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redes.
Larissa Polejack, Maria Aparecida Gussi e Eliane Maria Fleury Seidl
O conceito de saúde passou por várias reflexões em diferentes países e em diversos momentos
históricos. Ao longo desse processo, saímos da concepção da saúde como ausência de doenças
para uma concepção mais ampliada e integradora, que compreende saúde como um direito de
cidadania.
No Brasil, essa reflexão teve como importante marco histórico a realização da VIII Conferência
Nacional de Saúde, realizada em Brasília, no ano de 1986. Nesse encontro, foi proposto o
conceito ampliado de saúde, fruto de intensa mobilização que ocorreu no País e em vários países
da América Latina durante as décadas de 1970 e 1980, como resposta aos regimes autoritários e
à crise dos sistemas públicos de saúde. Para Batistella, o amadurecimento desse debate ocorreu
no âmbito do movimento da Reforma Sanitária brasileira, que representou uma conquista sem
precedentes ao transformar-se em texto constitucional em 1988 (2007, p. 63).
O conceito de saúde apresentado na Constituição de 1988 resgatou a importância das dimensões
econômica, social, cultural, política e de acesso aos serviços de saúde para a produção da saúde
e da doença, e contrapôs-se ao modelo biomédico.
Esse modelo baseia-se em uma abordagem mecanicista do corpo, com a primazia do aspecto
biológico, focado na doença e com um modelo assistencial centrado no indivíduo. Em
contrapartida, o modelo contemporâneo compreende o indivíduo como um sujeito ativo em
relação com o outro e com as instituições e a saúde como um processo contínuo e
multideterminado. Saímos do foco apenas na doença para olhar para a promoção da saúde, a
prevenção de agravos e o fortalecimento das redes sociais.
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A mesma Carta de Otawa preconiza cinco campos de ação para a promoção da saúde:
1) elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis;
2) criação de ambientes favoráveis à saúde;
3) reforço da ação comunitária;
4) desenvolvimento de habilidades pessoais;
5) reorientação do sistema de saúde.
De acordo com Buss (2009), a ideia de promoção da saúde propõe a articulação de saberes
técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e
privados para seu enfrentamento e resolução (p. 19) .
Há ainda:
[...] promoção da saúde é o conjunto de atividades, processos e recursos, de
ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar o
melhoramento de condições de bem-estar e acesso a bens e serviços
sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e
comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o desenvolvimento de
estratégias que permitam à população um maior controle sobre sua saúde e
suas condições de vida, em nível individual e coletivo. (GUTIERREZ citado
por BUSS, 2009).
Para Czeresnia (2009), o termo “prevenir” tem o significado de preparar, chegar antes, impedir
que realize (dano, mal). Assim, a prevenção exige uma ação antecipada e intervenções
orientadas a fim de evitar o surgimento ou progresso de doenças específicas. Os projetos de
prevenção e de educação em saúde seriam estruturados com vistas à divulgação de informação
científica e recomendações normativas para mudanças de hábitos.
Em contraposição, a autora destaca que o termo “promover” significa dar impulso a, fomentar,
originar, gerar. Dessa forma, a promoção seria mais ampla que a prevenção, uma vez que as
suas estratégias enfatizam a transformação de condições de vida e de trabalho que confrontam a
estrutura subjacente aos problemas de saúde, demandando uma abordagem intersetorial.
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Para refletir:
Será que a promoção da saúde está circunscrita aos serviços de saúde?
O que temos feito em nossas escolas?
Se analisarmos o campo de ação da promoção da saúde e os conceitos acima descritos,
podemos refletir sobre a aplicação desses conceitos na prática e a relação entre saúde e
educação?
Não é possível fazer saúde sem educação, assim como há muito de saúde nas práticas
educativas quando estas são voltadas para o fortalecimento do sujeito na busca de sua
autonomia, protagonismo social e vivência plena de cidadania.
O SUS, instituído pela Constituição de 1988 e promulgado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei n.
8.080), nasce nesse contexto de mudanças de concepção e abordagens em saúde.
O SUS é orientado por um conjunto de princípios e diretrizes válidos para todo território nacional
e parte de uma concepção ampla de direito à saúde e do papel do Estado na garantia desse
direito. Incorpora, em sua estrutura institucional e decisória, espaços e instrumentos para
democratização e compartilhamento da gestão do sistema de saúde e agrega os diversos
serviços de saúde em uma única rede (COSTA; CARBONE, 2009; NORONHA, LIMA;
MACHADO, 2008).
Qual será, então, a relação do SUS com a Educação?
O que podemos pensar sobre essa relação?
Os princípios nos quais o SUS está embasado podem nos ajudar nessa reflexão.
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Vamos lá?
Para garantir esses princípios, os serviços (centros de saúde, hospitais regionais, hospitais
especializados) devem estar organizados de acordo com os níveis de complexidade tecnológica
crescente, de modo a garantir o processo de referência e contrarreferência (hierarquização da
rede de atenção).
Entre as ações desenvolvidas pelo SUS, destacamos, segundo Costa e Carbone (2009):
Promoção da saúde: engloba educação em saúde, orientação alimentar e de práticas
saudáveis, aconselhamentos específicos. Na escola, todas as atividades voltadas para a
informação sobre o uso de álcool e outras drogas, atividades de esclarecimento sobre
higiene, sexo seguro, orientação nutricional e outros cuidados em saúde são alguns
exemplos de ações do SUS que podem ser desenvolvidas para a comunidade escolar.
Proteção da saúde: vigilância epidemiológica e sanitária, vacinação e saneamento. Como
podemos fazer isso na escola? Por exemplo, podemos ficar atentos à mudança de
comportamento de algum estudante para identificar qualquer problema de saúde ou de
ordem familiar a fim de oferecer apoio.
Recuperação da saúde: diagnóstico e tratamento de doenças, acidentes e danos à saúde
de maneira em geral. E na escola? Podemos fazer alguma coisa nesse sentido? Sim! Se
conhecemos a rede de saúde disponível na comunidade, podemos fazer as orientações
para os encaminhamentos necessários ao atendimento e acompanhamento das
dificuldades identificadas.
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Reabilitação: engloba recuperação parcial ou total de capacidades no processo saúde-
doença e reintegração do indivíduo ao ambiente social e/ou atividades profissionais. Mais
uma vez, a escola pode criar condições de acolhimento dessa pessoa que vive alguma
dificuldade ou problema de saúde de modo a ser uma peça importante na rede de apoio.
Como vimos, existem inúmeras interfaces e possibilidades de trabalho em parceria. Agora, vamos
conhecer o que já está disponível na área de saúde, que pode ser útil na nossa prática diária,
com vistas ao alcance dos objetivos deste curso.
Conheça mais sobre as estratégias de atenção básica à saúde buscando a política nacional de
atenção básica no site:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_basica_2006.pdf>
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Entre as diretrizes pautadas para acontecer de fato e de direito uma reforma psiquiátrica ─ que
transforma a assistência centrada no modelo manicomial em uma assistência prestada em
serviços abertos e de base comunitária de modo que o usuário não perca seus vínculos familiares
e sociais ─, está a implantação de novos serviços e programas.
Vamos destacar o principal deles, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Na sua cidade ou território tem CAPS? Quem é atendido no CAPS? Se não o conhece,
o que acha de ir até lá e ver como funciona. Poderia também contatar a equipe com vistas
a fazer parte da sua rede de apoio.
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O CAPS i é uma modalidade de atendimento que, por sua natureza, tem proximidade muito
grande com a escola: ambos partilham de uma mesma missão, explicitada no Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) em seu artigo 4º, que atribui “dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária”. Em seu artigo 7º, o ECA lista, como direito fundamental, o direito à vida e à saúde
para que a criança e o adolescente tenham “um desenvolvimento sadio e harmonioso”.
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Essa nova lei revogou a anterior, Lei n. 6.368, de 1976, que vigorou por 30 anos. Assim, desde
2006, esse é o documento legal que norteia as diferentes ações na área de álcool e outras drogas
em nosso País.
Veja se seu município compõe os critérios para integrar o PEAD. Se sim, benefícios
oriundos desse Plano podem auxiliar o trabalho preventivo a ser desenvolvido em sua
escola.
Para o alcance dos seus objetivos, o PEAD priorizou os seguintes eixos de atuação:
ampliação do acesso a serviços de tratamento;
qualificação dos profissionais;
articulação intra e intersetorial;
promoção da saúde e dos direitos;
enfrentamento do estigma.
Estão sendo implementadas estratégias, como o apoio a projetos de redução de danos, com o
objetivo de ampliar o acesso aos serviços de saúde, melhorar e qualificar o atendimento oferecido
pelo SUS às pessoas que usam álcool e outras drogas. Fruto do PEAD, novos CAPS ─ em
especial CAPS ad e CAPS i ─ estão sendo cadastrados em diversos Municípios; também estão
sendo criadas escolas de redutores de danos. O incentivo a Estados e Municípios inclui ainda o
apoio financeiro a projetos estaduais e municipais contemplados em editais do Ministério da
Saúde na área de redução de danos.
No site <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1190_04_06_2009.html>.
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A concepção de redução de danos tem norteado as políticas públicas do País quanto às ações
de prevenção e tratamento na área de álcool e outras drogas. Tanto a Lei n. 11.343 quanto o
PEAD pautam suas diretrizes por esse paradigma – aspecto inovador da política brasileira, mas
que já é corrente em países como Canadá, Austrália, Inglaterra, Holanda, entre outros.
Como desenvolver ações preventivas do uso de álcool e outras drogas entre adolescentes
e jovens?
As ações preventivas junto a adolescentes e jovens devem ser pautadas pelo paradigma da
proteção (ECA). Ao mesmo tempo em que a educação prima pelo processo de construção da
autonomia, também devemos reconhecer a condição de vulnerabilidade em que se encontram
crianças e jovens pela imaturidade na tomada de decisões sem orientação dos familiares e
educadores, face aos fortes apelos da oferta de drogas na sociedade atual. Para tanto, o caminho
é, sempre, o diálogo e a aproximação, visando o conhecimento e a reflexão sobre as
experiências, evitando-se ao máximo a adoção de modelos pautados no amedrontamento.
Considerações finais
A articulação de políticas públicas ─ da educação e da saúde ─ é fundamental para o
desenvolvimento de ações pautadas nos princípios de integralidade da atenção, equidade e
garantia de direitos humanos e de cidadania.
Trabalhar em rede é tecer cada malha na medida da necessidade e da disponibilidade dos
equipamentos sociais pertinentes ao território; é firmar parceria com vistas à otimização dos
recursos disponíveis e efetividade das ações delineadas. As ações devem ser regidas por
princípios éticos, pautadas na articulação em que a responsabilidade de cada segmento é
compartilhada, e a cooperação mútua é a base das relações vivenciadas (BRASIL, 2002a).
Como vimos, identificar possibilidades de ações conjuntas para a construção de parcerias
fortalece a rede de apoio e amplia nossa capacidade de intervenção na realidade. As redes vão
sendo tecidas aos poucos por meio do estabelecimento de vínculos, da busca pelas interfaces e
pelo desenvolvimento de ações coletivas.
E ainda pelo reconhecimento das necessidades do outro, pela possibilidade de composição com
a diferença, pelo respeito mútuo que possibilita o compartilhar e o construir novas e constantes
possibilidades. Fortalecer a articulação e a parceria entre saúde e educação é potencializar o
cuidado e garantir direitos.
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Tecer redes é promover saúde e transformar realidades!
No decorrer do curso você aprofundará esta perspectiva do modelo da educação para
saúde na perspectiva das redes sociais, em nossa proposta sobre A ESCOLA EM REDE NA
PREBVENÇÃO DO USO DE DROGAS.
Destaques do texto
Está ao alcance dos educadores, dentre outros, a possibilidade e a responsabilidade
por ações preventivas, com vistas à construção de uma sociedade mais preparada para
o enfrentamento dos problemas gerados pelas crescentes oferta e demanda do uso de
drogas.
As políticas serão efetivas se resultarem em ações integradas na garantia da proteção às
crianças e adolescentes em situação de risco pelo envolvimento com drogas.
A escola tem papel fundamental nessa rede de prevenção, através de ações de educação para
a saúde que são antes de tudo, ações educativas.
Como a escola faz parte de uma rede mais ampla que deve participar da prevenção, deve
acionar as parcerias necessárias para colocar em prática seu projeto preventivo numa
complementaridade de competências interdisciplinares.
A escola será fortalecida à medida que fortalecer suas parcerias e, na construção de sua rede,
estabelecer importantes trocas baseadas em valores de vida coletiva que são incentivados e
amplificados no cotidiano escolar.
A política nacional sobre drogas promove ações planejadas e articuladas com diversos atores
que atuam com foco na redução da oferta e da demanda de drogas no país.
A Lei sobre Drogas (Lei n. 11.343 de 2006) traz inovações sobre essa temática. A criação do
SISNAD e o tratamento diferenciado entre usuários e traficantes estão em consonância com a
política nacional sobre drogas. Após a promulgação dessa Lei, as ações direcionadas pelo Estado
contemplam estratégias para a prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas.
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