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ANÁLISE DA GESTÃO DA CADEIA DE

SUPRIMENTOS NA INDÚSTRIA DE
COMPUTADORES

Paulo H. Parra
Sílvio R. I. Pires
Programa de Pós-graduação em
Engenharia de Produção – UNIMEP,
Via Santa Bárbara–Iracemápolis, km 1,
Santa Bárbara do Oeste, SP, CEP 13450-000,
e-mail: sripires@unimep.br

v.10, n.1, p.1-15, abr. 2003

Resumo

Nos últimos anos a competição tem crescido significativamente no mundo industrial, provocando o
surgimento de novos desafios e oportunidades na forma de organizar e gerenciar a produção. Nesse
contexto, a gestão da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management – SCM) tem emergido como
uma nova e promissora maneira de obter vantagens competitivas no mercado. Por sua vez, a indústria
de computadores apresenta um conjunto de fatores que dificultam uma gestão mais efetiva da cadeia de
suprimentos, em razão, principalmente, da velocidade das inovações tecnológicas no setor. Este trabalho
tem por objetivo básico apresentar uma análise geral da gestão da cadeia de suprimentos na indústria
de computadores, com foco na cadeia de abastecimento. O estudo teve o suporte de uma pesquisa
conduzida em um grande e representativo produtor mundial de computadores que opera no Brasil.
Palavras-chave: gestão da cadeia de suprimentos, indústria de computadores, gestão da cadeia de
abastecimento.
2 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

1. Introdução são exclusivas dessa indústria, mas poten-


cializam-se nela, principalmente pela com-

A competição entre empresas industriais


cresceu significativamente desde o início
dos anos 90. Atualmente, muitas empresas, mes-
petição acirrada em nível mundial que é marca-
da pela velocidade nas inovações tecnológicas
introduzidas, bem como pelos curtos ciclos de
mo localizadas em países em processo de indus- vida de produtos e modelos.
trialização, têm enfrentado mercados altamente Assim, este trabalho tem por objetivo básico
competitivos, com novos e crescentes critérios apresentar uma análise geral da gestão da cadeia
para competir e garantir a própria sobrevivência. de suprimentos da indústria de computadores,
Marcas e companhias globais tendem a dominar com foco na cadeia de abastecimento (inbound).
a maioria dos mercados, com tendência para o A análise apresentada teve o suporte de um
marketing mundial de produtos. Não somente estudo de caso conduzido em um grande e repre-
a marca tem se tornado comum aos diferentes sentativo produtor mundial de computadores que
mercados individuais, como também muitos opera no Brasil.
produtos têm caminhado para uma padronização A seguir, o artigo apresenta uma sucinta revisão
global e para customizações locais. Christopher do tema gestão de cadeias de suprimentos, o qual
(1997) também relata que, ao mesmo tempo, a serve de base conceitual para as análises a serem
empresa de classe mundial tem revisado seu foco apresentadas posteriormente.
de atuação, possibilitando o surgimento de fontes
de fornecimento para produção em dimensão 2. Gestão da cadeia de suprimentos
global.
Nesse contexto, o nível de competitividade Conforme relatado, nos últimos anos a gestão
industrial tem imposto ao mercado novos padrões da cadeia de suprimentos tem emergido como
de custo, qualidade, desempenho de entregas e modelo competitivo estratégico e gerencial para
flexibilidade, o que gera uma série de novos empresas industriais. Segundo Poirier & Reiter
desafios e fontes de vantagem competitiva nas (1997), uma cadeia de suprimentos (supply
empresas. chain) é um sistema por meio do qual empresas
Dentre as novas maneiras de obter vantagens e organizações entregam produtos e serviços a
surgidas nos últimos anos, tem se destacado seus consumidores, em uma rede de organizações
muito a gestão da cadeia de suprimentos (supply interligadas.
chain management – SCM), a qual tem emergido Recentemente, alguns autores têm atribuído
como novo modelo gerencial e competitivo para à SCM o status de filosofia de negócios, e
as empresas industriais. Adicionalmente, as diversas definições e visões têm sido encontradas
compras externas de bens e serviços respondem na literatura (Svensson, 2002).
por grande parte dos recursos financeiros das Neste trabalho será considerado que a SCM
empresas, favorecendo a visão de que a cadeia trata basicamente da integração holística dos
de abastecimento é um campo vital a ser explo- processos de negócios (business process) por
rado (Slack et al., 1996). intermédio da cadeia produtiva, com objetivo
Por sua vez, nos últimos anos, a indústria de atender o consumidor final mais efetivamente,
de informática, mais especificamente a indústria isto é, sendo eficiente e eficaz simultaneamente
de computadores, tornou-se uma das mais repre- (Pires et al., 2001). A SCM também pode ser
sentativas e influentes do mundo. Entretanto, considerada uma visão expandida, atualizada e,
apresenta uma série de particularidades que sobretudo, holística da administração tradicional
tendem a dificultar uma gestão eficaz de sua de materiais, abrangendo a gestão de toda a
cadeia de suprimentos. Tais características não cadeia produtiva de forma estratégica e integrada.
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A SCM pressupõe, fundamentalmente, que as tradicional integração vertical, eliminando as


empresas devem definir suas estratégias com- desvantagens em termos de custo e perda de
petitivas e funcionais por meio de posiciona- flexibilidade inerentes a ela (Vollmann & Cordon,
mentos (como fornecedores e como clientes) nas 1996). Uma unidade de negócios virtual é forma-
cadeias produtivas em que se inserem (Pires, da pelo conjunto de unidades (geralmente repre-
1998). De maneira geral, a SCM busca intensi- sentadas por empresas distintas) que compõem
ficar, somar e amplificar os benefícios de uma determinada cadeia produtiva, conforme ilustra
gestão integrada da cadeia de suprimentos. a Figura 1.
Assim, as estratégias e as decisões deixam de Em geral, pode-se afirmar que o modelo
ser formuladas e firmadas sob a perspectiva de competitivo e gerencial da SCM enfatiza que
uma única empresa e passam a fazer parte da cada cadeia produtiva agirá como organização
cadeia produtiva como um todo. virtual de negócios, devendo se preocupar com
A SCM também introduz uma importante a competitividade de produtos e serviços perante
mudança no modelo competitivo ainda vigente o consumidor final e com o desempenho da
em muitas empresas, ao considerar que cada vez cadeia produtiva como um todo.
mais a competição no mercado tende a ocorrer
no nível das cadeias produtivas e não apenas no 2.1 Reestruturação e consolidação da
nível das unidades de negócios (isoladas), como cadeia de suprimentos
estabelecia o tradicional trabalho de Porter
(1980). Nos últimos anos, um dos pilares da SCM
Isso resulta em um modelo competitivo com no mundo industrial tem sido o processo de
base no fundamento de que cada vez mais a reestruturação e consolidação das bases de
competição se dará entre unidades de negócios fornecedores e clientes. Basicamente, esse pro-
virtuais, ou seja, entre cadeias produtivas. Assim, cesso seleciona (geralmente reduz) e aprofunda
atualmente, as mais efetivas práticas na SCM as relações com um conjunto seleto de forne-
visam obter unidade de negócio virtual, a qual cedores e clientes com os quais se deseja estabe-
consegue manter a maioria dos benefícios da lecer parceria.

Fornecedores Fabricantes Distribuidores Consumidores

Cadeia de suprimentos

Unidades de negócio

Tipos de competição

Figura 1 – Competição entre unidades de negócios virtuais (Pires, 1998).


4 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

Assim, nesse processo serão decididos quais l Eficiência: aparece quando há necessidade
relacionamentos entre consumidores, fornecedores interna de a empresa melhorar a relação
e provedores de serviço são mais ou menos custo/benefício de algum processo. Sendo
importantes na otimização da SCM (Collins et assim, ela transferirá para uma outra orga-
al., 1997). Segundo Pires (1998), esse processo nização um processo ineficiente.
pode ser dividido em duas etapas básicas de l Estabilidade: reflete a tentativa de adaptar
transformação e melhoria da SCM: a reestru- ou reduzir as incertezas de algum negócio,
turação e a consolidação. ou seja, as empresas que utilizam essa
Por reestruturação entende-se a simplificação razão buscam parcerias que lhes garantam
da cadeia de suprimentos, com o objetivo de um futuro mais confiável.
melhorar principalmente sua eficiência. A ques- l Legitimidade: a legitimidade reflete como
tão básica dessa etapa é com quem a empresa os resultados e as atividades de uma em-
pretende construir parcerias e simplificar os presa são justificados. Por exemplo, um
processos de comunicação. Na maioria das vezes, negócio com uma grande montadora de
a reestruturação acaba incorrendo na redução automóveis pode ajudar a estabelecer a
do número de fornecedores e, eventualmente, do legitimidade de um pequeno fabricante de
número de clientes. Um exemplo dessa situação, autopeças.
menos comum, é a solicitação de algumas em-
presas para que pequenos clientes comprem por
meio de distribuidores e não diretamente, redu- 2.2 Globalização da cadeia de
zindo o número de clientes diretos e os custos suprimentos
decorrentes de tal prática. Conforme relatado na introdução deste traba-
Já a consolidação consiste no aprofundamento lho, as marcas e as companhias globais dominam
e no estreitamento das relações de parceria e muitos mercados. Ao longo das últimas décadas
canais de comunicação com a base de forne- houve forte tendência para o marketing mundial
cedores e clientes após a reestruturação. Contudo, de produtos sob a administração de grandes
o sucesso dessa etapa requer postura de confian- marcas, como Coca-Cola, IBM, Toyota, Microsoft,
ça, cooperação e relação ganha–ganha entre os dentre outras. Além de as marcas serem comuns
componentes da cadeia produtiva. nos mercados de cada país individualmente, os
No que tange à formação de parcerias entre as produtos também sofreram uma padronização
organizações, Cooper & Gardner (1993) indicam geral. Ao mesmo tempo, as companhias globais
cinco pontos importantes no estabelecimento e na revisaram seu antigo enfoque (mais regional) e
consolidação do relacionamento, os quais vão além atualmente procuram recursos em base global
da reciprocidade. São eles: (Christopher, 1997). Essas companhias procuram
ampliar seus negócios pela lógica da expansão
l Assimetria: reflete a habilidade de uma
dos mercados e da redução dos custos por eco-
organização em exercer poder, influência
nomias de escala na compra de insumos e na
ou controle sobre outra.
produção, sendo cada vez mais comum o uso de
l Reciprocidade: é baseada na mutualidade operações concentradas de manufatura.
benéfica em atingir objetivos comuns. Contudo, apesar dessa lógica, deve-se reco-
Contrária à assimetria, a reciprocidade nhecer que há certos desafios à empresa global.
estabelece relação positiva entre as partes, Primeiro, os mercados mundiais não são homo-
pois implica cooperação, colaboração e gêneos e ainda requerem customizações locais
coordenação entre as partes. em muitas categorias de produtos. Segundo, há
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elevado nível de complexidade logística na habilidade de gerenciar adequadamente o desen-


execução de uma SCM em âmbito global, o que volvimento, a fabricação e os processos logísticos
pode resultar em custos altos e prazos excessi- dos produtos torna-se elemento-chave na estra-
vamente longos para os lead times de entregas. tégia competitiva de uma empresa.
O custo do transporte, em razão do uso de fontes O esforço para manter estoques reduzidos é
de fornecimento distantes, pode se sobrepor a um dos fenômenos mais pronunciados nos últimos
possíveis reduções de custo obtidas pela eco- anos no mundo industrial. Sejam estoques de
nomia de escala. matérias-primas, de materiais em processo de pro-
A tendência para o uso de manufatura e dução, de componentes ou de produtos acabados,
marketing em escala global está evidenciando a pressão tem sido para a liberação do capital neles
a SCM e seus processos logísticos como fatores aplicado, o que, conseqüentemente, reduz os
críticos de sucesso. A complexidade da tarefa custos de manutenção.
logística é influenciada por fatores como número Um problema constante que aflige a maioria
crescente de produtos, curtos ciclos de vida do das organizações, especialmente aquelas que
produto e crescimento do mercado e do número produzem para estoque, é a incerteza das pre-
de canais de fornecimento. visões. Não importa quão sofisticadas sejam as
técnicas de previsão empregadas, a volatilidade
dos mercados leva essas previsões a estarem
2.3 Gestão estratégica de lead times
sempre sujeitas a erros. Os erros de previsão
na cadeia de suprimentos
tendem a provocar aumento indesejado nos lead
De acordo com Christopher (1997), os times de compras e produção.
clientes em todos os mercados industriais estão
cada vez mais sensíveis ao tempo. Em outras 3. Gestão da cadeia de
palavras, eles o valorizam e isso se reflete em abastecimento na indústria de
seus comportamentos de compra. Cada vez mais computadores
os compradores procuram fornecedores que
ofereçam menores prazos e atendam a seus Conforme definido anteriormente, uma cadeia
requisitos de qualidade. de suprimentos abrange o fluxo de materiais e
Nos mercados de consumo, os clientes esco- informações desde a fonte de matéria-prima
lhem entre as marcas disponíveis no momento. primária até a entrega do produto acabado ao
Portanto, se a marca preferida não estiver no consumidor final. Assim, toda empresa industrial
estoque, provavelmente será adquirida uma inserida em uma cadeia de suprimentos apresenta
substituta. uma cadeia de abastecimento (inbound chain)
Segundo Christopher & Braithwaite (1989), e uma de distribuição (outbound).
há três fatores de pressão nos mercados sensíveis Neste trabalho o interesse reside no estudo
ao tempo: da cadeia de abastecimento da indústria de
computadores, com o objetivo de:
l redução dos ciclos de vida dos produtos;
l apresentar uma análise da gestão da cadeia
l esforço para manter estoques reduzidos;
de suprimentos, verificando a influência de
l mercados voláteis com base em previsões algumas de suas estratégias no desempenho
poucos confiáveis. de sua cadeia de abastecimento;
A redução do ciclo de vida dos produtos faz l estruturar os elementos-chave para o apri-
com que se diminua o tempo disponível para moramento da cadeia de abastecimento do
desenvolver e lançar novos produtos. Assim, a setor.
6 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

A pesquisa foi conduzida com base, princi- l grande customização de atendimento;


palmente, na análise da realidade e em dados l muitos canais de fornecimento.
de uma empresa representativa e líder na indús-
tria de computadores, a qual atua globalmente Os curtos ciclos de vida dos produtos ocorrem
e apresenta operações de manufatura no Brasil. em função das constantes inovações tecnológicas
A empresa que serviu de base para o estudo não no setor. Dessa maneira, as empresas se vêem
será identificada, sendo o trabalho conduzido de obrigadas a lançar novos produtos constan-
forma exploratória. Em termos de taxonomia de temente, acompanhando o ritmo acelerado da
métodos de pesquisa, foi utilizada a chamada inovação na indústria.
pesquisa–ação ou de observação participante O grande número de produtos associa-se à
(Dane, 1990). Nesse caso, o pesquisador participa diversidade de aplicações dos computadores.
diretamente ou está envolvido com os eventos Essa diversidade abrange desde um computador
e/ou fenômenos observados. Esse fato fez com pessoal até um servidor de grande porte, ou seja,
que significativo volume de conhecimento tácito para cada necessidade específica há um produto
(não formalizado) da empresa estudada e do setor diferenciado.
industrial pudesse ser relatado no decorrer do A baixa previsibilidade da demanda tem sua
trabalho. origem em diversos fatores, com destaque para
O estudo foi subdividido em três etapas a enorme gama de produtos e também para a
distintas, identificando: grande variabilidade do mercado. Assim, pode-
se dizer que a previsibilidade da demanda tende
l as principais características da indústria a ser inversamente proporcional ao número de
de computadores; produtos e/ou mercados, os quais são enormes
l o modelo predominante de gestão da cadeia nesse tipo de indústria.
de suprimentos; A grande variabilidade do mercado se deve
l os elementos-chave de aprimoramento da à constante busca por parte da indústria em
cadeia de abastecimento. prover soluções/produtos para todo o tipo de
necessidade. Isso faz com que o mercado se torne
cada vez mais amplo e diferenciado.
3.1 Características da indústria de Já a grande customização de atendimento
computadores associa-se a dois fatores centrais. O primeiro
relaciona-se ao fato de que os consumidores/
Pode-se afirmar que a indústria de compu- mercado estão cada vez mais exigentes, deman-
tadores apresenta uma série de características dando produtos que atendam a suas necessidades
que dificultam a gestão eficaz de sua cadeia de específicas. Já o segundo relaciona-se à con-
suprimentos. Essas características não são exclu- corrência acirrada desse tipo de indústria, cuja
sivas desse tipo de indústria, mas potencializam- customização de atendimento apresenta uma
se pela velocidade e pelas constantes inovações. estratégia eficiente de aumento de vendas.
Essas características são: O constante aumento dos canais de abas-
l curtos ciclos de vida; tecimento ocorre em função da globalização, que
l grande número de produtos; se encontra em estágio bem avançado na indús-
tria de computadores, ou seja, o processo de
l baixa previsibilidade da demanda;
globalização fomenta a multiplicação dos canais
l grande variabilidade do mercado; de fornecimento.
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Essas características foram divididas em três de computadores usualmente divide sua atuação
grandes grupos, apresentados na Figura 2, que em três unidades de negócio distintas:
ilustra os principais desafios encontrados pela SCM l unidade de consumidores;
na indústria de computadores. Pela relevância na l unidade corporativa;
SCM e, em especial, na gestão da cadeia de abaste-
l unidade de servidores.
cimento, algumas características próprias da
indústria de computadores serão destacadas a seguir. Em seguida, essas unidades de negócio serão
analisadas sob a perspectiva de três dimensões que
3.1.1 Unidades de negócios consideramos básicas no setor: o mercado, o
Em razão de sua complexidade, a indústria produto e a fabricação.
de computadores não costuma ser tratada como
elemento único, visto que há mercados e produtos Unidade de consumidores
diferenciados que forçam a segmentação do setor. A unidade de consumidores envolve todos
Para ilustrar, pode-se citar o caso de um pro- os produtos e acessórios voltados à utilização
fissional liberal que deseja melhorar seus serviços pessoal de um computador. A característica desse
adquirindo um computador, o que difere em mercado é a atuação no varejo, ou seja, o cliente
muito de uma empresa que busca um novo final normalmente é uma pessoa física que busca
servidor para expandir seus negócios. Tendo em um equipamento para sua casa, escritório ou
vista essa diferenciação no mercado, a indústria pequena empresa.

DEMANDA
PRODUTOS
• baixa previsibilidade
• curtos ciclos • grande variabilidade
• grande número de mercado
de produtos • grande customização
de atendimento

FORNECIMENTO
• muitos canais
de abastecimento

Figura 2 – Principais desafios da SCM na indústria de computadores.


8 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

Já os produtos dessa unidade de negócio Unidade de servidores


apresentam um ciclo de vida extremamente curto Essa divisão está voltada para a fabricação de
(de 3 a 6 meses) em função da constante evolu- servidores, classificados como computadores de
ção tecnológica que se aplica a esse tipo de médio porte. Nessa unidade tem-se um mercado
produto (hardware e software). Além disso, os voltado para médias e grandes empresas, bem
produtos dessa unidade possuem duas segmen- como centros de pesquisa. Especificamente no
tações claras. A primeira é caracterizada por Brasil, pode-se dizer que esse mercado está em
computadores de baixo custo, com certa tecno- plena expansão, diante do crescimento do segmen-
logia agregada, e a segunda, por computadores to de telecomunicações e aplicações da Internet.
com tecnologia mais avançada, alto poder de Os produtos dessa unidade apresentam ciclo
processamento e, conseqüentemente, preço mais de vida médio (de 6 a 12 meses) e com pequena
elevado. gama de variação. Outra particularidade desse
Quanto à fabricação, tem-se a produção em grupo está na grande variedade de itens opcionais
grande escala, voltada ao abastecimento dos atrelados à compra do produto em si.
estoques dos centros de distribuição e geralmente Já no que tange à f ‘abricação, tem-se nesta
associada a uma pequena diversidade de produtos divisão a presença de um produto com baixo
finais. volume de produção, mas com alto valor
agregado. Sendo assim, sua execução se dá
Unidade corporativa estritamente por meio de pedidos de clientes,
A unidade corporativa engloba produtos e que termina na maioria das vezes com a entrega
acessórios destinados tanto a empresas grandes direta, sem intermédio de distribuidores.
como pequenas. Quanto ao mercado, tem-se que Essa relação entre as unidades de negócio e
a última geração em tecnologia não está em a perspectiva das três dimensões (mercado,
primeiro plano, mas a diferenciação, ou seja, produto e fabricação) é ilustrada na Tabela 1.
preza-se pela configuração, pelo atendimento, pela
execução e pela entrega diferenciada. 3.1.2 Configuração do produto
Os produtos dessa divisão possuem um ciclo Na indústria de computadores, usualmente
de vida médio (de 6 a 12 meses), mas com grande o computador é tratado como unidade de pro-
diversidade de tipos (famílias), projetados para cessamento central (central processing unit –
cada tipo de aplicação. Outra particularidade está CPU). Essa unidade de processamento é formada
relacionada à customização, muitas vezes reque- pela montagem de diversos elementos que juntos
rida pelos clientes, que pode envolver a confi- formam um produto final. Esses elementos são:
guração de algum componente (hardware) ou microprocessador, teclado, disco rígido, placa
até mesmo de sistemas operacionais (software). processadora, floppy drive, CD drive, placa
Em relação à fabricação, tem-se basicamente gráfica, DVD drive, placa de fax/modem, memó-
o atendimento de ordens (pedidos). Esse tipo ria, placa de rede, embalagem, chassis, documen-
de atendimento torna a fabricação uma atividade tação e software.
complexa, em razão da grande variedade de Esses elementos podem ser estruturados em
produtos e ordens a executar. Em contrapartida, dois grupos: a plataforma, que varia conforme
apresenta processos de fabricação otimizados, o produto, e os configuradores, que definem o
por se tratarem de produtos com ciclo de vida produto final efetivamente, conforme ilustra a
relativamente médio. Tabela 2.
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Tabela 1 – Relação entre as unidades de negócio e as três dimensões analisadas.

Unidade de Dimensão
negócio Mercado Produto Fabricação
Enfoque no custo Curto ciclo de vida Altos volumes para
Consumidores
Cliente no varejo Baixa variedade estoque
Enfoque na diferenciação Médio ciclo de vida Customização contra
Corporativos
Clientes corporativos Alta variedade ordens
Baixos volumes
Enfoque na diferenciação Médio ciclo de vida
Servidores Customização contra
Clientes corporativos Alta variedade
ordens

Tabela 2 – Componentes básicos de um computador.

Grupo Plataforma Configuradores


Microprocessador
Chassis
Memória
Teclado
Disco rígido
Placa processadora
DVD drive
Componentes Placa gráfica
Floppy drive
Embalagem
CD drive
Documentação
Placa de fax/modem
Software
Placa de rede

A combinação entre plataforma e configu- excelência desse posicionamento que se garante


radores gera inúmeras possibilidades para cada o atendimento do cliente final. No entanto, a
produto. Por exemplo, um produto com 5 flexibilidade precisa estar atrelada a baixos níveis
variações para cada um dos 8 configuradores de inventário, bem como a altos giros de estoque,
e 4 plataformas diferentes gerará um total de 160 pois disso depende a saúde financeira das
combinações. empresas.
Atualmente, na indústria de computadores
3.1.3 Posicionamento de materiais tem-se cada vez mais a aplicação de estratégias
O mercado de computadores é extremamente de posicionamento de materiais que se dão
sensível em termos de variações de volume, pois principalmente pela análise dos seguintes fatores:
lida com produtos de alta tecnologia e com l valor do material;
inovações acontecendo a todo o momento. Por
sua vez, a inovação requer a maior flexibilidade l volume do material;
possível no posicionamento (disponibilizar para l origem do fornecedor;
uso) de materiais, pois é por intermédio da l tipo de frete.
10 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

A análise desses fatores serve como instru- dessa questão sob a perspectiva de três ele-
mento condutor de informações da atividade de mentos principais: o produto, a demanda e o
planejamento de materiais, que apresenta três abastecimento.
momentos distintos na indústria de computadores:
l O primeiro trata da introdução de novos Produtos
produtos, em que se destacam as etapas Conforme relatado, a indústria de computa-
de desenvolvimento de produtos/materiais dores requer constante redução dos ciclos de vida
e também a introdução de novas tecno- e aumento da variedade de produtos. Para supor-
logias. Nesse momento, todos os esforços tar essa característica, adota-se a estratégia de
são canalizados para que a introdução introduzir o maior número possível de novos
ocorra no prazo previsto. produtos, diferenciando-os cada vez mais.
l O segundo envolve a sustentação do produto A primeira implicação negativa da adoção dessa
ao longo de sua vida, em que o foco passa estratégia consiste no aumento da complexidade
a ser atender a pedidos de clientes, mas com da gestão do ciclo de vida dos produtos, uma vez
valores mínimos de estoque, bem como altos que novos produtos são lançados a todo o momento
giros de inventário. e para cada produto há necessidade de perfeita
l Já o terceiro abrange o fim de vida de um administração de suas quatro fases de vida: a
produto, em que o objetivo principal é fazer introdução, o crescimento, a maturidade e o de-
com que o produto tenha o menor índice de clínio. A segunda implicação negativa associa-se
obsolescência possível, ou seja, busca-se um ao aumento da gama de materiais, pois na maioria
fim de vida com sobra zero de materiais. das vezes esses materiais não são intercambiáveis
entre os produtos.
A Tabela 3 ilustra esses momentos e suas Sendo assim, há muitos materiais específicos
respectivas prioridades. para cada produto, ou até mesmo para cada variação
de produto.
3.2 Modelo predominante de gestão da Essas implicações negativas geram uma série
cadeia de suprimentos (SCM) de efeitos na cadeia de suprimentos, reduzindo
sobremaneira seu desempenho.
O modelo predominante de SCM na indústria Esses efeitos variam desde um considerável
de computadores se adequa as suas caracte- aumento na entropia da gestão do ciclo de vida
rísticas intrínsecas. Contudo, a adoção de dos produtos até o aumento dos índices de
determinadas estratégias na SCM incorre em obsolescência de produtos e materiais em geral.
algumas implicações negativas, as quais afetam Cabe lembrar que o fator obsolescência se poten-
diretamente o desempenho da cadeia de abas- cializa nessa indústria em função de sua constante
tecimento. A seguir, apresenta-se uma análise renovação tecnológica.

Tabela 3 – Prioridades do planejamento de materiais.

Etapa Introdução Sustentação Fim de vida

Prioridades do Atendimento a ordens


Atendimento à data de Índice de
planejamento de Giro de estoque
introdução obsolescência zero
materiais Baixo inventário
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Outro efeito marcante é o aumento dos índices longos lead-times das commodities adquiridas,
de inventário e a baixa flexibilidade dos mate- muitas vezes, de fornecedores da Ásia e com
riais, que tendem a cobrir uma enorme gama em grandes tempos de trânsito e/ou desenvolvimento.
termos de abrangência, mas geralmente têm Como os materiais são posicionados com base
baixo nível de intercambiabilidade de partes. nas previsões de vendas, tem-se que sua não
Esses fatores tornam incompatíveis os obje- acuracidade incorre em ineficiência de suporte
tivos de maior flexibilidade e baixo inventário, ao atendimento de clientes (flexibilidade) ou em
pois grandes variedades de materiais requerem redução dos giros de inventários. Esses dois efeitos
altos níveis de estoque para proporcionar fle- são danosos ao retorno do capital investido pela
xibilidade satisfatória. empresa, pois com o não atendimento de clientes
perdem-se vendas e diminui-se o lucro líquido.
Demanda Já na redução dos giros de inventário tem-se
As características da indústria de compu- aumento do capital investido.
tadores no tocante à demanda apontam grande O segundo efeito da falta de acuracidade
variabilidade de mercado, baixa previsibilidade associa-se ao alto índice de obsolescência,
e grande customização de atendimento. Para originado na enorme diversidade de produtos
suportar essas características, adotam-se, muitas e materiais. Essa diversidade prejudica o de-
vezes, modelos centralizados de gestão da sempenho da atividade de gestão do ciclo de vida
demanda, agrupando, dessa forma, todas as dos produtos.
unidades de negócio.
A primeira implicação negativa dessa estratégia Abastecimento
consiste na enorme dificuldade em implementar A atual indústria de computadores envolve
a gestão da demanda. Essa dificuldade é de- uma base relativamente grande, e em expansão,
corrente da adoção de um modelo único de gestão de canais de abastecimento. Geralmente, para
da demanda, que não permite formas diferenciadas suportar essa característica adota-se a estratégia
de interação da demanda para cada unidade de da integração eletrônica com todos os forne-
negócio. As unidades de negócio atuam em cedores de primeiro nível (first tier suppliers).
segmentos de mercado distintos e, portanto, A implicação negativa dessa estratégia deve-
possuem objetivos diferenciados. Sendo assim, se ao fato de haver interligação eletrônica
esses objetivos também requerem modelos de somente entre fornecedores de primeiro nível.
gestão diferenciados. Conforme dito anteriormente, uma gestão efetiva
A segunda implicação negativa consiste na total da cadeia de suprimentos requer interligação de
falta de acuracidade das previsões, muitas vezes todos os níveis produtivos, ou seja, de sua virtual
em função da centralização da gestão da demanda. unidade de negócio. O efeito dessa implicação
Essa centralização induz a erros, pois deturpa a negativa relaciona-se à falta de visibilidade de
visibilidade de condições específicas de mercados toda a cadeia de suprimento. A visibilidade
regionais e atrapalha o relacionamento entre fa- somente do primeiro nível incorre em muitos
bricação e marketing. De maneira geral, essas duas erros de alocação de recursos, pois nem sempre
implicações negativas incorrem na falta de os fornecedores desse primeiro nível repassam
acuracidade das previsões da empresa. Por sua vez, a seus subfornecedores a mesma informação de
essa falta de acuracidade gera uma série de efeitos demanda. Por sua vez, essa quebra do canal de
negativos na cadeia de abastecimento. informação gera distorções na alocação de
O primeiro efeito negativo associa-se ao falho recursos de toda a cadeia, acarretando perdas
posicionamento de materiais, em função dos de flexibilidade de atendimento a clientes.
12 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

3.3 Elementos-chave para o l aumento da intercambiabilidade de partes.


aprimoramento da cadeia de A redução da gama de produtos, em prin-
abastecimento cípio, aparenta ser uma estratégia equivocada,
Objetivando promover melhorias na cadeia pois induz ao pensamento de perda de mercado.
de abastecimento da indústria de computadores, Contudo, análises revelam que mais de 80% do
esta parte do estudo de caso buscará apresentar faturamento das empresas se concentra em
os elementos-chave para o aprimoramento: o reduzido número de produtos. Portanto, a redução
desenvolvimento de produtos, a gestão da deman- da gama de produtos faz com que o foco das
da e o fornecimento integrado. Esses elementos vendas se volte para os produtos que realmente
são ilustrados na Figura 3. contribuem para o faturamento. No que tange
à cadeia de abastecimento, essa redução é extre-
3.3.1 Desenvolvimento de produtos mamente benéfica, pois simplifica e reduz o
Conforme descrito anteriormente, a redução número de materiais adquiridos e controlados.
dos ciclos de vida e o aumento da gama de pro- Essa simplificação, por sua vez, propor-
dutos são características típicas da indústria de cionaria um aumento da eficiência nos controles
computadores. Assim, qualquer que seja a estra- de obsolescência e de inventários.
tégia relacionada ao desenvolvimento de produtos Já a estrutura modular é um conceito que visa
tem por obrigatoriedade considerar essas caracte- minimizar os efeitos prejudiciais da constante
rísticas. A proposta aqui apresentada sugere redução dos ciclos de vida dos computadores.
mudanças no desenvolvimento de produtos, as Nesse conceito, os produtos são desenvolvidos
quais se dividem em: a partir de módulos que, juntos, determinam a
configuração final. Basicamente, esses módulos
l redução da gama de produtos; seriam divididos em dois grupos, já apresentados,
l implementação de estrutura modular; a plataforma e os configuradores.

DESENVOLVIMENTO
DE PRODUTOS GESTÃO DA
DEMANDA
• redução da gama
de produtos • modelos específicos
• implementação de de interação entre
estrutura modular demanda e manufatura
• intercambiabilidade
de partes

FORNECIMENTO
INTEGRADO

• interligação da
cadeia de abastecimento

Figura 3 – Elementos de aprimoramento da cadeia de abastecimento.


GESTÃO & PRODUÇÃO, v.10, n.1, p.1-15, abr. 2003 13

A plataforma teria maior estabilidade em seu mentação de modelos específicos de interação


ciclo de vida e seria totalmente adaptável às entre demanda e manufatura para cada unidade
constantes trocas de configuradores. Nesse de negócio. Essa estratégia se fundamenta no
conceito, plataforma e configuradores possuiriam princípio básico de que os mercados das unidades
ciclos de vida independentes e predeterminados, de negócio são diferenciados e apresentam
cada um associado a sua inovação tecnológica. características próprias. Dessa maneira, também
Dessa maneira, haveria diversas introduções de são necessários modelos diferenciados de gestão
configuradores associadas à mesma plataforma. da demanda e, por conseguinte, diferenciadas
O conceito modular é extremamente favorável formas de interação da gestão com a manufatura.
ao aprimoramento da cadeia de abastecimento, Na proposta de aprimoramento haveria dois
pois permite melhor controle do ciclo de vida processos distintos de manufatura: a produção
dos produtos, já que a base de controle mudaria para estoque (make to stock – MTS) e a produção
de inúmeras CPUs para alguns módulos. Esse sob encomenda (make to order – MTO). A
aprimoramento proporcionaria melhorias signifi- produção para estoque seria mais apropriada para
cativas nos índices de obsolescência, advindas a unidade de negócios de consumidores, visto
de um gerenciamento de fim de vida de produtos que apresenta as seguintes características:
mais estruturado, bem como de um melhor l estratégia competitiva com base no custo;
controle de introdução de novos produtos. l baixa variedade de produtos;
O aumento da intercambiabilidade de partes
l grandes volumes;
é fundamental ao aprimoramento da gestão de
materiais, pois permite atender a diversos produtos l definição dos produtos que serão fabri-

a partir de uma base reduzida de suprimentos. cados.


A proposta seria ampliar a intercambiabilidade Para essa unidade, um modelo de atendimento
por meio dos módulos, utilizando um mesmo baseado em ordens não é muito eficaz, visto que
configurador em diversas plataformas. Assim, os os clientes desse mercado somente compram o
produtos finais apresentariam várias combinações que está na prateleira. Também é ineficiente a
diferentes, geradas a partir de um número limitado tentativa de customizar o atendimento nesse
de módulos. mercado, visto que seus clientes priorizam o fator
Essa intercambiabilidade proporcionaria o custo e não a diferenciação. Portanto, a estratégia
aprimoramento do uso dos materiais, que, por competitiva mais adequada para essa unidade
sua vez, permitiria significativa redução dos de negócio seria o enfoque no custo.
níveis de inventário e, também, melhorias nos Outro fator importante é que, com a expansão
níveis de flexibilidade de posicionamento de da Internet, essa unidade de negócio apresenta
materiais. o maior volume de produção. Por sua vez, esses
volumes seriam mais adequados a uma produção
3.3.2 Gestão da demanda em massa.
A baixa previsibilidade do amplo mercado Em outro extremo, tem-se que a produção
de computadores faz com que a previsão da sob encomenda se adequaria melhor às unidades
demanda se torne uma atividade extremamente de negócio corporativo e de servidores, visto que
complexa e cercada de erros. elas apresentam as seguintes características:
Uma proposta para reduzir as margens de l estratégia competitiva com base na dife-

erros das previsões seria rever a estratégia pre- renciação;


dominante de gestão da demanda pela imple- l grande variedade de produtos;
14 Parra & Pires – Análise da Gestão da Cadeia de Suprimentos na Indústria de Computadores

l necessidade de capabilidade para qualquer todos os fornecedores, mas daquelas estrate-


volume; gicamente importantes. Essa interligação permi-
l postergação da definição final do produto. tiria melhor visibilidade de alocação de recursos
de toda a cadeia produtiva, fazendo com que a
A diferenciação no atendimento é um ponto previsão de vendas de computadores fosse
extremamente relevante nos mercados dessas transferida para os fornecedores estratégicos,
duas divisões, pois cada vez mais seus clientes independentemente da camada (first tiers, second
(mercado corporativo) buscam soluções custo- tiers, etc.) em que eles se encontrem. Sendo assim,
mizadas para suas necessidades. Portanto, a pode-se dizer que essa melhor visibilidade
estratégia competitiva mais adequada a essas proporcionaria melhor posicionamento de
unidades de negócio seria o enfoque na dife- materiais que, por sua vez, permitiria melhor
renciação. atendimento aos clientes.
Dessa maneira, a adoção de um modelo MTO
associado à proposta de estrutura modular faria
com que o ponto de desacoplamento se aproxi- 4. Considerações finais
masse da real entrada de pedidos. Essa pro-
ximidade proporcionaria melhor posicionamento Atualmente, é notória a crescente importância
de materiais, advindo de um controle mais eficaz estratégica da SCM em diversos setores indus-
das previsões de vendas, que seriam feitas em triais, em especial na indústria de computadores
módulos. Sendo assim, a fabricação (junção dos tratada neste artigo. Entretanto, a SCM é um tema
módulos) teria início somente no ato do rece- extremamente amplo e o foco da pesquisa
bimento de pedidos. Outro fator benéfico dessa realizada se limitou à gestão da cadeia de
proposta é a flexibilidade de posicionamento de abastecimento (inbound), ou seja, às relações dos
materiais, visto que alguns poucos módulos fornecedores (upstream) da empresa estudada.
poderiam atender a uma gama variada de A análise realizada em uma grande empresa
combinações de produtos finais. do setor sugere a necessidade de constante
aprimoramento da SCM, visando a resultados
3.3.3 Fornecimento integrado positivos não somente no âmbito das empresas
Conforme citado anteriormente, tem-se na produtoras de computadores, mas também para
indústria de computadores um constante aumento seus fornecedores e para a cadeia de abaste-
dos canais de fornecimento. Por sua vez, esse cimento em geral. Esses benefícios estão ligados
aumento gera efeitos negativos, que poderiam a melhorias em alguns processos, como previsões
ser minimizados com a interligação da cadeia de vendas, racionalização de produtos e materiais
de abastecimento. Essa proposta se baseia no e interligação das camadas de fornecedores.
crescimento horizontal dos canais de abaste- A análise apontou que o aprimoramento da
cimento (anteriormente descritos) que, por sua cadeia de abastecimento necessariamente está
vez, dificulta a total visibilidade da alocação de atrelado à revisão da SCM como um todo,
recursos. sugerindo que a possível racionalização dessa
Na indústria de computadores, tem-se a pre- cadeia estaria ligada à revisão de sua estratégia
sença de vários fornecedores estratégicos postados de SCM.
em diversas camadas. Dessa maneira, a interli- Dessa maneira, o resultado de uma possível
gação somente com o primeiro nível não propor- melhoria de desempenho, conforme sugerido
ciona a visibilidade de toda a cadeia, conforme neste artigo, necessariamente estaria inserido
discutido anteriormente. A proposta aqui apre- na redefinição e/ou alteração das estratégias de
sentada não seria interligar todas as camadas de SCM das empresas do setor.
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.10, n.1, p.1-15, abr. 2003 15

Finalmente, cabe observar que, embora baseada industrial e não apenas de uma grande empresa.
em um estudo de caso em uma grande e repre- Nesse caso, as limitações intrínsecas às pesquisas
sentativa empresa multinacional produtora de exploratórias e o cuidado com a não identificação
computadores, a pesquisa indica que muitas das da empresa estudada não permitem avançar mais
questões aqui tratadas são representativas do setor no relato da análise.

Referências Bibliográficas

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1996.

AN ANALYSIS OF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT IN THE


COMPUTER INDUSTRY

Abstract

During the last years, competition has increased significantly in the industrial world and has created
a set of new challenges and opportunities in the way of organizing and managing the production. In this
context, supply chain management has emerged as a new and promising frontier for reaching competitive
advantages within the marketplace. On the other hand, the computer industry shows a series of
characteristics that make difficult to achieve effectiveness in the supply chain management, due mainly
to the speed of the technological innovations in the sector. This article has the basic purpose of showing
a general analysis of the supply chain management within the computer industry and with focus on its
inbound chain. The research was supported by a research conducted in a large and representative
worldwide computer manufacturer operating in Brazil.
Key words: supply chain management, computer industry, inbound chain management.

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