Você está na página 1de 47

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BACABAL – CESB


DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
CURSO DE ENFERMAGEM

LUCIANA CUNHA GUSMÃO

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: UM


OLHAR SOB A SAÚDE DAS MULHERES ACOLHIDAS NA CASA ABRIGO DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MARANHÃO

Orientadora: Profª Msc Maria Tereza Freire Carvalho

BACABAL - MA
2010
INTRODUÇÃO

• Violência contra a mulher – violação dos


direitos humanos;

• Poder e dominação sobre a companheira;

• Violência doméstica como questão de saúde


pública.
OBJETIVOS

• Objetivo Geral
- Identificar os principais agravos que a violência doméstica
causa à saúde da mulher.
• Objetivos Específicos
- Relatar sobre a violência em suas diferentes nuances,
destacando os principais problemas causados à saúde da
mulher vítima de agressão;
- Analisar os problemas de saúde sofridos e sua interferência
no estilo de vida das mulheres;
- Destacar a atuação da enfermagem junto a mulheres
vítimas de violência doméstica
REFERENCIAL TEÓRICO
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: CONCEITOS E ABORDAGENS

Segundo Ferreira (2001) a violência é definida como “


qualidade de violento, ato violento, ato de violentar.
Constrangimento físico ou moral, uso da força, coação.”

A OMS (1992) define como o uso da força física, do poder


real ou ameaça, contra si ou contra outra pessoa, ou
ainda contra um grupo ou uma comunidade, que resulte
ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.
• Violência como problema histórico;
• Um quarto da população feminina do planeta;
• Consequências:
- Exercício da cidadania;
- Direitos humanos;
- Desenvolvimento socioeconômico do país
• Movimento Feminista
• Violência doméstica = violência conjugal =
violência do gênero
São atos e comportamentos dirigidos contra a
mulher que correspondem a agressões físicas
ou sua ameaça, maus tratos psicológicos e
abusos ou assédios sexuais, e desrespeito aos
seus direitos na esfera da vida reprodutiva ou
da cidadania social. Consistem em agressão
verbal, física e psicológica cometidas por um
membro da família ou pessoas que habite ou
tenha habitado no mesmo domicílio
(SCHRAIBER, 2003).
• Discriminação e abuso sobre a diferença sexual;

Cruz (2002) afirma que, trata-se de um


problema que não costuma obedecer nenhum
nível social, econômico, religioso ou cultural
específico.

• Discussão do problema.
TIPOS DE VIOLÊNCIA
Violência
Física

Violência Violência
Moral Sexual
VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA

Violência Violência
Patrimonial Psicológica
Violência Física

De acordo com Schraiber (2003), constitui-se


como forma de agressão física o uso de
objetos pontiagudos, armas de fogo,
queimaduras, tapas, beliscões, chutes,
empurrões, bofetadas, puxões de cabelo,
mordidas e tentativas de asfixia e homicídio.
Violência Sexual

Conforme Schraiber (2003) esse tipo de


violência inclui expressões verbais ou
corporais que não são do agrado da pessoa,
voyerismo, prostituição forçada e participação
forçada em pornografia.
Violência Psicológica
A violência psicológica ou agressão emocional,
às vezes é tão mais prejudicial que a física, é
caracterizada por rejeição, depreciação,
discriminação, humilhação, desrespeito e
punições exageradas. Trata-se de uma
agressão que não deixa marcas corporais
visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes
indeléveis por toda a vida (BALLONE,2006).
• Violência Patrimonial

Dias (2007) diz que é entendida como


qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus
bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, inclusive destinados a satisfazer
suas necessidades;

• Violência Moral: qualquer conduta que


configure calúnia, difamação ou injúria.
FATORES DE RISCO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

• Para Soares (1999), os fatores de risco para as


mulheres são:

- Culturais: naturalização da violência, preconceito,


expectativas estereotipadas sobre papéis de
gênero, idealização da vida familiar, aprovação da
violência, reprodução de comportamentos violentos
aprendidos e aceitos culturalmente, veiculação de
imagem degradante da vítima;
- Sociais: abuso de álcool e outras drogas, estresse,
exclusão social, conivência da polícia, justiça e
outras instituições públicas e privadas, ausência de
políticas específicas e despreparo dos
profissionais;

- Psicológicos: neuroses e psicoses específicas,


padrão conflitivo de relacionamento conjugal,
desequilíbrio de poder na relação conjugal;

- Idiossincráticos: história particular de cada


família.
Diversos fatores levam o marido, namorado ou
companheiros a agredirem uma mulher. A grande maioria
deles ocorrem quando o homem faz uso de bebida alcoólica
ou drogas, porém muitos homens agridem as mulheres por
ciúmes, por questões econômicas como a falta de dinheiro
e desemprego, e até mesmo, pela recusa da mulher em
fazer sexo e pela sua desobediência. Outros fatores
importantes, como o fato do parceiro ter vivenciado cenas
de violência entre seus pais quando criança ou só pelo fato
de ser homem e a idealização de poder masculino, o leva a
agredir suas companheiras (FARNOCCHI, 2005).
Aspectos Culturais Relacionados à Violência
Doméstica
Resultante das relações de poder construídas
ao longo da história pela desigualdade de
gênero e consolidada por uma ideologia
patriarcal e machista;

• Homem: poderoso e agressor;


• Mulher: desprotegida e vítima.
As relações existentes entre os cônjuges são
regidos por papéis sociais:

• mãe – mulher - dona de casa


• pai – marido - chefe de família
A VIOLÊNCIA E OS DIREITOS DA MULHER

• 1985 – Conselho Nacional dos Direitos da


Mulher;
• Conselhos Estaduais dos Direitos da Mulher;
• 1986 – Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (DEAM’s);
• Organizações Não Governamentais;
• Serviços de Saúde.
Os Direitos Protegidos
• Lei nº11.340 – Lei Maria da Penha

Assegura às mulheres as condições para o


exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à
moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer,
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
A VIOLÊNCIA E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE
DA MULHER

Segundo Schraiber (2003), estima-se que


mundialmente, pelo menos uma em cada três
mulheres já foi espancada, coagida ou sofreu
alguma forma de abuso durante sua vida.
[...] a violência doméstica é um problema de
saúde pública, pois afeta a integridade física e a
saúde mental. Os efeitos da violência doméstica,
sexual e racial contra a mulher sobre a saúde
física e mental são evidentes para quem trabalha
na área. Mulheres em situação de violência
frequentam com assiduidade os serviços de
saúde e em geral com “queixas vagas”
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1992).
Segundo estudos realizados Cruz (2002) refere
que “as conseqüências da violência doméstica
são agravos que vão desde um empurrão leve
até à morte. Sendo de natureza crônica, a
agressão à mulher vai além dos traumas e dos
agravos visíveis (quebraduras, torções).”
Problemas Físicos Problemas Mentais Comportamentos
de risco
Lesões Medo e Ansiedade Abuso de álcool, tabaco e
drogas

Dores de cabeça Depressão Possibilidade de sexo


inseguro
Problemas ginecológicos Síndrome do estresse pós Entrada tardia no pré-natal
traumático
Asma Fadiga Aborto
Síndrome de intestino Disfunção sexual
irritável
Incapacidade permanente Desordens da alimentação
ou parcial
Distúrbios gastrintestinais Desordens múltiplas de
personalidade
Várias síndromes de dor Disfunção do sono
crônica
PAPEL DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO CUIDADO
A MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
• Repercussão nos serviços de saúde de forma
paradoxal (SCHRAIBER, 2003);
• Cuidado racional;
Nesse modo de cuidar, deve prevalecer um
relacionamento interpessoal de forma autêntica.
Um cuidar que não se antepõe sobre o outro para
dominar, mas sim, que zela, que é solícito, que tem
consideração com o outro e que conduz ao
estabelecimento de uma relação de proximidade
(CORRÊA et al, 2000).
A invisibilidade, do lado dos serviços, só piora a
situação. Estas mulheres acabam por ser
rotuladas como poliqueixosas, somatizadoras,
portadoras de distúrbios neurovegetativos, etc.
Os processos patológicos que surgem associados
à violência e ao sofrimento psicoemocional, se
não forem abordados de forma integrada,
resultam em casos de difícil solução, mesmo
quando se trata de patologias mais simples e
bem conhecidas (SCHRAIBER, 2003).
• 1983 Ministério da Saúde – PAISM ( Programa
de Atenção Integral a Saúde da Mulher);

• Pronto socorro, pré-natal, ginecologia, saúde


mental:
- Identificação, registro e referência
adequada dos casos;
CUIDADO DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Cuidado de Enfermagem:
• Segurança, acolhimento, respeito e satisfação de suas
necessidades individuais;
• Acolhimento e apoio;
• Estabelecer vínculo;
• Diálogo;
• Apoio ao registro de casos;
• Realizar encaminhamentos;
• Visitas domiciliares;
• Acompanhamento Psicológico para a vítima.
O cuidar exige do enfermeiro a utilização de
instrumentos fundamentais para o exercício
profissional, os quais são meios para que o
cuidador atinja os objetivos propostos. Esses
instrumentos envolvem a observação, o
cuidado emocional, o toque terapêutico, o
corpo, o bom senso, a liderança, o caráter
humanitário, a solidariedade, a sensibilidade, a
técnica, a relação educativa e as dimensões
psicossocial e psicoespiritual (FERRAZ, 2009).
METODOLOGIA

• Tipo de pesquisa;
• Período;
• Local de Estudo;
• Caracterização do Local de Estudo;
• Amostra;
• Instrumento da Pesquisa;
• Tratamento de Dados
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Gráfico 1 – Relativo à faixa etária das mulheres atendidas na Casa Abrigo em
São Luís - MA

10% (2)

30% (6)

45% (9)

15% (3)

Menor de 18 anos Entre 18 e 25 anos De 25 a 30 anos acima de 30 anos

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Segundo Corrêa (2000), a violência contra a
mulher é um fenômeno generalizado que
alcança um grande número de mulheres. É um
tipo de violência que ocorre em todos os
grupos sociais, independente de idade, cor ou
instrução, sendo muitas vezes velada, e com
tendência a se tornar cada vez mais grave.
Gráfico 5 – Relativo a dependência financeira das mulheres
atendidas na Casa Abrigo em São Luís - MA em relação ao
agressor

32% (7)

54% (12)

14% (3)

Totalmente dependente Parcialmente dependente Independente

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Guedes (2004) revela que a independência
financeira não é suficiente para possibilitar às
mulheres relações de gênero mais igualitárias, pois
mesmo quando as mulheres dispõem de
condições econômicas para a superação da
desigualdade de gênero, elas não conseguem
romper totalmente as amarras da subordinação
que só serão superados na construção de novas
relações sociais, o que requer a desconstrução
daquilo que está posto hegemonicamente como
atributos de mulheres e homens, na atualidade.
Gráfico 8 – Relativo à atitude em relação à primeira agressão
sofrida pelas mulheres atendidas na Casa Abrigo em São Luis – MA

5% (1)
15% (3)

80% (16)

Denunciou Não denunciou Nunca denunciou

 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Portella (2000) nos coloca que ainda não existe
uma escuta adequada e apoio por parte da
sociedade no que se refere à mulheres em
situação de violência. As mulheres são levadas
a silenciarem em relação ao que sofrem. Mais
que isso, as mulheres são desestimuladas,
convencidas, por seus grupos sociais, a não
revelarem a violência em que vivem,
principalmente porque, quando procuram
expressá-las, encontram barreiras institucionais
Gráfico 10 – Relativo ao vínculo do agressor com as mulheres
atendidas na Casa Abrigo em São Luís- MA.

5% (1)
5% (1)

90% (18)

Marido ou Companheiro Pai Outros

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Narvaz (2006) nos coloca que uma parcela
considerável de mulheres brasileiras é
agredida diariamente em seu próprio lar por
uma pessoa com quem mantém relação de
afeto, e dos crimes contra a mulher que
acontecem dentro de casa o agressor em
grande parte dos casos é o marido ou
companheiro.
Gráfico 12 – Relativo ao tipo de agressão sofrida pelas
mulheres atendidas na Casa Abrigo em São Luis – MA

5% (1) 10% (2)

35% (7)
50% (10)

Violência Física e Sexual Violência Física e Psicológica

Violência Física, Sexual e Psicológica Violência Física, Psicológica, Sexual e Patrimonial

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Cruz (2002) destaca a violência sexual a que ocorre
com maior freqüência e intensidade no espaço
doméstico, sendo considerada “violência” quando
praticada por estranhos, e , muitas vezes tomada
como normal, se exercida no seio do casamento, e
mais: a impunidade caracteriza esse tipo de
violência, independente do lugar onde é praticada.

Segundo a BEMFAM (2002) o impacto da violência


de gênero sobre a saúde física pode ser imediato e
de longo prazo. As mulheres que sofreram
agressores, entretanto, raramente buscam
tratamento médico para o trauma agudo.
Gráfico 13 – Relativo aos sinais decorrentes da violência sofrida
pelas mulheres atendidas na Casa Abrigo em São Luís – MA

5% (1)

30% (6)

30% (6)

35% (7)

Lesão Perfuro-cortante Edema Hematomas Escoriações

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009

 
Não surpreende que a violência seja uma das
principais causas de ferimentos sofridos por
mulheres, variando desde pequenos cortes e
contusões até a invalidez permanente e a
morte. As mulheres que sofrem abuso físico
de seus parceiros acabam feridas em algum
momento da vida como resultado desse abuso
(OLIVEIRA, 2004).
Gráfico 14 – Relativo a última visita ao serviço de saúde pelas
mulheres atendidas na Casa Abrigo em São Luís –MA

20% (4)
30% (6)

5% (1)

45% (9)

Menos de 6 meses Entre 6 meses e 1 ano Entre 1 ano e 2 anos 2 anos ou mais

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Mulheres que vivem esta situação, no estudo dessas
autoras, apresentam uma procura pela unidade básica
de saúde três vezes maior que as mulheres que não
relatam essa experiência (SCHRAIBER, 2000),
entretanto não há uma sistematização dos registros
nem resolução para o problema, apesar da magnitude
do problema e do aumento dos custos do sistema,
fazendo-se necessário que os profissionais de saúde
estejam preparados e atentos para a identificação e
resolução dos casos de violência, através da
implementação de técnicas e procedimentos que
permitam o atendimento humanizado a essas
mulheres
Gráfico 15 – Relativo aos problemas de saúde advindos da
violência pelas mulheres atendidas na Casa Abrigo em São
Luís – MA
5% (1)
15% (3)
15% (3)

20% (4)

5% (1)
40% (8)

Problemas Cardíacos Problemas Gastrintestinais Problemas Genitourinários

Depressão Distúrbios de Comportamento Outros

Fonte: Pesquisa de Campo, 2009


Franco (2000) refere que as mulheres até fazem
a correlação entre a doença que apresentam e a
situação de violência que vivenciam acreditando,
entretanto, que a cura será proporcionada por
medicamentos. Não percebem que sua auto-
estima e autoconfiança estão doentes e que para
conseguirem a cura de suas “doenças”, incluindo
as que geram a procura pelo serviço, precisam
colocar o tema da violência em discussão,
entendendo e a própria dose do significado da
violência em suas vidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Obrigada!

Você também pode gostar