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638/2007
– E O IMPACTO NO ENSINO DE CONTABILIDADE
cleideclimaco@gmail.com
Resumo
Este artigo busca decifrar as principais implicações da alteração da Lei das Sociedades Anônimas (Lei n.º
6404/76), trazidas pela Lei n.º 11638/2007, ao ensino da Contabilidade no Brasil, bem como para o exercício
profissional do Contador.
1. Introdução
A lei 11638/07, promulgada em 28 de dezembro de 2007 que entrou em vigor em
primeiro de janeiro de 2008 que altera e introduz novos dispositivos a lei das sociedades por
ações (lei nº 6404/76), cujo principal objetivo é a alteração das regras contábeis. As principais
alterações sofridas pela Lei das Sociedades Anônimas (também aplicável às demais
sociedades constituídas em território nacional) referem-se principalmente aos aspectos
seguintes:
A assembléia geral poderá por proposta dos órgãos de administração destinar para a
reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações e subvenções
governamentais para investimentos, que poderá ser excluído da base de cálculo dos
dividendos obrigatórios (50%do lucro líquido do exercício). Antes da criação da lei 11638/07
os benefícios fiscais concedidos pelo governo era contabilizado na conta de reserva de capital
que são contribuições recebidas dos proprietários ou de terceiros que não representam receitas
ou ganhos e que, portanto não devem transitar por contas de resultado exemplos: ágio na
emissão de ações, incentivos fiscais, correção monetária do capital realizado (Neves e
Viseconti, 2004; 340).
a) Artigo 1º - deu nova redação aos artigos 176 a 179, 181 a 184, 187, 188, 197, 199,
226 e 248 da Lei nº 6.404, de 15-12-1976;
I – RESERVAS
I.1 – DE CAPITAL
Pela revogação das alíneas “c“ e “d”, § 1º do artigo 182 da Lei nº 6.404, de 1976
(artigo nº 10 da Lei nº 11.638, de 2007), deixaram de existir as seguintes reservas de capital:
O valor total das reservas de capital, segundo dispõe o artigo nº 442 do RIR/99, integra
os resultados não-operacionais, dessa forma, pode-se concluir, por semelhança com os
ganhos de capital, que tais receitas não deveriam ser consideradas na base de cálculo das
contribuições sociais (PIS e COFINS).
Altera o inciso II do artigo 197, considerando como parcela realizada do lucro líquido
do exercício além do resultado positivo na equivalência patrimonial e dos ganhos em
operação de longo prazo a parcela correspondente ao lucro, rendimento ou ganhos líquidos
em operações ou contabilização de ativo e passivo pelo valor de mercado, cuja realização
financeira ocorra após o término do exercício social seguinte (contas de longo prazo).
A nova legislação, alterando o § 3º, do artigo nº 182 da Lei nº 6.404, de 1976, instituiu
a denominada “avaliação patrimonial” que engloba as contrapartidas de aumentos ou
diminuições (novidade) do valor de mercado atribuído a elementos do ativo e do passivo.
Esses “ajustes de avaliação patrimonial” enquanto não computados no resultado do exercício,
em obediência ao regime de competência, serão classificados no patrimônio líquido (artigo
178, § 1º, letra d).
A nova redação do artigo 199 da Lei nº 6.404/76, dispõe: “O saldo das reservas de
lucros, exceto as para contingências, de incentivos fiscais e de lucros a realizar, não poderá
ultrapassar o capital social. Atingido esse limite, a assembléia deliberará sobre aplicação do
excesso na integralização ou no aumento do capital social ou na distribuição de dividendos”.
Note que a nova redação passou a incluir a reserva de incentivos fiscais que veio a fazer parte
do rol das reservas de lucros.
O novo diploma legal criou mais um subgrupo no ativo permanente com o título de
intangível (inciso VI, do artigo 179 da Lei nº 6.404/76) para destacar, contabilmente, “os
direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou
exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido”. Consideram-se,
ainda, intangíveis os seguintes bens marcas e patentes, direitos autorais, autorizações e
concessões, etc.
Notas:
1ª) Essas duas novas demonstrações poderão ser divulgadas, no primeiro ano de
vigência da Lei nº 11.638, de 2007, sem a indicação dos valores correspondentes ao exercício
anterior;
O novo diploma legal alterou o inciso VI do artigo 187 da Lei nº 6.404, de 1976,
dispondo que “as participações de debêntures, de empregados e administradores, mesmo na
forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundo de assistência ou previdência de
empregados, que não se caracterizem como despesas”.
1º) o novo texto legal excluiu deste inciso as participações de Partes Beneficiárias;
3º) o artigo 190 da Lei nº 6.404, de 1976 dispõe que “As participações estatutárias de
empregados, administradores e partes beneficiárias serão determinadas, sucessivamente e
nessa ordem, com base nos lucros que remanescerem depois de deduzida a participação
anteriormente calculada”.
Parágrafo único. A entidade referida no caput deste artigo deverá ser majoritariamente
composta por contadores, dela fazendo parte, paritariamente, representantes de entidades
representativas de sociedades submetidas ao regime de elaboração de demonstrações
financeiras previstas nesta Lei, de sociedades que auditam e analisam as demonstrações
financeiras, do órgão federal de fiscalização do exercício da profissão contábil e de
universidade ou instituto de pesquisa com reconhecida atuação na área contábil e de mercado
de capitais.”
2. BALANÇOS VOLÁTEIS
A partir do balanço de 2008, todas as companhias de capital aberto do país terão de
fazer a chamada “marcação a mercado” de suas carteiras de títulos e valores mobiliários, além
dos derivativos. Isso quer dizer que, independentemente de quanto a empresa pagou para
comprar determinado papel, ela terá de atualizar seu valor pela cotação em mercado no dia do
fechamento do balanço ou dos balancetes mensais.
Hoje, essa regra já vale para bancos e fundos de investimento. A lei que alterou no fim
do ano passado a Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76) abriu espaço para que a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleça regras de acordo com as normas
contábeis internacionais. E a primeira regra que a autarquia promete divulgar é a da marcação
a mercado. “Em um primeiro momento, vamos adotar uma norma mais simplificada, como a
do Banco Central para o sistema financeiro”, diz Antônio Carlos Santana, superintendente de
normas contábeis da CVM.
A primeira categoria é a dos títulos para negociação (”trading”). “Neste caso, o valor
será marcado a mercado e a variação terá impacto diretamente no resultado”, diz Santana. A
segunda categoria é a dos títulos disponíveis para venda (”available for sale”), aqueles que a
empresa pode vir a negociar, mas que não tem certeza se o fará. Neste caso, a companhia irá
ajustar o valor para a cotação de mercado, mas a oscilação não irá para o resultado. Ficará
registrada em uma conta do patrimônio. Apenas quando o papel for vendido é que a empresa
registrará no resultado o ganho ou perda da operação. A terceira categoria é a dos títulos que
serão mantidos até o vencimento (”held to maturity”), que não terão de ser marcados a
mercado.
No exterior, quando uma empresa enquadra um título nesta categoria, não pode vendê-
lo antes do vencimento ou reclassificá-lo, sob risco de sofrer penalidades. “As punições são
severas nas normas internacionais e afetam o grupo todo, inclusive suas subsidiárias em
outros países”, afirma Tadeu Cendon, sócio de risco e qualidade da PriceWaterhouseCoopers.
Nas regras atuais, as empresas têm de registrar em seu balanço suas aplicações
financeiras pelo menor entre dois valores: custo de aquisição ou cotação em mercado. Isso
quer dizer que, se uma ação for comprada por R$ 100 e cair a R$ 80, a empresa tem de
registrá-la por R$ 80 em seu ativo. Porém, se o papel sobe a R$ 120, ele permanece registrado
por R$ 100.
Com as novas regras, tanto a variação positiva como a negativa terão de ser
registradas, vale destacar que a volatilidade no balanço tenderá a ser maior quanto mais
instável for o instrumento utilizado pela companhia. As aplicações em moedas e renda
variável devem ter maior efeito do que os tradicionais instrumentos de renda fixa. Essa
volatilidade vai complicar a vida das empresas. Se a nova regra já estivesse valendo no ano
passado, uma empresa que aplicou boa parte de seu caixa na bolsa poderia ter registrado um
expressivo ganho no seu balanço, com impacto no resultado e, conseqüentemente, na
distribuição de dividendos.
Mas, em janeiro, com a queda da bolsa, aqueles papéis em carteira já não teriam o
mesmo preço, mas os dividendos teriam de ser pagos da mesma maneira. Por causa disso, as
empresas estão bastante apreensivas. “É preciso manter o conservadorismo. Senão, a empresa
pode gerar um lucro e ter de pagar dividendo sem ter caixa”, diz Almir Barbassa, diretor
financeiro da Petrobras, dona do maior caixa entre as empresas da bolsa. Várias companhias,
como a ALL, CSN, TAM e Brasil Telecom, preferiram não se pronunciar sobre os impactos
antes da divulgação da regulamentação pela CVM.
Desde 2002, os fundos são obrigados a fazer a marcação. A Petrobras informou que o
impacto da marcação a mercado será pequeno para a empresa. “Nosso caixa é aplicado em
ativos que têm liquidez imediata, em geral títulos do Tesouro, e via fundos exclusivos”, diz
Barbassa. Títulos do Tesouro e ações têm seu valor de mercado facilmente identificado. Mas
o mesmo não acontece quando a empresa utiliza um instrumento financeiro feito sob medida,
sem liquidez, afirmam os sócios da Delloite Touche Tohmatsu, José Roberto Carneiro e
Edward Ruiz. Esse é o problema que muitas companhias estrangeiras estão vivendo hoje, com
a crise desencadeada por títulos lastreados em recebíveis imobiliários.
Na busca dessa padronização, diversas medidas foram impostas pela Lei nº 11.638. As
mais relevantes são aquelas que dão poderes à CVM para editar atos normativos observando
os preceitos do IFRS; a substituição da sistemática do custo histórico de aquisição pelo
conceito de ajuste a valor de mercado em relação a determinadas contas do ativo, até mesmo a
fim de aumentar seus valores nominais; a introdução do princípio do ajuste a valor presente
das contas do passivo de longo prazo ou circulante, nesse último caso, na hipótese de
materialidade; a mudança dos critérios de depreciação e amortização, agora em função da
estimativa de vida econômica do bem ou do direito, sujeito obrigatoriamente à revisões
periódicas; o término da sistemática de reavaliação de ativos; e as mudanças na formação do
dividendo obrigatório.
Cabe alertar que uma situação é a preservação do sistema contábil idealizado pelo
legislador comercial. Outra coisa, bem diferente, é o tratamento fiscal a ser dado às alterações
introduzidas. Nesse sentido, se por um lado podemos facilmente identificar os cuidados do
legislador em isolar o sistema contábil, parece-nos igualmente fácil asseverar que o intérprete
fiscal não teve a mesma sorte.
A CVM pretende concluir, ainda em 2008, o seu processo normativo para os demais
dispositivos da lei societária que foram alterados e que necessitem de regulação, como é o
caso das demonstrações dos fluxos de caixa (DFC) e do valor adicionado (DVA), das
operações e transações sujeitas ao ajuste a valor presente e da contabilização das doações e
subvenções para investimentos. Com isso, as demonstrações financeiras exigidas pelo art. 176
da Lei nº 6.404 referentes a 31.12.2008, emitidas pelas companhias abertas com exercício
social iniciado a partir de 1º de janeiro de 2008, deverão atender em todos os seus aspectos
relevantes às disposições da Lei nº 11.638/07.
Com a sua entrada em vigor, as limitadas consideradas de grande porte passam a ser
submetidas às regras da Lei 6.404/76, que regula as sociedades anônimas, trazendo, por
exemplo, a necessidade de publicação das demonstrações financeiras, auditoria independente
e análise dos ativos a preço de mercado.
Conclui-se, assim, que as sociedades limitadas não estão sujeitas à publicação de suas
demonstrações financeiras, salvo em casos expressos previstos no Código Civil de 2002. Há,
nesse caso, contudo, a obrigatoriedade trazida pela Lei 11.638 de realização de auditoria
independente e avaliação dos ativos a preço de mercado.
Neste sentido, a lei previa que toda empresa que negociasse ações na bolsa precisasse
passar pelo processo de auditagem realizado por auditores independentes.
A grande mudança que a Lei aprovada em dezembro de 2007 é que a partir de agora as
empresas de grande porte, ou seja aquelas que possuem rendimento bruto anual acima de 300
milhões ou líquido acima de 240 milhões, passam a ser obrigadas a se submeter à análise de
auditores independentes ficando a seu critério a publicação deste demonstrativo.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
8. REFERÊNCIAS
http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/lei11638cvm.htm
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L6404consol.htm
www.ultimainstancia.uol.com.br
http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/res1010.htm
http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2007-011638/2007-011638.htm
http://www.contadez.com.br/content/noticias.asp?id=62571
http://nbb.com.br/english/publications/corporate_09.html
i
Cleide Maria Rodrigues Clímaco Costa e Silva, Bacharel em Ciencias Contábeis, Especialista em Ensino e
Mestre em Engenharia de Produção. É Contadora do CEFET-PI e Professora da FAESF.
ii
Holding – sociedade que controla outra mediante participação substancial no seu capital social, tendo como
objetivo social a administração, participação e empreendimentos, ou seja, representa a concentração do poder
decisório de várias empresas nas mãos de uma que detém o controle acionário das demais.
iii
É o exercício, de direito e de fato, do poder de eleger administradores da sociedade e de dirigir o
funcionamento dos órgãos da sociedade.
iv
Quando o contrato é realizado com comutatividade e independência, ou seja, quando o preço da transação é
fixado livremente entre as partes, cada uma agindo exclusivamente de acordo com seus interesses de modo que a
operação seja considerada justa por todos os envolvidos.
v
Sociedade ou conjunto de sociedade sob controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total
superior a R$ 240.000.000,00 ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (§ único, artigo 3º da Lei nº
11.638, de 2007).
vi
Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.