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A ARTE DE DESDOBRAR-SE.

A cultura de muitos povos antigos fala da existência de um segundo


corpo do homem, capaz de desprender-se do físico e viajar para
lugares distantes ou outros planos de vida.

O desdobramento ou, segundo Waldo Vieira - autor do livro


Projeciologia -, a projeção da consciência fora do corpo humano é
um "fenômeno antigo e universal, de todas as épocas, raças e povos,
mesmo daqueles considerados não-intelectualizados, atrasados ou
selvagens. Ele é encontrado nas primeiras narrativas da Antigüidade
Clássica (...), bíblica, egípcia e babilônica, nas crônicas sacras do
Oriente, aparecendo tanto no homem ignorante como nos sábios e
intelectuais, na qualidade de faculdade natural, biológica, ou seja,
de origem fisiológica". Enfim, a projeção consciente é semelhante, em
muitos aspectos, a diversos outros estados alterados de consciência,
tais como o devaneio, o pesadelo, o sonambulismo, o sonho, o sono,
etc."

Esse segundo corpo que se projeta recebe um nome distinto em cada uma
das culturas antigas. Os hebreus o chamavam ruach; os egípcios, o ka,
replica exata do corpo físico, mas menos densa; os gregos o
denominavam ameidolon; os romanos, larva; no Tibete, bardo; na
Noruega, fylgja, enquanto os antigos bretões lhe davam vários nomes -
fetch, waft, task, fye.

Na China, o thankhi abandonava o corpo durante o sonho e podia ser


visto por outras pessoas. Os antigos chineses praticavam a meditação
para liberar o segundo corpo, que se formava no plexo solar, pela
ação do espírito. A sua saída pela cabeça aparece representada em
desenhos antigos. Os antigos hindus falam do segundo como
pranamayakosha. Os budistas lhe chamam rupa.

Waldo Vieira diz que nos tempos antigos a projeção só era revelada
aos iniciados e conseguida através da prática de certos rituais
secretos, cujas técnicas se perderam ao longo dos séculos. Hoje
restam apenas as tradições orais.

Na Bíblia também não há descrições das técnicas usadas, somente as


narrativas de casos. Em Ezequiel 3.14, por exemplo, o profeta
descreve assim o seu desdobramento: "Então o espírito me levantou, e
me levou; e eu me fui mui triste, no ardor do meu espírito (...)," No
Apocalipse 1.10. o apóstolo São João relata também a sua
experiência: "Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor(...)."
São Paulo na Segunda Epístola aos Coríntios 12.2, escreveu: "Conheço
um homem em Cristo que há 14 anos (se no corpo não sei, se fora do
corpo não sei: Deus sabe) foi arrebatado até o terceiro céu."

Existem alguns relatos de desdobramentos ocorridos no início da era


cristã, como o de Arisdeu de Soles, da Silícia, Ásia Menor. No ano de
79, ele sofreu uma queda violenta e foi dado por morto. Todavia, três
dias depois do acidente, quando estava para ser enterrado, Arisdeu
recobrou os sentidos e contou aos amigos as experiências pelas quais
havia passado naquele período. A história foi registrada por Plutarco
de Queronéia (50-120). Essa narrativa mostra que a experiência de
sair do corpo pode modificar o caráter das pessoas. Arisdeu era um
homem de maus costumes, mas, depois de seu desdobramento, transformou-
se numa pessoa virtuosa.

A própria aventura é interessante. Diz Arisdeu que após a queda sua


alma pensante saiu de seu corpo e a sensação nesse instante foi
semelhante a de um mergulhador projetado para fora de seu barco.
Contudo, ao emergir, ele conseguiu respirar livremente e enxergar em
todas as direções de uma só vez. Então viu pessoas que conhecera mas
que já haviam morrido. Uma delas, aproximando-se dele, explicou-lhe
que ele chegara até ali com a parte pensante da sua alma, tendo
deixado o restante no seu corpo, como uma âncora. Depois de outras
experiências, ele foi "aspirado por um sopro violento e irresistível"
e retornou ao seu corpo na hora em que ia ser enterrado.

Em tempos mais recentes, há o exemplo de Emmanuel Swedenborg (1688-


1772) - filósofo sueco que se projetava freqüentemente, segundo o
registro de suas experiências nos Diarii Spiritualis - e do escritor
francês Honore de Balzac (1799-1850) - que falou da projeção do
espírito na sua novela autobiográfica, Louis Lambert. Ele escreveu,
por exemplo: "Ora, se meu espírito e meu corpo puderam separar-se
durante o sono, por que não poderei eu divorciá-los igualmente
durante a vigília?"

Na época da metapsíquica, que ocupou o período do séc. 19 até meados


deste, temos as experiências de dois pesquisadores franceses, Hector
Durville e Charles Lancelin, mas foi só com o norte-americano Charles
Theodore Tart, em 1966, que se efetuaram as primeiras experiências
científicas com o desdobramento, usando aparelhagem moderna: uma
jovem, cujo nome foi mantido em segredo mas que era identificada como
Miss Z, teve suas ondas cerebrais, movimentos oculares, resistência
galvânica, freqüência cardíaca e volume sangüíneo registrados.

Segundo o relato contido na obra já citada de Waldo Vieira, Miss Z,


enquanto flutuava fora de seu corpo físico, foi capaz de informar a
hora exata marcada por um relógio fora do alcance de suas vistas,
além de identificar um número-alvo que o pesquisador escondera. Essas
informações foram dadas nos instantes em que os registros
poligráficos demonstraram padrões de ondas singulares.

O cordão de prata, que mantém o duplo etérico unido ao corpo físico,


é uma parte essencial da projeção da consciência. Se for rompido, não
há possibilidade de retorno ao corpo físico, sobrevindo a morte. Em
algumas tribos primitivas, esse laço de conexão aparece como uma
serpente; em outras, como uma árvore ou uma trepadeira, como uma
cinta, um fio ou um arco-íris. Os africanos os vêem como uma corda, e
os nativos de Bornéu como uma escada.

Os antigos chineses praticavam a meditação para desdobrar-se. A saída


do corpo astral pela cabeça aparece representada em desenhos antigos.

Esse cordão, segundo alguns, sai do corpo através do plexo solar, ou


seja, da área do centro da força umbilical, mas há também quem afirme
que a conexão essencial é pelo crânio, a sede do cérebro. Waldo
Vieira explica o motivo das divergências de opinião: a visão da saída
do cordão de prata da área do plexo solar é facilitada pela própria
anatomia. "Os olhos físicos vêem (...) o umbigo (...), o que
obviamente não pode acontecer com à área do córtex cerebral."

Segundo Waldo Vieira, o cordão não se encontra em nenhum lugar


específico. Cada partícula do psicossoma (ou corpo espiritual) parece
estar ligada à sua análoga física. Quando o psicossoma se afasta do
soma (ou corpo físico), tais ligações aproximam-se formando um cordão
de prata.

Existem alguns detalhes sobre o desdobramento que só agora estão


sendo entendidos: quando ocorre a projeção da consciência, o corpo
extrafísico pode se apresentar com as roupas, os adornos e os artigos
que costuma usar no plano físico, isto é, brincos, óculos, lentes de
contato, dentaduras, etc. Isso acontece porque existe uma ligação
energética entre o organismo humano e os objetos que o revestem ou
entram em contato direto com ele.

O autor americano Robert A. Monroe, outro profundo conhecedor do


fenômeno, escreveu um livro a respeito, intitulado Viagens Fora do
Corpo, (Record, Rio de Janeiro). Segundo Monroe, ainda hoje existem
obstáculos à investigação do desdobramento. O primeiro deles é o medo
da morte, pois a projeção implicando a separação entre o espírito e o
corpo físico, se assemelha ao desencarne. Em segundo lugar está o
temor de não saber como voltar ao corpo, e os iniciantes então
preferem não prosseguir na viagem, retornando rapidamente. Para
vencer esses temores, a pessoa precisa repetir o processo muitas
vezes. Em terceiro lugar está o medo do desconhecido, pois não se
sabe quem ou o que se vai encontrar durante a experiência ou mesmo a
quem apelar em caso de necessidade.

A experiência de Sylvan Muldoon - um norte-americano que viveu no


começo deste século, um dos pioneiros no estudo do desdobramento e
das viagens astrais e um dos primeiros a proporcionar um informe
reflexivo e detalhado de suas experiências - constitui um exemplo
tradicional de como os corpos se separam para dar início à viagem
astral.

Sylvan despertou no meio da noite com o corpo paralisado, incapaz de


mover-se. De repente, teve a sensação de flutuar e todo seu corpo
começou a vibrar. Sentia uma forte pressão na parte posterior da
cabeça. Em seguida se encontrou flutuando horizontalmente sobre a
cama, elevando-se até o teto. O corpo lhe parecia muito leve. Desde
uma altura de 1,80m, girou 90°, a partir do plano horizontal,
passando à posição vertical e descendo até chegar ao solo. Então,
começou a relaxar, ainda com a incomoda tensão na nuca, e deu um
passo à frente.

E então aconteceu o mais surpreendente. Olhou para trás na direção da


cama e se viu ali, dormindo. Tinha dois corpos: um de pé no solo,
consciente, e o outro deitado passivamente no leito. Dois corpos
idênticos, unidos por um cabo elástico, com um dos extremos entre os
olhos do corpo que ocupava a cama e o outro na parte posterior da
cabeça do corpo em pé.

Muldoon pensou com tristeza que estava morto. Começou a andar, mas
vacilou ao sentir um repuxo do cabo. Tratou de abrir uma porta, mas a
atravessou. Tentou sacudir os que dormiam, conseguindo transpassar
seus corpos com suas mãos. Confuso, ficou dando voltas sem rumo, sem
saber o que fazer. Notava o repuxo na parte posterior de sua cabeça
com mais intensidade. Vacilou de novo e se imobilizou. Elevou-se no
ar e foi lançado acima da cama, onde ficou suspenso horizontalmente.
Vibrou como no princípio de sua aventura e se incorporou ao seu corpo
físico.

Muldoom se movia a três velocidades durante suas viagens. Adotava um


passo normal pelo quarto ou casa, ou mesmo ao passear pela rua. Havia
uma velocidade intermediária, mais rápida do que a normal, na qual
ele não se movia, mas tudo parecia vir sobre ele. A terceira
velocidade era extraordinária: permitia viagens de grande distância
num tempo muito curto. Nesse tipo de viagem, ele experimentava sem
dúvida períodos de inconsciência, uma vez que lhe era impossível
registrar todos os detalhes vistos.

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