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29 a 31 do CP)
INTRODUÇÃO
Em nosso Direito Penal positivo, há inúmeras infrações penais que podem ser praticadas por
uma só pessoa, a exemplo do delito de furto (art. 155 do CP). Outras existem, contudo, que exigem,
no mínimo, duas ou mais pessoas para que possam se configurar, como é o caso do delito de
quadrilha ou bando (art. 288 do CP). Na primeira hipótese, estaremos diante dos chamados crimes
unissubjetivos (ou monossubjetivos; ou crime de concurso eventual); na segunda, diante dos
crimes plurissubjetivos (ou crime de concurso necessário).
Conforme Fernando Capez, “os crimes plurissubjetivos dividem-se em:
a) de condutas paralelas – as condutas auxiliam-se mutuamente, visando à produção de um
resultado comum. Todos dos agentes unem-se em prol de um objetivo idêntico, no sentido de
concentrar esforços para a realização do crime (ex.: art. 288 do CP – em que todas as condutas
voltam-se para a consecução do mesmo fim, no caso, a prática de crimes);
b) de condutas convergentes – as condutas tendem a encontrar-se, e desse encontro surge o
resultado. Não se voltam, portanto, para a frente, para o futuro, na busca da consecução do resultado
delituoso, mas, ao contrário, uma se dirige à outra, e desse encontro resulta o delito (ex.: art. 235,
§1°, do CP – Bigamia);
c) de condutas contrapostas – as condutas são praticadas umas contra as outras. Os agentes
são, ao mesmo tempo, autores e vítimas (ex.: art. 137 do CP – rixa)”.
O art. 29 do CP aplica-se, como regra, aos delitos unissubjetivos, uma vez que para os crimes
plurissubjetivos, pelo fato de exigirem a presença de, no mínimo, duas ou mais pessoas,
dependendo do tipo penal, não haveria necessidade de regra expressa para os autores, ou co-autores,
tendo aplicação somente no que diz respeito à participação nessas infrações penais.
“Essa norma (art. 29 do CP) é denominada pela doutrina “norma de extensão pessoal e
espacial”. Pessoal porque estende o tipo, permitindo que alcance outras pessoas além do autor;
espacial porque o tipo é ampliado no espaço, a fim de alcançar condutas acessórias distintas da
realização do núcleo da ação típica”. (Fernando Capez)
Fala-se em concurso de pessoas, portanto, quando duas ou mais pessoas concorrem para a
prática de uma mesma infração penal. Essa colaboração períproca pode ocorrer tanto nos casos em
que são vários os autores, bem como naqueles onde existam autores e partícipes.
b) relevância causal de cada conduta – se a conduta levada a efeito por um dos agentes não
possuir relevância para o cometimento da infração penal, devemos desconsiderá-la e concluir que o
agente não concorreu para a sua prática.
Ex.: A, com o objetivo de causar a morte de B, pelo fato de não ter encontrado a sua arma, vai
até a residência de C, e explicando-lhe o fato, pede-lhe o revólver emprestado. C, mesmo sabendo
da intenção de A, empresta-lhe a arma. Antes de ir ao encontro de B, A resolve, por mais uma vez,
procurar a sua pistola, e, para sua surpresa, consegue achá-la. Deixando de lado a arma que havia
solicitado a C e, agora, com a sua pistola, vai a procura de B e causa-lhe a morte.
c) liame subjetivo entre os agentes – é o vínculo psicológico que une os agentes para a
prática da mesma infração penal. Se não se conseguir vislumbrar o liame subjetivo entre os agentes,
cada qual responderá, isoladamente, por sua conduta.
Ex.: A e B atiram contra C, causando lhe a morte. Caso haja liame subjetivo entre os autores,
ambos responderão por homicídio consumado em concurso de pessoas. Porém, caso não haja liame
subjetivo entre os autores, e no caso concreto não se descubra qual dos tiros matou C, ambos
responderão por tentativa de homicídio, aplicando-se o princípio do in dubio pro reo.
d) identidade de infração penal – somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame
subjetivo, levarem a efeito condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infração
penal é que poderemos falar em concurso de pessoas.
a) Teoria unitária ou monista – Todos são considerados autores, não existindo a figura do
partícipe. Arrima-se na teoria da conditio sine qua non, pois, segundo esta, qualquer contribuição,
maior ou menor, para o resultado é considerada sua causa. (era adotada pelo Brasil no Código
Penal de 1940 – art. 25).
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b) Teoria extensiva – os adeptos do conceito extensivo não fazem distinção entre autores e
partícipes. Todos aqueles que, de alguma forma, colaboram para a prática do fato, são considerados
autores. É a mesma aplicação da teoria unitária, entretanto mais moderada, pois a teoria extensiva
admite a existência de causas de diminuição de pena, com vistas a estabelecer diferentes graus de
autor. Surge, então, a figura do cúmplice, ou seja, o autor menos importante, aquele que contribui
de mono menos significativo para o evento.
Pode-se dizer, então, que, embora não fazendo distinção entre autoria e participação, acaba
por aceitar uma autoria mitigada (mascarada), que é aquela em que se aplicam as causas de redução
de pena, em face da menor importância da conduta. Passam a existir a figura do autor e a do
cúmplice (autor menos relevante).
Mas, como bem frisou Jescheck, “se a autoria e participação não podem distinguir-se
objetivamente, porque ambas são equivalentes desde um prisma causal, somente resta a
possibilidade de buscar a distinção num critério subjetivo”. Por essa razão, o conceito extensivo de
autor segue atrelado à teoria subjetiva da participação.
A teoria subjetiva procura traçar um critério de distinção entre autores e partícipes valorando o
elemento anímico dos agentes. Existe uma vontade de ser autor (animus auctoris), quando o agente
quer o fato como próprio, e uma vontade de ser partícipe (animus socii), quando o agente deseja o
fato como alheio.
c) Teoria restritiva – para aqueles que adotam um conceito restritivo, autor seria somente
aquele que praticasse a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Todos os demais que, de alguma
forma, o auxiliassem, mas que não viessem a realizar a conduta narrada pelo verbo do tipo penal
seriam considerados como partícipes.
OBS.: Se a realização da ação típica já significa objetivamente algo distinto ao seu
favorecimento, deduz-se por si só que autoria e participação também devem distinguir-se conforme
critérios objetivos. Dessa forma, o conceito restritivo de autor segue atrelado a uma teoria objetiva
de participação. Essa teoria objetiva segue três vertestes: uma formal, outra material, e outra
subjetiva.
- Para a teoria objetivo-formal, autor é aquele que pratica a conduta descrita no núcleo do
tipo; todos os demais que concorrerem para essa infração penal, mas que não realizam a conduta
expressa do verbo existente no tipo, serão considerados partícipes. (Posição do Fernando Capez)
Conforme Fernando Capez, “a posição mais correta é a restritiva. Dentro dela, o critério
formal-objetivo, ainda que padecendo de certas deficiências, é o que mais respeita o princípio da
reserva legal. Com efeito, conduta principal não é aquela que o operador do direito acha que é
relevante, de acordo com as peculiaridades de cada caso concreto. Conduta principal é aquela que o
tipo elegeu para descrever como crime. Assim, a realização do verbo da conduta típica é, por opção
político-criminal da sociedade , a ação considerada principal. Todas as demais, incluídas aí, a
autoria intelectual, a do mandante, a do instigador ou indutor etc., por mais importantes que se
revelem, são acessórias e devem, por isso, ser consideradas de participação. A teoria do domínio do
fato não explica satisfatoriamente o concurso de agentes no crime culposo, pela prosaica razão de
que, neste delito, o agente não quer o resultado, logo não pode ter domínio final sobre algo que não
deseja”.
OBS.:
- A teoria do domínio final do fato não exclui a teoria restritiva, mas é seu complemento.
(Damásio)
- Para o Rogério Greco, a teoria do domínio final do fato está fora da teoria restritiva.
a) Teoria pluralista – para esta teoria, haveria tantas infrações penais quantos fossem o
número de autores e partícipes;
b) Teoria dualista – esta teoria distingue o crime praticado pelos autores daquele cometido
pelos partícipes. Para esta teoria, haveria uma infração penal para os autores e outra para os
partícipes;
c) Teoria monista – também conhecida como unitária, adotada pelo nosso Código Penal,
aduz que todos aqueles que concorrem para o crime, incidem nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade. Para a teoria monista existe um crime único, atribuído a todos aqueles
que para ele concorreram, autores ou partícipes.
A expressão “na medida de sua culpabilidade” prevista no art. 29 caput do CP significa que
“no concurso de pessoas todos os participantes respondem pelo mesmo tipo legal, devendo-se
distinguir, todavia, a situação de cada um para a fixação da pena, tendo em vista sua maior ou
menor culpabilidade” (TAMG). Culpabilidade significa, aqui, juízo de censura, de reprovabilidade
que recai sobre a conduta do agente.
OBS.: Embora o Código Penal tenha adotado como regra a teoria monista ou unitária, na
verdade, como bem salientou Cezar Bitencourt, “os parágrafos do art. 29 aproximaram a teoria
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monística da teoria dualística ao determinar a punibilidade diferenciada da participação, razão pela
qual Luiz Regis Prado aduz que o Código Penal adotou a teoria monista de forma “matizada ou
temperada”.
Exemplo de exceção à regra da teoria monista: no crime de aborto, a gestante pratica o delito
do art. 124 do CP, e aquele que nela realiza o aborto, com o seu consentimento, comete o delito do
art. 126 do CP.
TIPOS DE AUTORIA
a) Autoria direta (ou autor executor) - é aquele que executa diretamente a conduta descrita
pelo núcleo do tipo penal.
b) Autoria indireta (ou autoria mediata) – é aquele que se vale de outra pessoa, que lhe
serve, na verdade, como instrumento para a prática da infração penal, sendo, portanto, chamado de
autor indireto ou mediato.
Para que se possa falar em autoria indireta ou mediata, será preciso que o agente detenha o
controle da situação, isto é, que tenha o domínio do fato. Nosso código prevê expressamente quatro
casos de autoria mediata, a saber:
1°) erro determinado por terceiro (art. 20, §2°, do CP) – Ex.: Enfermeira que
aplica em um paciente, a pedido do médico, injeção contendo veneno letal, sem sabe o seu
conteúdo. O médico, que havia preparado a injeção e determinado a sua aplicação no
paciente, porque queria a sua morte, é o autor mediato do crime de homicídio. A
enfermeira não responde pelo crime, pois não agiu com dolo ou culpa.
2°) coação moral irresistível (art. 22, primeira parte, do CP) – Ex.: Pai, sabendo que
seu filho poderá ser morto porque tem contra ele uma arma apontada para sua cabeça, é
coagido a subtrair determinados valores de uma agência bancária. Responderá pelo crime
apenas o autor da coação.
3°) obediência hierárquica (art. 22, segunda parte, do CP) – Ex.: Delegado de
polícia determina a um detetive, subordinado seu, que efetue a prisão de alguém dizendo-
lhe já estar de posse de um mandado, quando, na verdade, a ordem não tinha sido
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expedida. Caso o detetive cumpra a determinação de seu superior hierárquico, somente o
autor da ordem (delegado) é que será responsabilizado pela privação da liberdade daquela
pessoa.
“Não há autoria mediata nos crimes de mão própria, nem nos delitos culposos; inexiste
concurso de agentes entre o autor mediato e o executor usado”. (Fernando Capez).
c) Autor intelectual – é o “homem inteligente” do grupo (“o cabeça” do grupo), aquele que
traça o plano criminoso, com todos os seus detalhes. Pode acontecer, inclusive, que o autor
intelectual não seja atribuída qualquer função executiva do plano criminoso por ele pensado, o que
não afasta, contudo, o seu status de autor. Pelo contrário. Pela teoria do domínio do fato percebe-se,
com clareza, a sua importância para o sucesso da infração penal.
Ver art. 62, I, do CP.
d) Autoria colateral – quando dois agentes, embora convergindo as suas condutas para a
prática de determinado fato criminoso, não atuam unidos pelo liame subjetivo.
STJ - REsp 37280 / RS ; RECURSO ESPECIAL 1993/0021069-6
Data do julgamento: 02-03-1996
PENAL. CO-AUTORIA E AUTORIA COLATERAL. DISTINÇÃO.
Policiais militares que, em perseguição a veiculo que desobedecera à ordem de
parar, desferem vários tiros em direção ao veiculo perseguido, um deles atingindo o
menor que estava na direção, matando-o.
Condenação de todos os policiais, o autor do tiro fatal pela autoria, os demais
em co-autoria, por homicídio consumado (art. 205, parágrafo 1., do CPM), apesar de
ter sido identificado o único projétil causador da morte como tendo partido da arma
do primeiro. Hipótese em que, por ser a perseguição aos fugitivos desobedientes fato
normal na atividade de policiamento, não se pode tomá-la como suficiente a
caracterizar a necessária unidade do elemento subjetivo dirigido a causação solidária
do resultado. Assim, nessa hipótese os disparos de arma de fogo devem ser
examinados em relação a cada um dos responsáveis por esses disparos,
caracterizando-se, na espécie, a denominada autoria colateral.
Como apenas um desses disparos, com autoria identificada, atingiu a vitima,
matando-a, o autor do tiro fatal responde por homicídio consumado, os demais, ante
a prova reconhecida pelo acórdão de que também visaram a vitima, sem atingi-la,
respondem por tentativa de homicídio.
recurso especial conhecido e provido.
OBS.:
Quando não consegue identificar o autor na autoria colateral, surgirá uma outra,
chamada autoria incerta. Sabe-se quais são os possíveis autores, mas não se consegue
concluir, com a certeza exigida pelo Direito Penal, quem foi o produtor do resultado. Daí
dizer-se que a autoria é incerta.
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Quando não se conhece a autoria, ou seja, quando não se faz idéia de quem teria
causado, ou ao menos tentado praticar a infração penal, surge uma outra espécie de
autoria, chamada agora de autoria desconhecida.
e) Autor por determinação – permite punir o agente pelo fato de ter determinado a prática da
infração penal. “Alguém que se valha de outro, que não realiza conduta para cometer um delito de
mão própria: uma mulher dá sonífero a outra e depois hipnotiza um amigo, ordenando-lhe que com
aquela mantenha relações sexuais durante o transe. O hipnotizado não realiza conduta, ao passo que
a mulher não pode ser autora de estupro, porque é delito de mão própria. Tampouco é partícipe, pois
falta o injusto alheio em que cooperar ou a que determinar.
f) Autoria de escritório – Essa nova modalidade de autoria, tida como mediata pelos
renomados autores, “pressupõe uma ‘maquina de poder’, que pode ocorrer tanto num Estado em
que se rompeu com a toda legalidade, como numa organização paraestatal (um Estado dentro do
Estado), ou como uma máquina de poder autônoma ‘mafiosa’, por exemplo”.
Embora tratada como autoria mediata, o fato de alguém cumprir as ordens de um grupo
criminoso extremamente organizado não o reduz à condição de mero instrumento, tal como
acontece nos casos em que se pode falar em autoria mediata. Aqui, como em qualquer outro grupo
organizado, como o “comando vermelho”, existente nas favelas e nos morros da cidade do Rio de
Janeiro, aquele que executa as ordens emanadas pelo “cabeça da organização” as faz tendo o
domínio funcional do fato que lhe fora atribuído. Não pode ser considerado simples instrumento, o
que faria, na concepção de Zaffaroni e Pierangeli, que fosse considerado como caso de uma autoria
mediata especial.
PARTICIPAÇÃO
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alguma excludente de ilicitude, no caso, a legítima defesa, não pode persistir a
condenação contra o mero partícipe, pois a participação, tal como definida no art. 29
do CP, pressupõe a existência de conduta antijurídica. A participação penalmente
reprovável há de pressupor a existência de um crime, sem o qual descabe cogitar punir a
conduta acessória. Precedentes citados do STF: HC 69.741-DF, DJ 19/2/1993; do STJ:
RHC 13.056-RJ, DJe 22/9/2008, e RHC 14.097-MG, DJ 1º/8/2005.
c) teoria da acessoriedade máxima – somente haverá a punição do partícipe se o autor tiver
praticado uma conduta típica, ilícita e culpável.
“Passamos a entender que deve ser aplicada a teoria da acessoriedade extremada (ou máxima).
Tal se verifica claramente no caso da autoria mediata. O autor mediato não é partícipe: é também
autor principal, pois pratica a conduta principal, realiza o verbo do tipo, só que não diretamente,
mas pelas mãos de outra pessoa, seu instrumento. Por isso é chamado de ‘o sujeito de trás’. O
‘sujeito da frente’ é, na realidade, seu fantoche, um pseudo-executor, uma longa manus do autor
mediato, o qual funciona como o verdadeiro realizador do tipo. Quem induz uma criança a saltar de
um edifício realiza indiretamente o verbo do tipo ‘matar’, servindo-se do desforço físico da própria
vítima. Quem instiga um louco ou um menor inimputável a executar uma ação típica não é
partícipe, mas autor direto e imediato (realiza o verbo por meio de outrem). Assim, se o fato for
apenas típico e antijurídico, mas o agente não tiver culpabilidade, não ocorre participação,
contrariamente ao que sustenta a acessoriedade limitada: existe é autoria mediata. A participação,
por conseguinte, necessita da culpabilidade do sujeito ativo, para ser aplicada, exatamente como
defende a acessoriedade extremada, pois, do contrário, haverá autoria (mediata) e não a figura do
partícipe)”. (Fernando Capez)
d) teoria da hiperacessoriedade – vai além e diz que a participação somente será punida se o
autor tiver praticado um fato típico, ilícito, culpável e punível.
Ex.: Se o partícipe estimula ou determina a alguém, menor de 21 anos de idade, a praticar um
delito de furto, se, quanto ao autor, em razão da idade, for reconhecida a prescrição, uma vez que o
prazo, nos termos do art. 15 do CP, deve ser reduzido de metade, o partícipe não poderá ser punido.
Algumas observações:
a) A participação é dirigida a fatos e pessoas determinados. Caso o agente venha a incitar
publicamente pessoas indeterminadas à prática de crime, não será considerado partícipe, mas sim
autor do delito de incitação ao crime, tipificado no art. 286 do CP. Mesmo no caso do art. 286 do
CP, Magalhães Noronha professa que a incitação deve dirigir-se a crime ou crimes determinados.
“A instigação feita genericamente, por ser vaga, não teria eficácia ou idoneidade”.
Arrependimento do partícipe
Entendemos (Rogério Greco) que se o partícipe houver induzido ou instigado o autor,
incutindo-lhe a idéia criminosa ou reforçando-a a ponto de este sentir-se decidido pelo cometimento
do delito, o partícipe que se arrepende somente não será responsabilizado penalmente se conseguir
fazer com que o autor não pratique a conduta criminosa.
Caso contrário, ou seja, se não tiver sucesso na sua missão de evitar que o delito seja
cometido, depois de ter induzido ou instigado inicialmente o autor, o seu arrependimento não será
eficaz e, portanto, não afastará a sua responsabilidade penal como ato acessório ao praticado pelo
autor.
Tentativa de participação
Se o partícipe estimula alguém a cometer uma determinada infração penal, mas aquele que foi
estimulado não vem a praticar qualquer ato de execução tendente a consumá-la, a conduta do
partícipe é considerada um indiferente penal. É a chamada participação impunível, onde o fato
principal não chega a ingressar em sua fase executória.
Conforme Nilo Batista, “a tentativa de participação só pose ser punível perante sistemas legais
que expressamente disponham a respeito. Entre nós, deduz-se da regra do art. 31 do CP
precisamente um princípio oposto, ou seja, o da impunidade da tentativa de participação”.
Participação sucessiva
Da mesma forma que se admite a co-autoria sucessiva, também há a possibilidade de existir a
participação sucessiva.
Importante salientar que a instigação sucessiva, ou seja, aquela que fora realizada após o
agente ter sido determinado ou estimulado a praticar a infração penal, deve ter sido capaz de exercer
alguma influência em seu ânimo, pois, caso contrário, isto é, se este já estava completamente
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determinado a cometer a infração penal, e se a instigação sucessiva em nada o estimulou, não terá
ela a relevância necessária a fim de ensejar a punição do partícipe.
OBS.: Caso o auxílio for posterior à consumação (ou ao exaurimento, dependendo do crime)
não haverá participação sucessiva, mas o agente responderá, como autor, pelo crime de
favorecimento pessoal (art. 348 do CP) ou favorecimento real (art. 348 do CP).
OBS.: Fernando Capez conceitua participação sucessiva “quando o partícipe concorre para a
conduta principal de mais de uma forma. Assim, em primeiro lugar auxilia ou induz, em seguida
instiga e assim por diante. Não há auxílio do auxílio, mas uma relação direta entre partícipe e autor,
pela qual o primeiro concorre de mais de uma maneira. Ex.: o partícipe induz o autor a praticar o
crime e depois o auxilia nesse cometimento”.
Já na participação material, contudo, pode concretizar-se numa inação do partícipe, que, com a
sua omissão, contribui para a ocorrência da infração penal.
A participação por omissão dá-se quando o sujeito, tendo o dever jurídico de agir para evitar
o resultado (art. 13, §2°, do CP), omite-se intencionalmente, desejando que ocorra a consumação.
Diferente ocorre com a conivência ou participação negativa (“crimen silenti”), quando o
sujeito, sem ter o dever jurídico de agir, omite-se durante a execução do crime, quando tinha
condições de impedi-lo. A conivência não se insere no nexo causal, como forma de participação,
não sendo punida, salvo se constituir delito autônomo. Assim, a tão-só ciência de que outrem está
para cometer ou comete um crime, sem a existência do dever jurídico de agir (art. 13, §2°, do CP),
não configura participação por omissão.
Ex.: “Um pipoqueiro e um policial militar presenciam um torcedor de futebol ser
espancado por membros da torcida adversária. Em vez de prestarem socorro, ficam
rindo, não se importando se a vítima sobreviverá ou morrerá espancada (dolo eventual,
portanto). O vendedor de pipocas não responde pelo homicídio, uma vez que não tinha o
dever jurídico de impedir o resultado, mas tão-somente pela omissão de socorro
qualificada pelo resultado morte (art. 135, parágrafo único, do CP). Não participou do
homicídio, foi apenas conivente, tendo cometido um delito omissivo próprio. Isto é
conivência ou participação negativa. O miliciano, no entanto, será considerado partícipe
do delito previsto no art. 121 do CP, pois, tendo o dever jurídico de agir, na modalidade
dever legal (art. 13, §2°, ‘a’,do CP), realizada uma conduta omissiva imprópria,
respondendo pelo resultado (participação por omissão).
Participação em crime menos grave (desvio subjetivo de conduta) – art. 29, §2°, do CP
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Verifica-se, pela redação do §2° do art. 29 do CP, a quebra da chamada teoria monista ou
unitária, na qual a mesma infração penal é distribuída por todos aqueles que concorreram para a sua
prática, sejam autores ou partícipes.
Merece destaque o fato de que o §2° do art. 29 do CP permite tal raciocínio tanto nos casos de
co-autoria como nos de participação (moral e material). O parágrafo começa a sua redação fazendo
menção a “alguns dos concorrentes”, não limitando a sua aplicação tão-somente aos partícipes.
Circunstâncias são dados periféricos, acessórios, que gravitam ao redor da figura típica,
somente interferindo na graduação da pena.
Elementares são dados essenciais à figura típica, sem os quais ou ocorre uma atipicidade
absoluta, ou uma atipicidade relativa.
OBS.: “Respeitável segmento doutrinário, liderado por Nélson Hungria, sustenta existir uma
categoria intermediária, a qual não chega a ser uma elementar, mas também não pode ser resumida
a uma mera circunstância. Trata-se de entes híbridos, metade elementar, metade circunstância. São
as chamadas circunstâncias elementares, assim retratadas por Alberto Silva Franco: ‘As
circunstâncias são os fatos ou dados, de natureza objetiva ou subjetiva, que não interferem, porque
acidentais, na configuração do tipo, destinando-se apenas a influir sobre a quantidade de pena
cominada para efeito de aumentá-la ou diminuí-la. Algumas circunstâncias participam, no entanto,
da própria estrutura da figura criminosa e deixam, por via de conseqüência, de ser acidentais para se
transformarem em circunstâncias essenciais ou elementares do tipo’. São elas as qualificadoras. Não
se cuidam de elementares, porque o crime existe mesmo sem elas (passaria a ser simples, em vez de
qualificado), mas não são circunstâncias comuns, na medida em que fixam novos limites de pena
(por exemplo, no homicídio, a pena passa de seis a vinte para doze a trinta anos), funcionando quase
como um novo tipo”. (Fernando Capez)
Fernando Capez entende que as qualificadoras são circunstâncias como outra qualquer, pois o
que interessa é que, com ou sem a sua presença, o crime continuará existindo.
I) circunstâncias:
a) subjetivas ou pessoais – não se comunicam. Ex.: art. 61, II, “e” CP;
b) objetivas ou materiais ou reais – comunicam-se desde que ingresse na esfera de
conhecimento do agente. Ex.: art. 157, §2°, I, CP.
II) elementares:
a) subjetivas ou pessoais - comunicam-se desde que ingresse na esfera de conhecimento
do agente. Ex.: art. 312 CP;
b) objetivas ou materiais ou reais – comunicam-se desde que ingresse na esfera de
conhecimento do agente. Ex.: art. 155 caput CP
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CRIMES MULTITUDINÁRIOS (ou autoria coletiva)
A todo instante os aparelhos de comunicação nos mostram linchamentos de pessoas que foram
flagradas durante a prática de algum crime. Outras vezes a sociedade não busca por justiça, mas tão-
somente se aproveita de uma situação de desastre ou calamidade para obter alguma vantagem. É o
caso, v. g., de saques a supermercados, a caminhões que tombam em plena via pública, contendo
cargas de interesse da sociedade.
A sugestão do grupo, por inibir temporariamente a capacidade do agente de refletir sobre
aquilo o que faz, bem como a respeito das conseqüências de seu ato, fez com que o legislador, no
art. 65, II, ‘e’ do CP, atenuasse a pena do agente quando este viesse a praticar o crime “sob a
influência de multidão em tumulto, se não o provocou”.
OBS.:
STF
HC 78937 / MG - MINAS GERAIS
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA
Julgamento: 18/05/1999 Órgão Julgador: Segunda Turma
EMENTA: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO. CRIME DE AUTORIA
COLETIVA: INÉPCIA DA DENÚNCIA: ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE. QUANTIDADE DE
TESTEMUNHAS ARROLADAS PELA ACUSAÇÃO. CÓPIA DE LAUDO PERICIAL NÃO
AUTENTICADA: NÃO CARACTERIZA PROVA ILÍCITA. LAUDO PERICIAL DE
ENGENHARIA SUBSCRITO POR PROFISSIONAL NÃO INSCRITO NO CREA.
1. Não é inepta a denúncia que expõe, com precisão e clareza, o fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado e a classificação do crime, preenchendo assim os
requisitos do artigo 41 do CPP.
2. Nos crimes multitudinários, ou de autoria coletiva, a denúncia pode narrar
genericamente a participação de cada agente, cuja conduta específica é apurada no curso do
processo.
3. A exigência de indicação na denúncia de "todas as circunstâncias do fato criminoso" (CPP,
artigo 41) vem sendo mitigada pelos pretórios quando se trata de crime de autoria coletiva, desde de
que se permita o exercício do direito de defesa. Precedente.
4. Justifica-se a quantidade de testemunhas arroladas pelo Ministério Público, superior a
cinco, se a denúncia abranger mais de um acusado e narrar a prática de mais de um delito.
5. A falta de autenticação de cópia de laudo pericial juntado aos autos não caracteriza prova
ilícita desde que a omissão possa ser suprida por outro meio idôneo. Precedente.
6. Não configura prova ilícita o laudo de engenharia subscrito por diversos engenheiros,
alguns sem inscrição profissional no CREA.
7. Habeas corpus indeferido.
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CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES OMISSIVOS
1ªc. (Joarez Tavares) Não admite qualquer espécie de concurso de pessoas nos crimes
omissivos, seja em forma de co-autoria ou mesmo participação.
+2ªc. (Fontán Balestra; Aníbal Bruno; Fernando Capez) Não parece que ofereça dúvida a
possibilidade de instigar, que é uma forma de participação nos delitos de omissão. Pode-se instigar
a alguém para que faça ou deixe de fazer algo.
Ex.: agente que instiga outrem a não efetuar o pagamento de sua prestação alimentícia,
responderá pela participação no crime de abandono material.
CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES CULPOSOS
2ªc. (Rogério Greco) Admite a participação culposa em delito culposo. Autor será aquele que
praticou a conduta contrária ao dever objetivo de cuidado; partícipe será aquele que induzir ou
estimular alguém a realizar a conduta contrária ao dever de cuidado.
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