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FRANCA
2006
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FRANCA
2006
3
ABSTRACT: The present synopsis is intended to exam the historical and structural
facts that allowed the accented development of political “personalismo” in Brazilian
politic, analyzing the clientelism structure, starting from patriarchal families to the
development of “coronelismo”. Understanding the phenomenon of communication of
masses in a society which is in constant modernization, impregnated of the influence of
media, by means of your influence in “personalismo” in the contemporary society,
analyzed through the figure and trajectory of Antônio Carlos Magalhães in politics and in
his political actions by the myth of “baianidade” associated with “carlismo” and by the
application of the modernizing project of tourism and culture in Bahia inserted in this
new reality. The results of the present study indicate the permanence of “personalismo”
in Brazilian politics inserted in a clientelism net which compromises the institutional
politic participation and is powered by the association with media and politics,
uncharacterizing the complete development of democracy and citizenship in the country
by the concentration and utilization of communication’s enterprises for politics causes,
reaffirming the existence of “personalismo”.
In memorem
Rosane Maia
Marcela
Irmão ...
Corinto Maia
Corinaldo
Lira
5
Agradecimentos
À minha mãinha, Eclelisia da Silva Matos, pois sempre encheu nossa estante de
livros onde pude mergulhar e conhecer os mundos dentro dos mundos nos mundos
diversos de onde nunca mais saí, a não ser é claro para pisar, de vês em quando, o
chão de uma realidade sistêmica. A toda minha família estendida sobre o Brasil, em
Iguaí, Botuporã, Vitória da Conquista, Salvador, Jequié, Rio de Janeiro, São Paulo,
Barueri, Itapevi, São Carlos e Suíça. Em especial a meus irmãos Rosene Matos do
Santos, Ricardo e família; Simone Matos da Silva, Carlos e família; Alexandre da Silva
Matos Maia, Washington Luis Maia e família, Godofredo Maia e família, Aier da
Conceição Maia e família, Paulo Eduardo Maia e família, Jean Carlos Maia e familia, Isa
Bruna da Conceição Maia, Eva Bruna da Conceição Maia, Norma Bruna da Conceição
Maia, Paulo Rodrigues da Conceição Costa, ao Janir esposo de mainha. Nena esposa
de painho. À Janaína que sempre será minha rainha dos mares. A todos os meus
sobrinhos, Alana, Alam, Ana, Bianca, Camila, Elielton, Everton, Guilherme, Hagatha,
Keyse, Letícia, Paulinho, Paulinha. Aos meus tios Antonio e família, Amália e família,
Conquista, Miguel, Miguel Junior, Neinha, Niniha, Michele, Henrique e Tatiana. (Parece
uma grande família patriarcal, mas não, é uma Grande Família). À minha primeira e
grande república ou seria “res pública” integrada por Adriano, vulgo Bozo; Carlos, vulgo
Pupa; Carlos, vulgo Robts e ao integrante de ultima hora Ulisses, vulgo Pelegásso. Aos
Marcelo, Roger; Thiago, vulgo Carneiro; Rodrigo e Renã. E a minha ultima república
integrada pelos meus amigos e psicólogos Rafael e sua noiva Carol, Fabio e sua noiva.
6
Aos amigos Lília e Layner que sempre me receberam em sua casa para longas
a história começa depois dos quarenta, então a primeira sempre será melhor.
arrivé
7
EPÍGRAFE
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................08
BRASILEIRA.........................................................................................................11
CONCLUSÃO.......................................................................................................66
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................74
9
INTRODUÇÃO
gastado, em demasia, sua pena, com o pobre defunto do Homem Cordial. Cassiano
patriarcal e exposto por Sérgio Buarque. Cassiano Ricardo argumentou que: “a única
mostrou que: ”o brasileiro fazia uso de uma técnica de bondade”.1 Vamos ressuscitar o
defunto, mas antes é preciso encontrar seu rastro na História, pois, o fantasma sempre
prato da balança que está ao lado das elites oligárquicas, senão ao menos os
detentores do capital e do poder, a nata do vinho podre que virou vinagre, comprado
1
Tanto a resposta de Sérgio Buarque como o texto de Cassiano Ricardo – “Variações sobre o Homem Cordial”
Colégio, n.2, São Paulo, julho de 1948, foram incluídos como apêndice a partir da terceira edição de Raízes do
Brasil.
10
moderna, ganha visibilidade e sacia sua vaidade nas paginas dos jornais e na tela da
TV . O publico aplaude, mas desconfia, tarde demais. Ora, nunca é tão tarde ainda,
nosso guia nessa façanha nos meandros da política brasileira. A família patriarcal, na
sua manjedoura impudica dará nosso homem cordial, talvez o malandro seja mais
charmoso, versão popular desse oligarca hierárquico. Nos currais do voto de cabresto
nosso herói sem nenhum caráter, era coronel da guarda nacional, depois virou coronel
empobrecido na poeira do sertão, trocou votos por favores para manter a pompa
oligarca desnudada. O Estado Novo centralizou uma figura pública, árbitro no jogo de
função de seu equilíbrio no poder, provocando rupturas nos rearranjos das estruturas
clientela, possuindo cada uma, um átimo sustentador. O resto já foi dito acima.
anos, mito, talvez não seja mais, desmascarado por sua própria produção. A Bahia se
sobrepõe a ACM, ou será Antonio Carlos Magalhães. O nome que virou, sigla, a sigla
que virou, mito, o mito que virou, gente, ou como diz o poeta, gente é outra alegria.
Porque o palco armado do seu conglomerado midiático, subiu o pano no final de seu
11
baianidade possa ser dês-contaminada e revelar uma brasilidade, talvez até uma
enfim, o texto não vai tão longe assim, não tem essa pretensão, é uma simples análise
política brasileira.
13
portanto uma extensa base de fermentação e incubação para o personalismo. Por isso
ibérica, mas dentro de uma gama maior de relações que será trabalhado e apresentado
no decorrer do trabalho.
2
Tanto Sérgio Buarque de Holanda (HOLANDA,1956) quanto Gilberto Freyre (FREYRE, 1994) abordam o tema do
patriarcalismo, entretanto para Sérgio Buarque, essa nossa tradição patriarcal é responsável pela invasão do público
pelo privado, enquanto para Gilberto Freyre o patriarcado é visto de maneira positiva, socialmente integrada e
economicamente justa.
14
Para tanto faremos uso da noção de tipo ideal, teorizado por Max Weber3,
Para Weber o interesse está na experiência e não na vivência dos sujeitos, não o
de uma diversidade de sujeitos que estejam inseridos num mesmo contexto, onde será
É importante frisar que a busca e o uso do tipo ideal é importante, pois não é
permite que através dessa ferramenta se possa operar no rastro de elementos causais.
Portanto, quando Weber nos mostra que a compreensão não diz respeito às
personalidades dos agentes e sim às suas ações, fica claro que é nas repetições das
ações dos indivíduos que encontramos uma possível formatação de tipo ideal. Não está
3
WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais.: in COHN, Gabriel (Org.) Max Weber.
Sociologia. São Paulo: Ática, 1977, p. 79-127.
15
análise.
ideal”, temos que ter em mente que não se trata das personalidades de um modo
Agora que delimitamos nossa noção de tipo ideal como personalismo político, é
No Brasil quem melhor trabalhou o conceito, ou melhor, sua origem, foi Sérgio
constituição e formação de nosso povo, que sugerissem pistas para esclarecer a frágil
que tem sua mais profunda representação em nossa gente. O caldeirão propulsor
desse “tipo humano” foi o ambiente familiar, senão a própria família, suas raízes se
“família tipo primitivo”.6 Onde a figura do pai surge poderosa, centralizando o comando
4
OTTIMANN, Goetz. Cidadania Mediada: Processos de democratização da política municipal no Brasil , in:
Novos Estudos, CEBRAP.74, março 2006, p.157.Disponível em <http://scielo.br/pdf/nec/n74/29645.pdf>. Acessado
em: 11de setembro de 2006.
5
HOLADA, S.B., Raízes do Brasil. São Paulo: Livraria José Olimpio Editora, Rio de Janeiro, 1956.
6
Ibid., p. 207
16
exercita-se uma esfera “pública”, entenda-se por isso que é no domínio da família que
ocorre toda atuação dos indivíduos dentro das “relações sociais”, em um primeiro
ambiente recluso situado na esfera da família. É claro que essa família primitiva, aqui
nua, que oferecia as condições, devido a vastas porções de terras, para se desenvolver
uma composição social calcada nos valores da família, que entre nós é, talvez, único
estão em vias de estruturarem esse mesmo Estado. Assim como nas famílias, as
sem dúvida, o alimento que embasou a estruturação de uma sociedade que vai elevar o
p.17), desse modo, a colonização nos logrou o personalismo como agente mistificador
relação aos demais. Essa cultura se enraizará na formação da família brasileira, até
sua própria afirmação diante dos outros. Desse modo, suas relações estarão baseadas
bem comum, mas sim através de uma hierarquia da personalidade, onde as relações
dos indivíduos se dão mediante suas personalidades, ou seja, o que elas representam,
presidindo os destinos dos indivíduos e atuando sobre eles, torna-se impossível diante
dos valores pessoais, onde impera os laços concretos, numa relação entre pessoas,
com suas idiossincrasias, vontades e gostos. Por isso, ao não se desligaram desses
laços, que para eles eram mais importantes, os indivíduos só poderiam se associar a
a nossa vida política, o personalismo se imbricando nas relações políticas, que numa
19
que deveria ocorrer em uma democracia, essa herança personalista, por vezes, nos
comum, dentro dessa nova composição, serão reorientadas para o campo da rivalidade
confundir o espaço público com o privado. Para fora do ambiente familiar, esse
indivíduo uma ligação, mais “frouxa”, com o mundo e as outras pessoas, dentro de
sujeito se aproxima dos outros numa ligação concreta, minimizando ou mesmo excluído
7
Ibid., p. 66
8
Ibid., p. 209
20
emoção diante da razão. Personaliza a relação que é a priori social. Não se trata
âmbito social, a ele importa antes de tudo o sentimento, apelo constante ao íntimo, daí
superficialidade, mais atento à forma exterior para romper a barreira da ordem, almeja o
espetáculo no ritual religioso, que para ele é a pompa dos encontros de domingo, o
casa e enfrentar o lugar de todos, vivenciar o mundo fora da base familiar; mas ao sair
ambiente público o transforma, de maneira que o confunde com seu mundo dentro da
política dissimulada, pois sua bondade envolvente é uma técnica provida de capital
personalismo político é a própria atitude do homem cordial na sua maneira de lidar com
21
o outro dentro da esfera pública e tratar as coisas públicas, trazendo para o particular e
abstrata.
concretas que ligam pessoa a pessoa, provocando uma atrofia das organizações
9
Ibid., p. 271
10
Ibid., p. 207
22
dominantes da sociedade.
personalismo político, que é sua mais profunda atuação, ganhará novos rumos, em
tempos que, a sociedade estará, cada vez mais, sob a influência da comunicação de
massas. “Parece que o Homem Cordial ainda respira, apesar de Sérgio Buarque ter
já ter gasto muita cera com esse pobre defunto". (NOVAIS, 1995)11
administrativos brasileiros, um organismo que, por isso mesmo, terá uma dimensão
essa a herança política que nos foi legada, sua presença pode ser reconhecida até
clientelismo12.
11
NOVAIS, Fernando. De volta ao homem cordial. São Paulo, Folha de São Paulo, jornal de resenhas: Tendências e
Debates, 1 de maio 1995, p. 2.
12
In: CARVALHO, Jose Murilo de. Mandonismo, coronelismo, Clientelismo: uma discussão conceitual. Pontes &
Bordados: Escritos de História. BH. UFMG, 1999, p. 134. Usamos o conceito de clientelismo apresentado neste
artigo, para se afastar das confusões que sugerem a literatura política. Então clientelismo está delimitado enquanto às
“relações entre atores políticos, que envolve concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, vantagens
fiscais, isenções, em troca de apoio político, sobretudo na forma de voto”.
23
denominado coronelismo13.
transmissão por herança dos nichos de poder. Essa transmissão não estava
da República, que perpassavam idéias liberais, tinha por interesse anular esse
a permanência dos antigos chefes políticos, e estes continuaram a eleger, tanto para as
governo dos Estados, seus parentes, aliados e seus protegidos. “O coronelismo seria
uma forma de adaptação entre o poder privado e um regime político de extensa base
demanda, ou seja, ocorre uma troca mediada pelos interesses. Se por um lado o poder
13
LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo Enxada e voto. São Paulo, Alfa e Omega, 1976, p. 19
24
professora primária.
partidária, o que gerou a troca, de um lado o Estado que fornecia a política e do outro
poder local em um coronel ou uma coligação de coronéis onde despontava uma figura
Guarda Nacional e por isso a nomenclatura coronel, é medido pela quantidade de votos
coronéis baianos em 1932 , mas não de todo, no norte da Bahia ainda se encontravam
Estado.
Assim é que o populismo surge como expressão do poder político nos anos de
classes populares e, por outro lado, a decadência política dos grupos dominantes
1930 que gerou uma crise política e econômica e, através desta mesma crise, foi
15
QUEIROZ, 1977, p. 187
26
É importante ter em mente que, nesse momento, o país caminhava para uma
importante, sua inclusão no jogo político e, isso foi perceptível a setores dominantes.
cenário político, onde as massas se tornam cada vez mais parte da vida política.
brasileira, representam uma singular fonte social de poder para o governante e até
urbanas serão suas aliadas, porém o chefe de Estado irá controlar as aspirações e
representações das massas nesse jogo. Como árbitro, é necessário fazer um jogo de
maior apoio popular. Quase todos os chefes políticos, entre 1930 e 1964 irão se guiar
expressão de uma longa crise agrária, da dependência social dos grupos de classe
pressão popular. A dependência das massas e sua debilidade como classe, sua
fragmentação, são empecilhos para que assumam por si, enquanto classe, as
16
WEFFORT, Francisco Correia, O populismo na política Brasileira. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1980. p. 61.
27
sua habilidade de árbitro, por outro, sua manipulação personalista estará cerceada pela
A identificação das massas com uma figura pública, não ocorre de maneira
de outra classe.
classes em formação, são capitaneados para o jogo político como força política de
barganha. Onde as pressões que estas exercem tem importante impacto nas políticas e
nas decisões.
Amoldados em uma realidade, onde participam do jogo político, porém sem intervenção
direta, mas impulsionados pelos ditames de uma lógica de contrapeso político. Assim,
mesmo após 1945, dentro de um ambiente eleitoral que é por excelência o campo da
corpo social alocado em uma classe. “Pelo contrário, na ausência de partidos eficientes,
mobilização política, tanto por sua fragilidade estrutural como por sua credibilidade.
instalação de uma estrutura corporativa. Assim, no período entre 1945 a 1964 e após
1979, o sistema partidário foi institucionalizado de forma precária, portanto, para criar
corpo teria que dominar parcelas de poder no interesse de repartir seus despojos entre
sua clientela19.
Segundo Souza (1976, p. 36), poderíamos observar que, ao contrário, quando o Estado
19
SOUSA, Maria do Carmo Carvalho Campello de. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 a 1964). São Paulo:
Alfa e Omega, 1976. p. 32.
30
como foi erigido, tendo como base uma esteira clientelística de sobrevivência e o
públicos para uso político na geração de poder e, com isso se consolidar como
aumentando com isso seu controle e utilização dos recursos públicos, enquanto que o
20
Ibid., p. 35-36
31
realidade política brasileira, que se assenta na prática das trocas de favores onde é
figura carismática, que tenha aceitação pública, que ativa a rede clientelística e é
como em atender e dialogar com a teia clientelística. Sua reinvenção pública está
CEDEC/Data Folha/USP, verificou que “86% (1989) e 89% (1990) dos entrevistados
público.
uma indústria cultural21. Essa particularidade de sua estruturação pode ser percebida
como um sistema de mídias que, além de ser um corpo político com grande poder de
da atualidade brasileira.
“substâncias não vividas”, ou seja, introduzem na cena política ocorrências que não se
21
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Democracia, cultura e comunicação. In: Cadernos do Ceas. Salvador,
(100):56-62, novembro - dezembro de 1985.
33
luta política. Dessa maneira, cria-se toda uma confluência de informações produzidas à
tecidas pelas redes midiáticas que ligam e relacionam o corpo social. É nesse novo
campo de embate que acontece grande parte da disputa política, mediante o confronto
dos imaginários, dos ideários e das imagens dos atores públicos. A personalidade aqui,
nas possíveis identificações que, através da comunicação, possam causar nos variados
22
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Mídia e Política no Brasil, João Pessoa: Editora
Universitária, 1999. passim
34
toda a esfera da sociedade, como um sistema ordenado onde cada elemento possui
meios de comunicação, por ser um organismo moderno para essas manifestações. Mas
por meio da mídia. O CR-P então se constrói em uma sociedade, intermediada, através
dos medias, em que participam o Estado, a esfera pública, a sociedade civil e o próprio
corpo midiático.
23
LIMA, Venício. Televisão e poder: a hipótese do ‘cenário de representação da política’. Comunicação & Política,
Rio de Janeiro, n.s., v1, numero 1, 1994. p. 5-22
35
hegemonia está o conceito de Bloco Histórico, que seria um conjunto de fatores que
O Bloco Histórico deve ser entendido como o ponto de partida de uma análise
da maneira como um sistema de valores culturais (ideologia) impregna, penetra,
socializa e integra um sistema social. Um sistema social só se integra quando
se edifica um sistema hegemônico, dirigido por uma classe fundamental que
confia a gestão aos intelectuais. Realisa-se aí um Bloco Histórico [...] Só esta
concepção do Bloco Histórico permite captar, em realidade social, a unidade
orgânica da estrutura e superestrutura. (PORTELLI, 1977, p. 43.)
midiatização. A mídia, assim, pode ser mais bem entendida, como uma parte que
integra o bloco de poder e não como uma instituição à parte, com característica política
perceptível até mesmo por meio do papel ampliado que exerce, que não é somente de
24
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p.
10.
25
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o Bloco Histórico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 33
36
coerção, também é exercido como direção. E este uso, está atrelado à necessidade de
da mídia.
La Marseillaise
referido a partir de agora por ACM), seu personalismo e sua truculência, bem como, o
o relacionar ao conjunto da sociedade estadual, fonte e base de sua força política. “Eu
me julgo poderoso pelo prestigio que tenho na Bahia. Eu me julgo poderoso pelo que
sou, pelos amigos que tenho na bancada baiana. Temos uma bancada de 24
deputados federais de amigos meus, muitos deles eleitos com meu apoio [...] o baiano
fazer uma incursão na sua trajetória política, onde serão destacados alguns pontos
eleito deputado estadual pela UDN, torna-se-á em seguida líder da banca udenista. É
importante salientar que a UDN como o PSD e PTB eram partidos organizados de cima
da participação política.
Mas sua emergência política já se costurava nos anos de 1940, além de ter
26
MAGALHÃES, Antonio Carlos. Política é paixão (entrevista). Rio de Janeiro: Revan, 1995. Entrevista concedida
aos jornalistas Ancelmo Góis, Marcelo pontes, Mauricio Dias, Miriam Leitão e Rui Xavier em janeiro de 1995.
39
baiana, como Juracy Magalhães e Odorico Tavares. Este ultimo, influente, pois dirigia
na Bahia, a rede dos Diários Associados; Odorico Tavares adicionou ACM como “foca”
Legislativa da Bahia, onde intensificou suas aproximações, tanto com políticos quanto
com a prática política. Já nesse momento ensaiava sua liderança, incisiva de tipo
mandonista: ”Mesmo sem ser deputado, eu comandava a bancada da UDN. Tinha mais
prestígio que muitos deputados. Saía com eles para almoçar, para jantar combinava
tudo com eles antes das sessões, dizia “façam isso, façam aquilo” (Magalhães, 1995, p.
55)
modernizando. Tão importante que o fará, futuramente, montar sua própria rede de
Corrêa: “[...] ACM é de longe, o político brasileiro que melhor trafica com a moeda de
mais alta cotação nesse mercado, a única universalmente valida para comprar espaço
na imprensa ano após ano, regime após regime. Essa moeda é a notícia” (Magalhães,
27
A idéia de amizade de resultados é trabalhada como uma percepção, em que se identifica quem detenha o poder e
sua rede hierarquizada, para cooptá-los agregando a uma rede personalizada de relações, como forma “relacional” da
pratica política: em ALMEIDA, Gilberto Wildberger de. Política e Mídia na Bahia: com ênfase na trajetória de
Antonio Carlos Magalhães. Salvador: FACOM/UFBA, 2000. P. 67. Essa análise é relacionada à interpretação de
malandragem em, MATTA, Roberto da. Carnavais, Malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.
Rio de Janeiro, Zahar, 1979. Aqui, em consonância a essa relação, sugiro como uma evolução do homem cordial.
40
Diário Oficial de 24 de janeiro de 1975, na qual ACM está junto a Dodô e Osmar, Góes
(1982, p. 82) assinala “[...] Antonio Carlos Magalhães não costuma perder oportunidade
Magalhães e este lhe transferiu parte de seu capital político, não obstante sua eleição
em 1954 só foi possível por intermédio dessa associação. Entre os anos 1930 a 1940, o
deputado Magalhães Neto, pai de ACM, travou conhecimento com Juracy Magalhães e
com este desenvolveu vigorosa amizade. Parte desse capital político já é resultado de
Magalhães Neto.
rede de relações com grupos de pessoas que possam capitanear votos em diversas
tradicionais da oligarquia baiana como J.J. Seabra, Simões Filho, Pedro Lago, Góes
28
BOURDIEU, Pierre. A economia das Trocas Simbólicas. São Paulo, Perspectiva – Novos Estudos, 1974. passim
41
suma era a razão de ser e viver destas elites e não o fato de Juracy ter vindo de fora,
haja vista ter ele sua origem no Ceará. Formaram, por isso, o Partido Autonomista
Velha”, logo percebeu que não encontraria apoio político na oligarquia local, teve
quem tem ou está no poder, foi criar base política no interior procurando o médico do
lugar, o advogado, enfim a pessoa que liderava a política municipal para em torno dela
os cantos do estado, que foi inundar o palácio do Governo. “Em cada município, duas
molde a política funciona como um projeto pessoal, e sua realização está em apoiar
29
MAGALHAES, Juracy. Minhas memórias provisórias. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1981, P. 80.
(Depoimento prestado ao CPDOC).
42
dos chefes locais em seus municípios. Com isso, pôde realizar a convenção, em janeiro
representantes dos 151 municípios, que reuniu 346 delegados. A composição da mesa
diretora teve em seus quadros, membros do regime deposto pela revolução de 1930, do
deputados.
A mesma tática será usada por ACM quando foi alçado ao governo do Estado
administrativo do Estado nas sedes das micro regiões, por um período de uma semana.
Logo após publicar seu plano de governo, em maio de 1971, o governador transladou-
se, juntamente com todo o corpo do secretariado, para à micro região do sul do Estado
de onde governou por uma semana o Estado da Bahia. Além da visibilidade promovida
governador. A estratégia resultou em grandes dividendos políticos, pois, por mais que a
comitiva não tenha realizado grandes obras no interior, a presença do Governo nas
micro regiões agregou apoio suficiente para as conquistas políticas, que foram
Já vimos que o apadrinhamento de ACM por parte de Juracy Magalhães foi sua
deputado para a Câmara Federal. Sua projeção nacional aconteceu, ainda em 1959,
gestão de 1958 a 1962. Como deputado federal ACM começou a pretender a liderança
1963 a liderança da UDN no Congresso Nacional. É nesse momento que se dá, sua
perguntou se ACM tinha conspirado em 64, respondeu: “Eu não fui conspirador. O que
fiz mais foram discursos na Câmara.” (MAGALHÃES, 1995, p. 102); mas diferente em
44
confirmou mas de maneira mais branda: “Com pessoas de menor calibre: militares
baianos e os militares, após a queda do governo João Goulart em 1964, pois Juracy
advindo das linhas militares desde a revolução de 1930, tinha livre acesso à cúpula
militar antes e depois do golpe de 1964. Dentro do novo governo foi embaixador nos
relacionamento de Juracy com o alto círculo militar foi imprescindível para os políticos
baianos como ACM e Luiz Viana Filho; este último por intermédio do próprio Juracy foi
convidado para compor o ministério do primeiro Governo Militar, onde foi Ministro Chefe
da Casa Civil. ACM procurou estreitar seu relacionamento com Luiz Viana Filho em
busca de consolidar suas relações de interesse, tanto com civis e militares, agora
dentro dos altos círculos do poder federal a fim de acumular capital simbólico para
liderança da UDN nacional, e por mediação de Luiz Viana, ACM se aproximou dos
colégio eleitoral, por membros do Congresso em votação aberta sem o voto secreto.
principal de sua sustentação política. Ainda em 1966 foi editado o AI-3, com referência
ascensão e o escalamento dos políticos ligados ao regime militar, como por exemplo,
Luis Viana que articulou para si o governo do Estado da Bahia e ACM que foi indicado
para a prefeitura de Salvador. ACM logrou êxito com sua política de amizade de
resultados para o acumulo de capital simbólico, por meio de relações cultivadas desde
1964, agora como prefeito de Salvador tratou de costurar sua escalada ao governo do
removeu favelas da orla marítima, invasões de bairros como Bico de Ferro e Ondina
foram removidas para extremos da cidade, quase sempre em ações violentas, com
estas ações ACM obteve visibilidade nos altos circulo militares. É nesse período que
sobretudo contra o Jornal da Bahia. Quando foi governador fez perseguição cerrada ao
figurava como defensor do Jornal da Bahia, seu editor chefe, o jornalista João Carlos
imprensa, perseguindo aqueles que não apresentavam uma figura positiva de sua
estadual. Sob o governo Médici, a política partidária foi confiada ao Chefe da Casa
Civil, João Leitão de Abreu, a ordem era conter a oposição e assegurar a vitória do
30
Uma abordagem mais completa sobre a perseguição ao Jornal da Bahia, ver: GOMES, João Carlos Teixeira.
Memórias das Trevas: uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães. São Paulo: Geração Editorial, 2001.
47
de 1970 ao lado de Luis Viana. Com isso conseguiu a indicação para a eleição indireta
de governador, apoiado por Luis Viana, que foi indicado para senador nas eleições de
1974.
fato de 1979 a 1996, a demanda cresceu a taxas superiores ao PIB brasileiro), era
básicos para essa indústria, pois a demanda incorria em aumento das importações
matérias primas, que são gases, é feita de maneira mais prática e simples através de
compreendem as demais empresas abaixo dessa cadeia, que geram produtos plásticos
pólos, a fim de atender a demanda no país de forma regional, o pólo de São Paulo, em
S.A. participou como acionista na maior parte das grandes empresas. Entretanto existia
uma forte corrente no país contrária aos investimentos estatais do setor petroquímico
fazem parte desse pólo empresas fisicamente distantes da petroquímica31”; essa planta
difere dos futuros projetos, pois a implantação de uma nova planta sempre tem
demanda.
31
NAKANO, Davi. Relatório Setorial final. FINEP – Rede DPP. 2006, p. 06. Disponível em : <
http://www.finep.gov.br/PortalDPP/relatorio_setorial_final/relatorio_setorial_final_impressao.asp?lst_setor=29>
49
industriais, foram barganhadas desde a gestão de Luis Viana em 1967, ele implantou a
desenvolveria tecnologia para o apoio das empresas do pólo. Luis Viana foi também
Brasília para centralizar os investimentos federais em São Paulo. Posto que, a distância
entre os pólos não cria competitividade entre as três grandes empresas de primeira
geração, uma vez que a distância provocam fidelidade de seus clientes, empresas de
segunda e terceira geração; porém essa mesma fidelidade ocasiona uma atrofia, se
32
Ver: FILHO, Luis Viana, 1984.
50
uma de suas ultimas ações, vendeu sua participação na COPENE, a matriz baiana de
matérias primas:
3% do PIB brasileiro, a maioria de seu controle está sobre mãos de capital privado
que deu forma a Braskem, criada em 16 de agosto de 2002, o que fez da Odebrech o
entre este e ACM, mas é claro que também estava em jogo a disputa pela liderança da
ARENA baiana no interior do estado. Por essa época ACM já havia cooptado, da
Delfim Neto.
ruptura com a figura que o alçou na política, suplantando-o. Permitiu a ACM associar e
projetar sua imagem à identidade baiana, como defensor dos interesses da Bahia.
ARENA baiana; Luis Viana Filho, que deixava o governo e com isso parte de sua força
52
denúncias do novo governador, vai se isolando cada vez mais no cenário político. O
nome de Luis Viana ainda estava ligado à conquista da petroquímica e isto lhe garantia
prestígio na política estadual, ACM procurou minimizar essa ligação abafando sua
era o momento decisivo para se despontar como única liderança e apagar a figura de
manteve laços privilegiados com essa nova fonte de poder, graças a esses
acumulou poder ao se aproximar do poder central durante o regime militar, e por isso
recebeu apoio dos políticos do interior e os da capital. Impôs-se aos demais como única
liderança política, a oligarquia baiana se identificou com o governo estadual e este com
o governo central. Assim o poder local estava resguardado pelo poder central,
mormente o apoio do regime militar aos chefes locais na razão direta de sua fidelidade
respectivamente como PDS e PMDB. A hegemonia construída por ACM ao longo dos
baiano. Nas eleições de 1982 conseguiu eleger para o governo estadual, o ex-prefeito
desgaste na liderança de ACM, pois era evidente a sujeição do governador a seu chefe
político, e o caso acabou de domínio público. O primeiro a romper com ACM foi Nilo
Magalhães, filho de Juracy, e Luis Viana Filho que se mantiveram no PDS e votaram
Maciel e Jorge Bornhauser, que formavam a Frente Liberal dentro do PDS. Ao saírem
novo partido era iminente, pois como um dos principais articuladores da candidatura
paulista pela invasão na política estadual baiana. Novamente lograva êxito político, em
1984 percebeu o fim do regime militar, controlava 22 votos no colégio eleitoral e poderia
traidor era o ministro que apoiava um corrupto como Maluf”.35 (o fato teve ampla
cobertura e repercussão midiática; a revista Veja chegou mesmo a sugerir, que era a
primeira vez, em 20 anos, que um civil levantava a voz contra um militar). O apoio a
ministério na futura Nova República. Desse modo manteve-se no poder, se por um lado
35
MAGALHÃES, 1995, p. 118. (nota de rodapé)
55
sempre fiel à estratégia de ser governo. E de fato quando ACM foi perguntado se
Tancredo acreditava nas “Diretas Já” ele respondeu: “O Tancredo nunca acreditou nas
A fim de compreender a atuação que ACM vem tendo nos partidos, desde a UDN
até o atual PFL, a partir de sua visão sobre os organismos partidários, procuramos
analisar sua entrevista tomada em 1995. A conclusão é que por vezes ele se torna
assunto, e de maneira geral sua análise sobre os partidos faz referência a uma relação
perguntado sobre fidelidade partidária respondeu: “[...] Fidelidade partidária, sem que
você forme partidos, fica muito complicada. Primeiro, porque você tem que fazer
partidos, porque os partidos hoje são um amontoados de políticos, não são partidos.
Falo isso muito à vontade, porque os partidos giram muito em torno de pessoas, e eu
acadêmicos. Isso tudo está superado e não diz nada ao povo. O importante são os
objetivos. O mundo está vivendo uma fase circunstancial, onde tudo isso é irrelevante
esquerda, direita, centro: “Eu acabei de dizer, não acredito nisso. Essa discussão está
repórter, responde: ”Eu prefiro ser julgado. Porque, na realidade, não me julgo, de
56
direita, não me julgo de esquerda. Eu sou um político sem rótulos, sem etiquetas,
porque acho que isso não existe, isso não está mais na cabeça de ninguém, isso já
Como já vimos acima, o apoio político a Tancredo Neves e depois a José Sarney
escolhido diante do novo cenário que se configurava, ou seja uma sociedade cada vez
mais midiatizada. O jornalista Anselmo Góis interpelou ACM sobre Tancredo: “Ele disse
que o senhor ia ser o ministro do cargo que quisesse. Disse isso mesmo?”, e ele
respondeu: “Disse isso. Depois, quiseram sabotar a minha nomeação para o ministério”
(MAGALHÃES, 1995, p. 114). Deter controle sobre a mídia, ou parte dela, significava
influir nos cenários de representação da própria atividade política. Portanto ACM foi
nomeado Ministro das Comunicações, como ministro conseguiu manter sob seu
comando parcelas dos aparelhos federais alocados na Bahia e mesmo fora dela, mas
que influíam fortemente no estado, como por exemplo a Sudene, administrada por
Paulo Souto36. Por meio dessas agências e de seus recursos pôde intervir na Bahia e
avalista.
Quando foi perguntado acerca do critério político usado nas concessões ACM foi
36
ALMEIDA, 2000, p. 448
57
técnico [...] Porque economicamente não era um bom negócio. Agora, politicamente era
político em troca de voto, o senhor acha que isso é uma coisa certa?” e ACM: “E quem
disse que houve isso?”, e depois respondeu, sob igual pergunta de Miriam Leitão: “Eu
acho. meus amigos terem concessões não é nada demais. Acho isso tão correto quanto
você trabalhar [...]” (MAGALHÃES, p. 85 -88). E veladamente fez uso político delas, em
praticadas no ministério.
Bahia assinou contrato com a TV Globo para retransmitir sua programação. Então
nebulosa, com a empresa de Roberto Marinho foi realizada em janeiro de 1987, logo
37
GÓES, 1988, p. 23
58
representava o segundo maior mercado em potencial nesse segmento, foi então que
Após isso o empresário Garnero saiu da NEC do Brasil, ao fazer um acordo que lhe
O caso rendeu uma CPI no congresso nacional, a CPI da NEC, mas não foi
emissoras de Roberto Marinho e ACM, mas a TV Bahia ganhou nos tribunais os diretos
transferência do contrato, ACM associou a transação à amizade que tinha com Roberto
Marinho:
Terminou o contrato com a TV Aratu, que até então retransmitia a Globo. Era
mais que óbvio, que no dia em que eu tivesse uma emissora de televisão na
Bahia – inauguramos em março de 85 – o Roberto Marinho, quando acabasse o
contrato da Globo com qualquer outra emissora, transferiria o direito de
retransmissão para mim. Ele é meu amigo desde 1959.(MAGALHÃES, 1995 p.
97)
edita o jornal Correio da Bahia), Gráfica Santa Helena Ltda e a Santa Helena S/A
Nos anos de 1980 ACM somou algumas derrotas dentro do estado, a transição
políticas ligadas à ditadura, maiormente pela campanha das “Diretas Já”; essa
prefeitura de Salvador em 1985 para Mario Kértesz (PMDB). em 1988 para Fernando
40
FARIAS, Edison. Ócio e negócio: Festas populares e entretenimento – Turismo no Brasil. Campinas, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, 2000, p. 312.
41
LUZ, Jane Márcia Lemos. Radio e TV na Bahia: o partido eletrônico de ACM. Salvador, FACOM/UFBA, 1997, p.
17.
60
José (PMDB), e em 1992 para Lìdice da Matta (PSDB). Mas foi em 1986, que o
carlismo amargou uma das suas maiores derrotas ao perder o governo do estado para
diretas.
arquitetada paro o retorno carlista em 1990, sua primeira eleição pelo voto direto, e
social, através do discurso da baianidade. Com efeito sua vitória nas eleições de 1990
amor” foi intensamente executado nas rádios e tvs e nos showmicios, e mostra de
42
MAGALHÃES, 1995, p. 84 e 233.
61
campanha reafirmava ainda a distinção entre ACM e seus opositores na Bahia, pois
foi re-transportado e inserido no pelourinho para titular uma de suas praças como,
decurso de seu mandato, o próprio ACM vai se tornar o exemplo mais genuíno desse
construto. O carlismo se apropria das cores baianas, utilizando suas bandeiras, para
eleitorais da confraria carlista. A possessão vai além das cores e das bandeiras do
anexados aos recursos simbólicos utilizados para dar identidade e produzir a imagem
62
ostentada pelos baianos ligada a um mito de origem que tem a “boa terra” como o
tradições, tanto das famílias e elites oligárquicas quanto do seu povo, afro-descendente
quando a Bahia estava sob o governo carlista, tem como maior idealizador Paulo
Gaudenzi44 que ressaltou a Bahia a partir de suas belezas naturais e suas tradições
alocadas no contexto da baianidade. Ele foi o principal articulador dessas políticas que
redefinição das políticas culturais na Bahia, instituiu o alicerce para a futura criação da
deste governo para uma gestão cultural mediada por fatores econômicos. Paulo Souto
governo em 1995, dando seguimento a essa política. Pulo Gaudenzi, na gestão ACM,
46
Brasil Turis Jornal. Entrevista com Paulo Gaudenzi – Operário do Turismo. Disponível em
<http://www.brasilturisjornal.com.br/site.cfm?tp=WL&cg=ENTRE¬icia=5213>. Acessado em 21/09/2005.
64
nos anos 50-60 e detalhada nos 60-70, que define para Salvador um papel de
cidade voltada para o turismo e lazer. Este discurso foi um discurso oficial muito
veiculado nos anos 70. Quem analisou os planos e projetos sabe que ele é um
discurso de governo, por isso a orla e o centro Histórico sempre foram
localidades privilegiadas para os investimentos do estado, visando o binômio
turismo/lazer, em Salvador. Esta estratégia foi adredemente teorizada e
planejada pelo governo estadual, e inclui o setor produtivo industrial moderno
que deveria ficar como ficou, fora de Salvador. Refiro-me ao Centro industrial de
Aratu – Cia e ao Complexo Petroquímico de Camaçari – COPEC. Assim, o que
o estado fez e faz hoje no Pelourinho responde a um movimento de idéias que,
a rigor, se inicia nos anos 30, na semana de Urbanismo, quando já ali se
observa claramente que as elites intelectuais, econômicas e os meios
responsáveis pela formação de opinião, mesmo que de forma embrionária,
anteviam um vir a ser para Salvador e sua região não muito distante do que se
observa hoje47.
tamanha capacidade turístico cultural, vitimou a sociedade local do bairro. Mesmo hoje,
população junto aos órgãos jurídicos, nas ações judiciais contra a administração
pública. O custo social na implantação do projeto foi vultoso, mas não estavam
47
A apresentação do arquiteto Antonio Heliodorio Sampaio, está disponível em:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=k478387308>. Acessado em: 23/05/06
65
ligada, além das políticas culturais e turísticas, ao seu império midiático. Em princípio a
TV Bahia e posteriormente toda a Rede Bahia que congrega quase todas as emissoras
essa associação.
como por exemplo o Projeto Verão iniciado em 1992. A repercussão obtida com esses
48
O depoimento de João Jorge Rodrigues, está disponível em:
<http://www.cult.ufba.br/arquivos/Politicas_Culturais_da_Bahia_Cesar_Borges_e_Paulo_Souto_Gi%E2%80%A6.p
df>. Acessado em : 04/05/06.
66
sobretudo pelos não baianos. O que significa um construto para consumo em escala
nacional.
tempo em que aglutinou forças e interesses diversos em seu entorno, percebe-se uma
Conclusão
ideário da baianidade, por isso acumulou poder, que por isso mesmo tem repercussão
nacional. E não como questionara Maria Inês Nassif, em um artigo intitulado “ACM as
manda na Bahia porque tem poder nacional, ou tem poder nacional porque é o rei da
Bahia?”.49 Não é rei da Bahia e não manda nela (ou sua corte provavelmente esteja se
baiana, pela necessidade da rede de clientela necessitar e erigir uma figura central que
possa concentrar poder para distribuir as benesses do Estado. Assim o foi no inicio o
das classes sociais em constante formação e reformação. Por isso o vício constante, na
política brasileira, do personalismo. Todos representantes que foram, PTB, PSD, UDN,
superestrutura na esfera cultural, sua rede artificiosa na busca pelo poder hegemônico
Estado, como bloco de poder. Mas, por mais que, controlem as instâncias midiáticas e
econômicas, facilitando sua perpetuação, ainda está em aberto a luta hegemônica. Pois
carreira se embrenhou nas amarras do poder e atou o nó que o ligou ao núcleo central,
momento em que é apropriada para a produção de valor para os capitais locais, pela
ação dos capitais locais liderados por ACM e o empresariado baiano, produzem
de valor na sociedade atual. O turismo faz aquilo que realmente lhe importa, recompor
culturais que significam, apenas do ponto de vista formal, o resgate cultural afro-
O que não faltam são exemplos de famílias oligarcas que sob o império da
comunicação, atados aos nós dos privilégios ligados ao poder do Estado, prorrogam
sua dominação. No maranhão o clã Sarney, que controla o estado há quarenta anos,
Lucien Febvre, que analisou a dominação ideológica da Igreja Católica sobre a Europa
Ocidental, “O nascimento, a morte. Entre esses dois limites, tudo que o homem realiza,
vivendo normalmente, fica com a marca da religião”, emendou: “se Febvre vivesse no
Maranhão, trocaria a religião pela família Sarney”.51 Podemos fazer a mesma relação
50
Parágrafo redigido a partir de um dialogo travado em 08 de novembro de 2006, com o Prf° Dr° Moacir Gigante, da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- Faculdade de História Direito e Serviço Social - Campus
Franca.
51
VILLA, Marco Antonio. A crise política e o coronelismo. São Paulo, Folha de São Paulo: Tendências e Debates, 04
de outubro 2005.
71
Neste contexto ACM e seus herdeiros parecem que vão ter uma vida política
longa, pois a classe dominante, e que portanto se sobrepõem, são aquelas que detêm
os poderes reais na sociedade. Por enquanto ACM tem poder de fato, mas parece estar
se esgotando, entretanto seu poder real está baseado na “indústria” do turismo, que foi
erigida a partir de uma base de clientela que lhe proporcionou poder para a partilha.
Pela natureza de seu poder, ACM e o carlismo permanecerão por tempos no imaginário
e na estrutura social.
grupo e a política baiana tem dado espaço a uma nova estrutura em transição, onde
carlista, que elegeram no pleito de 2002 vinte e dois deputados federais. A oposição
futura nova, rede de clientela, mas é notório o enfraquecimento carlista a partir de 1989.
Com efeito, nas eleições de 2006 para o governo do estado baiano, contrariando
carlista Paulo Souto com 50% das intenções de voto, à frente do candidato petista
Jacques Wagner com 28%53. A vitória de Jacques Wagner no primeiro turno, por
mostrar o porquê deste intercurso nos números do universo político. A reação de ACM
em 03 de outubro de 2006:
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, seria, sem dúvida, um discurso difícil o
que vou pronunciar, não tivesse eu a coragem que o tempo tem mostrado que
tenho e a experiência de 50 anos de vida pública. Isso me dá autoridade para
discorrer aqui sobre as eleições no Brasil e, em particular, em primeiro lugar, na
Bahia. Devo dizer a V. Exª que o Senhor Presidente Lula venceu na Bahia
surpreendentemente o Governo, levando também um Senador que jamais seria
eleito normalmente, mas por ter abandonado o seu partido e por ter feito
52
NETO, Paulo Fabio Dantas. Carlismo e Oposição na Bahia Pós-Carlista. Disponível em:
<http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obed003j.html-9k Acessado em: 05/06/2006
53
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http://www.voxpopuli.com.br/eleicoes_2006/estadual/ba2006-136r02.pdf>. Acessado em 07/11/06
54
Números oficiais TRE-Bahia. Disponível em : <htpp://www.tre-
ba.gov.br/eleicao2006/1turno/index.php?opcao=estado >. Acessado em: 07/11/06
73
discurso também é o mesmo, o amor à Bahia, o carlismo, seu personalismo, sua altivez
desastre. Talvez o carlismo seja seu amor à Bahia, amor que não pretende altruísta,
mas egoísta e vaidoso. ACM continua contraditório, primeiro ele reconhece a derrota
em uníssono cantavam palavras de ordem contra o carlismo; por ter sido uma
que a história se repete, ao menos é o que flui no domínio popular, e nas filosofias da
História que a tem como cíclica em espiral cônico. ACM afirma em seu discurso
veemente, acima, que o carlismo voltará triunfal à Bahia daqui a quatro anos, no
próximo pleito eleitoral para o governo do estado, como em 1986 na eleição de Waldir
turístico cultural midiatizado”, aqui (e agora) é uma incógnita, talvez o ator esteja
política. A História submerge agora para emergir, quando o evento for naufragado em
seus oceanos e mares de passado, aí o compreenderá, pois, estará sob seus domínios.
de Antonio Carlos Magalhães por ser um monstro mitológico” e com efeito ACM é uma
personagem criada no país um pouco à sua revelia. O monstro mitológico talvez esteja
coroa de louros usurpada e possuída, for desfolhada e correr o vento aos quatro cantos
da Bahia, ACM será despido, expondo “o cabeça branca57”, revelando Antonio Carlos
Magalhães, o “Cordial”.
BIBLIOGRAFIA
57
Foram veiculados na mídia baiana, com vistas a inundar o imaginário popular por alusões a Antonio Carlos
Magalhães, epítetos como “Toninho ternura” para abafar “Toninho malvadeza” uma de suas primeiras alcunhas. “O
cabeça branca”, que remete a uma figura paterna anciã, ou “pai(inho) da Bahia”. Se de fato a tradição da baianidade
mostra uma família patriarcal na sociedade baiana, a alusão aqui e para o caracterizar como o patriarca dessa grande
família.
75
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78
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