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TRABALHO

MONÓTONO

REPETITIVO

ÍNDICE

1
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3
1. TRABALHO REPETITIVO ................................................................ 4
2. TRABALHO MONÓTONO / MONOTONIA NO TRABALHO .... 4
3. CAUSAS DO TRABALHO MONÓTONO ........................................ 5
3.1. FACTORES EXTERNOS .................................................................... 5
3.2. FACTORES INTERNOS ..................................................................... 6
4. EFEITOS PSICOLÓGICOS DO TRABALHO MONÓTONO E
6
REPETITIVO ........................................................................................
5. LESÕES PROVOCADAS POR MOVIMENTO REPETITIVO ..... 8
6. IMPACTO NO MUNDO LABORAL/SOCIAL DESTAS LESÕES 8
7. LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) ......................... 10
8. DOENÇAS QUE PODEM SER DESENCADEADAS OU
11
AGRAVADAS POR ESFORÇO REPETITIVO ...............................
9. DESCRIÇÃO DE ALGUMAS DOENÇAS ........................................ 12
10. CLASSIFICAÇÃO DAS LER ............................................................. 17
11. COMO PREVENIR AS LER ............................................................... 20
12. A GINÁSTICA LABORAL ................................................................. 23
CONCLUSÃO ....................................................................................... 29
BIBLIOGRAFIA ................................................................................... 31

INTRODUÇÃO

A noção que certas profissões podem induzir doença, não é recente.

Efectivamente à trezentos anos, em 1700, Bernardino Ramazzini,

considerava que estas em condições adversas, originava doença e

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aconselhava períodos de repouso no trabalho, exercício e posturas

correctas, o que três séculos depois é flagrantemente actual.

1. TRABALHO REPETITIVO

Sempre que para a realização de qualquer trabalho, seja necessário


recorrer ao mesmo movimento, durante mais de duas horas por dia ou
de uma hora sem interrupção, estamos perante trabalho repetitivo.

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Isto acontece em muitas profissões dos mais variados tipos de
actividade. Por exemplo, uma empregada de caixa executa durante a
maior parte do dia a mesma sequência de movimentos: estende a mão
para um produto, segura-o, levanta-o, fá-lo deslizar diante do leitor
óptico e larga-o. Esta sequência de movimentos repete-se para cada
produto.
Os movimentos definem-se repetitivos não apenas quando são
exactamente os mesmos mas também quando são semelhantes e
solicitam mais ou menos do mesmo modo os mesmos músculos e os
mesmos nervos.
Este tipo de trabalho leva a que as pessoas estejam perante situações
de trabalho demasiado uniformes em que existe pouca variedade e que
para agravar a situação muitos deles nem sequer apresentam estímulos
ou então muito poucos.
Todas estas situações levam a que os organismos humanos reagem sob
a forma de monotonia.

2. TRABALHO MONÓTONO/MONOTONIA NO TRABALHO

Monotonia é a forma como o nosso organismo reage perante situações


demasiado uniformes, acaba por ser um estado de actividade psíquica
diminuta. Perante um trabalho monótono e repetitivo, este último
definido no ponto anterior e monótono porque se caracteriza como
sendo pobre em estímulos e com poucas variações de estímulos.
Como exemplo podemos apontar os condutores de longo curso que
após algum tempo de condução, apresentam os primeiros sinais de

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fadiga ou monotonia, o que leva a uma diminuição de vigilância e a
uma diminuição da precisão da condução. Isto é acentuado se for
durante a noite e nos auto-estradas.

3. CAUSAS DO TRABALHO MONÓTONO

As causas da monotonia que se encontraram, depois de feitas já várias


análises ao longo de alguns anos, têm por origem quer factores
externos quer factores internos do trabalhador.

3.1. FACTORES EXTERNOS

Em relação aos factores externos podemos apontar algumas condições


que desencadeiam a monotonia, tais como:
- Actividade prolongada repetitiva e simples de executar, sem
possibilidade do espírito se libertar totalmente do trabalho;
- Trabalho de vigilância (inspecção, observação) prolongada com
uma fraca frequência de estímulos, mas com a obrigação de uma
atenção constante.
Podemos ainda apontar alguns factores que aumentam o risco da
monotonia, tais como:
- Curta duração de um ciclo de operação;
- O espaço de trabalho limitado;
- Locais de trabalho na penumbra;
- Locais de trabalho com temperaturas elevadas;
- Locais de trabalho isolados, onde não existe quaisquer contactos
com colegas.

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3.2. FACTORES INTERNOS

No entanto ao contrário do que é comum pensar-se não são os factores


externos que conduzem à monotonia, existem também pessoas com
pré-disposições que são também uma das grandes causas dos aspectos
psicológicos da monotonia, tais como:

- O cansaço;
- O trabalho nocturno, quando o trabalhador não se encontra
adaptado a esse turno;
- A falta de motivação;
- Pessoas com capacidades intelectuais para outro tipo de
trabalho;
- Pessoas que têm prazer com a actividade e com o rendimento no
trabalho.

4. EFEITOS PSICOLÓGICOS DO TRABALHO MONÓTONO


E REPETITIVO

As actividades de longa duração que exige manipulação simples mas


repetitivas podem levar ao aparecimento de fenómenos de saturação,
aumento de tensão nervosa (stress), mal estar e até mesmo de rejeição
da actividade que é sentida como desinteressante.
Estes efeitos sentidos acabam por trazer alguns impactos no mundo
laboral, tais como:

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- A saturação; uma pessoa quando se encontra num estado de
saturação (entende-se um estado de excitação e de rejeição da
actividade que provoca a monotonia), apresenta-se como um
estado de “deixar andar” chegando a tratar-se de um estado de
conflito interior, opondo o “dever de trabalhar” e o “desejo de
parar de trabalhar”, devido a este conflito, as pessoas
apresentam uma tensão interna cada vez maior.

- Desmotivação para o trabalho; pode ser vista como uma


diminuição da satisfação do trabalhador, que se pode considerar
uma etapa anterior à da saturação psicológica.

- Vigilância; o trabalho monótono e repetitivo leva à diminuição


da vigilância, pois neste tipo de trabalho, não existe ou existem
poucos estímulos a que o trabalhador deve reagir.
Entende-se por vigilância a capacidade de manter, durante muito
tempo um dado nível de atenção.

- Stress; as pessoas passam muito tempo a trabalhar, a exercer


sempre a mesma função o que pode levar a uma grande tensão
nervosa e quando estão sob esta tensão as pessoas irritam-se
com muita facilidade e por vezes têm comportamentos
conflituosos.
5. LESÕES PROVOCADAS POR MOVIMENTO REPETITIVO

Os movimentos repetitivos podem causar uma série de perturbações


sobretudo nas mãos, pulsos, braços, ombros e pescoço. Em termos
médicos fala-se, por exemplo, de síndroma do túnel corpal,

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paratendite, afecção cérvico-braquial, paritendinite, epicondilite. Estas
afecções são designadas geralmente por “LER”. Todas as
perturbações causadas por LER dizem respeito a afecções dos
músculos, tendões, tecidos conjuntivos e ligamentos, incluindo os
nervos correspondentes.
Podemos então dizer que estes são as consequências físicas que se
manifestam lentamente, após meses ou anos de trabalho repetitivo.
Estas afecções atravessam fases diferentes e começam na maior parte
das vezes com uma ligeira dor no momento de executar determinada
actividade, até ao ponto de sentir dores insuportáveis e alguns casos
extremos de perda de funções. Esta perda pode ser temporária ou
permanente.

6. IMPACTO NO MUNDO LABORAL/SOCIAL DESTAS


LESÕES

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Como é do conhecimento de todos, o impacto das actividades
profissionais na saúde das pessoas tem uma expressão
elevadíssima, mesmo que se não tenha em consideração
o facto das estatísticas não retractarem fielmente a
realidade, pecando por defeito.
Se os cerca de 1,1 milhões de indivíduos que, anualmente, morrem
devido a acidentes de trabalho ou doenças profissionais
são a face de um problema de grande magnitude, não é
menos verdade que as lesões constituem um outro
flagelo quer para trabalhadores quer para as empresas.
Embora o problema não seja novo - já Ramazinni, o “pai” da
Medicina de Trabalho, descrevia em pleno século XVII, as doenças
causadas por “movimentos violentos e irregulares e posturas anti-
naturais do corpo” – o que é certo é que o problema tem vindo a
aumentar estendendo-se cada vez a maior número de profissões,
aparentemente imune à progressiva introdução de equipamento
facilitador da actividade humana e com uma expressão económica
assustadora: um estudo americano de 1989 calculava em 8300
dólares/caso a indemnização média por problemas da coluna lombo-
sagrada.
Podem definir-se as perturbações musculo-esqueléticas como “aquelas
lesões ou doenças que afectam os sistemas musculo-esquelético,
nervoso periférico ou neuro-vascular que são ocasionadas ou
agravadas pela exposição ocupacional a riscos ergonómicos”.

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Naturalmente, muitas lesões encontradas em muitas actividades
exercidas por não-profissionais tais como o desporto (cotovelo de
tenista ou de golfista), a dança (“hallux-valgus” das bailarinas);
todavia, é a sua relação com o trabalho que as coloca na mira dos
profissionais da saúde ocupacional.
Muito embora este trabalho trate de lesões relacionadas com o
trabalho repetitivo, não é de todo descabido abordar neste ponto as
lesões musculo-esquelécticas uma vez que estão habitualmente
associadas à repetição de determinados gestos, e considerarem-se
estas doenças como “patologia dos gestos repetidos”, e que na sua
génese se pensa estarem traumatismos cuja repercussão no organismo
não foi convenientemente reparada.

Depois de analisar os vários géneros de perturbações musculo-


esqueléticos, tirei por conclusão que a maioria é provocada por gestos
repetidos, pois qualquer gesto individual e esporádico não leva à
doença, e desta forma só terei de excluir situações como as lombagias
agudas ou as entorses.

7. LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER)

O termo lesão por esforços repetidos vem da sigla inglesa RSI


(Repetitive Strain Injury) e engloba todas as doenças
secundárias a actividades profissionais que envolvem
movimentos ou esforços repetidos.
As profissões mais afectadas são os operários da indústria alimentar,
os operários das linhas de montagem (aparelhos electrónicos,

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automóveis), os empregados de terminais de computadores, os
bancários, os escriturários e outros.
Estas lesões são mais frequentes no sexo feminino, com uma
incidência máxima entre os 25 e os 45 anos de idade.
Clinicamente as lesões predominantes ao nível da coluna cervical e
dos membros superiores, traduzem-se por dores, tendinites, fasceites,
ligamentites e lesões musculares.
- As lesões inflamatórias causadas por esforços repetidos já eram
conhecidas desde a antiguidade sob outros nomes, como por
exemplo, na Idade Média, a “Doença dos Escribas”, que nada
mais era do que uma tenossinovite, praticamente desaparecendo
com a invenção da imprensa. Já em 1891, De Quervain
descrevia o “Entorse das Lavadeiras”.
- As LER são doenças progressivas e, em muitos casos ,
irreversíveis. Muitas vezes voltar à mesma função nas mesmas
condições torna-se impossível.
- As LER são de tal forma preocupantes que desde o ano 2000
lhes foi dedicado o último dia do mês de Fevereiro. Desde então
para cá esse dia é considerado Dia Internacional das Lesões por
Esforços Repetitivos. Trata-se de um marco de extrema
relevância, pois pela primeira vez na história uma doença
profissional (LER) passou a ser considerada como questão de
saúde pública mundial.

8. DOENÇAS QUE PODEM SER DESENCADEADAS OU


AGRAVADAS POR ESFORÇO REPETITIVO

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• Tenossinovites (inflamação do tecido que reveste os tendões);
• Tendinite ( inflamação dos tendões);
• Miosites (inflamação dos músculos);
• Epicondilite (inflamação das estruturas do cotovelo);
• Bursite (inflamação dos bursos);
• Síndroma Túnel do Carpo ( compressão do nervo mediano ao
nível do punho);
• Síndroma do Canal Guyon;
• Síndroma do Desfiladeiro Torácico;
• Síndroma do Pronadar Redondo.

“Evidentemente qualquer lesão osteoarticular, até mesmo fracturas


(fracturas de stress) podem ser causadas por um esforço exagerado ou
repetitivo e, por este motivo, existe uma enorme variação de possíveis
LER.
Na realidade, as “LER” são apenas um novo nome para velhas
doenças”.

9. DESCRIÇÃO DE ALGUMAS DOENÇAS

a) Síndroma do Túnel do Carpo

É o nome que se dá quando um nervo que possa na região do punho (o


chamado nervo mediano) fica submetido a uma compressão contínua,
pelas estruturas do próprio punho. Muitas vezes relacionado com as
LER.

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É muito comum entre mulheres na faixa dos 35 aos 60 anos (em
aproximadamente 2/3 dos casos existir em ambas as mãos), podendo
ocorrer com menor frequência fora dessas faixas etárias, e também
algumas vezes em homens.

Pode ocorrer de modo transitório durante a gestação.

Os sistemas típicos são a dormência e o formigueiro nas mãos,


principalmente nas extremidades dos dedos. Esses sintomas ocorrem
ou pioram durante a noite, fazendo com que as pessoas se levantem
pelo incómodo proporcionado; algumas vezes pode surgir dor em
todo o membro superior. O quadro pode prolongar-se por meses ou até
anos, e tende a ser progressivo. Nos casos mais avançados pode haver
perda de força para segurar objectos com a mão. O diagnóstico do
Síndroma do Túnel do Carpo é baseado nos sintomas característicos e
na comprovação do nervo por um exame chamado
eletroneuromiografia, o qual constata um atraso na condução de
estímulo eléctrico pelo nervo mediano ao nível do punho.

Qual é a causa ?

Na maioria dos casos a compressão sofrida por este nervo nesta região
deve-se a um estreitamento no canal por onde ele passa, uma espécie
de túnel na região dos ossos do carpo (o Túnel do Carpo), muitas
vezes devido a uma inflamação crónica não específica de tendões que
também passam por esse canal, e de ligamentos da região. Em outros

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casos com menor frequência podem existir doenças associadas
comprimindo o nervo.

É importante ressaltar que mulheres grávidas podem ter sintomas da


doença ocasionados por edema próprio da gravidez, sendo que na
maioria das vezes os sintomas tendem a melhorar ou desaparecer após
o parto.
Qual é o tratamento ?

O tratamento para os casos de compressão leve pode ser inicialmente


feito através de imobilização. Os remédios, anti-inflamatórios ou
"anti-neuríticos", podem também ser utilizados, podendo trazer alívio
ou até mesmo a remissão dos sintomas em alguns casos.

Quando o tratamento clínico não obtém sucesso, ou naqueles que o


exame eletroneuromiográfico revela compressão mais grave do nervo,
pode ser realizado o tratamento cirúrgico. O objectivo da cirurgia é
abrir o canal por onde passa o nervo, resolvendo o problema
definitivamente na maioria dos casos. Quando o nervo permaneceu
comprimido por muito tempo antes da cirurgia pode haver sequela
definitiva tanto de sensibilidade como motora (atrofia do músculo do
polegar, com falta de força para a oponência do polegar - movimento
de "pinça" dos dedos), por isso não se deve retardar demasiadamente
uma cirurgia caso outras formas de tratamento comprovadamente não
derem resultado.

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A cirurgia pode ser facilmente realizada sob anestesia local, em
regime ambulatorial (não existe necessidade de internamento em
Hospital).

o nervo mediano o Túnel do Carpo, e o local da


incisão cirúrgica

a abertura do Túnel do Carpo final da cirurgia

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Observação: figuras com corte transversal ilustrativo ao nível do
punho.

b) Epicondilite

Provocadas por ruptura ou estiramento dos pontos de inserção dos


músculos flexores ou extensores do carpo no cotovelo, ocasionando
processo inflamatório local que atinge tendões, fáscias musculares,
músculos e tecidos sinoviais. No epicôndilo lateral inserem-se
especialmente os músculos extensores, e no epicôndilo medial os
músculos flexores. Na epicondilite medial pode haver
comprometimento do nervo ulnar; na epicondilite lateral pode haver
comprometimento do nervo radial. Em ambos os casos o
acometimento é devido à proximidade dos citados nervos aos
epicôdilos.

c) Síndroma do Canal de Guyon

Equivalente à Síndroma do Túnel do Carpo, porém mais rara,


atingindo o nervo ulnar, na sua passagem através do Canal de Guyon
ou túnel em torno do osso pisiforme.

d) Síndroma do Pronador Redondo

Ocorre pelo compressão do nervo mediano abaixo da prega do


cotovelo. Essa compressão pode acontecer entre os dois ramos

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musculares do músculo pronador redondo, ou da fáscia do bíceps, ou
na arcada dos flexores dos dedos.

e) Síndroma do Desfiladeiro Torácico

É devida à compressão do plexo braquial em sua passagem pelo


chamado desfiladeiro torácico, formado pela clavícula, primeira
costela, músculos escalenos anterior e médio e fáscias dessa região,
que determinam um estreito canal, que pode tornar-se ainda mais
exíguo quando encontramos pequenas alterações anatómicas ou outras
alterações decorrentes de traumas locais, vícios de postura e factores
ocupacionais, tais como carregar carga pesada nos ombros ou
trabalhar com a cabeça elevada, ou também de utilização do membro
superior em situação de elevação, perto de 180 graus, quando os
nervos do plexo braquial são comprimidos.

10. CLASSIFICAÇÃO DAS LER

As classificações mais usuais são feitas conforme a evolução e o


prognóstico, classificando a "LER" baseando apenas em sinais e
sintomas. Classificações:

Fase 1 - Apenas queixas mal definidas e subjectivas, melhorando com


repouso.
Fase 2 - Dor regredindo com repouso, apresentando poucos sinais
objectivos.

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Fase 3 - Exuberância de sinais objectivos, e não desaparecendo com
repouso.
Fase 4 - Estado doloroso intenso com incapacidade funcional (não
necessariamente permanente)

Em 1984, a classificação de Browe, Nolan e Faithfull divide a LER


em estágios:

Estágio 1 - Dor e cansaço nos membros superiores durante o turno de


trabalho, com melhora nos fins de semana, sem alterações no exame
físico e com desempenho normal.
Estágio 2 - Dores recorrentes, sensação de cansaço persistente e
distúrbio do sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo.
Estágio 3 - Sensação de dor, fadiga e fraqueza persistentes, mesmo
com repouso. Distúrbios do sono e presença de sinais objectivos ao
exame físico.

Dennet e Fry, em 1988, classificaram a doença, de acordo com a


localização e factores agravantes:

Grau 1 - Dor localizada em uma região, durante a realização da


actividade causadora do síndroma. Sensação de peso e desconforto no
membro afectado. Dor espontânea localizada nos membros superiores
ou cintura escapular, às vezes com pontadas que aparecem em carácter
ocasional durante o tempo de trabalho e não interferem na
produtividade. Não há uma irradiação nítida. Melhora com o repouso.
É em geral leve e fugaz, e os sinais clínicos estão ausentes. A dor

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pode-se manifestar durante o exame clínico, quando comprimida a
massa muscular envolvida. Tem bom prognóstico.
Grau 2 - Dor em vários locais durante a realização da actividade
causadora da síndroma. A dor é mais persistente e intensa e aparece
durante o tempo de trabalho de modo intermitente. É tolerável e
permite o desempenho da actividade profissional, mas já com
reconhecida redução da produtividade nos períodos de exacerbação. A
dor torna-se mais localizada e pode estar acompanhada de
formigamento e calor, além de leves distúrbios de sensibilidade. Pode
haver uma irradiação definida. A recuperação é mais demorada
mesmo com o repouso, e a dor pode aparecer, ocasionalmente, quando
fora do trabalho durante outras actividades. Os sinais, de modo geral,
continuam ausentes. Pode ser observado, por vezes, pequena
nodulação acompanhando bainha de tendões envolvidos. A palpação
da massa muscular pode revelar hipertonia e sofrimento. Prognóstico
favorável.
Grau 3 - Dor desencadeada em outras actividades da mão e
sensibilidade das estruturas; pode aparecer dor em repouso ou perda
de função muscular; a dor torna-se mais persistente, é mais forte e tem
irradiação mais definida. O repouso em geral só atenua a intensidade
da dor, nem sempre fazendo-a desaparecer por completo, persistindo o
sofrimento. Há frequentes paroxismos dolorosos mesmo fora do
trabalho, especialmente à noite. É frequente a perda de força muscular
e paralisias. Há sensível queda da produtividade, quando não
impossibilidade de executar a função. Os sinais clínicos estão
presentes, sendo o edema frequente e recorrente; a hipertonia

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muscular é constante, as alterações de sensibilidade estão quase
sempre presentes, especialmente nos paroxismos dolorosos e
acompanhadas de manifestações como palidez, hiperemia e sudorese
das mãos. A mobilização ou palpação do grupo muscular acometido
provoca dor forte. Nos quadros com comprometimento neurológico
compressivo a eletromiografia pode estar alterada. Nessa etapa o
retorno à actividade produtiva é problemático.
Grau 4 - Dor presente em qualquer movimento da mão, dor após
actividade com um mínimo de movimento, dor em repouso e à noite,
aumento da sensibilidade, perda de função motora. Dor intensa,
contínua, por vezes insuportável, levando o paciente a intenso
sofrimento. Os movimentos acentuam consideravelmente a dor, que
em geral se estende a todo o membro afectado. Os paroxismos de dor
ocorrem mesmo quando o membro está imobilizado. A perda de força
e a perda de controle dos movimentos se fazem constantes. O edema é
persistente e podem aparecer deformidades, provavelmente por
processos fibróticos, reduzindo também o retorno linfático. As
atrofias, principalmente dos dedos, são comuns. A capacidade de
trabalho é anulada e os actos da vida diária são também altamente
prejudicados. Nesse estágio são comuns as alterações psicológicas
com quadros de depressão, ansiedade e angústia.

11. COMO PREVENIR AS LER

São vários os aspectos da saúde nas pessoas que realizam actividade


ocupacional sedentária. Podemos dizer que a consciencialização e a

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compreensão da prevenção, podem ser considerados um dos primeiros
passos para que se estabeleça um processo de modo a enfrentar os
problemas oriundos dessas relações de trabalho.
As LER têm sido, na área da saúde, pauta de discussão e debates
buscando soluções tanto para prevenir, como para tratar as pessoas
que já adquiriram alguma patologia.

Algumas dicas para prevenir as LER:

a) Minimizar a quantidade de movimentos repetitivos

- São de evitar tanto os períodos prolongados de inactividade estática


como os de elevada frequência de movimentos; aconselha-se a
repartição dos movimentos por intervalos mais amplos e a solicitação
dos diversos grupos musculares.

- Diversificação da actividade: a integração de mais tarefas na


actividade diminui a repetitividade e aumenta a variedade dos
movimentos executados, o que pode inclusivamente fazer aumentar a
flexibilidade.

b) Mecanizar

Os meios mecânicos de auxílio substituem o esforço muscular


humano e podem baixar a repetitividade (atenção aos novos riscos:
solicitação estática, segurança,etc.).

c) Automatizar

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Principalmente quando haja actividades extremamente repetitivas.

d) Organização do trabalho

- Rotação: permitir a rotatividade dos trabalhadores por diversas


tarefas aumenta as alternativas e diminui a repetitividade e a
monotonia e, consequentemente, também a probabilidade de
patologias devidas a esforço excessivo; esta alternância pode trazer
para alguns uma melhor disposição psicológica perante o trabalho em
causa; contudo deve ter-se em conta que:
1. A rotação exige uma formação satisfatória em novas
competências;
2. A rotação enfrenta frequentes resistências:
- Os trabalhadores de outras divisões não querem passar para
a divisão de «risco»;
- O acréscimo do número de tarefas pode aumentar a pressão
psicológica; a rotina dá a alguns trabalhadores uma sensação
de segurança;
- Os responsáveis têm de aceitar uma quebra inicial na
produção.

- Intervalos: para limitar o esforço físico e mental, é mais eficaz fazer


pausas curtas e frequentes do que um ou dois grandes intervalos.

e) Formação; informação

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- Os trabalhadores devem ser informados sobre uma correcta
organização e técnica de trabalho. A responsabilidade compete à
entidade empregadora.
- Os novos trabalhadores devem ser formados desde o início na
técnica de trabalho correcta.

f) Exercícios compensatórios

A mobilização regular das articulações e grupos de musculares mais


solicitados na actividade, tem um efeito compensador da sobrecarga
postural, o que tem justificado a adopção pelas empresas de
programas de exercícios compensatórios no local e durante o horário
de trabalho. A realização de exercícios de aquecimento e alongamento
contribui para prevenir as possíveis LER, associados aos trabalhos
repetitivos.

12. A GINÁSTICA LABORAL

É mais uma ferramenta disponível dentro da ergonomia, no sentido de


prevenir doenças ocupacionais, contribuindo para melhorara qualidade
de vida dos trabalhadores. Hoje produzir mais e melhor, sem
desenvolver danos à saúde dos trabalhadores, não se trata de uma
utopia.
Como o próprio nome indica, ginástica laboral, caracteriza-se por uma
actividade desenvolvida no local de trabalho, actuando de forma
preventiva e terapêutica, através de exercícios que vão compensar as
estruturas utilizadas durante a função e activar outras que têm sido

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solicitadas. Durante este trabalho o objectivo maior é prevenir as LER.
A grande campeã de afastamentos de trabalhadores das empresas,
desenvolvidos pela fadiga decorrente da tensão e repetitividade dos
movimentos, prejudicando as articulações, músculos, nervos, etc.

Aqui ficam alguns exercícios considerados clássicos, que devem ser


adoptados quando não existe um profissional de saúde dentro da
empresa que nos aconselhe.
- Todos os exercícios devem ser feitos na posição sentada, com os pés
bem apoiados no chão.
- A coluna deve estar afastada do encosto ou espaldar e erecta.
- A duração de cada exercício é de 30 segundos e devem ser repetidos
3 vezes para cada membro.
Exercícios de alongamento

Pescoço - Ficar na posição sentada, sem encostar a coluna,


mantendo-a recta. Inclinar a cabeça para o lado, puxando-a
com uma das mãos. Manter o outro braço esticado e com a
mão em extensão.

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Ombro - Puxar com uma das mãos o cotovelo até sentir
alongar a região posterior do ombro.

Exercícios de alongamento

Extensores de Punho - Manter um dos braços estendidos.


Dobrar o punho para baixo com o auxílio da outra mão. Repetir
o mesmo com a outra mão.

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Punho - Flexionar o polegar e segurá-lo com os dedos e
realizar um movimento de desvio para baixo.
Exercícios de aquecimento

Relaxe os músculos do pescoço -


Incline a cabeça para a esquerda, para a direita, para frente e
para trás. Mantenha cada posição por alguns segundos.

Rolagem de Ombro -
Com os braços soltos e com as mãos apontadas para baixo,
execute um movimento giratório nos ombros para frente, por
três vezes, e para trás, por três vezes.
Exercícios de aquecimento

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Rotação de Antebraço -
Levante os braços esticados, com as palmas das mãos
voltadas para cima, até a altura dos ombros. Gire os braços
lentamente para dentro até que o dorso das mãos fiquem de
frente um para o outro. Gire os braços novamente, retornando-
os à posição inicial.

Rotação dos punhos -


Com os braços rectos e para os lados, gire lentamente as
mãos em círculo, trabalhando os punhos.
Exercícios de aquecimento

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Alongamento e compressão dos dedos -
Com as mãos para frente e as palmas voltadas para baixo,
estique os dedos tanto quanto puder, mantenha-os nessa
posição por alguns segundos; em seguida feche as mãos com
força.

Flexões das pontas dos dedos -


Com a mão direita estendida, dedos juntos e palma voltada
para baixo, force os dedos contra a palma da mão esquerda,
mantenha a posição por alguns segundos e solte-os
suavemente. Repita as flexões nos dedos da outra mão e
assim por diante.
CONCLUSÃO

Nos países industrializados, cerca de 20% dos trabalhadores

desenvolvem a sua actividade em locais e sectores com exigências

musculares, já que, apesar da redução do número de actividades

convencionadas com grande esforço físico, muitas outras se tornaram

mais estáticas, assimétricas e standartizadas, o que faz com que o

trabalho muscular de toda a natureza esteja ainda muito generalizado.

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As estatísticas referem como principais constrangimentos à

manutenção da saúde dos trabalhadores da União Europeia, o elevado

número de acidentes de trabalho, sendo que em 1996, cerca de 6000

foram fatais, e os restantes significaram a perda de 100 a 200 milhões

de dias de trabalho; a baixa qualificação dos trabalhadores em alguns

dos Estados Membros da União Europeia; 30 a 50% dos trabalhadores

dos países industrializados com queixas relacionadas com a

sobrecarga mental e stress, associadas a perturbações do sono e

depressões; generalização das actividades monótonas e rotineiras,

relacionadas com o cada vez maior impacto dos problemas músculo-

esqueléticos.

Em pleno século XXI, com uma tendência generalizada de

agravamento dos problemas de saúde do foro mental e músculo-

esquelético, reflexo dos hábitos, comportamentos e estilos de vida

modernos, ainda falamos de necessidade de abordar a segurança e a

higiene, mas deeveríamos referir sobretudo os aspectos relacionados

com a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar, com as oportunidades

de crescimento e desenvolvimento profissional e pessoal.

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Para podermos virar esta página, temos que investir em prevenção e

em alguns pontos chaves como a consciencialização não só para

empregados, mas principalmente para os empregadores e governo,

pois vale a pena investir na prevenção porque dá retorno.

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