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Sinopse:

Desde que esbarrou pela primeira vez com o novato da escola Shadyside, Janie não
conseguia esquecê-lo. Ross Gabriel era alto, magro e muito charmoso. Tinha as feições
finas, os cabelos cacheados e um olhar penetrante. Diante daquela expressão tão séria,
dava até para imaginar que nunca havia se permitido sorrir. Mesmo assim, as garotas
enlouqueciam ao vê-lo passear pelo campus.

Janie, Eve e Faith formavam o comitê de festas da escola. As três resolveram conquistar
Ross, para desespero dos outros rapazes que passaram a desprezá-lo. Paul, por exemplo,
namorado de Faith, não se cansava de repetir que o recém-chegado tinha uma postura
arrogante nas aulas e até durante as partidas de futebol.

Apesar dos protestos, as três decidiram levar a sério a aposta sobre a conquista de Ross. E
foram muito longe, talvez longe demais, naquilo que, a princípio, parecia ser uma simples
brincadeira. Quem saísse com o novato primeiro seria a grande vencedora. Afinal, estar
com Ross não era nenhum sacrifício.

Mas as aparências enganam. Primeiro foi Eve. Depois, Faith. As duas desapareceram
após marcar encontro com Ross. Os corpos só foram encontrados muito tempo depois no
bosque da Rua do Medo, aquele lugar misterioso.

Ross? Bom, ele morava na Rua do Medo, na entrada do bosque, e encaixava-se sob
medida no perfil do assassino de Eve e Faith. Seriam apenas coincidências? Janie
começou a ficar com muito medo. Ela não queria ser a próxima vítima.

Outros livros da série:

* A vidente
* Amor em dose dupla
* O clube do terror
* O novato
* O pesadelo
*O desafio

Sobre o autor:

R.L Stine nasceu e cresceu em Columbus, Ohio, Estados Unidos. Já escreveu mais de 50
histórias de mistério e policiais para adolescentes, todos best sellers. Atualmente mora
próximo ao Central Park, em Nova York, com a mulher Jane e o filho Matt.
Capítulo 1

Duas semanas antes do assassinato, Janie viu pela primeira vez o novato da escola
Shadyside. Era um garoto de ótima aparencia. Tinha o andar ágil e charmoso de um
atleta.Era alto magro. O rosto fino e elegante, cabelos castanhos cacheados e uma expressão
séria que fazia Janie se perguntar se algum dia ele havia se permitido sorrir.
Enquanto o observava, ela não podia desviar seu olhos dos olhos dele. Eram olhos escuros
e pensativos. Atormentados e tristes pensou Janie. Teve que piscar algumas vezes para
interromper o olhar fixo em Ross. Sentiu-se emrubescer.
Grande descoberta! Então o cara tinha um olhar maravilhoso, pensava Janie, virando a
cabeça para o inferior de seu armário cinza enquanto o novato passava por ela. Porque
estou sendo tão romântica?
Duas líderes de torcida do time Tigers passaram por ela com os saiotes marrom e branco do
traje de torcida organizada. Janie reconheceu Corky Corcoran e sua amiga Kimmy Bass.
Elas gracejavam , empurramdo uma a outra.
Janie virou-se e viu o novato desaparecer dobrando o corredor. Será que ele reparou nela?
Não acreditava. Janie você tem que tratar da vida, censurou-se, murmurando em voz baixa.
A sineta acima dos armários tocou bem alto, despertando-a .Arremessou os livros para o
fundo do armário. O salão estava agora praticamente vazio. A maioria dos alunos já tinha
ido embora.
Janie queria ir para casa para fazer um trabalho de sociologia. Mas tinha antes uma tarefa.
Começou a fechar o armário, mas mudou de idéia. Escancarou a porta e olhava impaciente
para o espelho preso nela.
Ajeitou os cabelos ruivos e lisos com movimentos rápidos das mãos. Usava-os compridos e
soltos. Limpou uma manchinha de sujeira de seu rosto pálido e aveludado.
No espelho , o reflexo dos seus olhos azuis a fitavam. Ela endireitou a camiseta que usava
por cima de um top amarelo. Janie era baixa e muito magra. Ela sempre usava várias roupas
umas sobre as outras .Gostava de se vestir assim, mas suas amigas Faith e Eve implicavam
com ela dizendo que apenas tentava parecer mais gorda.
Os garotos não reparam em você porque não podem vê-la — brincava Faith.
Janie podia ouvir a voz implicante de Faith em sua cabeça.
— Você tem o porte de uma manequim e se veste como um saco de batata.
Faith tinha uma aparência naturalmente bela. Era loira, jovial, esfuziante, bem o tipo de
uma chefe de torcida. Não se cansava de dar palpites sobre roupas e maquiagem que Janie
nunca usava. Tampouco queria ser uma versão fake de Faith. Queria manter sua identidade,
apesar de não saber ainda muito ao certo o que isso realmente significava.
Onde estão Faith e Eve afinal? Janie se perguntava a si mesma, percorrendo com os olhos o
salão vazio .
Ela bateu a porta do armário. Talvez elas já estejam na sala do sr. Hernandez, á minha
espera. Talvez tenham começado a contar o dinheiro sem mim.
Começou a correr em direção á sala do supervisor na entrada do prédio. Dois professores
passaram por ela abotoando suas capas de chuva, em direção ao estacionamento. Um
burburinho prolongado vinha do ensaio das líderes de torcida no ginásio, no andar de baixo.
Espero contar logo o dinheiro, pensava Janie. Tenho muito dever de casa esta noite.
Ela e suas duas amigas eram as responsáveis pelo comitê de festas da escola. E agora
deveriam contar a receita arrecadada e entregá-la ao ao sr. Hernandez , o novo supervisor.
Havia muito dinheiro para contar. A festa tinha sido realmente um sucesso.
Um sucesso financeiro não um sucesso pessoal, pensava um pouco amargurada. Eve e Faith
tinham ido acompanhadas. Faith aparesceu com Paul Gordon, claro. Eles estavam juntos há
algumas semanas. E Eve foi com seu namorado Iam Smith.
Janie suspirou quando dobrou o corredor e avistou a sala do supervisor. Das três , Janie era
a única que não tinha namorado.
Foi á festa sozinha mmesmo, tinha que ir de qualquer maneira, já que era uma das
responsáveis pelo comitê. Ela dançou com alguns rapazes, mas não teve realmente uma
noite agradável. Ficou observando Faith e Eve. E teve que lutar para afastar o sentimento
de inveja e a sensação de solidão.
Isto foi no Sábado á noite. Era Segunda feira. O primeiro dia do resto da minha vida,
pensava Janie. Ou o que quer que isto signifique. Ela passou pela placa na parede : Peter
Hernandez, supervisor. Puxou a porta e entrou na sala.
— Desculpe, estou atrasada meninas... Janie logo parou quando percebeu a sala vazia.
Onde estavam Eve e Faith?
Ela deu alguns passos em direção á sala interna. A porta estava entreaberta e as luzes
acesas.
— Há alguém ai?
Nenhuma resposta.
Aposto que Faith está pendurada em Paul, pensava Janie. Provavelmente o está atrasando
para o treino de basquete. Mas onde estava Eve? Não pode estar com Ian. Ele trabalha
depois da escola. Janie logo olhou para o grande relógio na parede. Quinze para as três. Ela
passou as mãos nos longos cabelos ruivos, depois sacudiu a cabeça para deixa-los soltos.
De repente a porta do corredor abriu-se e Eve entrou correndo. Eve tinha uma aparência
drmática, fúnebre. Os seus cabelos longos tinham um negror brilhante quase azul, sob a luz
do teto. Os olhos verde oliva brilhavam de exitação.
Você já soube das novidades? — perguntou a Janie, sem fôlego. — Deena Martisson
terminou com Gary Brandt!
O que? — Janie ficou boquiaberta — Eles estavam juntos na festa de do Sábado. Onde
você ouviu isto?
— Eu estava justamente conversando com Deena — disse Eve, empurrando os cabelos
negros para trás dos ombros, deixando-os cair sobre uma sueter verde — Ela está chateada,
mas não muito. Disse que ainda são amigos. Janie assentiu pensativa.
— Como você sempre sabe das coisas antes de todo mundo?
É facílimo saber das coisas antes de você! — provocou Eve. — Você nunca sabe de nada!
Janie se esforçou para dar um meio sorriso.
— Bem, não podemos esperar por Faith — disse ela, andando até a mesa redonda junto á
parede. — Vamos começar. Onde está o dinheiro?
O que? Os escuros de Eve se arregalaram de surpresa.
O dinheiro — repetiu Janie impaciente — onde está?
Pensei que estava com você!! — gritou Eve.
Janie sentiu um aperto na garganta. Teve uma sensação súbita de um peso no estômago.
Vamos Eve — disse Janie, tentando ficar calma — Você iria pegar o dinheiro
com a senhora Fritz na última aula.
A luz dos olhos de Eve desapareceu. Sua expressão ficou séria.
— Faith pegou o dinheiro para mim esta manhã — disse ela a Janie.
— Ela o colocou no armário. Mas quando eu vi que o dinheiro não estava lá, pensei que
você tinha pegado.
Janie se engasgou.
— Não peguei! — gritou estridente — Não peguei!
Ah , não — gemeu Eve, sacudindo a cabeça. — Isso significa... que o dinheiro foi roubado!

Capítulo 2

Janie sentiu a garganta apertar mais uma vez. Ela tentava engolir em vão, para se livrar
daquela Sensação de mal-estar.
— Eve — gritava — NÓS somos as responsáveis. São cerca de mil dólares. Se ... — A sala
começou a girar. Não podia pensar claramente. Eve puxou-a pela manga.
— Vamos procurar Faith .Rápido.
As duas garotas correram pelos corredores vazios.Os gritos das líderes de torcida
ressoavam lá no ginásio. Muitos professores amontoavam-se diante do chafariz e riam.
Janie não tinha a menor vontade de rir. Queria chorar. Se o dinheiro foi realmente roubado ,
como iriam paga-lo? E seriam elas as acusadas do roubo?
Não. Sem chance. Isso não poderia acontecer, dizia a si mesma. Encontraram Faith diante
do armário. Ela escovava os loiros cabelos.
— Faith!O dinheiro! — Janie gritou numa voz estridente e apavorada — Você o
encontrou? Está com ele? Claro — respondeu naturalmente. Puxou uma sacolla de lona
verde de dentro do armário. — Está aqui.
Faith virou-se para Eve e sua expressão mudou.
— Ah Eve... Você prometeu que não ia pregar esta peça em Janie! — exclamou.
Eve explodiu numa gargalhada, os olhos verde-oliva brilhavam.
Isto é golpe baixo! — gritou — Nós decidimos ão fazer isto!
— Não pude resistir! — declarou
Eve enquanto ria. Ela agarrou os ombros estreitos de Janie e os sacudiu. — Sinto muito.
Realmente sinto muito. Mas... a sua expressão. Foi ainda pior por causa da sua expressão!
— começou a gargalhar novamente, abraçando Janie e ao mesmo tempo rindo muito.
Faith balançava a cabeça com ar de reprovação, mas acabou rindo também..
— Que amigas — resmungou Janie. Mal-humorada, livrou-se de Eve — Vocês duas são
horríveis. Não posso acreditar que tenham ido tão longe.
— Era só uma brincadeira — disse Eve enxugando as lágrimas dos olhos de tanto rir.
— Não tem graça — replicou Janie aborrecida.
— Você não devia — dizia Faith a Eve, guardando a escova de cabelos dentro de um
pequeno compartimento de sua mochila.
— Você sabe o quanto Janie é preocupada.
— Sinto muito, Janie — disse Eve novamente, esforçando-se para ficar séria — De
verdade.
— Vamos contar logo dinheiro — disse Janie impaciente , pegando a sacola de lona. —
Quanto mais rápido
a gente entregar este dinheiro ao sr. Hernandez , melhor.
Ela se dirigiu de volta á sala do supervisor, Faith e Eve a seguiam bem de perto. Janie mal
dobrava o corredor quando viu o novato mais uma vez. Primeiro viu seus olhos escuros ,
atormentados. Depois viu a expressão contorcida do seu rosto.
Ela ficou sem ação quando pôs os olhos na poça de sangue brilhante e vermelho no chão
sob seus pés.
— Por favor... me ajude — disse ele a Janie.
Depois ela viu o sangue escorrer do seu braço.

Capítulo 3

Com um grito alarmado Janie correu em sua direção. As duas amigas a seguiram.
O garoto respirava com dificuldade. A sua fisionomia era de dor. O sangue embebia a
manga branca de sua camiseta.
— O que aconteceu? — gritou Eve.
Não é tão grave quanto parece — disse o garoto, segurando a manga da camisa. —
Verdade!
— Mas este sangue... — Faith começou a dizer.
Janie deu um passo atrás, segurando o saco do dinheiro com as duas mãos bem junto á sua
cintura, como se quisesse protege-lo.
— Vocês poderiam me ajudara encontrar a enfermaria — disse ele. — Sou novo aqui. Não
sei onde é.
— Vou leva-lo até lá — declarou Faith, segurando-o pelo braço machucado.
— Também vou — disse Eve rapidamente — A enfermeira sempre fica até mais tarde. O
que aconteceu?
— Um acidente estúpido — disse ele, balançando a cabeça, os cabelos castanhos caindo
sobre a testa. Ele olhou para Janie. — Eu estava tentando ajudar uma garota. Lá fora. A sua
bicicleta se emaranhou numa cerca de arame farpado que fica atrás do estacionamento.
Ele fez uma careta de dor. Janie olhou a poça de sangue no chão.

— Quando retirei a bicicleta da cerca — continuou — o arame veio direto em minha


minha direção. Foi só um corte.
— Vamos ver se a enfermeira ainda está na sala — disse faith, segurando o braço do
garoto. — Qual é o seu nome?
— Ross Gabriel — disse ele.
Faith e Eve foram conduzindo Ross.
— Eu levo o dinheiro para a sala — disse Janie atrás deles. As duas amigas conversavam
com Ross e nem responderam.
— Me encontrem lá, está bem? — gritou Janie. Eles desapareceram na curva pelo
corredor. Desviando-se da manchha
de sangue , Janie dirigiu-se á sala no maior mau humor, com a sacola de lona debbaixo do
braço.

Não é justo. — murmurava para si mesma. — Eu o vi primeiro.


Janie depositou o dinheiro na mesa redonda da ante-sala e separava as notas quando Eve e
Faith voltaram.
— Encontraram a enfermeira? — perguntou , levantando os olhos das pilhas de dinheiro.
Faith assentiu com um sorriso nos lábios.
— É. Nos salvamos a vida de Ross. Agora ele nos deve uma.
— Acho que me apaixonei! — rosnou Eve.
— Ele é realmente lindo — concordou rapidamente Faith, pegando uma cadeira á mesa. —
Você acha que ele pode sorrir ?
— Quem liga para isso? — replicou Eve , pegando um maço de notas e contando-as
rapidamente com os dedos. — Ele é sensacional. De onde ele vem?
Faith deu de ombros.
— Gostei dos olhos dele. É como se olhassem atravéz da gente. Ele me olhava como se...
— Vocês sabem, eu o vi primeiro! — Janie deixou escapar , surpresa com o tom de raiva
de sua voz.
Faith arregalou os olhos espantada.
— Janie, você gostou dele? Você não lhe disse uma palavra!
— Porque não foi á enfermaria conosco? — perguntou Eve sentando-se também á mesa.
— Não sei — gaguejou Janie. Ela percebia que seu rosto começava a esquentar.
— Você está ficando vermelha... — provocou Eve, apontando para Janie.
— Você tem que deixar de ser tão tímida com os garotos — ensinou Faith enquanto
brincava displicente com uma pilha de notas de cinco dólares. — Os garotos não podem
adivinhar quando você gostou deles.
— Ouça a experiente — brincou Eve revirando os olhos.
Faith arremessou os cabelos louros para trás dos ombros.
— Eu chegaria para Ross e diria “Vamos tomar uma Coca depois da aula”. Ou o
convidaria para um cinema no sábado á noite.
Eve deixou o dinheiro que estava contando.
— O que? Você convidaria Ross ? Você não está se esquecendo de Paul?
Um sorriso diabólico foi resposta de Faith.
— Paul é mesmo um idiota. Eu realmente não sei o que você vê nele — disse Eve ,
evitando o olhar de Faith.
— Você se refere ao fato de que ele é alto, bonito, inteligente e dirige o carro mais legal de
Shadyside e além de ter sido o orador da turma no ano passado? — perguntou Faith na
defensiva.
Janie poderia entrar nessa lista de admiradores. Tinha de confessar que sentia uma queda
secreta por Paul.
— Admita , Faith. Paul é o maior admirador de si mesmo — continuou Eve, evitando
novamente os olhos de Faith. — Ele é tão convencido. Francamente, fico enlouquecida de
ver você correr atrás dele como um cachorrinho carente.
Faith deu um grito de ódio. Depois respirou fundo.

— Não vou deixar você me aborrecer, Eve — disse tranqüilamente. — Você é digna de
pena.
— Eu ? Digna de pena ? — gritou Eve.
— Você está com inveja de mim e de Paul — acusou Faith.
— Você é o cachorrinho carente. Vi você se jogar em cima de Ian na noite de Sábado.
Você se apertava tanto nele que pensei que íamos precisar de uma alavanca para separar
vocês dois!
Eve engoliu em seco.
Janie riu.
— O bom é que somos grandes amigas — disse. — Do contrário, poderiam pensar que nos
odiamos!
— Ian não é um idiota como Paul — prosseguiu Eve sem fôlego, ignorando atentativa de
Janie de desanuviar o ambiente. — Eu tenho muito respeito por Ian. Você sabe que ele tem
dois empregos depois da aula para economizar dinheiro para a faculdade? Tudo o que Paul
tem que fazer é agarrar uma bola e haverá um monte de recrutadores na porta de sua casa
para oferecer-lhe bolsas de estudo. Não é justo.
— Os pais de Ian não podem ajuda-lo? — perguntou Janie.
— Poderiam se quisessem, mas o pai de Ian é um idiota — retrucou Eve com amargura. —
Ele acha que se Ian trabalhar por conta própria para custear a faculdade vai formar um bom
caráter.
Ela suspirou.
— Talvez vá mesmo se sobreviver! Mas eu nunca poderei vê-lo a não ser nos intervalos
das aulas ou na lanchonete.
Janie olhou nervosa para o relógio.
— Temos que parar a conversa fiada e trabalhar. Prometi ao senhor Hernandez que o
dinheiro estaria contado e separado e embalado pronto para ele quando chegasse aqui.
Eve apontou com o polegar a sala interna.
— Hernandez não está?
— Ainda não.
— Então relache — disse Eve. Ela descansou as mãos sobre a mesa. — Não sabia que
havia tanto dinheiro. Você acha que tem quanto aqui?
— Bem, se contarmos também com as doações... — Janie fez um cáculo rápido de cabeça.
— Dve Ter a princípio uns dois mil e duzentos dólares talvez mais.
Mil e duzentos! — Os olhos de Eve se arregalaram.
Janie olhou para a amiga. Sabia que o pai e a mãe de Eve estavam desempregados. Mesmo
quando trabalhavam, os Mullers não ganhavam muito dinheiro. O rasgão no joelho do jeas
desbotado de Eve não era um modismo.
Faith apertou os olhos numa expressão séria.
— Ei, garotas. Vamos dividir o dinheiro e fugir com ele — murmurou.
Janie olhou desconfiada para Faith. As bochechas rosadas de Faith ficaram bem vermelhas.
Será que falava sério?
Não. Janie sabia que os pais de Eve eram abastados. Faith tinha tudo o que queria. Exceto
Ross, pensou Janie.
Janie começou a empilhar as notas de cinco. A porta da sala se abriu. Ela levantou os olhos
para ver o sr. Hernandez mas. Mas não era o supervisor.
Ian e Paul entraram juntos. Eles olharam imediatamente para a mesa e par o monte de
dinheiro.
— Dinheiro! — gritou Ian, esfergando as mãos e mandando beijinhos com os lábios.
Uau! Estamos ricos! — gritou Paul. Ele largou no chão o seu equipamento de basquete e ,
agarrou um maço de notas e começou a enfia-las no bolso de sua camisa. — Meu carro
precisa de uma nova transmissão. Isso deve dar!
— Nada disso! É tudo meu — gritou Ian. Ele começou a guardar as notas dentro de sua
camiseta. — É minha bolsa de estudos. Obrigado ,meninas!
— Devolva isso! — gritou Eve. Ela se jogou sobre Ian, vasculhando a camiseta e começou
a retirar as notas.
Rindo bem alto, Ian se contorcia para livrar-se de Eve.
— Ei, pare. Pare com isso. você está me fazendo cócegas.
Faith e Janie cercaram Paul em volta da mesa.
— Devolva, Paul ! Devolva!
Elas o empurravam contra parede ,quando ele percebeu a pilha de notas que Janie já avia
amarrado sobre a mesa.
Janie avançou para Paul. Mas paul era muito rápido. Ele agarrou o dinheiro da mesa.
— Ian! Agarra que é uma granada! — gritou alegremente.
Ian livrou-se de Eve, ainda ás gargalhadas , e correu at´r a porta da saleta do sr. Hernandez.
Paul arremessou a pilha de dinheirocomo uma bola de futebol por cima dos braços
estendidos de Eve.
Tão logo ele jogou o dinheiro, a porta da sala se abriu. Ian tentou pegar o dinheiro, mas ele
voou alto de mais. O sr. Hernandez enfiou a cabeça pela porta... e o maço de notas foi bater
justamente em sua testa.
Thock
Janie levou um susto. Os outros gelaram.
Sr. Hernandez ficou vermelho-brilhante enquanto passava a m~~ao na cabeça.
Depois seus olhos apertados encararam cada um.
— Vocês estão todos suspensos até o final do ano — disse.

Capítulo 4

Janie sentiu um nó na garganta.


Podia sentir o sangue latejar em suas têmporas. Pensou imediatamente nos seus pais. Como
ficariam desapontados com ela.
Os olhos dela fixavam Ian. Coitado do Ian. Tinha trabalhado tanto. Trabalhara em dois
empregos, para juntar o dinheiro para ir para Yale no próximo ano.
Agora seus planos foram arruinados. Não era justo! As palavras vinham-lhe na cabeça mas
ela nada dizia.
Depois reparou que o sr. Hernandez estava rindo.
Assustei vocês — disse ele rindo, e sua enorme barriga balançando para cima e para baixo.
Janie e os amigos não reagiram.
— Está bem. As pessoas dizem que eu tenho um mórbido senso de humor — disse o sr.
Hernandez, ainda sorrindo. — Sinto muito. Os supervisores também têm que se divertir,
não é?
— Ah! Grande brincadeira! — Paul foi o primeiro a quebrar o silêncio.
Os outros deram um sorriso forçado.
Hoge é o dia das brincadeiras de mau gosto, pensou Janie estressada. Ross apareceu em sua
mente por alguma razão. Ela pensava se ele estaria bem. E se ainda estaria na escola.
— Não há chance de suspender vocês — disse o supervisor olhando para Janie. — Vocês
são as três garotas que organizaram o melhor baile de toda a história de Shadyside.
— Que ótimo! — exclamou Eve.
— Uau. Que sucesso! — declarou Faith. Ela espalmou sua mão na de Janie para
comemorar.
A expressão do sr. Hrenandez se fechou quando ele olhou para Paul e Ian.
— E vocês, o que fazem aqui?
— É... Eu estava justamente no caminho do meu treino de basquete — disse Paul ajeitando
os cabelos loiros, espessos e cacheados ele corou.
E porque você ainda não está lá? — insistiu o sr. Hernandez.
— A senhora Fritz me pediu para isto para uma das garotas — disse Paul. Ele procurou
algo no bolso e apareceram um monte de notas de um dólar.
Ele vasculhou os bolsos da camisa e mais notas caíram no chão.
— Bem... onde está? — Finalmente ele encontrou uma pequena chave prateada e entregou-
a a Eve.
Janie a reconheceu. Era a chave do armário onde o comitê de festas guardava a sua receita e
outras coisas.
O sr. Hernandez olhou para Ian com firmeza.
— E qual é a sua história?
— Eu achei que podia ajuda-las. Ele puxou a camiseta para fora da calça e um monte de
notas caíram no chão.
— Talvez você possa ser mais útil se sair da sala — disse o sr. Hernandez num tom
cortante.
— Tchau — disse Ian, dando um rápido aceno para todos. Ele olhou para Eve . — Eu
espero você.
Ian desapareceu pela porta. Paul o seguiu rapidamente.
— Desculpe pelas loucuras sr. Hernandez — disse Eve envergonhada — Ian ia me dar
uma carona até o shopping da Division Street depois que eu terminasse de contar o
dinheiro. Mas aí Paul apareceu...
— Foi culpa minha sr. Hernandez — interrompeu Faith. — Eu esqueci a chave quando
peguei a receita da festa com a senhora Fritz...
o sr. Hrenandez abaixou os olhos para o dinheiro espalhado pelo chão.
— Eu acho que vocÊs ainda não terminaram o trabalho.
As três concordaram com a cabeça.
— Então corram para que agente possa ir embora. — O supervisor suspirou.
Ele já estava começando a desaparecer pela sua saleta adentro quando esticou a cabeça para
fora .
— Qualquer coisa que ficar sobrando aí no chão eu posso pegar, meninas!
Dez minutos mais tarde Janie e as amigas acabavam de contar o dinheiro, que ficou
separado em cima da mesa em pilhas arrumadas e simétricas. As moedas , agora em
rolinhos, estavam empilhadas ao lado das notas.
— É o total de mil duzentos e quarenta e um dólares e sessenta e cinco centavos —
anunciou Janie.
Ela anotou rapidamente a soma num pedaço de papel. — Não posso acreditar que
conseguimos tudo isso! Foi por causa da banda ao vivo, claro. É muito melhor do que um
Dj e discos.
— Esse dinheiro poderia pagar um monte de contas na minha casa — disse Eve com um
suspiro.
— Ou poderia pagar uma farra na loja Dalby! — exclamou Faith , com os olhos azuis
brilhando.
— Tire suas patas daí — disse Janie , afastando as mãos de Faith. Ela guardou o dinheiro
de volta na sacola de lona, depois colocou junto o papel com o total.
Eve abriu a gaveta do armário e guardou a sacola ali.
Janie bateu levemente na porta do sr. Hernandez.
— Entre.
As três garotas entraram na sala. O sr. Hernandez estava na sua escrivaninha, ao telefone,
visivelmente aborrecido. Revirando os olhos num gesto de súplica, ele indicou as cadeiras
para que as garotas se sentassem.
— Sr. Jefferson... Sr. Jefferson... se o senhor puder me ouvir... — dizia ao telefone.
Eve se aproximou de Janie e cochichou:
— Acho que Ian ainda está me esperando. Vou dizer para ele ir embora. Não quero que se
atrase no trabalho.
Janie assentiu. Eve se levantou e deixou a sala silenciosamente. Ela voltou minutos mais
tarde. O supervisor ainda estava ao telefone, implorando ao sr. Jefferson um chance para
falar.
Faith olhou para o relógio. Aproximou-se de Janie.
— Vou ligar para casa e dizer que vou me atrasar.
Janie assentiu e Faith saiu da sala.
Os olhos de Janie percorreram a sala em busca de alguma coisa interessante que a distraísse
e fizesse o tempo passar mais rápido. Ela viu uma foto de três jovens em uniforme de
futebol todos cobertos de lama, abraçados. A alegria nos seus rostos indicava que eles
tinham acabado de ganhar uma bela partida.
Num estalo Janie percebeu que o do meio era o sr. Hernandez
Ele tinha uma bela aparéncia quando ainda tinha cabelos, pensou.
Faith voltou em silêncio e sentou-se ao lado de Janie.
Dando uma rápida olhada para seu relógio, Janie notou com surpresa que Faith tinha saído
por mais de cinco minutos.
Com um suspiro cansado, o sr. Hernandez finalmente desligou o telefone. Ele coçou a
careca enquanto se voltava para Janie e suas amigas.
— Então , quanto é o total?
— Mil duzentos e... — tentando se lembrar , Janie voltou-se para Eve e Faith. — Quanto
era mesmo?
As duas deram de ombros.
— Foi você quem anotou — disse Faith.
— Desculpe, sr. Hernandez — disse Janie pulando da cadeira.
— Eu anotei num pedaço de papel e o coloquei na sacola. Já volto.
Janie saiu rapidamente da saleta, fechando devagar a porta.
Surpreendeu-se ao ver Paul na ante-sala. Ele lhe deu um sorriso embaraçado e apontou para
o tênis de basquete.
— Esqueci. Não posso treinar sem eles.
Ele guardou o tênis na sua sacola de ginástica e a colocou nos ombros.
— Diga a Faith que eu telefono para ela depois — disse, dirigindo-se á porta.
Janie abriu a gaveta do armário. Ela já ia pegar a sacola quando viu que a gaveta estava
vazia.
Totalmente vazia.
Ela gelou. Os joelhos tremiam.
Sr. Hernandez! — Disse ela , mas o tom n~~ao era muito mais alto que o susurro. Ela
suspirou fundo e tentou de novo. — Sr. Hernadez! — gritou voz esganiçada e cheia de
pavor. — Por favor venha rápido. Sumiu! O dinheiro sumiu!!
Desta vez o dinheiro realmente havia desaparecido.

Capítulo 5:

Trancada no quarto depois do janntar, Janie olhava para o texto de estudos sociais até que
ele começou a embaçar.
Não consigo estudar, pensou ela arrasada. Não posso mme concentrar em nada.
Minha cabeça está ligada no caso de hoge á tarde.
Não posso parar de pensar no dinheiro roubado.
Com um suspiro frustrado ela fechou o livro e se levantou de um sato. Pegou a jaqueta que
havia largado no chão e correu escada abaixo.
— Vou sair! — gritou para os seus pais.
Ela saiu de casa antes que eles pudessem perguntar aonde ia e por que iria sair á noite num
dia de semana.
Ela foi de carro até a casa de Faith em North Hills. Faith recebeu-a vestida com Jeas e
camiseta bastante largos, os cabelos despenteados. Pareceu surpresa.
— Janie, oque aconteceu?
— Preciso falar com alguém — respondeu Janie, seguindo Faith pelo chão encerado da
ampla sala decorada com objetos antigos até uma aleta escura coberta de quadros.
Paul estava de é diante da lareira, atiçando o fogo com um bastão de metal. Ele se
surpreendeu quando Janie entrou. As labaredas deixavam as suas bochechas redondas eos
cabelos louros em chamas.
Oi. Não sabia que você estava aqui — disse Janie, sem graça.
Paul também parecia constrangido, o que não era habitual.
— Eu e Faith estávamos justamente falando da escola — disse ele, olhando para Faith.
Eles se entreolharam no enorme sofá de couro que ficava diante da lareira. As chamas
brilhantes tremiam e crepitavam .A sala tinha um cheiro agradável.
Não consigo parar de pensar nesta tarde, no dinheiro roubado — disse Janie cruzando as
mãos no colo.
— A princípio o sr. Hernandez não suspeita da gente — replicou Faith, dando um olhar
nervoso para Paul. — Isto é um alívio, não é?
— Mas quem mais poderia saber que o dinheiro estava na gaveta do armário? —
perguntou Janie — Fico me fazendo esta pergunta sem parar.
— Talvez o sr. Hernadez suspeite de Ian e de mim — disse ele com uma uma risadinha
nervosa.. — Quer dizer, Ian estava do lado de fora o tempo todo, esperando por Eve. E eu
estava na sala. Você sabe. Pegando meu tênis de basquete.

— Não sei o que o sr. Hrenandez pensa — disse Janie mordendo os lábios. — Eu nem sei
oque pensar sobre coisa alguma. Estou tão chateada!
Janie desejou de repente não estar ali na casa de Faith. Paul e Faith estavam tão estranhos...
Davam olhares nervosos um para o outro. Pareciam tão perturbados.
— Estou me sentindo culpada — admitiu Janie olhando o fogo. — É estúpido , eu sei, mas
me sinto culpada. Sabe oque isso me lembra, Faith ?
Faith franziu o cenho, o fogo enchendo de sombras o seu rosto.

— O que?
— Me lembra aquela vez em que eu, você e Eve fomos parar naquela casa velha e
abandonada da Rua do medo. Lembra?

— Sim. Ela parecia mal assombrada- respondeu Faith, alisando com a mão, o couro do
braço do sofá.
— Lembra? A polícia chegou e nos pegou antes que chegássemos ao meio daquela
escadaria que estalava — continuou Janie.
— Nós ficamos tão assustadas e com tanto medo. Eu me lembro de que até gostei de ser
apanhada. Quer dizer ,se havia fantasmas ali, eu não queria encontrá-los.
Paul e Faith sorriram sem entusiasmo.

— Você nos desafiou a entrar — relembrou Janie. — Eu e Eve não queríamos ir. Você nos
desafiou, Faith. E nós ficamos sem graça de não aceitar o desafio.
— Nós nos metemos em uma confusão- disse Faith, jogando os cabelos para trás dos
ombros.
— Fiquei um mês sem sair de casa- disse Janie.- A polícia fez com que nos sentíssemos
criminosas- suspirou.- É como me sinto hoje. O mesmo sentimento de culpa, mesmo que eu
saiba que nenhuma de nós roubou o dinheiro.
Houve um desagradável silêncio. Todos os três olharam para o fogo. Um estalo alto de uma
lenha os fez pular. Paul riu.
— Vamos mudar de assunto — disse Faith, levantando-se para colocar mais lenha na
fogueira. — Paul disse que sabe quem é Ross. O novato que ajudamos à tarde.
— VocÊ o conhece?- perguntou Janie um tanto ansiosa.
— Bem, não o conheço realmente e enmj sei o seu nome- respondeu Paul.- Ele está nna
minha classe de cálculo. Mas eu me lembro dele do ano passado quando jogamos em New
Brighton. O primeiro jogo de futebol do ano.
— Ele é de New Brighton?- perguntou Janie.- Queria saber porque se transferiu para cá no
meio do ano.
Paul deu de ombros.
— Ele jogava no ataque. Nos matou. Era um dia chuvoso, lembram? O campo estava
estava mole e enlameado, como um chiqueiro.
— Que colorido! — disse Faith, sarcástica.
— Esse cara, o Ross, correu o campo inteiro na lama sem escorregar para marcar um gol-
continuou Paul, sem ligar para Faith. Nosso time caía no chão e Ross continuava. Era o
único que conseguia fazer gol.- Fez uma cara de desgosto, os olhos azuis brilhando á luz da
lareira. — Grande herói — murmurou.
— Eu acho ele bonito — disse Faith atiçando o fogo.
— Eu o acho ridículo — disse Paul de modo ríspido.
— Só porque ele arrasou os Tigers? — perguntou Janie.
— Não. Por causa do jeito dele — disse Paul. — Logo depois do gol, ele correu diante do
nosso campo, sacudindo os braços e dando adeusinho. E ele tem uma postura imponente
também na aula de matemática. Como se soubesse de tudo. Como se fosse mais inteligente
que todos nós. Ele é muito metido.
— Talvez ele seja apenas tímido — observou Janie.
— Talvez seja um idiota — insistiu Paul.
— Eu ainda o acho bonito — disse Faith rindo.
Paul fez uma careta para Faith.
— Você tem péssimo gosto.
Todos riram.
Paul foi embora pouco depois das dez.
Janie sabia que também deveria voltar para casa mas algo a fez ficar.
Queria conversar com Faith sobre o dinheiro roubado e saber qual a sua opinião sobre o
caso. Queria saber porque ela e Paul agiram de modo tão estranho, tão tenso. Mas não sabia
se poderia perguntar uma coisa dessas.
Com um bocejo, Faith jogou mais lenha na lareira.
— O fogo sempre me dá sono — disse ela, jogando-se de volta no sofá. — Então você vai
chamar Ross para sair ou sou eu que vou? — perguntou, com os olhos brincalhões.
— O quê? Chamá-lo para sair? — A pergunta pegou Janie de surpresa. — Bem, como
você pode convidá-lo para sair, Faith?
Você e Paul...
— Paul não precisa saber...- disse Faith rindo.
— Bem talvez...- Janie sentiu o rosto enrubescer.
— Eu sei que você está interessada nele...- provocou Faith. — Ei, que tal uma aposta?
Qual de nós pode sair com Ross primeiro?
— Uma aposta? Você diz por dinheiro?
Faith deu uma risada.
— Está bem. Por dinheiro. Dez dólares. Uma pequena disputa. A primeira que sair com
Ross ganha o dinheiro.
Antes que Janie pudesse responder, o telefone sem-fio ao lado do sofá tocou. Faith o pegou.
— Oi, Eve. Você quer entrar na nossa aposta?
Janie ouviu Faith explicar a aposta para Eve.
Ian está sempre trabalhando. Ele não vai saber.- assegurou Faith. — Sim, sim, Janie
também.
Elas converssaram mais um pouco. Faith virou-se para Janie.
— Eve também está na aposta. Até amanhã, Eve. — Ela desligou o telefone. — Um
encontro com Ross e vinte dólares. O que você acha?
Janie suspirou. Sabia que era tímida demais para chamar Ross para sair. Faith não teria
nenhum problema de chegar até ele e convidá-lo para um cinema ou coisa parecida.
Tampouco Eve.
— Vou perder — disse Janie baixinho. — Mas tudo bem, Faith. Estou na aposta.
Minutos depois Janie pegou a sua jaqueta e Faith a levou até a porta.
- — Até amanhã — disse Janie. E entãoo, as palavras lhe saíram pela boca. — Por que você
Paul estavam tão estranhos esta noite?
— O que? — Faith reagiu surpresa.
— VocÊs agiram como se estivessem nervosos — disse Janie.
Algum problema?
Faith hesitou.
— Quase... Uma espécie de problema — disse relutante, com os olhos fixos em Janie.
Eu...Janie se sentiu embaraçada. — Que espécie de problema ? — perguntou abaixando os
olhos.
Faith hesitou novamente.
— Bem, Janie, e que... Eu e Paul sabemos que foi você quem roubou o dinheiro do baile.

Capítulo 6 :

— O quê?- gritou Janie boquiaberta.


Os olhos de Faith faiscavam acusadoramente, fixos nos de Janie.
Você acha que eu...- gaguejava Janie incrédula.
Faith explodiu numa gargalhada.
— Primeiro de abril. — murmurou. — Eu tentei, mas não consegui fazer uma cara séria.
Janie deu um rugido de raiva.
— Faith, ainda não é abril e isso não tem graça nenhuma! — gritou. — Você não pode
levar nada á sério?
O sorriso de Faith desapareceu.
— Eu vou levar á sério a nossa aposta sobre Ross — disse ela.

Quando a aula de química começou na tarde seguinte, Janie abriu seu livro de pesquisas de
laboratório e começou a organizar os seus tubos de ensaio. Mas sua cabeça não estava ali
na sala. Estava em Ross Gabriel.
Ela havia pensado nele o dia inteiro, e perguntava-se sem parar por que foi tão louca de Ter
aceitado a aposta.
Não há a menor chance de competir com qualquer uma das duas, pensava Janie deprimida.
— Janie- a voz do sr. Mancuso a retirou de seu delírio. Levantou os olhos e pensou que
estava alucinando.
Ao lado do sr. Mancuso estava Ross Gabriel, os cabelos castanhos sobre a testa, os olhos
escuros fixos nos dela.
— Você pode trabalhar com Ross Gabriel até que Pam esteja melhor? — perguntou o
professor de química. A parceira habitual de Janie das aulas de laboratório estava gripada.
O sr. Mancuso foi até a frente da sala para explicar a experiência.

— Oi — disse Ross, jogando-se muito á vontade no banco alto ao lado dela. — Você é
Janie , certo?
O coração de Janie batia tão rápido que ela imaginou que Ross poderia até ouvir.
— Oi — tentou dizer sem guaguejar. — Como está o seu braço?

— Sem problemas. Vamos arrebentar nesta experiência — disse ele, colocando-se na


frente dela para rearrumar os tubos de ensaio. — Já a fiz antes. Na minha antiga escola. Na
sétima série, eu acho. É muito fácil.

— É, eu sei — Janie concordou rapidamente. Na verdade, ela achava muito difíceis as


aulas de laboratório, mas não havia a menor hipótese de admitir isso. — Afaste-se disso. É
amônia- ela o advertiu, apontando para um tubo de ensaio. — Eu cheirei um vidro de
amônia por engano uma vez. Meu nariz ardeu por uma semana!
Ela esperava que ele risse, mas Ross continuou sério.
— É, você tem que tomar cuidado — disse, estudando os tubos de ensaio. — Já no meu
caso, eu bebo essa coisa no café da manhã.
Janie riu. Os olhos de escuros de Ross se iluminaram, mas ainda assim ele não sorriu.
— Acho que podemos começar — disse Janie, virando-se para os tubos de ensaio. — Este
aqui é magnésio ferroso?
— Talvez — respondeu Ross. Ele prestava atenção na frente da sala, onde o sr. Mancuso
abaixava-se obre uma mesa para ajudar a um grupo de alunos a começar.
Ross voltou-se para Janie e colocou a mão sobre a dela, para impedir que pegasse um tubo
de ensaio.
— Você quer ver uma coisa horrível? — murmurou ele, levando os lábios para perto do
ouvido dela tão perto que ela pode sentir no rosto a sua respiração morna.
Ela tremeu.
— Uma coisa horrível?
Ele levou um dedo á boca em sinal de que ele deveria ficar quieta. Olhou de novo para
frente para Ter certeza de que o sr. Mancuso ainda estava de costas. Depois colocou
rapidamente um líquido verde num líquido transparente.
— Observe — instruiu a Janie.
Os líquidos enfervesciam. Um vapor branco desprendia-se daquela mistura.
— O que é isto? — sussurrou Janie.
— É uma bomba fedorenta — replicou Ross , olhando para o tubo de ensaio. O líquido
verde foi para a parte de cima. O vapor úmido subia. — Cheire.
Janie aspirou relutante o vapor. Fez uma cara de nojo.
— Uh!
O cheiro de azedo começou a tomar conta da sala. Os alunos começaram a gemer e
reclamar. Um pequeno grupo virou a cabeça para Janie Ross.
— O que está fedendo tanto? — perguntou alguém
— Ricky é você? — perguntou a alguém a Ricky Schorr, o palhaço da turma que levava a
culpa de tudo.
— De jeito nenhum! — gritou Ricky.
Os alunos tossiam e pigarreavam.
Janie desceu do banco e deu um passo atrás, com os olhos lacrimejantes.
O sr. Mancuso finalmente percebeu que havia algo errado. Levantou a cabeça e aspirou o
ar.
— OH! — ele fez uma careta.
— Sr. Mancuso é aqui — avisou Ross. — Acho que eu e Janie fizemos algo errado.
— Eu? — gritou Janie. Eu não!
O sr. Mancuso correu para a mesa de Janie.
— Janie, acho que fui eu que fiz algo de errado — disse Ross. — Isto cheira a ovo podre!
— ele piscou para Janie.
Os olhos do sr. Mancuso se apertaram enquanto ele olhava para a mistura verde
borbulhante. Ele prendia a respiração, tentando não cheirar aquela coisa azeda,
desagradável.
— Vou cuidar disso — disse ele a Ross.
O professor pegou uma pinça, retirou o tubo da mesa e saiu da sala com ele.
Tão logo deixou a sala, a turma irrompeu em gargalhadas e gritos.
— Bom trabalho, Ross! — gritou Ricky Schorr.
— Vamos comemorar! — disse alguém.
— Abram as janelas, por favor! — berrou um outro.
Ross virou-se para Janie.
— Desculpe — disse ele. — Eu apenas não estava com humor para esta aula hoje.
Janie riu. O cheiro da sala voltava ao normal.
— Onde você aprendeu a fazer isso? — perguntou ela, sentando-se de volta ao seu lado.
— Minha mãe me deu um laboratório de química quando eu tinha oito anos — disse ele —
Isso foi a primeira coisa que fiz.
Janie fez uma expressão de aprovação.
— Você fez um bom trabalho, Ross. Vai tirar um “a”.
— Eu gosto de pertubar os outros — disse Ross. Ella esperou por um sorriso mas ele não
riu.
Que comentário esquisito, Janie pensou. “Gosto de pertubar os outros”.

Ela olhou para o relógio. Não queria que a aula terminasse.


Queria ficar ao lado dele e conversar por várias horas.
Lembrou-se subitamente da aposta. Será que eu posso fazer isto ? Convida-lo para sair?
Esta era a oportunidade perfeita.
A sineta tocou. Ela recolheu os livros e o seguiu até o corredor. Ele parou na porta da sala e
voltou-se para Janie, como se esperasse que ela lhe dissesse alguma coisa. Ela sorriu,
lutando para pensar em algo. Diga agora! pensava. Convide-o para sair no Sábado á noite.
— Talvez eu possa lhe ensinar coisas mais úteis amanhã — disse ele, retirando os cabelos
da testa.
Ele era tão bonito, pensou Janie. Tão bonito e sabia muito bem disso.
Convide-o, convide-o.
— Ross... — começou a falar, limpando a garganta. Ela apertou a mochila junto ao colo —
É... Sábado á noite...
Janie parou quando viu a expressão de Ross se transformar.
Os olhos dele arregalaram-se olhando sobre os ombroos de Janie. Ele ficou pálido.
— Ross? — gritou ela atordoada.
Ele pareceu não ouvi-la.
Abriu a boca em estado de choque e suas belas feições contorciam-se numa expressão de
horror.

Capítulo 7:

Sobressaltada, Jnie virou-se e acompanhou-o com o olhar. Por entre a multidão viu uma
garota loura , alta de cabelos longos e encaracolados. A gorota olhava fixamente para Ross.
Quem é ela?, imaginava Janie. Eu nunca a tinha visto antes.
— Ross, o que há de errado? — perguntou de Janie. — Você parece que viu um fantasma!
Mas, para surpresa de Janie, ele havia desaparecido.

Ela procurou Ross depois das aulas, mas não o encontrou.


Ficou pensando na garota loura pelo resto da tarde. A garota era alta e bonita, com aqueles
cachos espetaculares caindo-lhe pelas costas.
Por que Janie não a tinha não a tinha reparado antes?
Será que era nova na escola?
Janie vestiu a jaqueta e fechou seu armário.
Começou a andar vagarosamente para a saída principal quando viu Eve correndo em sua
direção.
— Adivinhe — gritou Eve, com os olhos negros brilhando e um belo sorriso no rosto. —
Adivinhe o que eu ganhei! Tenho um encontro com Ross na Sexta á noite!
Na noite de Sexta feira, Janie esticou-se na sua cama, olhando para o teto, ouvindo uma
canção dos Beatles numa rádio de velhos sucessos. O telefone tocou. Ela apalpou a
mesinha-de-cabeceira, desligou o rádio-relógio e arrancou o fone do gancho.
— Alô?
— Hoje é a grande noite de Eve — era Faith.
— Conte alguma coisa que eu não saiba — gemeu Janie. — Ela me pediu emprestado o
blazer azul.
— E ela está usando aquela calça verelha sexy que guarda para ocasiões, especiais. —
Faith ficou em silêncio por um instante. Janie podia quase vê-la balançar a cabeça
indignada. Ela realmente odiava perder apostas. — Eve simplesmente foi até a Ross e
convidou-o para sair — disse Faith finalmente. — Queria saber o que foi que ela disse.
— O que quer que seja, deu certo — suspirou Janie. — Eu confesso! Estou com tanta
inveja!
— Eu também — disse Faith.
— Pelo menos você tem Paul — disse Janie.
— Sabe de uma coisa? Vou contar para Ian — disse Faith com irritação. — Vou ligar para
ele e dizer onde está Eve. Vai ficar uma fera!
— Não, você não deve — disse Janie séria. — Melhor não. Você como Ian é ciumento.
Não o atormente. Ele está trabalhando todas as noites neste fim de semana.
Faith deu um gemido de contrariada.
— Esta aposta estúpida foi idéia sua — replicou Janie. —
Por que você quer criar problemas para a Eve?
— Problema é o meu nome — recriminou Faith, com risinho abafado. Depois acrescentou:
— Ei, Janie, eu estou só brincando. Não vou ligar para Ian.
— Nunca sei quando você está brincando — disse Janie.
— É por isso que você é a vítima perfeita — respondeu Faith.
— Muito obrigada — respondeu Janie friamente.
Faith suspirou.
— Eu já tenho os meus próprios problemas.
— O que? Que problemas? — Janie sentou-se na cama e mudou o fone de ouvido.
— Ah... as coisas não estão muito bem por aqui — disse Faith relutante. — Espere. Deixe-
me fechar a porta. — Ela se afastou por alguns segundos e depois voltou. — Eu não sei.
Acho que as coisas não estão bem com os meus pais — disse em voz baixa. — Eles
praticamente não ficam em cas ao mesmo tempo. Quando estão juntos em casa, trancam-se
no quarto e discutem longamente.

— Você acha... — Janie começou a dizer.


— Eu que els podem se separar. — Faith suspirou. — E depois a droga do Paul...
— O que há com o Paul?
— Você sabe o que este crápula queria falar comigo ontem no almoço?
— Quando ele virou crápula? — Janie retrucou, surpresa.
— Quando ele me pediu trezentos dólares para comprar uma transmissão para o seu carro.
Você acredita?
Janie pensou sobre o caso ppor um instante.
— É ,posso imaginar.
— Eu estava começando a creditar que ele realmente gostava de mim — disse Faith com
tristeza. — Mas ele sai comigo porque eu sou rica.
— Eve disse que ele era um aproveitador — comentou Janie.
— Pela primeira vez Eve estava certa — disse Faith amargurada.
— Bem, você quer ir ao cinema ou coisa assim? — perguntou Janie para mudar de
assunto.
— Não. Acho que vou ficar no meu quarto e pensar em coisas detestáveis a noite inteira.
Janie riu.
— Pelo menos você ainda mantém o seu senso de humor.
— Queria saber o que Eve e Ross estão fazendo sozinhos — disse ela ansiosa.
— Eu também — comentou Janie. — Não posso esperar para saber. Aposto que Eve tem o
maior caso para contar....

Capítulo 8:

Depois do cinema Ross estacionou o seu pequeno Civic azul para um canto arborizado da
Rua do medo e estacionou.
Ele se inclinou na cadeira, puxou Eve e a beijou. Os seus lábioos pareciam quentes e secos
junto aos dela.
Eve retribuiu avidamente o beijo. Ela lhe acariciou os cabelos com as mãos , depois o
rodeou pelo pescoço.
Eles pararam para tomar fôlego.
Ross começou a beija-la de novo, mas parou de repente. Ele se recostou de volta no assento
com um suspiro.

— Desculpe disse ele. —

— Por quê? — perguntou Eve. O seu coração estava em disparada. Ele é sensacional,
pensava.
O rosto de Ian apareceu na sua mente. Ela se esforçou para afastá-lo.
— Eu não costumo agarrar uma grota no primeiro encontro.
Deu de ombros. Os olhos fixos nos dela. Costumo esperar até o segundo encontro.
— Então eu acho que isto é um ponto para mim — disse Eve, puxando-o devolta para si.
Levou os lábios até os dele e o beijou longa e calorosamente. Começou a desenrolar o seu
cachecol azul. Retirou-o deixando-o no banco do carro.
— Estou fervendo aqui — disse Ross quando o beijo terminou. — Quer dar uma
caminhada? No bosque?
— O que? Este é o bosque da Rua do Medo — protestou Eve.
— E daí?
— Esqueci que você é novo aqui — disse, segurando-o pela mão. — Você não conhece as
histórias terríveis sobre este bosque.
— E nem quero saber. Minha casa fica nesta rua. Vamos. Uma pequena caminhada vai nos
refrescar. O que poderia acontecer? Você não está com medo está? — Era mais um desafio
do que uma pergunta.
Ross pulou do carro e deu a volta até a porta do carona. Eve ainda não tinha se mexido para
sair do carro. Ele abriu a porta e lhe estendeu a mão. Eve hesitou. Depois segurou-o pela
mão e saltou do carro.
Ross a conduziu pelo bosque.
O vento era forte, provocava rajadas e redemoinhos em volta dos dois. Eve sentiu um
arrepio. Ela tremeu, enrolou o cachecol azul no pescoço e levantou a gola do blazer azul de
Janie .
— Aonde estamos indo? — perguntou sentindo calafrios.
— Não muito longe — respondeu Ross baixinho. Ela sentiu o braço dele em volta de seus
ombros.
Quando Janie abriu os olhos na manhã de Sábado, o sol já brilhava na janela de seu quarto.
Ela esfregou os olhos para acordar e espreguiçou-se.
Podia sentir um ar frio vindo da janela. Final de inverno , pensou. Que horas serão afinal?
Ela olhou para o rádio relógio. Oito e quinze apenas.
Bocejou. Alguma a perturbava, fazendo-a Ter insônia durante á noite. O que seria?
Há, sim, ela lembrou. O encontro de Eve com Ross.
Uma insólita dúvida ecoou na sua cabeça ainda sonolenta: se Eve começar a namorar Ross,
será que ela poderia ficar com Ian?
Janie pensou em Ian. Era baixo e magro como ela. E tinha cbelos castanhos bem crespos
cortados bem curtinhos. E era sério, com frios olhos cinza por trás dos óculos sem armação.
Era um grande cara, pensou Janie, virando-se para o outro lado da cama. E muito
inteligente.
Mas Ian não é o meu tipo.
Ross é o meu tipo...
Ela enfiou o rosto no travesseiro e deve Ter dormido novamente , porque o telefone tocou,
provocando-lhe um sobressalto.
Janie procurava por ele, piscando para manter-se desperta.
— Alô?
— Alô, Janie? — era Ian. — Eve está aí? — Perguntou ele ofegante. — Ela está aí na sua
casa?
Janie sentiu uma pontada de medo.
— Não. Por quê?
— Ela está desaparecida!! — gritou Ian. — Não voltou para casa ontem à noite!

Capítulo 9 :

Janie quase deixou o fone cair . Parecia pesado demais para que conseguisse segurá-lo.
Fexou os olhos e sentiu uma dor aguda na base do crânio que, lentamente, tomou conta da
cabeça toda.
— Janie! — a voz estridente de Ian a trouxe de volta. — Você ainda está aí?
Ela levou o fone de novamente ao ouvido.
— Sim, respondeu ela com a voz tremida.
Eve não dormiu na sua casa? — perguntou Ian.
— Não. Você ligou para os pais dela?
— Claro. Eles estão enlouquecidos, Janie. Chamaram a polícia.
A garganta de Janie se contraiu. Sentiu uma onda de náusea subir até a boca.
A voz de Ian era séria agora:
— Janie, Eve saiu com alguém ontem á noite? Algum cara? Eu fui até a casa dela depois
do trabalho, mas o irmão menor disse que ela havia saído. Não sabia dizer para onde, nem
nada.
— Vou telefonar para a mãe de Eve — disse Janie, lutando para livrar-se daquele mal-
estar.
Eve deve estar bem, pensou. Tem que estar.
— O que está acontecendo, Janie? — perguntou Ian. — Eve saiu com alguém não foi?
— Eu não sei Ian. — Janiie odiava mentir. Mas também não queria quebrar a promessa
feita a Eve. — Isto não importa agora — disse disse ela a Ian. — O que importa é encontrar
Eve.

— Janie, posso ir até aí? Estou realmente preocupado.


— Não sei Ian. Eu ... — Ela realmente não queria vêlo naquele momento.
— Janie, por favor... — Ele parecia tão apavorado. Um garotinh assustado.
— Está bem, Ian — resignou-se. — Vou estar aqui.
— Você é uma amiga de verdade — disse Ian. Já vou para aí. — a ligação caiu.
Janie sentou na ponta da cama. Fechou os olhos para tentar livrar-se de toda aquela tonteira.
O que poderia Ter acontecido com Eve?
O quê?
Janie se esforçou para levantar. Tinha que tomar um banho e se vestir. Ian chegaria a
qualquer minuto. Caminhou até o banheiro e jogou água fria no rosto. Parecia que se movia
em câmera lenta, como se pesasse uma tonelada.
Escorregou para dentro de um jeas e vestiu uma camiseta com capuz. Colocou um tênis e
desceu as escadas para esperar por Ian.
— Mamãe? Papai?
Um bilhete na geladeira informava que eles tinham ido ás compras.
— Talvez Fith saiba de alguma coisa. — disse Janie em voz alta, sentindo o medo tapar-
lhe a garganta. Ligou para Faith. Estava ocupado.
Com um gemido de desespero ela discou para a casa de Eve. Os dedos tremiam
violentamente . teve que tentar três vezes até acertar o número do telefone.
Esteja em casa, Eve, pensava ela. Por favor esteja aí.
Talvez eu esteja me preocupando á toa , disse a si mesma, ouvindo o telefone chamar.
Talvez Eve esteja em casa. Talvez tenha tido uma noite maravilhosa com Ross. Ficaram a
noite inteira juntos.
Por favor , esteja em casa. Por favor...
Marky , o irmãozinho de Eve, finalmente atendeu ao telefone.
— Marky ? É Janie Simpson. Sua mãe está?
— Espere aí. Vou chamar , Janie. Ela ouviu soluços ao fundo. Não era um bom sinal.
Janie estremeceu, ouvindo os soluços abafados. Ouvia a voz de Marky. Passos .
Finalmente a senhora Muller veio ao telefone.
— Janie, Eve está com você? Já a encontraram? Você ouviu falar de alguma coisa? — As
perguntas enlouquecidas revelavam seu estado de pânico.
— Não, senhora Muller... — respondeu Janie, com voz trêmula. — Eu pensei que ela já
tinha chegado em casa.
— Não, ela não está aqui disse a mãe aos prantos. O pai, a polícia, todos estão procurando
por ela. Eles... eles... — ela soluçava alto.
— Senhora Muller... — Janie queria desligar. Não queria importuna ainda mais aquela
pobre mulher.
— Todos estão procurando por ela — disse tentando falar enquanto chorava. —
Procurando por ela e pelo rapaz com quem ela estava.
— O quê? — gritou Janie. — Ross? Ross está desaparecido também?
— Está — respondeu a mãe. — Eu temo que ele também tenha sumido.
Capítulo 10:

Ian chegou alguns segundos depois que Janie terminou de falar com a senhora Muller. Ele
estava de pé na porta com uma calça amarrotada e uma camiseta desbotada. Os olhos
avermelhados. Janie deu alô amargo e abriu a porta . mas Ian não entrou.
— Nós podemos dar uma volta de carro ? — disse ele com uma voz cansada, apontando
para o seu Ford Escort amarelo. — Não consigo ficar parado.
Janie assentiu.
— Está bem. Deixe-me escrever um bilhete para meus pais. Ela correu até a cozinha,
escreveu o bilhete e pregou na geladeira com um imã. Depois pegou a sua jaqueta e foi até
a porta da frente. Estava um frio incomum para o início de primavera. As árvores do Jardim
da frente tremiam ao sabor do vento.
Iam estava sentado no seu pequeno carro amarelo com o motor ligado. Ele deu a partida e
se afastou do meio-fio antes mesmo que Janie fechasse a porta.
— Janie o que está acontecendo? — disse ele nervoso.
— Eu queria saber, Ian.
— Você sabe de alguma coisa — acusou-a, dirigindo se ao Canyon Drive e avançando um
sinal fechado. — Eu sei que você sabe. Você ,Eve e Faith contam tudo uma para outra. —
Ele olhava para ela, como se quisesse ler seus pensamentos.
— Você veio até aqui para me aborrecer? — queixou-se Janie. — Se for isso, pode voltar e
me deixar de volta em casa. Estou morta de medo por causa de Eve , Ian. Morta de medo.
Não quero ser interrogada por você.
Sua explosão colérica o assustou. Ele ajeitou os óculos e remexeu-se desconfortável no
assento, voltando os olhos cinza para frente fixox no pára- brisa.
— Desculpe — disse el. — Estou morrendo de medo também.
Ele dirigiu em silêncio . Ian ia sem destino pela cidade.
Passou pela casa de Eve em Old Village. Nenhum carro na porta. Nenhum sinal de vida.
Passaram pela escola Shadyside, escura e vazia numa manhã de Sábado. Na Old Mill Road,
as árvores altas arqueavam-se sobre a rua.
Janie teve um forte impulso de contar sobre Ross, sobre Eve e sobre a aposta . Mas por que
deveria fezê-lo sentir-se ainda pior?

Olhando pela janela , viu que passavam pelo bosque da Rua do Medo naquele
Momento .
— Ei! — gritou Janie quando Ian de súbito freou o carro.
O corpo dela foi jogado para a frente. Ela esticou as mãos a tempo de evitar Qua sua cabeça
batesse no vidro do pára-brisa quando o carro parou daquele jeito.
— Cachorro estúpido! ! Gritou Ian. Ele se virou para Janie ,— Você o viu? Correu na
frente do carro. Quase o atropelei.
— Não, não estava olhando — disse Janie, atordoada.
O carro morreu. Ian não fez esforço algum para religá-lo.
— Você está bem? — perguntou ele.
Janie ia responder mas parou.

O que era aquilo no bosque?


Alguma coisa no chão diante das das árvores. Alguma coisa azul brilhante.
— Óh! — ela abriu a porta e saltou do carro.
— Janie! Ei! Onde você vai? — Ian chamava por ela.
Deixando a porta do carro aberta, ela começou a correr em direção á mancha azul no
bosque.
— Janie ! Espere! — Ian corria atrás dela.
— O que é aquilo? — gritava ela. — Veja, Ian, aquela coisa azul?
Primeiro era uma mancha. Mas quanto mais ela corria a imagem parecia ganhar foco.
Viu primeiro o blazer. O blazer azul brilhante. O SEU blazer azul-brilhante.
Depois o corpo de Eve.
Então , ela começou a gritar.

Capítulo 11:

O rosto de Eve estava virado de lado, a metade enterrada na lama.


O topo de seu crânio estava quebrado como uma casca de ovo. Um denso círculo de sangue
seco se espalhava-se pelos seus cabelos negros.
Formigas espalhavam-se pelo seu corpo. Janie observou horrorizada uma das formigas
arrastando-se pelo rosto de Eve. Ela andava sobre o olho e entrou em sua boca aberta.
Com um forte gemido, Janie virou-se e fechou os olhos. Mas aquela cena horripilante
persistia em sua mente.
— Eve? Eve? — o grito torturado de Ian atravessava o ar. Ele caiu de joelhos ao lado do
corpo. Colocou a mão pálida e inerte de Eve sobre a sua e começou a esfregá-la , como se
assim fosse traze-la de volta á vida.
— Eve ? Eve?
Janie sentou-se numa pilha de de folhas úmidas e colocou a cabeça entre as pernas.
Imaginou que poderia estar sonhando.
Respire. Apenas respire, dizia a si mesma.
Ela levantou a cabeça lentamente, lutando para respirar normalmente. As árvores giravam
violentamente ao seu redor.
O vento parecia rodeá-la , carregando o cheiro podre de defunto. Tentou prender a
respiração, mas começou a engasgar.
Janie resistiu ao impulso de olhar de novo. Já tinha visto o bastante para uma vida inteira de
pesadelos.
— Eve? Eve? — Janie ouvia o grito repetido de Ian, um canto cheio de espanto e
incredulidade. — Eve?
Nós temos que pedir ajuda. Temos que sair daqui, percebeu Janie. Levantou–se de um
salto.
Ian continuava com aquele ccanto de horror. Continuava a esfregar freneticamente a mão
inerte de Eve.
— Ian! — a voz de Janie ecoou no no bosque. Ela pegou Ian pela gola da camisa,
arrancando-o para longe do corpo. — Ian, vamos. — pediu sacudindo-o — vamos chamar a
polícia. Ian por favor!
Uma mosca zunbia junto ao ouvido de Janie. Aquele som era ensurdecedor, abafando
qualquer outro ruído. Era só uma mosca ou seria cem? Ela fechou os olhos mais ainda
podia vê-las. Ainda as ouvia zumbir.
Moscas .
Cobrindo como um manto negro o corpo de sua amiga .
O rádio do carro da polícia chiava alto. Os dois policiais tinham inspecionado o corpo de
Eve. Agora voltavam para o carro a fim de pedir novo reforço.
Janie ficou de pé na beira da rua observando-os.
Levou Ian para o carro e o deixou lá enquanto corria a até uma casa da Rua do Medo para
chamar a polícia. Eles chegaram em cinco minutos e ela lhes indicou o cadáver.
Onde está Ross? , perguntava-se, fechando os olhos. Encontramos a pobre Eve. Mas onde
está Ross?
Não há sinal dele pelas redondezas.

Estaria morto também? Seu corpo estaria no bosque?


Lembrou-se subitamente de Ian. E o viu sentado em seu Escort amarelo, caído para frente,
cabeça sobre o volante.
Jannie bateu na janela da viatura.

— Desculpe-me. Eu acho que meu amigo precisa de mim. Vocês se importam de se eu


sentasse no carro com ele?
O policial olhou para Ian, depois retornado para Janie, concordou sorrindo.
— Sem problemas. Vamos deixar vocês em casa assim que possível , está bem?
Janie correu até o carro e sentou-se no lado do carona.
— Ian? — disse baixinho. — Eles disseram que logo poderemos ir para casa.
Ian levantou levemente a cabeça. Cobria o rosto com as duas mãos.

Ele não quer que eu veja que está chorando pensou, notou Janie.
— Você deveria me deixar dirigir — disse Janie. — Não me importo.
— Foi o dinheiro — disse Ian com voz entrecortada. Ele secou as lágrimas com a manga
da camisa.-
— O quê? — Janie não sabia se tinha ouvido direito. — Que dinheiro?
Será que Ian sabia da aposta?
Ele saberia que as três apostaram déz dólares cada uma?

— Foi o dinheiro — murmurou Ian, evitando o olhar de Janie.


— Que dinheiro Ian?
— Eu sei por que Eve foi morta — disse ele com os olhos baixos. — Foi por causa do
dinheiro. Quem matou Eve o fez pelo dinheiro.
Janie olhou severamente para o rosto dele, ensopado lágrimas.
— Ian, do que você está falando?

Ele se voltou para Janie e explodiu num soluço.


— Oh, Janie. Foi Eve quem roubou o dinheiro do baile.

Capítulo 12 :

Janie colocou a mão sobre os ombros de Ian.


— Ian, eu acho que você não está dizendo coisa com coisa — disse gentilmente. — Eve é
a pessoa mais honesta que conheço. Jamais...

Janie percebeu que falava de Eve como se estivesse viva. As lágrimas brotaram de seus
olhos.
Ian voltou-se para Janie. Seus olhos queimavam os dela penetrando-os intensamente.
— Janie, com quem Eve saiu na noite passada? Não minta para mim! Eu preciiso saber.

Janie engoliu em seco. Não havia mais necessidade de manter a promessa feita a Eve. Por
outro lado, a polícia já sabia da existência de Ross. Também estava, procurando por ele.
— Foi Ross — disse a Ian. — Ross Gabriel. Não era um encontro de verdade, Ian. Foi
apenas uma aposta estúpida.
— O quê? — Os olhso de Ian apertaram-se confusos. — Uma aposta? Que tipo de aposta?
— Nós três, eu Eve e Faith, fizemos uma aposta — disse Jnie relutante, abixando os olhos.
— Uma aposta maluca. A primeira que saísse com Ross iria ganhar. Foi por esta única
razão que Eve saiu com ele. — Janie parou de falar.
O sangue desapareceu do rosto de Ian. O corpo dele começou a tremer. De ódio percebia
Janie.
Eu devia Ter esperado, Janie dizia a si mesma. Eu devia Ter esperado até que Ian ficasse
mais calmo.
Ian ligou a ignição com as mãos trêmulas.
— Saia do carro, Janie — disse ele com a voz seca, gelada.
— O quê? — Janie o encarou , estarrecida com a fúria de sua voz.
— A penas dê o fora do carro.
— Ian, o que você vai fazer? — perguntou Janie.
— Saia! — gritou.
— Sem chance — disse Janie. — Você não vai ficar sozinho, Ian. — ela pegou
rapidamente as chaves , desligou o motor e retirou-as da ignição. — Não posso deixar você
fazer nenhuma loucura. — disse ela. — Você não vê que está transtornado, descontrolado ?
— Ian agarrou-a para pegar as chaves, mas ela o empurrou.
— Mê dê as chaves, Janie — ordenava com uma voz fria.
Janie ouviu o som baixo de uma sirene não muito distante dali.
— Vamos embora para casa em segurança , está bem? — disse
Janie em voz baixa porém determinada.
— Me dê as chaves — repetia com os dentes cerrados.
A sirene chegou mais perto.
— Me dê as chaves!
— Não!
Ian agarrou Janie de repente pelas mangas da camiseta e puxou-a em sua direção. Janie
empurrou Ian com uma das mãos e com a outra abriu furiosamente a janela do carro.
Ela arremessou as chaves o mais longe que pôde. Caíram num emaranhado de terra e folhas
ao lado da calçada.

Com um grito de ódio, Ian abriu a porta e pulou para fora do carro.
Com o coração aos pulos, Janie fechou de volta as duas janelas e trancou as duas portas.
A sirene era agora tão alta que parecia estar dentro da cabeça de Janie.
Ela se virou para trás para ver as viaturas da polícia com suas sirenes estridentes
estacionarem atrás do carro de Ian, com as luzes vermelhas piscando.
Uma ambulância parou ao seu lado, bloqueando a passagem da rua.
As portas de trás da ambulância se abriram e enfermeiros vestidos de branco desceram
carregando uma maca.
Um policial orientou os enfermeiros .
Eles entraram no bosque da Rua do Medo.
Não havia razão para esta correria, pensava Janie com tristeza. Eve está morta e nenhum
enfermeiro a traria de volta.
Um terceiro carro estacionava , com sirene ligada e luzes piscando. Depois outro. Logo os
policiais uniformizados espalhavam-se pelo bosque.
Espalhavam-se como moscas, pensava Janie amargurada.
Como moscas sobre um cadáver.
Ian ainda procurava as chaves na terra enquanto os enfermeiros retiravam o corpo de Eve
do bosque .
A polícia não encontrou o menor sinal de Ross.
Será que ele foi assassinado também? , pensou Janie , sentindo um estremecimento.
Será que ele está caído neste bosque?

Capítulo 13:

A delegacia parecia uma produção de um programa de TV. Havia um sargento bronco e de


cabelos grisalhos por trás de uma escrivaninha.
Nas mesas de metal cinza , os telefones tocavam sem parar . teclados de computadores
exprimiam uma sinfonia particular. No fundo da sala, Janie viu dois jovens policiais
trocando folhas de papel. Ela olhou para Ian, que a seguia. Os seus cabelos escuros caíam
sobre a testa. Atrás dos óculos , os olhos ainda estavam avermelhados e tristes. Ele parecia
um fantasma de tão pálido sob a luz fluorescente do teto . ficaram na delegacia por volta de
uma hora.
— Desculpe-me fazê-los vir nesta tarde — disse — disse o delegado Frazier, conduzindo-
os até a sala da frente. O delegado Frazier era um jovem de voz suave e boas maneiras. —
Eu sei que vocês dois ainda estão apavorados com o que descobriram esta manhã.
Janie concordou , enxugando as lágrimas.
Ela tinha sido capaz de responder a tudo o que o delegado havia perguntado.
Por que iria soluçar e gritar agora?
— Eu não queria chama-los — disse o delegado baixinho, com as mãos nos ombros deles
— Mas vocês dois conheciam bem a vítima. Eu sei que o que vocês me contaram sobre Eve
vai nos ajudar a encontrar o assassino.
ASSASSINO

A palavra apunhalou Janie como uma faca amolada. Ela aspirou profundamente o ar ,
retendo-o no peito.
Não vou chorar, pensou. Não vou chorar aqui. Não vou chorar até chegar em casa.
— Os seu pais estão esperando lá fora? — perguntou o delegado.
Janie e Ian assentiram.
Subitamente a parede da sala se abriu e Ross apareceu. Dois policiais com um ar solene
vinham logo atrás dele.
Janie sentiu o coração dar um salto .
Ele está vivo , pensou. Ele está bem!
Levou alguns segundos para que Ross reconhecesse Janie e Ian . Parecia perdido em seus
pensamentos, a expressão tensa e atormentada.
— Oi, Janie. — disse ele baixinho quando finalmente reparou nela. — Ian...
— Ross, você está bem? — perguntou Janie.
— Eu não acredito que isto esteja acontecendo — sacudindo a cabeça violentamente, como
se tentasse afastar todo aquele tormento. — Como Eve pode estar morta?
Ian gemeu como se sentisse dor.
Os dois policiais tentaram fazer Ross continuar, mas ele parou diante de Janie , os olhos
escuros próximos aos dela.
— Eu tive que voltar de manhã cedo para New Brighton — disse Ross . — Com meus
pais. Voltei há minutos á trás . a polícia me esperava em casa. Comentaram sobre Eve. Eu...
— a voz dele sumiu .Ele abaixou a cabeça.
Janie colocou as mãos nos seus ombros trêmulos.

— Não consigo acreditar nisto — repetiu Ross emocionado. — Depois do nosso encontro
eu levei Eve para casa. Era um pouco mais das 11 horas. Eu a vi atravessar a rua. Ela estava
em casa, Janie. Estava em casa em segurança. Eu...

— Por favor continue andando — disse um dos oficiais. — Nós temos que conversar logo
com você. Lá adiante. — Ele apontou para uma saleta ao fundo
do corredor.
Com a cabeça ainda baixa , Rross começou a andar obediente , deixando Janie e Ian para
trás.
— Você acredita em mim, não é? — perguntou de longe para Janie .

Janie hesitou. Olhou para Ian.


Antes que pudesse responder , Ross desapareceu na pequena sala de interrogatório.
— Obrigado novamente. Seus pais estão á espera — disse o delegado Frazier, abrindo a
porta da sala para que eles saíssem.

— Você acreditou na história de Ross? — perguntou Ian quando eles atravessaram a porta.
Janie deu de ombros.
— Eu não — disse Ian friamente.
Na tarde de domingo nuvens negras de tempestades cobriam o céu indicando chuva.
Um vento frio e úmido sacudia os galhos das árvores, enquanto Janie dirigia até o Pete’s
Pizza para se encontrar com Faith.
Elas se sentaram uma em frente á outra numa mesa de vinil vermelho perto da entrada,
lutando para em vão para entabular conversa.
As portas do cinema em frente ao restaurante se abriram e uma multidão barulhenta
derramou-se ali dentro. O restaurante rapidamente se encheu de gargalhadas e vozes altas.
Uma pizza de calabresa grande repousava intacta em cima da mesa entre Faith e Janie.
Faith brincava com o garfo e a faca de plástico. Janie olhava a porta de vidro diante do
corredor iluminado.
Finalmente ela rompeu o silêncio:
— Mais cinco minutos.
— Para quê?
— Mais cinco minutos e eu vou chorar aqui por uma hora. — disse Janie.
Faith deu um soriso de tristeza.
— Você e eu.
— Paul vai encontra-la aqui? — perguntou Janie.
Faith deu de ombros.
— Talvez. — ela suspirou
um silêncio cruel desceu sobre a mesa.
— Eu não acredito que Eve tenha roubado aquele dinheiro. — disse Faith franzindo o
cenho. — Não liguei para o que disse Ian.
— Por que ele iria mentir? — perguntou Janie , descansando o queixo nas mãos
mãos .
Faith mordeu os lábios.
— Eu sei que Eve vivia aborrecida por causa de dinheiro. Mas a polícia não vasculhou a
sua casa? Ou o se armário?

— Não acredito que Ian tenha contado a ninguém que ela roubou o dinheiro . só para mim.
E você é a única pessoa a quem contei.
— Talvez devessemos guardar esse segredo — disse Faith.
— Sim — concordou Janie.

Faith sacudiu a cabeça.


— Isso não faz sentido. Eve nunca se meteu em uma encrenca
em toda a sua vida.
— Eu sei murmurou, Janie sentindo novamente vontade de chorar.
— Nós erámos sua melhores amigas — continuou Faith calorosamente. — Se ela pensasse
em roubar o dinheiro , nós SABERÍAMOS. Cedo ou tarde. Não tinha jeito de ela esconder
uma coisa dessas da gente.

— Ian acha que Ross matou Eve por causa do dinheiro do baile. — disse Janie olhando
para a porta de vidro.
— Isto é terrivel! Que idéia! — Faith gritou sinceramente chocada. Ela avançou sobre a
mesa para se aproximar de Janie. — O que você acha?
— Eu... Eu não sei o que pensar — gaguejou Janie.
— Sobre oque? — a voz de um rapaz a interrompeu.
Janie levantou os olhos e viu Ross de pé ao seu lado.
Sem esperar convite, Ross sentou-se em uma das cadeiras vazias ao lado de Janie. A manga
de sua jaqueta de couro roçou em seu braço. Ela chegou para o canto , perto da parede. Ao
olhar para o outro lado da mesa , Janie percebeu que Faith não conseguia disfarçar seu
espanto. Olhava acusadoramente para Ross , seu rosto contraído de ódio.
— Como vocês estão indo? — perguntou ele em voz baixa.
— Nada bem — disse Faith, friamente.
— Um silêncio glacial caiu sobre a mesa. Janie tinha dificuldade de olhar para Ross . Faith
o encarava com explícito desdém.
Janie se esforçava para dizer alguma coisa.
Era uma situação tão constrangedora, tão embaraçosa.
Ross batia na mesa com um grafo de plástico.
Alguém diga alguma cisa! , pensava Janie. O silêncio sufocava . O que dizer, no entanto,
para um cara que poderia Ter assassinado sua melhor amiga?

Finalmente Ross quebrou o silêncio. Ele avançou sobre a mesa, com os olhos fixos em
Faith.

— Talvez eu mate VOCÊ da próxima vez — disse a ela.

Capítulo 14:

Faith engasgou.
A expressão de Ross se endureceu. Ele continuava abaixado sobre a mesa.

— É isto que você está pensado não é? — disse acusando Faith. — Você acha que matei
Eve. Você realmente pensa que sou um assassino, não é? Uma espécie de pisicopata!
— Não, não pensamos .... — Janie começava a dizer.
Faith agarrava a borda da mesa com as duas mãos , os olhos azuis arregalados de medo.
— O que acha a polícia? — perguntou ela friamente.

— A polícia acredita em mim — gritou ele. — Mas eu posso ver o que vocês duas
pensam!! Bem, eu não tinha razão nenhuma para matar Eve! Nenhuma razão!

Ele estava praticamente aos gritos. As pessoas se voltavam para eles . Uma garçonete parou
diante da mesa , olhando-o com reprovação.
— Me dê uma boa razão! — perguntava Ross, olhando para Faith. — Uma boa razão para
que eu matasse Eve! Ande! Estou esperando!

— Você está louco! — gritou Faith. — Todos estão nos olhando!


— Não me importo!! — berrou, batendo com os dois punhos sobre a mesa.

Mas janie o agarrou pela manga da jaqueta de couro.


— Eu não acho que você fez isso , Ross — disse ela.
Ele a olhou incerto.

— Realmente não acho — disse ela. — Eu e Faith estamos apenas muito tristes e confusas,
Ross. Não sabemos...
— Ei, lá estão Paul e Ian — interrompeu Faith, acenando com a mão pelo vidro. — Tenho
que ir. — ela escapuliu rapidamente para fora da mesa, sem se preocupar em esconder a
ansiedade em sair dali. — Você vem , Janie? — perguntou ela.
— Em um minuto — respondeu Janie, com os olhos em Ross.
Faith saiu ás pressas. Janie a viu cumprimentar os dois garotos do lado de fora do
restaurante. Paul e Ian olhavam desconfiados para Ross e Janie.
Ela se voltou para Ross.
— Você tem que acreditar em mim — implorou Ross, segurando-a pela mão. Janie
percebeu que as mãos dele estavam mais frias que as dela. — Não matei Eve. Não tinha
nenhum motivo para matá-la .Você acredita? ACREDITA?
— Sim — respondeu Janie rapidamente.
Mas ela percebia que não sabia exatamente em que acreditar.
Algo terrível havia acontecido. Ela se sentia arrasada. Em mil pedaços, como um quebra-
cabeça. As peças estavam todas misturadas e algumas faltavam.

Por que ela pensava em quebra-cabeças? Por que suas idéias eram tão loucas e dispersas?

No que ela podia acreditar de Ross? No quê?

— Ross, por que você saiu com Eve? — deixou escapar.


Ele apertou os olhos confusos.
— Ela não te contou?
— Contou o quê? — perguntou Janie.
— Eve não te contou? — repetiu Ross. — Saí com ela por causa do dinheiro.

Capítulo 15:

Janie sentiu um aperto na garganta.


— Pelo dinheiro? — gritou ela. — O dinheiro do baile?
Ross parecia confuso.
— Não. Eu...
Uma garçonete os interrompeu.
— Há algo de errado com esta pizza? — Ela apontou para a pizza intacta, esfriando na
fôrma de metal.
— Não, está tudo bem — disse Janie com a cabeça rodando.
— Estamos apenas.... conversando.
A garçonete franziu o cenho e foi embora, limpando as mãos no avental
— Eu saí com Eve pelo dinheiro da aposta — disse Ross. — Você , Eve e Faith fizeram
uma aposta, não foi?
— Foi — disse Janie, sentindo o rosto reaquecer. Ah! AQUELE dinheiro — Janie engoliu
em seco. — Como você soube?
— Eve me contou — respondeu Ross. — Ela me contou da aposta. Disse que queria
ganhar. Disse que dividiria os 20 dólares se ganhasse . Era uma bobagem. Demos boas
risadas desta história.
— Oh — lamentou Janie.
Uma boa risadas, pensou. Só que agora Eve estava morta.
Perdida em seus pensamentos tristes, ela percebeu de repente que Ross ainda estava
falando.
— Não posso acreditar que isto tenha acontecido — disse —
Especialmente depois do que aconteceu em New Brighton.
— O que? — perguntou Janie, afastando a sua tristeza.
— Nada — disse Ross amargurado.
— O que aconteceu em New Brighton? — perguntou ela.
— Nada cortou. — apenas pensei em voz alta.
Faith, Paul e Ian esperavam por ela á porta da lanchonete. Faith olhou-a com desaprovação.
— Então? Ele a matou? — perguntou Paul.
Janie deu um gemido de raiva
— Como você pode falar disso de uma maneira tão displicente?
Paul deu de ombros. Ele passou uma das mãos pelos cabelos louros.
— Desculpe Janie. Eu não quis insinuar nada . Fiquei apenas surpreso de vê-la com ele.
— O que Ross disse á polícia? — perguntou Ian nervoso. — Porque deixaram ele livre?
— Não conversamos sobre isso — disse Janie friamente.
— Quero distância desse cara — acrescentou Paul, retirando a sua jaqueta marrom e cinza
da Shadyside. — Ele é perturbado. De verdade.

— Você não sabe de nada, Paul — reprovou Janie. — Pare de fingir ser tão sábio e
equilibrado.
Paul enrubesceu.
— Porque você o está defendendo? — perguntou Ian. — Ele matou Eve. Todos nós
sabemos. Não importa o que ele disse á polícia. Todos nós sabemos que ele levou Eve até o
bosque e a matou. Por que você o defende Janie?

— Vou para casa. — disse Janie. — Não tem sentido a gente ficar aqui em pé discutindo
isso.
— É. Vamos — disse Faith aborrecida. Ela pegou Paul pelo braço .
— Quer uma carona? — perguntou Paul a Janie.
— Não , estou de carro — disse ela, procurando as chaves na jaqueta. — Ei Paul , vocÊ
está de carro?
Ele assenntiu.
— Pensei que ele precisasse de uma nova transmissão — disse Janie.
— Eu a coloquei.
— Onde você arrumou o dinheiro? — perguntou Ian.
Paul sorriu sem graça.
— O que posso dizer? Um presente antecipado de aniversário de uma admiradora secreta.
— ele Faith começaram a caminhar.
Janie hesitou, os pensamentos voavam.
Como Paul arranjou o dinheiro? Pensava. Será que Faith mudou de idéia e lhe deu o
dinheiro? Faith havia jurado que não faria isto.
Então onde ele arranjou o dinheiro?
Na-Segunda feira após o jantar, Janie levou um susto ao encontrar Ross na porta da frente.
— O Ross, o que é isto? — gritou ela, olhando para o seu rosto atormentado.
— É o meu dever de Francês — disse ele com uma ruga na testa. — Não consigo fazer.
Soube que você era boa em francês. Pensei que talvez pudesse me ajudar. Ser minha
professora hoje á noite.
— Está bem — respondeu Janie. Ela o deixou entrar.
Que estranho, pensava ela , aparecer assim na casa dos outros.
Mas ela percebeu que ficara bem satisfeita com a visita surpresa.
Ele gosta de mim, pensou.
Sentiu um calafrio na espinha. Se ao menos eu pudesse afastar as minhas dúvidas em
relação á ele. Se ao menos eu pudesse Ter certeza de que ele está dizendo á verdade sobre
Eve.
Janie sentiu que estava bastante atraída por Ross, apesar de todas as incertezas.
Sentada ao seu lado no sofá, eles estudaram francês juntos. Depois de uma hora
Ross fechou o livro.
— Enfim, acho que agora entendi. Você é uma grande professora.
Pôs suas mãos suavemente nos ombros de Janie. Depois deslizou delicadamente os dedos
pelos seus braços e segurou-a pela mão.
— Agora vamos comer alguma coisa. Eu estou esfomeado — disse docemente.
— Não, Ross. Amanhã tem aula.
— Mesmo assim. São só oito e quinze. Prometo que te deixo de volta antes das dez. Então
— disse ele como se o caso estivesse resolvido — aonde nós vamos?
Ela não queria correr o risco de se encontrar com Faith, Paul ou Ian. Eles iriam inferniza-la
só por estar com Ross. Então , sugeriu uma lanchonete em Old Village.
— É um lugar legal e barato — disse ela e correu para pegar a sua jaqueta.
Abriu a porta do guarda-roupa , procurando algo que melhorasse a sua aparência, um jeans
e uma camiseta de mangas compridas.
Encontrou um cinto preto de couro e o colocou na cintura.
Ela precisava de algo colorido. Procurou no armário. Onde estava ele?
Onde estava o blazer azul...
Ela gelou ao se lembrar. Havia emprestado a Eve. E ela foi morta com ele.
Janie sentou-se na ponta da cama, subitamente culpada. Será que era errado sair com Ross
logo depois da morte de Eve?
Respirou fundo, deixando aquela sensação se desfazer. Depois foi até o armário e pegou um
cachecol azul brilhante para enrrolar no pescoço . ainda pensando em Eve, caminhou até a
sala.
Ross estava sentado ali, olhando absorto para a parede. Não parecia Ter percebido a sua
presença.
Que pensamentos profundos ocupavam a sua mente ? , ela se perguntava.
Ela o observou por um momento.
Depois interrompeu-o
— Bem... podemos ir:
Ross se levantou e vestiu a jaqueta de couro. Dirigiu-se á porta .
— Aprés toi — brincou em francês.
Estavam a alguns quilômetros da casa de Janie, quando o Civc azul de Ross deu um estalo,
fez um som estranho, engasgado , e morreu.
— O que houve? — perguntou Janie nervosa. Ela olhou pela janela do carro. Podia apenas
ver um matagal escuro. Nenhuma casa, nenhuma loja, nenhuma luz na rua. Eles pararam no
acostamento.
Ross apontou o painel de gasolina com o dedo e o ponteiro de baixo estava lá embaixo.
— Sem gasolina — gemeu ele.
Ele se voltou para ela, seus olhos escuros cintilavam.
Brilhavam de excitação, pensava Janie.
Ela se encolheu junto á porta do carro.
Não, pensou. Não. Isso não está acontecendo.
Faith , Paul e Ian me avisaram. Eles me advertiram para não sair com Ross.
Um frio gelado percorreu-lhe.
Estavam isolados naquele fim de mundo, percebeu.
Não havia ninguém para ajudá-la.
Ninguém.
Capítulo 16:

— Eu realmente sinto muito — disse Ross suavemente, os olhos fixos nos dela. O seu
rosto , oculto contraiu-se. — Sinto muito, Janie.
O que significava aquilo? Perguntava-se Janie, gelada de medo. Por que ele estava se
desculpando?
Estaria se desculpando pelo que faria comigo?
— Bem, vamos Ter que andar até um posto de gasolina — disse Ross.
Ele se afastou dela e abriu a sua porta. Uma rajada de vento frio invadiu o carro. — Deve
aver um aqui por perto. Não estamos longe de Olde Village. Você vem?
Andar com ele? Andar com ele naquele matagal?
A idéia a fez tremer.
Mas tampouco ela queria ficar sozinha no carro.
— Você deve me achar um idiota completo — disse ele. Ele estava fora do carro e
abaixava-se para falar com ela. — Eu pensei que ainda tinha meio tanque. — Ele balançou
a cabeça. — pelo menos não está chovendo. Vamos, Janie. Vamos.
Ela hesitava. A sua respiração aos poucos voltava ao normal.
Não . Ele vai me machucar, dizia a si mesma. Realmente ficou sem gasolina.
Estou me apavorando á toa. Tremendo como uma folha seca.
Sinto tanto medo, tanto medo de Ross, mas é apenas a minha imaginação.

Sentia-se embaraçada e confusa. Se não confiava em Ross, por que saíra com ele?
perguntava-se.

— Você vem? — perguntou ele impaciente. A sua respiração ficou ofegante. Ele enfiou as
mão nos bolsos da jaqueta.
— Tem um posto logo ali na frente que fica aberto até tarde — lembrou-se Janie de
repente. — Acho que logo depois daquele morro.
— Ótimo! — exclamou Ross . — Vamos correr . você ao volante eu empurro . tomara que
ainda esteja aberto.
Janie sentou-se ao volante. Ross não tem a menor idéia do quanto me apavora, pensava.
Acho que ficaria chocado se soubesse. Chocado e magoado.
Tenho que começar a confiar nele , decidiu. Eu gosto dele de verdade. E acho que ele gosta
de mim. Tenho que começar a confiar nele.

Janie olhou Ross no espelho retrovisor. Ele acabou de bombear a gasolina, enfiou as mãos
nos bolsos da jaqueta. Nada.
No pequeno clarão das luzes do posto de gasolina, Janie viu Ross saltar uma praga,
sacudindo a cabeça. O vento da noite soprava furiosamente seus cabelos negros, ele se
aproximou de sua janela.
Ela abaixou o vidro.
— Esta não é a minha noite — murmurou Ross, embaraçado. Devo Ter esquecido a
carteira em casa. Espero que esteja lá. Você pode me emprestar algum dinheiro?
— Sem problemas — disse Janie, pegando umas notas na bolsa.
Ross pegou o dinheiro e correu para pagar a conta.
Por alguma razão Janie pensou em Eve e no diheiro da posta. Ela e Ross planejaram dividir
os ganhos.
Janie suspirou. Será que um dia vou parar de pensar em Eve?
Segundos mais tarde Ross estava ao volante, pronto para religar o motor.

— Desculpe — disse ele — mas é melhor eu parar um minuto em casa para ver se minha
carteira está lá. Não estou a fim de ser preso — disse engasgando. — Quero
dizer, não quero ser preso por dirigir sem licença.
Bem junto ao volante, ele deixou o posto.
Só quando passaram pelo cemitério que Janie percebeu onde eles estavam.

— Você mora na Rua do Medo? — perguntou ela.

— Sim — disse Ross, voltando-se e percebendo a sua expressão atordoada. — Por


que todo mundo tem esta reação quando digo que moro na Rua do Medo? — perguntou
Ross perplexo.
— É que há... muitas... histórias sobre esta rua — disse ela olhando as casas da calçada.

— Que tipos de histórias?

— Histórias de assassinatos, criaturas estranhas, fantasmas e tudo o mais — respondeu


Janie, olhando para fora do carro.

— Dá um tempo — murmurou Ross. — Parei de acreditar em fantasmas há muitos anos.

A rua ficou ainda mais escura quando eles passaram pelo bosque da Rua do Medo. Janie
fechou os olhos. Eve foi morta bem ali, pensava
Para sua surpresa, Ross parou o carro. Janie olhou o bosque pela janela. Foi aqui, percebeu.
Foi aqui que eu e Ian encontramos o corpo de Eve.

— Ross, por que você parou aqui? — perguntou ela com uma voz apavorada.
— Aquela é a minha casa — disse ele naturalmente. Ele apontou para uma pequena casa
do outro lado da rua. Não havia luzes no interior nem do lado de fora.

— Mas..., mas foi justamente aqui que encontramos Eve.

— Eu sei! — disse ele num tom cortante — Não pense que a polícia não me fez milhares
de perguntas por causa disso . Ele murmurou algo incompreensível . — Já estarei de volta.
— pulou do carro, fechando a porta atrás de si.
Janie o viu desaparecer na escuridão. Ela estava só. Só na Rua do Medo.

Estacionada justamente onde Eve fora assassinada. Ela fechou impulsivamente a sua porta.
Depois , todas as outras. Ela observava a casa escura, esperando que Ross não demorasse.
De repente Janie viu um movimento na janela da frente. As cortinas se afastaram
suavemente, revelando a luz fraca. Alguém olhava pela janela . olhava para ela.
Depois as cortinas se fecharam. A casa mergulhou novamente na escuridão. Janie sentia-se
nervosa no carro.
Onde estava Ross? Por que não voltava?
Ouviu um estalo. Olhou para casa sobressaltada. Olhou através da sua janela, com o
coração em disparada.
Que som era aquele?
Não podia ver nada. Tudo estava estranhamente escuro.
Será que avia alguém ali fora?
Ao seu lado, a porta do motorista estava sendo forçada.
Alguém tentava entrar no carro. Janie abriu a boca para gritar, mas não conseguiu emitir
som algum.

Capítulo 17:

A porta foi novamente forçada.


— Janie , deixe-me entrar!
Era a voz de Ross.
Janie inclinou-se até a janela do motorista.
— Oh, Ross ! Desculpe!
Ela destravou os pinos. Ele abriu a porta.
— Assustei você? Pensei que tinha deixado a porta aberta. — Ele se sentou ao volante e
devolveu a ela os cinco dólares emprestados. — Encontrei minha carteira. Aonde vamos?
Janie olhou o relógio , lutando para enxergar os ponteiros no escuro.

— Está tarde. Melhor a gente comer um hambúrguer no White Castle.


— Boa idéia — concordou Ross, retirando o carro do meio fio.
— Deixo você em casa ás dez . Depois volto para casa e repasso mais uma vez o meu
exercício de francês.
Ele virou á esquerda para pegar a Old Mill Road e Janie se aproximou dele sorrindo
satisfeita por deixar a Rua do Medo.
Minutos antes das dez, Ross chegava á porta de Janie. Desligava o motor do carro e os
faróis. Janie ia dizer boa noite quando Ross a rodeou pelos ombros , puxou-a para si e a
beijou.
Ela tentou resistir, mas o beijo foi ficando cada vez mais intenso.
Janie deixou que o beijo ficasse cada vez mais apaixonado. E ainda mais. Queria beijá-lo a
noite inteira.
Repentinamente , ele parecia tão carente e afoito.
No fim, os dois já estavam sem fôlego.
— Sexta-feira á noite quer ir ao cinema ou a algum lugar?
Ela assentiu balbuciando um sim como se tivesse em transe.
Ross avançou sobre ela para lhe abrir a porta do carro e de repente beijaram-se novamente,
abraçados com força um ao outro.
Isto é incrível! , pensava Janie.
Finalmente ela saltou do carro e correu para a porta de casa, ainda sentindo os lábios de
Ross nos seus lábios.
Fechou a porta.
Atrás de si. A casa estava quase ás escuras. Viu que seus pais foram dormir cedo.
Havia uma luz acesa no vestíbulo. Janie foi apagá-la e viu o livro de francês de Ross no
chão. Ele o havia esquecido.
Tenho que devolvê-lo , disse a si mesma. Ross disse que tinha que estudar um pouco mais
esta noite. Ela pegou as chaves do carro e correu para fora da casa.
começava a chover forte.
O vento parecia empurrá-la para de casa.
Colocou o livro de francês debaixo do braço e correu para o carro. A idéia de ir até a Rua
do Medo naquela noite sombria a fez tremer.
Por que estou fazendo isto?, perguntou-se.
Para devolver o livro a Ross? Ou para vê-lo novamente?
Talvez para mais um beijo? Ou muito beijos?
Sentindo-se confusa, atordoada, ela deu marcha a ré e se dirigiu á casa de Ross.
Ainda podia sentir os braços de Ross em volta dela, segurando
-a ou o calor de seus lábios .
Ela corria pela chuva, que deixava o pára-brisa manchado pelo movimento do limpador. A
chuva diminuiu um pouco quando entrou na Rua do medo e viu a casa dele.
Subiu na calçada e saltou do carro, deixando o motor ligado.
Abaixando a cabeça protegendo-se da chuva, correu até a porta principal. A casa estava
mergulhada na escuridão. Ela olhou em volta, á procura do carro de Ross, mas não o viu.
Tremendo de frio, tocou a campaínha . podia ouvi-la ressoar no interior da casa.
Esperou. Silêncio
O vento empurrava a chuva contra a casa.
Janie tocou a campainha de novo.
— Ande Ross. Você está aí? — disse ela bem alto.
Será que ele já está dormindo?
Será que todos já estão dormindo?
Melhor ir embora, pensava, suspirando , desapontada.
Ela começou a afastar-se do portão quando ouviu alguém destrancar a fechadura da porta.
A porta da porta se abriu lentamente. Uma senhora bastante idosa com os cabelos presos
num coque atrás da cabeça olhava estranhamente para Janie.
— Oi — disse Janie forçando um sorriso . — Desculpe incomodar , mas trouxe isto para
Ross. — ela exibia o livro.
A velha olhou-a de um modo ainda mais estranho.
— Quem? — gemeu.
— Para Ross — repetiu Janie. — Ross Gabriel.
A velha sacudiu a cabeça.
— Ross Gabriel? Não há ninguém aqui com esse nome.
E bateu a porta na cara de Janie.

Capítulo 18

Jannie chegou atrasada na escola no dia seguinte. Não tinha dormido bem durante a noite.
Ficou pensando sobre a casa da Rua do Medo. A casa de Ross.
E na velha que disse que nenhum Ross Gabriel morava ali.
Eu não gosto desses mistérios, decidiu Janie enquanto movia-se desconfortavelmente na
cama durante á noite.
Havia muitos mistérios em minha vida ultimamente. Muitos mistérios apavorantes.
Vou descobrir toda a verdade sobre Ross, decidiu.
Ela se deu conta do quanto se sentia atraída por ele , como estava envolvida por Ross.
Será que estou apaixonada? , perguntava-se sonolenta, olhando a luz do teto de seu quarto .
Antes que eu caia de paixão , melhor descobrir a verdade sobre Ross, toda a verdade.
Não posso me apaixonar por ele e ao mesmo tempo suspeitar dele.
Na escola ela procurou por Ross nos corredores em todos os intervalos das aulas. Mas não
viu em lugar nenhum .
Na hora do almoço checou a lista de presença na secretaria e viu que Ross estava ausente.
Janie correu para o refeitório . Faith estava sentada sozinha na mesa habitual com um
aparência taciturna e uma pilha de biscoitos á sua frente.
Janie sentou-se diante dela.

— Onde estão Ian e Paul?


Faith deu de ombros, franzindo a testa. Ela ofereceu a Janie um biscoito.
— Onde você estava ontem á noite? Te liguei depois das nove.
— Eu... estava com Ross — admitiu Janie relutante.
Os olhos de Faith arregalaram-se de surpresa.
— Janie, você não está querendo me dizer que você e Ross...
— Todo mundo está enganado a respeito dele! — berrou Janie num tom estridente.
Faith revirou os olhos indignada.
— É verdade! — insistiu Janie . — Você não está sendo justa , Faith! Ninguém
está!
Janie não podia mais se conter. Ela não fora capaz de contar nada a Faith sobre Ross porque
Faith e os outros tinham certeza de que ele matara Eve.

Mas ela TINHA que falar com alguém e Faith ainda era a sua melhor amiga.

Avançando sobre a mesa , com o coração batendo forte, Janie revelou seus sentimentos
secretos a Faith. Contou sobre a noite anterior , sobre o quanto estava envolvida com Ross e
como ao mesmo tempo apavorava-se com ele.

— Acho que você devia estar amedrontada — Faith interrompeu, os olhos queimando os
de Janie.
— Do que você está falando? — perguntou ela.
— Apenas de algumas coisas que eu ouví — disse Faith misteriosamente .
janie sentiu um nó na garganta. Aproximou-se de da amiga:

— Faith o que você ouviu?


— Só boatos.
Janie sentiu o pavor penetrar-lhe como se tivesse sido apunhalada.
Os olhos de Faith se contraíram.

— Janie, ouça. Não saia com ele novamente, está bem?


Ouví algumas coisas. Talvez sejam verdade, talvez não. Vou checar tudo, mas neste meio
tempo...

— Faith, você está me deixando confusa!

Gritou Jannie, descontrolando-se. — Você tem que me contar o que ouviu .


Faith abriu o pacote de biscoitos. Franziu o rosto emordeu os lábios.
— Tenho que falar antes com uma garota. Jordan Blye.
— Quem? — perguntou janie.
— O nome dela é Jordan Blye. Você provavelmente já a viu. Ela é alta e tem cabelos
longos bem louros.
Janie se engasgou. lembrou-se da garota. Lembrou-se da fisionomia horrorizada de Ross
quando a viu no corredor.

— O que elatem a ver com Ross? — gritou. — Quem é ela Faith?

— Jordam foi transferida pra cá de New Brighton — revelou Faith.


— A velha escola de Ross — murmurou Janie.
— Ela sabe de alguma coisa sobre ele. continuou. — Ela disse para Deena Martinson que...

— Ei, o que há? — interrompeu a voz de um rapaz.


— Paul , onde você estava? — perguntou Faith.
— Vocês já sabem de Ross? — perguntou Paul , ignorando a pergunta de Faith.
— O quê? Ross? O que aconteceu com ele? — gritou Janie.
O sorriso de prazer de Paul se ampliou.
— Vocês estão mesmo por fora! — disse ele, sacudindo a cabeça. — Toda a escola está
falando sobre isso. Ross não veio á aula hoje porque a polícia prendeu ele de manhã.

Janie levou um susto.


— Preso por quê?

— Por assassinato — disse Paul sorrindo.

Capítulo 19:

Janie gelou. Faith, a mesa, o refeitório lotado, tudo parecia tremeluzir.


Sentia-se só. Sozinha num espaço frio e escuro.
Assassinato. Assassinato. Assassinato.

A palavra medonha repicava em seus ouvidos.


— Janie, você está bem? — A voz de Faith retirou-a daquele devaneio.
Ela se viu de volta ao refeitório , sentada á mesa, cercada por vozes altas , rostos familiares.
E quando olhou para a porta viu Ross.
— Ei, ele está aqui! — gritou para Faith e para Paul.
Será que ele a viu?

Não. Não parecia. Ela o observou entrar a passos largos e calmos até uma mesa junto á
parede, bem distante. Tinha as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta de couro. Botou os pés
sobre o parapeito da janela e olhava para fora, como se fosse o único ser vivo na
lanchonete.

— Paul, você é um mentiroso! — Janie acusou-o com raiva.


Paul enrubesceu.
Eu disse apenas o que eu ouvi.
A cadeira de Janie arranhou ruidosamente o chão quando ela a arrastou para levantar-se de
um salto.

— Janie, volte aqui! — ouviu Faith chamar.


Mas janie já atravessava o restaurante. Chegou rapidamente até Ross. Ele estava aborrecido
, em silêncio , contemplando a paisagem através da janela. Não a viu até que ela colocasse
A mão sobre seu ombro.
— Ei! — ele pulou , sobressaltado. Puxou com o pé uma cadeira para ela.
Janie percebeu que muitos estudantes olhavam pra ela.
Deixe que olhem, pensava. Não me importo com estes boatos estúpidos e com estas fofocas
horrorosas.
Sentou-se diante de Ross.
— Você não tem medo de ser vista comigo? — perguntou ele amargurado.
— Onde você estava de manhã? — perguntou Janie. — Onde você estava ontem á
noite? Eu dirigi até a sua casa.
— O quê? — sua expressão pensativa tornou-se surpresa.
— Você deixou o seu livro de francês na minha casa. Eu fui até lá devolvê-lo , mas
aconteceu uma coisa estranha.
Ele não respondeu . esperou que ela continuasse.
— Uma senhora abriu a porta — disse Janie. — Disse que você não morava lá. Que lá não
havia nenhum Ross Gabriel.

Ross emitiu um longo suspiro , mas não disse nada. Janie fixou os olhos nos dele, em busca
de respostas ,mas não encontrava coisa alguma.

Finalmente ele retirou os pés da janela e inclinou-se em direção a ela.

— Janie — disse ele baixinho , tão baixinho, que ela mal podia ouvi-lo com as vozes altas
das outras mesas. — Janie, vou lhe contar a verdade.

Capítulo 20:

Janie sentiu uma frio na espinha. Dando uma espiada de relance pela lanchonete , percebeu
que Paul e Faith a olhavam.
— Aquela senhora é minha avó — revelou Ross. — A sua cabeça já não está mais boa. Ás
vezes ela se atrapalha. Me chama pelo nome de meu pai. E ás vezes confunde meu pai com
o seu irmão mais novo, que já
morreu há 20 anos. — ele suspirou. — Não é fácil viver com ela.

— Eu imagino — disse Janie, aliviada.

— Esta é a verdade — disse Ross. — Você acredita em mim? — não era uma pergunta.
Era um desafio. — Ninguém mais nesta cidade parece acreditar em nada do que eu digo —
continuou ele amargurado, sem esperar resposta. — E você, Janie? Você acredita em mim?
Ou me acha também um mentiroso?
Janie podia sentir a garganta apertar. Sentia raiva e dor ao mesmo tampo. Este não era o
Ross que ela conhecera na noite anterior.
Aquele era um Ross deprimido e cheio de ódio. Um Ross muito diferente.

— O que aconteceu? — perguntou ela coma voz trêmula . — Onde você estava hoje de
manhã? Paul disse que você tinha sido preso.

— Qual é o problema de Paul? — perguntou Ross, lançando um olhar furioso em direção a


Paul e Faith.

— Todo mundo está falando de você — disse Janie.


Ele desviou o olhar de Janie e fitou de novo o céu cinzento a través da janela.

— Então, onde você estava? — perguntou Janie.

— Na delegacia — disse ele, evitando olha-la.

— Você quer falar sobre isso? — perguntou com um interesse sincero.

— Falar o quê? — contou. — Milhares de novas perguntas sobre Eve. Eu acho que o seu a
migo Ian disse á polícia que ela roubara mil e duzentos dólares daquele baile.
— Ele fez isso? — Janie não conter a surpresa.

— A polícia me disse eles vasculharam a casa de Eve e todas as coisas dela e não
encontraram um centavo. Checaram a conta dos pais dela também. Ninguém tinha o
dinheiro.

— Isso é horrível! — murmurou Janie.


— Então naturalmente eles vieram até mim — continuou Ross com um amargurado
desdém. — Queria saber o que eu sabia do dinheiro . claro que eu não sabia de nada. Mas
eu sei o que eles estavam pensando. Estavam pensando que eu o peguei. Eles pensam que
eu... — Ross sacudiu a cabeça com tristeza. — O que você acha,
Janie? Você acha que eu sou um ladrão e um ...

— Assassino. — Janie completou a frase por ele . — Não, claro que não — repondeu
rapidamente.
Será que tenho certeza?, perguntava a si mesma. Estou realmente certa do que penso?
— Claro que eu não penso isto — repetiu Janie come se tentasse convencer a si mesma.
Ross permitiu-se um sorriso amargo.

— Obrigado — disse ele com um silvo. Suspirou. — Será que isso tudo está acontecendo
comigo, Janie. Você viu como todos me olharam quando eu entrei na lanchonete?
— Vi — disse ela.
— Todos estes boatos. Todos falam de mim. Me acusam — disse Ross com raiva. — Seus
amigos. Faith, Paul e aquele magricela , Ian, posso ver a aversão no rosto deles.
— Eve era muito querida — disse Janie suavemente. — Mas não ligue para os meus
amigos — disse ela. — Quando a polícia encontrar o assassino de Eve , as coisas vão
mudar.
— É — desdenhou . — SE eles encontrarem o assassino . — ele sacudiu a cabeça ,
evitando o olhar de Janie. — Ás vezes penso que a confusão me persegue em todos os
lugares a que vou — disse.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou Janie.

Ele não respondeu. Parecia perdido em seus pensamentos sombrios. De repente sua
expressão se iluminou.
— Ih! Eu quase me esqueci! — exclamou, procurando algo no bolso da jaqueta. — Trouxe
uma coisa para você.
Ele puxou alguma azul e deu para ela.

— Não!! — Janie gritou. Aos pulos. A cadeira caiu violentamente no chão. — Não!

Era o cachecol de Eve. Ela devia estar usando-o com o blazer azul na noite em que fora
assassinada.

capítulo 21:

— Janie, o que há de errado? — gritou Ross, entregando o cachecol azul para ela.

— Você é doente? — gritou.


As cabeças se voltaram para os dois. Ela ouviu murmúrios de espanto pelo slão.
Ela não se incomodou e correu cegamente para a porta dos fundos. Fazia um frio cinzento.
Ele é louco, pensou. Realmente louco.
Num momento ele me diz o quanto está deprimido porque todos pensam que ele é um
assassino. No minuto seguinte esfrega o cachecol de Eve na minha cara.

Ele é louco, dizia, engasgando-se com aquele ar gelado, o coração aos pulos.
É louco e perigoso.
Tenho que ficar longe dele. E vou ficar á distancia.

Janie o evitou o resto da tarde. Ele tentou falar com ela no labolatório de química , mas ela
se mudou para uma cadeira lá da frente.
Ela o viu correr em direção ao seu armário depois das aulas, mas o fechou depressa e
escapou no meio da multidão.

No meio do estacionamento de estudantes, ela procurava por Faith. Faith onde está você,
pensava, olhando os carros saírem do pátio. Quero uma carona até em casa. Quero sair
daqui já.

Ela avistou Faith perto do portão. Paul estava de pé ao seu lado. Os dois falavam ao mesmo
tampo, gesticulando com as mãos.

Janie correu até eles.

— Ei, Faith...

parou quando viu que eles estavam no meio de uma discussão feia.
Ela observou tudo detrás de um carro estacionado. Paul berrou alguma coisa para Faith.
Depois pulou dentro de seu carro, ligou-o e saiu cantando pneu.

Faith saiu com o rosto vermelho , os ombros trêmulos, virou-se e correu para o meio do
estacionamento.

O que estaria acontecendo?, pensava Janie, preocupada. Deu alguns passos em direção a
sua amiga e depois parou.
Faith não precisa de mim agora, pensou. Vou ligar para ela mais tarde, quando já estiver
mais calma.
Ligarei á noite e direi que ela estava certa sobre Ross.
Vou contar-lhe a história do cachecol e dizer o quanto Ross é louco.
Contarei tudo á ela. Depois ela me fala dessa briga com Paul.
Janie sentiu-se melhor por confiar em sua velha amiga.

Enquanto andava de volta para casa não poderia imaginar que jamais a veria de novo.

Capítulo 22:

Ross tentou ligar para ela depois do jantar. Mas ela fez sua mãe dizer que não estava em
casa.
— Quem é esse garoto? — perguntou sua mãe, olhando intrigada para Janie. — Ele
pareceu muito irritado quando eu disse que você não estava.

— É só um garoto lá da escola — disse Janie. — Você precisa de alguma coisa do


shopping? Vou dar um pulo lá.

O shopping parecia vazio e triste. Talvez seja apenas minha impressão, pensou Janie.
Depois que comprou as pequenas coisas de que precisava , ela parou diante do Doughnut
Hole para ver Ian. Não falava com ele há algum tempo. Queria saber se ele se sentia
melhor.
Ela o encontrou atrás do balcão , limpando a máquina de café com uma toalha úmida. Ele
se virou surpreso por vê-la.

Os seus óculos refletiam a luz grossa do néon que vinha da janela. Ele parecia pálido e
muito cansado.

— Como está? — perguntou ele, segurando o pano úmido entre as mãos . forçou um
sorriso. — Quer uma rosquinha? Temos uma especial hoje, recheada com gléia.

— Não, obrigada — disse Janie sorrindo. — Só queria saber como vai você.

Ele sacudiu os ombros esguios. Parecia um garotinho naquele enorme uniforme vermelho e
branco que o obrigavam a usar.

— Melhor, eu acho. Ainda não durmo muito bem.


— Então me diga o motivo — disse Janie séria.
— Quando durmo , tenho pesadelos — disse Ian. — Daqueles terríveis.
— Poderia me dar um outro café? — interrompeu um sujeito num uniforme de trabalho
azul. Ele estendia o copo de plástico para Ian.

Ian pegou o café e voltou correndo para o balcão.


— Quanto é o bolinho? — perguntou uma garotinha com cabelos louros presos no alto da
cabeça. — Não este. Aquele — apontava.
Ian se baixou até a vitrine de vidro para checar os preços.
Ela queria dois doces e apontou quais eram.
Ian atendeu mais um outro cliente. Depois voltou-se para Janie, com uma expressão
exausta.
— Que noite — disse ele. — Trabalho um período no Sporting World logo após a aula.
Depois chego aqui ás seis . sabe o o que jantei? Duas rosquinhas de chocolate.

— Muito saudável — disse Janie de brincadeira.


Ian olhou para o relógio.
— Falta meia hora para eu sair — disse ele, pegando o pano de prato. — Quer comer
um hambúrguer ou algo assim quando eu largar o trabalho?

Janie lembro-se de que planejava ligar para Faith.


— Não posso — disse a Ian. — Tenho que ligar para Faith.
Eu a ví na maior gritaria com Paul no estacionamento depois da escola.

— E daí? — perguntou Ian. Ele passou as mãos pelos cabelos castanhos.


— Você acha que eles vão terminar?
— Não sei — respondeu Janie. Ela percebeu que estava tão mergulhada em seus próprios
problemas que não pensou direito em Faith e em Paul.

— Vejo você na escola. — disse ela.


— Eu é que vou ver você lá — brincou ele sem entusiasmo.
Tão logo chegou em casa, correu para o seu quarto e apertou o otãoque ligava
automaticamente para Faith.

Faith atendeu na primeira chamada.


— Onde você estava? — perguntou ela exaperada. — Telefonei para você a noite iteira!
— Estava no shopping — disse — Parei para ver Ian.
— Oh — disse Faith. — Como ele está?
— Um pouco melhor — comentou Janie. — Ele sente falta de Eve é claro. Mas está
trabalhando tanto que não tem muito tempo para sofrer.

— Isto é bom — disse Faith pensativa. Ela mudou abruptamente de assunto. — Ouça,
Janie eu fale com a tal garota que vei da escola do Ross. Aquela de cabelo louro. Jordan
Blye.
— Falou? — Janie sentou-se em sua cama.
— Ela me contou coisas realmente apavorantes — revelou Faith.
Janie sentiu uma fisgada no estômago. Eu não quero ouvir isso, pensou. Mas eu preciso.
— Coisas apavorantes? Sobre Ross? — perguntou.
— Também estou com medo — disse Faith em voz baixa. — Janie isso vai te chatear mas
ela me disse que Ross...

Foram interrompidas por um sinal na linha.


— Espere um segundo. Há alguém na linha de espera — disse Faith. Ela saiu da linha .
houve um silêncio de quase um minuto.
Faith voltou á linha.

— Ouça, Janie você pode vir aqui? Você tem que ouvir esta história do Ross e é melhor
que seja pessoalmente. É melhor que nos encontremos.
— Faith, porque você está fazendo todo este suspense? — reclamou Janie. — Você não
pode falar pelo telefone?
— Venha aqui — gemeu Faith — Meu pai foi a um coquetel e minha mãe ainda está na
Suíça. E hoje é folga da empregada.
— Está bem... comcordou Janie. — Aí você me conta sobre Paul.
Houve um momento de silêncio do outro lado da linha.
— Como você sabe sobre isto? — perguntou Faith.
— Eu estava no estacionamento. Vi você — contou Janie.
Janie dirigiu-se para North Hills, uma área elegante de Shadyside, e entrou na rua longa e
curva de Faith. Quando chegou a calçada se surpreendeu ao ver a porta de entrada
entreaberta.

— Estranho — disse Janie a si mmesma.

Abriu um pouco a porta.

— Faith?
Nenhuma resposta.

— Faith, sua porta está aberta!

Ainda sem resposta.


Ela abriu cuidadosamente a porta até que pudesse entrar na casa.

— Faith? Você está ai ?Sou eu.


Um suave aroma de pinho de uma lareira acesa vinha da saleta. Janie correu até lá, ansiosa
para encontrar a amiga.

Ela parou no portal. Na parede dos fundos, uma chama apagava-se na enorme lareira.

— Faith?

Janie deu um grito de horror quando viu a sua amiga.

Faith jazia estirada de costas , os olhos azuis arregalados, sem vida, em direção ao teto. O
sangue corria de uma ferida escura aberta em um dos lados

De sua cabeça e espalhava-se sobre os seus cabelos louros.

O bastão metálico da lareira estava caído ao seu lado no tapete branco manchado de sangue.

Capítulo 23:

Janie tentou gritar novamente , mas a voz não saiu.


Ela pressionava as mãos contra o rosto , a boca paralisada de horror.
Faith descobriu algo sobre Ross e agora ela estava morta, pensou.

O que ela descobriu sobre Ross? E por que isso lhe custou a vida?
O seu corpo inteiro tremia. A sala começou a vira de cabeça para baixo.
Ela caminhou até o sofá de couro e jogou-se ali, o rosto coberto pelas mãos.

— Faith, Faith. — o nome lhe escapava da boca.

O que era aquele som? Levantou a cabeça e ouviu.

Uma porta se abrindo? Passos?

— Quem está ai? — a sua vos veio fraca.


Será que o assassino ainda estava na casa?

— Quem está ai? Há alguém ai?

Sem respostas.
Um novo estalo.

Com muita dificuldade, Janie venceu o seu estado de estupor e pegou o telefone sem fio
sobre a mesa de café.
Com dedos trêmulos , ela discou 911.

— Alô! Por favor! Minha amiga foi assassinada!


A voz de mulher do outro lado da linha parecia calma.
— Qual o endereço? Estaremos ai em cinco minutos.

Janie lutou para se lembrar do endereço de Faith. Sua cabeça teve um branco. Finalmente
ela se lembrou e o disse pelo telefone.

— Oh!

Seriam passos? Pelo interior da casa?


A tonteira tomou conta de Janie novamente.

Vou morrer. Já sei.

A sala começou a rodar.


— Eu acho que o assassino ainda está na casa — disse ao telefone, num rouco murmúrio.
— Por favor, socorro!

A sala se inclinava em estranhos ângulos.


Vou dar de cara com ele, pensou. E então estarei morta.
— Saia daqui imediatamente — instruiu uma voz interior , calma e deliberada. — Ponha o
fone na mesa e saia desta casa. Vá o mais longe possível. A polícia chegará lá.
— Rápido. Sim. Eu devo correr — repetia Janie. Ela sabia que não raciocinava com
clareza.
Não estava certa se podia se levantar .

A sala girava. Girava e tremia. O fogo crepitava. Crepitava em sua cabeça.

— Sai da casa agora — instruía a voz com firmeza.


Janie deixou o fone no tapete.
Respirou profundamente e apoiou-se no braço do sofá.
Levante-se. Levante-se. Você tem que se levantar!
Ela se levantou , ignorando a tremedeira de seus joelhos.

Um passo. Outro passo.

Até a porta da saleta.

Os passos chegavam mais perto.


Corra , pensou.
Mas não consigo.
O fogo crepitava alto atrás dela.
Mexa-se!! Mexa-se!
Não posso! Vou tombar com o assassino.
Vou cair nas mãos ensangüentadas do assassino.
Pense claramente, dizia a si mesma, apoiando-se no portal.
Pense claramente, Janie.

Mas como?
Vou fechar a porta da saleta. E tranca-la.
Sim! Vou trancar a porta.
Ficarei segura aqui.
Ela segurou a maçaneta.

Uma figura apareceu á sua frente.

Tarde demais.

Janie colocou as mãos no rosto , deu um passo atrás , cambaleou e caiu no chão.
Quando a figura entrou na saleta, ela ficou perplexa.

— O que você está fazendo aqui? — gritou.

Capítulo 24:

— Janie, o que há de errado? — berrou Ian.


Ele correu para ajudá-la a se levantar.

— Ian,é você — gemeu Janie.

— Janie , o que você está fazendo? — perguntou Ian.


Então ele viu Faith.
Ele ficou petrificado, sem se mover, nem piscar, como se aquela cena de horror o tivesse
paralisado.

— Oh! — Um grito estranho escapou de seus lábios. Ele caiu de joelhos no tapete. Os seus
óculos caíram no chão, mas ele não se importou em recuperá-los.

— Eu acabei de falar com ela ao telefone. — disse ele a Janie.

— Eu também — disse Janie baixinho, sentando-se no sofá.

— Ela queria me dizer alguma coisa sobre Ross. Então eu corri. A porta estava aberta eu...
— as palavras dele acabaram num soluço.
Ian andou pelo tapete, por trás do bastão manchado de tinta.
Ele se abaixou até Faith para ouvir seu coração.
— Ian , ela está morta! — gritou Janie.
Ian pegou seus óculos, depois levantou-se trêmulo.

— Temos que chamar a polícia — disse ele.

— Já chamei.

— Temos que chamar a polícia — repetiu ele , olhando para Janie sem vê-la

— Ian, ouça-me — disse Janie calmamente. — Já chamei a polícia.

— Porque Ross também a matou? — perguntou Ian

— Não sei — disse Janie, sentindo lágrimas quentes rolarem em seu rosto.

— Temos que chamar a polícia — disse Ian.

— Ian, por favor. Sente-se aí. Já chamei a polícia.

— Mas nós temos que chamar a polícia — disse Ian, seu corpo inteiro tremendo.

Janie emitiu um suspiro de alívio quando as sirenes surgiam bem alto e se aproximavam.
O enterro foi dias depois no Malsoléu de Shadyside. As aulas foram suspensas naquela
manhã para que os amigos e colegas de classe de Faith pudessem comparecer.
Sentada no fundo da capela, Janie observava todas aquelas flores , tão brilhantes e coloridas
, tão impróprias para aquele dia trágico.
Na frente , ela viu a mãe de Faith, que voou da Suíça para para o enterro, de mãos dadas
com o pai dela, silenciosos e contraídos de dor.
Paul sentava-se a algumas filas á frente de Janie. Ela o viu enxugar as lágrimas.
Ele realmente gostava dela, pensou Janie, limpando os olhos com um lenço de papel.
Ian sentava-se na mesma fileira de Paul, com o rosto de um amarelo doentio e olheiras
escuras sob os olhos.
Os amigos de Faith estavam ali e haviam muitos, todos silenciosamente lhe prestando a
ultima homenagem.

Ross não estava.

Janie não o via desde a tarde em que ele retirou o cachecol de Eve do bolso de sua jaqueta e
lhe deu como um lúgubre troféu.
Janie ouvira Qua a polícia estava atrás dele. E também os seus pais.

Ninguém sabia de Ross.

A última sirene tocou indicando o fim de mais um dia escolar.


Janie abriu o seu armário e começou a aguardar alguns livros em sua mochila.
Virou-se para ver Paul caminhando rapidamente em sua direção , com o equipamento de
basquete sobre o ombro, esquivando-se dos estudantes que lotavam o corredor como se eles
o estivessem marcando em pleno jogo.
Ele diminuiu o passo quando viu Janie, hesitou , depois parou.
Eles não se falavam desde o funeral de Faith três dias antes.
Na verdade, eles nunca foram muito amigos.
Paul murmurou um “oi”.
Ela perguntou como ele passava.

— Bem, eu acho — disse ele sem jeito.


Eles se olhavam constrangidos, incapazes de dizer qualquer coisa.

— Tenho que ir — disse Paul, colocando o seu uniforme de basquete no outro ombro.

— Eu também — disse Janie. — Até mais.


Janie observou-o caminhar até o ginásio. Ela se lembrou subitamente da briga a que assistiu
entre Faith e Paul. Nunca descobriu que história era aquela.
Isto já não importa, pensou amargurada.
Ela jogou a mochila nas costas e fechou a porta do armário.
Andando em direção á porta , pensando ainda em Paul, ela deu um encontrão justamente
em Jordan Blye.

— Oh!

— Desculpe!

— Oi. Acho que a gente nunca se encontrou. Sou Janie Simpson.

— Eu sei — disse Jordan com um aceno que fez os seus cabelos louros cacheados
balançarem. — Você era a melhor amiga de Faith , não era?
Janie assentiu.

— Você tem um minuto? Queria falar com você.

— É sobre Ross, não é? — perguntou Jordan asperamente.


— É , é sobre ele.

Um grupo de jogadores de basquete passou por elas em direção ao treino. Eles abriram a
porta dupla do ginásio e deixaram escapar para os corredores o som de muitas bolas
quicando.

— Que tal uma volta pelo parque? — sugeriu Janie, dirigindo-se á porta dos fundos.
O parque da escola ficava atrás do prédio e estendia-se até o rio Conononka.

— Hoje não está tão frio. É quase primavera.


— Eu mal posso esperar pela primavera — disse Jordan. — Este inverno foi longo e
terrível.
Estava mais frio lá fora do que Janie imaginou. Uma rajada forte de vento rodeou-as
enquanto caminhavam. Janie puxou o capuz de seu casaco.
Elas passaram pelo estacionamento dos professores, pelo campo de futebol , pelo campo de
beisebol , falando trivialidades sobre aulas e professores.
Janie parou de repente olhou para atrás.

— O que é? — perguntou Jordan , olhando nervosa sobre os ombros.


— Só uma impressão que eu tive — disse Janie. — De que estávamos sendo seguidas.

Elas continuaram a caminhar pelo bosque. Sobre sua cabeças os galhos das árvores ainda
estavam nus e quebradiços, tão frágeis e vulneráveis quanto Janie se sentia.
Mas o parque estava vazio.

— Desculpe, estou tão nervosa — disse Janie. — É que...

— Você está com medo de Robert , não é? — interrompeu Jordan.

— Quem? — Janie ficou confusa. — Robert?

— Robert. Ou Ross — disse Jordan . — Eu contei a Faith que estudei com ele no ano
passado em New Brighton. Só que o nome dele não era Ross. Era Robert Kingston. Nós o
chamávamos de Robby.

— Robert Kingston? O que? Não estou entendo nada.

— Ele mudou de nome este ano — disse Jordan.

— Tem certeza de que a gente está falando da mesma pessoa?

— Tenho certeza — repetiu Jordan. — Você não confunde um cara como Robby.
— Por que ele mudou de nome? — perguntou Janie, parando de andar para encarar Jordan.

— Não tenho certeza — respondeu Jordan. — Eu acho que é por causa da antiga namorada
dele de New Brighton.

Confusa , Janie observava a expressão de Jordan.

— Por que alguém trocaria de nome só porque terminou com uma antiga namorada?

Jordan fez uma apusa, como se avaliasse se devia ou não continuar a falar. Ela respirou
profundamente.

— Eles não terminaram — disse ela. — Ele a matou.

Capítulo 25:
Janie teve uma vertigem. Sentia a respiração presa na garganta.
Ela se deixou cair num toco baixo de árvore e largou a mochila no chão.
Jordan estava de pé diante dela, com uma expressão inflexível.
O capuz caiu de sua cabeça, mas ela nem tentou recolocá-lo. Agora que começaram
A conversar, precisava de força para continuar.

— A namorada de Robby se chamava Karen Anders. Ela saiu com ele por alguns meses,
eu acho. Mas soube que haviam terminado. Em seguida Karen foi assassinada. Assassinada
num bosque a poucos quarteirões da escola.
Janie sacudiu a cabeça e depois olhou para Jordan.

— E Ross foi preso?

— Não — respondeu Jordan. — Foi interrogado. Mas ele tinha um álibi. A polícia o
soltou. Mas todos na escola sabiam que foi ele quem a matou.

— Sabiam? — perguntou Janie, sentindo a cabeça explodir ao ouvir esta história chocante.

— Sim. Você sabe como as histórias se espalham — disse Jordan, arremessando os


cabelos para trás dos ombros com as mãos vestidas com luvas. . — Todos sabiam que
Robby a matara. Ele ficou muito abalado, mas todo mundo sabia que ele era o assassino.

Nuvens negras cobriram o céu, anunciando uma tempestade. O parque escureceu. Os


galhos nus das árvores tremiam com o vento rodopiante.

— Uau — exclamou Janie sacudindo a cabeça.


Secretamente , ela pensava. Como pude ficar tão atraída por este crápula? Como pude
deixar um assassino me beijar?

— A polícia de New Brighton nunca desvendou o assassinato de Karen — continuou


Jordan — Mas todo mundo na escola poderia Ter dito que foi Robby. Ele se meteu em
outra confusão depois do crime. Estava num carro roubado com um bando de garotos.
Disse que não sabia que o carro era roubado. Mas quem iria acreditar?

Jordan fez cara de nojo.


— Ele é perturbado. Oos pais dele se mudaram parra Shadyside logo em seguida. Para dar
uma nova oportunidade a Robert , eu acho. Talvez por isso tenha mudado o nome para
Ross. Gabriel é o nome de solteira de sua mãe. Queria recomeçar.
— Um novo começo — disse Janie amargurada. Um soluço escapou de seus lábios.. —
Um novo começo. Ele veio para cá e matou as minhas duas melhores amigas.

Uma chuva gelada caiu no rosto de Janie. Sobressaltada, ela deu um pulo como se tivesse
levado um tiro. A chuva caia grossa no chão.
Jordan colocou a mão nos ombros de Janie para reconfortá-la.

— Ele provoca tragédias aonde quer que vá. — disse ela baixinho. — A polícia vai pega-
lo, Janie. Nnão se preocupe.
— Eu estou preocupada! — admitiu Janie. Eu estou muito preocupada. E se ele voltar,
Jordan? E se ele voltar para me pegar?

Os trovões estouravam enquanto Janie caminhava de volta para casa. O ziguezague


luminoso de um raio cortou o céu cor de carvão.
Janie ajeitou a mochila nas costas e baixou a cabeça para evitar o temporal.
Muito frio. Estou com tanto frio, pensou. Frio como a morte.
Ela atravessou a Park Drive e começou a correr. A chuva estava apertando agora. corria
formando um riacho perto do meio fio.
Uma luz pálida apareceu diante dela. A princípio Janie pensou que fosse um novo
relâmpago. Mas quando as luzes se aproximaram, ela viu que eram faróis de um carro.
Ela parou de correr e virou-se, tentando enxergar através da cortina de chuva.
Viu um carro azul se aproximar.
Um pequeno carro azul.
O carro de Ross!

— Não! — ela gritou bem alto, começando a correr.


A janela do carro se abriu.
— Quer uma carona? — disse uma voz desconhecida.
Ela se virou para ver um homem jovem com um casaco preto de beisebol sorrindo para ela.
— Quer uma carona?
Janie deu suspiro de alívio. Não era Ross. Obrigada meu Deus por não ser Ross.
Ela hesitou. Queria sair da tempestade , mas não conhecia aquele cara.
— Não, obrigada. — teve que gritar para superar o barulho da chuva.

— Vamos, beleza. Eu não mordo — disse o homem sorrindo.


— Eu disse não, obrigada — insistiu ela.
— De verdade, eu não mordo. A menos que você queira que eu morda! — gargalhou.

— Vá para o inferno! — berrou Janie.


— Vá enfrente e afogue-se ! — gritou ele com raiva. As janelas se fecharam. O carro azul
arrancou veloz, os pneus fazendo uma marola com a água da chuva.

Que crápula, ela pensou. Percebeu que estava tremendo. Por que será que havia tantos
crápulas no mundo?
Janie abaixou a cabeça e começou a correr na chuva.
Precisava de um banho quente, pensava.
Um novo raio , depois uma forte trovoada, fizeram o chão tremer.
A chuva escorria pelo seu rosto. Não podia ver nada. O mundo era uma enorme mancha
cinzenta. Fria e úmida.

Correu direto para ele.


Ele agarrou a manga de seu casaco.
— Ross! — gritou ela.
Os olhos escuros ardiam ameaçadores dentro dos dela. Apertando-lhe os braços disse:
— Entre no carro.

Capítulo 26:


— Ross, o que você quer? Deixe-me ir! — gritou Janie.
Ela lutou para se libertar , mas ele a apertou ainda mais.
— Entre no carro — repetia com os dentes cerrados.
Ela viu o Civic azul atravessado na rua, a porta do motorista aberta, o motor ligado.
Ross disse algo mais, porém o ronco de um trovão abafou suas palavras.

— Deixe-me sozinha! Vá embora! — gritou Janie em pânico.


Como eu pude me envolver com ele?, pensava. Como pude ficar tão louca por ele?

— Eu só quero falar — insistiu ele.

— Você está me machucando! — disse gritando.

Os olhos dele se arregalaram. Seus cabelos escuros estavam pingando. A água escorria pelo
rosto.

— Deixe-me! — ela se livrou dos braços dele e começou a correr.


Mas escorregou no chão molhado.
Ele a agarrou pela cintura e a levou para uma marquise de ônibus.
A chuva fazia um enorme barulho sobre o telhado da marquise. Ele a empurrou contra a
parede.
— Não! Por favor! — gritou
— Qual é o seu problema? — perguntou ele de olhos arregalados, o rosto contraído de
raiva. — Pensei que podia falar com você!

— Não! — gritou Janie , tomada pelo medo.


— Você está agindo como louca desde que eu tentei devolver o seu cachecol! — gritou ele
tentando sobrelevar ao barulho da chuva.
— MEU cachecol? — — gritou Janie. — MEU cachecol?
Será que ele é completamente louco?, pensava ela, louco o suficiente para me matar aqui no
meio da rua?
Tenho que falar com ele, decidiu-se. Se eu o deixar falar , talvez alguém me salve.
— Onde você esteve? — perguntou ela.
— Dirigindo — disse ele pressionando os ombros dela contra a parede da marquise. —
Dirigindo por vários dias. Fiquei num motel perto de New Brighton. Quando soube de
Faith fiquei perdido. Tive que fugir. Tinha que tentar alguma coisa.
Mas você a matou. Pensou Janie.
Incapaz de conter a fúria ela gritou:

— Por que você a matou? Por que?

Os olhos dele se contraíram. Uma trovoada foi a sua resposta.


— Porque você está me acusando? — perguntou Ross.

— Oh, Ross... Você é um impostor. Sei da verdade a seu respeito — disse ela. — Seu
nome nem mesmo é Ross Gabriel!
Ela pode perceber a sua surpresa.

— Você sabe? — perguntou ele.

— Eu vou te ajudar, Ross — ofereceu ela.

— O que?

— Vamos chamar a polícia — disse Janie — Nós vamos te ajudar. Você precisa de ajuda,
Ross. Você precisa de alguém para...

— Cala a boca! — gritou ele — E pare de brigar comigo!

— Está bem, está bem — concordou Janie.


Só estou fazendo ele ficar furioso, percebeu Janie. Ela olhou para a rua por cima de seus
ombros. Por que não passava ninguém? Por que não havia ninguém para livra-la dele?
Uma luz iluminou a parada de ônibus.

— Vamos para o carro — ordenou ele.


Estava com muita raiva, pensou Janie. Foi essa raiva que o fez matar Eve e Faith.

— Não , Ross! Por favor! — implorou Janie.

— Vamos para o carro. Não vou te machucar. Só quero falar. PRECISO falar com você,
Janie !

— Não, não posso Ross! — seu corpo inteiro tremia. O coração disparava de medo.

— Janie você está me aborrecendo. Eu...

— Vejo você mais tarde! — mentiu ela.


Eu tenho que me livrar dele agora pensou. Tenho que chegar em casa.

— Você me encontra? — seus olhos a estudavam com desconfiança.


— Sim. Mais tarde — disse ela — Podemos conversar mais tarde.

Vou para casa e chamo a polícia, disse a si mesma. Vou dizer a polícia onde encontra-lo.
Não há a menor chance de eu ir encontrar com ele. Nenhuma chance.

— Onde? — perguntou — Onde você vai se encontrar comigo?


— Ah...no shopping — disse ela, pensando rápido. — Na pizzaria. Aquela. Que tal ás oito
horas? Encontro com vocÊ lá ás oito. — As palavras saíam de sua boca numa voz que nem
ela própria reconhecia.

Ele a deixaria ir. O ódio parecia Ter desaparecido dos seus olhos
— Desculpe-me — murmurou ele. — Não machuquei você, não foi?
Ela sacudiu a cabeça negativamente.
Será que ele está me deixando ir?, pensou. Meu plano dará certo?
— Eu não estou com a cabeça no lugar — disse ele — Ando tão atordoado...

Ele é realmente maluco, percebeu Janie. Doente e louco.


— Deixe eu te levar em casa — ofereceu.
Agora ele era aquele que ela conhecia, pensava Janie, olhando-o fixamente. Quando o ódio
ia embora, era um cara diferente. Deve ser duas pessoas numa só. Robert... Ross... Dois em
um.
— A chuva está quase parando. Quero andar até em casa. — disse ela.
Os olhos dele se apertaram de desconfiados.
— Mas você promete que me encontra ás oito, promete?
— Prometo.

Ela o observou se afastar do ponto de ônibus, as costas apertadas contra a parede até que ele
batesse a porta do carro e fosse embora.

Estou salva, pensou


Fiz ele ir.
Estou salva por enquanto.
Respirando com dificuldade, o coração ainda aos saltos, ela afastou os cabelos molhados da
testa e recolocou a mochila nos ombros.

Em seguida correu para casa.

O bilhete na geladeira dizia que sua mãe tinha algumas compras a fazer. Depois pegaria seu
pai no aeroporto e estaria em casa por volta das 18:30h.
Janie arremessou a mochila e o casaco molhado no chão da cozinha. Ela suspirou
desapontada. Queria conversar com sua mãe. Não queria ficar sozinha naquele momento.
Muito tensa, foi até á cozinha e pegou o telefone próximo ao balcão da pia.
A polícia pegará Ross, assegurava-se.
Eu estarei bem.
Botou o telefone no ouvido.
Mudo. Não havia sinal algum.
Ela apertou o gancho várias vezes.
Mudo .
Aquilo ocorria sempre que chovia. As linhas emudeciam com a tempestade.
Janie respirava com dificuldade, tentando afastar o pânico que a invadia.
Estou totalmente só aqui, percebeu.
E o telefone está mudo.
Totalmente mudo.
Ás oito e meia Janie andava nervosa de um lado para o outro na sala de sua casa. As
cortinas estavam fechadas diante da janela. E as luzes da casa estavam acesas. Onde
estavam seus pais?
Pensou .
Ela pegou novamente o telefone pela milésima vez. Ainda mudo.
Com um gemido de irritação, ela o jogou de volta no gancho. Ross ainda devia estar no
shopping , pensou. Já deve Ter percebido que eu não vou encontra-lo.
E então onde estão meus pais? Eu preciso deles. Não quero ficar sozinha.
Ela cruzou os braços no colo, tentando se aquecer. O banho quente não ajudou. Tampouco
as roupas secas ou a suéter grossa que colocara sobre a camiseta.
Parou de andar quando ouviu passos na porta da frente.
— Finalmente! — gritou bem alto. — Finalmente vocês chegaram! — ela abriu a porta da
frente.
O seu sorriso desapareceu na hora. Ela se engasgou.

— Ross!

Ele tinha um olhar hostil, o rosto meio escondido sob a luz amarelada e ofuscante do
alpendre.

— Você esqueceu do encontro? — ironizou.

— Você não pode entrar! — gritou Janie — Meus pais estão dormindo lá em cima. Você
vai acorda-los!

Ela tentou fechar a porta, mas Ross a impediu com o pé.

— Não se preocupe — disse ele friamente. — Serei bem silencioso.

Capítulo 27:

Ross avançou para dentro da casa e fechou a porta atrás dele. Janie entrou na sala.

— Onde você estava? Perguntou ele, abrindo o bolso de sua jaqueta enquanto andava em
direção a ela. — Fiquei preocupado quando você não apareceu!
— Ouça Ross... — Janie começou a dizer. Os olhos percorriam a sala em busca de algo
que pudesse usar como arma.
— Não, você ouve.
— disse ele friamente, enfiando as mãos nos bolsos.

Ela olhou para o relógio da entrada. Mamãe e papai, onde vocês estão? Venham rápido por
favor!
— Eu vi a expressão do seu rosto — disse Ross irado. — Vi como você está apavorada.
Sei o que você está pensando. É o mesmo que todos estão pensando. Por isso você não foi
ao encontro comigo , não é? Não é?
— Não! — gritou Janie, incapaz de esconder o seu terror. — Eu esperava uma carona. De
Paul. Foi isso. Paul me levaria até o shopping. Mas não apareceu.
Ross sacudiu a cabeça amargurado.
— Você é uma péssima mentirosa Janie, não devia nem tentar mentir.
— Não estou mentindo! — insistiu ela.
Ele deu alguns passos em sua direção. Ela olhou novamente o relógio. Onde estão meus
pais? Onde?
Quando ela se voltou , Ross havia puxado o cachecol do bolso de sua jaqueta.

Ele o sacudia nas mãos.


Janie afastava-se enquanto Ross vinha em sua direção.
— Ross, o que você vai fazer? — ela gritou

Capítulo 28:

Ross deu um passo em direção a Janie. Depois jogou com raiva o cachecol azul sobre ela.
Ela não se esforçou para pega-lo. Ao contrário, afastou-se dele.
— Aqui está o seu cachecol! — gritou ele. — Eu não entendo. O que eu fiz de errado? Por
que este cachecol ridículo te virou contra mim?
Será possível que ele não sabia? , pensou Janie. Que não se lembre de que matou Eve e
pegou seu cachecol?

— Este cachecol não é meu!!! — disse ela com voz trêmula. — Este... — ela abaixou os
olhos até o chão e subitamente o reconheceu. — É meu! — gritou, levando as mãos ao
rosto.
Não era de Eve. Era o cachecol que Janie usara na noite em que ela e Ross foram a White
Castle.
— Você deixou no meu carro naquela noite. — disse Ross em voz baixa, olhando para a
peça caída no chão. — O que eu fiz então de errado?
O coração de Janie disparava. Podia sentir o seu rosto fica4r todo vermelho.
— Diga-me — insistiu Ross.
Ele está fora de si, imaginava Janie. Eu me equivoquei. Mas isso não significa que eu esteja
enganada também com relação a ele.

Ela o olhava sem conseguir esconder o pânico.


— Eu posso te matar se você não acreditar em mim! — gritou Ross.
Claro. Eu sei que você pode matar, pensava Janie. O que eu posso fazer? Como poderei
salvar a minha vida?
— Não sou um assassino — disse ele baixinho, aproximando-se, empurrando-a contra o
sofá. — Você descobriu a história da garota em New Brighton?
— Sim — admitiu — Eu ouvi...
— Eu não a matei. Eu estava dando um pequeno passeio no bosque. E a encontrei. É tudo.
Ela já estava morta. — ele retirou os cabelos negros da testa com uma das mãos.
Por que não acredito nele?, perguntava-se Janie. Por que estou tão certa de que ele é um
mentiroso?
— Os boatos começaram — disse Ross amargurado. — Eles me perseguiam. Os
estudantes da escola. Eles foram brutais. Eu e minha família tivemos que nos mudar. E
agora, tudo acontece de novo.
Que vigarista, pensou Janie. Será que ele realmente acredita nessas mentiras que está me
contando? Será que é louco a este ponto?
— Eu não matei Eve. Não matei Faith — disse Ross , começando a andar de um lado a
outro em passos longos e rápidos. — Não as matei. Não as matei — dizia ele numa
marcada canção.
Ele é maluco. Maluco e perigoso, dizia Janie a si mesma, chegando para a beira do sofá.
— Por que você não acredita em mim? — perguntou Ross, interrompendo os passos para
encara-la. — Por quê Janie?
Ela não respondeu. Apenas sustentava o olhar, pensando rápido, tentando descobrir um
jeito de escapar dali.
— Eu disse á polícia — continuava Ross, de pé contraído, os braços tensos como se
estivessem preparados para agarra-la. — Disse eles hoje á tarde. Eu não matei ninguém.
Por que eles ficam me chamando e me fazendo cada vez mais perguntas?
— Você foi á polícia hoje á tarde?
Ele assentiu.
— Eles não querem me deixar em paz. Contei a eles que estava na casa de meu primo em
Waynesbridge quando Faith foi assassinada. Meu primo confirmou.

Ele é seu primo, inventaram esta história para discriminar Ross, percebia Janie. A polícia
teve de deixa-lo solto.
Agora não há motivo para chamar a polícia, pensou Janie com tristeza.
— Você está apavorada comigo — acusou-a Ross de repente. Janie não sabia o que dizer.
— Olhe para você. Você está aterrorizada — disse ele, apontando para ela
desdenhosamente.
— Não! Não estou! — Protestou Janie.
O que ele fará agora? , perguntava a si mesma. Por que ele está fazendo fazendo isso tudo?
— Você está totalmente apavorada — disse Ross com um estranho sorriso no rosto.
— Ross, apenas dê o fora, está bem? — sugeriu ela, tentando manter a voz alta e firme. —
Apenas vá para sua casa.
Ela podia ver a dor em seus olhos. E depois o ódio.
Quando ele se abaixou para pegar o cachecol azul, ela saltou do sofá, passou correndo por
ele e voou até a sala da frente.
— Ei! — gritou ele com raiva. Ela podia ouvi-lo lutar para alcançá-la.
Ela escancarou a porta , empurrou-a violentamente com o ombro e, ofegante, saltou os
degraus da entrada.
Naquela noite fria, o chão da rua ainda estava molhado da tempestade da tarde.
O seu tênis patinava na calçada escorregadia. Ela ofegava bem alto, soltando fumaça.
Fuja dele. Fuja dele.
Ela já estava a meio caminho da rua quando ele a agarrou pelas costas.
Ela deixou escapar um gemido de dor quando caiu no chão molhado. Ross caiu á sua frente.
— Você não vai a lugar algum — resmungou ele, com a respiração quente em seu ouvido.

Capítulo 29:
— Por favor, deixe-me ir — implorou ela.
Ele se desvencilhou dela e ficou de pé rapidamente. Ficou a sua frente , ofegante.
— Você não vai fugir — repetiu ele. — Até que me diga por que não acredita em mim.

Janie ficou de joelhos. A água fria da chuva penetrava pelo jeans ensopado. O seu cotovelo
doía, ela havia caído sobre ele.
— Diga-me, Janie — disse Ross suavemente, agora abaixando a voz. — Por favor me
diga...
Ele oscila descontrolado entre raiva e a loucura, imaginava Janie. Não sabe decidir se berra
ou suplica. Está dividido. Robert... Ross. Robert ... Ross.
Só sei de uma coisa com certeza. Ele não vai me deixar ir embora. Ele é louco e não vai me
deixar fugir.
Uma luz branca a deixou cega e a fez gritar. Ela agarrou a sua nuca. Por um instante achou
que Ross lhe dera uma pancada e ele via estrelas.
Mas percebeu que aquela luz eram os faróis de um carro. Os seus pais finalmente chegavam
em casa, finalmente apareceram na rua.
— Ross! São meus pais! — disse ela — Meus pais estão ai!
Para a surpresa de Janie, Ross desapareceu.
Quando alarme tocou na manhã seguinte, Janie acordou com uma sensação horrível de
pavor. Cobriu a cabeça com os cobertores na tentativa de abafar as vozes de seus pais que
já se acomodavam no andar de baixo.
Não queria ir á aula naquela manhã. Tinha medo que Ross estivesse por lá, esperando por
ela.
Percebeu que estava com mais medo dele do que nunca. Ela o viu em seu pior estado. Viu o
seu lado mais violento na noite anterior.
Por que a polícia o deixou solto? Por que a polícia não via o quanto ele era perigoso? Por
que sempre acreditava em todos os seus álibis?
Não vou me sentir tranqüila até que Ross esteja fora de circulação, percebia. Não vou me
sentir segura até que ele seja preso.
Com absoluta certeza ele iria atrás dela na escola nos intervalos de todas as aulas. Quando
Janie o viu vindo em sua direção , trancou-se no banheiro de meninas até que tocasse a
sineta.
Deixe-me em paz, Ross. Por favor , deixe-me em paz, pensava em silêncio.
Mais tarde ela teve que correr para o restaurante quando ele tentou falar com ela. E faltou a
aula de laboratório, trancada na biblioteca , por que sabia que Ross estaria lá esperando.
Depois das aulas, Janie colocou rapidamente os seus livros na mochila, ansiosa para deixar
logo o prédio. Ela bateu a porta do armário , trancou-o e correu para a porta principal.
E lá estava ele
Ross havia justamente o corredor com os olhos fixos nela. Usava uma suéter negra, sobre
jeans negros. Os cabelos escuros caíam na testa.
Janie deu meia-volta enlouquecida. Tentava fugir dele desesperadamente.
Os corredores estavam praticamente vazios. Um grupo de alunos conversava de pé perto da
saída dos fundos. Uma garota que saíra na última aula procurava algo no fundo de seu
armário.

— Janie — disse Ross. — Espere.


Ela se virou e começou a andar em direção contrária.
— Espere! — chamava Ross.
Ela o ouvia correr atrás dela. Começou a correr também.
— Janie! — chamava ele com raiva, bem perto logo atrás dela.
Ela dobrou o corredor e ouviu gargalhadas.
— Paul! — gritou ela sem fôlego.
Paul e dois amigos do time de basquete estavam rindo alto de alguma coisa. Eles pararam
quando viram a expressão de Janie.
— Ei, espere! — Ross dobrou o também corredor. Ele parou na hora e arregalou os olhos
ao ver Paul e os dois amigos.
— Deixe-a em paz, cara — disse Paul, parando diante de Janie. Ela ofegava, lutava para
respirar normalmente.
A expressão de Ross se endureceu. Janie pôde ver suas mandíbulas se contraírem.
— Só quero falar com ela — disse Ross suavemente.
— Deixe-a em paz — repetiu Paul , de modo ameaçador.
Ele se moveu rápido na direção de Ross, seus dois amigos logo atrás dele.
Janie se recostou numa parede.
Ross levantou as mão para o alto como se estivesse rendido.
— Ei, não quero confusão alguma — disse ele, dando um passo atrás.
— Você é a confusão — gritou Paul. — Sabe de uma coisa? Eu estava esperando por isso
há muito tempo.
— Opa! — berrou Ross.
Janie engasgou-se quando Paul soltou um grito de ódio e desferiu um soco violento no
estômago de Ross.
Ross abriu a boca num silencioso protesto. Seus olhos saltaram, seu rosto ficou roxo.
Segurando o estômago, caiu de joelhos.
— Dê mais um — disse um dos amigos de Paul.
Não posso suportar isto, pensava Janie, sentindo-se muito mal. Não posso suportar isso.
Sua mochila caiu pesadamente no chão. Começou a correr.
Podia ouvir os gritos de exitação dos garotos atrás dela. Mas ela não podia olhar para trás.
Corria o mais rápido que podia. Para fora da escola. Pelo estacionamento. Pelo dia frio e
cinzento de uma outra tarde de chuva.
Não posso suportar. Não posso.
Correu pelo parque atrás da escola, o tênis batendo firme no chão duro.
Correu até que uma dor aguda a fez parar. Tentando respirar , recostou-se num tronco de
árvore.
Era o mesmo tronco sob o qual conversara com Jordan Blye. Foi ali que Jordan revelara a
terrível verdade sobre Ross.

Escondendo a cabeça nas mãos , Janie começou a soluçar. Os ombros sacudiam-se


violentamente enquanto ela chorava.
Chorava por Eve. Chorava por Faith.
Chorava de medo.
Deveria haver um jeito de provar que Ross era culpado, pensava arrasada. Deve haver um
jeito de provar que ele matou minhas amigas. Minhas melhores amigas.
Deve haver um jeito de mostrar á polícia que foi ele.
Mas como? Como?
Sozinha no parque imerso em silêncio, Janie chorou por um longo período. Quando ela
finalmente parou e levantou a cabeça, o céu escurecia. As árvores farfalhavam negras sobre
sua cabeça, sob o céu de carvão.
— Tenho que ir para casa — disse ela, suspirando exausta. Lembrou-se então de sua
mochila. Ela a tinha deixado no meio do corredor da escola. Será que anda estava lá?
Enxugando as lágrimas do rosto com as mãos , correu de volta á escola. Será que a porta
dos fundos ainda estaria aberta?

Janie caminhou em direção a porta e entrou silenciosamente no prédio. Nem sinal da


mochila. Não estava onde havia deixado.
Ela dobrou o corredor em direção á entrada e ouviu vozes. A porta do supervisor ainda
estava aberta.
Ross estava de pé, de cabeça baixa. O sr. Hernandez colocava a mão sobre seu ombro. O
supervisor mantinha-se austero enquanto falava com Ross.
— Oh! — engasgou-se Janie.
Será que Ross a tinha visto?
Por um instante Janie sentiu o medo penetrar seus ossos, congelando-os. Ela se atirou na
primeira porta e a fechou.
Escuridão total.
Não era uma sala, percebeu Janie imediatamente, com o coração aos pulos. Ela tinha
e4ntrado num pequeno armário de despensa.
Fechando os olhos naquela escuridão, apoiou-se na porta com as mãos e ouviu passos.
Segundos depois percebeu que Ross e o sr. Hernandez passavam por ali.
— Não podemos tolerar qualquer tipo de violência — dizia sr. Hernandez.
Que piada, pensou Janie amargurada. Em que mundo o senhor vive sr. Hernadez? Ross já
matou três garotas!
Prendendo a respiração , chegou até o fundo do armário , o mais que pôde, enquanto eles
passavam por ali.
Alguma coisa roço suas bochechas.
Algo frio e imóvel.
Ela sentiu aqueles cabelos úmidos roçarem no seu rosto.
Levou a mão á boca para abafar um grito. Mas sabia que não poderia contê-lo por muito
tempo.
Havia mais alguém escondido ali naquele armário escuro.

Capítulo 30:

Janie parecia que ia explodir. Não podia mais conter os gritos.


Tenho que sair daqui, pensou. Sair daqui!
Tentava controlar o pânico. Pegou a maçaneta da porta e a empurrou.
A porta não abria.
Um gemido de pavor escapou de sua boca.
O cabelo roçou-lhe novamente a face.
Ela empurrou a porta. Empurrou de novo.

— Deixem-me sair daqui! Alguém me tire daqui! — tentou gritar, mas o medo sufocava a
sua voz.
Será que a porta está emperrada? Estaria ela trancada lá dentro?
Trancada com um cadáver?
Com um grito de desespero , ela arremessou o ombro contra a porta. E ela se abriu.
Caiu no corredor com uma vassoura em cima dela. Uma grande e úmida vassoura de chão.
Não um cadáver. Um esfregão.

— Foi isso que Ross fez comigo — murmurou para si mesma, enquanto a sua respiração se
normalizava. — Me apavorou tanto que vejo cadáveres aonde quer que eu vá.
Ela se tremia toda.
Jamais ficarei calma de novo, pensou. Jamais!
Ainda respirando com dificuldade, ela pegou a mochila na sala da supervisão e correu para
a casa.
O telefone tocou tão logo ela entrou em casa. Ela olhou no relógio da cozinha. Quase cinco
horas.
Onde estariam mamãe e papai?, pensou. Talvez no trabalho.
Ela pegou o telefone.

— Alô?
— Janie, sou eu, Ian. — ele parecia ofegante , excitado.
— Oi, Ian. O que há? — perguntou Janie, retirando uma lata de Coca da geladeira.
— Janie, eu encontrei a prova — disse Ian. — Verdade. Eu encontrei a prova.
— O quê? — Janie estava confusa.
— Vou já para aí — disse Ian. — Vou te pegar. E vou te mostrar. Está bem, Janie? Depois
vamos juntos entregar á polícia , certo?
— Calma, Ian — gritou Janie. — Entregar o quê á polícia?
— A prova que encontrei — disse ele sem fôlego.
— Prova? Que prova? Do que você está falando? Por que você está tão esquisito?
— A prova de que Ross matou Eve e Faith — disse Ian.

Capítulo 31:

O carro de Ian parou em frente á porta de Janie em dez minutos.


Janie escreveu precipitadamente um bilhete para os pais dizendo que estaria de volta em
alguns minutos. depois saiu correndo para encontrá-lo.

— Ian, o que você encontrou? — perguntou ela, ansiosa, pulando no carro.


Os olhos cinza de Ian brilhavam excitados por trás dos óculos. Ele usava uma suéter grossa
azul-marinho sobre calças desbotadas.
A suéter escura o fazia parecer mais pálido do que o habitual.
Ele sorriu para Janie com satisfação.

— Espere até chegarmos lá — disse ele suavemente. — Quero que você veja por si
mesma.
— Você realmente tem provas? — perguntou Janie.
Ele assentiu , conduzindo o carro em direção á avenida principal.
— Eu realmente tenho. Realmente tenho.
— Bem, onde? — perguntou Janie impaciente . — Anda Ian. O que você encontrou? Onde
está aprova? Aonde nós estamos indo?

Ele levou um dedo aos lábios , sinalizando para que ela ficasse quieta.

— Quero que você mesmo vejo — insistiu ele.


— Eu não entendo por que você está sendo tão misterioso — comentou Janie. — Isto não é
brincadeira, Ian. Se você pode provar que Ross é um assassino...
— Não se preocupe. Eu posso provar — interrompeu Ian. Ele agarrava o volante com as
duas mãos. E olhava fixo para a frente, como se estivesse ainsioso para chegar logo a algum
lugar. — Já estamos quse chegando Janie.

Ele entrou na Rua do Medo.


— Nós vamos para a casa de Ross? — gritou Janie.
Ele sacudiu a cabeça.
— Não. Não para a casa dele. Em frente á casa dele.
A pequena casa de Ross apareceu do lado esquerdo. O bosque da Rua do Medo ficava bem
em frente, do outro lado da Rua.
— Você fala do bosque? Onde encontramos Eve? — perguntou Janie, incapaz de esconder
seu espanto.
Ian assentiu , com expressão séria. Subiu com o carro em cima do gramado, aproximou-se
do bosque e desligou o motor e os faróis.
— Foi aqui que a encontramos — disse Janie fragilmente, com todos os tipos de imagens
terríveis dançando na sua cabeça enquanto ela olhava as árvores do lado de fora da janela
do carro.
— Foi — disse Ian procurando a maçaneta do carro.
— O que você encontrou aqui, Ian? — perguntou Janie. — Que tipo de prova? Ross
deixou alguma coisa aqui?
— Você vai ver. Siga-me — disse ele misteriosamente.

Janie desceu do carro, obediente. Ainda não eram seis horas da tarde ,mas o céu estava
negro como se fosse meia-noite. Alua e as estrelas estavam escondidas sob nuvens
espessas. Estava frio, mas não ventava. Nada se movia no bosque.
Ela seguiu Ian em direção ás arvores , em direção ao ponto exato onde encontraram o corpo
de Eve.

— Ian, onde é? Aqui? — perguntou ela , sentindo um calafrio percorrer-lhe o corpo.


Eu não queria jamais Ter voltado aqui, pensou com desagrado. Não queria jamais ficar ficar
neste lugar horrível.
— Ian, por favor, me diga! — gritou. — Está tão escuro. Como a gente pode ver alguma
coisa aqui?
Ele estalou os dedos.
— Ih, desculpe, esqueci uma coisa no carro — disse ele, sacudindo . — Não se mecha.
— Não... não se reocupe! — gaguejou ela. — Não demore!
Ele desapareceu na escuridão. Segundos mais tarde, Janie ouviu-o bater a bala do carro.
Depois o viu andar calmamente em sua direção, uma figura negra sob o céu escuro.

— Ian, onde está a lanterna? — perguntou ela, trêmula.


— Não há lanterna. — disse Ian suavemente. — Eu trouxe isto. A prova.
O que ele segurava para mostrar a ela?
Um bastão de beisebol?
— Ian, para que isto? Perguntou ela desconcertada.
— Esta é a prova — repetiu Ian bem baixo. Estava a um passo dela. Ele segurava o bastão
com as duas mãos e o sacudiu, forçando Janie a dar um longo passo atrá.
— Há sangue seco neste bastão, Janie — disse ele calmamente. — O sangue de Eve. Esta é
a prova, vê? Esta é aprova de quem a matou.
— Eu... eu não entendo — gritou Janie, dando mais um passo atrás. — Quem...
— Eu! — exclamou Ian. — Eu a matei! E aqui está prova!

Capítulo 32:

— Ian, o que você está dizendo? — perguntou Janie com voz trêmula. — Por que você
está dizendo isso?
— É verdade — respondeu Ian, levantando o bastão. — Aqui está prova.
Mesmo na escuridão Janie podia ver o sorriso estranho e delirante no rosto de Ian.
— Você... você também matou Faith. — Janie gaguejava.
— Tive que matar — respondeu ele calmamente. — Você estava na outra linha com Faith,
quando eu liguei para ela. Estava com ela ao telefone naquela noite. Ela estava falando de
mim.
— O quê? Não, não estava! — exclamou Janie.
— Sim estava — insistiu ele suavemente, dando um passo em direção a ela. — Estava te
contando tudo não é? Sobre o dinheiro do baile? Faith sabia do dinheiro e ela te contava.
Não é?
— Não. Nada disso — disse Janie, sentindo uma onda de pânico percorrer o corpo todo. —
Não estávamos falando de você.
— Estavam, Janie. Então tive que correr até Faith antes que você chegasse lá. Tinha de me
certificar de que Faith não iria lhe contar mais nada. Mas agora você também já sabe
demais , não é?
— Pare , Ian! — gritou Janie. — Faith e eu não falamos de você, nem do dinheiro do baile.
Nunca acreditei nem por um minuto que Eve roubara aquele dinheiro. Eu...
— Mas ela roubou! — gritou Ian, levantando a voz pela primeira vez. — Você acredita,
Janie? A Eve, tão honesta! A garota mais honesta da cidade. Ela roubou o dinheiro, Janie. E
você sabe por quê? Roubou para mim por que eu preciso ir para a faculdade.
— E aí você a matou? — gritou Janie. Estas palavras terríveis dançavam na sua cabeça. —
Por quê, Ian? Por quê?
— A Eve era honesta demais. — murmurou Ian. — Ela logo mudou de idéia. Queria
devolver o dinheiro. Queria confessar o que fizemos e devolver o dinheiro. — ele soluçava.
— Não podia fazer isso , Janie. Trabalhei demais. Não podia arranjar mais um emprego
depois do trabalho, nem devolver o dinheiro. Não sabia o que fazer.
Ele deu um passo em direção a Janie, o bastão preso em suas mãos.
— Depois do trabalho fui até a casa de Eve falar com ela. Tinha este bastão. É do Sporting
Wolrd , onde eu trabalho. Ia dá-lo de presente para o Marky, o irmãozinho dela. Mas Eve
não estava em casa. Marky me disse que ela tinha saído para um encontro com um cara.
Não pude acreditar!
— Ei, ouça Ian — gritou Janie.
— Cale a oca! — gritou ele estridente. — Eve saiu aquela noite. Com Ross. Aquilo não
estava certo. Me senti ferido, arrasado. Merecia mais do que isso. Trabalhei tão duro. Muito
duro. Eu esperei. Vi os dois no carro. Vi os dois se beijando. Ross foi embora. Eu chamei
Eve mo portão. Estava com o bastão nas mãos. Não queria matá-la. Mas estava
enlouquecido, sentindo-me traído.
Ian saltou um soluço agonizante.
— Depois que eu a matei, levei o seu corpo para o bosque. Bem em frente á casa de Ross.
Não fiz nada de propósito. Não raciocinava direito, minha cabeça estava muito confusa.
Mas sabia que poderia fazer todo mundo pensar que tinha sido Ross quem a matou. E sabia
que minha vida poderia voltar ao normal.
— E naquela manhã você me trouxe aqui deliberadamente para que nós dois
encontrássemos o corpo de Eve juntos? — perguntou Janie trêmula.
Ian assentiu.
— Então Eve morreu. Faith também — disse ele, alisando com a mão os cabelos curtos.
— E agora você, Janie — disse ele baixinho — Sinto muito. Realmente sinto muito. Mas
trabalhei muito, demais. Vou para a faculdade no ano que vem. Conquistei isto.
— Ian, não! Por favor! — implorou Janie.
— Ganhei isto, Janie — disse ele preparando o golpe do bastão. — Não posso deixar você
arruinar tudo.
— Mas Ian — murmurou Janie, recuando — Você não vai me matar! Não vai! Ross está
bem atrás de você — ela apontava desesperada sobre os ombros de Ian.
Ian deu uma gargalhada sarcática.
— Realmente, Janie. Você poderia mentir melhor do que isto.
— Vire-se, Ian — insistiu Janie. — Ross está atrás de você.
— Você acha que eu sou estúpido? — gritou Ian com raiva.
— Abaixe este bastão Ian — disse Ross.
Mesmo na escuridão Janie podia ver a tenssão no rosto de Ross.

— Você! — gritou Ian, virando-se surpreendido.


Com um grito furioso, jogou o bastão para trás e o arremessou com toda a força, golpeando
Ross.
Janie fechou os olhos.
Ouviu um estalo de algo quebrando-se quando o objeto atingiu o alvo.
Ouviu o assustado gemido de dor de Ross.
Quando ela abriu os olhos, Ross estava estirado no chão e Ian avançava em sua direção ,
com o bastão firme preso às mãos.

— Capítulo 33:

Ian levou o bastão para trás de seus ombros, reparando o golpe.


Janie deu um passo atrás , quase tropeçando na raiz de uma árvore. Atrás de Ian, estava
Ross estirado de costas, sem vida.

— Ian, você matou TODOS os meus amigos! — berrou Janie. — Todos eles!
Ian arremessou o bastão.
Com uma fúria que ela nem sabia que poderia sentir, desviou-se da pancada e atirou-se
sobre Ian.
Com um grito selvagem ela o agarrou pelos ombros , deu-lhe uma rasteira e o atirou no
chão.
Isto é por Eve. Isto é por Faith. Isto é por Ross, pensou.
Ela pegou o bastão e abaixou-se sobre Ian. Enquanto ele lutava para se levantar , ela o
empurrou com o bastão para o chão e o pressionou contra a sua garganta.

— Não posso respirar! — murmurou ele.


Ela empurrava o bastão sobre sua garganta com toda a força.
Empurrava. Empurrava e segurava firme, esmagando-o, deixando-o caído, caído na lama.
Por Eve, por Faith e por Ross.
Para a surpresa de Janie, ela ouviu um gemido de dor. Ainda segurando Ian no
chão, viu Ross levantar-se lentamente.

— Ross... Você está vivo! — gritou Janie feliz.

— Estou? — perguntou ele meio tonto. Ele ficou de pé e esfregava o ombro com uma das
mãos.
— Me ajude — suplicou Janie. — Não posso segurá-lo por muito tempo.
Movendo-se com dificuldade, Ross jogou-se sobre o peito de Ian.
Ian gemeu indefeso, imobilizado no chão.
Janie encostou a cabeça nos ombros de Ross.

— Ouvi um estalo. Pensei que ele tinha quebrado a sua cabeça. Pensei..

— Ele errou a pontaria do bastão — disse Ross — Acertou o ombro apenas. — ele
baixou os olhos até Ian. — A força estava razoável, mas sua pontaria é uma porcaria. Você
não joga muito beisebol, não é?

Ian deu resmungo de ódio como resposta.

— Ross, como você sabia que estávamos aqui ? — perguntou.


— Eu estava dirigindo por aí, tentando colocar as minhas idéias no lugar — disse ele. —
Voltava para casa quando vi vocês dois entrarem no bosque. Tinha que ver o que estava
acontecendo então segui vocês.
— Estou tão feliz — disse ela.

Ross sorriu. Era a primeira vez que ela o via sorrir. Tinha um belo sorriso, decidiu Janie

— Você foi fantástica quando correu de mim — disse ele. — Vamos ver se você é rá pida
também para para ir até lá em casa e chamar a polícia.
— Está bem. — Janie deu um salto , arremessando o bastão no chão. Começou a correr até
a rua. No meio do caminho , parou e voltou-se.

— Ross, nunca mais vou correr de você! — disse.


Ela voou até a Rua do Medo para chamar a polícia e dar um fim a todo aquele horror.

FIM

Créditos: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=34725232

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