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RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar o Direito das relações sociais, em especial, o instituto da
responsabilidade civil do cirurgião dentista após a vigência da Constituição Federal de 1988,
do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil de 2002. A importância de se estudar
a responsabilidade civil do cirurgião dentista justificou-se pela averiguação do aumento no
número de demandas judiciais em desfavor a esse profissional valendo-se desse instituto de
direito. Os problemas enfrentados por pacientes, como a dificuldade em provar a ocorrência
da lesão ou dano causado, os empecilhos encontrados pelos operadores do direito em
fundamentar suas pesquisas e decisões pelo fato de que são parcas as obras que tratam o tema
de forma específica. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica de textos, artigos e
livros atinentes ao tema e da análise dos julgados dos juízes e tribunais brasileiros. A partir da
análise da literatura, das sentenças, dos acórdãos referentes ao erro odontológico, tratou-se de
refletir sobre questões significativas levantadas em torno da importância de se observar que o
paciente é um ser humano carente de ajuda, que deseja obter a opinião de um profissional
capacitado, desejando ser bem tratado, ouvido e informado de sua real situação e o tratamento
a ser adotado. O profissional cirurgião dentista também almeja ter uma segurança jurídica de
que poderá desenvolver suas atividades laborais de forma que não fique exposto a um grande
número de ações processuais.
ABSTRACT
The objective of this project is to analyse the Law of the social relation, and, in special, the
institute of civilian responsibility of the dentist after the 1988 Federal Constitution validity,
the Consumer Defense Code and the 2002 Civilian Code. The importance to study the civilian
responsibility of the dentist was justify by the averiguation in the increase on the law process
numbers in disfavour to this professional using this law institute. The problems that the
patients have to face, like the difficulty to prove the occurrence of the lesion or caused
damage, the difficulty founded by the law operators in validate their researches and decisions
because of the small number of works that treat the theme in a specific way. The methodology
used was the bibliography review of texts, articles and books about the theme and the analysis
of the judges and courts of justice decisions in Brazil. Then, by the analysis of the literature,
the judge decisions and courts of justice decisions about the odontological mistakes, began to
reflect about significatives questions based in the importance that we have to observe that the
patient is a human being that needs help, that wants to have a capacity professional opinion,
wondering to be well treated, listened and informed about the real situation and the adopted
treatment. The dentist profession also wants to have a law security that he can do his
professional work in a way that he will not be exposure to a large number of law process.
pela intensificação das práticas e ações de dentista. Pode-se citar como exemplo, o
consumo. Sob essa ótica, analisou-se a caso da prestação de serviços facultativa
profissão odontológica que por sua que deve ser realizada a quem tenha
natureza e circunstâncias criam riscos de sofrido um acidente, circunstância em que
danos aos pacientes. o acidentado não tem condições físicas e
Sendo assim, a mentais de expressar seu consentimento,
responsabilidade civil do Dentista provoca porém o cirurgião dentista tem o dever
algumas controvérsias que podem ser profissional de dar a devida assistência à
analisadas no campo contratual ou pelo pessoa sob os auspícios de preservação da
viés extracontratual, porém ficando notório humanidade e do dever para com a vida
a tendência de se colocar a relação humana. Nesse caso, a recusa de ajuda,
dentista/paciente na forma contratual e sua pode se configurar em omissão de socorro,
obrigação classificada como de meio ou de previsto como crime no nosso Código
resultado para se aferir e indicar a Penal, ou seja, vai além de uma simples
responsabilidade do profissional da saúde obrigação de indenizar.
bucal. Também podem se verificar
Em alguns casos o dentista e outros casos de responsabilidade
o paciente não se encontram ligados por extracontratual, além do citado
um contrato de serviços odontológicos. anteriormente, em que o paciente não tem
Isto não indica que não exista um vínculo condições de dar o consentimento para o
de direito e deveres entre os dois. O elo dentista realizar o tratamento, o que
jurídico existe independentemente de acontece, principalmente, na área dos
contrato, pois o dentista tem o dever dentistas especializados em cirurgia buco-
profissional ex oficio, de maneira que tem maxilo-fascial, há também, casos em que o
com seu paciente/cliente os mesmos dentista tenha realizado um contrato com
deveres, mesmo se exista ou não um um terceiro pelo qual se obriga a prestar
contrato formal. seus serviços aos pacientes encaminhados
As relações sociais vigentes por esse profissional. A responsabilidade
entre o cirurgião dentista e o paciente se não contratual também se verifica na
fundamentam em um princípio geral no questão do dentista de empresa, ou do
qual mesmo que haja a existência de um cirurgião dentista que trabalha para uma
contrato nada impede que deva reconhecer clínica particular, e, por fim, pode-se
o direito real de que poderá existir uma apontar o exemplo dos dentistas que
responsabilidade civil extracontratual do atendem como funcionários públicos
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ou seja, dolo ou culpa no sentido stricto permeado pelo princípio de que todo
sensu (imperícia, imprudência e aquele que causar dano a outrem é
negligência), esses são elementos obrigado a repará-lo. O Código Civil
essenciais para configurar o dano brasileiro de 2002 em seu artigo 186
indenizável advindo da responsabilidade positivou esse princípio, tornando-o um
civil subjetiva. pressuposto para se caracterizar a
A lei determina, em responsabilização civil. Sendo assim o
situações específicas, a obrigação de art.186 estabelece que: Aquele que, por
reparar o dano independente da verificação ação ou omissão voluntária, negligência
da existência de culpa do agente. Essa é a ou imprudência, violar direito e causar
modalidade de responsabilidade civil dano a outrem, ainda que exclusivamente
objetiva, ou seja, em determinados casos moral, comete ato ilícito.
prescinde e não exige comprovação da Observa-se no artigo acima
culpa para que ocorra o dever de indenizar a presença da possibilidade de tipificação
o dano. Na responsabilidade civil objetiva do dano moral como ato ilícito passível de
basta ocorrer o dano e haver o nexo de indenização, baseando-se nos seguintes
causalidade para nascer à obrigação de pressupostos, a saber: conduta humana
indenizar. (ação ou omissão), culpa ou dolo do
Segundo José de Aguiar agente, relação de causalidade – nexo de
Dias (1944, p. 94-95), a distinção entre causalidade entre a ação e omissão e o
responsabilidade civil subjetiva e objetiva dano e, por fim a existência do dano
deve ser analisada no sistema da culpa, sofrido pela vítima.
sem ela, real ou artificialmente criada, não Apesar do direito positivo
há responsabilidade: no sistema objetivo, brasileiro ter priorizado a responsabilidade
responde-se sem culpa, ou melhor, esta civil objetiva, deve-se atentar para
indagação não tem lugar. importância essencial de averiguar a culpa
Portanto, em consonância como elemento essencial da
com Dias, deve-se averiguar a presença ou responsabilidade civil em alguns casos
não da culpa, se tiver o dever de indenizar concretos.
independente da existência da culpa o Nesse sentido, afirmou Caio
agente infrator responderá objetivamente Mario da Silva Pereira (1997, p.391): A
segundo determinação legal. abolição total do conceito da culpa vai dar
Deve-se ter consciência que num resultado anti-social e amoral,
o instituto da responsabilidade civil está dispensando a distinção entre o lícito e o
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do dano e do nexo causal, a comprovação seja, poderá ser entendida como a falta de
da configuração da culpa. cuidados e precauções que a profissão
Pode-se averiguar de forma exige. Portanto, pode-se afirmar que age
clara, que o Código de Defesa do com negligência o dentista que não se
Consumidor em seu artigo 14, parágrafo precaveu em evitar a fratura de uma lima
quarto, cria uma forma de exceção à endodôntica velha dentro do canal de um
responsabilidade geralmente objetiva dente, visto que ela deveria ser substituída
trazido por esse Código. Segundo reza o por uma nova, ou até mesmo o ortodontista
art. 14 § 4º A responsabilidade pessoal dos que deveria fazer exames radiográficos
profissionais liberais será apurada preventivos e não o fez, o implantodontista
mediante verificação de culpa. que observa que o implante instalado não
Dessa forma, não se pode logrou sucesso, tendo uma
apenas enfatizar a existência do dano osteointegraçção deficiente devido a uma
causado, sem traçar uma correlação entre a osteoporose que devia ter sido previamente
culpa do cirurgião dentista frente a tais diagnosticada e não foi; o dentista que
lesões. Deve-se ter, de forma efetiva, a deveria aguardar o prazo para recuperação
comprovação da responsabilidade do do paciente para iniciar uma próxima
profissional liberal. intervenção e não espera o momento
A culpa do profissional adequado para atuar. Sendo assim, toda
poderá ser constatada quando o dentista vez que o profissional da saúde bucal tiver
age, por ação ou omissão, sem o intuito de a obrigação de agir ou de ser omisso e não
lesar, mas assume tal risco. Tal ação ou faz, estará sendo negligente.
omissão decorre de atos de negligência, A imprudência é
imprudência ou imperícia do agente do ato caracterizada pela atuação precipitada, de
ilícito causador do dano. maneira intempestiva e sem se preocupar
O cirurgião dentista terá com os resultados adversos e nocivos que
culpa quando sua ação ou omissão aquela conduta sem os devidos cuidados
mereciam ser censuradas, quando entender poderá causar. O exemplo clássico do dia-
que em face às circunstâncias do caso a-dia é o motorista habilitado que confiante
concreto o profissional poderia ou deveria na sua capacidade, dirige em alta
ter agido de forma diversa. velocidade em uma via repleta de
A negligência pode ser pedestres. No caso da odontologia podem-
entendida como descuido, menoscabo, se citar aquelas situações em que o dentista
falta de atenção, omissão displicente, ou capacitado para atender o paciente não
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toma os devidos cuidados e age com deveria se reciclar por meio de cursos
excesso de confiança na sua habilidade. aperfeiçoamento, para aprender as técnicas
Como exemplo pode-se citar o cirurgião atuais para trabalhar com os materiais
que faz uma extração em uma mulher modernos, se nesse caso concreto, o
grávida próxima ao período do parto, e que dentista age sem ter os conhecimentos
por excesso de confiança, não se preocupa necessários para realizar tal trabalho
com uma possível antecipação do parto. causando dano, ele estará agindo com
Outro exemplo seria o dentista que por se imperícia.
achar muito competente marca muitos Além da classificação da
pacientes para o mesmo dia tendo pouco culpa por meio da negligência,
tempo para fazer a intervenção e faz de imprudência e negligência tem-se também,
forma rápida, agindo sem os devidos outros três graus de divisão da culpa.
cuidados na extração do terceiro molar Podendo dividi-la em grave quando ela se
(dente siso) ocasionando fratura de ângulo aproxima do dolo, por serem causadas por
da mandíbula. total desconhecimento dos elementos
A imperícia será mínimos que o profissional liberal não
configurada quando o cirurgião dentista, pode desconhecer e ignorar, a culpa leve
sem a devida qualificação técnica, ou seja, que poderia ser evitada com aplicação de
sem os conhecimentos necessários para medidas preventivas que deveriam ser
desenvolver tal intervenção faz o tomadas, nesse caso, coloca-se como
atendimento fora do ramo de sua parâmetro quais seriam as atitudes que
competência causando dano. Quando o deveriam ser tomadas por um homem
dentista atua praticando um ato de natureza médio, ou seja, utiliza-se do bom senso
complexa, sem a devida atualização para aferir o que um profissional mediano
profissional. Por exemplo, age com faria em determinado caso. Por fim, a
imperícia o cirurgião dentista que formado culpa levíssima, identifica-se com a
como clínico geral, sem experiência, tenta sutileza, sendo necessária uma atenção
realizar uma cirurgia que deveria ser extrema para ser evitada.
encaminhada para um especialista, outro Os doutrinadores trazem
caso seria o odontólogo tentar fazer uma que independente do agente (entenda-se
cirurgia de reconstrução de orelha, cirurgião dentista) ter agido como dolo ou
excedendo as prerrogativas que lhe são culpa, ao causar dano ao paciente será
atribuídas pelo seu diploma. Pode-se citar obrigado a indenizá-lo, independente se foi
também os casos em que o profissional culpa por imprudência, negligencia ou
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paciente indignado por achar que sua não atingiu e não coincidiu com aquele
inteligência tinha sido menosprezada por anunciado pelo dentista, ele poderá levar
um profissional prepotente e falho em sua seu caso para decisão em uma lide judicial.
conduta. É relevante destacar que a
É de suma importância que obrigação de meio conforme relatado
depois de instaurado a ação judicial para anteriormente, não há como se prever o
avaliação da responsabilidade civil do resultado, mas não exime o dentista de
cirurgião dentista, a verificação do tipo de empregar todos meios necessários para a
obrigação do mesmo. De acordo com o cura ou solução do problema, apesar de
plano de tratamento e o resultado esperado, não poder assumir a responsabilidade
a obrigação poderá ser de meio ou de quanto ao desenvolvimento final do
resultado, ao propor o tratamento, deve tratamento, ele deverá utilizar-se de todos
averiguar se o dentista prometeu ou não os meios e recursos disponíveis para
um resultado final. conseguir o melhor resultado possível para
A principal diferença que a saúde dos seus pacientes.
existe entre a obrigação de meio e a de Atualmente, não se
resultado, é que na primeira o profissional constatou na jurisprudência uma
não se responsabiliza e não tem como unanimidade de opinião, nem os
prever como será o resultado final do legisladores e nem os juristas chegaram a
tratamento, pois ele pode variar de acordo um acordo se a profissão de cirurgião
como o organismo de cada paciente. dentista lhe impõe uma obrigação de meio
Porém, se caso for possível prever o ou de resultado. Grande parte dos juristas
resultado, ou se o dentista prometer ao entendem que o dentista diferentemente do
paciente uma possibilidade de resultado ele médico tem obrigação de resultado, pois
deverá cumprir o prometido sob pena de para eles a maioria dos tratamentos
ter que indenizar o dano e/ou a insatisfação odontológicos são passíveis de se prever
do paciente. Nessa modalidade de um resultado final. Desta maneira, os
obrigação de resultado o cirurgião dentista tratamentos dentários teriam como regra
está automaticamente assumindo a geral o comprometimento com o resultado
responsabilidade de atingir e alcançar uma final, ficando o dentista responsável por
expectativa dada ao seu cliente, que além de empregar todos os recursos
normalmente, fica pré-estabelecido no disponível, alcançar o fim esperado pelo
plano de tratamento proposto. Se o seu paciente.
paciente entender que o resultado obtido
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O dentista que atua como brasileira quanto aos seus direitos, uma
profissional liberal deve exercer sua melhoria do acesso ao judiciário, avanço
atividade respeitando as normas próprias, dos diplomas legais na tentativa de tutelar
seguindo os ditames do Código de Defesa a supremacia do interesse público, e, de
do consumidor, os regulamentos dos forma específica os direitos do
Conselhos Federal e Estadual de consumidor, o aumento do número de
Odontologia, assim como o Código de profissionais no mercado de trabalho
Ética, porque se o cirurgião dentista determinando uma crescente intervenção
conseguir atuar respeitando todos os odontológica e atendimentos a pacientes,
ditames legais, quando chamado para majorando-se conseqüentemente o risco de
responder a um processo judicial acusado erros e de iatrogênias cometidas pelos
de ter causado um dano ao seu paciente, cirurgiões dentistas.
conseguirá provar e convencer o juiz de Finalmente, pode-se dizer
que fez tudo que estava ao alcance para que a vida em sociedade requer cuidados,
fornecer o melhor tratamento possível e, e, principalmente, exige-se cautela dos
sendo assim, não poderá ser condenado a profissionais que lidam com alguns dos
indenizar o dano sob pena de se estar bens mais valiosos do ser humano: a saúde
cometendo uma injustiça. e a vida.
O cirurgião dentista dessa
CONCLUSÃO sociedade pós-moderna deve ter
obrigatoriamente, o conhecimento técnico-
O objetivo dessa pesquisa científico e, sobretudo, deve saber atender
foi apresentar aos cirurgiões dentistas, dentro dos limites éticos que a profissão
pacientes e operadores do direito uma lhe impõe, tendo sempre a consciência de
contribuição teórica, na tentativa de que seu trabalho tem a função de (re)
colaborar para eximir as principais dúvidas estabelecer o sorriso dos seus pacientes e
concernentes a responsabilidade civil do não de causar-lhe danos e transtornos que
cirurgião dentista em face ao Código de os levem a procurar guarida do judiciário
Defesa do Consumidor. brasileiro.
Observou-se que o aumento Os pacientes também
do número de demandas judiciais contra os devem entender que além de seus direitos
cirurgiões dentistas foi resultado de vários nesse trabalho apontados, também
fatores, dentre eles pode-se destacar: a necessitam cumprir seus deveres nessa
maior conscientização da população relação social, de seguir todas
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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