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TERCEIRO CORPO DAS PROFECIAS DE GONÇALO ANNES BANDARRA

Neste terceiro corpo das suas Trovas aplica-se o Bandarra a desvendar misteriosamente grandes
movimentos das nações, culminâncias da civilização. De todos os «corpos» de que se compõem as
profecias de Bandarra, é este o mais ordenadamente disposto, em os seus seis sonhos e a introdução
que os abre.

É de notar que nos outros corpos das trovas Bandarra se ocupa de factos nítidos, precisos, concretos,
sempre, é claro, de importância para o país, não sempre porém os de mais importância, porque há
movimentos aparentemente obscuros em as nações que, por vezes, têm uma importância maior que
factos que todos vêem e estão, por assim dizer, nas alturas humanas.
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Em vós que haveis de ser quinto Um Grande do pé do Tejo.


Depois de morto o segundo,
Minhas profecias fundo IX
Co estas letras que aqui pinto.
Formas, cabos e sovelas
II Lavradinhas com primor
Mandareis abrir, Senhor,
Inda o trono está por vir, Muitos folgarão de vê-las.
Já vos vejo erguido cedro:
Pouco vai de Pedro a Pedro X
Se a rama o tronco medir.
Mas ai! que já vejo vir
III O Presbítero maior
Arriscar todo o primor
Fiz trovas de ferro, e prata, Que outra vez há-de surgir.
Dignas de qualquer tesouro,
Hoje quanto faço é ouro Sonho Segundo
Que em vós, Senhor, se remata.
XI
IV
Augurai, gentes vindouras
Não conto sapatarias Que o Rei, que daqui há-de ir
Que noutros tempos sonhei Vos há-de tornar a vir
O que agora contarei Passadas trinta tesouras.
São mais altas profecias.
XII
V
O Pastorzinho na serra
A giesta não se torce, Grita que tenham cuidado,
Muito amarga o sargaço: Que se vai perdendo o gado
Tudo quanto agora faço Por mais que gritando berra.
São bocados de erva doce.
XIII
VI
Desamparar o cortiço
Faço trovas mui inteiras, Uma abelhamestra vejo;
Versos muito bem medidos As outras com muito pejo
Que hão-de vir a ser cumpridos Não têm asas para isso.
Lá nas eras derradeiras.
XIV
VII
Irão tempos de lazeiras
Eu componho, mas não ponho Virão tempos de farturas
As letrinhas no papel, Os frades terão tristuras
Que o devoto Gabriel Por acudirem as freiras.
Vai riscando, quanto eu sonho.
XV

Sonho Primeiro Este sonho que sonhei


É verdade muito certa
VIII Que lá da Ilha encoberta
Vos há-de vir este Rei.
Vejo, mas não sei se vejo;
O certo é que me cheira Sonho Terceiro
Que me vem honrar à beira

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XVI No levantar vai o tento.

Sonhei que estava sonhando, XXVI


Que passados cem Janeiros
Os Portugueses primeiros Mas ai! do calçado a obra
Se levantarão em bando. Logo requer o salário;
Porém não há muita sobra
XVII Se não dobra o campanário.
Ergue-se a águia Imperial
Com os seus filhos ao rabo; Sonho Quinto
E com as unhas no cabo
Faz o ninho em Portugal. XXVII

XVIII Vejo, vejo, dizer vejo,


Andar a terra ao redor;
Põe um A pernas acima; E o borborinho sem dor
Tira-lhe a risca do meio, Resolve um e outro sexo.
E por detrás lha arrima,
Saberás quem te nomeio XXVIII

XIX Rugia a porca do sino,


O sino não badalava,
Tudo tenho na moleira. A grimpa se revirava,
O passado e o futuro. E o sino andava a pino.
E quem for homem maduro
Há-de me dar fé inteira. XXIX

XX Meto a sovela nas viras,


E vejo pelo buraco
Vejo sem abrir os olhos Os ossos de Pêro Jaco
Tanto ao longe como ao perto No penedo das mentiras.
Virá do mundo encoberto
Quem mate da águia os polhos. XXX

Sonho Quarto Que belamente que soam


As Profecias direitas!
XXI Depois que forem perfeitas
Verão que a terra povoam.
Lá para as bandas do Norte
Vejo como por peneira XXXI
Levantar uma poeira
Que nos ameaça a morte. Doutos e sandeus conhecem
Pelo volver das estrelas
XXII Puras verdades mais belas
Que inda os Judeus não merecem.
Vosso grande capitão,
O povo errado e perverso Sonho Sexto
Já caminha com o erço,
E vós dormindo no chão. XXXII

XXIII Quando o sonho é verdadeiro


Dá-se uma luz muito clara;
Na era que eu nomear Sonho agora, que uma vara
Terá fim a heresia; Vai dando luz a um outeiro.
Verás certa a profecia,
Se bem souberes contar. XXXIII

XXIV O outeiro é Portugal


E a vara castelhana
Põe três tesouras abertas Da minha pobre choupana
Diante um linhol direito Vejo esta vara Real.
Contarás seis vezes cinco
E mais um, vai satisfeito. XXXIV

XXV Dará fruto em tudo santo


Ninguém ousará negá-lo,
Muito rijo bate o vento O choro será regalo
Na parede da Igreja; E será gostoso o pranto .
Alguém caída a deseja,

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