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ATO 1
Cena 2: No reformatório
(Através de mímicas, acontecerão cenas de dentro do reformatório. João sendo disciplinado, sofrendo com os monges.)
Cena 3: Boiadeiro
A luz acende e João está sentado em um banco, com lágrimas nos olhos, olhando para o público. Ao fundo uma
sonoplastia de mar. Chega um homem com chapéu, senta-se ao seu lado e logo percebe suas lágrimas.
BOIADEIRO – Dia bunito, não? Esse marzão de Deus dá vontade de chora mesmo...
JOÃO – É.
BOIADEIRO – É tudo que falta na minha cidade... parece que ocê num é daqui como eu...
JOÃO – É.
BOIADEIRO – Parece triste, problemas todo mundo têm... eu por exemplo tenho uma filha que mora aqui, a coitada
está muito doente...
BOIADEIRO – Brasília, Distrito Federal. Cidade linda, boa prá começar a vida. Nesta época de Natal fica toda
enfeitada, é luizinha prá todo lado... E você? Me conta a sua história.
JOÃO – Meu nome é João, João de Santo Cristo. Vim aqui realizar um dos meus sonho, ver o mar. É lindo...
BOIADEIRO – É rapaz, mas a vida continua... esse não será o único sonho de sua vida... virão outros... prá onde vai
agora?
JOÃO – Sei não seu moço... to sem destino... prá ‘quela vila que eu num volto... Passei três malditos anos de minha
vida em um reformatório... quase fiquei doido... chega de sofrê... vô vive minha vida.
BOIADEIRO – Tive uma idéia... eu ia volta hoje á noite prá Brasília, mas arresorvi fica mais uma semana, até minha
filha fica boa di veiz... por quê qui ocê num vai no meu lugar. Eu vô perde a passagem mesmo. Brasília é um ótimo lugá
prá começa a vida.
BOIADEIRO – E quem ta pedindo dinheiro aqui? É um presente de amigo. Faiz assim, lá em Brasília eu tenho muitos
amigos, sei que um deles vai te arruma um quebra-galho. O que ocê sabe faze?
BOIADEIRO – Tem um amigo meu que sempre precisa de rapaz forte prá trabaiá. Ele faz moveis. Ce podia trabaiá um
tempo com ele na marcenaria, daí ce ia aprendendo a profissão. Faz assim, vamo ali compra um cafezinho, eu pago! Eu
te passo o endereço dele...
SAEM
ENTRA O JOÃO COM UM COLEGA DE TRABALHO, ESTÃO COM UM MACACÃO, SUJOS DE CERRAGEM,
COM UMA MARMITA, SENTAM NO CHÃO.
JOÃO - Espero que seja isso tudo que você tá falando mesmo...
JUCA – João, você é novo na cidade cara. Não sabe de nada, confia no papai aqui. Eu sei os “point” de Brasília.
JOÃO – E a grana?
JUCA – Acho que agente já recebe na quarta-feira... guarda grana meu chapa...
JOÃO – Como guardar aquela merreca... tô precisando divertir um pouco... vô tira só do aluguel e da comida e vô torra
tudo com as gata...
JUCA – É isso aí... divide prá gente ir toda sexta... Agora vamo come e tirá uma palhinha...
RENATO – Legal, hem João? Estava sozinho aqui em Brasília, agora já tem um parente aqui.
PABLO – Aqui... ali... meus negócios não me deixam morar em um só lugar. Amanhã mesmo estou indo prá Bolívia.
Vou buscar material, volto em 2 semanas. Vida de vendedor não é fácil.
JUCA – Então vamo lá, vamo fazer vaquinha... todo mundo cooperando! ... beleza!
RÚBIA – Vamos lá! Deixa que eu conto... (conta) 7 reais e 82 centavos. Todo mundo pobre, não dá prá chapar...
JUCA – Dá sim... usa a cabeça! Vamos comprar duas 29 e um xuá laranja.... vai dar um belo pingorante!
(Vão saindo e o João puxa o braço do Pablo, ficam os dois para trás)
JOÃO – Primo, não tem jeito de você me arrumar um trampo? Eu ralo na marcenaria o dia todo, ganho uma merreca,
não dá nem prá alimentar direito...
PABLO – A barra pode pesar primo, tem que ser esperto prá esse ramo.
JOÃO – Vim do sertão mas não sou burro não.... e aliás tenho seu sangue, sei que vou dar conta. É dinheiro fácil!
PABLO – Tá bom primo! Vou te dar uma missão como teste, se sair bem, tenho grandes negócios pr’você. Na próxima
semana, vai ter uma festa de rock na Asa Norte, quero que você vá lá vender material, é um bom começo prá você fazer
sua clientela.
JOÃO – Não vou te decepcionar primo. Valeu... (pega um envelope do bolso) isso vai me ajudar muito a cumprir o que
vim fazer aqui...
(Saem)
SAINDO DA FESTA
JUCA – Cara, que maneiro! Me dá mais um pouco... (Toma um gole de uma bebida)
RENATO – Só vamos assustar o cara João. Você tem que ser durão... vamo lá!
(Cercam o casal)
RENATO – E aí?
JUCA – Nada...
RENATO – Relaxa... fica de boa... e aí João, nossa gatinha quer alguma coisa...
JOÃO – Pó-por favor, ela que-quer seu relógio... (Fala prá moça)
POLICIAL 2 – (Para João) Devolve o relógio aqui, seu ladrãozinho de uma figa! (Pega e bate no João)
POLICIAL 1 – Devem ter abusado da garota também... tem gente lá na cadeia que vai adorar brincar com vocês... são
tão românticos...
POLICIAL 2 – (Pegando no cabelo de João e levantando seu rosto) Idiota! Vai se arrepender de ter nascido!
BLACKOUT
JUCA – Você conquistou todo o DF! Muitos políticos são nossos clientes, as ruas são nossas, pobres e ricos!
JOÃO – Realmente o material que o Pablo trás da Bolívia é muito bom mesmo.
JUCA – É da pura João... é da pura... fez a cabeça de todos da cidade.
ENTRA AGUINALDO
JUCA – E tem mais Aguinaldo, não acreditamos nessa sua estória de roubo, quem roubou foi você!
JOÃO – Quer saber? Vou dar um jeito nisso é agora mesmo! (Atira à queima-roupa na cabeça dele) Assim, todos vão
me temer e pensar duas vezes antes de tocar no que é meu.
JUCA – João, tem uma mocinha aí fora querendo falar com você.
JOÃO – Falar comigo? O que ela quer? Não quero receber ninguém.
MARIA LÚCIA – (ENTRANDO) Mas vai ter que me receber. O senhor acha que é o valentão, acha que é o rei, mas
saiba que não é de nada!
MARIA LÚCIA – Espere! Só eu falo agora. Fica mandando flores, bombons, quem você pensa que é? Eu já te conheço,
aliás, o bairro todo te conhece, não passa de um vendedorzinho barato de droga!
JUCA – Ei mocinha...
MARIA LÚCIA – Não estou falando com você! (Para João ) E quero que saiba de uma coisa, senhor João de Santo
Cristo, tão destemido e temido, pára de me mandar presentes, não sou da sua laia! Ouviu?
JOÃO – Espere mocinha, você já está indo longe demais.... está passando dos limites!
MARIA LÚCIA – Vai fazer o que? Me bater? Me matar? (Dá uma joelhada no saco de João) Isso é o que você merece!
JUCA – Moça! Pare! Existe um engano. Não foi João quem estava te paquerando, foi eu!
JUCA – E os presentes não eram prá você, e sim, prá sua irmã. Carmem Lúcia.
MARIA LÚCIA – Prá minha irmã Carmem Lúcia? Eu podia jurar que neles estavam escrito meu nome: Maria Lúcia...
(para João) Por favor... me desculpe... eu... eu... sinto muito.
MARIA LÚCIA – Meu Deus.... como sou tola... (vai saindo) Te vejo depois!
(Todos olham para João e disparam em risadas. João desmaia de modo engraçado)
BLACKOUT
JOÃO – E aí mocinha?
MARIA LÚCIA – O quê? ... ah sim... olha, realmente eu sinto muito... me desculpe!
MARIA LÚCIA – De mim? Por quê? Alguém tão poderoso como você deve ter muitas mulheres aos seus pés...
MARIA LÚCIA – Me desculpe... Gente este é João... João estas são minhas amigas...
JOÃO – Oi...
JOÃO – Agente?!
SOFIA – É, agente, você, Maria Lúcia, eu e um amiguinho seu. Vamos! (Sai puxando Maria Lúcia)
(João fica no palco com o papel na mão, solta uma música e blackout)
JOÃO – Cale a boca Renato! Atenção! Todos fiquem prontos para o que der e vier! Mande entrar!
GENERAL – João de Santo Cristo... a polícia tem te procurado... você e seus traficantes tem dominado o tráfico por
essas bandas... estão em todos os lugares, bancas de jornais, colégios de crianças, becos , bares... em todo o lugar. Já
obtive informações que seu material é bom. Aliás... eu mesmo o sei. (Tira um papel do bolso e o cheira profundamente)
JOÃO – Obrigado... obrigado... mas o que o trás aqui? Presumo que não veio comprar material.
GENERAL – Não, realmente não vim comprar material. O problema é que suas vendas estão atrapalhando os negócios
de um grande amigo meu. Ele não está nada feliz com a concorrência.
JOÃO – Amigo seu? General, por um acaso, está me dizendo que é amigo de um traficante e o está acobertando?
GENERAL – Negócios são negócios. Ele nos ajuda a manter a ordem na cidade. A polícia apenas não se preocupa com
ele... e afim de continuar a manter a ordem... vim pessoalmente em missão de paz, antes que estoure uma guerra de
gangs nas ruas desta capital federal. O presidente não iria gostar nadinha.
JOÃO – O presidente? (Pega seu envelope) Aqui está o que o presidente precisa! Na hora certa ele vai te-lo!
GENERAL – O que é isso? Olha João, não queremos encrenca. Nosso amigo me mandou aqui com esta maleta... é um
presente... e lhe pede um pequeno favor... que trabalhe para ele... ou que vá vender seu material em outra região...
JOÃO – (Pega a maleta e abre-a) Uau! Quanto dinheiro! Estou impressionado... Acho melhor eu ficar em casa...
GENERAL – Esta é uma proposta indecorosa João... é apenas uma resposta ao comércio das ruas...
JOÃO – Seu velho bundão... para que te valem estas 10 estrelas no peito? Enquanto o narcotráfico e a bandidagem
tomam contam das ruas, vocês fardados ficam atrás das mesas com o cu na mão! Morrendo de medo, daí a
conseqüência... marionetes de grandes traficantes!
GENERAL – Vou te mostrar quem é covarde João, isso não vai ficar assim. A partir de hoje a caçada vai começar! Vou
colocar meus homens nas ruas, seu fim está próximo João... não haverá descanso para a policia ate que te pegue e
arranque suas tripas... Você perdeu a sua vida meu irmão! Essas palavras hão de penetrar seu coração... vai sofrer as
conseqüências como um cão...
JOÃO – E eu estarei esperando você e suas bonequinhas... ah! E tem mais... (Pega a maleta e urina dentro) mande de
volta para o seu amiguinho... agora sai da minha frente antes que eu arranque teus olhos!
MARIA LÚCIA – Agora chega! Quero ter uma conversa particular com o João! Me dêem licença! O que está querendo
provar João? Acaba de enfrentar a polícia...
MARIA LÚCIA – Amor uma pinóia! Estou caindo fora João! Não quero ser namorada de um fora da lei!
JOÃO - Prefere ser namorada de um pobretão aprendiz de marceneiro? Que vive duro, sem grana, ouvindo promessas
de políticos pelo rádio dizendo que a vida vai melhorar?
MARIA LÚCIA – Prefiro João! Pelo menos é dinheiro limpo. Onde meus filhos terão pouco, mas um pai honesto,
trabalhador, um bom exemplo para a vida! João, veja você, já fazem 9 meses que te conheci, e você está cada vez mais
revoltado...
JOÃO – E rico! Tenho muito dinheiro! Pablo traz a encomenda e eu repasso para representantes. Tenho muitos
trabalhando prá mim... muitos que passavam fome, hoje tem um futuro.
MARIA LÚCIA – Que futuro? Vender drogas? Corromper menores? Destruir famílias? Tô fora! João, você está se
tornando um bandido...
JOÃO – Está bem... está bem... Maria Lúcia, não me abandone. Você é a coisa mais importante da minha vida. Eu sofri
muito na infância, mataram meu pai, aos 15 minha mãe me mandou para um reformatório onde sofri o pão que o diabo
amassou, por causa da minha cor e classe. A única grana que consegui juntar foi para comprar uma passagem para
Salvador e realizar meu grande sonho.
JOÃO – Ver o mar... o sofrimento me levou a acreditar que o mar não passava de um sonho... se existisse eu precisaria
de vê-lo. E achei que minha vida acabaria ali. Hoje percebo que posso ter um futuro, você me trouxe novamente a luz.
Hoje tenho um outro sonho, ter você ao meu lado o resto da minha vida. Maria Lúcia, eu te amo. (Tira uma aliança do
bolso) Case comigo. Quero ter um lindo filho com você... e viver uma vida ao seu lado. Eu prometo... vou parar com as
vendas. Vou voltar prá marcenaria... preciso apenas de um tempo. Afinal, Pablo confiou em mim, não posso deixa-lo de
uma hora prá outra.
JOÃO – Eu prometo...
(Abraça-a )
BLACKOUT
CAPANGA 1 – Tomaram nosso ponto da rua P-15. Um dos nossos estava lá vendendo mercadoria, e foi abordado por
outros que comercializavam por ali... vai Robualdo, conta o que aconteceu!
ROBUALDO – É o seguinte Jeremias, eu sempre vendo naquela rua. Ontem eu cheguei lá, já tinha outros vendendo
em meu lugar, para meus clientes. Meus clientes disseram que a nossa mercadoria era ruim e que a dos outros era
melhor.
CAPANGA 1 – Daí, foram falar para sair de nosso ponto, eles nos mandaram tomar no ...
CAPANGA 1 – Porque éramos apenas 2 e eles uns 8 ou 9, e armados... Jeremias, o chefe deles é o tal João de Santo
Cristo. Todas as bocas de fumo da cidade só falam nesse nome... estamos perdendo nossos pontos, nossos clientes...
ROBUALDO – Até suas mulheres estão indo pro lado dele... he he he...
JEREMIAS – Ninguém caçoa de mim infeliz... vou abrir sua boca prá que aprenda a das melhores rizadas.... (rasga a
boca dele com o canivete, o Robualdo grita e sai berrando) Ninguém caçoa de Jeremias!
JEREMIAS – O quê? Esse novato de merda recusou minha proposta? (Vai falando e abrindo a maleta) O que significa
isso?
JEREMIAS – (Estourando) Eu o mato! Vou arrancar seu fígado com minhas próprias mãos!
JEREMIAS – Todos! Não se esqueçam quem sou! Sou Jeremias, um traficante de renome! Já previa esta resposta deste
João bundão! Capanga! Fez o que pedi?
CAPANGA – Sim, Jeremias! Nada que uns trocadinhos não possam resolver, ela está bem aí fora!
JEREMIAS – Para acabar com este babão, teríamos que encontrar seu ponto fraco. Temos uma informante no meio
deles, traga-a aqui!
CAPANGA – É prá já! (Busca a Márcia)
MÁRCIA – E aí?
JEREMIAS – General, a Márcia é uma velha amiga... o que trouxe de bom Márcia?
JEREMIAS – É o de todos nós Márcia, basta uma pequena bala e... puf!
MÁRCIA – O nome dela é Maria Lúcia! Uma bobinha que mora no bairro! Estão perdidamente apaixonados!
JEREMIAS – Não! Quero que João de Santo Cristo sofra! Vou mais longe... vou tomar Maria Lúcia prá mim... vou me
casar com ela... vou partir o coração de João... depois, eu o mato! Sua ruína será aos poucos... vai se arrepender por ter
nascido! Márcia, você vai me ajudar a ter um encontro com esta tal de Maria Lúcia!
JEREMIAS – Você não está entendendo... (vai tirando uma arma) meu charme está aqui... (aponta para a boca do
capanga)
CAPANGA – Realmente és bonito... lindo... maravilhoso... mas... guarde seu charme prá sua futura amada...
(Gargalhadas de todos)
BLACKOUT
PABLO – Primo... estamos orgulhosos de você! Você cresceu muito nosso império!
JUCA – Aliás... você fez seu próprio império! Todos só falam em você e no seu material...
JOÃO – Prá mim? Obrigado... (senta no chão) Abra prá mim Juca... estou bêbado... não consigo!
JOÃO – (Levantando e abraçando-o) Obrigado, primo! Pablo, ontem eu e o Juca fomos à um bar, saímos no meio da
bebedeira e descobrimos alguém trabalhando em meu lugar, eu um dos nossos pontos. Preciso de um parceiro forte
naquela região...
PABLO – Já sabe prá quem trabalha?
JOÃO - Para um tal de Jeremias... mandou até um General ir atrás de mim... mijei nele...
JEREMIAS – Olha só que sorte... veja quem eu encontro por essas bandas... Pablo! O peruano Pablo!
JEREMIAS – Não tanto o quanto vai gostar do meu... (Todos sacam as armas) Você vai morrer João de Santo Cristo!
JUCA – Não vou sair daqui... vou matar esse daqui primeiro!
CAPANGA – Sua mãe não iria gostar... iria ficar muito triste!
BLACKOUT
MADALENA – Já percebi!!! Então vou direto ao assunto: amei o presente que você me deu... as rosas são lindas!
RENATO – Gostou mesmo? Eu nunca mandei rosas prá ninguém. Foi a primeira vez.
MADALENA – Foi demais, vem aqui! (Vai beijá-lo na boca, mas aparece o General)
CAPANGA 2 – Errado! Seu nome é defunto! (Dá-lhe uma facada, a Madalena grita)
JEREMIAS – (ENTRANDO) Esse recado eu mesmo vou dar para seu chefinho babaca... (Abrindo o ziper) Diga prá ele
que até suas mulheres são minhas...
BLACKOUT
MÁRCIA – Aqui, esse é o lugar. O João disse prá trazê-la até aqui, queria se encontrar com você.
MÁRCIA – A surpresa é só prá você. Creio que João quer ficar à sós com você. Ele não vai demorar.
JEREMIAS – O irmão João não pôde vir. Está assinando os papéis. Vão se casar na minha igreja.
JEREMIAS – Ainda não! (Pega ela pelo percoço) Você está menstruada mocinha? Anda! Responda!
JEREMIAS – Então está pronta prá parir um filho de Jeremias! E depois vai se casar comigo! Se não, morre toda sua
família. Agora, receba Jeremias como seu legítimo esposo! (Gargalhadas)
BLACKOUT
SOFIA – Como chega? Não pode parar agora. Você começou tudo isso! Tem que pegar Jeremias!
JOÃO – Não, isto está ficando perigoso demais, quer saber? Vou parar por aqui. Vou sair do crime. Já fazem 1 mês que
não vejo Maria Lúcia. A saudade já começa a apertar meu peito! Vou voltar prá casa e me casar com ela.
JUCA – Amigo, estou com você, seja qualquer decisão que tomar.
JOÃO – Não, não sou covarde, apenas não quero morrer. (Pega o envelope) pelo menos até cumprir o que vim fazer
aqui, não posso morrer. E também não quero que nenhum de meus amigos morra também.
RÚBIA – Nunca desgruda dele não é? O grande mistério de de João de Santo Cristo!
JUCA – Não liga prá elas amigo. Vamos, vamos prá casa...
BLACKOUT
CENA 18: Segunda vez no Inferno
MÁRCIA – João...
MÁRCIA – Não João... não posso lhe dizer... não tenho coragem.
MÁRCIA – Os dois já estavam juntos à algum tempo. Ela te enganou. Se casaram à 2 semanas atrás.
JOÃO – (Chorando) Meu Deus, não! Maria Lúcia, não! Eu te amo! Não é possível! (Chora)
JOÃO – Me deixa! (Pega a arma e aponta prá Márcia) Você está mentindo!
MÁRCIA – Por que mentiria? Por que não vai lá e veja com seus próprios olhos?
JOÃO – (PONDO A ARMA NA BOCA DA MÁRCIA) Eu vou, se isso for uma armação, eu volto e te encho de balas!
Preciso de mais uma arma... minha winchester... (Sai do palco e volta) Alguém pegou minha arma! Eu mato quem
mexeu nas minhas coisas! Vai ser só com esta mesma...
BLACKOUT
CAPANGA 2 – Estamos indo bem, a polícia do nosso lado, João de Santo Cristo está se acabando...
MÁRCIA – Já está vindo prá cá... pegou a arma e sua turma e está vindo prá te pegar! Ele já ficou sabendo que você se
casou com Maria Lúcia, está irado!
JEREMIAS – Bom trabalho Márcia... bom trabalho... trabalhou muito bem... não teria conseguido sem a sua ajuda.
RÔXA – Claro Jeremias... o que não faço por você? (pega uma arma) Está aqui. (entrega uma arma para a Márcia)
MÁRCIA – O que significa isso? Não quero armas, quero meu dinheiro!
JEREMIAS – Você não é confiável Márcia! Se traiu seus amigos por dinheiro, com certeza me trairia também.
MÁRCIA – (Gaguejando) Claro que não! Faço parte do seu bando, trabalho prá você...
MÁRCIA – (Apontando a arma para Jeremias) Quero meu dinheiro agora! E tudo em dobro!
JEREMIAS – (Com medo) Por favor, não faça isso, calma . Estou te dando a chance de ir embora...
MÁRCIA – Vou embora sim, atiro em você e sei que João vai me pagar um bom dinheiro pela sua cabeça! (Aperta o
gatilho, mas não tem balas)
JEREMIAS - Este foi o seu teste Márcia, como disse não é confiável... (Esfaqueia ela) Agora vamos nos preparar para
receber João de Santo Cristo!
JEREMIAS – Tenho minhas fontes... leva-a de volta, creio que ela não me possa mais servir... (risos)
JOÃO – Márcia...
JEREMIAS – Creio que ela não quer ir... ela agora é minha esposa.
JUCA – João, vamos acabar com tudo isso agora! É viver ou morrer!
JOÃO – Não Juca! Esta é uma questão pessoal entre eu e Jeremias! Chega de mortes! Quem tem que morrer aqui é um
de nós dois.
JOÃO – Amanhã, às 2 horas na Ceilândia. Em frente ao lote 14. É uma região deserta e sem dono. Nem minha, nem
sua.
JOÃO – Qualquer arma. Você pode escolher suas armas seu porco traidor. Vou matar você e mato também Maria Lúcia,
menina falsa que jurei o meu amor! Amanhã será o fim.
JEREMIAS – O seu fim. E será um começo prá mim e minha linda esposa (Abraça Maria Lúcia)
BLACKOUT
REPÓRTER 1 – Todos se preparam para o grande duelo. Eles comandam todo os Distrito Federal. Ninguém sabe quem
são, seus rostos são desconhecidos. Mas hoje um deles irá ser eliminados. E este é o lugar marcado. Estamos aqui na
Ceilândia, em frente ao lote 14. Vamos colher um pouco da opinião pública deste lugar... (vai nas pessoas entrevistá-
las)
JOÃO – Juca, o que está acontecendo aqui? Veja! Bandeirinhas... camêras de Tv... todas essas pessoas!
(Ambos se olham e sacam suas armas juntos e apontam para a cara um do outro)
JOÃO – Andei treinando meu caro! (para Maria Lúcia) Maria Lúcia... quero que saiba que te amo muito!
(Ficam de costas, o povo conta os passos, no terceiro Jeremias se vira e atira, acertando-o pelas costas)
JEREMIAS – (PARA AS CÂMARAS E O POVO) Sou um cidadão comum, creio que fiz um bem para a humanidade,
matei um perigoso traficante. O homem caído era um assassino... todos irão agradacer o bem que fiz...
JOÃO – Quero que me faça um favor... pegue o envelope no meu bolso! (o Juca o pega) quero que faça este envelope
chegar ao presidente. Prometa! Prometa!
JOÃO – Posso ver toda minha vida! Minha infancia... (Olha e vê Maria Lúcia) Maria Lúcia... é você?
MARIA LÚCIA – Não te abandonei... quero que saiba que sempre te amei... Jeremias me obrigou, me estuprou e disse
que mataria minha família!
JOÃO – Desgraçado! Não vou morrer até matá-lo! Onde está minha arma?
JOÃO – Onde está minha arma! (Vê a winchester com Maria Lúcia) O presente de Pablo... está com você!
MARIA LÚCIA – Vá... faça o que tem de fazer! Pelo nosso amor...
JOÃO – Jeremias...
JOÃO – Ainda não... (está apontando a arma) Jeremias eu sou homem, coisa que você não é e não atiro pelas costas
não. Olha prá cá seu filha da puta, sem vergonha , dá uma olhada no meu sangue!
MARIA LÚCIA – João... meu amor... (pega a arma bem lentamente e suicida)
FINAL
REPÓRTER – Ontem pudemos acompanhar ao vivo o grande duelo entre João de Santo Cristo e Jeremias. A sociedade
está alarmada. Muitos declaram que João é realmente um santo, outros o chamam de demônio. Estou aqui ao lado de
seu melhor amigo que não quis se identificar, apenas se apresentou como Juca. O Juca, nos chamou com exclusividade
pois irá revelar um grandioso segredo. João veio cumprir uma missão, e vamos agora conhecer esta missão através deste
envelope que carregava sempre consigo. Se trata de uma carta ao presidente, aliás, é um pedido de socorro.
JUCA – (Pegando o microfone) Seu presidente, meu amigo se tornou bandido apenas para chamar sua atenção! Vou ler
esta carta e espero que esteja assistindo este jornal e faça alguma coisa...
Sr presidente,
Meu nome é João de Santo Cristo, vim de um lugar humilde, onde as pessoas são trabalhadoras. Cheguei aqui na
cidade sem dinheiro nenhum. Meu povo é do sertão do nordeste, onde não temos água e nem comida. Vim apelar prá
que o senhor olhe um pouco prá nós, pois necessitamos de...
NARRADOR – Até hoje, ainda não se sabe se o conteúdo da carta seria verdadeiro ou se Juca apenas quis limpar o
nome do amigo. Bem, em todo o caso, até hoje, João de Santo Cristo é conhecido por aquelas bandas. Mas, será que
alguém teria a resposta para essa indagação? O que João de Santo Cristo realmente queria?
MÚSICA: “Ele queria é falar com o presidente prá ajudar toda essa gente que só faz....sofrer”