissões, tanto na Câmara como no Senado, encarregadas de garantir a
participação do Poder Legislativo em temas como a escolha de embaixadores e a aprovação de
qualquer tratado internacional assinado pelo País. Daí a importância de se ter quadros no Poder
Legislativo capacitados a entender os complexos mecanismos do Sistema Internacional.
http://www17.senado.gov.br/composer/print/view/all/true 25/03/2011
Trilhas - ILB - Educação a distância Página 164 de 164
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