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TODO O CONHECIMENTO PROVEM DOS SENTIDOS.

Porém não sabemos quantos são os sentidos.

Todo o conhecimento vem dos ou pelos sentidos; porém não sabemos quantos
são os sentidos (quantos sentidos há). Sentidos chamamos nós àqueles dispositivos da
mente pelos quais toma conhecimento (recebe uma impressão de que qualquer coisa
existe, e de que essa coisa apresenta determinado aspecto).
A razão, ou intelecto, nem percebe, nem cria; tão somente compara, e, por
comparação, retifica e elabora, os dados que os sentidos ministram. A razão, é,
portanto, incompetente para determinar uma verdade, por isso que não pode
determinar um fato, mas só compará-lo com outros.
Os dados de um sentido não podem ser ministrados a quem não possua esse
sentido senão por analogia de dados. A essa exposição analógica chama-se um
símbolo; e quando o símbolo é de sentido tido por superior para outro tido por
inferior, chama-se revelação.
O fato de haver um problema não envolve que haja uma solução para ele. O fato
de haver um mal não quer dizer que ele possa desaparecer. Não há solução satisfatória
para nenhum problema social.
Textos Filosóficos  . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.)
Lisboa: Ática, 1968.   - 223.

Os meus pensamentos são todos sensações.


Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e
notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 39.

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