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Hebreus 5 e o Getsêmani

- por René Burkhardt | 14 de Janeiro de 2011

O capítulo 5 de Hebreus, nos seus versículos de 1 a 10, descreve como alguém se torna um
sumo sacerdote e, principalmente, demonstra o porquê de Jesus ter sido nomeado, por
Deus, sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque.

Nesta explicação, o Espírito de Cristo diz, através do autor da epístola, que o sumo sacerdote
“é capaz de CONDOER-SE dos ignorantes e dos que erram” (v.2). Como conseqüência disto,
ele “DEVE oferecer sacrifícios pelos pecados” (v.3).

Mais adiante, nos é dito que “Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor
e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa
da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo
sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem,
tendo sido nomeado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque” (vs.7-
10).

Ora, estas palavras são uma clara referência ao sacrifício de Si mesmo, feito por Jesus, mas
abrangendo toda a cena, desde Sua oração no Getsêmani, feita pouco antes de Sua prisão,
até a própria crucificação.

Ali no jardim, vemos que, antes de orar pedindo ao Pai que afastasse aquele cálice dEle,
Jesus disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.38; Mc 14.34).
Ora, podemos perceber que Jesus se refere à “morte” de forma metafórica, para nos dar
uma dimensão do tamanho da tristeza que o acometia, afinal, Ele sabia que morreria na
cruz, não de tristeza, ou por outro motivo, antes dela. O Espírito de Cristo diz, através de
João, que Jesus sabia de “todas as coisas que sobre ele haviam de vir” (Jo 18.4), tendo esta
palavra sido dita exatamente no momento que precedeu Sua prisão, ou seja, quando o
Senhor estava no Getsêmani. E o autor de Hebreus, agora, nos diz que a dor e a tristeza
pelos pecadores é algo inerente ao sumo sacerdote.

Então, podemos concluir que essa tristeza profunda até à morte, mencionada por Jesus, é
conseqüência de Sua capacidade de condoer-se pelos pecadores e que ela precede,
necessariamente, o sacrifício pelos pecados (cfe. Hb 5.2-3). É claro que tal tristeza é
imensurável, podendo ser dito que seria capaz de levar à morte, uma vez que Jesus estava
por oferecer o sacrifício definitivo, por todos os pecadores de todos os tempos. Mas Jesus
sabia que não morreria de tristeza e, portanto, o cálice ao qual Ele Se referiu em Sua oração,
é o cálice dessa dor indescritível, uma dor insuportável para qualquer ser humano. E Jesus
era 100% homem, apesar de ser, ainda, o corpo humano no qual a plenitude de Deus
habitava.

Desta forma, quando o autor de Hebreus diz que a oração de Jesus no Getsêmani foi ouvida,
no sentido de ter sido atendida, por Aquele que tem o poder de livrar da morte, ele está se
referindo à morte mencionada por Jesus, ou seja, à metafórica morte que dimensionava a
Sua profunda dor! E os relatos desse Seu momento no Getsêmani também nos dão conta
disto, ao mostrarem que, após ter orado pela terceira vez, com tamanha tristeza que
provocou sangramento através de Seu suor, Ele Se levantou, chamou Seus discípulos e
seguiu em direção ao sacrifício que estava proposto, ao invés de continuar prostrado no
chão, sobre Seu rosto, indefinidamente triste! Sua profunda tristeza foi dissipada por conta
de Sua obediência ao Pai, que foi evidenciada em meio a todo esse sofrimento, quando Ele
disse em Sua oração que, apesar da dor extrema, Ele preferia que a vontade do Pai fosse
feita através dEle, para que Seus propósitos se cumprissem!
É claro que Deus pode livrar da morte física a quem Ele quiser, mas, neste caso específico, a
morte na cruz era exatamente o objetivo de Deus, através de Jesus. E esta, na cruz, era a
única morte à qual Ele estava sujeito! Tudo isso fez parte de Seu aperfeiçoamento, para que
Ele se tornasse “o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”!

Extraído de http://kasteloforte.blogspot.com/2011/01/hebreus-5-e-o-getsemani.html

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