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Texto: FAROESTE CABOCLO – “A Saga de João de Santo Cristo”

Escrito por: Jaime Júnior


Dez 99
Uma adaptação da obra de Renato Russo – Faroeste Caboclo

ATO 1

Cena 01: Visita

Começa-se a cena com a mãe de João recebendo o padre em sua casa.

Mãe – A benção padre, entra!


Padre – Deus te abençoe minha filha!
Mãe – O que o traz aqui padre a esta hora da noite?
Padre – Sente-se! Precisamos Ter uma conversinha... é sobre seu filho... João.
Mãe – O que tem o João Padre? O que ele aprontou desta vez?
Padre – Bem, não sei nem como começar. Hoje, João foi à missa...
Mãe – Como? Não acredito... João indo à missa?
Padre – Isso mesmo, ele foi à igreja. E uma das senhora o viu pegando dinheiro na caixinha do altar.
Mãe – Meu Deus! Não acredito! Ele nunca roubou antes, ele é um menino levado, mas nunca havia roubado.
Padre – Também não quis acreditar, mas é a pura verdade. João está impossível. Tem pai querendo linchá-lo, ele já...
já... (Pigarreia) com muitas meninas na cidade. Já foi expulso da escola e agora passou a roubar!
Mãe - Padre, pelo amor de Deus, não prenda meu filho! Eu prometo, eu vou pagar, tostão por tostão...
Padre – Eu sei, eu sei... mas os moradores da vila querem uma providência imediata. E eu gostaria de dar-lhe uma
sugestão. E espero que seja aceita, pois creio que será o melhor para todos e inclusive para o João.
Mãe – Que providência padre?
Padre – Vamos mandá-lo para um seminário. Um reformatório!
Mãe – Mas padre, um reformatório?
Padre – Precisamos tentar. João está precisando de um pouco de disciplina. Desde que seu filho viu o pai sendo morto
por aquele soldado, parece que um ódio está tomando conta dele. Quem sabe ele não descubra por si mesmo que tem
uma vocação para o sacerdócio?
Mãe – (suspirando) Talvez seja mesmo melhor, padre. Não quero ver meu filho virar um bandido.
Padre – Ele acabou de fazer 15 anos, é muito jovem. Ainda podemos recuperá-lo. O reformatório fará bem à ele. Confie
em mim!

(A mãe chora e o padre a abraça)

Cena 2: No reformatório

(Através de mímicas, acontecerão cenas de dentro do reformatório. João sendo disciplinado, sofrendo com os monges.)

Cena 3: Boiadeiro

A luz acende e João está sentado em um banco, com lágrimas nos olhos, olhando para o público. Ao fundo uma
sonoplastia de mar. Chega um homem com chapéu, senta-se ao seu lado e logo percebe suas lágrimas.

BOIADEIRO – Dia bunito, não? Esse marzão de Deus dá vontade de chora mesmo...

JOÃO – É.

BOIADEIRO – É tudo que falta na minha cidade... parece que ocê num é daqui como eu...

JOÃO – É.
BOIADEIRO – Parece triste, problemas todo mundo têm... eu por exemplo tenho uma filha que mora aqui, a coitada
está muito doente...

JOÃO – Então é forasteiro? De onde?

BOIADEIRO – Brasília, Distrito Federal. Cidade linda, boa prá começar a vida. Nesta época de Natal fica toda
enfeitada, é luizinha prá todo lado... E você? Me conta a sua história.
JOÃO – Meu nome é João, João de Santo Cristo. Vim aqui realizar um dos meus sonho, ver o mar. É lindo...

BOIADEIRO – É rapaz, mas a vida continua... esse não será o único sonho de sua vida... virão outros... prá onde vai
agora?

JOÃO – Sei não seu moço... to sem destino... prá ‘quela vila que eu num volto... Passei três malditos anos de minha
vida em um reformatório... quase fiquei doido... chega de sofrê... vô vive minha vida.

BOIADEIRO – Tive uma idéia... eu ia volta hoje á noite prá Brasília, mas arresorvi fica mais uma semana, até minha
filha fica boa di veiz... por quê qui ocê num vai no meu lugar. Eu vô perde a passagem mesmo. Brasília é um ótimo lugá
prá começa a vida.

JOÃO – Está falando sério? Moço num tenho 1 tostão no bolso...

BOIADEIRO – E quem ta pedindo dinheiro aqui? É um presente de amigo. Faiz assim, lá em Brasília eu tenho muitos
amigos, sei que um deles vai te arruma um quebra-galho. O que ocê sabe faze?

JOÃO – Nada, mas sô muito esforçado...

BOIADEIRO – Tem um amigo meu que sempre precisa de rapaz forte prá trabaiá. Ele faz moveis. Ce podia trabaiá um
tempo com ele na marcenaria, daí ce ia aprendendo a profissão. Faz assim, vamo ali compra um cafezinho, eu pago! Eu
te passo o endereço dele...

SAEM

Cena 4: Aprendiz de Carpinteiro

ENTRA O JOÃO COM UM COLEGA DE TRABALHO, ESTÃO COM UM MACACÃO, SUJOS DE CERRAGEM,
COM UMA MARMITA, SENTAM NO CHÃO.

JOÃO – Vai mesmo me levar lá?

JUCA – Claro, o bom mesmo é na sexta-feira! É mulher demais!

JOÃO - Espero que seja isso tudo que você tá falando mesmo...

JUCA – João, você é novo na cidade cara. Não sabe de nada, confia no papai aqui. Eu sei os “point” de Brasília.

JOÃO – E a grana?

JUCA – Acho que agente já recebe na quarta-feira... guarda grana meu chapa...

JOÃO – Como guardar aquela merreca... tô precisando divertir um pouco... vô tira só do aluguel e da comida e vô torra
tudo com as gata...

JUCA – É isso aí... divide prá gente ir toda sexta... Agora vamo come e tirá uma palhinha...

JOÃO – Juca, ce sempre morô em Brasília?

JUCA – Sempre Juca, meus pais são de Goiânia.

JOÃO – Que cidade! Que cidade! Quero me dá bem aqui...

JUCA – Vai acontecer João, pode esperar...

JOÃO – Deus é grande Juca, Deus é grande!

CENA 05: PABLO

SAINDO DA BOATE : JOÃO, JUCA, PABLO, MÁRCIA, RÚBIA, RENATA.

MÁRCIA – Quem diria em Juca? Conhecer um meio aparentado?


JOÃO – Meu avô, trabalhou no garimpo em plena divisa do Brasil com a Bolívia e claro deixou sua marca lá...

PABLO – Deixou a marca dele na minha mãe... velho safado!!!

RÚBIA – Não fale assim do seu pai Pablo!

JOÃO – Não se avéche Rúbia, o véi era safado mesmo...

PABLO – Êpa, Não fale assim do meu pai...

RENATA – Quero beber mais...

MÁRCIA – Renato, vai com calma... você bebeu muito na boate...

MÁRCIA – Deixa ele... a noite tá muito 10! Cadê Juca, a garrafa...

JUCA – Que garrafa?

MÁRCIA – A que está embaixo da tua jaqueta.

JUCA – (Retira a garrafa sem graça) Como descobriu?

RENATO – Legal, hem João? Estava sozinho aqui em Brasília, agora já tem um parente aqui.

RÚBIA – Um primo bastardo, isso é que é coincidência!

PABLO – é isso aí primão...

JOÃO – Onde moras primo?

PABLO – Aqui... ali... meus negócios não me deixam morar em um só lugar. Amanhã mesmo estou indo prá Bolívia.
Vou buscar material, volto em 2 semanas. Vida de vendedor não é fácil.

MÁRCIA – Eu quero é beber...

RENATO – Falou e disse Márcia!

JUCA – Então vamo lá, vamo fazer vaquinha... todo mundo cooperando! ... beleza!

RÚBIA – Vamos lá! Deixa que eu conto... (conta) 7 reais e 82 centavos. Todo mundo pobre, não dá prá chapar...

JUCA – Dá sim... usa a cabeça! Vamos comprar duas 29 e um xuá laranja.... vai dar um belo pingorante!

MÁRCIA – Xuá??!!Não precisa nem da 29 prá chapar...

RENATO – Vamo lá galera! Vamo comprar logo essa birita!

(Vão saindo e o João puxa o braço do Pablo, ficam os dois para trás)

JOÃO – Primo, não tem jeito de você me arrumar um trampo? Eu ralo na marcenaria o dia todo, ganho uma merreca,
não dá nem prá alimentar direito...

PABLO – Primo, eu vendo material...

JOÃO – Eu já sei o que você vende Pablo...

PABLO – A barra pode pesar primo, tem que ser esperto prá esse ramo.

JOÃO – Vim do sertão mas não sou burro não.... e aliás tenho seu sangue, sei que vou dar conta. É dinheiro fácil!

PABLO – Tá bom primo! Vou te dar uma missão como teste, se sair bem, tenho grandes negócios pr’você. Na próxima
semana, vai ter uma festa de rock na Asa Norte, quero que você vá lá vender material, é um bom começo prá você fazer
sua clientela.

JOÃO – Não vou te decepcionar primo. Valeu... (pega um envelope do bolso) isso vai me ajudar muito a cumprir o que
vim fazer aqui...

PABLO – O que é isso, primo?

JOÃO – Nada Pablo, nada...

(Saem)

CENA 06: Festa de Rock

(Clipe: Fazendo clientela)

CENA 07: O 1° Roubo

SAINDO DA FESTA

JUCA – Cara, que maneiro! Me dá mais um pouco... (Toma um gole de uma bebida)

JOÃO – Juca, vendi tudo e ainda tenho encomenda...

RENATO – O material é bom João!

JOÃO – E o vendedor também, Renato!

RENATO – Olhem só aquele playboyzinho ali...

JUCA – Olha só quem fala, você é um riquinho metido a besta também...

MÁRCIA – Veja o relógio dela, eu queria um daqueles...

RENATO – Ei João, vamos nos divertir um pouco.

JOÃO – Não estou gostando desta idéia Renato.

RENATO – Só vamos assustar o cara João. Você tem que ser durão... vamo lá!

(Cercam o casal)

RENATO – E aí?

RAPAZ – E aí o quê? O que vocês querem?

JUCA – Nada...

RENATO – Relaxa... fica de boa... e aí João, nossa gatinha quer alguma coisa...

JOÃO – Pó-por favor, ela que-quer seu relógio... (Fala prá moça)

RENATO – (Fala pegando no cabelo da moça) ouviu princesa?

RAPAZ – Tira a mão dela! (Tirando a mão do Renato )

RENATO – O mane é bravo!

JOÃO – Deixa ele em paz! Vamos sair daqui...

RENATO – Pára de ser bundão!


JUCA – Ei, entrega o relógio dela e vamos embora numa boa!

RAPAZ – Nunca! (leva um murro na barriga do Renato)

MOÇA – Não bata nele, por favor!

RENATO – Cala a boca vadia! E passa o relógio! Pega João!

JOÃO – Anda! Passa!

JUCA – Vai com calma Renato!

MÁRCIA – Veja, parece que ele está rindo de nós!

RENATO – Seu filho da puta! (Dá chutes nele)

JUCA – Deixa disso Renato!

RENATO – Ele é um mane! (Bate nele com um bastão)

JOÃO – Não precisa disso, vamos sair daqui!

(Vão saindo e chega a polícia)

POLICIAL 1 – Onde pensam que vão?

POLICIAL 2 – Mãos na cabeça e já pro chão! Rápido!

POLICIAL 1 – O rapaz está muito machucado!

MOÇA – Eles fizeram isso prá pegar meu relógio!

POLICIAL 2 – (Para João) Devolve o relógio aqui, seu ladrãozinho de uma figa! (Pega e bate no João)

POLICIAL 1 – Devem ter abusado da garota também... tem gente lá na cadeia que vai adorar brincar com vocês... são
tão românticos...

POLICIAL 2 – (Pegando no cabelo de João e levantando seu rosto) Idiota! Vai se arrepender de ter nascido!

JOÃO – Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!

POLICIAL 2 – Toma desgraçado!

(Leva uma coronhada na cabeça)

BLACKOUT

Cena 08: Destemido e Temido

(João sentado, mulheres em volta, um traficante perigoso)

JUCA – João! Já tenho o lucro da semana, 32.000 reais.

JOÃO – Deu uma caída Juca.

JUCA – Todos estão dando duro, João. É a crise...

JOÃO – Eu sei, eu sei.

JUCA – Você conquistou todo o DF! Muitos políticos são nossos clientes, as ruas são nossas, pobres e ricos!

JOÃO – Realmente o material que o Pablo trás da Bolívia é muito bom mesmo.
JUCA – É da pura João... é da pura... fez a cabeça de todos da cidade.

ENTRA AGUINALDO

AGUINALDO – Chefe, mandou me chamar?

JOÃO – Você sabe que sim, e o motivo também.

AGUINALDO – Eu fui assaltado e levaram todo meu dinheiro da venda do material.

JOÃO – Isso não é problema meu. Eu quero meu dinheiro!

JUCA – E tem mais Aguinaldo, não acreditamos nessa sua estória de roubo, quem roubou foi você!
JOÃO – Quer saber? Vou dar um jeito nisso é agora mesmo! (Atira à queima-roupa na cabeça dele) Assim, todos vão
me temer e pensar duas vezes antes de tocar no que é meu.

CENA 09: Maria Lúcia

JUCA – João, tem uma mocinha aí fora querendo falar com você.

JOÃO – Falar comigo? O que ela quer? Não quero receber ninguém.

MARIA LÚCIA – (ENTRANDO) Mas vai ter que me receber. O senhor acha que é o valentão, acha que é o rei, mas
saiba que não é de nada!

JOÃO – Mas, o que está acontecendo aqui?

MARIA LÚCIA – Espere! Só eu falo agora. Fica mandando flores, bombons, quem você pensa que é? Eu já te conheço,
aliás, o bairro todo te conhece, não passa de um vendedorzinho barato de droga!

JUCA – Ei mocinha...

MARIA LÚCIA – Não estou falando com você! (Para João ) E quero que saiba de uma coisa, senhor João de Santo
Cristo, tão destemido e temido, pára de me mandar presentes, não sou da sua laia! Ouviu?

JOÃO – Mas eu não...

MARIA LÚCIA – Se continuar me paquerando eu te arrebento!

JOÃO – Espere mocinha, você já está indo longe demais.... está passando dos limites!

MARIA LÚCIA – Vai fazer o que? Me bater? Me matar? (Dá uma joelhada no saco de João) Isso é o que você merece!

Os capangas apontam armas para ela.

JOÃO – Parem! Eu vou mata-la com minhas próprias mãos!

JUCA – Moça! Pare! Existe um engano. Não foi João quem estava te paquerando, foi eu!

MARIA LÚCIA – Você?

JUCA – E os presentes não eram prá você, e sim, prá sua irmã. Carmem Lúcia.

MARIA LÚCIA – Prá minha irmã Carmem Lúcia? Eu podia jurar que neles estavam escrito meu nome: Maria Lúcia...
(para João) Por favor... me desculpe... eu... eu... sinto muito.

JOÃO – Não se preocupe... eu estou bem...

MARIA LÚCIA – Meu Deus.... como sou tola... (vai saindo) Te vejo depois!

(Todos olham para João e disparam em risadas. João desmaia de modo engraçado)
BLACKOUT

Cena 09: Romance

(Maria Lúcia saindo da escola e João vai ao seu encontro)

JOÃO – E aí mocinha?

MARIA LÚCIA – Eu... eu já te pedi desculpas...

JOÃO – Mas será que as aceitei?

MARIA LÚCIA – Eu já falei... eu me enganei.

JOÃO – Tudo bem... eu entendo... mas ainda dói muito!

MARIA LÚCIA – O quê? ... ah sim... olha, realmente eu sinto muito... me desculpe!

JOÃO – Seu nome é ... Maria Lúcia , não? Nome lindo...

MARIA LÚCIA – E o seu é João de Santo Cristo, não? Nome estranho...

JOÃO – Gostei de você sabia?

MARIA LÚCIA – De mim? Por quê? Alguém tão poderoso como você deve ter muitas mulheres aos seus pés...

JOÃO – Não... você se engana... sou sozinho...

MARIA LÚCIA – Por quê?

JOÃO – Sei lá...

MARIA LÚCIA – Mas... por quê gostou de mim?

JOÃO – Você é petulante... corajosa...

MARIA LÚCIA – Estava apenas me defendendo...

JOÃO – (Passando a mão na região púbica) Percebi...

(Chegam duas amigas de Maria Lúcia – Sofia e Madalena)

SOFIA – Maria Lúcia....

MARIA LÚCIA – Oi! Venham até aqui....

MADALENA – Estamos indo prá casa da Sofia assistir um vídeo, tá afim?

SOFIA – Uau! (Para Maria Lúcia ) Que gato! Me apresenta...

MARIA LÚCIA – Me desculpe... Gente este é João... João estas são minhas amigas...

JOÃO – Oi...

MARIA LÚCIA – Tenho que ir...

JOÃO – Gostaria de terminar nossa conversa... pode ser depois?

MARIA LÚCIA – Não sei...

SOFIA – Pode sim... claro que ela aceita...


MADALENA – Vou anotar o telefone dela prá você: 553-4124
MARIA LÚCIA – Meninas!

SOFIA – Liga hoje à noite, ok? E agente marca....

JOÃO – Agente?!

SOFIA – É, agente, você, Maria Lúcia, eu e um amiguinho seu. Vamos! (Sai puxando Maria Lúcia)

(João fica no palco com o papel na mão, solta uma música e blackout)

Cena 10: Um senhor de alta classe

(No esconderijo de João)

JUCA – João, temos visitas.

JOÃO – Quem Juca?

JUCA – Diz que é um general.

JOÃO – O que ele quer?

RENATO – Com certeza veio prender a gente? Tamo frito!

JOÃO – Cale a boca Renato! Atenção! Todos fiquem prontos para o que der e vier! Mande entrar!

GENERAL – João de Santo Cristo!

JOÃO – Sim, sou eu... o senhor é...

GENERAL – General Amilton... da décima terceira brigada.

JOÃO – Em que posso servi-lo?

GENERAL – João de Santo Cristo... a polícia tem te procurado... você e seus traficantes tem dominado o tráfico por
essas bandas... estão em todos os lugares, bancas de jornais, colégios de crianças, becos , bares... em todo o lugar. Já
obtive informações que seu material é bom. Aliás... eu mesmo o sei. (Tira um papel do bolso e o cheira profundamente)

JOÃO – Obrigado... obrigado... mas o que o trás aqui? Presumo que não veio comprar material.

GENERAL – Não, realmente não vim comprar material. O problema é que suas vendas estão atrapalhando os negócios
de um grande amigo meu. Ele não está nada feliz com a concorrência.

JOÃO – Amigo seu? General, por um acaso, está me dizendo que é amigo de um traficante e o está acobertando?

GENERAL – Negócios são negócios. Ele nos ajuda a manter a ordem na cidade. A polícia apenas não se preocupa com
ele... e afim de continuar a manter a ordem... vim pessoalmente em missão de paz, antes que estoure uma guerra de
gangs nas ruas desta capital federal. O presidente não iria gostar nadinha.

JOÃO – O presidente? (Pega seu envelope) Aqui está o que o presidente precisa! Na hora certa ele vai te-lo!

GENERAL – O que é isso? Olha João, não queremos encrenca. Nosso amigo me mandou aqui com esta maleta... é um
presente... e lhe pede um pequeno favor... que trabalhe para ele... ou que vá vender seu material em outra região...

JOÃO – (Pega a maleta e abre-a) Uau! Quanto dinheiro! Estou impressionado... Acho melhor eu ficar em casa...

GENERAL – Esta é uma proposta indecorosa João... é apenas uma resposta ao comércio das ruas...

JOÃO – Você é um petulante General... e alem do mais... um covarde!

GENERAL – Mais respeito...


(Os capangas de João apontam armas para a cabeça do General)

JOÃO – Seu velho bundão... para que te valem estas 10 estrelas no peito? Enquanto o narcotráfico e a bandidagem
tomam contam das ruas, vocês fardados ficam atrás das mesas com o cu na mão! Morrendo de medo, daí a
conseqüência... marionetes de grandes traficantes!

GENERAL – Vou te mostrar quem é covarde João, isso não vai ficar assim. A partir de hoje a caçada vai começar! Vou
colocar meus homens nas ruas, seu fim está próximo João... não haverá descanso para a policia ate que te pegue e
arranque suas tripas... Você perdeu a sua vida meu irmão! Essas palavras hão de penetrar seu coração... vai sofrer as
conseqüências como um cão...

JOÃO – E eu estarei esperando você e suas bonequinhas... ah! E tem mais... (Pega a maleta e urina dentro) mande de
volta para o seu amiguinho... agora sai da minha frente antes que eu arranque teus olhos!

RENATO – É isso aí chefinho você foi demais!

SOFIA – Viu só como ele saiu daqui?

MADALENA – Parecendo um cachorrinho! Com o rabinho entre as pernas...

RÚBIA – João, você é maravilhoso!

Cena 11: Promessas e Mentiras

MARIA LÚCIA – Agora chega! Quero ter uma conversa particular com o João! Me dêem licença! O que está querendo
provar João? Acaba de enfrentar a polícia...

JOÃO – Meu amor...

MARIA LÚCIA – Amor uma pinóia! Estou caindo fora João! Não quero ser namorada de um fora da lei!

JOÃO - Prefere ser namorada de um pobretão aprendiz de marceneiro? Que vive duro, sem grana, ouvindo promessas
de políticos pelo rádio dizendo que a vida vai melhorar?

MARIA LÚCIA – Prefiro João! Pelo menos é dinheiro limpo. Onde meus filhos terão pouco, mas um pai honesto,
trabalhador, um bom exemplo para a vida! João, veja você, já fazem 9 meses que te conheci, e você está cada vez mais
revoltado...

JOÃO – E rico! Tenho muito dinheiro! Pablo traz a encomenda e eu repasso para representantes. Tenho muitos
trabalhando prá mim... muitos que passavam fome, hoje tem um futuro.

MARIA LÚCIA – Que futuro? Vender drogas? Corromper menores? Destruir famílias? Tô fora! João, você está se
tornando um bandido...

JOÃO – Está bem... está bem... Maria Lúcia, não me abandone. Você é a coisa mais importante da minha vida. Eu sofri
muito na infância, mataram meu pai, aos 15 minha mãe me mandou para um reformatório onde sofri o pão que o diabo
amassou, por causa da minha cor e classe. A única grana que consegui juntar foi para comprar uma passagem para
Salvador e realizar meu grande sonho.

MARIA LÚCIA – Sonho? Que sonho?

JOÃO – Ver o mar... o sofrimento me levou a acreditar que o mar não passava de um sonho... se existisse eu precisaria
de vê-lo. E achei que minha vida acabaria ali. Hoje percebo que posso ter um futuro, você me trouxe novamente a luz.
Hoje tenho um outro sonho, ter você ao meu lado o resto da minha vida. Maria Lúcia, eu te amo. (Tira uma aliança do
bolso) Case comigo. Quero ter um lindo filho com você... e viver uma vida ao seu lado. Eu prometo... vou parar com as
vendas. Vou voltar prá marcenaria... preciso apenas de um tempo. Afinal, Pablo confiou em mim, não posso deixa-lo de
uma hora prá outra.

MARIA LÚCIA – Promete que vai sair dessa João?

JOÃO – Eu prometo...
(Abraça-a )

BLACKOUT

Cena 12: Jeremias

(Jeremias está em seu reduto acompanhado com seus capangas)

JEREMIAS – Muito bem, conte-me o que aconteceu!

CAPANGA 1 – Tomaram nosso ponto da rua P-15. Um dos nossos estava lá vendendo mercadoria, e foi abordado por
outros que comercializavam por ali... vai Robualdo, conta o que aconteceu!

ROBUALDO – É o seguinte Jeremias, eu sempre vendo naquela rua. Ontem eu cheguei lá, já tinha outros vendendo
em meu lugar, para meus clientes. Meus clientes disseram que a nossa mercadoria era ruim e que a dos outros era
melhor.

CAPANGA 1 – Daí, foram falar para sair de nosso ponto, eles nos mandaram tomar no ...

JEREMIAS – Já chega! Por quê não os expulsaram de lá usando um pouquinho de força?

CAPANGA 1 – Porque éramos apenas 2 e eles uns 8 ou 9, e armados... Jeremias, o chefe deles é o tal João de Santo
Cristo. Todas as bocas de fumo da cidade só falam nesse nome... estamos perdendo nossos pontos, nossos clientes...

ROBUALDO – Até suas mulheres estão indo pro lado dele... he he he...

JEREMIAS – Está caçoando de mim Robualdo?

ROBUALDO – Não senhor...

JEREMIAS – Ninguém caçoa de mim infeliz... vou abrir sua boca prá que aprenda a das melhores rizadas.... (rasga a
boca dele com o canivete, o Robualdo grita e sai berrando) Ninguém caçoa de Jeremias!

GENERAL – (Entrando) Salve meu amigo Jeremias!

JEREMIAS – General Amilton! Espero que me traga boas notícias!

GENERAL – Boas eu não digo, mas importantes sim!

JEREMIAS – Esteve com o tal João de Santo Cristo?

GENERAL – Sim, e ele não aceitou o dinheiro! Mandou-o de volta...

JEREMIAS – O quê? Esse novato de merda recusou minha proposta? (Vai falando e abrindo a maleta) O que significa
isso?

GENERAL - Foi o recado que ele mandou prá você!

JEREMIAS – (Estourando) Eu o mato! Vou arrancar seu fígado com minhas próprias mãos!

GENERAL – Precisamos por um fim nisso!

JEREMIAS – Todos! Não se esqueçam quem sou! Sou Jeremias, um traficante de renome! Já previa esta resposta deste
João bundão! Capanga! Fez o que pedi?

CAPANGA – Sim, Jeremias! Nada que uns trocadinhos não possam resolver, ela está bem aí fora!

GENERAL – O que você fez Jeremias?

JEREMIAS – Para acabar com este babão, teríamos que encontrar seu ponto fraco. Temos uma informante no meio
deles, traga-a aqui!
CAPANGA – É prá já! (Busca a Márcia)

MÁRCIA – E aí?

JEREMIAS – General, a Márcia é uma velha amiga... o que trouxe de bom Márcia?

MÁRCIA – Seu ponto fraco é o coração Jeremias!

JEREMIAS – É o de todos nós Márcia, basta uma pequena bala e... puf!

MÁRCIA – Não é isso Jeremias, João de Santo Cristo está apaixonado!

CAPANGA – Interessante... muito interessante... podemos seqüestra-la... e forçá-lo a ir embora!

JEREMIAS – Apaixonado... hum... o amor é a fraqueza de todos os homens... é a ruína!

MÁRCIA – O nome dela é Maria Lúcia! Uma bobinha que mora no bairro! Estão perdidamente apaixonados!

CAPANGA – Está fácil... vamos mata-la!

JEREMIAS – Não! Quero que João de Santo Cristo sofra! Vou mais longe... vou tomar Maria Lúcia prá mim... vou me
casar com ela... vou partir o coração de João... depois, eu o mato! Sua ruína será aos poucos... vai se arrepender por ter
nascido! Márcia, você vai me ajudar a ter um encontro com esta tal de Maria Lúcia!

CAPANGA – É... chefe... permita-me?

JEREMIAS – Vamos! Diga!


CAPANGA – Com todo respeito... nada pessoal... não acha que vai conquista-la... acha?

JEREMIAS – Por quê diz isso? Confio no meu charme...

CAPANGA – Seria melhor confiar na beleza do capeta... (risos)

JEREMIAS – Você não está entendendo... (vai tirando uma arma) meu charme está aqui... (aponta para a boca do
capanga)

CAPANGA – Realmente és bonito... lindo... maravilhoso... mas... guarde seu charme prá sua futura amada...

(Gargalhadas de todos)

BLACKOUT

Cena 13: Winchester – 22

PABLO – Primo... estamos orgulhosos de você! Você cresceu muito nosso império!

JUCA – Aliás... você fez seu próprio império! Todos só falam em você e no seu material...

PABLO – Tenho um presente prá você... (Entrega um embrulho)

JOÃO – Prá mim? Obrigado... (senta no chão) Abra prá mim Juca... estou bêbado... não consigo!

JUCA – Claro! Veja Juca!

JOÃO – Uma arma Pablo...

PABLO – Winchester-22, sua bala entra e explode... Bum! Bye, bye!

JOÃO – (Levantando e abraçando-o) Obrigado, primo! Pablo, ontem eu e o Juca fomos à um bar, saímos no meio da
bebedeira e descobrimos alguém trabalhando em meu lugar, eu um dos nossos pontos. Preciso de um parceiro forte
naquela região...
PABLO – Já sabe prá quem trabalha?

JOÃO - Para um tal de Jeremias... mandou até um General ir atrás de mim... mijei nele...

PABLO – Cuidado João! Jeremias é antigo aqui... um homem muito perigoso!!!

JUCA – O João já deu um jeitinho nele...

(Entra Jeremias e sua turma)

JEREMIAS – Olha só que sorte... veja quem eu encontro por essas bandas... Pablo! O peruano Pablo!

PABLO – Grande Jeremias... estávamos falando de você!

JEREMIAS – Todos falam de mim...

PABLO – Permita-me... meu primo... João de Santo Cristo!

JEREMIAS – Até que enfim nos encontramos!


JOÃO – (Cospe no chão) Gostou do meu recadinho?

JEREMIAS – Não tanto o quanto vai gostar do meu... (Todos sacam as armas) Você vai morrer João de Santo Cristo!

JOÃO – Quando aparecer homem para me matar... com certeza!

JEREMIAS – Já chega! Vamos embora!

JUCA – Não vou sair daqui... vou matar esse daqui primeiro!

CAPANGA – Sua mãe não iria gostar... iria ficar muito triste!

JEREMIAS – Eu já disse que já chega! Vamos sair daqui! (saem)

JOÃO – A guerra vai começar... é viver ou morrer!

BLACKOUT

CENA 15: Morte de Renato

RENATO – Madalena, precisamos conversar!

MADALENA – Já era tempo...

RENATO – É que sou meio tímido.

MADALENA – Já percebi!!! Então vou direto ao assunto: amei o presente que você me deu... as rosas são lindas!

RENATO – Gostou mesmo? Eu nunca mandei rosas prá ninguém. Foi a primeira vez.

MADALENA – Foi demais, vem aqui! (Vai beijá-lo na boca, mas aparece o General)

GENERAL – (Batendo palmas) Que cena maravilhosa!

RÔXA – Que romântico General, me emocionei!

CAPANGA 2 – Vejam só... um dos babacas do João de Santo Cristo.

RÔXA – Acompanhado de uma perua.

MADALENA – Larga essa arma que vou te mostrar quem é perua!


GENERAL – Quietinha aí moça! Preciso de você viva!

CAPANGA 2 – Precisamos de voçê! (Pegando no saco)

MADALENA – O que vocês querem? Estamos em nosso território!

GENERAL – Você levará um recadinho pro João.

RÔXA – Um recadinho de Jeremias.

RENATO – Deixe-nos em paz! Ou vou...

CAPANGA 2 – Vai fazer o quê?

GENERAL – Não está em concições de fazer nada, rapaizinho!

RENATO – Renato, meu nome é Renato!

CAPANGA 2 – Errado! Seu nome é defunto! (Dá-lhe uma facada, a Madalena grita)

MADALENA – Meu Deus! Desgraçados! Vão pagar por isso!

GENERAL – Esse fo o primeiro recado de Jeremias. O segundo recado é bem especial...

RÔXA – Você vai se divertir muito... Tire a roupa queridinha!

GENERAL – Isso vai ser bom demais! Segurem ela!

JEREMIAS – (ENTRANDO) Esse recado eu mesmo vou dar para seu chefinho babaca... (Abrindo o ziper) Diga prá ele
que até suas mulheres são minhas...

MADALENA – Não! Não! Por favor! Nãããããoooo!!!!!

BLACKOUT

CENA 16: Jeremias e Maria Lúcia

MÁRCIA – Aqui, esse é o lugar. O João disse prá trazê-la até aqui, queria se encontrar com você.

MARIA LÚCIA – Que estranho! Por quê marcaria um encontro aqui?

MÁRCIA – Disse que era surpresa. Vou indo...

MARIA LÚCIA – Espere! Vai me deixar aqui sozinha?

MÁRCIA – A surpresa é só prá você. Creio que João quer ficar à sós com você. Ele não vai demorar.

(Sai e entra Jeremias)

JEREMIAS – Oi? Maria Lúcia?

MARIA LÚCIA – Sou eu... quem é você?

JEREMIAS – Amigo de João, seu noivo.

MARIA LÚCIA – Cadê ele?

JEREMIAS – O irmão João não pôde vir. Está assinando os papéis. Vão se casar na minha igreja.

MARIA LÚCIA – Sua igreja? Ele não me disse nada!


JEREMIAS – Era uma surpresa? Oh! Perdoe-me irmã! Revelei o segredo. Não é a tôa que em Tiago diz que a língua é a
raiz de todos os males. Esse é o meu principal pecado!

MARIA LÚCIA – Bem, se é assim, vou me embora.


JEREMIAS – (Segurando em seu braço) Calma! Não vá ainda! Ele pediu prá você me acompanhar, vou te levar onde
ele está.

MARIA LÚCIA – Não, eu vou prá casa...

(VAI SAINDO E APARECE A MÁRCIA COM O CAPANGA 1)

CAPANGA 1 – Não vai não! (Com uma arma na mão)

MARIA LÚCIA – Márcia? O que é isso?

JEREMIAS – Você vem comigo mocinha...

MARIA LÚCIA – Não eu não vou!

JEREMIAS – (Dá um murro nela) Ninguém grita com Jeremias!)

CAPANGA 1 – Vamos matá-la!

JEREMIAS – Ainda não! (Pega ela pelo percoço) Você está menstruada mocinha? Anda! Responda!

MARIA LÚCIA – Nã-não...

JEREMIAS – Então está pronta prá parir um filho de Jeremias! E depois vai se casar comigo! Se não, morre toda sua
família. Agora, receba Jeremias como seu legítimo esposo! (Gargalhadas)

BLACKOUT

CENA 17: Desistência

JUCA – Veja João! (Mostra um boné) Mataram o Renato!

RÚBIA – E estupraram a Madalena.

JUCA – Jeremias está atacando!

JOÃO – Prá mim chega!

SOFIA – Como chega? Não pode parar agora. Você começou tudo isso! Tem que pegar Jeremias!

JOÃO – Não, isto está ficando perigoso demais, quer saber? Vou parar por aqui. Vou sair do crime. Já fazem 1 mês que
não vejo Maria Lúcia. A saudade já começa a apertar meu peito! Vou voltar prá casa e me casar com ela.

JUCA – Amigo, estou com você, seja qualquer decisão que tomar.

RÚBIA – Quer saber? Vocês estão com medo.

SOFIA – São uns covardes!

JOÃO – Não, não sou covarde, apenas não quero morrer. (Pega o envelope) pelo menos até cumprir o que vim fazer
aqui, não posso morrer. E também não quero que nenhum de meus amigos morra também.

SOFIA – Aí está o tal envelope!

RÚBIA – Nunca desgruda dele não é? O grande mistério de de João de Santo Cristo!
JUCA – Não liga prá elas amigo. Vamos, vamos prá casa...

BLACKOUT
CENA 18: Segunda vez no Inferno

(Márcia está sentada no canto do palco em uma cadeira)

JOÃO – Maria Lúcia! Meu amor, voltei... Márcia? Você aqui?

MÁRCIA – João...

JOÃO – Onde está Maria Lúcia?

MÁRCIA – Ela não está aqui, João. Ela se foi.

JOÃO – Como assim se foi? Foi prá onde?

MÁRCIA – Não João... não posso lhe dizer... não tenho coragem.

JOÃO – Vamos! Diga Márcia! O que está acontecendo?

MÁRCIA – Ela se foi com...

JOÃO – Com quem, Márcia ?

MÁRCIA – Com Jeremias!

JOÃO – (Em choque) Não é possível! Como isso foi acontecer?

MÁRCIA – Os dois já estavam juntos à algum tempo. Ela te enganou. Se casaram à 2 semanas atrás.

JOÃO – (Chorando) Meu Deus, não! Maria Lúcia, não! Eu te amo! Não é possível! (Chora)

MÁRCIA – Calma João... calma...

JOÃO – Me deixa! (Pega a arma e aponta prá Márcia) Você está mentindo!

MÁRCIA – Por que mentiria? Por que não vai lá e veja com seus próprios olhos?

JOÃO – (PONDO A ARMA NA BOCA DA MÁRCIA) Eu vou, se isso for uma armação, eu volto e te encho de balas!
Preciso de mais uma arma... minha winchester... (Sai do palco e volta) Alguém pegou minha arma! Eu mato quem
mexeu nas minhas coisas! Vai ser só com esta mesma...

BLACKOUT

CENA 19: Desafiando

(No esconderijo de Jeremias)

JEREMIAS – Como é doce o sabor da vitória!

GENERAL – Começamos a crescer novamente...

CAPANGA 1 – Estamos progredindo.

CAPANGA 2 – Estamos indo bem, a polícia do nosso lado, João de Santo Cristo está se acabando...

CAPANGA 1 – Aliás ele anda um pouco sumido não?

MÁRCIA – (Entrando) Jeremias! Jeremias! João...

JEREMIAS – O que tem o João?

MÁRCIA – Já está vindo prá cá... pegou a arma e sua turma e está vindo prá te pegar! Ele já ficou sabendo que você se
casou com Maria Lúcia, está irado!
JEREMIAS – Bom trabalho Márcia... bom trabalho... trabalhou muito bem... não teria conseguido sem a sua ajuda.

MÁRCIA – E o meu pagamento? Quero receber o que me prometeu...

JEREMIAS – Claro... receberá tudo. Rôxa, vai lá pegar o que preciso...

RÔXA – Claro Jeremias... o que não faço por você? (pega uma arma) Está aqui. (entrega uma arma para a Márcia)

MÁRCIA – O que significa isso? Não quero armas, quero meu dinheiro!

JEREMIAS – Você não é confiável Márcia! Se traiu seus amigos por dinheiro, com certeza me trairia também.

MÁRCIA – (Gaguejando) Claro que não! Faço parte do seu bando, trabalho prá você...

JEREMIAS – Não preciso mais de você! Pode ir embora.

MÁRCIA – (Apontando a arma para Jeremias) Quero meu dinheiro agora! E tudo em dobro!

JEREMIAS – (Com medo) Por favor, não faça isso, calma . Estou te dando a chance de ir embora...

MÁRCIA – Vou embora sim, atiro em você e sei que João vai me pagar um bom dinheiro pela sua cabeça! (Aperta o
gatilho, mas não tem balas)

JEREMIAS - Este foi o seu teste Márcia, como disse não é confiável... (Esfaqueia ela) Agora vamos nos preparar para
receber João de Santo Cristo!

JOÃO – Como soube que eu viria?

JEREMIAS – Tenho minhas fontes... leva-a de volta, creio que ela não me possa mais servir... (risos)

JOÃO – Márcia...

CAPANGA 1 – Vejo que trouxe seus maricas...

JUCA – Vejo que precisamos de penicos para os mijões...

JOÃO – Vim buscar Maria Lúcia!

JEREMIAS – Creio que ela não quer ir... ela agora é minha esposa.

JOÃO – Mentiroso! Ela me ama!

MARIA LÚCIA – ( entrando) Vá embora João!

JOÃO – Maria Lúcia...

MARIA LÚCIA – Vá embora, por favor! Me deixe em paz...

JEREMIAS – Está vendo? Obedeça antes que morra.

JOÃO – Traidora! Eu te odeio! Vadia!

JUCA – João, vamos acabar com tudo isso agora! É viver ou morrer!

CAPANGA 2 – Eu estou pronto!

JOÃO – Não Juca! Esta é uma questão pessoal entre eu e Jeremias! Chega de mortes! Quem tem que morrer aqui é um
de nós dois.

JEREMIAS – Não! Quem precisa morrer é você!

JOÃO – Se preciso for, assim será! Um duelo, Só eu e você. Ninguém mais!


JEREMIAS – Quando e onde?

JOÃO – Amanhã, às 2 horas na Ceilândia. Em frente ao lote 14. É uma região deserta e sem dono. Nem minha, nem
sua.

JEREMIAS – Veja se aparece seu verme! Você escolhe as armas!

JOÃO – Qualquer arma. Você pode escolher suas armas seu porco traidor. Vou matar você e mato também Maria Lúcia,
menina falsa que jurei o meu amor! Amanhã será o fim.

JEREMIAS – O seu fim. E será um começo prá mim e minha linda esposa (Abraça Maria Lúcia)

JOÃO – Vou te matar é agora!

JUCA – Não João... vamos sair daqui...

BLACKOUT

CENA 20: O dia do duelo

(Cena cheia de pessoas e repórteres)

REPÓRTER 1 – Todos se preparam para o grande duelo. Eles comandam todo os Distrito Federal. Ninguém sabe quem
são, seus rostos são desconhecidos. Mas hoje um deles irá ser eliminados. E este é o lugar marcado. Estamos aqui na
Ceilândia, em frente ao lote 14. Vamos colher um pouco da opinião pública deste lugar... (vai nas pessoas entrevistá-
las)

JUCA – (Entrando com João ) Quantas pessoas João!

JOÃO – Juca, o que está acontecendo aqui? Veja! Bandeirinhas... camêras de Tv... todas essas pessoas!

JUCA – Já são 2:00 horas João.

JOÃO – Onde está Jeremias?

JUCA – Está na hora, já está chegando!

(Nesse momento entra Jeremias e todos aplaudem)

JEREMIAS – João de Santo Cristo!

JOÃO – Vamos acabar logo com isso Jeremias!

(Ambos se olham e sacam suas armas juntos e apontam para a cara um do outro)

JEREMIAS – Muito bom... João de Santo Cristo! Muito bom!

JOÃO – Andei treinando meu caro! (para Maria Lúcia) Maria Lúcia... quero que saiba que te amo muito!

JEREMIAS – Vamos ver se é rápido! Cinco passos!

JOÃO – Está bem, 5 passos!

(Ficam de costas, o povo conta os passos, no terceiro Jeremias se vira e atira, acertando-o pelas costas)

JUCA – João! Seu covarde!

JEREMIAS – (PARA AS CÂMARAS E O POVO) Sou um cidadão comum, creio que fiz um bem para a humanidade,
matei um perigoso traficante. O homem caído era um assassino... todos irão agradacer o bem que fiz...

(NESTE INSTANTE A CENA SE VOLTA PARA JOÃO E JUCA)


JOÃO – Juca...

JUCA – Amigo, estou aqui... aguente firme!

JOÃO – Quero que me faça um favor... pegue o envelope no meu bolso! (o Juca o pega) quero que faça este envelope
chegar ao presidente. Prometa! Prometa!

JUCA – Eu prometo Juca! Eu prometo!

JOÃO – Posso ver toda minha vida! Minha infancia... (Olha e vê Maria Lúcia) Maria Lúcia... é você?

MARIA LÚCIA – Sou eu... meu amor...

JOÃO – O sol cega meus olhos... é mesmo você?

JUCA – Sim, é ela amigo...

JOÃO – Por que me abandonou? Por que?

MARIA LÚCIA – Não te abandonei... quero que saiba que sempre te amei... Jeremias me obrigou, me estuprou e disse
que mataria minha família!

JOÃO – Desgraçado! Não vou morrer até matá-lo! Onde está minha arma?

JUCA – João, você está muito fraco!

JOÃO – Onde está minha arma! (Vê a winchester com Maria Lúcia) O presente de Pablo... está com você!

MARIA LÚCIA – Vá... faça o que tem de fazer! Pelo nosso amor...

(João se levanta, ajudado por Juca e vai até o centro do palco)

JOÃO – Jeremias...

JEREMIAS - (Parando de conversar com os repórteres) João... você está morto...

JOÃO – Ainda não... (está apontando a arma) Jeremias eu sou homem, coisa que você não é e não atiro pelas costas
não. Olha prá cá seu filha da puta, sem vergonha , dá uma olhada no meu sangue!

JEREMIAS – Espera aí cara... perdão... podemos nos unir...

JOÃO – Eu te perdôo... (Mata-o com 5 tiros)

MARIA LÚCIA – João... meu amor... (pega a arma bem lentamente e suicida)

FINAL

REPÓRTER – Ontem pudemos acompanhar ao vivo o grande duelo entre João de Santo Cristo e Jeremias. A sociedade
está alarmada. Muitos declaram que João é realmente um santo, outros o chamam de demônio. Estou aqui ao lado de
seu melhor amigo que não quis se identificar, apenas se apresentou como Juca. O Juca, nos chamou com exclusividade
pois irá revelar um grandioso segredo. João veio cumprir uma missão, e vamos agora conhecer esta missão através deste
envelope que carregava sempre consigo. Se trata de uma carta ao presidente, aliás, é um pedido de socorro.

JUCA – (Pegando o microfone) Seu presidente, meu amigo se tornou bandido apenas para chamar sua atenção! Vou ler
esta carta e espero que esteja assistindo este jornal e faça alguma coisa...

Sr presidente,

Meu nome é João de Santo Cristo, vim de um lugar humilde, onde as pessoas são trabalhadoras. Cheguei aqui na
cidade sem dinheiro nenhum. Meu povo é do sertão do nordeste, onde não temos água e nem comida. Vim apelar prá
que o senhor olhe um pouco prá nós, pois necessitamos de...
NARRADOR – Até hoje, ainda não se sabe se o conteúdo da carta seria verdadeiro ou se Juca apenas quis limpar o
nome do amigo. Bem, em todo o caso, até hoje, João de Santo Cristo é conhecido por aquelas bandas. Mas, será que
alguém teria a resposta para essa indagação? O que João de Santo Cristo realmente queria?

MÚSICA: “Ele queria é falar com o presidente prá ajudar toda essa gente que só faz....sofrer”

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