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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL


Departamento de Ciências Exatas
Campus de Três Lagoas

MONOGRAFIA
EM
ÁLGEBRA

GRUPOS

Três Lagoas
2010

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2010
INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico foi feito para alunos universitários que busquem
enriquecer o seu conhecimento em Álgebra, especialmente em grupos.
Este trabalho foi dividido em quatro capítulos: Grupos e Subgrupos,
Homomorfismo e Isomorfismo de Grupos, Grupos Cíclicos e Classes Laterais e
Teorema de Lagrange.
O trabalho foi realizado em sua maior parte com base na obra Álgebra Moderna
de Hygino H. Domingues e Gelson Iezzi, fonte excelente para se estudar.
Este trabalho é dedicado ao professor orientador Dr. Antonio Carlos Tamarozzi
o qual me motivou a fazer este trabalho.
Enfim, ficam meus agradecimentos a Deus e a todos que ajudaram diretamente e
indiretamente para a realização dessa monografia.

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SUMÁRIO

1 - GRUPOS E SUBGRUPOS ............................................................................................. 4


1.1 - Conceito de Grupo.................................................................................................... 4
1.2 - Propriedades imediatas de um grupo ...................................................................... 5
1.3 - Grupos Finitos .......................................................................................................... 5
1.4 - Alguns Grupos Importantes ..................................................................................... 6
1.4.1 - Grupo Aditivo dos Inteiros (comutativo) ........................................................ 6
1.4.2 - Grupo Aditivo dos Complexos (comutativo) .................................................. 6
1.4.3 - Grupo Multiplicativo dos Racionais (comutativo).......................................... 7
1.4.4 - Grupo Aditivo de Matrizes m x n (comutativo) .............................................. 7
1.4.5 - Grupos Lineares de Grau n (multiplicativo, Não Comutativo se n ≥ 1 ) ....... 9
1.4.6 - Grupos Aditivos de Classes Restos (Comutativo) ........................................ 10
1.5 - Subgrupos ............................................................................................................... 12
2 - HOMOMORFISMOS E ISOMOSFISMOS ................................................................ 15
2.1 - Homomorfismo de Grupos .................................................................................... 15
2.2 - Proposições Sobre Homomorfismo de Grupos .................................................... 16
2.3 - Núcleo de um Homomorfismo .............................................................................. 17
2.4 - Isomorfismos de Grupos ........................................................................................ 19
3 - GRUPOS CÍCLICOS .................................................................................................... 22
3.1 - Potências e Múltiplos ............................................................................................. 22
3.2 - Grupos Cíclicos ...................................................................................................... 23
3.3 - Classificação dos Grupos Cíclicos ........................................................................ 24
4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE .......................................... 26
4.1 - Classes Laterais ...................................................................................................... 26
4.2 - O Teorema de Lagrange ......................................................................................... 28
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 30

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1 - GRUPOS E SUBGRUPOS

1.1 - Conceito de Grupo

Definição 1: Um sistema matemático constituído de um conjunto não vazio G e uma


operação ( x, y )  x ∗ y sobre G é chamado grupo se essa operação se sujeita aos
seguintes axiomas:

Associatividade
(a ∗ b ) ∗ c = a ∗ (b ∗ c ) , quaisquer que sejam a , b, c ∈ G ;

Existência de Elemento Neutro


Existe um elemento e ∈ G tal que a ∗ e = e ∗ a = a , qualquer que seja a ∈ G ;

Existência de Simétricos
Para todo a ∈ G existe um elemento a '∈ G tal que a ∗ a ' = a '∗a = e .

Se além disso, ainda se cumprir o axioma da

Comutatividade
a ∗ b = b ∗ a , quaisquer que sejam a, b ∈ G
O grupo recebe o nome de grupo comutativo ou abeliano.
Mantidas as notações da definição, um grupo poderá ser indicado apenas por (G,∗) , em
que, para facilitar, o símbolo ∗ indica a operação sobre G . E, quando não houver
possibilidade de confusão, até esse símbolo poderá ser omitido. Assim, será comum
usarmos expressões como, por exemplo, “Seja G um grupo” ou “Consideremos um
grupo G ” o que naturalmente pressupõe a operação subentendida. Outra maneira ainda
de nos referirmos a um grupo (G,∗) é dizer que “ G tem uma estrutura de grupo em
relação à operação ∗ ”.

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1.2 - Propriedades imediatas de um grupo

Seja (G,∗) um grupo; valem as seguintes propriedades

• A unicidade do elemento neutro de (G,∗) ;

• A unicidade do simétrico de cada elemento de G ;


• (a')' = a , qualquer que seja a ∈G ;
• (a ∗ b )' = b' ∗ a' e, portanto (raciocinando por indução), que
(a1 ∗ a 2 ∗  ∗ a n )' = a n′ ∗ a n′ −1 ∗  ∗ a1′ , (∀ n ≥ 1) ;
• Todo elemento de G é regular para a operação ∗ , ou seja: Se a ∗ x = a ∗ y (ou
x ∗ a = y ∗ a ) onde x, y ∈ G , então x = y .
No grupo G , a equação a ∗ x = b (x ∗ a = b ) tem conjunto solução unitário.
x = a′ ∗ b
a ∗ (a ′ ∗ b ) = (a ∗ a ′) ∗ b = e ∗ b = b
Portanto, x = a ′ ∗ b .

1.3 - Grupos Finitos

Um grupo (G,∗) em que o conjunto G é finito chama-se grupo finito. Nesse caso, o

número de elementos de G é chamado ordem do grupo (notação o(G ) ) e a tábua da


operação ∗ se denomina tábua do grupo. Diga-se de passagem, o primeiro matemático a
usar tábuas para representar grupos foi o inglês Arthur Cayley (1821-1899). Cayley, que
valorizava sobre modo os aspectos formais da matemática, foi provavelmente o
precursor do estudo abstrato da teoria dos grupos. Outra realização importante desse
matemático foi a introdução das matrizes na matemática.

Exemplo: É fácil verificar que G = {− 1, 1} é um grupo multiplicativo. Sua ordem


obviamente é 2 e sua tábua:
• 1 -1
1 1 -1
-1 -1 1

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1.4 - Alguns Grupos Importantes

1.4.1 - Grupo Aditivo dos Inteiros (comutativo)

É o sistema formado pelo conjunto dos inteiros e a adição usual sobre esse conjunto.
A adição usual é uma operação sobre Z , associativa e comutativa. Mas, há um elemento
neutro para ela (o número 0), e o oposto − a de um elemento a ∈ Z também pertence a
esse conjunto.

1.4.2 - Grupo Aditivo dos Complexos (comutativo)

A soma de dois números complexos z = a + bi e w = c + di é definida por


z + w = (a + c ) + (b + d )i
= (c + a ) + (d + b )i
= c + di + a + bi
= w+ z
Logo, é comutativa. Vamos verificar se (C,+ ) é grupo abeliano.
Seja p = e + fi , vamos verificar se ocorre a associatividade.

(z + w) + p = (a + c ) + (b + d )i + e + fi
= (a + c + e ) + (b + d + f )i
= a + (c + e ) + bi + (e + f )i
= a + bi + (c + e ) + (d + f )i
= z + (w + p )
Logo, é associativa.
Podemos afirmar que existe o elemento neutro que é 0 = 0 + 0i . Por fim, para todo
complexo z = a + bi , o número complexo − z = (− a ) + (− b )i = −a − bi é seu oposto, o
que pode ser verificado diretamente sem nenhuma dificuldade.

Veja:
z + (− z ) = a + bi − a − bi = 0 + 0i = 0
Onde 0 zero é o elemento neutro da operação +.

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1.4.3 - Grupo Multiplicativo dos Racionais (comutativo)

Sistema formado pelo conjunto dos racionais não nulos sobre esse conjunto.
O conjunto Q* é fechado em relação à multiplicação, ou seja, o produto de dois números
racionais não nulos também é diferente de zero.
A multiplicação usual é associativa em Q*.
p r t
Sejam a = , b= e c=
q s u

(a ∗ b ) ∗ c =  p ⋅ r  ⋅ t =
p r t 
⋅  ⋅  = a ∗ (b ∗ c )
 q s u q s u
O número 1 é elemento neutro da multiplicação, obviamente é diferente de zero.
Vejamos:
p p
a ∗ e = a ∗1 = ⋅1 = = a
q q
∴ a∗e = a = e∗a

Se a ≠ 0 , então ∀ a ∈ Q ∗ existe a −1 ∈ Q ∗ que é o inverso de a .

Logo, a ∗ a −1 = e = a −1 ∗ a
p q
Na prática, considerando a = temos a −1 = . Assim:
q p
p q
a ∗ a −1 = ⋅ =1= e
q p

( )
Vimos, então que Q ∗ , ⋅ é um grupo.

Contra-exemplo: O sistema formado pelo conjunto Z∗ e a multiplicação de números


inteiros não é um grupo, embora o produto de dois inteiros não nulos seja sempre um
inteiro não nulo. Ocorre que nenhum inteiro a, salvo 1 e -1, tem inverso em Z∗ .

1.4.4 - Grupo Aditivo de Matrizes m x n (comutativo)

Nas considerações a serem feitas aqui indicaremos por K , indistintamente, um dos


seguintes conjuntos, Z, Q, R ou C e por M mxn ( K ) o conjunto das matrizes sobre K com

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m linhas e n colunas. Isso posto mostraremos que M mxn ( K ) é um grupo aditivo. Para

isso, lembremos primeiro que a adição de matrizes em M mxn ( K ) é definida da seguinte


maneira:

Se

 a11  a1n   b11  b1n 


   
A =      e B =      então
a  b 
 m1  a mn   m1  bmn 

 a11 + b11  a1n + b1n 


 
A+ B =      e, portanto, trata-se de uma operação sobre o
a + b  a mn + bmn 
 m1 m1

conjunto M mxn ( K ) .

Essa adição cumpre os axiomas exigidos pela definição 1, o que é fácil de provar:
Associatividade: A + (B + C ) = ( A + B ) + C
Comutatividade: A + B = B + A
Existência de Elemento Neutro: é a matriz

0  0
 
0mxn =  
0  0
 
Existência de Opostos: qualquer que seja a matriz

 a11  a1n 
 
A=    
a 
 m1  amn 
Tomando-se
 a11  a1n 
 
−A =    
a 
 m1  amn 
Que obviamente também é uma matriz de M mxn ( K ) , temos:

 a11 − a11  a1n − a1n 


 
=A + (− A)  =     0mxn
a −a 
 m1 m1  amn − amn 

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Portanto ( M mxn ( K ), +) é um grupo aditivo abeliano quando K = Z, Q, R ou C .

1.4.5 - Grupos Lineares de Grau n (multiplicativo, Não Comutativo se n ≥ 1 )

Indicaremos agora por K , indistintamente, um dos conjuntos Q, R ou C e por M n ( K )

o conjunto das matrizes de ordem n sobre k . Tratando-se de um caso particular do


exemplo anterior, M n ( K ) é um grupo aditivo. No que se refere a multiplicação de

matrizes, porém, a situação é diferente. Lembremos que a multiplicação de matrizes


(linhas por colunas) é definida da seguinte maneira:

Se A = (aij ) e B = (bij ) , então:

A⋅ B =
(cij ) , em que
n

∑ aik ⋅ bkj
cij =
k =1
(i, j =
1, 2, , n)

Para essa operação vale a associatividade, como é bem conhecido. Mas, ela conta com
um elemento neutro que é a matriz idêntica de ordem n:
1 0  0
 
0 1  0
In = 
   
 
0 0  1
Mas sempre há matrizes para as quais não há a matriz inversa: por exemplo, a matriz
nula.
0  0
 
0n =     
0  0
 
Cujo produto por uma matriz qualquer é ela mesma, portanto diferente de I n .

Para saber quais matrizes de ordem n têm inversa, recorremos ao seguinte teorema da
teoria dos determinantes: “Uma matriz A ∈ M n ( K ) é inversível se, e somente se,

det( A) ≠ 0 ”.
Como o conjunto das matrizes inversíveis, que indicaremos por GLn ( K ) , inclui a matriz

identidade I n , cujo determinante é igual a 1 e

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det( A ⋅ =
B) det( A) ⋅ det( B) ≠ 0, ∀A, B ∈ GLn ( K ) então (GLn ( K ), ⋅) é um grupo. Esse
grupo não é comutativo quando n ≥ 1, pois, por exemplo, se

 n  1 1  1 
   
A⋅ B =
    e B⋅ A =
   
 1  1 1  n 
   
O grupo (GLn ( K ), ⋅) é chamado, respectivamente, grupo linear racional, real ou

complexo, de grau n , conforme K = Q, R ou C .

1.4.6 - Grupos Aditivos de Classes Restos (Comutativo)

Para qualquer inteiro m > 1 , o conjunto das classes de resto módulo m , ou seja,
______
=Z m {0, 1, 2,, m − 1} é o conjunto quociente de Z pela relação de congruência módulo

m.
Vamos mostrar que (Z m , +) é grupo comutativo vale a associatividade, pois, temos:

(a + b ) + c =a + (b + c )
Enquanto a Comutatividade, temos:
a +b =b +a
Existência do Elemento Neutro que é o m = 0 . Logo,
a +0 =0+a =a
Portanto, 0 é o elemento neutro dessa operação.
_______
A classe m − a é o oposto de a ∈ Z m na adição módulo m , pois

a + m − a = a + (m − a) = m = 0

Uma vez que m ≡ 0(mod m) . Então −a = m − a .


Vale notar que a ordem desse grupo é m .

Exemplo 1: Construir a tábua do grupo (Z 4 , +) .

+ 0 1 2 3
0 0 1 2 3
1 1 2 3 0

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2 2 3 0 1
3 3 0 1 2

Observação:
(Z 4 , +) é comutativo, pois a tábua de operação é simétrica.

(Z 4 , +) existe elemento neutro, pois a linha e a coluna de 0 são fundamentais.

(Z 4 , +) todos elementos tem elementos simétricos, pois onde aparece o elemento neutro

0 , temos que aij = a ji .

Portanto , (Z 4 , +) é grupo abeliano.

Exemplo 2: Z + ; multiplicação.

Não é grupo. Não existe elementos inversos de ∀ x, x −1 ∈ Z + / x ⋅ x −1 =e =x −1 ⋅ x o

1
elemento neutro, e = 1 . Só existirá inversos para 1 e -1. Para 2 o inverso é , mas
2
1
∉ Z+
2

Exemplo 3: A= {x ∈ Z / x é par} ; adição.


( A, +) é grupo, pois ocorre a associatividade para os números pares inteiros.
Existe o elemento neutro 0 que é par, pois seja a ∈ A , temos:
a+0 =0+a = a
=
Seja, a 2 x, x ∈ Z
Temos o oposto de a , de forma geral, é oposto de todos os elementos de A , que é −a ,
pois x ∈ Z . Logo,
a + (−a )= 2 x − 2 x= 0

Exemplo 4: Mostre que R dotado da operação ∗ tal que x ∗ y= 3


x 3 + y 3 é um grupo
abeliano.
Dem: Vamos mostrar primeiro que (R, ∗) é um grupo.
Enquanto, a associatividade, temos:

( x ∗ y ) ∗ z =3 ( x 3 + y 3 ) + z 3 =3 x 3 + ( y 3 + z 3 ) =x ∗ ( y ∗ z )

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Existe elemento neutro e , de tal forma que
x∗e = e∗ x = x
e = 0 . Logo,

x ∗ 0= 3
x 3 + 03= 3
x 3= x
Todos os números reais têm opostos para essa operação. Vejamos:

x ∗ (− x=
) 3
x 3 + (− x)=
3 3
x 3 − x=
3 3
=
0 0
Logo, x ∗ (− x) =e
Portanto, (R, ∗) é um grupo.
Vamos mostrar agora que esse grupo é abeliano.
Logo, comutatividade

x ∗ y = 3 x3 + y 3 = 3
y 3 + x3 = y ∗ x

Portanto, (R, ∗) é um grupo abeliano.

Exemplo 5: Construa a tábua da operação ∗ sobre G = {e, a, b} , sabendo que (G, ∗) é


um grupo.
∗ e a b
e e a b
a a b e
b b e a
Esse grupo também é abeliano.

1.5 - Subgrupos

Definição 2: Seja (G, ∗) um grupo. Diz-se que um subgrupo não vazio H ⊂ G é um


subgrupo de G se:
• H é fechado para a operação ∗ (isto é, se a, b ∈ H então (a ∗ b) ∈ H );
• ( H , ∗) também é um grupo (aqui o símbolo ∗ indica a restrição da operação de
G aos elementos de H ).
Se e indica o elemento neutro de G , então obviamente {e} é um subgrupo de G . É
imediato também, que o próprio G é um subgrupo de si mesmo.
Esses dois subgrupos, ou seja, {e} e G , são chamados subgrupos triviais de G .

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Proposição: Seja (G, ∗) um grupo. Para que uma parte não vazia H ⊂ G seja um
subgrupo de G , é necessário e suficiente que (a ∗ b) seja um elemento de H sempre
que a e b pertencerem a esse conjunto.

Demonstração:
(⇒) Indiquemos por e e eh , respectivamente, os elementos neutros de G e H .
Como
eh ∗ eh = eh = eh ∗ e

Todo elemento do grupo é regular em relação à ∗ , então e = eh .

Tomaremos agora um elemento b ∈ H e indicaremos por b′ e bh′ seus simétricos em G


e H , respectivamente.
Como, porém,
bh′ ∗ b = eh = e = b′ ∗ b

Então bh′ = b′ (novamente pelo fato de todos os elementos do grupo serem regulares

para sua operação). Por fim, se a, b ∈ H , então a ∗ bh′ ∈ H , uma vez que, por hipótese,

( H , ∗) é um grupo.
Mas, bh′ = b′ e, portanto, a ∗ b′ ∈ H .

(⇐) Como, por hipótese, H não é vazio, podemos considerar um elemento x0 ∈ H .

Juntando esse fato à hipótese: x0 ∗ x0′ =e ∈ H .

Considerando agora um elemento b ∈ H , da hipótese e da conclusão anterior segue que:


e ∗ b′ = b′ ∈ H
Mostraremos agora que H é fechado para a operação ∗ . De fato, se, a, b ∈ H , então,
levando em conta a conclusão anterior, a, b′ ∈ H . De onde (novamente usando a
hipótese):
a ∗ (b′)′ = a ∗ b ∈ H
Falta mostrar a associatividade em H , mas isso é trivial, pois se a, b, c ∈ H , então
a, b, c ∈ G e, portanto, a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c (já que essa propriedade vale em G ).

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Exemplo 1: Como Z é subgrupo de R , em relação a operação de adição, temos que
(Z,+) é subgrupo de (R,+) . A operação é fechada em Z e em R .

Exemplo 2: O conjunto Q∗ onde a operação de multiplicação que forma o grupo

(Q∗ , ⋅) é subgrupo de (R∗ , ⋅) .

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2 - HOMOMORFISMOS E ISOMOSFISMOS

2.1 - Homomorfismo de Grupos

Definição 1: Dá-se o nome de homomorfismo de um grupo (G, ∗) num grupo (JJ , ⋅) a


toda aplicação f : G → J tal que, quaisquer que sejam x, y ∈ G .
f ( x ∗ y )= f ( x) ⋅ f ( y )

Nessas condições, para simplificar a linguagem, nos referiremos a f : G → J como


homomorfismo de grupos. Quando se tratar do mesmo grupo, o que pressupões J = G e
a mesma operação, então a aplicação f será chamada de homomorfismo de G .
Se um homomorfismo é uma aplicação injetora, então é chamado de homomorfismo
injetor. E se for uma aplicação sobrejetora, de homomorfismo sobrejetor.
O caso que f é bijetora corresponde ao conceito de Isomorfismo e será estudado
separadamente.

Exemplo 1: A aplicação f : Z → C∗ definida por f (m) = i m é um homomorfismo de


grupos. É preciso notar, primeiro, que em casos como esse as operações são usuais e
devem ser pressupostas. Portanto, Z é um grupo aditivo e C∗ um grupo multiplicativo.
Como
f ( m + n) = i ( m + n ) = i m ⋅ i n = f ( m) ⋅ f ( n)
Fica provado que se trata de homomorfismo.
Esse homomorfismo não é injetor. Para mostrar isso basta um contra-exemplo. De fato,
) {1, i, −1, −i} ≠ C∗ .
f (4)= i 4= 1 e f (0)= i 0= 1 . Também não é sobrejetor, pois Im( f =

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Exemplo 2: Seja a um número inteiro dado. A aplicação f : Z → Z definida por
f (m) = am é um homomorfismo de Z . Esse homomorfismo só não é injetor quando
a = 0 e só é sobrejetor quando a = 1 .
Quanto à primeira afirmação, basta observar que
f (m + n) = a (m + n) = a m+ a n= f (m) + f (n)
Se a = 0 , então, para todo m ∈ Z , e, portanto, f não é injetora nem sobrejetora.
Supomos a ≠ 0 e f (m) = f (n) , isto é, am = an , cancelando-se a (o que é possível,
pois a ≠ 0 ), obtém-se m = n , isso mostra que f é injetora neste caso.
Se a = 1 , então f é a aplicação idêntica de Z e, portanto é sobrejetora. Se a ≠ 1 então
f não é sobrejetora, porque Im( f ) = {0, ± a, ±2a, ±3a,} ≠ Z .

2.2 - Proposições Sobre Homomorfismo de Grupos

Sejam G e J grupos multiplicativos cujos elementos neutros indicaremos sempre por


e e u , respectivamente, e f : G → J um homomorfismo de grupos.

Proposição 1: f (e) = u
Dem: Obviamente e ⋅ e = e (pois e é o elemento neutro de G ) e u ⋅ f (e) =
f (e) (pois
f (e) ∈ J e u é o elemento neutro de J ). Levando-se em conta isso e a hipótese de que
f é um homomorfismo:
f (e) ⋅ f (e) = f (e ⋅ e) = f (e) =u ⋅ f (e)
∴ f (e) ⋅ f (e) = u ⋅ f (e) ⇒ f (e) = u
Onde utilizamos o fato que f (e) é um elemento regular.

Proposição 2: Se a é um elemento qualquer de G , então f (a −1 ) = [ f (e)]−1


Dem: Usaremos aqui a proposição anterior:
f (a ) ⋅ f (a −1 ) =f (a ⋅ a −1 ) = u f (a ) ⋅ [ f (a )]−1
f (e) ==
∴ f (a ) ⋅ f (a −1 ) =f (a ) ⋅ [ f (a )]−1
Como f (a ) é regular segue que
f (a −1 ) = [ f (a )]−1

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Corolário 1: f (a ⋅ b −1 ) = f (a ) ⋅ [ f (b)]−1

Proposição 3: Se H é um subgrupo de G , então f ( H ) é um subgrupo de J .


Dem: Lembremos primeiro que= f ( H ) { f ( x) / x ∈ H } .
i) Como e ∈ H , porque H é um subgrupo de G , então f (e)= u ∈ f ( H ) e,
portanto, f ( H ) ≠ ∅ .
ii) Sejam c, d ∈ f ( H ) . Então f (a ) = c e f (b) = d , para convenientes elementos
a, b ∈ H .

Logo, c ⋅ d −1 = f (a ) ⋅ [ f (b)]−1 = f (a ) ⋅ f (b −1 ) = f (a ⋅ b −1 ) .
Como a ⋅ b −1 ∈ H , pois, por hipótese, H é um subgrupo de G , então c ⋅ d −1 ∈ f ( H ) .

Proposição 4: Sejam G, J e L grupos. Se f : G → J e g : J → L são homomorfismos


de grupos, então o mesmo se pode dizes de g  f : G → L .
Dem: Se a, b ∈ G , então:
( g  f )(a ⋅=
b) g ( f (a ⋅ b=
)) g ( f (a ) ⋅ f (b=
)) g ( f (a )) ⋅ g ( f (b=
)) ( g  f )(a ) ⋅ ( g  f )(b)
∴ g  f é homomorfismo de G a L .

Corolário 2: Se f e g são homomorfismos (sobre) injetores, então g  f também é


um homomorfismo injetor (sobrejetor).
Dem: Imediata. É só lembrar que a composta de duas funções injetoras (sobrejetoras)
também é injetora (sobrejetora).

2.3 - Núcleo de um Homomorfismo

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Definição 2: Seja f : G → J um homomorfismo de grupos. Se u indica o elemento
neutro de J , o seguinte subconjunto de G será chamado núcleo de f e denominado
por N ( f ) .
N( f ) = {x ∈ G / f ( x) =
u}

Exemplo 3: Procuremos o núcleo do homomorfismo de grupos f : Z → C∗ definido por


f (m) = i m (ver exemplo 1). Como o elemento neutro da multiplicação em C∗ é o
número 1, então basta resolver a equação i m = 1
Mas, i m = 1
=m 4k , k ∈ Z , pois i m = i 4k =
(i 2 ) 2 k =
(−1) 2 k ==
1k 1
Logo, N ( f ) = {0, ±4, ±8, ±12,}

Proposição 5: Seja f : G → J um homomorfismo de grupos. Então


i) N ( f ) é um subgrupo de G;
ii) f é um homomorfismo injetor se, e somente se, N ( f ) = {e} .
Dem:
i) Como f (e) = u , então e ∈ N ( f ) e, portanto, N ( f ) ≠ ∅ . Por outro lado, se
a, b ∈ N ( f ) então f=
(a ) f=
(b) u e, portanto:
f (a ⋅ b −1 ) = f (a ) ⋅ f (b −1 ) = f (a ) ⋅ [ f (b)]−1 = u ⋅ u −1 = u
Isso mostra que a, b −1 ∈ N ( f ) .

ii) (⇒) Por hipótese , f é injetor e temos de mostrar que o único elemento de N ( f ) é
elemento neutro de G .
Para isso, vamos tomar a ∈ N ( f ) e demonstrar que necessariamente a = e . De fato,
como a ∈ N ( f ) , então f (a ) = u . Mas, devido à proposição 1, f (e) = u .
Portanto, f (a ) = f (e) . Como, porém, f é injetora, por hipótese então a = e .

(⇐) Sejam x1 , x2 ∈ G elementos tais que f ( x1 ) = f ( x2 ) . Multiplicando-se cada


membro dessa igualdade por [ f ( x2 )]−1 , obtém-se f ( x1 ) ⋅ [ f ( x2 )]−1 =
u.
Mas, f ( x1 ) ⋅ [ f ( x2 )]−1 =
f ( x1 ⋅ x2−1 ) . Portanto, f ( x1 ⋅ x2−1 ) =
u o que mostra que
( x1 ⋅ x2−1 ) ∈ N ( f ) =
{e} .
Então x1 ⋅ x2−1 =
e e, portanto, x1 = x2 , de onde f é injetor, como queríamos provar.

Exemplo 1: Verifique em cada caso se f é um homomorfismo:


a) f : Z → Z dada por f ( x) = kx , sendo Z o grupo aditivo dos inteiros e k um
inteiro dado.
É um homomorfismo, pois f ( x + y ) = k ( x + y ) = kx + ky = f ( x) + f ( y )
∴ f ( x + y )= f ( x) + f ( y )

b) f : R → R dada por f ( x)= x + 1 , sendo R o grupo aditivo dos reais.


Não é homomorfismo. Logo,
f ( x + y ) = x + y + 1 = x + 1 + y = f ( x) + y ≠ f ( x) + f ( y )
∴ f ( x + y ) ≠ f ( x) + f ( y )

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2010
c) f : Z → R*+ dada por f ( x) = 2 x , em que Z é grupo aditivo e R*+ é grupo
multiplicativo.
É um homomorfismo, pois f ( x + y ) = 2 x + y = 2 x ⋅ 2 y = f ( x) ⋅ f ( y )
∴ f ( x + y )= f ( x) ⋅ f ( y )

Exemplo 2: Determine os homomorfismos injetores e sobrejetores:


a) Temos f : Z → Z dada por f ( x) = kx , sendo Z um grupo aditivo dos inteiros.
Logo, podemos afirmar que temos um homomorfismo injetor, se k ≠ 0
Vejamos, f ( x1 )= f ( x2 ) ⇒ kx1= kx2 . Cancelando, k inteiro, temos x1 = x2 que é
injetor.
Mas, o homomorfismo não é sobrejetor, pois Im( f= ) kZ ≠ Z .

b) Verificamos que não é um homomorfismo. Logo, não será homomorfismo


injetor (sobrejetor).

c) Dado f : Z → R*+ com f ( x) = 2 x , em que Z é grupo aditivo e R*+ é grupo


multiplicativo.
f é injetor e sobrejetor
Injetor: f ( x)= f ( y ) ⇒ 2 x= 2 y . Pelo teorema fundamental da aritmética (TFA)
temos: x = y
Agora, mostraremos que f é sobrejetora. Dado y ∈ R*+ e tomando x = log 2 y temos
=
f ( x) f (log=
2 y) 2=
log 2 y
y

Exemplo 3: Determine o núcleo de cada homomorfismo:


a) De f : Z → Z dada por f ( x) = kx sendo Z um grupo aditivo dos inteiros.
N( f ) ={x ∈ Z / f ( x) =
0}
Logo, temos que determinar: kx = 0
Se k = 0 então N ( f ) = Z
Se k ≠ 0 então N ( f ) = {0}

b) Não tem núcleo, pois a aplicação não é um homomorfismo.

c) f : Z → R*+ dada por f ( x) = 2 x , em que Z é grupo aditivo e R*+ é grupo


multiplicativo.
N( f ) = {x ∈ Z / f ( x) = 1}
Logo, 2 =⇒
x
1 2 =2 ⇒ pelo (TFA) x = 0
x 0

∴ N( f ) = {0}

2.4 - Isomorfismos de Grupos

Definição 3: Seja f : G → J um homomorfismo de grupos. Se f for também uma


bijeção, então f será chamado de isomorfismo do grupo G no grupo J .
Neste caso, diz-se que f é um isomorfismo de grupos.

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2010
Se G = J e a operação é a mesma, f é um isomorfismo de G .

Exemplo 4: A função logarítmica (não importa a base) log : R*+ → R é um isomorfismo


de grupo.
Sendo R*+ um grupo multiplicativo e R um grupo aditivo, temos:
log( x ⋅ y=
) log( x) + log( y )
Logo, é um homomorfismo.
Mas, log é uma função bijetora então implica em isomorfismo de grupos.

Proposição 6: Se f : G → J é um isomorfismo de grupos, então f −1 : J → G também


é um isomorfismo de grupos:
Dem: lembremos primeiro que, como foi provado no nosso estudo de álgebra, o fato de
f ser uma bijetora, só que obviamente de J em G .
Assim, falta demonstrar que f −1 conserva as operações (mais uma vez aqui indicadas
multiplicavelmente). Para isso, tomemos y1 , y2 ∈ J . Como f é sobrejetora, y1 = f ( x1 )
=
e y2 = f ( x2 ) , para convenientes elementos x1 , x2 ∈ G . Daí, f −1 ( y1 ) f=
−1
( f ( x1 )) x1 e,
analogamente f −1 ( y2 ) = x2 . Então:
f −1 ( y1 ⋅ y2 ) = f −1 ( f ( x1 ) ⋅ f ( x2 )) = f −1 ( f ( x1 ⋅ x2 )) = x1 ⋅ x2 = f −1 ( y1 ) ⋅ f −1 ( y2 )

Exemplo 1: Mostre que f : Z → 2Z dada por f (n) = 2n , ∀ n ∈ Z , é um isomorfismo


do grupo aditivo Z no grupo aditivo 2Z .
Dem: Mostraremos primeiro que f é um homomorfismo, vejamos:
Sejam n, p ∈ Z temos:
f (n + p ) = 2 n (+ p ) = 2n + 2 p = f (n) + f ( p )
Logo, f é um homomorfismo
Agora, provamos que f é um isomorfismo. f será isomorfismo se ocorrer uma
bijeção.
Logo, se f (n) = f ( p ) temos 2n = 2 p cancelando o 2 de ambos os lados, temos:
n= p
Logo, temos um homomorfismo injetor.
 p
Agora, f (n) = f  
2
 p p
Logo, f (n) = f   =2 ⋅ = p
2 2
∴ f ( n) = p

Por sua vez, temos um homomorfismo sobrejetor.


Portanto, f é um isomorfismo.

Exemplo 2: Mostre que f : Z → C* dada por f ( x) = i m onde m é número inteiro não é


um isomorfismo.
Dem: O homomorfismo f não será isomorfismo, pois não é injetor. Logo,
f (0)= 1= f (4)

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Portanto, não é isomorfismo.

21
2010
3 - GRUPOS CÍCLICOS

3.1 - Potências e Múltiplos

Definição 1: Seja G um grupo multiplicativo. Se a ∈ G e m é um número inteiro, a


potência m-ésima de a , ou potência de a de expoente m , é o elemento de G denotado
por a m , onde a m = a⋅ ⋅ a se m > 0 , a 0 = e e a m = (a −1 ) − m se m < 0 .
⋅
a
m vezes

Uma consequência imediata dessa definição é que, para todo inteiro m , vale e m = e .

Exemplo 1: No grupo multiplicativo Z*5 das classes de resto módulo 5, seja a = 2 .


Então
2 0 = 1, 21 = 2, 2 2 = 2 ⋅ 2 = 4, 2 3 = 4 ⋅ 2 = 3, 
2 −1 = 3; (2 2 ) −1 = 3 ⋅ 3 = 9 = 4; (2 3 ) −1 = 9 ⋅ 3 = 27 = 2; 

Proposição 1: Seja G um grupo multiplicativo. Se m e n são números inteiros e


a ∈ G , então:
i) a m ⋅ a n = a m+n
ii) a − m = (a m ) −1
iii) (a m ) n = a m⋅n

Dem: i) Demonstraremos pelo seguinte raciocínio, pois n ≥ 0 e m + n ≥ 0 será por


indução sobre n .
Vejamos:
Para n0 = 0 temos: a m ⋅ a 0 = a m ⋅ e = a m + 0 = a m
Logo, é verdadeiro.
Suponhamos por indução para todo n ≥ 0 temos que: a m ⋅ a k = a m + k com n = k .
Vamos provar para n= k + 1 ;
Multiplicando a na hipótese de indução temos:
a ⋅ a m ⋅ a k = a m ⋅ a ⋅ a k = a m ⋅ a k ⋅ a = a m ⋅ a k ⋅ a1 = a m + k ⋅ a1 = a m + k +1
Portanto, é válido para ∀ n ∈ N tal que: a m ⋅ a n = a m+n

ii) Considerando G um grupo multiplicativo, seja a ∈ G .


a m ⋅ a − m =a m − m =a 0 =e
∴ am ⋅ a−m = e
1
Logo, a m ⋅ (a m ) −1 = a m ⋅ m = e . Assim, a m ⋅ a − m =a m ⋅ (a m ) −1
a
Como todo elemento do grupo é regular
Logo, a − m = (a m ) −1

iii) Por indução sobre n , para n ≥ 1 temos:


( a m=
)1 a=m
a m⋅1 que é válido.
Suponhamos por indução que para n = k , ∀ n ≥ 1 temos

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2010
( a m ) k = a m⋅k
Vamos provar para n= k + 1
(a m ) k +1 = (a m ) k ⋅ (a m )1 = a m⋅k ⋅ a m⋅1 = a m⋅k + m = a m⋅( k +1)
Logo, é válido que (a m ) n = a m⋅n

Definição 2: Seja G um grupo aditivo. Se a ∈ G e m é um número inteiro, o múltiplo


m-ésimo de a é o elemento de G denotado por m ⋅ a definido da seguinte maneira:
• Se m ≥ 0 ;
0⋅a = e (elemento neutro de G )
m ⋅ a = (m − 1) ⋅ a + a , se m ≥ 1
• Se m < 0 ;
m ⋅ a =−[(− m) ⋅ a ]

Proposição 2: Seja G um grupo aditivo. Se m e n são números inteiros e a ∈ G ,


então:
i) m ⋅ a + n ⋅ a = (m + n) ⋅ a ;
ii) (−m) ⋅ a = −( m ⋅ a ) ;
iii) n ⋅ (m ⋅ a ) = (n ⋅ m) ⋅ a .

Essa proposição não será demonstrada porque são axiomas dos números reais.
i) É a propriedade distributiva.
ii) É a regra de sinais na multiplicação, pois o produto de um fator negativo com
outro fator positivo é negativo.
iii) É a propriedade associativa para a multiplicação.

Obs: Neste tópico, vimos que o grupo multiplicativo está relacionado com potências e o
grupo aditivo com múltiplos.

3.2 - Grupos Cíclicos

Se a é elemento de um grupo G , denotaremos por [a ] o subconjunto de G formado


=
pelas potências inteiras de a , ou seja, [a ] {a m / m ∈ Z} . Esse subconjunto de G nunca
é vazio, pois e , o elemento neutro de G , pertence a ele, uma vez que e = a 0 .

Proposição 3:
i) O subconjunto [a ] é um subgrupo de G ;
ii) Se H é um subgrupo de G ao qual a pertence, então [a ] ⊂ H .

Dem:
i) Como já observamos, [a ] ≠ ∅ . Sejam, pois u e v elementos de [a ] . Então
u = a n e v = a n , para convenientes inteiros m e n . Daí,
u ⋅ v −1 = a m ⋅ (a n ) −1 = a m a − n = a m − n . Isso mostra que u ⋅ v −1 ∈ [a ] . De onde, [a ]
é um subgrupo de G .
ii) Se a ∈ H , então toda potência de a também pertence a H e, portanto, [a ] ⊂ H .

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2010
Definição 3: Um grupo multiplicativo G será chamado grupo cíclico se, para algum
elemento a ∈ G , se verificar a igualdade G = [a ] . Nessas condições, o elemento a é
chamado gerador do grupo G .

Obs: Podemos dizer que um grupo multiplicativo G é cíclico significa dizer que
G= {m ⋅ a / m ∈ Z} , para algum a ∈ G .
E no caso aditivo significa que G inclui um elemento a tal que G = {m ⋅ a / m ∈ Z} .

Exemplo: O grupo aditivo Z é cíclico, pois todos os seus elementos são múltiplos de 1
ou de -1. De fato, Z ={m ⋅1/ m ∈ Z} ou Z= {m ⋅ (−1) / m ∈ Z} .
Portanto, Z = [1] = [−1]
Podemos concluir que os números 1 e -1 são únicos geradores de Z .

Proposição 4: Todo subgrupo de um grupo cíclico é também cíclico.

Não iremos demonstrar, mas, veremos um exemplo prático desse resultado.

Exemplo: Devido à proposição anterior, pode-se garantir que um subconjunto não vazio
H ⊂ Z é um subgrupo de (Z, +) se, e somente se, H = [m] , para algum inteiro m ∈ H .
Portanto, os subgrupos de Z são:
[ 1] =Z , [2] =[−2] ={0, ±2, ±4,} , [3] =[−3] ={0, ±3, ±6,} ,
[0] = {0} , [1] =−
[4] =[−4] ={0, ±4, ±8,} , etc.

3.3 - Classificação dos Grupos Cíclicos

Seja G = [a ] um grupo cíclico.


Se ocorrer o caso que a r ≠ a1 sempre que r ≠ 1 e se cumpre a condição que uma
aplicação f : Z → G definida por f (r ) = a r é um isomorfismo de grupos.
Logo, esses grupos são chamados de grupos cíclicos infinitos.
Se o caso em que a r = a s ocorre para algum par de inteiros distintos, r e s .
Esses grupos são chamados de grupos cíclicos finitos.

Proposição 5: Seja a um elemento de período h > 0 de um grupo G . Então a m = e se,


e somente se, h | m .

Dem:
(⇒) Devemos usar o algoritmo euclidiano com m como dividendo e h como divisor:
m = hq + r (0 ≤ r < h)
Então: e =a m =a h + r q=a h ⋅ aqr =(a h ) q ⋅ a r =e q ⋅ a r =e ⋅ a r =a r
Ou seja, a r = e . Como não se pode ter r > 0 , pois isso contraria a hipótese de que o
período de a é h , então r = 0 e, portanto, m = hq . De onde, h | m .

(⇐) Se h | m , então m = hq , para algum q ∈ Z .


Então: a =
m
a hq= (a h )=
q
e=
q
e

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Exemplo 1: Verifique se Z12 é um grupo cíclico em relação à adição.
=〈 1 〉 {1=
0
, 11 , 1 2 , 1 3 ,} {0, =
1, 2, 3, 4, ,11} Z12 ¨
Portanto, 〈 1 〉 gera o Z12 , logo é cíclico.

Exemplo 2: Quem são os geradores de Z12 .


Sabemos que é um grupo cíclico, então sabemos que 1 é gerador.
〈 0〉 ={0}
〈 1 〉 =Z12
〈 2〉 ={0, 2, 4, 6, 8,10}
〈 3〉 ={0, 3, 6, 9}
〈 4〉 ={0, 4, 8}
〈 5〉 {0,
= 5,10, 3, 8, 1, 6,11, 4, 9, 2, 7} Z12
〈 6〉 ={0, 6}
〈 7 〉 {0,
= 7, 2, 9, 4, 1,1 0, 5, 3, 6, 8, 9} Z12
〈 8 〉 ={0,10, 8, 6, 4, 2}
=〈 9 〉 {0,
= 1, 2, 3, ,11} Z12
Portanto os geradores de Z12 são 1, 5, 7 e 11

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4 - CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE

4.1 - Classes Laterais

Proposição 1:
i) A relação R sobre G definida por “ aRb se, e somente se, a −1b ∈ H ” é uma
relação de equivalência.
ii) Se a ∈ G , então a classe de equivalência determinada por a é o conjunto
= aH {ah / h ∈ H } .

Dem:
i) Como = e a −1 a ∈ H , então aRa e, portanto, vale a reflexividade.
Se aRb então a −1b ∈ H , mas sendo H um subgrupo de G , então (a −1b= ) −1 b −1a ∈ H .
Isso mostra que bRa e, portanto, que a simetria também se verifica para R .
Suponhamos que aRb e bRc , então a −1b , b −1c daí,
(a −1b)(b −=
1
c) a −1b = −1
bc a −=
1
ec a −1c ∈ H
Logo, aRc , de onde a transitividade é válida.
ii) Seja a a classe de equivalência do elemento a . Se x ∈ a , então xRa , ou seja,
x −1a ∈ H .
Portanto x −1a = h , para um elemento h ∈ H . Mas x = ah −1 e, portanto, x ∈ aH , uma
vez que h −1 ∈ H .
Por outro lado, se x ∈ aH , então x = ah , para algum h ∈ H . Daí, x −1=a h −1 ∈ H e,
portanto, xRa , de onde, x ∈ a .
Segue que a = aH .

Definição 1: Para cada a ∈ G , a classe de equivalência aH definida pela relação R


introduzida na proposição 1 é chamada classe lateral à direita, módulo H , determinada
por a .
Uma decorrência imediata da proposição anterior é que o conjunto das classes laterais à
direita, módulo H , determina uma partição em G , ou seja:
A) Se a ∈ G , então aH ≠ ∅
B) Se a, b ∈ G , então aH = bH ou aH ∩ bH = ∅
C) A união de todas as classes laterais é igual a G .

O conjunto quociente de G por essa relação, denotado por G / H é o conjunto das


classes laterais aH (a ∈ G ) . Um dos elementos desse conjunto é o próprio H , pois
H = eH .
De maneira análoga se demonstra que a relação R definida por “ aRb se, e somente se,
ab −1 ∈ H ” também é uma relação de equivalência sobre o grupo G . Só que, neste caso,
a classe de equivalência de um elemento a ∈ G é o subconjunto= Ha {ha / h ∈ H } ,
chamado classe lateral à esquerda, módulo H, determinada por a . É claro que, se G for
comutativo, então aH = Ha , para qualquer a ∈ G .

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Exemplo 1: No grupo multiplicativo G ={1, −1, i, −i} das raízes quárticas da unidade,
considere o subgrupo H= {1, −1} . As classes laterais são:
1H = {1 ⋅1,1 ⋅ (−1)} = {1, −1}
(−1) H ={(−1) ⋅1, (−1) ⋅ (−1)} ={−1,1}
iH = {i ⋅1, i ⋅ (−1)} = {i, −i}
(−i ) H ={(−i ) ⋅1, (−i ) ⋅ (−1)} ={−i, i )}
Logo, 1H = (−1) H e iH = (−i ) H
Portanto, G / H = {1H , iH }
Essas duas classes laterais unidas coincidem com o grupo G .

Exemplo 2: Seja G o grupo aditivo Z 6 . Para facilitar, escreveremos os elementos de


Z 6 sem os traços, ou seja, Z 6 = {0,1, 2,3, 4,5} .
Considerando o subgrupo H = {0,3} , temos:
0 + H = H = {0,3}
1+ H = {1, 4}
2+ H = {2,5}
A reunião dessas 3 classes é igual a G .
Portanto, G / H = {H ,1 + H , 2 + H } .

Exemplo 3: Considere o grupo multiplicativo R∗ dos números reais e H o subgrupo


{x R∗ / x > 0} .
formado pelos números reais estritamente positivos, ou seja, H =∈
Como aH = H , se a > 0 e aH =∈ {x R∗ / x < 0} , se a < 0 então R∗ / H é formado por
duas classes: a dos números reais maiores que zero e a dos números reais menores que
zero.

Proposição 2: Seja H um subgrupo de G . Então duas classes laterais quaisquer


módulo H têm a mesma cardinalidade.

Dem: Dadas duas classes laterais aH e bH , temos que mostrar que é possível construir
uma aplicação bijetora f : aH → bH . Lembrando a forma geral dos elementos dessas
classes, é natural definir f da seguinte maneira: f (ah) = bh , para qualquer h ∈ H .
Sem maiores dificuldades, prova-se que f é injetora e sobrejetora. De fato:
(Injetora) Se h, h1 ∈ H e f (ah) = f (ah1 ) , então bh = bh1 , como, porém, todo elemento
de G é regular, então h = h1 .
(Sobrejetora) Seja y ∈ bH . Então y = bh , para algum h ∈ bH . Tomando-se
=x ah ∈ aH , então f ( x=) f (ah= ) bh= y.
Em particular, todas as classes têm a mesma cardinalidade de H = eH ( e = elemento
neutro).

Obviamente, se G é um grupo finito, então o conjunto G / H também é finito. O


número de classes distintas do conjunto G / H é chamado índice de H em G é
denotado por (G : H ) . Então, no exemplo 1, (G : H ) = 2 , no exemplo 2, (G : H ) = 3 , no
exemplo 3, (G : H ) = 2 .

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2010
Devido ao fato de aH → Ha −1 é uma aplicação bijetora, como já observamos, então o
índice de H em G é o mesmo, quer se considerem classes laterais à direita ou à
esquerda, módulo H .

4.2 - O Teorema de Lagrange

Proposição 3: (Teorema de Lagrange): Seja H um subgrupo de um grupo finito G .


Então o(G ) = o( H ) (G : H ) e, portanto, o( H ) / o(G ) .

Dem: Suponhamos (G : H ) = r e seja G / H = {a1 H , a2 H , , ar H } . Então devido à


proposição 1, G= a1 H ∪ a2 H ∪  ∪ ar H e ai H ∩ a j H = ∅ , sempre que i ≠ j . Mas,
devido à proposição 2, o número de elementos de cada uma das classes laterais é igual
ao número de elementos de H , ou seja, é igual a o( H ) . Portanto,
o(G=) o( H ) + o( H ) +  + o( H ) em que o número de parcelas é r = (G : H ) . De onde:
o(G ) = (G : H )o( H ) e o( H ) / o(G ) .

Corolário 1: Seja G um grupo finito. Então a ordem (período) de um elemento a ∈ G


divide a ordem de G e o quociente é (G : H ) , em que H = [a ] .

Dem: Basta lembrar que a ordem de a é igual à ordem de [a ] o que, devido ao


Teorema de Lagrange: o(G ) = (G : H )o([a ]) .

Corolário 2: se a é um elemento de um grupo finito G , então a o (G ) = e (elemento


neutro do grupo).

Dem: Seja h a ordem de a . Portanto, h é o menor inteiro estritamente positivo tal que
a h > e (elemento neutro do grupo). Mas devido ao corolário anterior: o(G=
) (G : H )h
em que H = [a ] . Portanto a= a = (a )= e= e .
o (G ) ( G:H ) h h ( G:H ) ( G:H )

Corolário 3: Seja G um grupo finito cuja ordem é um número primo. Então G é


cíclico e os únicos subgrupos de G são os triviais, ou seja, {e} e o próprio G .

Dem: Seja p = o(G ) . Como p > 1 , o grupo G possui um elemento a diferente do


elemento neutro. Assim, se H = [a ] , pelo Teorema de Lagrange garante que o( H ) / p .
Logo, o( H ) = 1 ou p e, portanto, H = {e} ou H = G .
Como a primeira dessas hipóteses é impossível, então G = H e, portanto, G é cíclico.
Por outro lado, se J é um subgrupo de G , então, ainda devido ao Teorema de
Lagrange, o( J ) / o(G ) . Daí, o( J ) = 1 ou p e, portanto, J = {e} ou J = G .

Exemplo 1: Determine todas as classes laterais de H = {0, 3, 6, 9} no grupo aditivo Z12 .


Logo, vamos encontrar as classes laterais, módulo H .
=
0 + H {0, 3,=6, 9} H
1 + H ={1, 4, 7,10} =1 + H
2 + H ={2, 5, 8,11} =2 + H

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Portanto, Z12 / H = {H ,1 + H , 2 + H }

Exemplo 2: Determine todas as classes laterais de 4Z no grupo aditivo Z .


Lembrando que 4Z = {0, ±4, ±8, ±12,} .
Temos que 0 ∈ Z vamos verificar se será uma classe lateral módulo 4Z
0 + 4Z = {0, ±4, ±8, ±12,}
1 + 4Z = { , −3,1,5,9,13,}
2 + 4Z = { , −2, 2, 6,10,14,}
3 + 4Z = { , −1,3, 7,11,15,}
Podemos concluir que a união destas 4 classes resulta no conjunto dos Z .
Portanto, Z / 4Z = {4Z,1 + 4Z, 2 + 4Z,3 + 4Z} .

Exemplo 3: Sendo H = {0, ± m, ±2m,} , m ∈ Z , um subgrupo do grupo aditivo Z ,


mostre que {0, 1, , m − 1} =
Z m é o conjunto das classes laterais de H . Logo,
(Z : H ) = m .
Dem: Vamos mostrar que Z m é o conjunto das classes laterais de H . Sendo
(Z : H ) = m . Teremos m classes laterais de H .
0 + H = {0, ± m, ±2m,} = 0
1 + H = {1, ± m + 1, ±2m + 1,} = 1
2 + H = {2, ± m + 2, ±2m + 2,} = 2

m − 1 + H = {m − 1, ± m + m − 1, ±2m + m − 1,} = m − 1
Portanto, Z m é o conjunto das classes laterais de H .

Exemplo 4: Considerando Z como subgrupo do grupo aditivo Q , descreva as classes


1
Z + (-1) e Z + .
2
∀m ∈ Z , temos Z + (−1) = m + (−1) = m − 1 = Z
∴ Z + (−1) =Z
1  1   2n + 1 
Agora, Z + = n + / n ∈ Z  =  / n ∈ Z
2  2   2 
1 2n + 1
∴ Z= + ,n∈Z
2 2

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2010
BIBLIOGRAFIA

L. H. Jacy Monteiro: Elementos de Álgebra – c 1969, Livros Técnicos e Científicos.


Editora, Rio de Janeiro.

GARCIA, Arnaldo. Elementos de Álgebra. Rio de Janeiro: Projeto Euclides, 2006 – 03


ex.

DOMINGUES, Hygino H. e IEZZI, Gelson. Álgebra Moderna, 4 ed. São Paulo: Editora
Atual, 2003.

Abramo Hefez Curso de Álgebra, V.1 – Editora SBM, Rio de Janeiro, 2002.

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2010

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