Procurava -se incorporar os grupos "excluídos" das esferas de decisão às ações a eles
destinadas. Pretendia-se transformar objetos das ações em sujeitos históricos. Muitos
cientistas sociais que participaram nesses programas de desenvolvimento tomaram
consciência das limitações e abusos dos modos convencionais de perceber, tratar e
reconstruir a realidade social. Emergem, assim, formas alternativas de pesquisa com
rótulos variados: pesquisa-ação, pesquisa participante, pesquisa militante, etc.
Marcela Gajardo refere-se a cientistas sociais europeus que assinalam, como próprios
aos processos de pesquisa participante, os seguintes aspectos:
c) Ao invés de se manter distancia entre o pesquisador e o grupo que vai ser examinado,
tal como se exige nas ciências sociais tradicionais, propõe-se a interação. Isso significa,
para o pesquisador, trabalhar, talvez viver, no grupo escolhido, a fim de elaborar
perspectivas e experimentar ações que perdurem, inclusive depois de terminado o
projeto.
A Pesquisa Ação:
Desde o seu inicio a pesquisa-ação se orientou para a solução dos problemas surgidos
pelo crescimento industrial, modernização e outros. No caso de Lewin, a preocupação
concentrou-se nos problemas da inserção de fabricas em zonas rurais, cuja mão-de-obra
era incapaz de atingir os altos padrões de produção das regiões industriais do Norte dos
EUA. Mas, o seu propósito não era conscientizar os operários com relação à situação de
vida, senão adaptá-los às condições de trabalho das fábricas.
O autor define pesquisa-ação como "...um tipo de pesquisa social com base empírica
que e concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes representativos da
situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participante". Do
ponto de vista cientifico, "a pesquisa-ação e uma proposta metodológica e técnica que
oferece subsídios para organizar a pesquisa social aplicada sem os excessos da postura
convencional ao nível da observação, processamento de dados, experimentação, etc.
Com ela, se introduz uma maior flexibilidade na concepção e na aplicação dos meios de
investigação concreta" (Thiollent, op. cit. p.24).
analisados pelo grupo como um todo papel dos pesquisadores se refere basicamente a
preservar o caráter cientifico da pesquisa(analise sistemática e critica da realidade),
portanto, a metodologia tem um importante papel a desempenhar.
Concordando com Maria Tereza Sirvent (1985), nas sociedades caracterizadas por uma
alta concentração de renda com uma maioria da população em condições de pobreza e
miséria absoluta, esses projetos participativos são facilitados por uma vontade política
de “abertura democrática:” mas, na prática não passam de experiências isoladas num
clima geral de autoritarismo, paternalismo institucional, arbitrariedades, desemprego e
fome.
poder social, político e econômico, essas experiências isoladas serão permitidas pelo
esquema de poder vigente. Mas, no momento que cresçam e desenvolvam grupos
comprometidos com transformações sociais, os projetos passam a ser uma ameaça
contra esse poder. Indubitavelmente, e muito fácil acabar com experiências isoladas.
Problemas teóricos
Seguindo as idéias de Justa Espeleta (1986) chama a atenção nos projetos de pesquisa
participante, a linguagem. Uma linguagem que pretende denominar a realidade de
“outro” modo e que procura constituir-se ao mesmo tempo em linguagem crítica.
Este “outro” modo um modo diferente daquele utilizado pela ciência social dominante.
Trata-se, em geral, de uma linguagem com claras conotações marxistas. Mas, muitas
vezes, o material produzido apresenta serias ambigüidades nos conceitos utilizados. Por
exemplo, “transformação da realidade” pode ser usado tanto para falar da mudança de
hábitos alimentares de um grupo, como para designar um fenômeno cognitivo referente
a sujeitos individuais; “transformação’ aparece também freqüentemente como sinônimo
de “mudança social”; relações sociais” e usado para falar de interação; “classe social”
tem uma infinidade de acepções; a relação “sujeito-objeto” - categoria da epistemologia
- refere-se habitualmente a uma interação entre pessoas. Por outro lado, ‘construção
do
conhecimento” pode referir-se tanto i gênese da teoria como a síntese que o pesquisador
chegava fazer de alguns saberes populares; ‘pesquisa”, enfim, pode ser permutada por
método ou por técnicas.
Essas e outras confusões surgem porque, na prática, a pesquisa participante esta mais
voltada à solução de problemas imediatos, com recursos a nível local.
Lamentavelmente, o pesquisador esquece a teoria e cai num perigoso a-teorismo.
Devemos lembrar que a teoria social esta sempre vinculada a processos históricos e que
não se pode enfrentar a realidade sem uma perspectiva que permita visualizá-la e defini-
la.
Conseqüência dessa falta de teorização surge, por exemplo, uma séria confusão entre
observação participante e pesquisa participante. Existem muitos especialistas em
pesquisa participante que sugerem que dita pesquisa deveria expressar a conjunção da
observação participante com a participação em pesquisa. Nestes momentos devemos
fazer referência a dois grandes pensadores: Malinowski e Marx. Bronislaw Malinowski,
antropólogo inglês (1884-1942) foi o elaborador da observação participante que o levou
a uma teoria, o funcionalismo. Karl Marx, foi quem introduziu a dimensão política para
o uso da ou a participação da pesquisa. Não podemos negar que a observação
participante e a única técnica que possibilita a interação entre o pesquisador e os
sujeitos, permitindo uma abordagem pessoal. Mas, quando Malinowski procurava
compreender as sociedades primitivas estava satisfazendo uma necessidade do Império
Britânico para ajustar a sua administração, no sentido de consolidar a dominação
política e econômica. Como afirma Espeleta. “o saber de Malinowski um saber que se
imbrica numa necessidade histórica de dominação. Um saber não só útil, senão
necessário ao poder’’ Pelo contrário, como já se sabe, Marx opta pela perspectiva
histórica dos explorados.
Devemos lembrar que os cientistas sociais da América Latina, como produto de alguns
sucessos e muitos fracassos e repressões aos movimentos populares da década de 60,
começaram a questionar politicamente o trabalho do cientista social; questionam os
aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos da pesquisa e da ciência
convencional; e procuram alternativas de compreensão da realidade social.
Ao longo deste trabalho, diversos críticas à ciência convencional tem sido feitas:- a
definição, aos aspectos epistemológicos, aos aspectos teóricos, à metodologia, técnicas e
outros. Logo a seguir, tentar-se-á descrever alguns aspectos fundamentais da ciência que
deve orientar a pesquisa alternativa.
Neste ponto, cabe destacar o pensamento de Álvaro Vieira Pinto(1985) com relação à
produção do conhecimento. Não se pode partir de “eu penso”, idéia intemporal
metafísica,relativa a um ‘‘eu’’ que não e ninguém, que não esta situado no tempo e no
espaço, mas do fato histórico, social, objetivo de que “nós pensamos. Este nós, colocado
na origem da reflexão gnosiológica representa o abandono das especulaç ões metafísicas.
Com efeito, ao reconhecer na origem da teoria do conhecimento um “nós’’, não um
“eu’’, parte-se de uma situação objetiva, de um fato concreto e social que fixa e
qualifica a posição de cada individuo num processo histórico. O “nós” implica a
inclusão do individuo num processo objetivo, exterior a ele e a qualquer outro homem,
cuja validade não precisa de confirmação, porque o próprio homem e a confirmação
dele. A existência histórica do individuo, é conhecida e fornece o ponto de partida para
o raciocínio que procura entender o conhecimento, não por uma evidência interior, mas
por uma experiência exterior, social e histórica. O individuo pode ignorar o processo
histórico, mas o processo histórico não ignora a ele, esse processo que contribui à
formação cultural do homem, pela qual se pode questionar, interpretar e transformar a
realidade social a que pertence. Assim, o conhecimento deve ser construído partindo
não da subjetividade humana, mas da objetividade, da existência concreta do mundo em
transformação permanente. O individuo cria a própria consciência no âmbito de uma
consciência social que o envolve, antecede e condiciona.
Após das reflexões feitas anteriormente, vale a pena formular alguns princípios que se
identificam com as bases científicas da pesquisa alternativa:-
2º - Considerar o fenômeno social como algo determinado pelas classes sociais e pelas
estruturas.
De que participa? Participa da produção material em uma realidade total com relações
sociais que caracterizam as classes de uma determinada formação social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
GAJARDO, Marcela. Pesquisa Participante na America Latina, São Paulo, Brasiliense,
1986