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Universidade Federal de Juiz de Fora

Faculdade de Engenharia – Departamento de Transporte s e Geotecnia


TRN 032 - Pavimentação – Prof. Geraldo Luciano de Oliveira Marques

Capítulo 4

ESTABILIZAÇÃO DOS SOLOS PARA FINS DE


PAVIMENTAÇÃO

4.1 - Conceito de estabilização para rodovias e aeroportos

Estabilizar um solo significa conferir-lhe a capacidade de resistir e suportar as cargas e


os esforços induzidos pelo tráfego normalmente aplicados sobre o pavimento e
também às ações erosivas de agentes naturais sob as condições mais adversas de
solicitação consideradas no projeto.

4.2 - Objetivo

Compreende todos os processos naturais e artificiais aplicados aos solos, objetivando


melhorar suas características de resistência mecânica, bem como garantir a constância
destas melhorias no tempo de vida útil das obras de engenharia.

4.3 - Importância

O domínio das técnicas de estabilização pode conduzir a sensíveis reduções nos


tempos de execução das obras, viabilizando a industrialização do processo construtivo,
propiciando uma economia substancial para o empreendimento.

4.4 - Estudos e análises


Essencialmente, a estabilização de um solo consiste de um estudo da resistência do
solo e da suplementação necessária desta resistência. Baseado neste estudo é

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escolhido um método qualquer para a suplementação da resistência, e isto é feito


segundo análises econômicas e técnicas do problema em questão.

4.5 - Métodos de estabilização


Devido às disparidades e semelhanças nos processos e mecanismos utilizados para a
estabilização de solos, adota -se a natureza da energia transmitida ao solo como um
critério para a classificação dos métodos de estabilização. Desta forma podem ser
citados os seguintes tipos de estabilização: mecânica, granulométrica, química,
elétrica e térmica.

Além destes, tem surgido nos últimos tempos, uma grande variedade de outros
métodos e processos construtivos que visam oferecer ao solo, características de
resistência e melhoria de suas qualidades naturais e que podem ser classificados como
Métodos especiais de estabilização:

Solos Reforçados com Geossintéticos; Solo pregado; Colunas Solo-Cal; Colunas Solo-
Brita; Compactação Dinâmica; Jet Grounting; Compaction Grounting; Drenos Verticais
de Areia; Micro Estacas; Estabilização Via Fenômenos de Condução em Solos.

A Estabilização Mecânica visa dar ao solo (ou mistura de solos) a ser usado como
camada do pavimento uma condição de densificação máxima relacionada a uma
energia de compactação e a uma umidade ótima. Também conhecida como
estabilização por compactação. É um método que sempre é utilizado na execução das
camadas do pavimento, sendo complementar a outros métodos de estabilização.

A Estabilização Granulométrica consiste da alteração das propriedades dos solos


através da adição ou retirada de partículas de solo. Este método consiste,
basicamente, no emprego de um material ou na mistura de dois ou mais materiais, de
modo a se enquadrarem dentro de uma determinada especificação. Também é
chamada de Estabilização Granulométrica.

A Estabilização Química quando utilizada para solos granulares visa principalmente


melhorar sua resistência ao cisalhamento (causado pelo atrito produzido pelos contatos
das superfícies das partículas) por meio de adição de pequenas quantidades de
ligantes nos pontos de contato dos grãos. Os ligantes mais utilizados são o Cimento
Portland, Cal, Pozolanas, materiais betuminosos, resinas, etc.

Nos solos argilosos (coesivos) encontramos estruturas floculadas e dispersas que são
mais sensíveis a presença de água, influenciando a resistência ao cisalhamento. É
comum a adição de agentes químicos que provoquem a dispersão ou floculação das
partículas ou uma substituição prévia de cátions inorgânicos por cátions orgânicos
hidrorrepelentes seguida de uma adição de cimentos.

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A Estabilização Elétrica consiste na passagem de uma corrente elétrica pelo solo a


estabilizar. As descargas sucessivas de alta tensão são usadas no adensamento de
solos arenosos saturados e as de baixa tensão contínua são usadas em solos argilosos
empregando os fenômenos de eletrosmose, eletroforese e consolidação eletroquímica.
Não tem sido utilizada em pavimentos.

A Estabilização Térmica é feita através do emprego da energia térmica por meio de


congelamento, aquecimento ou termosmose. A solução do congelamento normalmente
é temporária, alterando-se a textura do solo. O aquecimento busca rearranjos na rede
cristalina dos minerais constituintes do solo. A termosmose é uma técnica de drenagem
onde se promove a difusão de um fluido em um meio poroso pela ação de gradientes
de temperatura. Também não é utilizada em pavimentos.

4.6 - Estabilização solo-cimento

“Solo-cimento é o produto endurecido resultante da mistura íntima compactada de solo,


cimento e água, em proporções estabelecidas através de dosagem racional, executada
de acordo com as normas aplicáveis ao solo em estudo”.

No Brasil, o solo cimento passou a ser utilizado a partir de 1940 na área de


pavimentação. e em 1948 já havia aplicação na construção de paredes de solo-
cimento.

Mais de meio século de experiência brasileira com a tecnologia do solo-cimento


possibilitaram o aparecimento de variadas aplicações dentro das obras de engenharia
como: Pavimentação de ruas e estradas; passeios para pedestres; quadras esportivas;
revestimento de barragens; silo -trincheira; terreiros de café; obras de contenção;
canalização e proteção de pontes; habitação (tijolos, blocos, lajotas, paredes
monolíticas, fundações e pisos).

4.6.1 - Tipos de misturas de solos tratados com cimento

Toda mistura envolvendo solo e qualquer teor de cimento tem sido erroneamente
chamado de mistura solo -cimento. Existem três diferentes tipos de misturas de solo
estabilizado com cimento, sendo o solo -cimento, apenas uma delas:

a) Mistura de solo-cimento

Produto obtido pela compactação e cura de uma mistura íntima de solo, cimento e
água, de modo a satisfazer a critérios de estabilidade e durabilidade exigidos.

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b) Solo melhorado com cimento (modificado com cimento)

Quando um solo mostrar-se economicamente inviável de ser estabilizado com cimento,


ainda poderá ser utilizado para fins de pavimentação através da adição de pequenas
quantidades de cimento (1 a 5%), que visam modificar algumas de suas propriedades
físicas, por exemplo, baixar o índice de plasticidade através do aumento do LP e da
diminuição do LL ou diminuir as mudanças de volume e inchamento do solo.

c) Solo-cimento plástico

Material endurecido formado pela cura de uma mistura íntima de solo, cimento e
quantidade suficiente de água para produzir uma consistência de argamassa. A
quantidade de água no solo-cimento é apenas para permitir uma boa compactação e
completa hidratação do cimento. No solo-cimento plástico a quantidade de cimento é
aproximadamente 4% a mais para satisfazer os critérios de durabilidade e estabilidade
exigidos e também devido a maior quantidade de água necessária para deixar a
mistura na consistência de argamassa.

4.6.2 - Mecanismos de reação da mistura solo-cimento

O processo de estabilização do solo com o cimento ocorre a partir do desenvolvimento


das reações químicas que são geradas na hidratação do cimento (mistura do cimento
com água). A partir daí, desenvolvem-se vínculos químicos entre as superfícies dos
grãos do cimento e as partículas de solo que estão em contato com o mesmo.

Sendo assim, durante o processo de estabilização do solo com cimento, ocorrem dois
tipos de reações: as reações de hidratação do cimento Portland e as reações entre os
argilominerais e a cal liberada na hidratação do cimento ( C3S, β-C2S, C3A, C4AF +
H2O). Estas reações podem ser exemplificadas da seguinte forma:

a) Reações de hidratação do cimento

C3S + H 2O → C3S2Hx (gel hidratado) + Ca(OH)2


Ca(OH)2 → Ca++ + 2(OH)-
Se o PH da mistura abaixar: C3S2Hx → CSH + Cal

b) Reações entre a cal gerada na hidratação e os argilominerais do solo:

Ca++ + 2(OH)- + SiO2 (Sílica do solo) → CSH


Ca++ + 2(OH)- + Al2 O3 (Alumina do solo) → CAH

As últimas reações são chamadas pozolânicas e ocorrem em velocidade mais lenta. O


CSH é um composto cimentante semelhante ao C 3S2Hx.

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Nos solos granulares desenvolvem-se vínculos de coesão nos pontos de contato entre
os grãos (semelhante ao concreto, porém o ligante não preenche todos os espaços).

Nos solos argilosos a ação da cal gerada sobre a sílica e alumina do solo resulta o
aparecimento de fortes pontos entre as partículas de solo.
Surge então a seguinte questão: Por que os solos granulares respondem melhor à
estabilização com cimento? Porque nos solos argilosos a reação da cal gerada na
hidratação e os argilominerais ocasionam uma queda no PH da mistura, afetando a
hidratação e o endurecimento do cimento. Se o PH abaixar, o composto C3S2Hx reage
novamente formando CSH e cal. Como o C3S2Hx é responsável pela maior parte da
resistência da mistura solo-cimento, o aparecimento do CSH é indesejável quando
provém deste composto, sendo benéfico apenas quando origina -se das reações da cal
com os argilominerais. Portanto as reações de hidratação do cimento são as mais
importantes e respondem pela maior parte da resistência final alcançada para a
mistura. Nos solos argilosos a resistência devido às reações pozolânicas se dão às
custas de um decréscimo de contribuição da matriz cimentante.

4.6.3 - Fatores que influenciam na estabilização solo-cimento

Por envolver aspectos físico-químicos tanto do cimento quanto do solo, este tipo de
estabilização é influenciada por inúmeros fatores:

a) Tipo de solo

Todo solo pode ser estabilizado com cimento, porém os solos arenosos (granulares)
são mais eficientes que os argilosos por exigirem baixos teores de cimento.

b) Presença no solo de materiais nocivos ao cimento

A presença de matéria orgânica no solo afeta a hidratação do cimento devido à


absorção dos ions de cálcio gerado, resultando uma queda no PH da mistura.

Os sulfatos geralmente encontrados nas águas do solo combinam com o aluminato


tricálcico do cimento hidratado formando o sulfo-aluminato de cálcio (sal de Candlot)
que ocupa grande volume, provocando quebra de ligações cimentícias.

c) Teor de cimento

A resistência da mistura solo-cimento aumenta linearmente com o teor de cimento,


para um mesmo tipo de solo. O teor de cimento depende do tipo de solo, quanto maior
a porcentagem de silte e argila, maior será o teor de cimento exigido. Para alcançar o
valor ideal do teor de cimento para um tipo de solo, deve -se recorrer aos
procedimentos de dosagem.

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d) Teor de umidade da mistura

Assim como nos solos naturais, as misturas solo-cimento exigirão um teor de umidade
que conduza a uma massa específica seca máxima, para uma dada energia de
compactação. O acréscimo de cimento ao solo tende a produzir um acréscimo no teor
de umidade e um decréscimo na massa específica seca máxima, devido a ação
floculante do cimento. O teor de umidade ótimo que conduz à máxima massa
específica seca não é necessariamente o mesmo para a máxima resistência. Este
último está localizado no ramo seco para os solos arenosos e no ramo úmido para os
solos argilosos.

e) Operações de mistura e compactação

A demora de mais de duas horas entre a mistura e a compactação pode trazer


significantes decréscimos tanto na massa específica seca máxima quanto na
resistência do produto final.

O decréscimo na massa específica seca máxima é causado pelo aumento do PH da


água quando esta entra em contato com o cimento, causando floculação das partículas
de argila. Se o tempo mistura-compactação for grande, são produzidos grandes
quantidades de argila floculada, que irá absorver da compactação. Recomenda-se que
a compactação deva iniciar-se logo após a mistura e complementada dentro de duas
horas.

f) Tempo e condições de cura

Como no concreto, a mistura solo -cimento ganha resistência por processo de


cimentação das partículas durante vários meses ou anos, sendo maior até os 28 dias
iniciais. Neste período deve ser garantido um teor de umidade adequado à mistura
compactada.

Diferente do concreto, a temperatura de cura deve ser elevada para propiciar elevadas
resistências. Durante as reações pozolânicas, a temperatura tende a elevar-se. Nos
países de clima quente pode-se empregar um teor de cimento menor para atingir a
mesma resistência à compressão que seria alcançada em um pais de clima frio.

4.6.4 – A dosagem do solo-cimento

Solo-cimento é o produto endurecido resultante da mistura íntima compactada de solo,


cimento e água, em proporções estabelecidas através de dosagem racional, executada
de acordo com as normas aplicáveis ao solo em estudo. (ABCP, 1986)

Dosagem de solo-cimento é a seqüência de ensaios realizados com uma mistura de


solo, cimento e água, seguida de interpretação dos resultados por meio de critérios

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preestabelecidos, sendo o resultado final, a fixação das três varáveis citadas (ABCP,
1986).

Em 1935, a Portland Cement Association (PCA) fez as primeiras tentativas para criação
de normas para a mistura solo-cimento. Em 1944 e 1945 a ASTM e AASHO,
respectivamente, adotaram o método de dosagem idealizado pela PCA.

Aqui no Brasil, já em 1941, a ABCP publicou métodos análogos que constavam


procedimentos análogos ao da PCA. Em 1962, foram feitas algumas modificações
(simplificações) na Norma Geral de Dosagem do Solo-Cimento, dando origem à
chamada Norma Simplificada de Dosagem Solo-Cimento.
Em 1990, após ter sido estudada e aprovada pela comissão de estudos da ABCP
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), surgiu a nova norma de dosagem de
mistura solo-cimento que recebeu o número de registro NB 01336, designada “Solo-
cimento - dosagem para emprego como camada de pavimento (NBR 12253).

As normas brasileiras baseiam-se nos métodos de dosagem da Portland Cement


Association (PCA) e na comprovação dos resultados de um grande número de obras
executadas e em uso, com uma enorme variedade de solos, desde 1939.

Serão mostrados aqui, os procedimentos para dosagens de mistura solo-cimento pela


nova norma (NBR 12253) assim como breve resumo das antigas “Norma geral” e
“Norma Simplificada”.

Breve resumo da norma geral de dosagem solo-cimento

A dosagem de uma mistura solo-cimento pode ser considerada como experimental,


onde diferentes teores de cimento são empregados nos ensaios e a análise dos
resultados indica o menor deles capaz de estabilizar o solo sob a forma de solo-
cimento.

Como resumo das principais operações pode-se citar:

a) Identificação e classificação do solo


b) Escolha do teor de cimento para ensaio de compactação
c) Execução do ensaio de compactação do solo-cimento
d) Escolha dos teores de cimento para o ensaio de durabilidade
e) Moldagem do corpo de prova para o ensaio de durabilidade
f) Execução do ensaio de durabilidade por molhagem e secagem
g) Escolha do teor de cimento adequado em função dos resultados do ensaio

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Breve resumo da norma simplificada de dosagem do solo-cimento

A duração do ensaio de durabilidade por molhagem e secagem pode ser apontada


como a maior desvantagem da aplicação da norma geral para uma dosagem de solo-
cimento. Procurou-se então uma correlação entre o ensaio de durabilidade e outro
ensaio mais simples.

A PCA (Portland Cement Association), baseada em análises estatísticas dos resultados


de ensaios de durabilidade e ensaios de compressão simples aos 7 dias criou a norma
simplificada de dosagem solo-cimento. Esta análise foi baseada em amostras de 2438
solos arenosos. (ABCP, 1986)

O fundamento do método foi extraído dos resultados desta série de resultados, onde foi
constatado que um solo arenoso, com determinada granulometria e massa específica
aparente máxima seca, requererá o mesmo teor de cimento indicado pelo ensaio de
durabilidade se alcançar uma resistência à compressão aos 7 dias superior a um
determinado valor especificado.
Aplicação da Norma Simplificada

Esta norma simplificada só é aplicável a solos que satisfaçam ao mesmo tempo às


seguintes condições:
- Possuir no máx. 50% de material com diâmetro médio menor que 0,05mm (Silte +
Argila).
- Possuir no máx. 20% de material com diâmetro médio menor que 0,005mm (Argila).

Métodos Empregados

- Método A: Usado quando toda amostra original passar na peneira de 4,8mm.


- Método B: Usado quando parte da amostra original de solo ficar retida na peneira
4,8mm (material passante na peneira 19mm).

Sequência de Dosagem

a) Ensaios preliminares de solo


b) Ensaio de compactação do solo-cimento (hot e γd max)
c) Determinação da resistência à compressão simples aos 7 dias
d) Comparação entre a resistência à compressão simples média obtida e a
resistência à compressão simples admissível para o solo em estudo.

4.6.5 - A nova norma de dosagem solo-cimento (NBR 12253)

Baseado na experiência brasileira adquirida ao longo dos anos, o uso dos solos a
serem utilizados nas bases e sub -bases de solo-cimento restringiu-se aos tipos A1, A2,
A3 e A4. Desta forma os solos siltosos e argilosos foram descartados devido a
dificuldades do processo de execução.

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Todo tipo de solo pode, a princípio, ser estabilizado com cimento, porém os solos finos
requerem teores elevados de cimento, tornando-se assim inadequados para fins de
estabilização devido ao fator econômico.

Devido a esta limitação da utilização dos solos finos para a estabilização solo-cimento,
eliminou-se também o ensaio de durabilidade por molhagem e secagem. Surgiu daí a
necessidade de criação de um novo procedimento de dosagem mais preciso.
(Nascimento, 1991).

Procedimentos de dosagem

a) Ensaios preliminares do solo:

Visando sua identificação e classificação, utiliza-se a classificação HRB e somente os


solos tipo A1, A2, A3 e A4 são estudados para a mistura solo-cimento, descartando-se
assim os solos argilosos e siltosos.

b) Escolha do teor de cimento para ensaio de compactação

É baseado no quadro a seguir. Este quadro foi retirado da Norma Geral de dosagem e
pode ser usado quando não se tenham experiências anteriores com o solo em questão.

Classificação do solo Teor de Cimento.


Sugerido em Massa ( % )
A1-a 5
A1-b 6
A2 7
A3 9
A4 10

c) Execução do ensaio de compactação

Feito para obtenção de hot e γdmax para o teor de cimento indicado.

d) Determinação do teor de cimento para ensaio de compressão simples.

Para solos que apresentam 100% de material passante na peneira de 4.8 mm utilizar a
Figura 21 a seguir. Para solos que apresentam até 45% de material retido na peneira
de 4.8 mm utilizar a Figura 22 a seguir.

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Figura 21 - Teor de Cimento em Massa Indicado

Figura 22 - Teor de Cimento em Massa Indicado

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e) Moldagem de 3 corpos de prova (no mínimo) para o teor de cimento


selecionado

Para execução do ensaio de compressão simples. Podem ser moldados corpos-de-


prova com um ou mais teores de cimento. Após a moldagem os corpos de prova
devem ser submetidos ao período de cura.

f) Execução do ensaio de compressão simples (MB 03361 - NBR 12025)

g) Resultado da dosagem.

Após a execução dos ensaios de compressão simples, calcula -se a média aritmética
das resistências à compressão simples correspondentes a um mesmo teor de cimento.
Não considerar os corpos de prova cuja resistência à compressão se afaste mais de
10% da média calculada. O número de corpos de prova mínimo para cálculo da média
é dois.

O teor de cimento a ser adotado, capaz de estabilizar uma camada de pavimento


através de uma mistura solo-cimento, será o menor dos teores que forneça resistência
média à compressão simples aos 7 dias igual ou superior a 2.1 Mpa ( 2100 Kpa ).

O valor de 2.1 Mpa foi fixado por ser um número já consagrado no meio rodoviário
devido ao bom desempenho dos pavimentos conseguido com solos estudados com
este valor de resistência.

Para a determinação do teor de cimento a ser adotado é permitida a interpolação dos


dados de modo a indicar o valor mínimo de resistência à compressão média
especificado de 2.1 Mpa. A extrapolação de dados não é permitida.

O teor mínimo recomendado pela norma é de 5%. Para se transformar o traço obtido
em peso (% massa) em volume (% volume) utilizar o ábaco da figura 23.

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Figura 23 - Ábaco de Transformação do Teor de Cimento em Massa em Teor de


Cimento em Volume (%)

h) Exemplos numéricos

1) Considerar um solo com os seguintes resultados prévios de laboratório:

- Granulometria:
Pedregulho grosso: 10%
Pedregulho fino: 5%
Areias grossa: 23%
Areia fina: 33%
Silte: 6%
Argila: 23%
% pass. # nº 200: 32%

- Índices de consistência:
LL = 25% LP = 19% IP = 6%

- Massa específica (agregado grosso): 2630 Kg/cm3


- Absorção (agregado graúdo): 1,2%
- Umidade do solo miúdo: 3%

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2) Determinar o teor de cimento indicado para a realização do ensaio de compressão


simples para o solo com as seguintes características:

- Pedregulho fino: 3% - Areia fina: 60% - Argila: 18%


- Areia grossa: 12% - Silte: 7%

- Classificação segunda a HBR: A2


- Após execução do ensaio de compactação: σdmax = 1930 g/cm3 hot = 11,2 %

3) Para o exemplo acima, supondo que tenha sido executado o ensaio de compressão
simples com os teores de 5%, 6% e 7%, qual o teor que você adotaria como definitivo
com base nos seguintes resultados:

CP 01 (5%) → RCS = 2080 Kpa


CP 02 (6%) → RCS = 2355 Kpa
CP 03 (7%) → RCS = 2400 KPa

4) Determinar o teor de cimento indicado para a realização do ensaio de compressão


simples para o solo com a seguintes características:

- Pedregulho grosso: 20% - Areia grossa: 19% - Silte: 12%


- Pedregulho fino: 3% - Areia fina: 31% - Argila: 15%

- Classificação segunda a HBR: A1a


- Após execução do ensaio de compactação: σd max = 2000 g/cm3 hot = 8,7 %

5) No exemplo anterior, supondo terem sido moldados 3 corpos de prova com os teores
de cimento de 4%, 5% e 6% e estes submetidos a ensaios de compressão simples,
cujos resultados encontram-se abaixo, determine qual o teor adotado para o caso em
análise.

CP 01 (4%) → RCS = 1860 Kpa


CP 02 (5%) → RCS = 2080 Kpa
CP 03 (6%) → RCS = 2150 KPa

4.6.6 - Execução na pista (Senço, 1972)

A mistura solo-cimento pode ser executada de duas formas:

Mistura no local: com material da própria estrada


com material vindo de fora

Mistura em Central: usinas fixas: Betoneira, grandes centrais


usinas móveis: Pulvi-mix

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As misturas feitas em usinas fixas (centrais de usinagem) constituem um processo


mais eficiente, uma vez que o produto final é praticamente perfeito e muito mais rápido
que o processo de mistura na pista.

A utilização de usinas de solo-cimento é justificada em função da quantidade do serviço


a ser executado, não sendo utilizada para pequenas quantidades. As instalações de
uma usina de solo-cimento são praticamente as mesmas de uma usina de solos
convencional, podendo-se destacar os seguintes componentes principais:

a) Silos de solos

Depósitos destinados a receber o solo (ou solos) que serão utilizados na mistura,
construídos de madeira ou chapa metálica, normalmente em forma de tronco de
pirâmide.

A calibração é feita pelo processo usual onde a comporta de saída é aberta com
diversas alturas, anotando-se a quantidade que se escoa em um determinado tempo.
Com os pares de valores Abertura da comporta x Produção horária pretendida,
traçados em um gráfico, obtém-se a abertura necessária do silo. Esta calibração
também pode ser feita em função da quantidade de material que cai em um espaço
linear de um metro da esteira transportadora. Neste caso varia-se a abertura da
comporta ou a velocidade de transporte das correias.

b) Silo de cimento

Geralmente em formato cilíndrico, tem a função de armazenar o cimento a ser usado


na mistura. Para grandes volumes de mistura, o carregamento do cimento é feito
diretamente dos caminhões transportadores por meio de sucção. Nestes casos é
recomendado a utilização de cimento a granel. O processo de calibração deste silo é
similar ao de solo.

c) Correias transportadoras

São as responsáveis pelo transporte dos solos e do cimento dos silos até o misturador.
Devem ter uma inclinação suficiente para levar os materiais desde as comportas dos
silos até a boca do misturador.

d) Depósito de água:

Reservatório destinado a fornecer água para que a mistura solo-cimento já saia da


usina com o teor ótimo de umidade. Dependendo da distância até o local da obra este
teor pode ser majorado, para haver uma compensação devido as perdas por
evaporação.

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e) Misturador

É o compartimento destinado a execução da mistura propriamente dita do solo com o


cimento e água. Normalmente é constituído por eixos dotados de pás (paletas) que
giram em sentidos contrários, jogando os materiais contra as paredes do
compartimento. A mistura da água pode ser feita continuamente (junto com o solo e o
cimento) ou logo após a mistura “seca” (solo e cimento).

Na figura 24 é mostrado um esquema de funcionamento de uma usina de solo-cimento.

Figura 24 - Esquema de uma usina de Solo-Cimento (Senço, 1972)

4.6.7 – Operações básicas para solo-cimento in-situ

Nas misturas de solo-cimento feitas no local (mistura in situ) destacam-se as seguintes


operações básicas:

1)Pulverização e determinação da umidade natural


2)Distribuição e espalhamento do cimento
3)Mistura do cimento com o solo pulverizado
4)Adição de água à mistura do solo-cimento
5)Mistura do solo-cimento umedecido
6)Compactação e acabamento
7)Cura
8)Preparo para execução do novo trecho

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a) Pulverização e homogeneização do solo

O material vindo da jazida (ou já escarificado ) deve ser pulverizado e homogeneizado


até que 80% do material miúdo esteja reduzido a partículas de diâmetro inferior a 4,8
mm .Usa-se Patrol, grade de disco, Pulvi-mix,etc.

b) Distribuição e espalhamento do cimento

Após a regularização do solo pulverizado em toda a seção transversal espalha-se o


cimento (em sacos) nas quantidades projetadas, distribuindo-os uniformemente por
toda a superfície de modo a assegurar posterior espalhamento por processo mecânico.
Um esquema da distribuição manual dos sacos se cimento pela seção transversal é
mostrado na figura 25. Este esquema será utilizado no exemplo numérico ao final deste
assunto.

Figura 25 - Esquema de Distribuição Manua l do Cimento na pista (Senço, 1972)

c) Mistura do cimento com o solo pulverizado

Executada através de escarificadores e pela lâmina da Patrol. A mistura do solo com o


cimento deverá ocorrer em toda a espessura da camada, repetidas vezes até se
conseguir uma tonalidade uniforme em toda a espessura.
Em seguida a mistura deve ser nivelada obedecendo ao greide e a seção transversal.

d) Adição de água a mistura

Deverá ser feita progressivamente. É aconselhável que a umidade não aumente mais
de 2% em cada passada do Carro-tanque. O caminhão Pipa deve ser equipado,

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quando possível, com dispositivo de controle de água por pressão. Desta forma pode-
se calcular a quantidade de água a ser distribuída (função também do teor de umidade
do solo) em cada passada. Pode-se ajuntar a água ao solo pulverizado na véspera,
antes da adição do cimento, até atingir uma umidade próxima da hot . Tolera-se uma
variação de 0,9 a 1,1 vezes o teor indicado (hot).

e) Mistura do solo-cimento umedecida

Feita por Pulvi-mix ou grade de disco. Na fase final a umidade deve ser controlada de
40 em 40 m. Qualquer deficiência deve ser corrigida.

f) Compactação e acabamento

Para solos arenosos deve-se empregar rolos pneumáticos ou lisos e para solos
argilosos o rolo pé-de-carneiro deve ser usado no início e os pneumáticos ou lisos
usados ao final. A espessura de compactação não deve ser menor que 5cm. A camada
superficial deve ser mantida na umidade ótima ou ligeiramente acima e feita a
conformação do trecho ao greide e abaulamento desejados.

Após a conclusão da compactação deve ser feito um acerto final na superfície para
eliminação de saliências, não podendo fazer correções de depressão através de adição
de material. Pode-se usar grades de dentes ou escova metálica.

g) Cura

Após a compactação o trecho deverá ser protegido por um período de 7 dias. Usa-se
cobrir o trecho com uma camada de solo de mais ou menos 5 cm ou capim (10 cm) que
deverão ser mantidos unidos para conservação da umidade. Também pode ser usado
material betuminoso para proteção.

h) Controles de Execução

Sendo feitas as misturas na pista ou em usinas, são realizados os seguintes controles


tecnológicos: Granulometria; ensaio de finura do cimento; grau de pulverização; teor de
cimento; teor de umidade; massa específica aparente “In situ”; ensaio de compactação;
ensaio de resistência à compressão.

Também são feitos os controles Geométricos necessários em relação à largura da


plataforma, flecha de abaulamento e espessura média.

i) Exemplo numérico

Deseja-se construir uma camada de base de um pavimento rodoviário em solo-


cimento. A execução deverá ser feita na própria pista, uma vez que não se dispõe de
usina misturadora nas proximidades da obra. A seguir são dados todas as
características técnicas dos materiais, do projeto e dos equipamentos a serem

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utilizados. Determine: a quantidade de solo a ser importado para a pista (n° de viagens,
espessura solta, espaçamento p/ descarga), a quantidade de cimento (massa de
cimento, n° de sacos, espaçamento dos sacos) e a quantidade de água (volume de
água, número de viagens do carro-pipa) a ser utilizado no processo construtivo.

L → extensão do trecho = 30 Km
ec → espessura compactada = 15 cm
L → largura da plataforma = 8m
c → teor de cimento em volume = 10%
δci → densidade do cimento = 1,42 g/cm3
δ max sc → densidade máxima do solo-cimento = 2,00 g/cm3
δs → densidade do solo solto = 1,50 g/cm3
Hosc → umidade ótima do solo -cimento = 11%
Hn → umidade do solo natural = 4%
He → perda por evaporação = 2%
q → capacidade dos caminhões transportadores = 6 m3
Q → capacidade das irrigadoras = 8000 l

Referências Bibbliográficas

1) ABCP. “Dosagem das misturas de solo-cimento - Normas de dosagem”. ET 35, São


Paulo, 1986.

2) Nascimento, A. A. P.; Junior, F. A. “Solo -cimento - a nova norma de dosagem”. 29ª


Reunião Anual de Pavimentação, São Paulo, 1991.

3) Senço, W. “Pavimentação” Escoloa Politécnica de São Paulo, Vol 1 e 2, 2ª edição,


São Paulo, 1972.

4.7 - Estabilização solo-cal:

A Cal é um aglomerante resultante da calcinação de rochas calcárias (calcários ou


dolomitos), a uma temperatura inferior à do início de fusão do material.

Dentre as várias opções de aplicação da cal pode-se citar: dar plasticidade às


argamassas, construção de sub-bases e bases, fabricação de tijolos, blocos e painéis.

O esquema de produção da cal pode ser assim resumido:

CaCO3 (calcário) + calor → CaO + CO2


CaCO3MgCO3 (dolomito) + calor→ CaOMgO + 2CO2
CaO → óxido de cálcio não hidratado → cal cálcica ou calcítica
CaOMgO → cal dolomítica

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O processo de hidratação da cal acontece da seguinte maneira:

CaO + H 2O → Ca(OH)2 (cal cálcica hidratada) + calor


CaCO3MgCO3 + H 2O → Ca(OH)2MgO (cal dolomítica hidratada) + calor

4.7.1 - A mistura solo-cal

É uma técnica de estabilização utilizada em vários países. Suas principais funções são:
- Melhoria permanente das características do solo;
- Aumenta a resistência à ação da água;
- Melhoria do poder de suporte;
- Melhoria da trabalhabilidade de solos argilosos.
Ao misturar a cal ao solo em condições ótimas de umidade, ocorrem reações químicas
que provocam alterações físicas nos mesmos, tais como:

- O índice de plasticidade (IP) cai;


- O limite de plasticidade (LP) aumenta e o limite de liquidez (LL) cai;
- A fração do solo passante na peneira n°80 (0,42mm) decresce;
- A contração linear e expansão decrescem;
- A água e a cal aceleram a desintegração dos torrões de argila durante a
pulverização, tornando os solos mais trabalháveis;
- A resistência à compressão aumenta;
- Aumento da capacidade de carga;
- Facilita a secagem do solo em áreas alagadiças;
-Nas bases e sub -bases estabilizadas com cal, produz uma barreira resistente à
penetração da água por gravidade e promove rápida evaporação da umidade
existente.

4.7.2 - Mecanismos de reação da mistura solo-cal

a) Troca catiônica: A adição de cal ao solo provoca substituição de cátions


monovalentes por cátions bivalentes.

b) Floculação e aglomeração: As reações provocam diminuição da dupla camada


resultando na floculação das partículas argilosas.

c) Reações pozolânicas: Reação da sílica e alumina do solo com a cal, formando os


agentes cimentantes, que são os responsáveis pelo aumento de resistência na mistura
solo-cal.

d) Carbonatação: A cal reage com dióxido de carbono da atmosfera formando


carbonatos de cálcio e/ou magnésio, que são compostos cimentantes fracos.

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4.7.3 - Fatores que influenciam no processo de estabilização dos solos


com cal

a) Tipo de cal empregado:

Pode-se empregar tanto cal virgem quanto cal hidratada. Cales calcíticas hidratadas
produzem menores resistências que cales dolomíticas hidratadas.

b) Tipo de solo:

Solos finos correspondem melhor à estabilização com cal que solos granulares porque
uma maior superfície específica refletirá em reações mais intensas entre a cal e as
partículas de solo. A mineralogia do solo também influencia nas reações.
c) Tempo de cura:

Ganhos muito pequenos de resistência nas idades iniciais e maiores desenvolvimentos


para maiores períodos de tempo.

d) Influência da temperatura:

Quando a cura for a baixas temperaturas, o aumento de resistência é lento, a


temperaturas normais a velocidade é maior, e a altas temperaturas (60°C) as
resistências evoluem rapidamente.

4.7.4 - Tipos de estabilização com cal

a) Solo modificado com cal: visa reduzir a plasticidade do solo e aumentar a


trabalhabilidade.

b) Solo cimentado com cal: visa obter um material com maior resistência e
durabilidade.
Não existe no Brasil metodologia para dosagem e dimensionamento de misturas solo-
cal. Para misturas que apresentam ganhos de resistência, o ensaio de compressão
simples é utilizado para dosagem. A avaliação da capacidade de suporte das misturas
solo-cal é feita mediante o ensaio de ISC (CBR). Normalmente são utilizados
procedimentos de dosagem experimentais.

4.8 - Estabilização solo-betume

É uma mistura de materiais betuminosos (emulsão, asfaltos líquidos, alcatrões) e solos


argilo-siltosos ou argilo-arenosos para trabalharem como material estabilizado para
base ou sub -base, impermeabilizando o solo e aumentando o seu suporte.

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4.8.1 - Tipos de misturas

- Areia-asfalto ou areia-betume: é a mais difundida, com facilidade de controle da


qualidade e economicamente mais competitiva.

- Solo-betume: seu controle é mais rigoroso, maior teor de betume e com funções de
impermeabilização.

4.8.2 - Principais funções do betume

a) Quando usado em solos granulares (areia-betume):

A função do ligante é gerar forças de natureza coesiva ao solo, aumentando de certa


forma o seu valor de suporte.

b) Quando usada em solos argilosos (solo -betume):

A função do ligante é garantir a constância, na mistura, do teor de umidade de


compactação, promovendo uma ação impermeabilizante. Esta ação é realizada tanto
pelo obturamento dos canalículos do solo, por onde poderia ocorrer uma ação capilar
da água, como pela criação de películas hidrorrepelentes envolvendo agregação de
partículas finas que impedem que a água penetre na mistura.

4.8.3 - Teor de betume

Varia em torno de 4 a 6% em peso de solo seco, sendo função da quantidade de argila,


silte, areia, vazios e densidade do solo.

Quanto mais fino o solo, maior será a quantidade de betume requerida. Quando usado
em excesso, diminui a estabilidade e passa a agir como lubrificante.

4.8.4 - Métodos de dosagem

Existem alguns métodos que podem ser utilizados, sendo todos extraídos da literatura
americana: Método Califórnia modificado; Método Hubbard Field; Ensaio do
penetrômetro de cone; Ensaio do valor do suporte Flórida; Ensaio do índice de suporte
Texas.

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4.9 – Estabilização granulométrica

Neste item serão abordados os processos pelos quais se misturam dois ou mais
agregados de granulometrias diferentes de modo a enquadrá-los em uma
especificação qualquer. É comum a apresentação da especificação em “faixas de
trabalho” onde são mostrados os limites inferior e superior da granulometria. Desta
forma, a granulometria ideal a ser alcançada ou exigida é aquela que representar o
ponto médio dos limites extremos.

Os projetos de mistura de agregados são muito utilizados na execução de bases e sub-


bases estabilizadas granulometricamente, em misturas betuminosas ou quaisquer
outras misturas que envolvam dois ou mais materiais de granulometrias diferentes
(misturas solo-cimento, solo -cal, macadames, etc.).

Os solos arenosos são, de um modo geral, facilmente destruídos por ações abrasivas,
quando analisados separadamente, devido a falta do “ligante”. Já os solos argilosos,
também analisados separadamente, são muito deformáveis, com baixa resistência ao
cisalhamento, quando absorvem água. Na prática, é comum e necessário misturarmos
estes dois tipos de solos, ou seja, solos com características granulares e solos com
características coesivas, para obtermos uma mistura com propriedades ideais de
resistência e trabalhabilidade.

Surgiram então duas idéias básicas para as técnicas de correção de algumas


propriedades dos solos através da manipulação de suas granulometrias:

a) Hipótese de graduação ideal: Em geral, a uma maior compacidade corresponde uma


maior resistência. As diferentes formas das partículas têm grande influência neste
conceito.

b) Hipótese de “Binder”: Nesta, além de levar em cinta a hipótese anterior, considera-se


o solo constituído de duas frações (agregado e ligante) onde busca-se o máximo de
compacidade para cada fração.

4.9.1 - Métodos de misturas

Para se atender uma determinada granulometria, exigida por uma especificação


qualquer, e dispondo-se de dois ou mais materiais, podemos construir um material
ideal que seja uma mistura conveniente dos outros materiais. Para a perfeita execução
desta mistura em causa, depõe-se de alguns processos de cálculo, quais sejam:
- MÉTODO ANALÍTICO
- MÉTODO DAS TENTATIVAS
- MÉTODOS GRÁFICOS:
- MÉTODO DO TRIÂNGULO EQUILÁTERO
- MÉTODO DE RUTHFUCHS
- MÉTODO DAS COMPOSIÇÕES SUCESSIVAS

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4.9.2 - Método analítico

Sendo dados os agregados A, B, C, ..., com, respectivamente x%, y%, z%, ..., passante
numa série de peneiras e desejando-se projetar uma mistura “M” com m1 %, m2%, m3 %,
..., passante na mesma série de peneiras, pode-se sempre estabelecer um sistema de
N equações em que uma delas é:

x% + y% + z% + ... = 100

E as outras N - 1 equações são do tipo:


x An + y Bn + z Cn + ... = mn
100 100 100
Onde:
x,y,z, ... ⇒ Porcentagens de cada material (A,B,C, ...) que entrará na mistura
para se obter o material M
An,Bn,Cn, ⇒ Porcentagens passantes nas “n” peneiras de uma série
mn ⇒ Porcentagens passantes, requeridas pela especificação, para as
“n” peneiras da série
n ⇒ número de peneiras de uma série (N - 1)

Exemplo numérico e especificação

Executar uma mistura com os materiais 1, 2 e 3 de modo a satisfazer a especificação


dada a seguir, utilizando o método analítico.

Peneiras % em Peso Passante Especificação Especificação


(Pol.) (mm) Mat 1 Mat 2 Mat 3 % Peso Pass. Ponto Médio

1” 25,40 100 100 100


3/4” 19,10 88 80 - 100 90
1/2” 12,70 75 65 - 95 80
3/8” 9,50 53 45 - 80 62
nº 4 4,80 31 100 28 - 60 44
nº 10 2,00 17 95 20 - 45 32
nº 40 0,42 8 70 100 10 - 32 21
nº 80 0,18 6 40 83 8 - 20 14
nº 200 0,074 3 0 52 3-8 5

Solução

Armam-se tantas equações quantas forem o número de peneiras:

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Equações:

1) 100x + 100y + 100z = 100


2) 88x + 100y + 100z = 90
3) 75x + 100y + 100z = 80
4) 53x + 100y + 100z = 62
5) 31x + 100y + 100z = 44
6) 17x + 95y + 100z = 32
7) 8x + 70y + 100z = 21
8) 6x + 40y + 83z = 14
9) 3x + 0y + 52z = 5
Resolvendo o sistema:

1-2⇒ 100x + 100y + 100z = 100


88x + 100y + 100z = 90
12x = 10 então x = 10 / 12 = 83,33 %

1-3⇒ 100x + 100y + 100z = 100


75x + 100y + 100z = 80
25x = 20 então x = 20 / 25 = 80,00 %

1-4⇒ 100x + 100y + 100z = 100


53x + 100y + 100z = 62
47x = 38 então x = 38 / 47 = 80,85 %

1-5⇒ 100x + 100y + 100z = 100


31x + 100y + 100z = 44
69x = 56 então x = 56 / 69 = 81,15 %

Adotando-se um valor médio para x = 80 %

5-6⇒ 31x + 100y + 100z = 44


17x + 95y + 100z = 32
14x + 5y = 12 então y = (12 - 14 x 0,80) / 5 = 16%
z = 100 - 80 - 16 = 4%

Outra opção:

de (9) vem: 3 x 0,80 + 52z = 5 então z = (5 - 3 x 0,80) / 52 = 5%


y = 100 - 80 - 5 = 15%

Solução final: x = 80% y = 16% z = 4% ou x = 80% y = 15% z = 5%

Com as porcentagens encontradas para cada material, calcula-se a granulometria do


material M e compara-se com a especificação.

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% em Peso Passante Especif. Especif.


Peneiras Material M % Peso Pass. Pto. Médio
1” 0,80 x 100 + 0,15 x 100 + 0,05 x 100 = 100 100 100
3/4” 0,80 x 88 + 0,15 x 100 + 0,05 x 100 = 90,40 80 - 100 90
1/2” 0,80 x 75 + 0,15 x 100 + 0,05 x 100 = 80,00 65 - 95 80
3/8” 0,80 x 53 + 0,15 x 100 + 0,05 x 100 = 62,40 45 - 80 62
nº 4 0,80 x 31 + 0,15 x 100 + 0,05 x 100 = 44,80 28 - 60 44
nº 10 0,80 x 17 + 0,15 x 95 + 0,05 x 100 = 32,85 20 - 45 32
nº 40 0,80 x 8 + 0,15 x 70 + 0,05 x 100 = 21,90 10 - 32 21
nº 80 0,80 x 6 + 0,15 x 40 + 0,05 x 83 = 14,95 8 - 20 14
nº 200 0,80 x 3 + 0,15 x 0 + 0,05 x 52 = 5 3-8 5

Para o caso de três materiais e três faixas granulométricas, tem-se:

% em Peso Retido
Peneiras Mat 1 Mat 2 Mat 3 Especificação

Ag. Graúdo (Ret.# 10) a = 83 d=5 g=0 M1 = 68 (80-55)


Ag. Miudo (#10 e #200) b = 14 e = 95 h = 48 M2 = 27 (17-37)
Filler (Pass. # 200) c=3 f=0 i = 52 M3 = 5 (3-8)
% na Mistura x y z

Seguindo-se uma formulação específica para o caso de três equações e três


incógnitas, temos os seguintes va lores para o exemplo dado:

x = (M2-h)(d-g) - (M1-g)(e-h) = (27-48)(5-0)-(68-0)(95-48) = (-21x 5)-(68x 47) = - 3301


(b-h)(d-g) - (a-g)(e-h) (14-48)(5-0)-(83-0)(95-48) (-34x 5)-(83x 47) -4071
x = 81,08%

y = (M2-h) - x(b - h) = (27-48) - 0,8108 (14 - 48) = -21 + 27,57 = 6,57


(e-h) ( 95 - 48 ) 47 47
y = 13,97%

z = 1 - ( x + y ) = 1 - ( 0,8108 + 0,1397 )
z = 4,95%

4.9.3 - Método das tentativas

Neste processo são feitas tentativas sucessivas para se determinar as porcentagens


com que cada material deve entrar na mistura. Após cada tentativa são feitas algumas
comparações com a especificação a atender. As operações são repetidas até
conseguir o atendimento satisfatório da especificação.

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O sucesso deste método depende da primeira tentativa. Quando se trabalha com três
agregados com granulometrias próximas do agregado graúdo, agregado miúdo e filer,
recomenda-se como regra prática para a primeira tentativa as seguintes correlações:
M1 → Agregado Graúdo → X %
M2 → Agregado Miúdo → Y % ⇒ X = 2Y
M3 → Filer →Z% Z=±5%

Por exemplo: X= 65%; Y= 30%; Z= 5% ou X= 60%; Y= 35%; Z= 5%; etc.

A metodologia consiste dos seguintes passos, de acordo com o quadro abaixo:


1- Arbitrar a primeira tentativa. Para o exemplo dado: X= 65%; Y= 30%; Z= 5%
2- Preencher as colunas 2, 5 e 8 com a granulometria de cada material a ser misturado
3- Preencher as colunas 3, 6 e 9, somando os resultados na coluna 11
4- Comparar os valores da coluna 11 com os da coluna 14 (faixa granulométrica
especificada)
5- Comparar os valores da coluna 11 com os da coluna 13 (ponto médio da
especificação)
6- Caso a primeira tentativa não tenha atendido a especificação fazer nova tentativa
baseada nos resultados encontrados até o momento. Analisar quais os materiais a
serem diminuídos na mistura e quais a serem aumentados. Para o exemplo dado:
X= 80%; Y= 15%; Z= 5%
7- Preencher as colunas 4, 7 e 10, somando os resultados na coluna 12
8- Comparar os valores da coluna 12 com os das colunas 14 e 13

Obs: No caso de 4 materiais, a primeira deve ser feita segundo o seguinte esquema:
M1 e M2 → Brita 1 e 2 → X% M1 e M2 → Dobro de M3
M3 → Areia → Y% ⇒ M1 ≈ M2
M4 → Filler → Z% M4 = ± 5%

1 M1 M2 M3 11 12 13 14
3 4 6 7 9 10
Penei 1ª 2ª Ponto Espec
2 5 8
ras Tent Tent Médio .
65% 80% 30% 15% 5% 5%
1” 100 65,00 80,00 100 30,00 15,00 100 5,00 5,00 100,0 100,0 100 100
3/4” 88 57,20 70,40 100 30,00 15,00 100 5,00 5,00 92,20 90,40 90 80-100
1/2” 75 48,75 60,00 100 30,00 15,00 100 5,00 5,00 83,75 80,00 80 65-95
3/8” 53 34,45 42,40 100 30,00 15,00 100 5,00 5,00 69,45 62,40 62 45-80
nº 4 31 20,15 24,80 100 30,00 15,00 100 5,00 5,00 55,15 44,80 44 28-60
nº 10 17 11,05 13,60 95 28,50 14,25 100 5,00 5,00 44,55 32,85 32 20-45
nº 40 8 5,20 6,40 70 21,00 10,50 100 5,00 5,00 31,20 21,90 21 10-32
nº 80 6 3,90 4,80 40 12,00 6,00 83 4,15 4,15 20,05 14,95 14 8-20
nº200 3 1,95 2,40 0 0,00 0,00 52 2,60 2,60 4,55 5,00 5 3-8

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