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Fenomenologia 1
Edmund Husserl 9
Franz Brentano 13
Max Scheler 14
René Descartes 15
John Locke 20
David Hume 24
Immanuel Kant 34
Hume 46
Maurice Merleau-Ponty 47
Jean-Paul Sartre 48
William James 59
Gestalt 64
Karl Jaspers 68
Ludwig Binswanger 69
Gabriel Marcel 70
Francis Bacon (filósofo) 73
Redução fenomenológica 78

Referências
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Licença 81
Fenomenologia 1

Fenomenologia
Fenomenologia (do grego phainesthai - aquilo que se apresenta ou que
se mostra - e logos - explicação, estudo) afirma a importância dos
fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si
mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses
fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um
designado por uma palavra que representa a sua essência, sua
"significação". Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos
apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas
essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem
a elas (noema).

Edmund Husserl (1859-1938) - filósofo, matemático e lógico – é o


fundador da Fenomenologia como método de investigação filosófica e
estabeleceu os principais conceitos e métodos que seriam amplamente
usados pelos filósofos desta tradição. O filósofo mais influente do
começo do século XX, influenciado por Franz Brentano- seu mestre - Edmund Husserl: idealizador de uma filosofia
lutou contra o historicismo e o psicologismo. Idealizou um recomeço descritiva da experiência subjetiva.
para a filosofia como uma investigação subjetiva e rigorosa que se
iniciaria com os estudos dos fenômenos como aparentam a mente para encontrar as verdades da razão. Suas
investigações lógicas influenciaram até mesmo os filósofos e matemáticos da mais forte corrente oposta, o
empirismo lógico. A Fenomenologia representou uma reação à eliminação da metafísica, pretensão de grande parte
dos filósofos e cientistas do século XIX.

A Fenomenologia de Husserl
Husserl foi professor em Göttingen e Freiburg im Breisgau, e autor de “A ideia da Fenomenologia” – 1906.
Contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua época, Husserl quis que a filosofia tivesse as bases
e condições de uma ciência rigorosa. Porém, como dar rigor ao raciocínio filosófico em relação a coisas tão variáveis
como as coisas do mundo real?
O êxito do método científico está no estabelecimento de uma "verdade provisória" útil, que será verdade até que um
fato novo mostre outra realidade. Para evitar que a verdade filosófica também fosse provisória Husserl propõe que
ela deveria referir-se às coisas como se apresentam na experiência de consciência, estudadas em suas essências, em
seus verdadeiros significados, de um modo livre de teorias e pressuposições, despidas dos acidentes próprios do
mundo real, do mundo empírico objeto da ciência. Buscando restaurar a "lógica pura" e dar rigor à filosofia,
argumenta a respeito do principio da contradição na Lógica.
No primeiro volume de “Investigações lógicas” -1900-01, sob o título Prolegomena, Husserl lança sua crítica contra
o Psicologismo. Segundo os psicologistas, o princípio de contradição seria a impossibilidade de o sistema associativo
estar a associar e dissociar ao mesmo tempo. Significaria que o homem não pode pensar que A é "A" e ao mesmo
tempo pensar que A é "não A". Husserl opõe-se a isto e diz que o sentido do principio de contradição está em que, se
A é "A", não pode ser "não A". Segundo ele, o princípio da contradição não se refere à possibilidade do pensar, mas
à verdade daquilo que é pensado. Insistiu em que o principio da contradição, e assim os demais princípios lógicos,
têm validez objetiva, isto é, referem-se a alguma coisa como verdadeira ou falsa, independentemente de como a
mente pensa ou o pensamento funciona.
Em seu artigo “Filosofia como ciência rigorosa" -1910-11- Husserl ataca o naturalismo e o historicismo. Objetou que
o Historicismo implicava relativismo, e por esse motivo era incapaz de alcançar o rigor requerido por uma ciência
Fenomenologia 2

genuína.

A redução Fenomenológica
A fenomenologia é o estudo da consciência e dos objetos da consciência. A redução fenomenológica, "epoche", é o
processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência, em um
fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos
eventos, memórias, sentimentos, etc. constituem nossas experiências de consciência.
Husserl propôs que no estudo das nossas vivências, dos nossos estados de consciência, dos objetos ideais, desse
fenômeno que é estar consciente de algo, não devemos nos preocupar se ele corresponde ou não a objetos do mundo
externo à nossa mente. O interesse para a Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o
conhecimento do mundo se realiza para cada pessoa. A redução fenomenológica requer a suspensão das atitudes,
crenças, teorias, e colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de concentrar-se a pessoa
exclusivamente na experiência em foco, porque esta é a realidade para ela.
O Noesis é o ato de perceber e o Noema é o objeto da percepção – esses são os dois pólos da experiência. A coisa
como fenômeno de consciência (noema) é a coisa que importa, e refere-se à conclamação "às coisas em si mesmas"
que fizera Husserl. "Redução fenomenológica" significa, portanto, restringir o conhecimento ao fenômeno da
experiência de consciência, desconsiderar o mundo real, colocá-lo "entre parênteses", o que no jargão
fenomenológico não quer dizer que o filósofo deva duvidar da existência do mundo como os idealistas radicais
duvidam, mas se preocupar com o conhecimento do mundo na forma que se realiza e na visão do mundo que o
indivíduo tem.

Consciência e Intencionalidade
Vivência (Erlebnis) é todo o ato psíquico; a Fenomenologia, ao
envolver o estudo de todas as vivências, tem que englobar o estudo dos
objetos das vivências, porque as vivências são intencionais e é nelas
essencial a referência a um objeto. A consciência é caracterizada pela
intencionalidade, porque ela é sempre a consciência de alguma coisa.
Essa intencionalidade é a essência da consciência que é representada
pelo significado, o nome pelo qual a consciência se dirige a cada
objeto.
Em “A Psicologia de um ponto de vista empírico"- 1874 - Franz
Brentano afirma: "Podemos assim definir os fenômenos psíquicos
dizendo que eles são aqueles fenômenos os quais, precisamente por
serem intencionais, contêm neles próprios um objeto". Isto equivale
afirmar, como Husserl, que os objetos dos fenômenos psíquicos
independem da existência de sua réplica exata no mundo real porque
contêm o próprio objeto. A descrição de atos mentais, assim, envolve a
descrição de seus objetos, mas somente como fenômenos e sem
assumir ou afirmar sua existência no mundo empírico. O objeto não Franz Brentano: mestre de Husserl

precisa de fato existir. Foi um uso novo do termo "intencionalidade"


que antes se aplicava apenas ao direcionamento da vontade.
Fenomenologia 3

A Redução Eidética
Reconhecido o objeto ideal, o noema, o passo seguinte é sua “redução eidética”, redução à ideia. Consiste na análise
do noema para encontrar sua essência. Isto porque não podemos nos livrar da subjetividade e ver as coisas em si
mesmas, pois em toda experiência de consciência estão envolvidos o que é informado pelos sentidos e o modo como
a mente enfoca aquilo que é informado. Portanto, dando-se conta dos objetos ideais, uma realidade criada na
consciência, não é suficiente - ao contrário: os vários atos da consciência precisam ser conhecidos nas suas essências,
aquelas essências que a experiência de consciência de um indivíduo deverá ter em comum com experiências
semelhantes nos outros.
A redução eidética é necessária para que a filosofia preencha os requisitos de uma ciência genuinamente rigorosa de
claridade apodítica, a certeza absolutamente transparente e sem ambigüidade - requisitos antes mencionados por
Descartes. Os objetos da ciência rigorosa têm que ser essências atemporais, cuja atemporalidade é garantida por sua
idealidade, fora do mundo cambiável e transiente da ciência empírica.
Por exemplo, "um triângulo". Posso observar um triângulo maior, outro menor, outro de lados iguais, ou desiguais.
Esses detalhes da observação - elementos empíricos - precisam ser deixados de lado a fim de encontrar a essência da
ideia de triângulo - do objeto ideal que é o triângulo -, que é tratar-se de uma figura de três lados no mesmo plano.
Essa redução à essência, ao triângulo como um objeto ideal, é a redução eidética.

A Intuição do Invariante
Não importa para a Fenomenologia como os sentidos são afetados pelo mundo real. Husserl distingue entre
percepção e intuição. Alguém pode perceber e estar consciente de algo, porem sem intuir o seu significado. A
intuição eidética é essencial para a redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi
percebido. O modo de apreender a essência, Wesensschau, é a intuição das essências e das estruturas essenciais. De
comum, o homem forma uma multiplicidade de variações do que é dado. Porém, enquanto mantém a multiplicidade,
o homem pode focalizar sua atenção naquilo que permanece imutável na multiplicidade, a essência - esse algo
idêntico que continuamente se mantém durante o processo de variação, e que Husserl chamou "o Invariante".
No exemplo do triângulo, o "Invariante" do triângulo é aquilo que
estará em todos os triângulos, e não vai variar de um triângulo para
outro. A figura que tiver unicamente três lados em um mesmo plano,
não será outra coisa, será um triângulo. Não podemos acreditar
cegamente naquilo que o mundo nos oferece. No mundo, as essências
estão acrescidas de acidentes enganosos. Por isso, é preciso fazer variar
imaginariamente os pontos de vista sobre a essência para fazer aparecer
o invariante.
O que importa não é a coisa existir ou não ou como ela existe no
A Universidade de Freiburg, onde Husserl e
mundo, mas a maneira pela qual o conhecimento do mundo acontece Heidegger ensinavam filosofia.
como intuição, o ato pelo qual a pessoa apreende imediatamente o
conhecimento de alguma coisa com que se depara – que também é um ato primordialmente dado sobre o qual todo o
resto é para ser fundado. Husserl definiu a Fenomenologia em termos de um retorno à intuição, Anschauung, e a
percepção da essência. Além do mais, a ênfase de Husserl sobre a intuição precisa ser entendida como uma refutação
de qualquer abordagem meramente especulativa da filosofia. Sua abordagem é “concreta”, trata do fenômeno dos
vários modos de consciência.

A Fenomenologia não restringe seus dados à faixa das experiências sensíveis, pois admite dados não sensíveis
(categoriais) como as relações de valor, desde que se apresentem intuitivamente.
Fenomenologia 4

Redução Transcendental
Embora tenha trabalhado até o final de sua vida na definição do que chamou Redução Transcendental, Husserl não
chegou a uma conclusão clara. Basicamente seria a redução fenomenológica aplicada ao próprio sujeito, que então se
vê não como um ser real, empírico, mas como consciência pura, transcendental, geradora de todo significado.
Para o fenomenólogo, a função das palavras não é nomear tudo que nós vemos ou ouvimos, mas salientar os padrões
recorrentes em nossa experiência. Identificam nossos dados dos sentidos atuais como sendo do mesmo grupo que
outros que já tenhamos registrado antes. Uma palavra não descreve uma única experiência, mas um grupo ou um tipo
de experiências; a palavra "mesa" descreve todos os vários dados dos sentidos que nós consultamos normalmente
quanto às aparências ou às sensações de "mesa". Assim, tudo que o homem pensa, quer, ama ou teme, é intencional,
isto é, refere-se a um desses universais (que são significados e, como tal, são fenômenos da consciência). E por sua
vez, o conjunto dos fenômenos, o conjunto das significações, tem um significado maior, que abrange todos os outros,
é o que a palavra "Mundo" significa.

Fenomenologia e Fenomenalismo
A fenomenologia não pode ser confundida com o Fenomenalismo, pois este não leva em conta a complexidade da
estrutura intencional da consciência que o homem tem dos fenômenos. A Fenomenologia examina a relação entre a
consciência e o Ser. Para o Fenomenalismo, tudo que existe são as sensações ou possibilidades permanentes de
sensações, que é aquilo a que chamam fenômeno. O fenomenólogo, diferentemente do fenomenalista, precisa prestar
atenção cuidadosa ao que ocorre nos atos da consciência, que são o que ele chama fenômeno.

Outros Pensadores

Max Scheler
O mais original e dinâmico dos primeiros associados de Husserl, no
entanto, foi Max Scheler (1874-1928), que havia integrado o grupo de
Munique quem realizou seu principal trabalho fenomenológico com
respeito a problemas do valor e da obrigação. Ampliou a idéia de
intuição, colocando, ao lado de uma intuição intelectual, outra de
caráter emocional, fundamento da apreensão do valor.

Heidegger
Discípulo de Husserl, Heidegger dedicou a ele sua obra fundamental
"O Ser e o Tempo" -1927, mas logo surgiram diferenças entre ele e o
mestre. Discutir e absorver os trabalhos de importantes filósofos na
história da Metafísica era, para Heidegger, uma tarefa indispensável,
enquanto Husserl repetidamente enfatizou a importância de um
começo radicalmente novo para a filosofia queria colocar "entre Max Scheler - um dos grandes expoentes da
parênteses", a história do pensamento filosófico - com poucas exceções fenomenologia

como Descartes, Locke, Hume e Kant.

Heidegger tomou seu caminho próprio, preocupado que a fenomenologia se dedicasse ao que está escondido na
experiência do dia a dia. Ele tentou em “O ser e o tempo” descrever o que chamou de estrutura do cotidiano, ou "o
estar no mundo", com tudo que isto implica quanto a projetos pessoais, relacionamento e papeis sociais, pois que
tudo isto também são objetos ideais. Em sua crítica a Husserl, Heidegger salientou que ser lançado no mundo entre
coisas e na contingência de realizar projetos é um tipo de intencionalidade muito mais fundamental que a
Fenomenologia 5

intencionalidade de meramente contemplar ou pensar objetos. E é aquela intencionalidade mais fundamental a causa
e a razão desta última.

Merleau-Ponty
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), outro importante representante do Existencialismo na França, foi ao mesmo
tempo o mais importante fenomenólogo francês. Suas obras, “A Estrutura do comportamento” (1942) e
“Fenomenologia da percepção” (1945), foram os mais originais desenvolvimentos e aplicações posteriores da
Fenomenologia produzidos na França.
Em sua tentativa de aplicar a Fenomenologia ao exame da existência humana, como fez Heidegger, Sartre e outros
autores franceses desenvolveram uma linguagem sofisticada, recheada de termos que caíram no gosto dos
acadêmicos, mas se tornaram um obstáculo ao entendimento da doutrina inclusive entre os próprios intelectuais.

Sartre
Jean-Paul Sartre (1905-1980) segue estritamente o pensamento de Husserl na análise da consciência em seus
primeiros trabalhos, “A Imaginação” (1936) e “O Imaginário: Psicologia fenomenológica da imaginação” (1940), nos
quais faz a distinção entre a consciência perceptual e a consciência imaginativa aplicando o conceito de
intencionalidade de Husserl.
No seu “A Filosofia do Existencialismo”, de 1965, Sartre declara que "a subjetividade deve ser o ponto de partida" do
pensamento existencialista, o que mostra que o existencialista é primeiramente um fenomenólogo. A negação de
valores e o convite ao anarquismo implícitos na doutrina atraíram os pensadores de Esquerda e afastaram os
conservadores de Direita.

A Fenomenologia e Outras Filosofias

O Empirismo
Galileu (1564-1642), com sua luneta, descobre que as esferas celestes não existiam e porque contrariou essa idéia,
tão certa para todos, por pouco não foi condenado a morrer na fogueira, acusado de heresia. A nova atitude
naturalista de Galileu, de dúvida e observação, inspirou Francis Bacon (1561-1626) a criar tábuas para o controle da
experimentação e o estabelecimento de leis científicas, o que levou rapidamente o homem a novos conhecimentos na
astronomia, na química e na física. A mesma atitude de observação e interpretação natural levada ao estudo da mente
e do conhecimento, deu origem à Corrente Empirista, que haveria de afetar profundamente a filosofia e criar o
Positivismo, ou seja, o tratamento científico de todos os fatos e fenômenos, inclusive em Política.

John Locke
O maior dos filósofos empiristas procurou no seu Essay Concerning Human Understanding (1690) demonstrar que
todas as idéias são registros de impressões sensíveis (ou são derivadas de combinações, de associações entre essas
idéias de origem sensível), e criticou o pensamento de Descartes (1596-1650) de que existiriam algumas idéias que
seriam inatas - que o homem teria no espírito ao nascer -, como, por exemplo, a idéia de perfeição. Segundo John
Locke, alguma coisa é enviada pelos objetos e é captada por nossos sentidos e dão causa à formação das idéias. Este
pensamento é a base da teoria corpuscular da luz.
Fenomenologia 6

David Hume
Ainda mais contundente que seu predecessor, Locke, negou o valor do raciocínio lógico e denunciou que a relação
de causa e efeito não é suficiente como verdade, pois nada encontramos entre causa e efeito senão que um acidente
costumeiramente se segue a outro. Estamos habituados a chamar o primeiro acidente de causa apenas porque ele
sempre acontece antes do segundo que chamamos de efeito.

Psicologismo e Historicismo
À influência da psicologia associativa de Locke sobre a filosofia (ou teoria) do conhecimento se chamou
Psicologismo. É a teoria de que os problemas da epistemologia (a validade do conhecimento humano) e inclusive a
questão da consciência, podem ser solucionados por meio do estudo científico dos processos psicológicos. A
Psicologia deve ser tomada como base para a Lógica. Os psicologistas entendiam a lógica - domínio da filosofia -
como ciência. Seria apenas uma disciplina definidora, normativa, dos atos psíquicos, dos modos associativos do
pensamento, e suas matérias apenas regras para pensar bem, e não fonte de verdade. A filosofia ficou fora de moda,
"reduzida" a uma psicologia científica vinculada ao Positivismo.
O historicismo representava a mesma tendência empirista para uma interpretação científica da História. Os fatos
históricos somente poderiam ser compreendidos e julgados se confrontados com a cultura estética, religiosa,
intelectual e moral do período histórico em que aconteciam, e não em relação a valores morais permanentes.

Idealismo
A Fenomenologia de Husserl é uma forma de idealismo, porque lida com objetos ideais, com as idéias das coisas em
sua essência, tal como os idealistas Platão, Hegel e outros. Desde os ensinamentos de Platão a filosofia nos diz que,
por influência dos sentidos (a construção das idéias que o homem tem em sua mente se faz por informação dos
sentidos, como dito por Locke) existem várias imagens possíveis de um objeto, porém todas elas significando a
mesma coisa, ou seja, todas elas redutíveis ao mesmo significado, todas referindo-se ao mesmo objeto ideal,
contendo a mesma idéia, constituídas da mesma essência. Todas as imagens de mesa (o exemplo mais freqüente nos
textos) têm uns certos componentes que fazem com que cada uma das imagens signifique "mesa", uma mesa maior,
menor, alta ou baixa, vista de cima ou de baixo, por uma pessoa míope ou por outra daltônica, não importa, terá
sempre aqueles componentes básicos que garantirão a aquele objeto o significado de mesa.

Platao
Para Platão (428-347 AC), essa essência de cada coisa, o que se chamou "universais", estava no Mundo das Idéias
que as almas humanas podiam vislumbrar antes da encarnação. Aristóteles (384-322 AC) reconheceu de pronto a
importância desse pensamento, porém trouxe a essência das coisas para o mundo real, para as coisas mesmas. Em
uma mesa, por exemplo, havia algo que era sua essência, e que, não importando quantas e quais fossem as variações
acidentais, fazia que fosse uma mesa e não outra coisa qualquer. Husserl, por sua vez, retira do objeto a sua essência
e a coloca na mente do homem. O objeto ideal mesa, o fenômeno da representação da mesa na mente, independe de
que haja qualquer mesa no mundo externo, no mundo real, porque a essência de "mesa" está na própria mente.
Fenomenologia 7

Immanuel Kant
A afinidade entre Husserl e Kant está em ambos buscarem a condição de verdade do conhecimento. Husserl sustenta
que a verdade está no conhecimento das essências, e Kant, que ela existe limitada às categorias do que é possível
conhecer.
Segundo a filosofia do conhecimento (Crítica) de Immanuel Kant (1724-1804), nós não podemos conhecer as coisas
inteiramente, porque nem todos os sinais que recebemos das coisas são aceitos pela mente, e disto resulta que não
podemos conhecer inteiramente o real. Conhecemos do real apenas aquilo que a mente pode assimilar, e que ele
chamou fenômeno; ao que permanece incognoscível para nós ele chamou o noumeno. Então Kant tomou a série de
conceitos que Aristóteles havia listado como o que podemos dizer das coisas, e transformou-a em uma série de
categorias que são o que podemos conhecer das coisas. Para Kant o dado empírico tem validade, porém nunca
validade absoluta ou apodítica. Husserl igualmente duvida do conhecimento científico dos fatos e, para ele, o que
deve ser procurado é o conhecimento científico das essências.

Fenomenologia e Psicologia
Foi de grande importância e de grande impacto o pensamento
fenomenológico na psicologia, na qual Franz Brentano e o alemão Carl
Stumpf haviam preparado o terreno, e na qual o psicólogo americano
William James, a escola de Würzburg, e os psicólogos da Gestalt
haviam trabalhado ao longo de linhas paralelas. Este método, e as
adaptações desse método, tem sido usados para estudar diferentes
emoções, patologias, coisas tais quais separação, solidão,
solidariedade, as experiências artística e religiosa, o silêncio e a fala,
percepção e o comportamento, e assim por diante.

Karl Jaspers

Mas a Fenomenologia deu provavelmente sua maior contribuição no


campo da psiquiatria, no qual o alemão Karl Jaspers (1883-1969), um
destacado existencialista contemporâneo, ressaltou a importância da
investigação fenomenológica da experiência subjetiva de um paciente.
O paciente psicológico é paciente em vista do objeto ideal que em sua
Carl Stumpf
mente corresponde à realidade, não importa qual a situação externa, e
porque essa construção ideal difere do padrão comum dos objetos
ideais na mente das demais pessoas com respeito aos mesmos estímulos dos sentidos. O psicólogo precisa encontrar
o significado nos objetos do mundo ideal do seu paciente, a fim de poder lidar com sua situação psicologia.
Jaspers foi seguido pelo suíço Ludwig Binswanger (1881-1966) e vários outros, inclusive Ronald David Laing
(1927-1989) na Inglaterra, na psiquiatria existencial da linha filosófica ateia de Sartre; Viktor Frankl (1905-1997),
com sua teoria da logotherapia, na Áustria e, pioneiramente, Halley Bessa (1915-1994), no Brasil, ambos da linha do
existencialismo cristão de Gabriel Marcel (1889-1973).
Fenomenologia 8

Críticas à Fenomenologia
Na psicologia, a objeção que se levanta é contra a possibilidade de se viver com o paciente sua própria visão do
mundo, de sua situação e de si mesmo. Como a subjetividade deve estar também no psicólogo, é impossível ter o
terapeuta uma intuição desses aspectos que seja inteiramente livre do seu próprio eu, do seu próprio pensar, de modo
a evitar introduzirem-se em sua análise certas impressões pessoais que precisaria evitar.
A Fenomenologia diz é que o terapeuta deve buscar compreender com a sua subjetividade a subjetividade alheia. Na
verdade, necessita um grupo de psicólogos consultores de modo que as suas visões possam se somar para uma
compreensão mais profunda de um fenômeno, "intersubjectividade". Porém deve lembrar-se de que, a rigor, ele não
tem nenhum padrão absolutamente confiável para aprovar ou reprovar qualquer comportamento alheio, apesar de se
encontrar confortável com a estatística da normalidade das atitudes e dos costumes.
Na Política e no Direito, o modo de se lidar com a subjetividade é a Democracia, em que o problema da
subjetividade é contornado por meio do consenso, pela coincidência estatística de opiniões, pelo voto de um
conselho ou da população, de modo que, por assim dizer, a subjetividade de um único indivíduo, ou de uma minoria
de intelectuais, não venha a prevalecer. Em Moral e Religião, a âncora são as escrituras, consideradas revelação
divina.

Lista de Pensadores
• Edmund Husserl • Maurice Merleau-Ponty • Martin Heidegger
• Max Scheler • Karl Jaspers • Hans-Georg Gadamer
• Franz Brentano • Ludwig Binswanger • Carl Stumpf
• Bernhard Bolzano • Emmanuel Levinas • Gabriel Marcel
• Roman Ingarden • Nicolai Hartmann • Hannah Arendt
• Jean-Paul Sartre • Jan Patočka • Martin Buber
• Dietrich von Hildebrand • Oskar Becker • Paul Ricoeur
• Michel Henry • Edith Stein • Alfred Schütz
• Ernesto Grassi • Georges Gurvitch • Friederich Perls
• Renaud Barbaras • Eugen Fink • Alexander Schnell
• Bruce Begout • Theodor Conrad • Hans Köchler
• Arnold Gehlen • Claude Romano • Françoise Dastur
• Ludwig Landgrebe • Jean-Luc Marion • Joel Martins
• Bernhard Waldenfels • Helmuth Plessner • Ronald D. Laing
• Rombach Heinrich • Amedeo Giorgi • Erazim Kohah
• Adolf Reinach • Mikel Dufrenne • Marc Richor
• Stanley Cavell • Shaun Gallagher

Links Externos
• Newsletter of Phenomenology. [1] (online-newsletter)
• Research in Phenomenology. [2] Duquesne Univ. Pr., Pittsburgh Pa 1.1971ff. ISSN 0085-5553 [3]
• Studia Phaenomenologica. [4] ISSN 1582-5647 [5]
• Center for Advanced Research in Phenomenology [6]
• Sociedade Brasileira de Psicologia Humanista Existencial [7]
Fenomenologia 9

Referências
[1] http:/ / www. phenomenology. ro/ newsletter/ newsletter_all. htm
[2] http:/ / www. brill. nl/ m_catalogue_sub6_id9390. htm
[3] http:/ / dispatch. opac. d-nb. de/ DB=1. 1/ LNG=EN/ CMD?ACT=SRCHA& IKT=8& TRM=0085-5553
[4] http:/ / www. studia-phaenomenologica. com/
[5] http:/ / dispatch. opac. d-nb. de/ DB=1. 1/ LNG=EN/ CMD?ACT=SRCHA& IKT=8& TRM=1582-5647
[6] http:/ / www. phenomenologycenter. org
[7] http:/ / www. sobraphe. org. br

Edmund Husserl
Edmund Gustav Albrecht Husserl

Edmund Husserl

Nascimento 8 de Abril de 1849


Proßnitz

Morte 26 de Abril de 1938


Friburgo

Nacionalidade Alemão

Ocupação Filósofo

Escola/tradição Fenomenologia

Principais interesses Epistemologia, Lógica, Ontologia, Matemática

Ideias notáveis Epoché, Noema, Noesis, Redução eidética, Experiência antepredicativa, Lógica genética, fundador da Fenomenologia

Influências

Influenciados

Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de Abril de 1859 — Friburgo, 26 de Abril de 1938) foi um
matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da fenomenologia.
Edmund Husserl 10

Biografia
Nascido numa família judaica numa pequena localidade da Morávia (região da actual República Checa). Aluno de
Franz Brentano e Carl Stumpf, Husserl influenciou entre outros os alemães Edith Stein, Eugen Fink e Martin
Heidegger, e os franceses Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, Michel Henry e Jacques Derrida. O interesse do
matemático Hermann Weyl pela lógica intuicionista e pela noção de impredicatividade teria resultado de contatos
com Husserl. Na verdade, a impulsão primeira da lógica positivista, como seus desenvolvimentos mais recentes,
seríam estreitamente tributários da crítica de certos aspectos da filosofia de Husserl pelas filosofias insulárias e
americanas. Ao reverso, a obra do discípulo Heidegger foi considerada pelo mestre como resultando de graves
desinterpretações de seus ensinos e métodos. Em 1887, Husserl converte-se ao cristianismo e junta-se à Igreja
Luterana. Começa ensinando filosofia em Halle como tutor (Privatdozent) desde 1887, continua em Göttingen como
professor em 1901 e mais tarde em Friburgo (Freiburg am Breisgau) a partir de 1916, até que se aposenta em 1928.
Como aposentado, Husserl continua suas pesquisas e atividades nas instituições de Friburgo, até que seja
definitivamente demitido por causa de sua ascendência judia, sob o reitorado de seu antigo aluno e protegé,
Heidegger.

Vida e obra
Husserl estudou inicialmente matemática nas universidades de Leipzig (1876) e Berlin (1878), seguindo as lições de
Karl Weierstrass e Leopold Kronecker. Em 1881, vai a Viena para estudar sob a direção de Leo Königsberger
(antigo aluno de Weierstrass), obtendo seu doutorado em 1883, apresentando a tese Beiträge zur Variationsrechnung
(« Contribuições ao calculo das variações »).
Em 1884, em filosofía na Universidade de Viena. Brentano tanto impressionou Husserl que ele pretende então
dedicar sua vida à filosofia. Em 1886 Husserl vai à Universidade de Halle, recomendado por Brentano para Carl
Stumpf para sua habilitação. Sob sua direção, Husserl escreve Über den Begriff der Zahl (« Sobre o Conceito do
Número », 1887) cujos arquivos fornecerão as bases de sua primeira obra importante, Philosophie der Arithmetik
("Filosofia da Aritmética", 1891). Nessas primeiras pesquisas, Husserl tenta combinar matemática com a filosofia
empírica pela qual tinha sido iniciado em Viena. Seu objetivo central será contribuir no fornecimento de fundações
sólidas para a ciência matemática. O tema de seu estudo será a análise dos processos mentais necessários para a
formação do conceito de número; baseado em suas próprias análises, como nos métodos atípicos de seus professores,
tentará projetar a possibilidade de uma teoria sistemática. Em relação ao ensino de Karl Weierstrass, Husserl tenta
derivar a idéia de que o conceito de número se obtém por um "desconto" de certas coleções de objetos; em respeito a
Brentano-Stumpf, Husserl desenvolve a distinção entre as noções de presentações próprias e impróprias. Temos
uma presentação própria quando o objeto está "atualmente" presente (no campo de vista, contexto ou intuição).
Imprópria (ou simbólica, como também é referida), se podemos indicá-lo somente através de signos, símbolos etc.
Nas Investigações Lógicas, de 1901, a IIIª Investigação foi interpretada como o início da teoria simbólica dos todos e
suas partes, também referida como mereologia (um ramo da Ontologia formal).
Outro elemento importante herdado por Brentano foi a noção de intencionalidade, que define a forma essencial dos
processos mentais. Uma definição simples dirá que a principal característica da consciência é de ser sempre
intencional. A consciência sempre é consciência de alguma coisa : a análise intencional e descritiva da consciência
definirá as relações essenciais entre atos mentais e mundo externo. Mas, para Brentano, o objetivo fora gerar com
métodos empíricos (apoiando-se na introspecção pura) um critério-chave que possa caracterizar os fenômenos
psíquicos por oposto aos fenômenos físicos, distinção cujo objetivo fora legitimar uma ciência psicológica nova, e
livre de preconceitos (Psychologie vom empirischen Standpunkt, 1874). Para Brentano, todo ato mental tem seus
conteúdos, caracterizados por sua direção a um objeto ("objeto intencional"). Toda crença, desejo, tem
necessariamente seus objetos : o desejado, o acreditado, etc. Brentano usou da expressão “inexistência intencional”
para indicar o status, na mente, dos objetos do pensamento. Com a noção de intencionalidade, o filósofo austríaco
propôs um conjunto de traços que distinguiriam de maneira perfeitamente empírica os fenômenos psíquicos dos
Edmund Husserl 11

fenômenos físicos : para Brentano, fenômenos físicos não tem intencionalidade. O desenvolvimento e a crítica do
conceito brentaniano aparece como o motivo permanente, central, da obra de Edmund Husserl. A principal diferença,
em sua interpretação da noção de intencionalidade, aparece na crítica de seu modo in-existente ("inexistência" como
existencia "interna"): a transcendência necessária da mente e do discurso, a objetividade óbvia e no entanto
contraditória do porvenir científico e histórico, a objetividade radical, constituidora, da subjetividade formarão a
marca do trabalho do primeiro fenomenologista, e seus elementos próprios de fascinação.
Alguns anos após a publicação de sua principal obra, as Logische Untersuchungen (Investigações Lógicas; primeira
edição, 1900-1901), Husserl elaborou alguns conceitos-chave que o levaram a afirmar que para estudar a estrutura da
consciência seria necessário distinguir entre o ato de consciência e o fenômeno ao qual ele é dirigido (o objeto-em-si,
transcendente à consciência). O conhecimento das essências seria possível apenas se “colocamos entre parênteses”
todos os pressupostos relativos à existência de um mundo externo. Este procedimento ele denominou epoché. Estes
novos conceito provocaram a publicação de Ideen (Idéias) em 1913, no qual eles foram pela primeira vez
incorporados, e um plano para uma segunda edição das Logische Untersuchungen.
A partir de Ideen, Husserl se concentrou nas estruturas ideais, essenciais da consciência. O problema metafísico de
estabelecer a realidade material daquilo que percebemos era de pequeno interesse para Husserl (diferentemente do
que ocorria quando ele tinha que defender repetidamente sua posição a respeito do idealismo transcendental, que
jamais propôs a inexistência de objetos materiais reais). Husserl propôs que o mundo dos objetos e modos nos quais
dirigimo-nos a eles e percebemos aqueles objetos é normalmente concebido dentro do que ele denominou “ponto de
vista natural”, caracterizado por uma crença de que os objetos existem materialmente e exibem propriedades que
vemos como suas emanações. Husserl propôs um modo fenomenológico radicalmente novo de observar os objetos,
examinando de que forma nós, em nossos diversos modos de ser intencionalmente dirigidos a eles, de fato os
“constituimos” (para distinguir da criação material de objetos ou objetos que são mero fruto da imaginação); no ponto
de vista Fenomenológico, o objeto deixa de ser algo simplesmente “externo” e deixa de ser visto como fonte de
indicações sobre o que ele é (um olhar que é mais explicitamente delineado pelas ciências naturais), e torna-se um
agrupamento de aspectos perceptivos e funcionais que implicam um ao outro sob a idéia de um objeto particular ou
“tipo”. A noção de objetos como real não é removida pela fenomenologia, mas “posta entre parênteses” como um
modo pelo qual levamos em consideração os objetos em vez de uma qualidade inerente à essência de um objeto
fundada na relação entre o objeto e aquele que o percebe. Para melhor entender o mundo das aparências e objetos, a
Fenomenologia busca identificar os aspectos invariáveis da percepção dos objetos e empurra os atributos da
realidade para o papel de atributo do que é percebido (ou um pressuposto que perpassa o modo como percebemos os
objetos).
Em um período posterior, Husserl começou a se debater com as complicadas questões da intersubjetividade
(especificamente, como a comunicação sobre um objeto pode ser suposta como referindo-se à mesma entidade ideal)
e experimenta novos métodos para fazer entender aos seus leitores a importância da Fenomenologia para a
investigação científica (especificamente para a Psicologia) e o que significa “pôr entre parênteses” a atitude natural.
A Crise das Ciências Européias é o trabalho inacabado de Husserl que lida mais diretamente com estas questões.
Nele, Husserl pela primeira vez busca um panorama histórico do desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência,
enfatizando os desafios apresentados pela sua crescente (unilateral) orientação empírica e naturalista. Husserl declara
que a realidade mental e espiritual possui sua própria realidade independente de qualquer base física e que a ciência
do espírito (Geisteswissenschaft) deve ser estabelecida sobre um fundamento tão científico como aquele alcançado
pelas ciências naturais.
Como resultado da legislação anti-semita aprovada pelos nazistas em abril de 1933, foi negado ao Professor Husserl
o acesso à biblioteca de Freiburg. Seu antigo pupilo e membro do partido nazista, Martin Heidegger, comunicou a
Husserl sua demissão. Heidegger (cuja filosofia Husserl considerava ser o resultado de uma compreensão incorreta
dos ensinamentos e dos métodos do próprio Husserl) retirou a dedicatória a Husserl de seu mais conhecido trabalho
Ser e Tempo (Sein und Zeit), quando este foi reeditado em 1941.
Edmund Husserl 12

Em 1939, os manuscritos de Husserl, que somavam aproximadamente 40.000 páginas taquigrafadas de Gabelsberger
e sua pesquisa bibliográfica completa foi clandestinamente transportada para a Bélgica e depositada em Leuven onde
foram criados os Husserl-Archives. Muito do material encontrado em suas pesquisas manuscritas foi publicado na
série de edições críticas Husserliana.

A crise das ciências


“A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental”[1] foi a última obra de Husserl, a qual se divide em
três partes:
• Primeira Parte: “A crise das ciências como expressão da crise radical da vida da humanidade européia”,
correspondendo aos parágrafos 1 a 7;
• Segunda Parte: “A origem do contraste moderno entre objetivismo fisicalista e subjetivismo transcendental”,
correspondendo aos parágrafos 8 a 27;
• Terceira Parte: “Esclarecimento do problema transcendental e a inerente função da psicologia”, a qual inclui as
subpartes “A” (A via de acesso à filosofia transcendental fenomenológica por meio da reconsideração do
mundo-da-vida já dado) e “B” (A via de acesso à filosofia transcendenal fenomenológica a partir da psicologia),
correspondendo, respectivamente, aos parágrafos 28 a 55 e 56 a 73.
Quanto aos textos agregados, incluem-se três conferências históricas de Husserl:
• “Ciência da realidade e idealização. A matematização da natureza.”
• “A atitude das ciências naturais e a atitude das ciências do espírito. Naturalismo, dualismo e psicologia
psicofísica.”
• “A crise da humanidade européia e a filosofia.”
A obra também contém os Apêndices I a XXIX, nos quais Husserl aprofunda os diversos argumentos tratados.

Lista de obras
Obras completas:
• Husserliana
Obras publicadas em vida:
• Über den Begriff der Zahl. Psychologische Analysen (1887).
• Philosophie der Arithmetik. Psychologische und logische Untersuchungen (1891).
• Logische Untersuchungen. Zweite Teil: Untersuchungen zur Phänomenologie und Theorie der Erkenntnis (1901).
• Philosophie als strenge Wissenschaft (1911).
• Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie. Erstes Buch: Allgemeine - -
Einführung in die reine Phänomenologie (1913).
• Vorlesungen zur Phänomenologie des inneren Zeitbewusstseins (1928).
• Formale und transzendentale Logik. Versuch einer Kritik der logischen Vernunft (1929).
• Méditations cartèsiennes (1931) (tradução francesa da obra póstuma Cartesianische Meditationen - 1950).
• Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzentale Phänomenologie: Eine Einleitung in die
phänomenologische Philosophie (1936).
Edmund Husserl 13

Referências
plato.stanford.edu/entries/husserl/
[1] Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie (https:/ / portal. d-nb. de/ opac.
htm?method=showFullRecord& currentResultId=husserl%2C+ edmund+ Die+ Krisis+ der+ europ%C3%A4ischen+ Wissenschaften+ und+
die+ transzendentale+ Ph%C3%A4nomenologie%26any& currentPosition=23)

Franz Brentano
Franz Clemens Honoratus Hermann Brentano (Marienberg am
Rhein, 16 de Janeiro de 1838 — Zurique, 17 de Março de 1917)
foi um filósofo alemão.
Sobrinho do poeta alemão Clemens Brentano, lecionou em
Würzburgo e na Universidade de Viena. Em 1864 foi ordenado
padre, mas envolvendo-se em controvérsias sobre a doutrina da
infalibilidade papal, abandonou a Igreja em 1873. Morreu em
1917, deixando uma obra volumosa.
Sua filosofia evoluiu em direção de um aristotelismo moderno,
nitidamente empírico em seus métodos e princípios. Os trabalhos
mais importantes de Brentano são no campo da psicologia, por ele
definida como ciência dos fenômenos psíquicos (ou, o que para ele
é sinônimo, da consciência). Os objetos de seus estudos não foram,
porém, os estados, mas sim os atos e processos psíquicos. Segundo
Brentano, o fenômeno psíquico distingue-se dos demais por sua
propriedade de referir-se a um objeto, bem como a um conteúdo
de consciência, através de mecanismos puramente mentais. À
psicologia caberia, então, estudar as diversas maneiras pelas quais
a consciência institui suas relações para com os objetos existentes nela mesma, descrever a natureza desta relação,
bem como o modo de existência deste objeto.

Brentano distingue três classes de fenômenos psíquicos fundamentais: a percepção, julgamento e sentimento de amor
(aprovação) ou sentimento de ódio (desaprovação). Seu trabalho mais importante publicado em vida foi Psychologie
von Empirischem Standpunkt (Psicologia segundo o ponto de vista empírico), de 1874. A segunda edição desta obra
inclui ainda Von der Klassifikation der Psychischen Phänomene (Sobre a classificação dos fenômenos psíquicos).
Sua obra póstuma mais importante é Von Simmlichen um Poetishen Bewusstsein (Sobre a consciência sensorial e
poética), de 1928.
Foi o mestre de filosofia de Edmund Husserl, sendo a sua obra uma das origens da fenomenologia.
Max Scheler 14

Max Scheler
Max Scheler

Max Scheler

Nascimento 22 de agosto de 1874


Munique, Alemanha

Morte 19 de maio de 1928


Frankfurt, República Checa

Nacionalidade alemã

Ocupação Filósofo

Escola/tradição Fenomenologia

Principais interesses Ontologia, Epistemologia e Psicologia

Max Scheler (22 de agosto de 1874, Munique - 19 de maio de 1928, Frankfurt am Main) foi um filósofo alemão
conhecido por seu trabalho sobre fenomenologia, ética, and antropologia filosófica.
Scheler desenvolveu o método do criador a da fenomenologia, Edmund Husserl, e era chamado por José Ortega y
Gasset como o "o primeiro homem do paraíso filosófico". Em 1954, Karol Wojtyla, posteriormente Papa João Paulo
II, defendeu sua tese sobre "Uma avaliação da possibilidade de construir uma Ética Cristã baseada do sistema de
Max Scheller".

Contribuições filosóficas
O centro do pensamento de Scheler era a sua teoria do valor. De acordo com Scheler, o ser-valor de um objeto
precede a percepção. A realidade axiológica dos valores é anterior à sua existência. Os valores e seus
correspondentes opostos existem em uma ordem objetiva.
René Descartes 15

René Descartes
René Descartes

René Descartes em pintura de Frans Hals

Nascimento 31 de março de 1596


La Haye en Touraine (atualmente Descartes), Indre-et-Loire, França

Morte 11 de fevereiro de 1650 (53 anos)


Estocolmo, Suécia

Nacionalidade Francesa

Ocupação Filósofo, matemático, físico

Magnum opus Discurso sobre o método

Escola/tradição Cartesianismo, racionalismo, fundacionalismo

Principais interesses Metafísica, Epistemologia, Matemática, Ciência

Ideias notáveis Cogito ergo sum, dualismo cartesiano, dúvida metódica, sistema de coordenadas cartesiano, argumento ontológico para a
existência de Deus, considerado o fundador da Filosofia Moderna

Influências

Influenciados

René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 — Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650) foi um
filósofo, físico e matemático francês. Durante a Idade Moderna também era conhecido por seu nome latino Renatus
Cartesius.
Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve
reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o
sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado
um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e
várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras
ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que a partir de Descartes
inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento
filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto - o empirismo, com John Locke e David Hume.
René Descartes 16

Vida
René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye (hoje Descartes), no departamento francês de Indre-et-Loire.
Com oito anos, ingressou no colégio jesuíta Royal Henry-Le-Grand, em La Flèche. O curso em La Flèche durava
três anos, tendo Descartes sido aluno do Padre Estevão de Noel, que lia Pedro da Fonseca nas aulas de Lógica, a par
dos Commentarii. Descartes reconheceu que lá havia certa liberdade, no entanto no seu Discurso sobre o método
declara a sua decepção não com o ensino da escola em si mas com a tradição Escolástica, cujos conteúdos
considerava confusos, obscuros e nada práticos. Em carta a Mersenne, diz que "os Conimbres são longos, sendo bom
que fossem mais breves. Crítica, aliás, já então corrente, mesmo nas escolas da Companhia de Jesus". Descartes
esteve em La Flèche por cerca de nove anos (1606-1615).[1] "Descartes não mereceu, como se sabe, a plena
admiração dos escolares jesuítas, que o consideravam deficiente filósofo".[2] Prosseguiu depois seus estudos
graduando-se em Direito, em 1616, pela Universidade de Poitiers.
No entanto, Descartes nunca exerceu o Direito, e em 1618 alistou-se no exército do Príncipe Maurício de Nassau,
com a intenção de seguir carreira militar. Mas se achava menos um ator do que um espectador: antes ouvinte numa
escola de guerra do que verdadeiro militar. Conheceu então Isaac Beeckman, que o influenciou fortemente e compôs
um pequeno tratado sobre música intitulado Compendium Musicae (Compêndio de Música).
Também é dessa época (1619-1620) o Larvatus prodeo (Ut comœdi, moniti ne in fronte appareat pudor, personam
induunt, sic ego hoc mundi teatrum conscensurus, in quo hactenus spectator exstiti, larvatus prodeo. [3] Esta
declaração do jovem Descartes no preâmbulo das Cogitationes Privatae (1619) é interpretada como uma confissão
que introduz o tema da dissimulação, e, segundo alguns, marca uma estratégia de separação entre filosofia e teologia.
Jean-Luc Marion, em seu artigo Larvatus pro Deo : Phénoménologie et théologie refere-se à abordagem dionisíaca
do homem escondido diante de deus (larvatus pro Deo) como justificativa teológica do filósofo que avança
mascarado (larvatus prodeo).
Em 1619, viaja até a Alemanha, onde, no dia 10 de Novembro, teve uma visão em sonho de um novo sistema
matemático e científico. Em 1622, ele retorna à França passando os anos seguintes em Paris.
Em 1628 compõe as Regulae ad directionem ingenii (Regras para a Direção do Espírito) e parte para os Países
Baixos, onde viverá até 1649. Em 1629, começa a redigir o Tratado do Mundo, uma obra de Física na qual aborda a
sua tese sobre o heliocentrismo. Porém, em 1633, quando Galileu é condenado pela Inquisição, Descartes abandona
seus planos de publicá-lo. Em 1635 nasce Francine, filha de uma serviçal. A criança é batizada no dia 7 de Agosto de
1635 mas morre precocemente em 1640, o que foi um grande baque para Descartes.
Em 1637, publica três pequenos tratados científicos: A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria, mas o prefácio dessas
obras é que faz seu futuro reconhecimento: o Discurso sobre o método.
Em 1641, aparece sua obra filosófica e metafísica mais imponente: as Meditações Sobre a Filosofia Primeira, com
os primeiros seis conjuntos de Objeções e Respostas. Os autores das objeções são: do primeiro conjunto, o teólogo
holandês Johan de Kater; do segundo, Mersenne; do terceiro, Thomas Hobbes; do quarto, Arnauld; do quinto,
Gassendi; e do sexto conjunto, Mersenne.
Em 1642, a segunda edição das Meditações incluía uma sétima objeção, feita pelo jesuíta Pierre Bourdin, seguida de
uma Carta a Dinet.
Em 1643, o cartesianismo é condenado pela Universidade de Utrecht. Descartes inicia a sua longa correspondência
com a Princesa Isabel (1618 – 1680), filha mais velha de Frederico V e de Isabel da Boémia. A correspondência
deverá durar sete anos, até a morte do filósofo, em 1650.
Também no ano de 1643, Descartes publica Os Princípios da Filosofia, onde resume seus princípios filosóficos que
formariam "ciência". Em 1644, faz uma visita rápida a França onde encontra Chanut, o embaixador francês junto à
corte sueca, que o põe em contato com a rainha Cristina da Suécia. Nesta ocasião, Descartes teria declarado que o
Universo é totalmente preenchido por um "éter" onipresente. Assim, a rotação do Sol, através do éter, criaria ondas
ou redemoinhos, explicando o movimento dos planetas, tal qual uma batedeira. O éter também seria o meio pelo qual
René Descartes 17

a luz se propaga, atravessando-o pelo espaço, desde o Sol até nós.


Em 1647 Descartes é premiado pelo Rei da França com uma pensão e começa a trabalhar na Descrição do Corpo
Humano. Entrevista Frans Burman em Egmond-Binnen (1648), resultando na Conversa com Burman. Em 1649, vai
à Suécia, a convite da Rainha Cristina. Seu Tratado das Paixões, que ele dedicou a sua amiga Isabel da Boêmia, fora
publicado.
René Descartes morreu de pneumonia no dia 11 de Fevereiro de 1650, em Estocolmo, onde estava trabalhando como
professor a convite da Rainha. Acostumado a trabalhar na cama até meio-dia, há de ter sofrido com as demandas da
Rainha Christina, cujos estudos começavam às 5 da manhã. Como um católico num país protestante, ele foi
enterrado num cemitério de crianças não batizadas, na Adolf Fredrikskyrkan, em Estocolmo.
Em 1667, os restos de Descartes foram repatriados para a França e enterrados na Abadia de Sainte-Geneviève de
Paris. Um memorial construído no século XVIII permanece na igreja sueca.
Embora a Convenção, em 1792, tenha projetado a transferência do seu túmulo para o Panthéon, ao lado de outras
grandes figuras da França, desde 1819, seu túmulo está na Igreja de Saint-Germain-des-Prés, em Paris.
A vila no vale do Loire onde ele nasceu foi renomeada La Haye-Descartes e, posteriormente, já no final do século
XX, Descartes.

Pensamento
O pensamento de Descartes é revolucionário para uma sociedade feudalista em que ele nasceu, onde a influência da
Igreja ainda era muito forte e quando ainda não existia uma tradição de "produção de conhecimento". Aristóteles
tinha deixado um legado intelectual que o clero se encarregava de disseminar.
Foi um dos precursores do movimento, considerado o pai do racionalismo, e defendeu a tese de que a dúvida era o
primeiro passo para se chegar ao conhecimento.
Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre Protestantes e Católicos na Europa - a Guerra dos
Trinta Anos. Viajou muito e viu que sociedades diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias. Aquilo que
numa região é tido por verdadeiro, é considerado ridículo, disparatado e falso em outros lugares.
Descartes viu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição "cultural" influenciam a forma como as pessoas
pensam naquilo em que acreditam.

O primeiro pensador moderno


Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno [4] , . A sua contribuição à epistemologia é essencial, assim
como às ciências naturais por ter estabelecido um método que ajudou no seu desenvolvimento. Descartes criou, em
suas obras Discurso sobre o método e Meditações - a primeira escrita em francês, a segunda escrita em latim, língua
tradicionalmente utilizada nos textos eruditos de sua época - as bases da ciência contemporânea.
O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - que nada tem a ver com a atitude cética: duvida-se de
cada ideia que não seja clara e distinta. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as
coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser etc., Descartes instituiu a dúvida: só
se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes
busca provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - ego cogito ergo sum- eu que penso,
logo existo) e de Deus.
Também consiste o método de quatro regras básicas:
• verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
• analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais
simples;
• sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;
René Descartes 18

• enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.


Em relação à Ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que influenciou muitos, até ser superada pela
metodologia de Newton. Ele sustentava, por exemplo, que o universo era pleno e não poderia haver vácuo.
Acreditava que a matéria não possuía qualidades secundárias inerentes, mas apenas qualidades primarias de extensão
e movimento.
Ele dividia a realidade em res cogitans (consciência, mente) e res extensa (matéria). Acreditava também que Deus
criou o universo como um perfeito mecanismo de moção vertical e que funcionava deterministicamente sem
intervenção desde então.
Matemáticos consideram Descartes muito importante por sua descoberta da geometria analítica. Até Descartes, a
geometria e a álgebra apareciam como ramos completamente separados da Matemática. Descartes mostrou como
traduzir problemas de geometria para a álgebra, abordando esses problemas através de um sistema de coordenadas.
A teoria de Descartes forneceu a base para o Cálculo de Newton e Leibniz, e então, para muito da matemática
moderna. Isso parece ainda mais incrível tendo em mente que esse trabalho foi intencionado apenas como um
exemplo no seu Discurso Sobre o Método.

Geometria
O interesse de Descartes pela matemática surgiu cedo, no “College de la Flèche”, escola do mais alto padrão, dirigida
por jesuítas, na qual ingressara aos oito anos de idade. Mas por uma razão muito especial e que já revelava seus
pendores filosóficos: a certeza que as demonstrações ou justificativas matemáticas proporcionam. Aos vinte e um
anos de idade, depois de frequentar rodas matemáticas em Paris (além de outras), já graduado em Direito, ingressa
voluntariamente na carreira das armas, uma das poucas opções “dignas” que se ofereciam a um jovem como ele,
oriundo da nobreza menor da França. Durante os quase nove anos que serviu em vários exércitos, não se sabe de
nenhuma proeza militar realizada por Descartes.
A geometria analítica de Descartes apareceu em 1637 no pequeno texto chamado Geometria, como um dos três
apêndices do Discurso do Método, obra considerada o marco inicial da filosofia moderna. Nela, em resumo,
Descartes defende o método matemático como modelo para a aquisição de conhecimentos em todos os campos.

Obras importantes
• Regras para a direção do espírito (1628) - obra da juventude inacabada na qual o método aparece em forma de
numerosas regras;
• O Mundo ou Tratado da Luz (1632-1633) - obra contém algumas das conquistas definitivas da física clássica: a
lei da inércia, a da refração da luz e, principalmente, as bases epistemológicas contrárias ao que seria denominado
de princípio da ciência escolástica, radicada no aristotelismo;
• Discurso sobre o método (1637);
• Geometria (1637);
• Meditações Metafísicas (1641).
René Descartes 19

Citações
"Descartes deseja ser ao nível da cognição um self-made-man. Ele é o Samuel Smiles do empreendimento
cognitivo." (Ernest Gellner, "Reason and Culture", Oxford 1992, p. 3.).
[1] Pinharanda Gomes, Os Conimbricenses, 1992, p. 118-119.
[2] Pinharanda Gomes, Os Conimbricenses, 1992, p. 119.
[3] "Como os comediantes, chamados ao palco, tem pudor em revelar seus rostos e usam máscaras, assim eu, no momento de subir ao palco deste
mundo, onde até então fui espectador, subo mascarado."
[4] Gonçal Mayos, O PROBLEMA SUJEITO-OBJETO EM DESCARTES, PERSPECTIVA DA MODERNIDADE (http:/ / www. ub. edu/
histofilosofia/ gmayos/ 4presentacio. htm), traduzido por Mariá Brochado e Natália Freitas Miranda.

Bibliografia
• DAMÁSIO, António R. O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo, Companhia das
Letras, 1996.
• DESCARTES. Œuvres, édition Charles ADAM et Paul TANNERY, Léopold Cerf, 1897-1913, 13 volumes;
nouvelle édition complétée, Vrin-CNRS, 1964-1974, 11 vol. (edição de referência).
• SPINELLI, Miguel. "A Matemática como paradigma da construção filosófica de Descartes". In: Revista Cadernos
de História e Filosofia da Ciência. Unicamp, Campinas, v.2, n.1, 1990, pp. 5-15.

Ligações externas
• IntraText Digital - Library: links para obras de René Descartes em várias línguas, incluindo link para o Discurso
do Método (http://www.intratext.com/Catalogo/Autori/AUT135.HTM)
• Consciência.org - Descartes: Dados biográficos (http://www.consciencia.org/moderna/descartes.shtml)
• Stanford Encyclopedia of Philosophy (SEP): Descartes' Epistemology (http://plato.stanford.edu/entries/
descartes-epistemology/) (em inglês)
John Locke 20

John Locke
John Locke

Nascimento 29 de agosto de 1632


Wrington, Somerset, Inglaterra

Morte 28 de outubro de 1704 (72 anos)


Essex, Inglaterra

Escola/tradição Empirismo britânico, Contrato social, Lei natural

Principais interesses Metafísica, Epistemologia, Filosofia política, filosofia da mente, educação

Ideias notáveis Tabula rasa; Lei natural; Direito à vida, liberdade e propriedade

Influências

Influenciados

Assinatura

John Locke (Wringtown, 29 de agosto de 1632 — Harlow, 28 de outubro de 1704) foi um filósofo inglês e ideólogo
do liberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do
contrato social.
Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no que era
percebido pelos sentidos. Escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a
origem e a natureza de nossos conhecimentos. Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra. Locke
dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para
garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a
vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um
governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões.
Dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro tratado sobre o governo civil, critica a tradição que afirmava o
direito divino dos reis, declarando que a vida política é uma invenção humana, completamente independente das
questões divinas. No Segundo tratado sobre o governo civil, expõe sua teoria do Estado liberal e a propriedade
John Locke 21

privada.

Biografia
Estudou medicina, ciências naturais e filosofia em Oxford, principalmente as obras de Bacon e Descartes. Em 1683,
John Locke fugiu para Holanda. Voltou à Inglaterra quando Guilherme de Orange subiu ao trono, em 1688. Faleceu
em 28 de outubro de 1704, com 72 anos. Locke nunca se casou ou teve filhos.

Obra
Locke é considerado o protagonista do empirismo, isto é, a teoria denominada de Tabula rasa (do latim, "folha em
branco").[1] Esta teoria afirma que todas as pessoas nascem sem saber absolutamente nada e que aprendem pela
experiência, pela tentativa e erro. Esta é considerada a fundação do "behaviorismo".
A filosofia política de Locke fundamenta-se na noção de governo consentido dos governados diante da autoridade
constituída e o respeito ao direito natural do ser humano, de vida, liberdade e propriedade. Influencia, portanto, as
modernas revoluções liberais: Revolução Inglesa, Revolução Americana e na fase inicial da Revolução Francesa,
oferecendo-lhes uma justificação da revolução e a forma de um novo governo. Para fins didáticos, Locke costuma
ser classificado entre os "Empiristas Britânicos", ao lado de David Hume e George Berkeley, principalmente pela
obra relativa à questões epistemológicas. Em ciência política, costuma ser classificado na escola do direito natural ou
jusnaturalismo.
Para Bernard Cottret, biógrafo de João Calvino, contrastando com a
história trágica da brutal repressão aos protestantes em França no
século XVI, e a própria intolerância e zelo religioso radical de João
Calvino em Genebra, o nome de John Locke está intimamente
associado à tolerância. Uma tolerância que os franceses aprendem a
valorizar apenas na década de 80 do século XVII, quase às portas do
Iluminismo. Como Voltaire afirmou, a tolerância é para os franceses
um artigo de importação. Bernard Cottret afirma: "a tolerância é o
produto de um espaço geográfico específico, nomeadamente o noroeste
da Europa. Ou seja: a Inglaterra e a Holanda. E ela é no final em
especial a obra de um homem - John Locke - a quem o século XVII
dedica um culto permanente".[2]

Dentre os escritos políticos, a obra mais influente foi o tratado em duas


partes, Dois Tratados sobre o Governo (1689). A primeira descreve a
Retrato de John Locke condição corrente do governo civil; a segunda parte descreve a
justificação para o governo e os ideais necessários à viabilização.
Segundo Locke todos são iguais e que a cada um deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique
nenhum outro. Com este fundamento deu continuidade à justificação clássica da propriedade privada ao declarar que
o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele
ao misturar o trabalho com os recursos naturais. Este tratado também introduziu o "proviso de Locke", no qual
afirmava que o direito de tomar bens da área pública é limitado pela consideração de que "ainda havia suficientes, e
tão bons; e mais dos ainda não fornecidos podem servir", por outras palavras, que o indivíduo não pode
simplesmente tomar aquilo que pretende, também tem de tomar em consideração o bem comum.

Em Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690), Locke propõe que a experiência é a fonte do conhecimento,
que depois se desenvolve por esforço da razão. Outra obra filosófica notável é Pensamentos sobre a Educação,
publicado em 1693. As fontes principais do pensamento de Locke são: o nominalismo escolástico, cujo centro era a
Oxford; o empirismo inglês da época; o racionalismo defendido por René Descartes e a filosofia de Malebranche.
John Locke 22

A tolerância
Locke pode ser considerado como o marco da democracia liberal com a importância dada pelo seu pensamento à
ideia de tolerância. O que estava em jogo era, obviamente, a tolerância religiosa, contra os abusos do absolutismo.
Todavia, seu pensamento chega até hoje pelo sucesso das democracias liberais que se baseiam nos valores da
liberdade e da tolerância. Eles são a base dos direitos humanos como até hoje previstos pelas cartas de direitos. Por
tudo isso se pode dizer que os valores defendidos por John Locke são até hoje a base da democracia moderna. [3] .
Entretanto tal tolerância não se aplica aos povos indígenas que por não estarem associados ao restante da
humanidade no uso do dinheiro [4] poderiam ser equiparados a bestas de caça ou bestas selvagens [5] , o que serviu de
base ideológica para a tomada das terras e extermínio de populações indígenas; nem aos papistas (católicos) que
seriam como serpentes, dos quais nunca se conseguiria que abram mão de seu veneno com um tratamento gentil" [6] .
Reassalte-se que tal intolerância em relação aos indígenas não era verificada em pensadores anteriores como
Montaigne, que quando se referia às populações extra-européias dizia que nelas não existia nada de bárbaro e
selvagem, considerando que estavamos diante do costume de chamar de bárbaro o que não existe em seus
costumes[7] e Bartolomé de las Casas.
A tolerância não se aplicava tampouco as camadas que detinham menos recursos econômicos, para às quais Locke
defendia algumas medidas severas, tais como:
• Direcionar para o trabalho as crianças a partir de três anos, das famílias que não têm condições para alimentá-las
[8]
.
• Supressão das vendas de bebidas não estritamente indispensáveis e das tabernas não necessárias[9] .
• Obrigar os mendigos a carregar um distintivo obrigatório, para vigiá-los, por meio de um corpo de espantadores
de mendigos, e impedir que possam exercer sua atividade fora das áreas e horários permitidos[10] .
• Os que forem surpreendidos a pedir esmolas fora de sua própria paróquia e perto de um porto de mar devem ser
embarcados coercitivamente na marinha militar, outros pedintes abusivos devem ser internados em uma casa de
trabalhos forçados, na qual o diretor não terá outra remuneração além da renda decorrente do trabalho dos
internados[11] .
• Os que falsificarem um salvo-conduto para fugir de uma casa de trabalho, devem ser punidos com um corte de
orelhas, e na hipótese de reincidência com a deportação para as plantações na condição de criminosos[12] .

A questão da defesa da escravidão


Locke é considerado pelos seus críticos como sendo "o último grande filósofo que procura justificar a escravidão
absoluta e perpétua"[13] . Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, Locke defendia a escravidão
(sem distinguir que fosse a relativa aos negros).
Locke somente sustenta a escravidão pelo contrato de servidão em proveito do vencido na guerra que poderia ser
morto, mas assume o ônus de servir em troca de viver. Ou seja, a questão da escravidão não é relevante no seu
pensamento. Locke não defende a escravidão fundada em raça, mas somente no contrato com o vencido na guerra.
Locke contribuiu para a formalização jurídica da escravidão na Província da Carolina, cuja norma constitucional
dizia: "(...) todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os escravos negros seja qual for
a opinião e religião." Seus críticos ainda afirmam que ele investiu no tráfico de escravos negros[14] , enquanto
acionista da Royal African Company[15] .
Ao analisar essa questão, costuma-se alegar que deve-se levar em conta o período histórico em que Locke se
encontrava, da mesma forma que ocorre com outros grandes filósofos, como Aristóteles, que foi o primeiro a fazer
um tratado político defendendo a escravidão. Na época a escravidão seria prática comum, e isso o classificaria como
um homem da época, logo este fato não diminuiria a enorme quantidade de ideias, revolucionárias para a época,
produzidas por ele.
John Locke 23

Por outro lado observa-se que Jean Bodin, pensador francês, defensor do absolutismo, já era crítico do escravismo,
logo deve-se levar em conta que a defesa do escravismo não era o único pensamento em voga na época de Locke.
Também é necessário lembrar que a defesa da escravidão decorre da defesa do direito de propriedade que é uma das
grandes ideais do liberalismo, e isso une ele aos outros liberais clássicos: O direito de propriedade como um dos
Direitos Naturais do ser humano.
A longa trajetória do liberalismo teve o exato início com John Locke, e é notório que as ideologias sofrem
adaptações com o tempo e com as gerações posteriores, está óbvio que não é intrínseco ao liberalismo a defesa da
escravidão.
Entretanto pode-se perceber uma correlação entre aqueles que no passado defendiam a liberdade de possuir escravos
contra a turbação do direito de propriedade decorrente da intervenção estatal por meio de leis abolicionistas e aqueles
que hoje defendem a plena liberdade no contrato de trabalho contra o intervencionismo estatal das leis trabalhistas.
[1] Tabula se refere a uma superfície de pedra para se escrever, Rasa, feminino de Rasus, significa apagado, i.e. "em branco"
[2] Cottret, Bernard. Calvin: A Biography (http:/ / books. google. com/ books?id=oDzeEavHUuMC). Grand Rapids, Michigan: Wm. B.
Eerdmans, 2000. 0-8028-3159-1, pg. 206. Traduzido para o inglês do original Calvin: Biographie, Edição de Jean-Claude Lattès, 1995.
[3] John Locke. Carta Acerca da Tolerância (Coleção Os Pensadores), p. 15.
[4] vide item 45 em http:/ / en. wikisource. org/ wiki/ Two_Treatises_of_Government/
The_Second_Treatise_of_Government:_An_Essay_Concerning_the_True_Origin,_Extent,_and_End_of_Civil_Government
[5] vide itens 11, 16 e 181 em http:/ / en. wikisource. org/ wiki/ Two_Treatises_of_Government/
The_Second_Treatise_of_Government:_An_Essay_Concerning_the_True_Origin,_Extent,_and_End_of_Civil_Government
[6] "An Essay Concerning Toleration" (1667), in Political Writings, (org.) David Wooton, Penguin Books, London-New York, 1993, p. 202 apud
Losurdo, Domenico in Contra-História do Liberalismo, 2006, p. 37
[7] Saggi (orig. 1580-88) trad. de Fausta Garavini, Adelphi, Milano, 1996, p. 272, livro I, cap. 31 apud Losurdo, Domenico in Contra-História do
Liberalismo, 2006, p. 45
[8] “Draft of a Representation Containing a Scheme of Methods for the Employment of the Poor. Proposet by Mr. Locke, the 26. October 1697”,
), in Political Writings, (org.) David Wooton, Penguin Books, London-New York, 1993, p. 454 apud Losurdo, Domenico in Contra-História
do Liberalismo, 2006, p. 83
[9] “Draft of a Representation Containing a Scheme of Methods for the Employment of the Poor. Proposet by Mr. Locke, the 26. October 1697”,
), in Political Writings, (org.) David Wooton, Penguin Books, London-New York, 1993, p. 447 apud Losurdo, Domenico in Contra-História
do Liberalismo, 2006, p. 83
[10] “Draft of a Representation Containing a Scheme of Methods for the Employment of the Poor. Proposet by Mr. Locke, the 26. October 1697”,
), in Political Writings, (org.) David Wooton, Penguin Books, London-New York, 1993, p. 460 apud Losurdo, Domenico in Contra-História
do Liberalismo, 2006, p. 83
[11] “Draft of a Representation Containing a Scheme of Methods for the Employment of the Poor. Proposet by Mr. Locke, the 26. October 1697”,
), in Political Writings, (org.) David Wooton, Penguin Books, London-New York, 1993, p. 449 apud Losurdo, Domenico in Contra-História
do Liberalismo, 2006, p. 84
[12] “Draft of a Representation Containing a Scheme of Methods for the Employment of the Poor. Proposet by Mr. Locke, the 26. October 1697”,
), in Political Writings, (org.) David Wooton, Penguin Books, London-New York, 1993, p. 449 apud Losurdo, Domenico in Contra-História
do Liberalismo, 2006, p. 84
[13] David B. Davis, The Problem of Slavery in the Age of Revolution, 1770-1823 (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1975), p. 45, apud
Domenico Losurdo, Contra-História do Liberalismo (Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006 [editado em italiano em 2005]), p. 15.
[14] Ver Domenico Losurdo, Contra-História do Liberalismo, pp. 15-16.
[15] Ver Domenico Losurdo, idem, p 28.

Ligações externas
• Obras de Locke no Wikisource (http://en.wikisource.org/wiki/Author:John_Locke) (em inglês)
• John Locke - Um explorador do entendimento humano - Revista Nova Escola (http://revistaescola.abril.com.
br/historia/pratica-pedagogica/explorador-entendimento-humano-423338.shtml) (em português)
David Hume 24

David Hume
David Hume

David Hume, retratado por Allan Ramsay (1713-1784) em 1766. Edimburgo, Scottish National Portrait Gallery

Nascimento 8 de Maio de 1711


Edimburgo,  Reino Unido

Morte 25 de agosto de 1776 (65 anos)


Edimburgo,  Reino Unido

Magnum opus Tratado da Natureza Humana

Escola/tradição Iluminismo, empirismo

Principais interesses Teoria do conhecimento, Epistemologia, Ética, Estética, Teologia, Política, História, Economia

Ideias notáveis Ceticismo radical, o problema da indução, utilitarismo moral, refutação do princípio de causalidade e do livre-arbítrio

Influências

Influenciados

David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 — Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo e historiador
britânico.
Ao lado de Adam Smith e Thomas Reid, é uma das figuras mais importantes do chamado iluminismo escocês, sendo
frequentemente considerado como um dos maiores escritores e filósofos de língua inglesa.[1] Segundo Bertrand
Russell, Hume foi o maior dos filósofos britânicos.
Fundador do empirismo moderno (com Locke e Berkeley) e, por seu ceticismo, o mais radical entre os empiristas,
Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de
vista teológico - metafísico. Assim Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos
mentais.[2] Sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda
influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.
O estudo da sua obra tem oscilado entre aqueles que colocam ênfase no lado cepticista (tais como Reid, Greene, e os
positivistas lógicos) e aqueles que enfatizam o lado naturalista (como Kemp Smith, Stroud, e Galen Strawson). Por
muito tempo apenas se destacou em seu pensamento o ceticismo destrutivo. Somente no fim do século XX os
comentadores se empenharam em mostrar o caráter positivo e construtivo do seu projeto filosófico.[3]
David Hume 25

Hume foi um leitor voraz. Entre suas fontes, incluem-se tanto a Filosofia antiga como o pensamento científico de sua
época, ilustrado pela física e pela filosofia empirista. Fortemente influenciado por Locke e Berkeley mas também por
vários filósofos franceses, como Pierre Bayle e Nicolas Malebranche, e diversas figuras dos círculos intelectuais
ingleses, como Samuel Clarke, Francis Hutcheson (seu professor) e Joseph Butler (a quem ele enviou seu primeiro
trabalho para apreciação), [4] é entretanto a Newton que Hume deve seu método de análise, conforme assinalado no
subtítulo do Tratado da Natureza Humana - Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos
Assuntos Morais.
Seguindo atentamente os acontecimentos nas colónias americanas, tomou partido pela independência americana. Em
1775, ele disse a Benjamin Franklin: "eu sou um americano nos meus princípios".

A Importância do Filósofo na História


• Em síntese, David Hume foi um filósofo empirista quanto ao problema da origem do conhecimento, cético em
relação á metafísica e utilitário altruísta em assuntos morais e políticos. Concebeu a filosofia como ciência
indutiva da natureza humana e chegou à conclusão de que o homem é muito mais um ser prático e sensitivo do
que racional. Desempenhou papel relevante dentro da história do pensamento ao levar á ultima conseqüência a
tradição intelectual originada e desenvolvida principalmente na Inglaterra, desde os nominalistas da escola de
Oxford, no século XIII, passando por Francis Bacon (1561-1626), até sua formulação mais completa com John
Locke.
• Como conseqüência, despertou Kant (1724-1804) de seu “sono dogmático” e o fez criar a filosofia crítica, a partir
da devastadora análise do conceito de causalidade. Foi fator essencial na formulação do positivismo de Auguste
Comte (1798-1873). No século XX, os positivistas lógicos devem muito aos fundamentos que Hume lançou para
o desenvolvimento de um teoria da significação.

Biografia
David Hume, originalmente David Home, filho de Joseph Home de Chirnside, advogado, e de Katherine Lady
Falconer, nasceu em 26 de Abril de 1711 (calendário juliano) na área do Lawnmarket, em Edimburgo. Mudou seu
nome em 1734 porque os ingleses tinham dificuldade em pronunciar 'Home' da maneira escocesa. Ao longo de sua
vida, Hume, que nunca se casou, passava temporadas na casa de sua família em Ninewells perto de Chirnside,
Berwickshire. Hume era politicamente progressista,[5] favorável ao Tratado de União de 1707 entre a Escócia e a
Inglaterra. Não se sabe se David Hume tinha alguma crença: segundo alguns, ele era ateu; para outros, agnóstico.
Sua língua materna era o escocês (scots). Embora escrevesse exemplarmente em língua inglesa, falava inglês com
um forte sotaque. Foi um dos ilustres membros da Select Society de Edimburgo.
Frequentou a Universidade de Edimburgo. Inicialmente, pensou em seguir a carreira jurídica mas, em suas palavras,
chegou a uma "aversão intransponível a tudo, exceto ao caminho da filosofia e a aprendizagem em geral". Sua mãe,
que enviuvara quando David era criança, ficou assustada com a decisão, mas Lord Kames, um familiar e protetor de
Hume, tranquilizou-a.
Dedicou-se aos estudos, como auto-didata, na França, onde completou a sua obra-prima, Tratado da Natureza
Humana, com apenas 26 anos. Apesar de muitos acadêmicos considerarem hoje o Tratado sua maior obra e um dos
livros mais importantes da história da filosofia, o público inglês não se entusiasmou imediatamente. Hume tinha
esperado um ataque à publicação e preparava uma defesa apaixonada. Para sua surpresa, a publicação do livro
passou despercebida, e sobre esta falta de reação do público, em 1739, escreveu: "saiu da editora morto à nascença".
Após ter concluído que o problema do Tratado era o estilo e não o conteúdo, ele encurtou o texto e deu-lhe um estilo
mais ligeiro, renovou algum do material para consumo mais popular: esforço que deu existência ao Investigação
Sobre o Entendimento Humano. Também não foi muito bem sucedido com o público, embora melhor do que
ocorrera com o Tratado. Foi a leitura desta Investigação que teria feito Immanuel Kant - então um desconhecido
David Hume 26

professor universitário em Königsberg, já de idade avançada e sem qualquer obra relevante - afirmar que o fez
acordar do seu "sono dogmático".
Em 1744 foram recusadas a Hume as cadeiras nas Universidades de Edimburgo e Glasgow, provavelmente devido a
acusações de ateísmo e à oposição de um dos seus principais críticos, Thomas Reid.
Após estes insucessos, Hume trabalhou como curador de um doente psiquiátrico e posteriormente como secretário de
um General.
No entanto, para além dos seus trabalhos no âmbito da filosofia, Hume ascendeu à fama literária como ensaísta e
historiador, com o seu célebre História da Inglaterra.
Hume viveu a última década da sua vida em Edimburgo, no novo aldeamento de New Town.

Cronologia
• Nasceu na Escócia dia 7 de maio de 1711.
• Em 1714 David Hume perdeu seu pai.
• Em 1722, com 11 anos, entrou na Universidade de Edimburgo.
• Em 1726, por volta dos 15 anos, decidiu aprimorar, lendo livros clássicos, seus conhecimentos por conta própria.
• Entre 1729 e 1734 sofreu um sério esgotamento nervoso
• Em 1734, Hume viaja para a França onde, nos três anos seguintes, escreverá o tratado sobre a Natureza Humana.
Voltaire publica as Cartas Inglesas.
• Em 1737, Hume retornou a Escócia para juntar-se à mãe e ao irmão na antiga propriedade rural da família.
• 1739 - 1740 publicou em duas etapas o "Tratado da Natureza Humana".
• Em 1741 - 1742 A publicação dos Ensaios Morais e Políticos traz algum renome a Hume.
• Em 1744, É recusado ao tentar obter a cátedra de Filosofia Moral da Universidade de Edimburgo
• Em 1746, Hume participa de uma fracassada missão militar em território francês, como secretário do General
Saint-Clair.
• 1748 - Hume acompanha o General Saint-Clair em missão diplomática na corte de Viena e publica Três Ensaios
sobre Moral e Política e Investigação Acerca do Entendimento Humano. Surge o Espírito das leis de
Montesquieu.
• 1748 - 1749 Hume vestiu o uniforme de oficial, assessorando o general em sua embaixada militar as cortes de
Viena e Turim.
• 1749 - Hume retornou a Escócia e morou dois anos na casa de seu irmão(sua mãe havia falecido)
• 1751 - publicou "Investigação sobre os Princípios da Moral"
• 1752 -Hume foi feito conservador da biblioteca dos Advogados de Edimburgo
• 1754 - 1795 publicou em seis volumes "A história de Inglaterra"
• 1757 - publicou "História Natural da Religião"
• 1761 - Roma colocou todos os seus escritos no Index, a lista dos livros proibidos na Igreja Católica Romana
• 1763 - recebeu convite do conde de Hertford, como secretário da Embaixada. Hume tornou-se amigo do conde de
Hertford e de seu irmão o General Conway
• 1765 - atuou como encarregado de negócios da embaixada de Paris por quatro meses.
• 1766 - Hume ofereceu a Jean-Jacques Rousseau (filósofo francês) refúgio na Inglaterra
• 1766 - Rousseau, com suas alucinações, suspeitou de conspiração, e retornou a França, espalhando um relatório
de má fé de Hume.
• 1767 - recebeu de Mr. Conway, irmão de Lord Hertfor, o convite para importante cargo público. Deixou
novamente Edimburgo
• 1767 - 1768 - serviu em Londres como Subsecretário de Estado para a região Norte.
• 1769 - retornou a Escócia dizendo cansado da vida pública e também da Inglaterra. Se estabeleceu novamente em
Edimburgo.
David Hume 27

• 1776 - escreveu sua autobigrafia, data de 18 de abril de 1776, mas já se encontrava doente desde o ano anterior.
• 1776 - David Hume morreu em Edimburgo em 25 de agosto, com 65 anos, e foi enterrado em Waterloo Place.
• 1777 - foi lançada sua autobiografia, "Vida de David Hume escrita por ele mesmo", cujo título original é My Own
Life (Minha Própria Vida).

O legado de Hume
O pensamento de Hume possui ainda relevância extraordinária na
filosofia atual, com imensa influência. Eis algumas das suas principais
contribuições para a filosofia:

O problema da causalidade
Quando um evento provoca um outro evento, a maioria das pessoas
pensa que estamos conscientes de uma conexão entre os dois que faz
com que o segundo siga o primeiro..
Hume questionou esta crença, notando que se é óbvio que nos
apercebemos de dois eventos, não temos necessariamente de aperceber
uma conexão entre os dois. E como havemos nós de nos aperceber
desta misteriosa conexão senão através da nossa percepção ??
Hume negou que possamos fazer qualquer idéia de causalidade que
não através do seguinte: Quando vemos que dois eventos sempre
ocorrem conjuntamente, tendemos a criar uma expectativa de que
quando o primeiro ocorre, o segundo seguirá.
Esta conjunção constante e a expectativa dela são tudo o que podemos
saber da causalidade, e tudo o que a nossa ideia de causalidade pode
inferir. Uma tal conceptualização rouba à causalidade a sua força e
David Hume, Edinburgh.
alguns Humeanos posteriores, como Bertrand Russell, desmentiram a
noção de causalidade no geral como algo de parecido com a
superstição.

Mas isto é uma violação do senso-comum. O problema da causalidade: O que justifica a nossa crença numa conexão
causal? Que tipo de conexão podemos perceber? É um problema que não tem solução unânime. A perspectiva de
Hume parece ser que nós temos uma crença na causalidade semelhante a um instinto, que se baseia no
desenvolvimento dos hábitos na nossa mente. Uma crença que não pode ser eliminada mas que também não pode ser
provada verdadeira por nenhum argumento, dedutivo ou indutivo, tal como na questão da nossa crença na realidade
do mundo exterior.

O problema da indução
Todos nós cremos que o passado é um guia confiável para o futuro. Por exemplo: as leis da física descrevem como
as órbitas celestes funcionam para a descrição do comportamento planetário até aos dias de hoje. Desse modo
presumimos que vão funcionar para a descrição no futuro também. Mas como podemos justificar esta presunção, o
princípio da indução?
Hume sugeriu duas justificações possíveis e rejeitou ambas. A primeira justificativa avançada por Hume é que por
razões de necessidade lógica, o futuro tem de ser semelhante ao passado. Porém, Hume nota que podemos conceber
um mundo errático e caótico onde o futuro não tem nada que ver com o passado ou então, mais submissamente, um
mundo tal como o nosso até ao presente, até que certo ponto as coisas mudam completamente.
David Hume 28

A segunda justificação, mais modestamente, apela apenas para a segurança passada da indução: sempre funcionou
assim, por isso é provável que continue a funcionar. No entanto, como Hume lembrou, esta justificação apenas usa
um raciocínio circular, justificando a indução por um apelo que requer a indução para ter efeito.
O problema da indução ainda permanece. A visão de Hume parece ser que nós (como outros animais) temos uma
crença instintiva que o nosso futuro será semelhante ao passado, com base no desenvolvimento de hábitos do nosso
sistema nervoso. Uma crença que não podemos eliminar mas que não podemos provar ser verdadeira por qualquer
tipo de argumento, dedutivo ou indutivo, tal como é o caso com respeito à nossa crença na realidade do mundo
exterior.
Para trabalho contemporâneo relevante, ver a compilação de Richard Swinburne: "The Justification of Induction".

A Teoria do Eu como feixe


(The Bundle Theory of the Self)
Costumamos pensar que somos as mesmas pessoas que éramos há tempos atrás. Apesar de termos mudado em
muitos aspectos, a mesma pessoa está essencialmente presente tal como estava no passado. Podemos começar a
pensar sobre os aspectos que se podem alterar sem que o próprio (indivíduo) subjacente mude. Hume, no entanto,
nega que exista uma distinção entre os vários aspectos de uma pessoa e o indivíduo misterioso que supostamente
transporta todas estas características.
Porque no fundo, como Hume afirma, quando se começa a introspecção, notamos grupos de pensamentos,
sentimentos e percepções; mas nunca percebemos uma substância à qual possamos chamar de "o Eu". Por isso, tanto
quanto podemos dizer, conclui Hume, não há nada relativamente ao Eu que esteja acima de um grande feixe de
percepções transitórias. De notar que, na perspectiva de Hume, não há nada a que estas percepções pertençam. Pelo
contrário, Hume compara a alma ao povo de uma nação (commonwealth), que retém a sua identidade não em virtude
de uma substância básica permanente, mas que é composto de muitos elementos relacionados mas em permanente
mutação. A questão da identidade pessoal torna-se assim uma questão de caracterizar a coesão frouxa da experiência
pessoal vivida. (Notar que no Apêndice do Tratado, Hume diz misteriosamente que ele estava insatisfeito com o seu
julgamento do Eu, sem no entanto ter regressado a esta questão).
Para trabalho contemporâneo relevante, ver "Reasons and Persons", de Derek Parfit.

A razão prática: Instrumentalismo e Niilismo


A maioria de nós pensa que certos comportamentos são mais razoáveis do que outros. Parece haver qualquer coisa de
abstruso em, por exemplo, comer uma folha de alumínio. Mas Hume negou que a razão tivesse algum papel
importante em motivar ou desencorajar o comportamento. No fundo, a razão é apenas uma espécie de calculador de
conceitos e experiência. O que no fundo importa, diz Hume, é como nos sentimos em relação a esse comportamento.
O seu trabalho gerou a doutrina do instrumentalismo, que declara que uma ação é razoável se e somente se ela serve
os objetivos e desejos do agente, quaisquer que estes sejam. A razão pode entrar neste esquema apenas como um
servo, informando o agente de fatos úteis relativos às ações que servem aos seus objetivos e desejos, mas nunca
condescendendo a dizer ao agente quais objetivos e desejos ele deverá ter.
Assim, se você quiser comer uma folha de alumínio, a razão lhe dirá onde encontrar uma folha de alumínio, e não
haverá nada de irracional em a comer ou em o desejar. O instrumentalismo passará a ser uma visão ortodoxa da
razão prática em economia, teoria das escolhas racionais e algumas outras ciências sociais. Mas alguns comentadores
argumentam que Hume foi mais além do niilismo, e disse que não há nada de irracional em deliberadamente frustrar
os seus próprios objetivos e desejos ("eu quero comer folha de alumínio, por isso deixa-me selar a minha boca"). Tal
comportamento seria altamente irregular, tirando qualquer papel à razão, mas não seria contrário à razão, que é
impotente em fazer julgamentos neste domínio.
David Hume 29

Para trabalho contemporâneo relevante, ver "The Authority of Reason" de Jean Hampton e "Rational Choice and
Moral Agency" de David Schmidtz.

Anti-realismo moral e motivação


No seu ataque ao papel da razão no julgamento do comportamento, Hume argumentou que o comportamento imoral
não é imoral por ser contra a razão. Ele primeiro defendeu que as crenças morais estão intrinsicamente motivantes:
se você acredita que matar é errado, você estará motivado "ipso facto" a não matar e em criticar a matança
(internalismo moral). Ele lembra-nos em seguida que a razão por si só não motiva ninguém: a razão descobre os
factos e a lógica, mas ela depende dos nossos desejos e preferências quanto à percepção daquelas verdades e se isso
nos motiva. Consequentemente, a razão por si não produz crenças morais. Hume propôs que a moralidade depende
ultimamente do sentimento, sendo o papel da razão apenas o de preparar o caminho para os nossos sensíveis
julgamentos por análise da matéria moral em questão.
Este argumento contra os fundamentos da moralidade na razão é hoje um dos argumentos pertencentes ao arsenal do
anti-realismo moral; o filósofo Humeano John Mackie argumentou que para os factos morais serem factos reais
sobre o mundo e ao mesmo tempo, intrinsicamente motivantes, eles teriam de ser factos muito estranhos. Temos pois
todos os motivos para desacreditá-los.
Para trabalho contemporâneo relevante, ver: Inventing Right and Wrong, de J.L. Mackie; "Hume's Moral Theory",
de Mackie; "Moral Realism and the Foundation of Ethics" de David Brink e "The Moral Problem" de Michael
Smith.

Livre-arbítrio vs. indeterminismo


(Free Will vs. Indeterminism)
Todos nós já notamos o aparente conflito entre o livre-arbítrio e o determinismo: se as nossas acções foram
determinadas há milhões de anos, como poderá ser que elas dependam de nós? Mas Hume notou um outro conflito,
que torna o problema da livre vontade num denso dilema: a livre-vontade é incompatível com o indeterminismo.
Imagine que as suas acções não são determinadas pelos eventos precedentes. Nesse caso, as suas acções serão
completamente aleatórias. Em adição, e muito importante para Hume, as ações não são determinadas pelo seu
carácter, as suas preferências, os seus valores, etc. Como é que alguém pode ser sido por responsável pelo seu
carácter? A livre-vontade parece requerer o determinismo, porque senão o agente e a acção não estariam conectados
do modo necessário por acções livremente escolhidas.
Sendo assim, quase todos nós acreditamos no livre-arbítrio, a livre vontade parece inconsistente com o
determinismo, mas a livre-vontade parece requerer o determinismo.
Na visão de Hume, o comportamento humano, como tudo o mais, é causado (causal). Por isso mesmo, se tomamos
as pessoas como responsáveis pelas seus atos, devemos focar a recompensa ou a punição de forma a que eles façam
aquilo que é moralmente desejável e evitem aquilo que é moralmente repreensível.
David Hume 30

Razão e sentimento
Segundo Hume, a razão não é antagônica aos sentimentos do qual as duas são intimamente ligadas por associações.
De tal maneira que a primeira, ligados por associações de causa e efeito só tomam sentido quanto estes são ligados
pelas paixões.

O problema do ser - dever ser


(The Is-Ought Problem)
Hume notou que muitos escritores falam do que deve ser, na base de enunciados acerca do que é. Mas parece haver
uma grande diferença entre enunciados descritivos (o que é) e enunciados prescritivos (o que deveria ser). Hume
apela aos escritores que tomem muito cuidado na mudança do enunciado de um estado para o outro. Nunca sem se
dar uma explicação de como o enunciado- "deve ser" é suposto seguir ao enunciado- "é". Mas como exactamente é
que se pode derivar o "deve" de um "é" ? Essa questão, colocada num pequeno parágrafo de Hume, tornou-se uma
das questões centrais da teoria da ética e costuma ser atribuída a Hume a opinião de que tal derivação é impossível.
(Outros interpretam Hume como dizendo que não se pode ir de uma constatação factual a um enunciado ético, mas
que se o pode fazer sem atender à natureza humana, isto é, sem prestar atenção aos sentimentos humanos).
G.E: Moore defendeu uma posição similar com a seu "argumento da questão aberta", que pretendia refutar qualquer
identificação de propriedades morais com propriedades naturais: a chamada "falácia naturalista". Qualquer teórico
ético que pretender dar à moralidade um fundamento objectivo em aspectos mais mundanos da vida real está a lutar
por uma causa controversa, no mínimo.

Utilitarismo
Foi provavelmente Hume quem, juntamente com os seus colegas do Iluminismo escocês, avançou pela primeira vez
a ideia de que a explicação dos princípios morais deverá ser procurada na utilidade que eles tendem a promover. O
papel de Hume não deverá ser descrito com exagero, claro; foi o seu compatriota Francis Hutcheson que cunhou o
slogan utilitarista "a maior felicidade para o maior número". Mas foi através da leitura do "Tratado" de Hume que
Jeremy Bentham sentiu pela primeira vez a força do sistema utilitário: ele "sentiu como se escamas tivessem caído
dos seus olhos". No entanto, o "proto-utilitarismo" de Hume é muito peculiar, da nossa perspectiva. Ele não pensa
que a agregação de unidades cardinais de utilidade será a fórmula para atingir a verdade moral.
Pelo contrário, Hume era um sentimentalista moral e, como tal, achava que princípios morais não podem ser
justificados intelectualmente. Alguns princípios simplesmente são-nos apelativos e outros não o são. E a razão
porque princípios utilitaristas da moral são apelativos é que eles promovem os nossos interesses e os dos nossos
companheiros com os quais simpatizamos.
Os humanos são pouco flexíveis a aprovar coisas que ajudam a sociedade-utilidade pública. Hume usou este dado
para explicar como ele avaliava um vasto campo de fenómenos, desde instituições sociais e políticas governamentais
até traços de carácter e talentos..

O problema dos milagres


Uma forma de apoiar a religião é por apelo a milagres. Mas Hume argumentou que no mínimo, os milagres não
poderiam conferir muito apoio à religião. Há vários argumentos sugeridos pelo ensaio de Hume, todos eles à volta do
seu conceito de milagre: nomeadamente a violação por Deus das leis da Natureza. Um argumento é o de que é
impossível violar as leis da Natureza. Outro argumento afirma que o testemunho humano nunca poderia ser
suficientemente fiável para contra-ordenar a evidência que temos das leis da Natureza. Outro argumento, menos
irredutível, mais defensável, é que devido à forte evidência que temos das leis da natureza, qualquer pretensão de
milagre está sobre pressão desde o início e precisa de provas fortes para derrotar as nossas expectativas iniciais. Este
ponto tem sido aplicado sobretudo na questão da ressurreição de Jesus, onde Hume sem dúvida perguntaria "o que é
David Hume 31

que é mais provável ? que um homem se erga dos mortos ou que este testemunho esteja incorrecto de uma forma ou
de outra ?". Ou mais suavemente, "o que é mais provável ? que o Uri Geller pode realmente fazer dobrar colheres
com a sua mente ou que isso seja algum tipo de truque ?". Este argumento é a base do movimento céptico e um
assunto fundamental aos históricos da religião.
Para uma análise crítica e técnica (Bayesiana) de Hume, ver "Hume's Abject Failure" de John Earman — o título é
sugestivo

O argumento teleológico
Um dos argumentos mais antigos e populares para a existência de Deus é o argumento teleológico - que toda a
ordem e "objectivo" do mundo evidencia uma origem divina. Hume usou o criticismo clássico do argumento
teleológico, e apesar do assunto estar longe de estar esgotado, muitos estão convencidos de que Hume resolveu a
questão definitivamente. Aqui alguns dos seus pontos:
1. Para o argumento teleológico funcionar, seria necessário que só nos pudessemos aperceber de ordem quando essa
ordem resulta do desígnio (criação). Mas nós vemos "ordem" constantemente, resultante de processos
presumivelmente sem consciência, como a geração e a vegetação. O desígnio (criação) diz apenas respeito a uma
pequena parte da nossa experiência de "ordem" e "objectivo".
2. O argumento do desígnio, mesmo que funcionasse, não poderia suportar uma robusta fé em Deus. Tudo o que se
pode esperar é a conclusão de que a configuração do universo é o resultado de algum agente (ou agentes)
moralmente ambíguo, possivelmente não inteligente, cujos métodos possuam alguma semelhança com a criação
humana.
3. Pelos próprios princípios do argumento teleológico, a ordem mental de Deus e a funcionalidade necessitam de
explicação. Senão, podemos considerar a ordem do universo, etc, inexplicada.
4. Muitas vezes, o que parece ser objectivo, onde parece que o objecto X tem o aspecto A por forma a assegurar o
fim F, é melhor explicado pelo processo da filtragem: ou seja, o objecto X não existiria se não possuisse o aspecto
A, e o fim F é apenas interessante para nós. Uma projecção humana de objectivos na natureza. Esta explicação
mecânica da teleologia antecipou a selecção natural, e é de se observar que um século antes de Darwin.
Para trabalho contemporâneo relevante, ver "Hume's Philosophy of Religion" de J.C.A. Gaskin e "The Existence of
God" de Richard Swinburne. Para uma perspectiva de um filósofo da biologia, ver "Philosophy of Biology" de Elliot
Sober.jj

Sociologia da Religião de Hume


David Hume ficou conhecido sobretudo pelas contribuições na filosofia. Mas não menos dignas de destaque são as
observações na análise da religião. Pode falar-se de ideias pioneiras para a sociologia da religião, que ficam patentes
na obra de 1757, The Natural History of Religion.

Teoria da Oscilação
Hume rejeita a ideia de uma evolução linear desde o politeísmo para o monoteísmo como um sumário da evolução
histórica dos últimos 2.000 anos.
Na verdade, Hume acredita que o que a história mostra é antes um oscilar irracional entre politeísmo e monoteísmo.
Chama-lhe um "flux and reflux" (fluxo e refluxo, um oscilar) entre as duas opções. Nas palavras de Hume: "a mente
humana mostra uma tendência maravilhosa para oscilar entre diferentes tipos de religião: eleva-se do politeísmo
para o monoteísmo para voltar a afundar-se na idolatria"
Como Gellner afirma, esta oscilação não é o resultado de qualquer racionalidade, mas sim com os "mecanismos do
medo, incerteza, da superioridade e inferioridade".
David Hume 32

Do politeísmo para o monoteísmo


Os povos que adoram vários deuses com poderes limitados podem facilmente conceber um Deus com um poder mais
extenso, ainda mais digno de veneração do que os outros. "Neste processo, os homens chegam ao estágio de um só
Deus como ser infinito, a partir do qual nenhum progresso é possível".

Do monoteísmo para o politeísmo


Esse Deus único, todo poderoso, é porém igualmente um Deus distante e de difícil acesso para o comum dos mortais
(sobretudo se estes são analfabetos - e na Europa da Idade Média, a esmagadora maioria da população era
analfabeta). O contacto directo com as escrituras sagradas na Idade Média permanecia um privilégio de uma casta
limitada - o clero. A maioria do povo comum, analfabeto, sente-se impossibilitado de aceder a Deus por via
"directa". Neste momento, torna-se visível um princípio psicológico que caminha numa direcção contrária.
Esse princípio psicológico é a ideia de que os homens vivem em busca da protecção, do apoio. Torna-se necessária a
figura de intermediários perante o comum dos mortais e o Deus todo poderoso. Uma função para os santos, relíquias,
… "Estes semi-deuses e intermediários, que são vistos pelos homens como parentes e lhes parecem menos distantes,
são objecto da adoração e assim, a idolatria está de volta…"

Novamente de regresso ao monoteísmo


Mas mais uma vez, o pêndulo tem de retornar. Como Gellner afirma, em breve, "o Panteão torna a encher-se".
Hume: "À medida que estas diferentes formas de idolatria dia por dia descem às formas cada vez mais baixas e
ordinárias, acabam por se auto-destruir e as horríveis formas de idolatria vão acabar por provocar um retorno e um
desejo de regresso ao monoteísmo… Por isso (entre os judeus e os muçulmanos) é que há proibição de figuras
humanas na pintura e mesmo na escultura, porque eles receiam que a carne seja fraca e que acabe por se deixar levar
para a idolatria".
Hume mostra exemplos desta evolução: É a luta de Jeová contra os Bealim de Canaã, da Reforma contra o Papado, e
do Islão contra as tendências pluralistas (ver sufismo).

Influência de Hume na constituição americana


Como Douglass Adair sugeriu, o livro de David Hume, "Essays, Moral, Political and Literary" terá influenciado
directamente James Madison na formulação da Constituição Americana. No ensaio ali contido "Idea of a Perfect
Commonwealth", Hume refuta a ideia de Montesquieu de que uma grande nação está condenada a ser corrupta e
ingovernável. Pelo contrário, afirma Hume, uma nação extensa pode ser, devido à sua diversidade geográfica e
socio-económica, bem mais estável do que nações pequenas. Hume escreve: "Apesar de as pessoas como um órgão
serem incapazes de governar, caso elas se dispersarem em pequenas unidades (tais como colónias individuais ou
estados) elas são mais susceptíveis de se submeter à razão e à ordem; a força das correntes populares (populismo) e
marés é, em grande medida, quebrada". A elite conspiradora necessitará de passar mais tempo a coordenar os
movimentos das várias partes do todo, do que a planear o derrube. "Ao mesmo tempo, as partes estão tão distantes e
remotas que é muito difícil, seja por intriga ou paixão, levá-las a tomar medidas contra o interesse público." James
Madison, que estudara em Princeton, e ali tinha tomado contacto com a obra de Hume, incorporou esta visão no seu
"Notes on the Confederacy", publicado em Abril de 1787, 8 meses antes dele ter escrito o ensaio defendendo a
Constituição, como parte dos "Federalist Papers".
David Hume 33

Obra
• Tratado da Natureza Humana (1739-1740)
• Investigação sobre o Entendimento Humano (1748)
Contém uma revisão dos pontos principais do tratado, livro 1, com a adição de material sobre a livre vontade,
milagres e o argumento teleológico.
• Investigação sobre os Princípios da Moral (1751)
Outra revisão do material do tratado para apelar mais ao gosto popular. Hume considerou esta como a melhor das
suas obras filosóficas, quer quanto às ideias filosóficas como no seu estilo literário.
• Diálogos sobre a Religião Natural (póstumo)
Uma discussão entre três personagens ficcionais - Cleantes, Fílon, e Demea - acerca do argumento teleológico, o
argumento cosmológico, o problema do mal e as relações entre a religião e a moral.
A obra é um forte ataque à tentativa de estabelecer a existência de Deus por processos racionais e tem servido de
inspiração a muitos críticos modernos da religião. Apesar de haver alguma controvérsia, a maioria dos académicos
acredita que Fílon é a personagem que melhor reflecte as ideias de Hume.
• Ensaios: Morais, Políticos e Literários (editados pela primeira vez em (1741-1742))
Uma série de ensaios, revistos várias vezes ao longo da sua vida. A história relativa a que ensaios foram adicionados
ou removidos parece menos relevante. "Sobre a estação média da vida", "Que a política possa ser reduzida a uma
ciência", "Da origem do governo", "Da liberdade civil", "Do comércio", "Da densidade populacional de nações
antigas", e "Sobre o suicídio", para nomear apenas alguns.
• A História da Grã-Bretanha (1754-1762)
Esta é mais uma categoria de livros do que uma única obra. Uma história monumental, "desde a invasão de Júlio
César até à Revolução Gloriosa de 1688".
Foi também a obra melhor conhecida de Hume durante a sua vida, tendo tido mais de 100 edições. Foi considerada
por muitos como a referência essencial da História da Inglaterra até à publicação da monumental "História de
Inglaterra" de Thomas Macaulay.
• História Natural da Religião (1757)
Este livro é considerado por alguns como a primeira obra científica a debruçar-se sobre a sociologia da religião.
Ernest Gellner diz que este livro permanece um dos melhores tratados deste tipo, talvez mesmo o melhor.
• Da imortalidade da alma e outros textos póstumos.
[1] « The most important philosopher ever to write in English [...] », William Edward Morris, article « David Hume », in Stanford Encyclopedia
of Philosophy (http:/ / plato. stanford. edu/ entries/ hume/ ).
[2] "[...] there is a thread running from Hume's project of founding a science of the mind to that of the so-called cognitive sciences of the late
twentieth century. For both, the study of the mind is, in important respects, just like the study of any other natural phenomenon." The
Cambridge Companion to Hume, p. 33.
[3] "For nearly two centuries the positive side of Hume's thought was routinely overlooked - in part as a reaction to his thoroughgoing religious
scepticism - but in recent decades commentators, even those who emphasize the sceptical aspects of his thought, have recognized and begun to
reconstruct Hume's positive philosophical positions." David Fate Norton, An introduction to Hume's thought, in The Cambridge Companion
to Hume, p. 1.
[4] Na introdução de A Treatise of Human Nature, Hume cita "Mr Locke, Lord Shaftesbury, Dr Mandeville, Mr Hutcheson, Dr Butler, etc." (...)
"who have begun to put the science of man on a new footing, and have engaged the attention, and excited the curiosity of the public."
[5] Mossner, E. C. (2001). The life of David Hume. Oxford University Press. p. 179.
David Hume 34

Ligações externas
• Hume Studies (http://www.humestudies.org/) (em inglês)
• The Hume Society (http://www.humesociety.org/) (em inglês)
• Apontadores David Hume: biografia, idéias (http://www.mundodosfilosofos.com.br/hume.htm)
• Investigação acerca do entendimento humano de Hume online (e-book) (http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/
hume.html)
• Tratado da Natureza Humana de Hume online (e-book) (http://www.unicamp.br/~chibeni/texdid/restr3.htm)
• Minha Própria Vida: autobiografia de David Hume (http://www.consciencia.org/wiki/index.php/
Hume_My_Own_Life:pt)
• David Hume (http://www.cfh.ufsc.br/~conte/hume.html)
• Grupo Hume (http://paginas.terra.com.br/arte/grupohume/)
• Quem foi David Hume (http://www.rgfive.blogspot.com)

Immanuel Kant
Immanuel Kant

Nascimento 22 de abril de 1724


Königsberg

Morte 12 de fevereiro de
1804 (79 anos)
Königsberg

Nacionalidade Prússia Oriental

Influências

Influenciados

Conhecido(a) por epistemologia, metafísica, ética

Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi
um filósofo prussiano, geralmente considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna,
indiscutivelmente um dos pensadores mais influentes.
Immanuel Kant 35

Depois de um longo período como professor secundário de geografia, começou em 1755 a carreira universitária
ensinando Ciências Naturais. Em 1770 foi nomeado professor catedrático da Universidade de Königsberg, cidade da
qual nunca saiu, levando uma vida monotonamente pontual e só dedicada aos estudos filosóficos. Realizou
numerosos trabalhos sobre ciência, física, matemática, etc.
Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o Racionalismo continental (de René Descartes e Gottfried
Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume, John Locke, ou
George Berkeley, que valoriza a indução).
Kant é famoso sobretudo pela elaboração do denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e
conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do mundo, os quais seriam de
outra forma impossíveis de determinar. A filosofia da natureza e da natureza humana de Kant é historicamente uma
das mais determinantes fontes do relativismo conceptual que dominou a vida intelectual do século XX. No entanto, é
muito provável que Kant rejeitasse o relativismo nas formas contemporâneas, como por exemplo o Pós-modernismo.
Kant é também conhecido pela filosofia moral e pela proposta, a primeira moderna, de uma teoria da formação do
sistema solar, conhecida como a hipótese Kant-Laplace.

A menoridade humana
Kant define a palavra esclarecimento como a saída do homem de sua menoridade. Segundo esse pensador, o homem
é responsável por sua saída da menoridade. Kant define essa menoridade como a incapacidade do homem de fazer
uso do seu próprio entendimento.
A permanência do homem na menoridade se deve ao fato de ele não ousar pensar. A covardia e a preguiça são as
causas que levam os homens a permanecerem na menoridade. Um outro motivo é o comodismo. É bastante cômodo
permanecer na área de conforto. É cômodo que existam pessoas e objetos que pensem e façam tudo e tomem
decisões em nosso lugar. É mais fácil que alguém o faça, do que fazer determinado esforço, pois já existem outros
que podem fazer por mim. Os homens quando permanecem na menoridade, são incapazes de fazer uso das próprias
pernas,são incapazes de tomar suas próprias decisões e fazer suas próprias escolhas.
Em seu texto O que é o Iluminismo?, Kant sintetiza seu otimismo iluminista em relação à possibilidade de o homem
seguir por sua própria razão, sem deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias. Nele, descreve o
processo de ilustração como sendo "a saída do homem de sua menoridade", ou seja, um momento em que o ser
humano, como uma criança que cresce e amadurece, se torna consciente da força e inteligência para fundamentar a
sua própria maneira de agir, sem a doutrina ou tutela de outrem.
Kant afirma que é difícil para o homem sozinho livrar-se dessa menoridade, pois ela se apossou dele como uma
segunda natureza. Aquele que tentar sozinho terá inúmeros impedimentos, pois seus tutores sempre tentarão impedir
que ele experimente tal liberdade. Para Kant, são poucos aqueles que conseguem pelo exercício do próprio espírito
libertar-se da menoridade.
Immanuel Kant 36

Vida
Kant nasceu, viveu e morreu em Königsberg (atual Kaliningrado), na
altura pertencente à Prússia. Foi o quarto dos nove filhos de Johann
Georg Kant, um artesão fabricante de correias (componente das
carroças de então) e da mulher Regina. Nascido numa família
protestante (Luterana), teve uma educação austera numa escola pietista,
que frequentou graças à intervenção de um pastor. Ele próprio foi um
cristão devoto por toda a sua vida.

Passou grande parte da juventude como estudante, sólido mas não


espetacular, preferindo o bilhar ao estudo. Tinha a convicção curiosa
de que uma pessoa não podia ter uma direcção firme na vida enquanto
não atingisse os 39 anos. Com essa idade, era apenas um metafísico
menor numa universidade prussiana, mas foi então que uma breve crise
existencial o assomou. Pode argumentar-se que teve influência na
posterior direcção.

Túmulo de Immanuel Kant em Kaliningrado Kant foi um respeitado e competente professor universitário durante
(antigo Königsberg) quase toda a vida, mas nada do que fez antes dos 50 anos lhe garantiria
qualquer reputação histórica. Viveu uma vida extremamente regulada:
o passeio que fazia às 15:30 todas as tardes era tão pontual que as mulheres domésticas das redondezas podiam
acertar os relógios por ele.
Kant nunca deixou a Prússia e raramente saiu da cidade natal. Apesar da reputação que ganhou, era considerado uma
pessoa muito sociável: recebia convidados para jantar com regularidade, insistindo que a companhia era boa para a
constituição física.
Por volta de 1770, com 46 anos, Kant leu a obra do filósofo escocês David Hume. Hume é por muitos considerados
um empirista ou um cético, muitos autores o consideram um naturalista.
Kant sentiu-se profundamente inquietado. Achava o argumento de Hume irrefutável, mas as conclusões inaceitáveis.
Durante 10 anos não publicou nada e, então, em 1781 publicou o massivo "Crítica da Razão Pura", um dos livros
mais importantes e influentes da moderna filosofia.
Neste livro, ele desenvolveu a noção de um argumento transcendental para mostrar que, em suma, apesar de não
podermos saber necessariamente verdades sobre o mundo "como ele é em si", estamos forçados a percepcionar e a
pensar acerca do mundo de certas formas: podemos saber com certeza um grande número de coisas sobre "o mundo
como ele nos aparece". Por exemplo, que cada evento estará causalmente conectado com outros, que aparições no
espaço e no tempo obedecem a leis da geometria, da aritmética, da física, etc.
Immanuel Kant 37

Nos cerca de vinte anos seguintes, até a morte em 1804, a produção de Kant
foi incessante. O seu edifício da filosofia crítica foi completado com a Crítica
da Razão Prática, que lidava com a moralidade de forma similar ao modo
como a primeira crítica lidava com o conhecimento; e a Crítica do
Julgamento, que lidava com os vários usos dos nossos poderes mentais, que
não conferem conhecimento factual e nem nos obrigam a agir: o julgamento
estético (do Belo e Sublime) e julgamento teleológico (Construção de Coisas
Como Tendo "Fins"). Como Kant os entendeu, o julgamento estético e
teleológico conectam os nossos julgamentos morais e empíricos um ao outro,
unificando o seu sistema.

Uma das obras, em particular, atinge hoje em dia grande destaque entre os
estudiosos da filosofia moral. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes
é considerada por muitos filósofos a mais importante obra já escrita sobre a
moral. É nesta obra que o filósofo delimita as funções da ação moralmente
Inscrições ao longo da tumba de Kant,
fundamentada e apresenta conceitos como o "Imperativo categórico" e a "Boa
dentre elas (...)"O céu estrelado por sobre
vontade". mim e a lei moral dentro de mim" (…)

Os trabalhos de Kant são a sustentação e ponto de início da moderna filosofia


alemã; como diz Hegel, frutificou com força e riqueza só comparáveis à do socratismo na história da filosofia grega.
Fichte, Hegel, Schelling, Schopenhauer, para indicar apenas os maiores, inscrevem-se na linhagem desse
pensamento que representa um etapa decisiva na história da filosofia e está longe de ter esgotado a sua
fecundidade.[1]
Kant escreveu alguns ensaios medianamente populares sobre história, política e a aplicação da filosofia à vida.
Quando morreu, estava a trabalhar numa projetada "quarta crítica", por ter chegado à conclusão de que seu sistema
estava incompleto; este manuscrito foi então publicado como Opus Postumum. Morrera em 12 de fevereiro de 1804
na mesma cidade que nascera e permanecera durante toda sua vida.

Filosofia
O trabalho filosófico de Kant está na
confluência do racionalismo, do empirismo
inglês (David Hume) e a ciência
física-matemática de Isaac Newton. Seu
caminho histórico está assinalado pelo
governo de Frederico II, a independência
americana e a Revolução Francesa.

As questões de partida do Kantismo são o


problema do conhecimento, e a ciência, tal
como existe. A ciência se arranja de juízos
que podem ser analíticos e sintéticos. Nos
primeiros (o quadrado tem quatro lados e
quatro ângulos internos), fundados no
princípio de identidade, o predicado aponta
um atributo contido no sujeito. Tais juízos
"Heróis da Paz" Kant esculpido na Estátua equestre. independem da experiência, são universais e
Immanuel Kant 38

necessários. Os sintéticos, a posteriori resultam da experiência e sobrepõem ao sujeito no predicado um atributo que
nele não se acha previamente contido (o calor dilata os corpos ), sendo, por isso, privados e incertos.
Uma indagação eminente que o levara à sintetização do pensar: Que juízos constituem a ciência físico matemática?
Caso fossem analíticos, a ciência sempre diria o mesmo (e não é assim), e, se fossem sintéticos um hábito sem
fundamento (o calor dilata os corpos porque costuma dilatá-los). Os juízos da ciência devem ser, ao mesmo tempo, a
priori, quer dizer, universais e necessários, e sintéticos objetivos, fundados na experiência. Trata-se pois, de saber
como são possíveis os juízos sintéticos a priori na matemática e na física, ("Estética transcendental" e "Analítica
transcendental"), e se são possíveis na metafísica ("Dialética transcendental", partes da Crítica da razão pura).
Para os juízos sintéticos a priori são admissíveis na matemática porque essa ciência se fundamenta no espaço e no
tempo, formas a priori da sensibilidade, intuições puras e não conceitos de coisas como objetos. O espaço é a priori,
não deriva da experiência, mas é sua condição de possibilidade. Podemos pensar o espaço sem coisas, mas não coisa
sem espaço. O espaço é o objeto de intuição e não conceito, pois não podemos ter intuição do objeto de um conceito
(pedra, carro, cavalo, etc.), gênero ou espécie. Ora, o espaço não é nem uma coisa nem outra, e só há um espaço (o
nada, referindo ao espaço).
Na apresentação "transcendental" do espaço, Kant determina as condições subjetivas ou transcendentais da
objetividade. Se o conhecimento é relação, ou relacionamento (do sujeito com o objeto), não, pode conhecer as
coisas "em si", mas "para nós".
A geometria pura, quando aplicada, coincide totalmente com a experiência, porque o espaço é a forma a priori da
sensibilidade externa. O tempo é, também, a priori. Podemos concebê-lo sem acontecimentos, internos ou externos,
mas não podemos conceber os acontecimentos fora do tempo. Objeto de intuição, não pode ser conceito. Forma
vazia, intuição pura, torna possíveis por exemplo os juízos sintéticos a priori na aritmética, cujas operações (soma,
subtração, etc.), ocorrendo sucessivamente, o pressupõem. O tempo é, pois, a forma a priori da sensibilidade interna
e externa.
Esse privilégio explica a compenetração da geometria e da aritmética. A geometria analítica (Descartes) permite
reduzir as figuras a equações e vice-versa. O cálculo infinitesimal (Leibniz) arremata essa compenetração definindo a
lei de desenvolvimento de um ponto em qualquer direção do espaço. A matemática é pois, um conjunto de leis a
priori, que coincidem com a experiência e a tornam cognoscível.
As condições de possibilidade do conhecimento sensível são, portanto, as formas a priori da sensibilidade. Não
existe a "coisa em si". Se existisse não se poderia a conhecer enquanto tal, e nada se poderia dizer a seu respeito. Só
é possível conhecer coisas extensas no espaço e sucessivas no tempo, enquanto se manifestam, ou aparecem, ou seja,
"fenômenos,
Na "analítica transcendental", Kant analisa a possibilidade dos juízos sintéticos a priori na física. Compreendemos
que a natureza é regida por leis matemáticas que ordenam com rigor o comportamento das coisas (o que permite
ciências como engenharia, etc., serem possíveis o determinismo com certa regularidade). Não há como saber das
coisas com apenas percepções sensíveis, impressões. Há um conhecimento a priori da natureza. A função principal
dos juízos da natureza. Ora, a função principal dos juízos é pôr, colocar a realidade e, em seguida, determiná-la. As
diversas formas do juízo deverão, portanto, conter as diversas formas da realidade.
Essa formas estão estudadas desde Aristóteles, que as classifica de acordo com a quantidade, a qualidade, a relação e
a modalidade. Na "Dedução transcendental" das categorias, Kant volta a classificação aristotélica, dando-lhe novo
sentido. Assim, à quantidade, correspondem a unidade, a pluralidade e a totalidade; à qualidade a essência, a negação
e a limitação; a relação a substância, a causalidade e a ação recíproca; à modalidade, a possibilidade, a existência e a
necessidade.
Tais categorias são as condições de possibilidade dos juízos sintéticos a priori em física. As condições do
conhecimento são, enfim, como se acabe de ver, as condições prévias da objetividade. A ciência da natureza postula
a existência de objetos, sua consistência e as relações de causa e efeito. Se as categorias universais, particulares e
Immanuel Kant 39

contingentes, devem proceder de nós mesmos, de nosso entendimento.


Em tal descoberta consiste a "inversão copernicana", realizada por Kant. Não é o objeto que determina o sujeito, mas
o sujeito que determina o objeto. As categorias são conceitos, todavia, puros, a priori, anteriores à experiência e que,
por isso, a tornam possível. Em suma, o objeto só se torna cognoscível na medida em que o sujeito que determina o
objeto. Em suma, o objeto só se torna cognoscível na medida em que o sujeito cognoscente o reveste das condições
de cognoscibilidade.[2]
Na "dialética transcendental", finalmente Kant examina a possibilidade dos juízos sintéticos a priori na metafísica. A
"coisa em si" (alma, Deus, essência do cosmos, etc.), não nos é dada em experiência alguma. Ora, como chega a
razão a formar esses objetos? Sintetizando além da experiência, fazendo a síntese das sínteses, porque aspira ao
infinito, ao incondicionado, ao absoluto. Nas célebres, "antinomias", Kant mostra que a razão pura demonstra,
"indiferentemente", a finitude e a infinitude do universo, a liberdade e o determinismo, a existência e a inexistência
de Deus. Ultrapassando os limites da experiência, aplica arbitrariamente as categorias e pretende conhecer o
incognoscível. A metafísica é impossível como ciência, pois não se pode chegar mais, além disso.

Juízo Estético de Kant


O juízo estético é abordado no livro Crítica da Faculdade do Juízo. De
acordo com Kant para se ter uma investigação crítica a respeito do
belo, devemos estar orientados pelo poder de julgar. E a indagação
básica que move essa investigação crítica a respeito do belo é: existe
algum valor universal que conceitue o belo e que reivindique que
outras pessoas, a partir da minha apreciação de uma forma bela da
natureza ou da arte, confirmem essa posição? Ou então somos
obrigados a admitir que todo objeto que julgamos como sendo belo é
uma valoração subjetiva?

O poder de julgar, pertencendo a todo sujeito, é universal e congraça o


julgamento estético, especulativo e prático. Portanto a investigação
crítica que Kant se refere diz respeito às possibilidades e limitações das
faculdades subjetivas que agem sob princípios formulados e que
pertencem à essência do pensamento.
Retrato de Immanuel Kant.
Como podemos desnudar o fenômeno que explica o nosso gosto? Se
fizermos uma experiência com vários indivíduos e o defrontarmos com
um objeto de arte, observaremos que as impressões causadas serão as mais diversas. Então chegaremos à conclusão
de que a observação atenta e valorativa daquele objeto, somada as diferentes opiniões que foram apresentadas pelos
indivíduos, nos dá respaldo para afirmar que o gosto tem que ser discutido. Para Kant apenas sobre gosto se discute,
ao passo que, representa uma reivindicação para tornar universal um juízo subjetivo.
A universalidade do juízo estético é detectada por envolver um exercício persuasivo de convencimento de outro
sujeito que aquela determinada forma da natureza ou da arte é bela. E, dessa forma, torna aquele valor universal. Os
sujeitos têm em comum um princípio de avaliação moral livre que determina a avaliação estética e, portanto, julga o
belo como universal.
O juízo estético está relacionado ao prazer ou desprazer que o objeto analisado nos imprime e, como se refere Kant,
o belo "é o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito". Essa situação fica bem evidente quando
visitamos um museu. Digamos que essa experiência fosse realizada no Museu do Louvre, em Paris, com o quadro
Monalisa. Se nos colocarmos como observador, perceberemos que os mais diversos comentários serão tecidos a
cerca dessa obra tão famosa.
Immanuel Kant 40

Detendo-nos na análise dos comentários favoráveis notaremos que, ratificando Kant, o belo não está arraigado em
nenhum conceito. Pois, dos vários indivíduos que vão apreciar a obra de Leonardo da Vinci, encontraremos desde
pessoas especializadas em arte até leigos, como eu ou você, que vão empregar cada qual um conceito, de acordo com
a percepção, após a contemplação da Monalisa. Então isso comprova que não existe uma definição exata a cerca do
belo, mas sim um sentimento que é universal e necessário.

A paz perpetua
A paz perpetua, trata que o direito cosmopolítico deve circunscrever-se às condições de uma hospitalidade universal.
Dessa forma, Kant traz no terceiro artigo definitivo de um tratado de paz perpetua, o fato de que existe um direito
cosmopolitano relacionado com os diferentes modos do conflito dos indivíduos intervirem nas relações com outros
indivíduos. A pessoa que está em seu território, no seu domínio, pode repelir o visitante se este interfere em seu
domínio.
No entanto, caso o visitante mantenha-se pacifico, não seria possível hostiliza-lo. Também, não se trata de um direito
que obrigatoriamente o visitante poderia exigir daquele que o tem assim, mas sim, de um direito que persiste em
todos os homens, o do direito de apresentar-se na sociedade.
O direito de cada um na superfície terrestre pode ser limitada no sentido da superfície. Já o indivíduo deve tolerar a
presença do outro, sem interferir nele, visto que tal direito persiste a toda espécie humana. Então, o direito da posse
comunitária da superfície terrestre pertence a todos aqueles que gozam da condição humana, existindo uma
tolerância de todos a fim de que se alcance uma convivência plena.
Veja que o ato de hostilidade está presente no ato do direito de hospitalidade. Mesmo que o espaço seja limitado, os
indivíduos devem se comportar pacificamente com o intuito de se alcançar a paz de convívio mútuo. O
relacionamento entre as pessoas está na construção dos direitos de cada um, sendo indispensável para a compreensão
do direito cosmopolítico de modo a garantir as condições necessárias para termos uma hospitalidade universal.
Por fim, a violação do direito cosmopolitano e o direito público da humanidade criará condições para o
favorecimento da paz perpetua, proporcionando a esperança de uma possível aproximação do estado pacífico.

Filosofia de Kant em geral

"Só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o Kant, Crítica da
fanatismo e a superstição, que se podem tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o cepticismo, razão pura, B
que são sobretudo perigosos para as escolas e dificilmente se propagam no público." [3]
XXXIV.

Apesar de ter adaptado a ideia de uma filosofia crítica, cujo objectivo primário era "criticar" as limitações das nossas
capacidades intelectuais, Kant foi um dos grandes construtores de sistemas, levando a cabo a ideia de crítica nos seus
estudos da metafísica, ética e estética.
Uma citação famosa - "o céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro de mim" - é um resumo dos seus esforços:
ele pretendia explicar, numa teoria sistemática, aquelas duas áreas. Isaac Newton tinha desenvolvido a teoria da
física sob a qual Kant queria edificar a filosofia. Esta teoria envolvia a assunção de forças naturais de que os homens
não se apercebem, mas que são usadas para explicar o movimento de corpos físicos.
O seu interesse na ciência também o levou a propor em 1755 que o sistema solar fora criado a partir de uma nuvem
de gás na qual os objectos se condensaram devido à gravidade. Esta Hipótese Nebular é amplamente reconhecida
como a primeira teoria moderna da formação do sistema solar e é precursora das actuais teorias da formação estelar.
Immanuel Kant 41

Metafísica e epistemologia de Kant


O livro mais lido e mais influente de Kant é a Crítica da Razão Pura
(1781). De acordo com o próprio autor, a obra, também conhecida
como "primeira crítica", é resultado da leitura de Hume e do seu
despertar do sono dogmático, a saber: Kant se perguntou como são
possíveis juízos sintéticos a priori? Para responder a essa pergunta,
Kant escreveu esse livro portentoso, de mais de 800 páginas.

Na primeira crítica, Kant vai mostrar que tempo e espaço são formas
fundamentais de percepção (formas da sensibilidade) que existem
como ferramentas da mente, mas que só podem ser usadas na
experiência.
Tente imaginar alguma coisa que existe fora do tempo e que não tem
extensão no espaço.[2] A mente humana não pode produzir tal ideia.
Nada pode ser percebido excepto através destas formas, e os limites da
física são os limites da estrutura fundamental da mente. Assim, já
vemos que não podemos conhecer fora do espaço e do tempo.
Mas além das formas da sensibilidade, Kant vai nos dizer que há
também o entendimento, que seria uma faculdade da razão. O
Capa da obra Crítica da Razão Pura, 1781.
entendimento nos fornece as categorias com as quais podemos operar
as sínteses do diverso da experiência.
Assim, como são possíveis juízos sintéticos a priori? São possíveis porque há uma faculdade da razão - o
entendimento - que nos fornece categorias a priori - como causa e efeito - que nos permitem emitir juízos sobre o
mundo.
Contudo, diz Kant, as categorias são próprias do conhecimento da experiência. Elas não podem ser empregadas fora
do campo da experiência. Daí porque, na filosofia crítica de Kant, não nos é possível conhecer a coisa em si, ou
aquilo que não está no campo fenomenológico da experiência.
Na perspectiva de Kant, há, por isso, o conhecimento a priori de algumas coisas, uma vez que a mente tem que ter
estas categorias, de forma a poder compreender a massa sussurrante de experiência crua, não-interpretada que se
apresenta às nossas consciências. Em segundo lugar, ela remove o mundo real (a que Kant chamou o mundo
numenal ou númeno) da arena da percepção humana.
Kant denominou a filosofia crítica de "idealismo transcendental". Apesar da interpretação exacta desta frase ser
contenciosa, uma maneira de a compreender é através da comparação de Kant, no segundo prefácio à "Crítica da
Razão Pura", da filosofia crítica com a revolução copernicana na astronomia.

Até aqui, foi assumido que todo o nosso conhecimento deve conformar-se aos objectos. Mas todas as nossas tentativas de estender o
nosso conhecimento de objectos pelo estabelecer de qualquer coisa a priori a seu respeito, por meios de conceitos, acabaram, nesta
suposição, por falhar. Temos pois, por tentativas, que ver se temos ou não mais sucesso nas tarefas da metafísica, se supusermos que os
objectos devem corresponder ao nosso conhecimento.

Tal como Copérnico revolucionou a astronomia ao mudar o ponto de vista, a filosofia crítica de Kant pergunta quais
as condições a priori para que o nosso conhecimento do mundo se possa concretizar.
O idealismo transcendental descreve este método de procurar as condições da possibilidade do nosso conhecimento
do mundo. Mas esse idealismo transcendental de Kant deverá ser distinguido de sistemas idealistas, como os de
Berkeley. Enquanto Kant acha que os fenómenos dependem das condições da sensibilidade, espaço e tempo, esta
tese não é equivalente à dependência-mental no sentido do idealismo de Berkeley.
Immanuel Kant 42

Para Berkeley, uma coisa é um objecto apenas se puder ser percepcionada. Para Kant, a percepção não é o critério da
existência dos objectos. Antes, as condições de sensibilidade - espaço e tempo - oferecem as "condições
epistémicas", para usar a frase de Henry Allison, requeridas para que conheçamos objectos no mundo dos
fenómenos. Kant tinha querido discutir os sistemas metafísicos mas descobriu "o escândalo da filosofia": não se
pode definir os termos correctos para um sistema metafísico até que se defina o campo, e não se pode definir o
campo até que se tenha definido o limite do campo da física - física, no sentido de discussão do mundo perceptível.
Kant afirma, em síntese, que não somos capazes de conhecer inteiramente os objetivos reais e que o nosso
conhecimento sobre os objetos reais é apenas fruto do que somos capazes de pensar sobre eles.

Filosofia Moral
Immanuel Kant desenvolve a filosofia moral em três obras:
Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), Crítica da Razão
Prática (1788) e Crítica do Julgamento (1790).
Nesta área, Kant é provavelmente mais bem conhecido pela teoria
sobre uma obrigação moral única e geral, que explica todas as outras
obrigações morais que temos: o imperativo categórico.

Estátua de Immanuel Kant em Kaliningrado

Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal.

O imperativo categórico, em termos gerais, é uma obrigação incondicional, ou uma obrigação que temos
independentemente da nossa vontade ou desejos (em contraste com o imperativo hipotético).
As nossas obrigações morais podem ser resultantes do imperativo categórico. O imperativo categórico pode ser
formulado em três formas, que ele acreditava serem mais ou menos equivalentes (apesar de opinião contrária de
muitos comentadores):
§ A primeira formulação (a fórmula da lei universal) diz: "Age somente em concordância com aquela máxima
através da qual tu possas ao mesmo tempo querer que ela venha a se tornar uma lei universal".
§ A segunda fórmula (a fórmula da humanidade) diz: "Age por forma a que uses a humanidade, quer na tua pessoa
como de qualquer outra, sempre ao mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio".
§ A terceira fórmula (a fórmula da autonomia) é uma síntese das duas prévias. Diz que deveremos agir por forma a
que possamos pensar de nós próprios como leis universais legislativas através das nossas máximas. Podemos pensar
em nós como tais legisladores autônomos apenas se seguirmos as nossas próprias leis..
Immanuel Kant 43

Kant e a Revolução Francesa


Em 1784, no seu ensaio "Uma resposta à questão: o que é o
Iluminismo?", Kant visava vários grupos que tinham levado o
racionalismo longe de mais: os metafísicos que pretendiam tudo
compreender acerca de Deus e da imortalidade; os cientistas que
presumiam nos seus resultados a mais profunda e exacta descrição
da natureza; os cépticos que diziam que a crença em Deus, na
liberdade, e na imortalidade, eram irracionais.

Kant mantinha-se no entanto optimista, começando por ver na


Revolução Francesa uma tentativa de instaurar o domínio da razão
e da liberdade. Toda a Europa do Iluminismo contemplava então
fascinada os acontecimentos revolucionários em França.
A Revolução francesa vai no entanto ser um marco de viragem,
também na filosofia de Kant. Observando a evolução e as
realizações práticas, Kant volta a reflectir sobre a prometida razão
e liberdade.
No plano religioso, em 1792, Kant, ao escrever a obra Der Sieg
Estátua de Immanuel Kant na Faculdade de Filosofia
des guten Prinzips über das böse und die Gründung eines Reichs
e Ciências Humanas da UFMG.
Gottes auf Erden (A vitória do princípio bom sobre o princípio
mau e a constituição de um reino de Deus sobre a terra), afirma
ainda cheio de optimismo: "A passagem gradual da fé eclesiástica ao domínio exclusivo da pura fé religiosa constitui
a aproximação do reino de Deus".[4]

Nessa obra, o "reino de Deus" anunciado nos Evangelhos recebia como que uma nova definição e uma nova
presença: a Revolução podia apressar a passagem da fé eclesiástica à fé racional; onde chegasse a Revolução a "fé
eclesiástica" seria superada e substituída pela "fé religiosa", ou seja, pela "mera fé racional."
Em 1795, no livro Das Ende aller Dinge ("O fim de todas as coisas"), a perspectiva é já completamente diferente.
Kant toma agora em consideração a possibilidade de que, a par do fim natural de todas as coisas, se verifique
também um fim contrário à natureza, perverso:
Se acontecesse um dia chegar o cristianismo a não ser mais digno de amor, então o pensamento
dominante dos homens deveria tomar a forma de rejeição e de oposição contra ele; e o anticristo [...]
inauguraria o seu regime, mesmo que breve, (baseado presumivelmente sobre o medo e o egoísmo). Em
seguida, porém, visto que o cristianismo, embora destinado a ser a religião universal, de facto não teria
sido ajudado pelo destino a sê-lo, poderia verificar-se, sob o aspecto moral, o fim (perverso) de todas as
coisas.[5]
Face à violência inaudita da Revolução Francesa, e ao novo tipo de autoritarismo que se firmava nas "Luzes" da
razão, Kant vai também reflectir acerca dos seus conceitos políticos.[6]
Immanuel Kant 44

Marcos na vida de Kant


1724 - Kant nasce a 22 de abril.
1740 - Neste ano, Frederico II torna-se Rei da Prússia. Foi um rei que trouxe sinais de tolerância à Prússia, que era
uma nação célebre pela disciplina militar. Trouxe iluministas (Voltaire, o mais famoso) para a corte e continuou a
política de encorajamento à imigração que o pai tinha seguido.
1746 - Falecimento do pai de Kant. Kant deixou de ter sustento. Teria de encontrar trabalho como professor
particular.
1748 - 1754 - Kant dá aulas a crianças em pequenas vilas das redondezas.
1755 - Publicação do Livro "História natural genérica e teoria dos céus". Kant consegue o título de Mestre e o direito
a dar aulas na Universidade Alberto. Daria aulas como docente privado. Não pago pela Universidade mas pelos
próprios alunos. Nesse ano, Kant foi influenciado pelo desastre que foi o Terramoto de 1755, em Lisboa/Portugal,
em parte pelo resultado de tentar entender a enormidade do sismo e as consequências, publicou três textos distintos
sobre o assunto.
1762 - Kant lê as recentes publicações de Rousseau, "Emile" (uma obra filosófica sobre a educação do indivíduo) e o
ensaio "Contrato social".
1770 - Kant torna-se professor de Lógica e Metafísica na Universidade, após 14 anos como docente (pago pelos
alunos). Kant lê por volta desta altura a obra de David Hume, que o terá despertado do seu "sono dogmático", como
ele próprio disse.
1773 - Ironicamente, Frederico II, um protestante, concede refúgio à Ordem dos Jesuítas, banidos pelo Papa.
1774 - Auge do movimento romântico chamado "Sturm-und-Drang". Herder publica "Também uma filosofia da
História para educação da Humanidade".
1781 - Kant publica em Maio "Crítica da Razão Pura". A reacção é pouco encorajadora. Moses Mendelssohn e
Johann Georg Hamann pronunciam-se com indecisão.
1783 - Kant escreve um artigo intitulado "O que é o Iluminismo?" para a revista
"Berlinischen Monatsschrift", como resposta a uma discussão na mesma. Um anónimo
tinha escrito que a cerimónia do casamento já não se conformava ao espírito dos tempos
do iluminismo. Um pastor perguntou na resposta, que era então o iluminismo. Kant
respondeu com o seu artigo.
1788 - Publicação de "Crítica da Razão Prática". Morte do amigo Johann Georg
Hamann.
1789 - Início da Revolução Francesa. Kant pronuncia-se inicialmente de forma favorável Selo de 250 anos de
à Revolução, e sobretudo à secularização resultante, após o qual o Rei da Prússia nascimento de Immanuel
Friedrich Wilhelm II proíbe Kant de se pronunciar sobre quaisquer temas religiosos. Kant (1724-1804).

1795 - Publicação do tratado "Para a paz eterna", na qual surge a perspectiva de um


cidadão do mundo esclarecido.
1804 - Com 80 anos de idade, Kant faleceu em Königsberg, após prolongada doença que apresentava sintomas
semelhantes à Doença de Alzheimer. Já não reconhecia sequer os seus amigos íntimos.
Immanuel Kant 45

Obras
• Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível (1770);
• Crítica da Razão Pura (1781);
• Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência (1783);
• Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1784);
• Fundamentos da metafísica da moral (1785);
• Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786);
• Crítica da Razão Prática (1788);
• Crítica do Julgamento (1790);
• A Religião dentro dos limites da mera razão (1793);
• A Paz Perpetua (1795);
• Doutrina do Direito (1796);
• A Metafísica da Moral (1797);
• Antropologia do ponto de vista pragmático (1798).
• Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura;
[1] Vanni Rovighi, Sofia, Introduzione allo studio di Kant, Roma, 1945, Core, Mori
[2] Crítica da razão pura, Martin Claret/Cassier, Ernst, Kants Leben und lehre, Berlin, 1921.
[3] KANT, I. Crítica da razão pura. 4ª ed. Prefácio à tradução portuguesa, introdução e notas: Alexandre Fradique MOURUJÃO. Tradução:
Manuela Pinto dos SANTOS e Alexandre Fradique MOURUJÃO. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, p. 30.
[4] Emmanuel Kant in Werke IV, coordenado por W. Weischedel, 1956, p. 777.
[5] Emmanuel Kant, Das Ende aller Dinge, cit. em Werke VI, coordenado por W. Weischedel, 1964, p. 190.
[6] Sidney Axinn, "Authority, and the French Revolution", Journal of the History of Ideas, Vol. 32, No. 3 (Jul. - Sep., 1971), pp. 423-432.

Bibliografia
• ALMEIDA, Aires (org.). Dicionário Escolar de Filosofia. [s.l.]: Plátano Editora, 2003.
• HEIDEGGER, Martin. Kant und das Problem der Metaphysik. Bonn, 1929.
• KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. Tradução de Valério Rohden e António Marques. Rio de
Janeiro, RJ: Forense Universitária, 1993.
• Revista de Filosofia, Curitiba, v. 18 n. 21, p. 11-25, jul./dez. 2005.
• Revista Lindaraja, Madrid, Anuario de la Sociedad Española de Literatura General y Comparada, n. 8, 1990,
pags. 25-29, 1990.
• PEREZ, D. O. Kant e o problema da significação. Curitiba: Editora Champagnat, 2008.
• PEREZ, D. O. . Religión, Política y Medicina en Kant: El Conflicto de las Proposiciones. Cinta de Moebio.
Revista de Epistemologia de Ciencias Sociales., v. 28, p. 91-103, 2007.
• Politics, Religion and Medicine in Kant (http://www.facso.uchile.cl/publicaciones/moebio/28/perez.pdf)
• PEREZ, D. O. . Os significados dos conceitos de hospitalidade em Kant e a problemática do estrangeiro. Revista
Philosophica (Chile), v. 31, p. 43-53, 2007. Também em Konvergencias, 2007, nro. 15.
http://www.philosophica.ucv.cl/n31.htm http://www.konvergencias.net/danieloperez132.pdf
• PEREZ, D. O. A LOUCURA COMO QUESTÃO SEMÂNTICA:UMA INTERPRETAÇÃO KANTIANA.
Trans/Form/Ação, São Paulo, 32(1): 95-117, 2009. http://www.scielo.br/pdf/trans/v32n1/07.pdf
• TERUEL, P. J. Mente, cerebro y antropología en Kant. Madrid: Tecnos, 2008.
Immanuel Kant 46

Ligações externas
• E-book: "Crítica da Razão Pura" em versão online (http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/critica.html)
• E-book: "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" em versão online (http://www.consciencia.org/
moderna/kantfundamentacao.shtml)
• Obras de Immanuel Kant (http://www.intratext.com/Catalogo/Autori/AUT216.HTM): textos com
concordâncias e lista de freqüência
• O que é o Iluminismo? (http://rgirola.sites.uol.com.br/Kant.htm)
• Ferenc Fehér - Practical Reason in the Revolution: Kant's Dialogue with the French Revolution (http://content.
cdlib.org/xtf/view?docId=ft2h4nb1h9&chunk.id=d0e5608&toc.depth=1&toc.id=d0e5608&brand=eschol)
(em inglês)
• Frases de Immanuel Kant (http://www.frasesfamosas.com.br/de/immanuel-kant/pag/6.html)
• Estética e Ética em Kant. (http://www.ieacd.com/revista/ESTÉTICA E ÉTICA EM KANT.pdf)
• A Reflexão Estética na Filosofia de Kant. (http://www.ieacd.com/revista/A REFLEXÃO ESTÉTICA NA
FILOSOFIA DE KANT.pdf)
• Assunto de Kant na exposição (http://www.kantiana.ru/museum/exposition.php?sphrase_id=16338) do
museu da Universidade Estatal Russa "Immanuel Kant", no sítio da universidade (em russo)

Hume

Esta é uma página de desambiguação, a qual lista artigos associados a um mesmo


título.

• David Hume
• Hume (Illinois)
• Hume (Missouri)
Maurice Merleau-Ponty 47

Maurice Merleau-Ponty
Maurice Merleau-Ponty

Nascimento 14 de Março de 1908


Rochefort-sur-Mer, França

Morte 4 de Maio de 1961


Paris, França

Nacionalidade francesa

Ocupação Filósofo

Escola/tradição Fenomenologia e Existencialismo

Principais interesses Ontologia e Epistemologia

Maurice Merleau-Ponty (Rochefort-sur-Mer, 14 de março de 1908 — Paris, 4 de maio de 1961) foi um filósofo
fenomenologista francês.
Estudou na École normale supérieure de Paris, graduando-se em filosofia em 1931. Leccionou em vários liceus antes
da Segunda Guerra, durante a qual serviu como oficial do exército francês. Em 1945 foi nomeado professor de
filosofia da Universidade de Lyon. Em 1949 foi chamado a leccionar na Universidade de Paris I
(Panthéon-Sorbonne).
Em 1952 ganhou a cadeira de filosofia no Collège de France. De 1945 a 1952 foi co-editor (com Jean-Paul Sartre) da
revista Les Temps Modernes.
Suas obras mais importantes de Filosofia foram de cunho psicológico: La Structure du comportement (1942) e
Phénoménologie de la perception (1945). Apesar de grandemente influenciado pela obra de Edmund Husserl,
Merleau-Ponty rejeitou sua teoria do conhecimento intencional, fundamentando sua própria teoria no comportamento
corporal e na percepção. Sustentava que é necessário considerar o organismo como um todo para se descobrir o que
se seguirá a um dado conjunto de estímulos.
Voltando sua atenção para a questões sociais e políticas, Merleau-Ponty publicou em 1947 um conjunto de ensaios
marxistas - Humanisme et terreur ("Humanismo e Terror"), a mais elaborada defesa do comunismo soviético do
final dos anos 1940. Contrário ao julgamento do terrorismo soviético, atacou o que considerava "hipocrisia
ocidental". Porém a guerra da Coréia desiludiu-o e fê-lo romper com Sartre, que apoiava os comunistas da Coreia do
Norte.
Maurice Merleau-Ponty 48

Em 1955, Merleau-Ponty publicou mais ensaios marxistas, Les Aventures de la dialectique ("As Aventuras da
Dialética"). Essa coleção, no entanto, indicava sua mudança de posição: o marxismo não aparece mais como a última
palavra na História, mas apenas como uma metodologia heurística.
Segundo Merleau-Ponty, quando o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consciência,
primeiro nota e percebe esse objecto em total harmonia com a sua forma, a partir de sua consciência perceptiva.
Após perceber o objecto, este entra em sua consciência e passa a ser um fenómeno.
Com a intenção de percebê-lo, o ser humano intui algo sobre ele, imagina-o em toda sua plenitude, e será capaz de
descrever o que ele realmente é. Dessa forma, o conhecimento do fenómeno é gerado em torno do próprio fenómeno.
Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O conhecimento nasce e faz-se
sensível em sua corporeidade.

Ligações externas
• Merleau-Ponty: a obra fecunda [1], por Marilena Chaui.
• Fenomenologia e Existência: Uma Leitura de Merleau-Ponty, por Newton Aquiles von Zuben [2]
• Artigo da Enciclopédia de Filosofia de Stanford (em inglês) [3]

Referências
[1] http:/ / revistacult. uol. com. br/ website/ news. asp?edtCode=EF641083-3D32-4F8C-9C5D-30564DAAF6B4&
nwsCode=94DC1935-FEEE-42BB-A74F-EBCB0FD15DED
[2] http:/ / www. fae. unicamp. br/ vonzuben/ fenom. html
[3] http:/ / plato. stanford. edu/ entries/ merleau-ponty/

Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre

Simone de Beauvoir, Sartre e Che Guevara

Nascimento 21 de Junho de 1905


Paris

Morte 15 de abril de 1980 (74 anos)


Paris

Nacionalidade Francês

Ocupação Filósofo, escritor

Magnum opus O ser e o nada

Escola/tradição Existencialismo, Marxismo

Principais interesses Epistemologia, Ética, Política, Ontologia, Metafísica, Fenomenologia


Jean-Paul Sartre 49

Ideias notáveis "O Homem está condenado à liberdade", "A existência precede a essência"

Prêmios
Nobel de Literatura (1964)
Influências

Influenciados

Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de Junho de 1905 — Paris, 15 de Abril de 1980) foi um filósofo,
escritor e crítico francês, conhecido representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de
desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua
vida e a sua obra.
Repeliu as distinções e as funções oficiais e, por estes motivos, se recusou a receber o Nobel de Literatura de 1964.
Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, pois o homem
primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter
uma "essência" posterior à existência.[1]

Biografia

1905 a 1918: a formação do escritor


Jean-Paul Sartre era filho de Jean-Baptiste Marie Eymard Sartre, oficial da marinha francesa[2] e de Anne-Marie
Sartre (Nascida Anne Marie Schweitzer). Quando seu filho nasceu Jean-Baptiste tinha uma doença crônica adquirida
em uma missão na Cochinchina. Após o nascimento de Jean-Paul ele sofreu uma recaída e retirou-se com a família
para Thiviers, sua terra natal, onde morreu em 21 de setembro de 1906.[3] Jean-Paul, órfão de pai, e então com 15
meses, muda-se para Meudon com sua mãe, onde passam a viver na casa de seu avós maternos. O avô de Sartre,
Charles Schweitzer nasceu em uma tradicional família protestante alsaciana da qual faz parte, entre outros, o famoso
missionário Albert Schweitzer, sobrinho de Charles. Ao fim da guerra franco-prussiana, Charles optou pela
cidadania francesa e tornou-se professor de alemão em Mâcon onde conheceu e casou-se com Louise Guillemin, de
origem católica, com quem teve três filhos, George, Émile e Anne-Marie.[4]
Após o regresso de Anne-Marie, os quatro viveram em Meudon até 1911. O pequeno "Poulou", como Jean-Paul era
chamado, dividia o quarto com a mãe. Em seu romance autobiográfico "As Palavras" (Les Mots) confessa que desde
cedo a considerava mais como uma irmã mais velha do que como mãe.[5] De sua primeira infância ao fim da
adolescência, Sartre vive uma vida tipicamente burguesa, cercado de mimos e proteção..[6] Até os 10 anos foi
educado em casa por seu avô e por alguns preceptores contratados. Com pouco contato com outras crianças, o
menino tornou-se, em suas próprias palavras, um "Cabotino"[7] e aprendeu a usar a representação para atrair a
atenção dos adultos com sua precocidade.[8]
Em 1911, a família Schweitzer mudou-se para Paris. Passa a ter acesso à biblioteca de obras clássicas francesas e
alemãs pertencente ao seu avô. Após aprender a ler, Jean-Paul alterna a leitura de Victor Hugo, Flaubert, Mallarmé,
Corneille, Maupassant e Goethe,[9] com os quadrinhos e romances de aventura que sua mãe comprava semanalmente
às escondidas do avô. Sartre considerava serem essas suas "verdadeiras leituras", uma vez que a leitura dos clássicos
era feita por obrigação educacional.[10] A essas influências, junta-se o cinema, que frequentava com sua mãe e que se
tornaria mais tarde um de seus maiores interesses.
Sartre conta em "As Palavras" que escrevia histórias na infância também como uma forma de mostrar-se precoce.
Suas primeiras histórias eram cópias de romances de aventura, em que apenas alguns nomes eram alterados, mas
ainda assim faziam sucesso entre os familiares.[11] Era incentivado pela mãe, pela avó, pelo tio (que o presenteou
com uma máquina de escrever) e por uma professora, a sra. Picard, que via nele a vocação de escritor profissional.
Aos poucos, o jovem Sartre passou a encontrar sua verdadeira vocação na escrita.[12]
Jean-Paul Sartre 50

Apenas seu avô o desencorajava da escrita e o incentivava a seguir carreira de professor de letras. Sem enxergar nele
o talento que os demais viam, mas conformado com o fato de que seu neto "tinha a bossa da literatura",[13]
incentivou Sartre a tornar-se professor por profissão e escrever apenas como segunda atividade.[14] Assim, Sartre
atribui ao avô a consolidação de sua vocação de escritor: "Perdido, aceitei, para obedecer a Karl, a carreira de
escritor menor. Em suma, ele me atirou na literatura pelo cuidado que desprendeu em desviar-me dela".[15]
Em 14 de abril de 1917 sua mãe casa-se novamente, com Joseph Mancy, que passa a ser co-tutor de Sartre. Livre da
dependência dos pais, Anne-Marie muda-se com Sartre para a casa de Mancy em La Rochelle.[16] Nesta cidade
litorânea, Sartre toma contato pela primeira vez com imigrantes árabes, chineses e negros. Mais tarde ele
reconheceria esse período como a raiz de seu anticolonialismo e o início do abandono dos valores burgueses.[17]

1921 a 1936: a formação do filósofo


Em 1921 retorna ao Liceu Henri IV, agora como interno. Encontra Paul Nizan e os dois tornam-se amigos
inseparáveis. De 1922 a 1924, ambos estudam no curso preparatório do liceu Louis-le-Grand, onde se preparam para
o concurso da École Normale Superieure. Nessa época despertou seu interesse pela filosofia. Sua primeira influência
importante foi a obra de Henri Bergson.
Em 1924 ingressou na École Normale Supérieure na mesma turma de Nizan, Daniel Agache e Raymond Aron.[18]
Músico e ator talentoso e sempre disposto a participar de brincadeiras e eventos sociais, Sartre torna-se muito
popular entre os colegas.[19] Os alunos da escola se dividem em grupos de afinidades religiosas ("ateus" e "carolas"),
e facções políticas: Socialistas, comunistas, reacionários, pacifistas. Sartre adere aos ateus e aos pacifistas[20] e
enquanto Aron e Nizan aderem aos círculos socialistas e comunistas e começam a participar da vida política
francesa, Sartre mantém o individualismo e o desinteresse pela política que conservaria até o fim da Segunda Guerra.
No campo filosófico, além de Bergson, passou a ler Nietzsche, Kant, Descartes e Spinoza. Já na escola começa a
desenvolver as primeiras ideias de uma filosofia da liberdade leiga, da oposição entre os seres e a consciência, do
absurdo e da contingência que ele viria a desenvolver posteriormente em suas grandes obras filosóficas. Seu
principal interesse filosófico é o indivíduo e a psicologia.[21]
Em 1928 presta o exame de mestrado e é reprovado. Durante o ano de preparação para a segunda tentativa, estuda
com Nizan e René Maheu na Sorbonne. Conhece a namorada de Maheu, Simone de Beauvoir que mais tarde se
tornaria sua companheira e colaboradora até o fim da vida. Maheu havia apelidado Simone de Beauvoir de "Castor",
devido à semelhança de seu nome com Beaver (Castor em inglês) e também "porque ela trabalhava como um
castor".[22] [23] Sartre assume o apelido e passa a chamá-la de Castor pessoalmente e em todas as cartas que lhe
escreveu. Na segunda tentativa do mestrado, Sartre passa em primeiro lugar, no mesmo ano em que Beauvoir obtém
a segunda colocação.[24] [25]
Sartre e Beauvoir nunca formaram um casal monogâmico. Não se casaram e mantinham uma relação aberta. Sua
correspondência é repleta de confidências sobre suas relações com outros parceiros. Além da relação amorosa, eles
tinham uma grande afinidade intelectual. Beauvoir colaborou com a obra filosófica de Sartre, revisava seus livros e
também se tornou uma das principais filósofas do movimento existencialista. Sua obra literária também inclui
diversos volumes autobiográficos, que frequentemente relatam o processo criativo de Sartre e dela mesma.
Entre 1929 e 1931, Sartre presta o serviço militar e torna-se soldado meteorologista.[26] Escreve alguns contos e
começa a trabalhar em seu primeiro romance, "Factum sur la contingeance" (Panfleto sobre a contingência), que
depois viria a se chamar "La Nausée" (A náusea). Embora tenha se candidatado ao cargo de auxiliar de catedrático
no Japão, ele é nomeado professor de filosofia de um liceu em Havre onde permanece até 1936.[27] Sartre ainda seria
professor em Laon e Paris até 1944, quando abandonou definitivamente o magistério.
Em 1933, ele é apresentado à fenomenologia de Husserl por Raymond Aron, que havia retornado de um período
como bolsista do Institut Français em Berlim. Percebendo a semelhança dessa corrente à sua própria teoria da
contingência, Sartre fica fascinado e imediatamente começa a estudar a fenomenologia através de uma obra
introdutória.[28] Por sugestão de Aron, candidata-se à mesma bolsa e, aprovado, permanece em Berlim entre 1933 e
Jean-Paul Sartre 51

1934. Durante esta viagem, estuda a fundo a obra de Husserl e conhece também a filosofia de Martin Heidegger.
Publica em 1936 o artigo La Transcendence de l'Égo (A Transcendência do Ego), uma crítica à teoria do Ego
Husserliana que por sua vez se baseava no Cogito cartesiano. Sartre desafia o conceito de que o ego é um conteúdo
da consciência e afirma que ele está fora da consciência, no mundo e a consciência se dirige a ele como a qualquer
outro objeto do mundo. Este é um dos primeiros passos para livrar a consciência de conteúdos e torná-la o "Nada"
que mais tarde seria um dos conceitos-chave do existencialismo. De volta à França, continua a trabalhar nas mesmas
ideias e entre 1935 e 1939 escreve L'Imagination (A Imaginação), L'Imaginaire (O Imaginário) e Esquisse d'une
théorie des émotions (Esboço de uma teoria das emoções). Volta então suas pesquisas para Heiddegger e começa a
escrever L´Être et le néant (O ser e o nada).
Em 1938 publica o romance La Nausée (A náusea) e a coletânea de contos Le mur (O muro). A náusea apresenta, em
forma de ficção, o tema da contingência e torna-se seu primeiro sucesso literário, o que contribui para o início da
influência de Sartre na cultura francesa e no surgimento da moda existencialista que dominou Paris na década de
1940.

1939 a 1945: a gênese do intelectual engajado

Parte da série sobre o

Marxismo

Portal do comunismo

Em 1939 Sartre volta ao exército francês, servindo na Segunda Guerra Mundial como meteorologista. Em Nancy é
aprisionado no ano de 1940 pelos alemães, e permanece na prisão até abril de 1941. De volta a Paris, alia-se à
Resistência Francesa, onde conhece e se torna amigo de Albert Camus (do qual já conhecia a obra e sobre quem já
havia escrito um ensaio elogioso a respeito do livro O Estrangeiro). A amizade entre Sartre e Camus perdurará até
1952, quando os dois rompem a relação publicamente devido à publicação do livro do Camus O Homem Revoltado
no qual Camus ataca criticamente o Stalinismo. Sartre defendia uma relação de colaboração critica com o regime da
URSS e permitiu a publicação de uma crítica desastrosa sobre o livro do Camus em sua revista Les Temps Modernes
(crítica esta que Camus respondeu de maneira extremamente dura) e que foi a gota d´água para o fim da relação de
amizade). Mas até o final da vida Sartre admirará Camus, como ele mesmo expressa nas entrevistas que teve com
Simone de Beauvoir em 1974 - e que ela publicou postumamente.
Em 1943 publica seu mais famoso livro filosófico, L'Être et le Néant (O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia
Fenomenológica), que condensa todos os conceitos importantes da primeira fase de seu sistema filosófico.
Sua participação na Resistência não é aceita por todos, e o filósofo Vladimir Jankélévitch o reprova por sua "falta de
engajamento político" durante a ocupação alemã, e vê em seus posteriores combates em prol da liberdade uma
tentativa de se redimir por esta atitude.
Jean-Paul Sartre 52

Em 1945, ele cria e passa a dirigir junto a Maurice Merleau-Ponty a revista Les Temps Modernes (Tempos
Modernos), onde são tratados mensalmente os temas referentes à literatura, filosofia e política. Além das
contribuições para a revista, Sartre escreve neste período algumas de suas obras literárias mais importantes. Sempre
encarando a literatura como meio de expressão legítima de suas crenças filosóficas e políticas, escreve livros e peças
teatrais que tratam das escolhas que os homens tomam frente às contingências às quais estão sujeitos. Entre estas
obras destacam-se a peça Huis Clos (Entre quatro paredes) (1945) e a trilogia Les Chemins de la liberté (Os
caminhos da Liberdade) composta pelos romances L'age de raison (A idade da razão) (1945), Le Sursis (Sursis)
(1947) e Le mort dans l'âme (Com a morte na alma) (1949).
No período mais prolífico de sua carreira escreve ainda várias peças de teatro e ensaios.
Na década de 1950 assume uma postura política mais atuante, e abraça o comunismo. Torna-se ativista, e
posiciona-se publicamente em defesa da libertação da Argélia do colonialismo francês. A aproximação do marxismo
inaugura a segunda parte da sua carreira filosófica em que tenta conciliar as ideias existencialistas de
autodeterminação aos princípios marxistas. Por exemplo, a ideia de que as forças sócio-econômicas, que estão acima
do nosso controle individual, têm o poder de modelar as nossas vidas. Escreve então sua segunda obra filosófica de
grande porte, La Critique de la raison dialectique (A crítica da razão dialética) (1960), em que defende os valores
humanos presentes no marxismo, e apresenta uma versão alterada do existencialismo que ele julgava resolver as
contradições entre as duas escolas.
Considerado por muitos o símbolo do intelectual engajado, Sartre adaptava sempre sua ação às suas ideias, e o fazia
sempre como ato político. Em 1963 Sartre escreve Les Mots (As palavras, lançado em 1964), relato autobiográfico
que seria sua despedida da literatura. Após dezenas de obras literárias, ele conclui que a literatura funcionava como
um substituto para o real comprometimento com o mundo. Em 1964 recebe o Nobel de Literatura, que ele recusa
pois segundo ele "nenhum escritor pode ser transformado em instituição". Morre em 15 de abril de 1980 no Hospital
Broussais (em Paris). Seu funeral foi acompanhado por mais de 50 000 pessoas. Está enterrado no Cemitério de
Montparnasse em Paris. No mesmo túmulo jaz Simone de Beauvoir.

Cronologia
• 1905 - Sartre nasce em Paris em 21 de junho.
• 1907 - Morte de seu pai. Muda-se para a casa do avô materno, em Meudon; retorna a Paris quatro anos depois.
• 1924 - Sartre matricula-se na Escola Normal Superior, em Paris. Conhece Simone de Beauvoir.
• 1931 - É nomeado professor de filosofia no Havre.
• 1936 - Sartre publica A Imaginação e A Transcendência do Ego.
• 1940 - Servindo na guerra, Sartre é feito prisioneiro pelos alemães e enviado a um campo de concentração.
• 1941 - Liberto, volta à França e entra para a Resistência. Funda o movimento Socialismo e Liberdade.
• 1943 - Publica O Ser e o Nada.
• 1945 - Sartre dissolve Socialismo e Liberdade e funda, com Merleau-Ponty, a revista Les Temps Modernes.
• 1952 - Sartre ingressa no Partido Comunista Francês.
• 1956 - Rompe com o Partido Comunista. Escreve O Fantasma de Stálin.
• 1960 - Sartre publica Crítica da Razão Dialética.
• 1964 - Publica As Palavras. Recusa o Nobel de Literatura por acreditar que "nenhum escritor pode ser
transformado em instituição"
• 1968 - Durante a revolta estudantil na França e em várias partes do mundo, Sartre põe-se ao lado dos estudantes
da barricada.
• 1970 - Sartre assume simbolicamente a direção do jornal esquerdista La Cause de Peuple, em protesto à prisão de
seus diretores.
• 1971 - Publica O Idiota da Família.
• 1973 - Colabora na fundação do jornal libertário Libération.
Jean-Paul Sartre 53

• 1980 - Morre em 15 de abril.

O existencialismo de Sartre
Baseado principalmente na fenomenologia de Husserl e em 'Ser e Tempo' de Heidegger, o existencialismo sartriano
procura explicar todos os aspectos da experiência humana. A maior parte deste projeto está sistematizada em seus
dois grandes livros filosóficos: O ser e o nada e Crítica da razão dialética.

O Em-si
Segundo a fenomenologia e o existencialismo, o mundo é povoado de seres Em-si. Podemos entender um Em-si
como qualquer objeto existente no mundo e que possui uma essência definida. Uma caneta, por exemplo, é um
objeto criado para suprir uma necessidade: a escrita. Para criá-lo, parte-se de uma ideia que é concretizada, e o objeto
construído enquadra-se nessa essência prévia.
Um ser Em-si não tem potencialidades nem consciência de si ou do mundo. Ele apenas é. Os objetos do mundo
apresentam-se à consciência humana através das suas manifestações físicas (fenômenos).

O Para-si
A consciência humana é um tipo diferente de ser, por possuir conhecimento a seu próprio respeito e a respeito do
mundo. É uma forma diferente de ser, chamada Para-si.
É o Para-si que faz as relações temporais e funcionais entre os seres Em-si, e ao fazer isso, constrói um sentido para
o mundo em que vive.
O Para-si não tem uma essência definida. Ele não é resultado de uma ideia pré-existente. Como o existencialismo
sartriano é ateu, ele não admite a existência de um criador que tenha predeterminado a essência e os fins de cada
pessoa. É preciso que o Para-si exista, e durante essa existência ele define, a cada momento o que é sua essência.
Cada pessoa só tem como essência imutável, aquilo que já viveu. Posso saber que o que fui se definiu por algumas
características ou qualidades, bem como pelos atos que já realizei, mas tenho a liberdade de mudar minha vida deste
momento em diante. Nada me compete a manter esta essência, que só é conhecida em retrospecto. Podemos afirmar
que meu ser passado é um Em-si, possui uma essência conhecida, mas essa essência não é predeterminada. Ela só
existe no passado. Por isso se diz no existencialismo que "a existência precede e governa a essência". Por esta
mesma razão cada Para-si tem a liberdade de fazer de si o que quiser.

Liberdade em Sartre
Sartre defende que o homem é livre e responsável por tudo que está à sua volta. Somos inteiramente responsáveis
por nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Em Sartre, temos a ideia de liberdade como uma pena, por assim
dizer. "O homem está condenado a ser livre". Se, como Nietzsche afirmava, já não havia a existência de um Deus
que pudesse justificar os acontecimentos, a ideia de destino, passava a ser inconcebível, sendo então o homem o
único responsável por seus atos e escolhas. Para Sartre, nossas escolhas são direcionadas por aquilo que nos aparenta
ser o bem, mais especificamente por um engajamento naquilo que aparenta ser o bem e assim tendo consciência de si
mesmo. Em outras palavras, para o autor, o homem é um ser que "projeta tornar-se Deus".
Segundo o comentário de Artur Polônio, "se a vida não tem, à partida, um sentido determinado […], não podemos
evitar criar o sentido de nossa própria vida". Assim, "a vida nos obriga a escolher entre vários caminhos possíveis
[mas] nada nos obriga a escolher uma coisa ou outra". Assim, dentro dessa perspectiva, recorrer a uma suposta
ordem divina representa apenas uma incapacidade de arcar com as próprias responsabilidades.
Sartre não nega por completo o determinismo, mas determina o ser humano através da liberdade, não somos, afinal,
livres para não ser livres. Afinal de contas, não é Deus, nem a natureza, tampouco a sociedade que nos define, que
define o que somos por completo ou nossa conduta. Somos o que queremos ser, o que escolhemos ser; e sempre
Jean-Paul Sartre 54

poderemos mudar o que somos. o quem irá definir. Os valores morais não são limites para a liberdade.
Em Paris, sob o domínio alemão, Sartre pôde utilizar suas referências para a liberdade. Organizava-se a Resistência
Francesa. Sartre desejava participar do movimento, mas agindo a sua maneira. Não chegou a pegar no fuzil. Sua
arma continuava sendo a palavra. Nesta circunstância, o teatro parecia-lhe o instrumento mais adequado para atingir
o público e transmitir sua mensagem. Assim surgiu a primeira peça teatral de Sartre, As Moscas, encenada em 1943.
Animado pelo êxito de sua primeira experiência, em 1945 Sartre volta à cena com a peça Entre Quatro Paredes,
cujos personagens vivem os grandes problemas existenciais que o autor aborda em sua filosofia.

Limitação da liberdade
A liberdade dá ao homem o poder de escolha, mas está sujeita às limitações do próprio homem. Esta autonomia de
escolha é limitada pelas capacidades físicas do ser. Para Sartre, porém, estas limitações não diminuem a liberdade,
pelo contrário, são elas que tornam essa liberdade possível, porque determinam nossas possibilidades de escolha, e
impõem, na verdade, uma liberdade de eleição da qual não podemos escapar.

A existência, a responsabilidade e a má-fé


Segundo Raymond Plant, em seu livro Política, Teologia e História, o argumento de que a essência precede a
existência implica a necessidade de um criador; assim, quando um objeto vai ser produzido (um martelo, uma caneta,
uma máquina), ele obedece a um plano pré-concebido, que estabelece sua forma, suas principais características e sua
função, ou seja, ele possui um propósito definido, uma essência que define sua forma e utilidade, e precede a sua
existência. Sendo Sartre um representante do existencialismo ateu, ele defende que há um ser onde essa situação se
inverte, e a existência precede a essência: o ser humano. Assim, seria o próprio homem o definidor de sua essência, e
não Deus, como advogava o existencialismo cristão.
Em sua conferência "O existencialismo é um humanismo", Sartre afirma que o ser humano é o único nesta condição;
nós existimos antes que nossa essência seja definida. Esse seria um dos preceitos básicos do Existencialismo. Assim,
o autor nega a existência de uma suposta "essência humana" (pré-concebida), seja ela boa ou ruim. As nossas
escolhas cabem somente a nós mesmos, não havendo, assim, fator externo que justifique nossas ações. O responsável
final pelas ações do homem é o próprio homem.
Nesse sentido, o existencialismo sartriano concede importante relevo a responsabilidade: cada escolha carrega
consigo a obrigação de responder pelos próprios atos, um encargo que torna o homem o único responsável pelas
consequências de suas decisões. E cada uma dessas escolhas provoca mudanças que não podem ser desfeitas, de
forma a modelar o mundo de acordo com seu projeto pessoal. Assim, perante suas escolhas, o homem não apenas
torna-se responsável por si, mas também por toda a humanidade.
Essa responsabilidade é a causa da angústia dos existencialistas. Essa angústia decorre da consciência do homem de
que são as suas escolhas que definirão a sua essência, e mais, de que essas escolhas podem afetar, de forma
irreversível, o próprio mundo. A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da responsabilidade
em usá-la de forma adequada.
Sartre nega, ainda, a suposição de que haja um propósito universal, um plano ou destino maior, onde seríamos
apenas atores de um roteiro definido. Isto implica a constatação de que apenas nós mesmos definimos nosso futuro,
através de nossa liberdade de escolha. Porém, Sartre não se restringe em "justificar" a angústia dos existencialistas,
fruto da consciência de sua responsabilidade, mas vai além, e acusa como má-fé a atitude daqueles que não
procedem de tal forma, renunciando, assim, a própria liberdade.
De acordo com o autor, a má-fé é uma defesa contra a angústia criada pela consciência da liberdade, mas é uma
defesa equivocada, pois através dela nos afastamos de nosso projeto pessoal, e caímos no erro de atribuir nossas
escolhas a fatores externos, como Deus, os astros, o destino, ou outro. Nesse sentido, Sartre considerava também a
ideia freudiana de inconsciente como um exemplo de má-fé.
Jean-Paul Sartre 55

Podemos dizer, então, que para os existencialistas a má-fé compreendia a mentira para si próprio, sendo
imprescindível para o homem abandonar a má-fé, passando então a condição de ser consciente e responsável por
suas escolhas. Ao fazer isso, o homem passa, invariavelmente, a viver num estado de angústia, pois deixa de se
enganar, mas em compensação retoma a sua liberdade em seu sentido mais pleno.

O outro
As outras pessoas são fontes permanentes de contingências. Todas as escolhas de uma pessoa levam à transformação
do mundo para que ele se adapte ao seu projeto. Mas cada pessoa tem um projeto diferente, e isso faz com que as
pessoas entrem em conflito sempre que os projetos se sobrepõem. Mas Sartre não defende, como muitos pensam, o
solipsismo. O homem por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Só através dos olhos de outras pessoas é que
alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência, uma pessoa não pode se perceber por inteiro. "O
ser Para-si só é Para-si através do outro", ideia que Sartre herdou de Hegel. Cada pessoa, embora não tenha acesso às
consciências das outras pessoas, pode reconhecer neles o que têm de igual. E cada um precisa desse reconhecimento.
Por mim mesmo não tenho acesso à minha essência, sou um eterno "tornar-me", um "vir-a-ser" que nunca se
completa. Só através dos olhos dos outros posso ter acesso à minha própria essência, ainda que temporária. Só a
convivência é capaz de me dar a certeza de que estou fazendo as escolhas que desejo. Daí vem a ideia de que "o
inferno são os outros", ou seja, embora sejam eles que impossibilitem a concretização de meus projetos,
colocando-se sempre no meu caminho, não posso evitar sua convivência. Sem eles o próprio projeto fundamental
não faria sentido.

Críticas ao existencialismo sartriano


O existencialismo ateu de Sartre, por sua natureza avessa aos dogmas da igreja e da moral constituída, atraiu muitos
grupos que viam na defesa da liberdade e da vida autêntica um endosso à vida desregrada - obviamente, por um erro
na compreensão do que há de essencial na concepção de liberdade elaborada pelo filósofo francês. Por razões
semelhantes foi vista por muitos como uma filosofia nociva aos valores da sociedade e à manutenção da ordem.
Seria uma filosofia contra a humanidade. Esta é uma das razões porque toda a obra de Sartre foi incluída no Index de
obras proibidas pela Igreja Católica.
Sartre responde a isso na conferência "O existencialismo é um humanismo" em que afirma que o existencialismo não
pode ser refúgio para os que procuram o escândalo, a inconsequência e a desordem. O movimento, segundo este
texto, não defende o abandono da moral, mas a coloca em seu devido lugar: na responsabilidade individual de cada
pessoa. O existencialismo reconhece, assim, a possibilidade de uma moral laica em que os valores humanos existem
sem a necessidade da existência de Deus. A moral existencialista pretende que as escolhas morais não sejam
determinadas pelo medo da punição divina, mas pela consciência da responsabilidade.
No meio acadêmico, o existencialismo foi criticado por tratar exclusivamente de questões ontológicas, e por sua
defesa da auto-determinação. O existencialismo seria uma filosofia excessivamente preocupada com o indivíduo,
sem levar em conta os fatores sócio-econômicos, culturais e os movimentos históricos coletivos que, segundo o
marxismo e o estruturalismo, determinam as escolhas e diminuem a liberdade individual.
Em resposta a esta crítica, Sartre fez alterações ao seu sistema, e escreveu "A crítica da razão dialética" como
tentativa de compatibilizar o existencialismo ao marxismo. Dos dois tomos planejados, apenas o primeiro foi
publicado em vida em 1960. O segundo tomo, inacabado, foi publicado postumamente. Neste texto, afirma que "o
marxismo é a filosofia insuperável de nosso tempo", e admite que enquanto a humanidade estiver limitada por leis de
mercado e pela busca da sobrevivência imediata, a liberdade individual não poderia ser totalmente alcançada.
Não se pode negar sua duradoura influência sobre os mais variados ramos do conhecimento humano. Por ser muito
voltado à discussão de aspectos formadores da personalidade humana, o existencialismo exerceu influência na
psicologia de Carl Rogers, Fritz Perls, R. D. Laing e Rollo May. Na literatura, influenciou a poesia da Geração Beat,
cujos maiores expoentes foram Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs, além dos dramaturgos do
Jean-Paul Sartre 56

chamado Teatro do absurdo. Sartre prova sua relevância até na TV contemporânea, onde o cultuado produtor Joss
Whedon costuma inserir o existencialismo em seus projetos Buffy, a Caça Vampiros, Angel e Firefly - o que, através
da repetição descontextualizada dos jargões existencialistas, acaba por contribuir para a incompreensão e reforça
preconceitos já existentes. Através de suas contribuições à arte, Sartre conseguiu inserir a filosofia na vida das
pessoas comuns. Esta continua a ser sua maior contribuição à cultura mundial.

Obras
• L'imagination (A imaginação), ensaio filosófico - 1936
• La transcendance de l'égo (A transcendência do ego), Ensaio filosófico - 1937
• La nausée (A náusea), romance - 1938
• Le mur (O muro), contos - 1939
• Esquisse d'une théorie des émotions (Esboço de uma teoria das emoções), ensaio filosófico - 1939
• L'imaginaire(O imáginário), ensaio filosófico - 1940
• Les mouches (As moscas), teatro - 1943
• L'être et le néant (O ser e o nada), tratado filosófico - 1943
• Réflexions sur la question juive (Reflexões sobre a questão judaica), ensaio político - 1943
• Les Lettres Nouvelles (A República da Silêncio),ensaio filosófico - 1944
• Huis-clos (Entre quatro paredes), teatro - 1945
• Les Chemins de la liberté (Os Caminhos da Liberdade) trilogia, compreendendo:
• L'age de raison (A idade da razão), romance - 1945
• Le sursis (Sursis), romance - 1947
• La mort dans l'Âme (Com a morte na alma), romance - 1949
• Morts sans sépulture (Mortos sem sepultura), teatro 1946
• L'Existentialisme est un humanisme (O existencialismo é um humanismo), transcrição de uma conferência
proferida em 1946 - Texto posteriormente rejeitado por Sartre.
• La putain respectueuse (A prostituta respeitosa), teatro - 1946
• Qu'est ce que la littérature? (O que é a literatura?), ensaio - 1947
• Baudelaire - 1947
• Les jeux sont faits (Os dados estão lançados), romance - 1947
• Situations, Vários volumes que reúnem ensaios políticos literários e filosóficos - 1947 a 1965
• Les mains sales (As mãos sujas), teatro - 1948
• L'Engrenage (A engrenagem), teatro - 1948
• Orphée noir (Orfeu negro), teatro - 1948
• Le diable et le bon dieu (O diabo e o bom Deus), teatro - 1951
• Saint Genet, comédien et martyr (Saint Genet, ator e mártir), biografia de Jean Genet - 1952
• Les séquestrés d'Altona (Os seqüestrados de Altona) - 1959
• Critique de la raison dialectique - Tome I: théorie des ensembles pratiques (Crítica da razão dialética, Tomo I),
tratado filosófico - 1960
• Les mots (As palavras), Autobiografia - 1964
• L'idiot de la famille - Gustave Flaubert de 1821 à 1857 (O idiota de família), biografia inacabada de Gustave
Flaubert. Apenas dois dos quatro volumes planejados foram escritos - 1971 (Vol I) – 1972 (vol II)
Jean-Paul Sartre 57

Obras póstumas
• Carnets de la drôle de guerre (Diário de uma guerra estranha), Diário escrito entre setembro de 1939 e março de
1940 - 1983. Reedição ampliada em 1995.
• Cahiers pour une morale (Cadernos por uma moral). Esboço inacabado de uma teoria moral existencialista
preconizada em O ser e o nada. Escrito em 1947 e 1948 - 1983.
• Lettres au Castor et à quelques autres. Dois volumes abarcando correspondência de 1926 a 1963. Organizado por
Simone de Beauvoir -1983
• Le scènario Freud (Freud, além da alma), Roteiro do filme de John Huston realizado por Sartre entre 1959 e 1960
e não utilizado integralmente devido a conflitos com o diretor - 1984
• Critique de la raison dialectique - Tome II: l'inteligibilité de l'histoire (Crítica da razão dialética - Tomo II: a
inteligibilidade da história), Ensaio filosófico. Escrito em 1958 e publicado em 1985.
• Sartre no Brasil: a conferência de Araraquara. Edição bilíngue (português e francês) contendo a transcrição da
conferência na Faculdade de Filosofia de Araraquara em 4 de setembro de 1960 - 1986.
• Verité et Existence (Verdade e Existência), fragmentos de um ensaio filosófico escrito em 1948 - 1989
• Écrits de jeunesse (Escritos da juventude), textos escritos entre 1922 e 1928 - 1990
• Le reine Albemarle ou le dernier touriste (A rainha Albemarle ou o último turista), fragmentos inacabados
escritos em 1951 e publicados em 2009 (no Brasil).
[1] Ver Sartre, "O Existencialismo É um Humanismo".
[2] Jean-Baptiste Satre atingiu o posto de segundo-tenente-de-mar-e-guerra. (Cohen-Solal (2008), pg. 51)
[3] Cohen-Solal (2008), pg. 50
[4] Cohen-Solal (2008), pp. 43-44
[5] Sartre (1963), pg. 17
[6] Sartre (1963), pp. 21-27
[7] Sartre (1963), pg. 26.
[8] "Felizmente os aplausos não me faltam: escutem eles minha tagarelice ou a Arte da Fuga, os adultos esboçam o mesmo sorriso de degustação
maliciosa e de conivência; isso mostra o que sou no fundo: um bem cultural." Sartre (1963) pg. 30.
[9] Sartre (1963), pp. 46-57
[10] "Eu fazia entretanto verdadeiras leituras: fora do santuário, em nosso quarto ou debaixo da mesa da sala de jantar; daquelas eu não falava a
ninguém e ninguém, salvo minha mãe, me falava delas." Sartre (1964), pp. 53-54
[11] Sartre (1963), pp. 101-111.
[12] "Eu escapava à comédia: não trabalhava ainda, porém não brincava mais, o mentiroso encontrava sua verdade na elaboração de suas
mentiras." - Sartre (1963), pg 111.
[13] Sartre (1963), pg. 112
[14] "(…) a literatura não dava de comer. Sabia eu que escritores famosos haviam morrido de fome? Que outros, para comer, tinham se vendido?
Se eu pretendia conservar minha independência, convinha escolher uma segunda profissão. O magistério prometia lazeres;" Sartre (1963), pg
113
[15] Sartre (1963), pg. 118
[16] Cohen-Solal (2008), pg 68
[17] Cohen-Solal (2008), pg. 76
[18] Cohen-Solal (2008), pg. 89.
[19] Cohen-Solal (2008), pp. 90-95.
[20] Cohen-Solal (2008) pg. 92.
[21] Cohen-Solal (2008), pp. 98-100.
[22] Rowley (2006), p. 24.
[23] Cohen-Solal (2008), pp. 107-108.
[24] Cohen-Solal (2008), p. 107.
[25] Rowley (2006), p. 36.
[26] Cohen-Solal (2008). pp 107-109
[27] Cohen-Solal (2008). pg 111
[28] Este livro é "A Teoria da intuição na fenomenologia de Husserl", de Emmanuel Lévinas, publicado em 1930. (Cohen-Solal (2008), pg. 128)
Jean-Paul Sartre 58

Bibliografia
• COHEN-SOLAL, Annie. Sartre: uma Biografia. Tradução de Milton Persson. 2.ed. Porto Alegre: L&PM
Editores, 2008. ISBN 85-254-1776-4
• __________. Sartre. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM Editores, 2005. ISBN 85-254-1443-3
• GUTTING, Gary. French Philosophy in the Twentieth Century. Port Chester, NY: Cambridge University Press,
2001. p. 125.
• LÉVY, Bernard-Henri. O Século de Sartre. Tradução de Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2001.
ISBN 85-209-1229-X
• MOUTINHO, Luiz Damon Santos. Sartre: Existencialismo e Liberdade (Coleção Logos). São Paulo: Moderna,
1996. ISBN 85-16-01226-3
• NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Hemus, 1981. p. 343.
• PERDIGÃO, Paulo. Existência e Liberdade. Porto Alegre: L&PM, 1995. ISBN 85-254-0502-7
• PLANT, Raymond. Politics, Theology and History. Port Chester, NY: Cambridge University Press, 2001. p. 246.
• RIBEIRO, Renato Janine. "O Pensador que Engajou a Filosofia na Política". Revista Cult (Especial Filosofia).
São Paulo: Editora Bregantini, novembro 2005, ano 8, número 97, pp. 52-55. ISSN 1414707-6
• ROUTLEDGE STAFF. Concise Routledge Encyclopedia of Philosophy. Florence, KY: Routledge, 2000. p. 265.
• ROWLEY, Hazel. Tête-à-Tête: Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre (tradução de Adalgisa Campos da Silva) -
Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. ISBN 85-7302-782-7
• SARTRE, Jean-Paul. As Palavras. Tradução de J. Guinsburg. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. ISBN
85-209-1072-6
• __________. Crítica da Razão Dialética. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.
• __________. O Existencialismo É um Humanismo. Apud Os Pensadores. Vol. XLV. São Paulo: Abril Cultural.
p. 09-28.
• VISKER, Rudi. "Was Existentialism Truly a Humanism?" Sartre Studies International 13.1 (June 2007): 3(13).
Academic OneFile. Gale. CAPES. 1.2008.

Ligações externas
• Perfil no sítio oficial do Nobel de Literatura 1964 (http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/
1964/) (em inglês)
• Sartre, Vida e Obra - Rubem Queiroz Cobra (http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-sartre.html) (em português)
• The Jean-Paul Sartre Archive (http://www.marxists.org/reference/archive/sartre) (em inglês)
• A antropologia estrutural e historica de Jean-Paul Sartre, Sens Public (http://www.sens-public.org/article.
php3?id_article=157)
• Sartre, Textos em linha, Sens Public (http://www.sens-public.org/spip.php?article544)

Precedido por Nobel de Sucedido por


Giórgos Seféris Literatura Michail Sholokhov
1964
William James 59

William James
William James

Nascimento 11 de janeiro de 1842


Nova Iorque

Morte 26 de agosto de 1910 (68 anos)


Chocorua
[{envenenamento}]

Residência Estados Unidos

Nacionalidade Estadunidense

Alma mater Universidade Harvard

Tese 1869

Conhecido(a) por Pragmatismo, Psicologia da experiência religiosa, Teoria James-Lange da emoção, Funcionalismo

Willliam James (11 de janeiro de 1842 – 26 de agosto de 1910) foi um pioneiro psicólogo e filósofo estadunidense,
com formação em medicina. Ele escreveu livros influentes sobre a então jovem ciência da psicologia, incluindo
temas como a educação e a psicologia da experiência religiosa. James foi um dos formuladores e defensores da
filosofia do pragmatismo, perspectiva influente nos Estados Unidos por boa parte do século XX. Ele era irmão de
Henry James e Alice James.
James interagiu com uma ampla gama de escritores e acadêmicos ao longo de sua vida, incluindo seu padrinho Ralph
Waldo Emerson, seu afilhado William James Sidis, e outros como Bertrand Russell, Charles Peirce, George
Santayana, John Dewey, Mark Twain e Carl Jung. Sua obra foi uma das grandes influências que embasam o
movimento neo-pragmático de Nelson Goodman, Richard Rorty e Hilary Putnam.

Carreira
William James recebeu educação eclética, desenvolvendo fluência em francês e alemão e um caráter cosmopolita.
Sua inclinação artística precoce levou-o a trabalhar no ateliê de William Morris Hunt em Newport. Em 1861, no
entanto, James preferiu dedicar-se à ciência na Lawrence Scientific School (Universidade de Harvard). No início de
sua vida adulta, James sofreu de uma série de problemas físicos, envolvendo seus olhos, costas, estômago e pele. Ele
também apresentou sintomas psicológicos, diagnosticados na época como neurastenia, e que incluíram períodos
durante os quais ele contemplou o suicídio por meses.
Em 1864, James decidiu ingressar o curso de medicina, na Harvard Medical School. Foi nesse período que ele
começou a estudar teologia. Ele interrompeu seus estudos durante parte de 1865 para se juntar a Louiss Agassiz
numa expedição científica no Rio Amazonas, mas teve de interromper sua viagem após oito meses, tendo sentido
forte enjôo e contraído varíola. Seus estudos foram interrompidos mais uma vez devido a doenças em Abril de 1867.
Ele viajou à Alemanha em busca de uma cura, onde ficou até Novembro de 1868. Esse período marcou o início de
William James 60

sua produção literária, com alguns de seus artigos aparecendo em publicações especializadas. James completou o
curso de medicina em Junho de 1869, mas nunca praticou essa profissáo. Ele casou com Alice Gibbens em 1878.
A diversidade de interesses de William James fez com que ocupasse diferentes postos durante sua carreira em
Harvard. Ele foi nomeado instrutor em fisiologia e anatomia em 1873, tornando-se professor-assistente de psicologia
em 1876. Em 1881, assumiu o posto de professor-assistente de filosofia, tornando-se professor titular em 1885. Mais
tarde, em 1889, retornou à psicologia como diretor, voltando à filosofia em 1897, área em que tornou-se professor
emérito em 1907. Em 1902, ele escreveria: “Eu inicialmente estudei medicina para ser um fisiologista, mas eu acabei
direcionado à filosofia e à psicologia como que por fatalidade. Eu nunca havia tido instrução filosófica, e a primeira
palestra sobre psicologia que escutei foi a que eu proferi.”
James estudou medicina, fisiologia e biologia, tendo como um de seus principais interesses o estudo científico da
mente humana em um tempo em que a psicologia estava se constituindo como ciência. A familiaridade de James
com o trabalho de figuras como Hermann Helmholtz na Alemanha e Pierre Janet na França facilitou sua introdução
de cursos de psicologia científica em Harvard. Ele lecionou sua primeira disciplina em psicologia experimental em
Harvard no ano acadêmico de 1875-1876.
Durante seus anos em Harvard, James se juntou a discussões filosóficas com Charles Sanders Peirce, Oliver Wendell
Holmes e Chauncey Wright, que evoluíram em um animado grupo conhecido como o Clube Metafísico, em 1872.
Louis Menand, em seu livro sobre o assunto, especula que o Clube estabeleceu os fundamentos para o pensamento
intelectual americano por décadas.
Ao longo de sua carreira, James publicou clássicos como Princípios de Psicologia, Variedades da Experiência
Religiosa, A Vontade de Crer, Pragmatismo e O Significado da Verdade. Em seus últimos anos, foi acometido por
problemas cardíacos. Essa condição piorou em 1909, quando ele trabalhava em um texto de filosofia (inacabado mas
publicado de forma póstuma como Alguns Problemas em Filosofia). Ele viajou para a Europa em 1910 para tentar
tratamentos experimentais, sem sucesso, retornando para os Estados Unidos a seguir. James faleceu em conseqüência
de problemas cardíacos em 26 de Agosto de 1910.
Em um estudo empírico por Haggbloom et al., usando critérios como o número de citações, James foi considerado o
14° mais célebre psicólogo do século XX.

Obras

Princípios de Psicologia
Em 1878, após 12 anos de escrita, William James publicou o livro Princípios de Psicologia, uma obra pioneira que
combinava elementos de filosofia, fisiologia e psicologia. O livro abordou temas diversos como o fluxo de
consciência (conceito introduzido por James), a vontade e as emoções. Embora inclua diferentes abordagens e
métodos, James (influenciado por contemporâneos como Wilhelm Wundt e Gustav Theodor Fechner) declarou que
Princípios de Psicologia é uma obra derivada do método da introspecção. Assim, o autor utiliza diferentes
experiências próprias para ilustrar conceitos psicológicos, como a atenção e a consciência.
Um dos capítulos mais influentes dessa obra diz respeito às emoções. Nele, James expõe sua teoria – também
associada a Carl Lange – que as emoções são conseqüências, e não causas, das reações fisiológicas associadas a ela:
“O senso comum diz, nós perdemos algo, ficamos tristes e choramos; nós encontramos um urso, nos assustamos e
corremos; somos insultados por um rival, ficamos bravos e atacamos. A hipótese a ser defendida aqui é que essa
sequência está incorreta... que nós nos sentimos tristes porque choramos, bravos porque atacamos, e com medo
porque trememos”. James defendia que é conceitualmente impossível imaginar uma emoção como a culpa sem suas
claras conseqüências fisiológicas, como as lágrimas, dores no peito e falta de ar.
William James 61

Variedades da Experiência Religiosa


Uma compilação de palestras de James sobre “Teologia Natural” resultou no livro Variedades da Experiência
Religiosa, publicado em 1902. Essa obra se ocupava de uma discussão sobre o lugar ocupado pelo sentimento
religioso, frente ao crescente materialismo científico de sua época. O interesse de James não estava em religiões
organizadas ou instituições, mas nos sentimentos e atos que cada um experienciava em sua relação com o que
considerava divino. James não acreditava que a religião fosse a fonte da moralidade e do sentido existencial, embora
pudesse exercer esse papel para alguns indivíduos. A obra aborda a singularidade das experiências místicas,
mencionando que seu significado era pessoal e dificilmente transferível através de linguagem.
Para James, a experiência religiosa poderia levar a um estado de satisfação e contentamento, além de promover uma
perspectiva mais alegre e otimista do mundo e do futuro. Por essa razão, considerou que o sentimento religioso pode
ser útil, sendo mais uma dimensão da experiência humana. Embora reconheça que a utilidade da religião não a torna
verdadeira, James começou a desenvolver nessa obra o sentido de verdade utilitária que seria exposto em mais
detalhes em Pragmatismo. A experiência religiosa ou mística seria verdadeira enquanto ferramenta útil para
determinados fins. Assim, o autor defende que a religião é um fenômeno real, no sentido que seu simbolismo evoca
sentimentos e ações concretas, que não deveriam ser ignorados pela ciência.

Pragmatismo
A perspectiva filosófica exposta em Pragmatismo, de 1907, postula que as teorias científicas e filosóficas devem ser
usadas como instrumentos a serem julgados por seus resultados ou fins. James argumenta que todas as teorias são
apenas aproximações da realidade, e que portanto seria um erro considerá-las apenas por sua própria coerência
interna. O autor argumenta que essa busca por coerência seria a posição racionalista, em que a busca de princípios e
categorias platônicas se sobrepõe aos fatos e aos resultados. Em contraponto, James sugere que a veracidade de uma
idéia deve ser considerada em um sentido instrumental, analisando os resultados produzidos por sua adoção.
Uma das conseqüências dessa visão utilitária da verdade é que fenômenos como a religião, que para James são idéias
úteis, deveriam ser considerados verdadeiros se mostrassem bons resultados: “em princípios pragmáticos, se a
hipótese de Deus funciona satisfatoriamente no sentido mais amplo da palavra, ela é verdadeira”. A filosofia do
pragmatismo é, para James, um meio-termo entre o racionalismo e o empiricismo, sendo uma perspectiva aberta à
investigação de qualquer hipótese, desde que essa seja capaz de se mostrar concretamente útil. A perspectiva
pragmatista de James teve grande influência para o movimento funcionalista da psicologia.

Emoção
Willian James propôs uma teoria das emoções ao mesmo tempo que o fisiologista dinamarquês Carl Lange. Ambos
trabalharam independentemente e, de acordo com esta teoria, conhecida por teoria emocional de James-Lange, os
sentimentos, isto é, as sensações subjetivas das emoções são um produto do reconhecimento do cérebro cortical das
demais reações fisiológicas e comportamentais desencadeadas no corpo por determinado evento ambiental (o
estímulo emocional).[1]
De modo resumido, esta idéia inverte a perspectiva do senso comum segundo a qual a reação a um estímulo
emocional (aumento do batimento do coração ou a expressão de um sorriso) ocorre após a pessoa tomar consciência
da emoção que está sentindo. Ao contrário, para James e Carl Lange, primeiro reagimos (reações fisiológicas e
comportamentais) ao estímulo emocional; o sentimento da emoção se dá porque tomamos consciência dessas
respostas emocionais. Assim, a consciência de uma emoção ocorre após essas reações emocionais terem ocorrido.
Em outras palavras, nós não sorrimos porque estamos alegres, mas estamos alegres porque sorrimos![2]
William James 62

Bibliografia
• The Subjective Effects of Nitrous Oxide [1882]
• The Principles of Psychology, 2 vols. (1890) Dover Publications 1950, vol. 1: ISBN 0-486-20381-6, vol. 2: ISBN
0-486-20382-4.
• Psychology (Briefer Course) (1892) University of Notre Dame Press 1985: ISBN 0-268-01557-0, Dover
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• The Will to Believe, and Other Essays in Popular Philosophy (1897).
• Human Immortality: Two Supposed Objections to the Doctrine (the Ingersoll Lecture, 1897).
• Talks to Teachers on Psychology: and to Students on Some of Life's Ideals (1899), Dover Publications 2001:
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• The Varieties of Religious Experience: A Study in Human Nature (1902), ISBN 0-14-039034-0.
• The Moral Equivalent of War (1906)
• Pragmatism: A New Name for Some Old Ways of Thinking (1907), Hackett Publishing 1981: ISBN
0-915145-05-7, Dover 1995: ISBN 0-486-28270-8.
• A Pluralistic Universe (1909), Hibbert Lectures, University of Nebraska Press 1996: ISBN 0-8032-7591-9.
• The Meaning of Truth: A Sequel to "Pragmatism" (1909) Prometheus Books, 1997: ISBN 1-57392-138-6.
• Some Problems of Philosophy: A Beginning of an Introduction to Philosophy (1911), University of Nebraska
Press 1996: ISBN 0-8032-7587-0
• Memories and Studies (1911) Reprint Services Corp: 1992: ISBN 0-7812-3481-6.
• Essays in Radical Empiricism (1912) Dover Publications 2003, ISBN 0-486-43094-4.
• Letters of William James, 2 vols. (1920).
• Collected Essays and Reviews (1920).
• Ralph Barton Perry, The Thought and Character of William James, 2 vols. (1935) Vanderbilt University Press
1996 reprint: ISBN 0-8265-1279-8 (contém cerca de 500 cartas não encontradas em edições anteriores de Letters
of William James).
• William James on Psychical Research (1960).
• The Correspondence of William James, 12 vols. (1992-2004) University of Virginia Press, ISBN 0-8139-2318-2.

Ligações externas
• William James [3] em Mathematics Genealogy Project
• Emory University: William James [4] – Coleção de ensaios e obras completas (em inglês)
• William James Society [5]
• William James Cybrary [6]
• Stanford Encyclopedia of Philosophy: William James [7]
• Túmulo de William James [8]
• Biografia de William James [9] (em português) Psicologado Artigos
William James 63

Referências
[1] What is an Emotion? (http:/ / psychclassics. yorku. ca/ James/ emotion. htm).
[2] Extraido de http:/ / www. alessandrofazolo. com/ blog/ lerblog/ blog/ 73/
[3] http:/ / www. genealogy. ams. org/ / id. php?id=29244& fChrono=1
[4] http:/ / www. des. emory. edu/ mfp/ james. html
[5] http:/ / wjsociety. org/
[6] http:/ / wjcybrary. net/
[7] http:/ / plato. stanford. edu/ entries/ james/
[8] http:/ / www. findagrave. com/ cgi-bin/ fg. cgi?page=gr& GRid=540
[9] http:/ / artigos. psicologado. com/ psicologia-geral/ historia-da-psicologia/ william-james

Textos completos de trabalhos de William James


• Obras de William James (http://www.gutenberg.org/author/William+James+(1842-1910)) no Projeto
Gutenberg
• Obras de William James (http://ebooks.adelaide.edu.au/j/james/william/) na Biblioteca da Universidade de
Adelaide (http://ebooks.adelaide.edu.au/)
• Princípios de Psicologia (http://psychclassics.yorku.ca/James/Principles/) - (em inglês)
• Ensaios sobre Empiricismo Radical (http://www.brocku.ca/MeadProject/James/James_1912/
James_1912_toc.html) - (em inglês)
• A Vontade de Crer (http://www.philosophyarchive.com/text.php?era=1800-1899&author=William James&
text=The Will to Believe) - (em inglês)
• O Dilema do Determinismo (http://csunx4.bsc.edu/bmyers/WJ1.htm) - (em inglês)
• Variedades da Experiência Religiosa (http://xroads.virginia.edu/~HYPER/WJAMES/toc.html) - (em inglês)
• O Equivalente Moral da Guerra (http://www.constitution.org/wj/meow.htm) - (em inglês)
• Palestras a Professores (http://des.emory.edu/mfp/ttpreface.html) - (em inglês)
• Os Efeitos Subjetivos do Óxido Nítrico (http://www.erowid.org/chemicals/nitrous/nitrous_article1.shtml) -
(em inglês)
Gestalt 64

Gestalt
A Psicologia da forma, Psicologia da
Gestalt, Gestaltismo ou simplesmente
Gestalt é uma teoria da psicologia
iniciada no final do século XIX na
Áustria e Alemanha que possibilitou o
estudo da percepção (Britannica,
1992:226).

Segundo a Gestalt, o cérebro é um


sistema dinâmico no qual se produz
Cubo de Necker e o Vaso de Rubin, dois exemplos utilizados na Gestalt
uma interacção entre os elementos, em
determinado momento, através de
princípios de organização perceptual como: proximidade, continuidade, semelhança, segregação, preenchimento,
unidade, simplicidade e figura/fundo. Sendo assim o cérebro tem princípios operacionais próprios, com tendências
auto-organizacionais dos estímulos recebidos pelos sentidos.
Surge como uma reação às teorias contemporâneas estabelecidas que se fundamentavam apenas na experiência
individual e sensorial (Wundt). Parte do princípio de que o objeto sensível não é apenas um pacote de sensações para
o ser humano, pois a percepção está além dos elementos fornecidos pelos orgãos sensoriais. Fundamentam-se nas
afirmações de Kant de que os elementos por nós percebidos são organizados de forma a fazerem sentido e não
apenas através de associações com o que conhecemos anteriormente.
Max Wertheimer (1880-1943) publica o primeiro trabalho considerado iniciador dos estudos da Gestalt em 1912,
num estudo sobre a percepção visual, com seus colegas Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940).
Os três são considerados iniciadores do movimento da Gestalt (Britannica 1992:227). Estes consideram os
fenômenos psicológicos como um conjunto autônomo, indivisível e articulado na sua configuração, organização e lei
interna, que independem da percepção individual e que formulam leis próprias da percepção humana.
O filósofo norte-americano William James, foi um dos que influenciaram esta escola, ao considerar que as pessoas
não vêem os objetos como pacotes formados por sensações, mas como uma unidade. A percepção do todo é maior
que a soma das partes percebidas. Uma outra influência fundamental foi a fenomenologia de Edmund Husserl. A
fenomenologia afirma que toda consciência é consciência de alguma coisa. Assim sendo, a consciência não é uma
substância, mas uma atividade constituída por atos (percepção, imaginação, especulação, volição, paixão, etc), com
os quais visa algo.

Origens
Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), depois de 1910, na
Universidade de Frankfurt, criticaram fortemente as idéias de Wilhelm Wundt (1832-1920), considerado o fundador
da psicologia moderna e responsável pelo primeiro laboratório de psicologia experimental.
Wertheimer pôde provar experimentalmente que diferentes formas de organização perceptiva são percebidas de
forma organizada e com significado distinto por cada pessoa. Como pode ser visto nas figuras do Cubo de Necker e
do Vaso de Rubin, acima. O todo é maior do que a soma das partes que o constituem. Por exemplo: uma cadeira é
mais do que quatro pernas, um assento e um encosto. Uma cadeira é tudo isso, mas é mais que isso: está presente na
nossa mente como um símbolo de algo distinto de seus elementos particulares.
Em uma série de testes Wertheimer demonstrou que pode ser realizada uma ilusão visual de movimento de um
determinado objeto estacionário se este for mostrado em uma sucessão rápida de imagens. Assim se consegue uma
impressão de continuidade e chamou este movimento percebido em sequência mais rápida de "fenômeno phi" (o
Gestalt 65

cinema é baseado nessa ilusão de movimento, a imagem percebida em movimento na realidade são conjuntos de 24
imagens fixas projetadas na tela durante 1 segundo).

Escola "dualista" de Graz


A tentativa de visualização do movimento marca o início de outra escola da psicologia da Gestalt: a Escola de Graz
ou “corrente dualista”, (Áustria). Esta identificou dois processos distintos na percepção sensorial: um, a sensação, a
percepção física pura dos elementos de uma configuração (o formato de uma imagem ou as notas de uma música),
próprio ao objeto percebido; e o outro, a representação, que seria um processo “extra-sensorial” através do qual os
elementos, agrupados, excitam a percepção e adquirem sentido (a forma visual ou a melodia da música), que já é
particular do trabalho mental do homem.
A outra concepção, divergente do “dualismo”, era a chamada “corrente monista” (de mono, único), defendida pelos
alemães. Pelo ponto de vista monista, tanto sensação como representação se dariam simultaneamente, e não em
separado. A forma, ou seja, a compreensão que os dualistas chamaram de “extra-sensorial”, não pode ser dissociada
da sensação do objeto material. Por ocorrerem ao mesmo tempo, percepção sensorial e representativa vão se
completando até finalizarem o processo de percepção visual. Só quando uma é concluída que a outra pode ser
concluída também.

Laboratório de 1913
Em 1913, a Academia Prussiana de Ciências instalou, na ilha de Tenerife, nas Canárias, uma estação para estudo do
comportamento do macaco. Wolfgang Köhler foi nomeado, então, diretor da estação - ainda muito jovem e com
quase nenhuma experiência em biologia e psicologia de animais. Suas pesquisas pioneiras com antropóides
enfatizaram que não só a percepção humana, mas também nossas formas de pensar e agir funcionam, com
freqüência, de acordo com os pressupostos da Gestalt da reorganização perceptiva.
Observou-se que ato cognitivo corresponde a uma reestruturação do conhecimento anterior (informações disponíveis
na memória) tal como posteriormente estudada pelos construtivistas a exemplo de Piaget. Medidas da estimulação
elétrica cortical em gatos e os seus clássicos experimentos com chimpanzés (empilhando caixotes para alcançar
alimentos) comprovaram que estes têm condições de resolver problemas relativamente mais complexos do que os
experimentos de contornar um obstáculo e abrir fechaduras para fuga, aproximando-se da inteligência humana.

Fundamentos teóricos
Segundo a Gestalt, existem quatro princípios a ter em conta para a percepção de objectos e formas: a tendência à
estruturação, a segregação figura-fundo, a pregnância ou boa forma e a constância perceptiva.
Outros conceitos dessa teoria são supersoma e transponibilidade.[1] Supersoma refere-se a idéia de que não se pode
ter conhecimento de um todo por meio de suas partes, pois o todo é maior que a soma de suas partes: "(…) "A+B"
não é simplesmente "(A+B)", mas sim um terceiro elemento "C", que possui características próprias".[carece de fontes?]
Já segundo o conceito da transponibilidade, independentemente dos elementos que compõem determinado objeto, a
forma se sobressai. "(…) uma cadeira é uma cadeira, seja ela feita de plástico, metal, madeira ou qualquer outra
matéria-prima."[carece de fontes?]
Gestalt 66

Sete fundamentos básicos


Os sete fundamentos básicos da Gestalt - muito usado hoje em dia em profissões como design, arquitetura, etc - são:
• Continuidade
• Segregação
• Semelhança
• Unidade
• Proximidade
• Pregnância
• Fechamento

Aplicações

Aplicações na arte
A tendência à estruturação por exemplo explica a tendência dos diferentes povos a distinguir grupos de estrelas e
reconhecer constelações no céu; a boa forma ou configuração ideal mais conhecida é a Proporção áurea dos
arquitetos e geômetras gregos que explica muitas das formas que são agradáveis aos olhos humanos. As empresas de
publicidade e criadores de signos visuais (marcas) parece que são os maiores usuários da descoberta dos símbolos
que possuem alto poder de atração (pregnância). Vários artistas se utilizaram das ilusões de óptica muitas delas
explicadas pela lei da segregação da figura e fundo a exemplo de Escher e Salvador Dalí ou os discos ópticos de
Marcel Duchamp. A ilusão de perspectiva e proposição cubista de criação de uma cena com (sob) múltiplos pontos
de vista também são explicados pela teoria da gestalt. Através dos estudos realizados e das teorias elaboradas na
escola Gestalt, no início do século XX, referentes a teoria da psicologia das imagens, foi possível criar condições
favoráveis para a racionalização na construção de projetos gráficos.Reforça-se a idéia que o todo, é mais que a soma
das suas partes, existindo envolvimento psicológico.Compreender a construção de imagens é imprescindível para a
elaboração e desenvolvimento de mensagens visuais, viabilizando a ampliação do acervo de soluções gráficas
autoras de sentidos qualificados.

Gestalt-terapia
A partir da teoria da Gestalt e da psicanálise, o médico alemão Fritz Perls (1893-1970) desenvolveu uma forma de
psicoterapia de orientação gestáltica. A gestaltoterapia ou terapia Gestalt orienta-se segundo o conceito que o
desenvolvimento psicológico e biológico de um organismo se processa de acordo com as tendências inatas desse
organismo, que tentam adaptá-lo harmoniosamente ao ambiente. A prática psicoterapêutica é, normalmente,
realizada em grupo e ao longo das suas sessões destaca-se a realização de um conjunto de exercício sensório-motores
(que trabalham as áreas sensoriais e motoras do nosso corpo) e meditativos (de relaxamento). Estes exercícios
pretendem, principalmente, que os indivíduos descubram novas forças existentes em si, para poderem ultrapassar as
suas dificuldades.
Gestalt 67

Referências
• Verbete Enciclopédia [2]

Leituras
• ARHHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual. Uma Psicologia Da Visão Criadora. Editora: Thomson Pioneira.
• ENGELMANN (Org.) Psicologia (coleção grandes cientistas sociais). SP, Ática, 1978.
• KOFFKA, W. Princípios da Psicologia da Gestalt. Cultrix, SP.
• KOHLER, W. Psicologia da Gestalt. Itatiaia. Belo Horizonte, 1980.
• MARX, M & HILLIX, W. Sistemas e Teorias em Psicologia. SP, Cultrix.
• PIAGET, Jean. Psicologia da inteligência. SP, Forense.
[1] O psicólogo austríaco Cristian von Ehrenfels apresentou esses critérios pela primeira vez em 1890, na Universidade de Graz
[2] http:/ / www. itaucultural. org. br/ aplicexternas/ enciclopedia_ic/ index. cfm?fuseaction=termos_texto& cd_verbete=9443

Ligações externas
• Sociedade Internacional para a Teoria da Gestalt e suas Aplicações (GTA) (em inglês) (http://www.
gestalttheory.net/)
• Fragmento do texto sobre "A inteligência dos antropóides" de Wolfgang Köhler (http://www6.ufrgs.br/
psicoeduc/gestalt/a-inteligencia-dos-antropoides)
• Fragmento do texto sobre "A psicologia da Gestalt nos dias atuais" de Wolfgang Köhler (http://www6.ufrgs.br/
psicoeduc/gestalt/a-psicologia-da-gestalt-nos-dias-atuais)
• As Leis da Gestalt - Psicologado Artigos de Psicologia (http://artigos.psicologado.com/abordagens/
humanismo/gestalt-leis-da-gestalt)
• Gestalt aplicada ao design (http://design.blog.br/design-grafico/o-que-e-gestalt/)
Karl Jaspers 68

Karl Jaspers
Karl Theodor Jaspers (Oldenburg, 23 de fevereiro de 1883 - Basiléia, 26 de fevereiro de 1969) foi um filósofo e
psiquiatra alemão.
Estudou medicina e, depois de trabalhar no hospital psiquiátrico da Universidade de Heidelberg, tornou-se professor
de psicologia da Faculdade de Letras dessa instituição. Desligado de seu cargo pelo regime nazista em 1937, foi
readmitido em 1945 e, três anos depois, passou a lecionar filosofia na Universidade de Basel.
O pensamento de Jaspers foi influenciado pelo seu conhecimento em psicopatologia e, em parte, pelas doutrinas de
Kierkegaard e Nietzsche. Sempre teve interesse em integrar a ciência ao pensamento filosófico na medida em que,
para Jaspers, as ciências são por si só insuficientes e necessitam do exame crítico que só pode ser dado pela filosofia.
Esta, por sua vez, deve basear-se numa elucidação, a mais completa possível, da existência do homem real, e não da
humanidade abstrata. O resultado das reflexões de Jaspers sobre o tema foi a primeira formulação de sua filosofia
existêncial. Autor do livro de dois volumes: "Psicopatologia Geral" [1], grande marco em sua carreira e na evolução
da psicopatologia.
O existencialismo (ou filosofia da existência) constitui, segundo Jaspers, o âmbito no qual se dá todo o saber e todo o
descobrimento possível. Por isso a filosofia da existência vem a constituir-se numa metafísica. A existência, em
qualquer de seus aspectos, é precisamente o contrário de um "objeto", pois pode ser definida como "o que é para si
encaminhada". O problema central é como pensar a existência sem torná-la objeto.
A existência humana é entendida como intimamente vinculada à historicidade e à noção de situação: o existir é um
transcender na liberdade, que abre o caminho em meio a um conjunto de situações históricas concretas.
Jaspers preocupou-se em estabelecer as relações entre existência e razão, o que levou-o a investigar em profundidade
o conceito de verdade. Para ele, a verdade não é entendida como característica de nenhum enunciado particular: é
antes uma espécie de ambiente que envolve todo o conhecimento.
Dentre suas obras, pode-se destacar:
• 1931 Situação espiritual da nossa época;
• 1932 Filosofia;
• 1953 Introdução à filosofia.

Referências
[1] http:/ / de. wikiversity. org/ wiki/ Benutzer:H. -P. Haack/ Entwicklung_der_Psychiatrie/ Jaspers_1913.
Ludwig Binswanger 69

Ludwig Binswanger
Ludwig Binswanger (Kreuzlingen, 13 de Abril de 1881 — Kreuzlingen, 5 de fevereiro de 1966) foi um psicólogo
suíço pioneiro na área da psicologia existencial. É um dos criadores da Daseinsanalyse.

Biografia
Nasceu em uma família de médicos famosos. Seu avô homônimo, Ludwig Binswanger der Ältere (1820 - 1880), foi
o fundador do "Bellevue Sanatorium" em Kreuzlingen. Seu tio Otto Ludwig Binswanger (1852 - 1929) foi um
famoso neurologista e psiquiatra suíço, professor de psiquiatria na Universidade de Jena.
Em 1907 Binswanger formou-se em medicina pela Universidade de Zurich e ainda jovem trabalhou e estudou com
alguns dos psicólogos mais destacados de sua época, como Carl Jung, Eugen Bleuler e Sigmund Freud. Apesar de
suas discordâncias em relação às teorias psiquiátricas de Freud, Binswanger manteve sua amizade com ele até sua
morte em 1939.
De 1911 a 1956, Binswanger foi o diretor da área médica do Sanatório de Kreuzlingen.
Seu trabalho recebeu uma grande influência da filosofia existencial, especialmente das obras dos filósofos Martin
Heidegger e Edmund Husserl. A partir de seus estudos sobre fenomenologia, Binswanger distanciou-se da
psicanálise e deu início na década de 1930 a uma nova metodologia terapeutica. Em 22 de setembro de 1950
apresentou esta proposta com o nome de Daseinsanalyse no Primeiro Congresso Internacional de Psiquiatria
realizado em Paris
Binswanger é considerado o primeiro médico a combinar psicoterapia com existencialismo, teoria que expôs em
1942 no livro Grundformen und Erkenntnis menschlichen Daseins.

Obras
• 1922: Einführung in die Probleme der allgemeinen Psychologie. Berlin
• 1928: Wandlungen in der Auffassung und Deutung des Traumes. Berlin
• 1930: Traum und Existenz
• 1933: Über Ideenflucht. Zürich
• 1942: Grundformen und Erkenntnis menschlichen Daseins. Zürich
• 1946: Über Sprache und Denken. Basel
• 1949: Henrik Ibsen und das Problem der Selbstrealisation in der Kunst. Heidelberg
• 1956: Erinnerungen an Sigmund Freud. Bern
• 1956: Drei Formen missglückten Daseins. Verstiegenheit, Verschrobenheit, Manieriertheit. Tübingen
• 1957: Schizophrenie. Pfullingen
• 1957: Der Mensch in der Psychiatrie. Pfullingen
• 1960: Melancholie und Manie. Phänomenologische Studien. Pfullingen
• 1965: Wahn. Pfullingen
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Ligações externas
• Como a Daseinsanalyse entrou na psiquiatria [1]
• Associação Brasileira de Daseinsanalyse [2]
• (em inglês) Correspondência entre Binswanger e Freud. [3]
• (em inglês) "Existential Psychology", pelo Dr. C. George Boeree [4]

Referências
[1] http:/ / www. daseinsanalyse. org/ dasein_historia_1. htm
[2] http:/ / www. daseinsanalyse. org/ main. htm
[3] http:/ / www. patersonmarsh. co. uk/ rights. asp?title=TP003333
[4] http:/ / www. ship. edu/ ~cgboeree/ binswanger. html

Gabriel Marcel
Gabriel Marcel (7 de dezembro de 1889, Paris – 8 de outubro de 1973, Paris) foi um autor e crítico teatral além de
filósofo e existencialista cristão. Ele próprio designa seu pensamento como neo-socrático ou socrático-cristão.
Aceitou certa feita ser chamado de existencialista cristão.

Carreira
Formou-se em Filosofia aos vinte anos. Abandonou os estudos e dedicou-se ao jornalismo e a produção e crítica
teatral. Sua melhor peça de 1932 foi “O Mundo Partido”.
Seu pai, conselheiro de Estado e ministro da França em Estocolmo foi diretor de Belas Artes na Biblioteca Nacional,
era católico e possuía um conceito severo de vida. A mãe de ascendência israelita faleceu quando Marcel estava com
quatro anos. Foi criado com uma tia materna que se casou com seu pai. Esta madrasta educou-o na severa disciplina
do protestantismo como meio de garantir uma convivência feliz entre as pessoas.
Marcel participou da Cruz Vermelha na Primeira Guerra Mundial quando conviveu com a triste realidade da
desolação e isto o levou a valorizar a existência concreta: pensar, julgar, formular, parecem-lhe traição à realidade, o
que realmente conta para ele é este indivíduo real que "eu sou", com toda singularidade, que vive sua experiência,
"ele só" e nenhum outro.
Em 1929 converteu-se ao catolicismo e o testemunhou no baptismo, com as seguintes palavras: “... nenhuma
exaltação, mas um sentimento de paz, de equilíbrio, de esperança, de fé.”. Morreu em 1973.

Obras
Seu trabalho foi produzido em fragmentos, notas de diário, ensaios. Toma clara posição, em seu "Diário Metafísico",
contra o racionalismo rejeitando ao mesmo tempo o cientificismo que tenta explicar o homem como coisa e a
teocracia que utiliza o homem como objeto.
Teatrais
• "Um Homem de Deus" (1922)
• "Mundo Partido" (1932)
• "Roma não está mais em Roma" (1951)
Sua obra dramática assume o porte de obra filosófica, pois, segundo ele, “é no drama que o pensamento filosófico se
apreende in concreto.”
Em 1927, funda em Paris o "Jornal Metafísico" onde expõe suas idéias e posições. Neste jornal Marcel descreve sua
trajetória filosófica de 1913 a 1923.
Gabriel Marcel 71

Filosóficas
• “Ser e Ter” (1935) – aborda a diferença entre pesquisa científica e pesquisa filosófica (problema e mistério).
• “Da recusa à invocação” (1939) – encontram-se aqui os trações fundamentais de sua “metafísica da interioridade”.
• “Homo Viator” (1944 ) – homem itinerante reflecte o sentido da vida.
• “Os homens contra o humano” (1951)
• “O mistério do ser” – o mais denso e sistemático de seus livros.
• "O Declínio da Sabedoria" (1954).
• “O homem problemático” (1955).
• "A Dignidade Humana" (1964).
• "Ensaios de Filosofia Concreta" (1967).
• "Fé e Realidade" (1967).
• "Para uma Sabedoria Trágica" (1969).

O Pensamento de Gabriel Marcel


Partindo de sua própria existência, acentua ter vivido problemas filosóficos que o oprimiram e afirma: “a filosofia
concreta nasce somente de uma tensão criadora, continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais
estrita e rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua intensidade”. Gabriel procura dar à
existência aquela prioridade metafísica que lhe havia tirado o idealismo.
Gabriel Marcel se aproxima de Kierkegaard e Jaspers mesmo sem ter lido algo deles anteriormente, segundo
confessa. Seu existencialismo é anterior ao alemão. Sua ontologia é existencial e quer, de certo modo enlaçar-se com
a tradicional. Marcel está dentro da tradição francesa não cartesiana de Pascal a Bergson e Raja.
O método de Gabriel aproxima-se de Husserl, tomando situações concretas como as relações entre "mim e outro", a
representação de uma cena passada ou de uma cena à distancia, a esperança, e faz das mesmas uma análise
fenomenológica aprofundada.

Motivos fundamentais do pensamento filosófico


• a defesa da singularidade irrepetível do existente e do mistério do ser, contra o racionalismo que pretende reduzir
a existência à experiência conhecida pelo método da verificação empírica;
• reconhecimento da inobjetividade fundamental do sentido corpóreo. O homem é um ser encarnado. Analisa a
proposição “eu existo” e segundo ele, a reflexão metafísica revela que esta proposição significa “eu sou o meu
corpo”. Corpo que não é só a matéria visível, mas também a intimidade – concretização do eu, isto é, a
individualização do existir.
A pesquisa do homem encarnado de Marcel orienta-se para a descoberta de um sentido para a vida, o qual é sempre o
sentido da minha vida. Recusar-se a esclarecer o sentido da vida é renunciar a própria identidade profunda, é
dissolver-se no Ter.

O Ter e o Ser
Esta distinção é fundamental na ontologia de Marcel. Ter diz respeito a coisas que me são externas e que de mim não
dependem, embora eu seja proprietário e delas me disponho. Ser é fonte de alheamento: os objetos que possuímos
possuem significados que ameaçam tragar-nos. Os que estão apegados ao Ter estão prestes a sofrer de deficiência
ontológica com a perda do Ser. Para quem vive na dimensão do Ter todas as coisas são problemas. Exemplo: Dom
Juan vive na zona do Ter: vê a mulher do ponto de vista da posse e por sequência, um mero problema, por isso passa
de uma para outra, sem poder saciar-se com nenhuma.
O corpo e o Ter-típico: é a exterioridade em comunicação com o “eu” interior. Entre a realidade e mim, o corpo é
mediador absoluto. O corpo é a primeira coisa possuída.
Gabriel Marcel 72

O Ser tem a primazia na pesquisa metafísica em relação ao pensamento e ao Ter. Não há e não pode haver passagem
do pensamento ao ser; esta passagem é impensável; o pensamento já está no ser e não pode sair dele, não pode fazer
abstracção dele. É necessário dizer que o pensamento é interno ao ser, que ele é certa modalidade do ser. O
pensamento está para o ser assim como os olhos para a luz.
O Ser tem primazia sobre o Ter. O Ter é aquilo que é objetivável, é a exteriorização do Ser, ele é o coisificar-se do
Ser, o seu vir para fora. O Ter, acentuando a si mesmo anula o Ser; mas tornando-se instrumento, subirá ao plano do
Ser. Somente assim é que poderemos abordar o Ser sem transformá-lo em Ter, em objeto, em espectáculo, em suma,
a relação Ser-Ter é uma relação de essencial tensão dialéctica na qual o Ser está sempre ligado ao Ter e deve
purificá-lo, não deixando-se absorver por ele, mas orientando-o para si.

O Ser e a Fidelidade
O Ser é o lugar da fidelidade e se faz presente na fidelidade. Marcel entrevê que a fidelidade não é fidelidade a si
mesmo mas do Ser sobre os outros. Nietzsche diz que o homem é o único animal que faz promessas e que a
fidelidade é a mais jovem das virtudes.
O ser humano tem a faculdade de obrigar-se a si mesmo. Se prometo algo sob certa situação de desejo e noutro
momento mudo o meu desejo, me forço a cumprir a promessa apesar de. Prometi ante mim mesmo. A fidelidade
implica uma participação do Ser no que excede minha vida e suas situações.

O Ser é disponibilidade
Estar indisponível é estar ocupado de si mesmo, é estar fechado para os outros é só estar ocupado consigo mesmo,
com sua saúde, fortuna, êxito, etc. O indisponível está sempre inquieto e isto o põe em insegurança, medo e cuidado.
Na raiz da inquietude Marcel vê uma desesperança. Está fechado por trás dos muros de si mesmo e não pode esperar
de mais ninguém.
Desta maneira de ser, indisponível, se compreende as raízes metafísicas do pessimismo. O Ser verdadeiro é
participação, é disponibilidade, júbilo, esperança, amor e fidelidade que são antídotos para o pessimismo e a
indisponibilidade. Todas elas implicam exceder-se rumo a um mais participado: Deus.

O problema e o mistério
O problema é algo que encontro diante de mim, que posso objetivamente delimitar e reduzir. Mistério é algo em que
meu próprio Ser está implicado e comprometido. Diante do problema sou espectador, no mistério eu mesmo sou
ator. Problema é, simplesmente um dado externo que me é proposto enquanto mistério não está inteiramente ante
mim.
Todo sobrenatural é mistério mas nem todo mistério é sobrenatural. Marcel afirma que só os mistérios interessam à
filosofia e estão fora do alcance do conhecimento objetivo.

A fé
“Toda fé autêntica está enraizada no ser e no mistério”. O indivíduo só se realiza quando reafirma a transcendência de
Deus e sua própria condição de criatura de Deus. A fé se converte então no ato ontológico mais significativo.
Não existe o problema de Deus, isso implica tratar Deus como objeto, como ausente. Não falamos de Deus, mas com
Ele. Deus é presença absoluta. Deus só me pode ser dado como presença absoluta na adoração.
Para Marcel crer é sentir-se como no interior de Deus. Contudo a relação ao Eu Creio com a divindade, não pode ser
pensada, pois trataria o crente como sujeito e a divindade como objeto. Esta relação estaria contida em um ato de fé.
Ato que supõe mais do que a subjectividade. O pensar em Deus é encarado como uma relação absolutamente
incluída no ato de fé.
Gabriel Marcel 73

Deus é o tu absoluto. O outro absoluto. E na fé, agora chamada invocação, eu construo a realidade do meu espírito, a
minha realidade do sentir-me sendo no interior da divindade. Diz Marcel: “Eu sou mais quanto mais Deus é para
mim. A crença em Deus é um modo de ser e não opinião sobre a existência de uma pessoa”. Esta transformação,
plenitude que sobrevem à invocação, esta participação no amor é o ser – a forma mais alta da realidade. Este ser fala
a linguagem da intimidade, de ser possuído, da plenitude, da saborosa ligação, vínculo, afeto e comunhão.
O Deus de Marcel não é objeto susceptível de demonstração objetiva (racionalismo) nem uma mera função
(subjectivismo), mas o “Indemonstrável Absoluto”. O drama da existência humana é um encontro pessoal entre Deus
e o eu e alterna entre o sim e o não, entre a fidelidade e a infidelidade, entre o amor e o ódio e ao homem é dado o
poder único de decidir, afirmar ou negar. O dilema sempre persiste como a essência de sua liberdade.

Francis Bacon (filósofo)


Francis Bacon

Nascimento 22 de Janeiro de 1561


Londres

Morte 9 de abril de 1626 (65 anos)


Londres

Ocupação Ensaísta, Filósofo e Estadista.

Escola/tradição Empirismo

Influenciados

Francis Bacon, também referido como Bacon de Verulâmio (Londres, 22 de Janeiro de 1561 — Londres, 9 de
Abril de 1626) foi um político, filósofo e ensaísta inglês, barão de Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio),
visconde de Saint Alban. É considerado como o fundador da ciência moderna.
Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas. Em 1584 foi eleito para
a câmara dos comuns.
Sucessivamente, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções de procurador-geral (1607), fiscal-geral
(1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618). Neste mesmo ano, foi nomeado barão de Verulam e em
1621, barão de Saint Alban. Também em 1621, Bacon foi acusado de corrupção. Condenado ao pagamento de
pesada multa, foi também proibido de exercer cargos públicos.
Francis Bacon (filósofo) 74

Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas
investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do empirismo, sendo muitas vezes chamado de
"fundador da ciência moderna". Sua principal obra filosófica é o Novum Organum.
Francis Bacon foi um dos mais conhecidos e influentes rosacruzes e também um alquimista, tendo ocupado o posto
mais elevado da Ordem Rosacruz, o de Imperator. Estudiosos apontam como sendo o real autor dos famosos
manifestos rosacruzes, Fama Fraternitatis (1614), Confessio Fraternitatis (1615) e Núpcias Alquímicas de Christian
Rozenkreuz (1616).

Filosofia
O pensamento filosófico de Bacon representa a tentativa de realizar
aquilo que ele mesmo chamou de Instauratio magna (Grande
restauração). A realização desse plano compreendia uma série de
tratados que, partindo do estado em que se encontrava a ciência da
época, acabaria por apresentar um novo método que deveria superar e
substituir o de Aristóteles. Esses tratados deveriam apresentar um
modo específico de investigação dos fatos, passando, a seguir, para a
investigação das leis e retornavam para o mundo dos fatos para nele
promover as ações que se revelassem possíveis. Bacon desejava uma
reforma completa do conhecimento. A tarefa era, obviamente,
gigantesca e o filósofo produziu apenas certo número de tratados. Não
obstante, a primeira parte da Instauratio foi concluída.

A reforma do conhecimento é justificada em uma crítica à filosofia


anterior (especialmente a Escolástica), considerada estéril por não
apresentar nenhum resultado prático para a vida do homem. O
conhecimento científico, para Bacon, tem por finalidade servir o
homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem Frontispício da Instauratio magna, Londres, 1620
aristotélica, também é criticada. Demócrito, contudo, era tido em alta
conta por Bacon, que o considerava mais importante que Platão e
Aristóteles.

A ciência deve restabelecer o imperium hominis (império do homem) sobre as coisas. A filosofia verdadeira não é
apenas a ciência das coisas divinas e humanas. É também algo prático. Saber é poder. A mentalidade científica
somente será alcançada através do expurgo de uma série de preconceitos por Bacon chamados ídolos. O
conhecimento, o saber, é apenas um meio vigoroso e seguro de conquistar poder sobre a natureza.

Classificação das ciências


Preliminarmente, Bacon propõe a classificação das ciências em três grupos:
• Poesia ou ciência da imaginação;
• História ou ciência da memória;
• Filosofia ou ciência da razão.
A história é subdividida em natural e civil e a filosofia é subdividida em filosofia da natureza e em antropologia.
Francis Bacon (filósofo) 75

Ídolos
No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que
se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos
aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon. Esses ídolos foram classificados em
quatro grupos:
1) Idola Tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela
facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. O homem é o padrão
das coisas, faz com que todas as percepções dos sentidos e da mente sejam tomadas como verdade, sendo que
pertencem apenas ao homem e não ao universo. Dizia que a mente se desfigura da realidade. São assim chamados
porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana.
2) Idola Specus (ídolos da caverna). Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Há, obviamente, uma
alusão à alegoria da caverna platônica;
3) Idola Fori (ídolos da vida pública). Estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos;
4) Idola Theatri (ídolos da autoridade). Decorrem da irrestrita subordinação à autoridade (por exemplo, a de
Aristóteles). Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro.

O método
O objetivo do método baconiano é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais. Para Bacon, a
descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico mas sim da observação e da
experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da
variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a causa real dos fenômenos.
Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los
com três tábuas que disciplinarão o método indutivo: a tábua da presença (responsável pelo registro de presenças
das formas que se investigam), a tábua de ausência (responsável pelo controle de situações nas quais as formas
pesquisadas se revelam ausentes) e a tábua da comparação (responsável pelo registro das variações que as referidas
formas manifestam). Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com o efeito ou com o
fenômeno analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um
fenômeno. Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo mas fazem uma distinção entre a experiência
vaga (noções recolhidas ao acaso) e a experiência escriturada (observação metódica e passível de verificações
empíricas). Mesmo que a indução fosse conhecida dos antigos, é com Bacon que ela ganha amplitude e eficácia.
O método, no entanto, possui pelo menos duas falhas importantes. Em primeiro lugar, Bacon não dá muito valor à
hipótese. De acordo com seu método, a simples disposição ordenada dos dados nas três tábuas acabaria por levar à
hipótese correta. Isso, contudo, raramente ocorre. Em segundo lugar, Bacon não imaginou a importância da dedução
matemática para o avanço das ciências. A origem para isso, talvez, foi o fato de ter estudado em Cambridge, reduto
platônico que costumava ligar a matemática ao uso que dela fizera Platão.

Obras
A produção intelectual de Bacon foi vasta e variada. De modo geral, pode ser dividida em três partes: jurídica,
literária e filosófica.

Obras jurídicas
Figuram entre seus principais trabalhos jurídicos os seguintes títulos: The Elements of the common lawes of England
(Elementos das leis comuns da Inglaterra), Cases of treason (Casos de traição), The Learned reading of Sir Francis
Bacon upon the statute os uses (Douta leitura do código de costumes por Sir Francis Bacon).
Francis Bacon (filósofo) 76

Obras literárias
Sua obra literária fundamental são os Essays (Ensaios), publicados em 1597, 1612 e 1625 e cujo tema é familiar e
prático. Alguns de seus ditos tornaram-se proverbiais e os Essays tornaram-se tão famosos quanto os de Montaigne.
Outros opúsculos, no âmbito literário: Colours of good and evil (Estandartes do bem e do mal), De sapientia veterum
(Da sabedoria dos antigos). No âmbito histórico destaca-se History of Henry VII (História de Henrique VII) .

Obras filosóficas
As obras filosóficas mais importantes de Bacon são Instauratio magna (Grande restauração) e Novum organum.
Nesta última, Bacon apresenta e descreve seu método para as ciências. Este novo método deverá substituir o
Organon aristotélico.
Seus escritos no âmbito filosófico podem ser agrupados do seguinte modo:
1) Escritos que faziam parte da Instauratio magna e que foram ou superados ou postos de lado, como: De
interpretatione naturae (Da interpretação da natureza), Inquisitio de motu (Pesquisas sobre o movimento), Historia
naturalis (História natural), onde tenta aplicar seu método pela primeira vez;
2) Escritos relacionados com a Instauratio magna, mas não incluídos em seu plano original. O escrito mais
importante é New Atlantis (Nova Atlântida), onde Bacon apresenta uma concepção do Estado ideal regulado por
idéias de caráter científico. Além deste, destacam-se Cogitationes de natura rerum (Reflexões sobre a natureza das
coisas) e De fluxu et refluxu (Das marés);
3) Instauratio magna, onde Bacon procura desenvolver o seu pensamento filosófico-científico e que consta de seis
partes: (a) Partitiones scientiarum (Classificação das ciências), sistematização do conjunto do saber humano, de
acordo com as faculdades que o produzem; (b) Novum organum sive Indicia de interpretatione naturae (Novo
método ou Manifestações sobre a interpretação da natureza), exposição do método indutivo, trabalho esse que
reformula e repete o Novum organum; (c) Phaenomena universi sive Historia naturalis et experimentalis ad
condendam philosophiam (Fenômenos do universo ou História natural e experimental para a fundamentação da
filosofia), versa sobre a coleta de dados empíricos; (d) Scala intellectus, sive Filum labyrinthi (Escala do
entendimento ou O Fio do labirinto), contém exemplos de investigação conduzida de acordo com o novo método; (e)
Prodromi sive Antecipationes philosophiae secundae (Introdução ou Antecipações à filosofia segunda), onde faz
considerações à margem do novo método, visando mostrar o avanço por ele permitido; (f) Philosophia secunda, sive
Scientia activa (Filosofia segunda ou Ciência ativa), seria o resultado final, oragnizado em um sistema de axiomas.

Morte e legado de Bacon


Francis Bacon esteve envolvido com investigações naturais até o fim de sua vida, tentando realizar na prática seu
método. No inverno de 1626 estava envolvido com experiências sobre o frio e a conservação. Desejava saber por
quanto tempo o frio poderia preservar a carne. A idade havia debilitado a saúde do filósofo e ele acabou não
resistindo ao rigoroso inverno daquele ano. Morreu em 9 de abril, vítima de uma bronquite.
Efetivamente, Bacon não realizou nenhum grande progresso nas ciências naturais. Mas foi ele quem primeiro
esboçou uma metodologia racional para a atividade científica. Sua teoria dos idola antecipa, pelo menos
potencialmente, a moderna Sociologia do Conhecimento. Foi um pioneiro no campo científico e um marco entre o
homem da Idade Média e o homem moderno. Ademais, Bacon foi um escritor notável. Seus Essays são os primeiros
modelos da prosa inglesa moderna. Há muitos que acreditam que tenha sido ele o verdadeiro autor das peças de
Shakespeare, teoria surgida há séculos, na chamada Questão da autoria de Shakespeare.
Francis Bacon (filósofo) 77

Linha do tempo
• 1558 — Morte de Maria I, que é sucedida por Elizabeth I.
• 1561 — Nasce Francis Bacon.
• 1564 — Nasce Galileu Galilei
• 1576 — Bacon viaja para França.
• 1582 — Giordano Bruno publica As sombras das ideias.
• 1588 — Derrota da Invencível Armada.
• 1596 — Nasce Descartes.
• 1600 — Giordano Bruno é condenado e executado.
• 1618 — Bacon é Lorde Chanceler e barão de Verulam.
• 1623 — Nasce Blaise Pascal.
• 1626 — Morte de Bacon.

Ligações externas
• Novum Organum [1] (texto formato pdf, em português)
• Francis Bacon [2]
• Francis Bacon [3]
• Sir Francis Bacon and the Rose Cross [4]
• Francis Bacon Imperator of the Rosicrucian Order in the XVII Century [5]
• The Making of Gold (Francis Bacon) [6]

Referências
[1] http:/ / www. scribd. com/ doc/ 40568978/ Bacon-Novum-Organum
[2] http:/ / www. iep. utm. edu/ b/ bacon. htm
[3] http:/ / www. luminarium. org/ sevenlit/ bacon/
[4] http:/ / www. crcsite. org/ bacon. htm
[5] http:/ / www. rosicrucian-order. com/ libro3. htm
[6] http:/ / www. levity. com/ alchemy/ bacongld. html
Redução fenomenológica 78

Redução fenomenológica
A redução fenomenológica é o processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma
experiência de consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias,
atos, relações, pensamentos, eventos, memórias, sentimentos, etc constituem nossas experiências de consciência.
Husserl propôs então que, no estudo das nossas vivências, dos nossos estados de consciência, dos objetos ideais,
desse fenômeno que é estar consciente de algo, não devemos nos preocupar se ele corresponde ou não objeto do
mundo externo a nossa mente. O interesse para a fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o
conhecimento do mundo se dá, tem lugar, se realiza para cada pessoa. A redução fenomenológica requer a suspensão
das atitudes, crenças, teorias, e colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de
concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência em foco, porque esta é a realidade para ela.
Fontes e Editores da Página 79

Fontes e Editores da Página


Fenomenologia  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=24469995  Contribuidores: Alexandrepastre, Belanidia, CasperBraske, Cícero, Dvulture, JSSX, Joao AMA, JoaoMiranda,
Jonas AGX, Jpiccino, Juntas, Marceloptm, Mrcl, Nameless23, Nemracc, Nuno Tavares, OS2Warp, Paulo Sergio Duarte, Physecks, Rmneves, Salamat, Santana-freitas, Sturm, Ziguratt, 63 edições
anónimas

Edmund Husserl  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=24430535  Contribuidores: 555, Aron Pilotto Barco, Arthemius x, Braswiki, Cesarschirmer, Cmorelli, CommonsDelinker,
Cralize, Dantadd, Darwinius, Eduardo Henrique Rivelli Pazos, Eduardoferreira, Ericoazevedo, Giro720, Interwiki de, JP Watrin, Joao AMA, Joao emiliano1978, João Carvalho, Liumaus, Manuel
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Franz Brentano  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=21465696  Contribuidores: Bisbis, Brunosl, Dantadd, Luckas Blade, Nahorlopesjr, Ontoraul, Simoes, Ziguratt, 4 edições
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Max Scheler  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=24395224  Contribuidores: Aoaassis, Danielcz, Joao AMA, João Sousa, Leandromartinez, Orelhas, Superwerke, Yanguas, 2
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René Descartes  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=24482876  Contribuidores: 333, 555, Adinael Neri, Agil, Alchimista, Alexanderps, Alexandrepastre, André Teixeira Lima,
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John Locke  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=24440561  Contribuidores: 333, Adailton, Alexanderps, Alexandrepastre, Amats, Aoaassis, Arouck, Bisbis, Bluverts, Bomba Z,
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Stuckkey, T1t0oo, Thiagofrotaandre, Tilgon, Ts42, ValJor2, Vini 175, Yanguas, Zeh Colmeia, Águia, 279 edições anónimas

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Francis Bacon (filósofo)  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=24398003  Contribuidores: 2deseptiembre, Abrivio, Alexanderps, Alexg, Auréola, Beria, Campani, Capitão Pirata
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