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I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL X
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO 18-
21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4. ALTERNATIVAS E SOLUÇÕES DE
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS PROVISÓRIAS EM CANTEIROS DE OBRAS
Ricardo Prado Abreu Reis (1); Ubiraci Espinelli Lemes de Souza (2); Lúcia Helena de
Oliveira (3) (1) Mestrando do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de
Goiás; rpareis@terra.com.br (2) Professor Doutor, Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo; ubiracilemes@pcc.usp.br (3) Professora Doutora, Escola de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Goiás; luhe@eec.ufg.br RESUMO A palavra
provisória, para instalações de canteiro, não deve ser confundida com um processo
precário de concepção. No entanto, raramente um profissional especializado em projetos
de sistemas prediais é consultado antes da execução das instalações hidrossanitárias
provisórias de um canteiro de obras, ficando normalmente a cargo de um encarregado
com experiência prática, todo o processo de concepção, traçado geométrico e
dimensionamento. A adoção de soluções equivocadas pode levar a um gasto
desnecessário com materiais e componentes (tubos e conexões), a um mau desempenho
do sistema, pressões inadequadas e um maior consumo de água e energia. Visando
buscar alternativas que proporcionem maior confiabilidade e economia em instalações
de suprimento de água em canteiros de obras, procurou-se, através deste trabalho,
definir os parâmetros básicos necessários a um dimensionamento mais preciso e
levantar algumas das inúmeras possibilidades de atendimento à demanda de água de
uma obra, definindo vantagens e desvantagens de cada uma delas. Assim, a concepção
cuidadosa das instalações hidráulicas em canteiros de obra pode ser bastante relevante
para a minimização de consumos excessivos da água, contribuindo para a redução do
impacto ambiental das obras de construção. Palavras-chave: Instalações hidráulicas
provisórias, canteiros de obras, economia de água. 1. INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS
DE ÁGUA EM CANTEIROS DE OBRAS A execução das instalações prediais
provisórias é essencial para o início das atividades de um canteiro de obras.
Normalmente pode-se afirmar que dentre as instalações prediais provisórias existentes,
as que garantem o suprimento da demanda de água ocupam o primeiro lugar em grau de
importância dentro de um canteiro de obras. Este título não se deve apenas ao fato de
serem estas instalação essencial à execução das atividades de produção e apoio à obra,
como no caso da mistura de argamassas e concreto, da cura da estrutura, da limpeza do
canteiro e do consumo humano, mas também pelo custo da água, que atualmente tem
sofrido constante aumento, e pelo seu valor em termos de disponibilidade hídrica no
meio ambiente, sendo cada vez mais freqüentes situações em que se depara com risco
de racionamento de fornecimento de água tratada. A previsão de consumo de água para
consumo humano e atividades produtivas, a escolha do modelo de concepção de
abastecimento e alimentação, a execução física do sistema e a manutenção de quaisquer
instalações prediais de água fria, sejam elas provisórias ou não, devem ser estudadas de
forma criteriosa previamente à sua execução. Deste modo, pode-se garantir um
fornecimento contínuo, em quantidade e qualidade adequadas, com pressões suficientes,
proporcionando boas condições de atendimento às necessidades de demanda, redução
de consumo de energia e racionamento na forma de utilização (NBR 5626/98).
Infelizmente, em grande número de casos se constata que as instalações provisórias em
canteiros de obras, não só as de suprimento de água, mas também as de energia elétrica,
esgoto, águas pluviais entre outras, são tratadas com certo descaso e negligência. O
termo provisório é constantemente confundido com precário e as instalações provisórias
são freqüentemente executadas sem nenhum critério e por mão-de-obra desqualificada
tecnicamente, o que aumenta o risco de surgimento de manifestações patológicas, tais
como: falhas de abastecimento, consumo excessivo de água e energia, desperdício,
ociosidade, vazamentos, pressões inadequadas, risco de acidentes, entre outros. Diante
desta situação, este artigo objetiva levantar algumas das várias medidas que podem ser
adotadas para a melhora da eficiência das instalações prediais provisórias de água em
um canteiro de obras, proporcionando atendimento à demanda solicitada pelas
atividades produtivas e consumo humano aliada ao uso racional e diminuição de
desperdícios deste recurso natural. 2. MODELOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
EM CANTEIROS DE OBRAS BIRBOJM (2001) levanta em seu trabalho a existência
de duas situações que intervêm na escolha da forma de abastecimento de água em
canteiros de obras: a existência de rede pública de abastecimento de água ou a
inexistência desta. Complementarmente a essas duas possibilidades de abastecimento,
existe uma ampla variação de concepções de layouts hidráulicos que podem ser
adotadas como soluções de distribuição de água no interior de um canteiro. O critério
para definição da concepção ideal, de alimentação dos pontos de utilização de água em
um canteiro de obras, não deve ser apenas aquele que proporcione uma maior facilidade
de execução, mas também, aquele que atenda à demanda de água solicitada, garantindo
fornecimento contínuo com o menor consumo possível. 2.1 Canteiros de obras com
abastecimento de água pela rede pública Quando a concessionária local disponibiliza o
serviço de abastecimento público de água na região onde será instalado o canteiro de
obras, deve-se optar por executar as instalações de água de forma definitiva, quando há
possibilidade de se aproveitar posteriormente os ramais de alimentação para a
edificação pronta, ou provisórias quando não se tem este interesse. Neste caso os
sistemas de abastecimento pode ser realizado de forma direta (sem a utilização de
sistemas RI-RS1), indireta (com a utilização de sistemas RI-RS provisórios ou
definitivos), ou mista (mesclando ambas as soluções). 2.1.1 Sistema direto de
abastecimento Nos sistemas diretos de abastecimento, conforme ilustrado na .1, a
pressão existente na rede pública de alimentação é responsável por conduzir o fluxo de
água até seu ponto de utilização sem auxílio de bombeamento. Normalmente a rede
pública possui pressão suficiente para abastecer de água vários pavimentos acima do
nível de acesso do canteiro. Segundo a SANEAGO -Companhia de Saneamento do
Estado de Goiás, em Goiânia há pontos em que a pressão pode chegar a atingir valores
próximos dos 700 KPa, sendo a pressão mínima regulamentada em 100 KPa, podendo
haver falhas durante alguns períodos do dia. Em São Paulo, de acordo com a SABESP,
a pressão da rede de distribuição pode variar de 150 a 450 KPa (BIRBOJM, 2001). A
alternativa de implantação de sistema direto de abastecimento, por um lado, pode ser
considerada vantajosa devido à necessidade de menores investimentos para a execução
das instalações provisórias de água no canteiro, entretanto, a elevada pressão da rede
pública ocasiona um maior consumo durante a utilização dos pontos de água. Também
neste sistema, as conexões dos ramais de alimentação tornam-se mais suscetíveis a
danos, tais como: rupturas de conexões, vazamentos, golpes de Ariete, entre outros. 1
Sistema RI-RS: Sistema predial de alimentação de água utilizando-se reservatório
inferior para armazenamento e superior para distribuição por gravidade. 2.1.2 Sistema
indireto de abastecimento O sistema indireto de abastecimento consiste na utilização de
reservatórios intermediários, provisórios ou definitivos (sistema RI-RS), para
armazenamento da água que vem da rede pública chegando a um reservatório inferior e
sendo recalcada até um reservatório superior para posterior distribuição por gravidade,
conforme ilustra a .2. A utilização de um reservatório inferior de armazenamento, e
outro superior para a distribuição da água por gravidade garante um funcionamento
seguro e consumo racional, devido à não dependência de um fornecimento contínuo de
água pela concessionária, e também devido à maior possibilidade de controle de
pressões às quais são submetidos os ramais de alimentações. Para tanto, deve-se utilizar
métodos matemáticos ou empíricos para o dimensionamento e determinação dos
diâmetros mais adequados para cada trecho do sistema, garantindo vazões, velocidades
de fluxo e pressões adequadas. 1: Sistema direto de abastecimento de água. 2: Sistema
indireto de abastecimento ou sistema RI-RS. 2.1.3 Sistema misto de abastecimento
Pode-se, também, adotar o sistema misto de abastecimento de água, conforme ilustra a .
3, em um canteiro de obras, quando a pressão da rede pública não for suficiente para a
alimentação dos pontos de utilização mais elevados. O sistema pode alimentar-se
diretamente da rede pública em pontos que solicitem menor pressão e dispor de
reservatórios intermediários e bombeamento para alimentar pontos que solicitem maior
pressão. Mais uma vez o dimensionamento correto, tanto dos diâmetros como dos
conjuntos moto-bombas, além de uma execução bem feita garantem pressões
controladas e um sistema que funcione adequadamente sem excessos e desperdícios de
consumo de água e de energia elétrica. 2.2 Canteiros de obras sem abastecimento de
água pela rede pública Os canteiros de obras localizados em regiões que não possuam
abastecimento público podem ser alimentado por poços artesianos, semi-artesianos,
caminhões pipa ou realizar-se a captação em um manancial próximo quando isto for
possível. Em todos estes casos, dependendo da finalidade para a qual a água será
utilizada, deve-se realizar freqüente monitoramento da qualidade da mesma. Quando
não há possibilidade de fornecimento público de água para o canteiro de obras, a
execução de poços artesianos ou poços de lençol freático, também denominados "mini-
poços" ou "semi-poços",são as soluções mais comumente empregadas. Adotando-se
este tipo de solução, recomenda-se a utilização de dois reservatórios, um inferior e outro
superior, conforme mostrado na .4. Algumas construtoras optam pela execução e
impermeabilização do poço do elevador para a utilização, do mesmo, como reservatório
inferior provisório para armazenamento da água do poço artesiano. Já quanto ao
reservatório superior, este pode ser um reservatório de pequenas dimensões de PVC ou
fibra de vidro, para onde a água será bombeada e depois distribuída por gravidade; por
ser constituído de um material leve, esse tipo de reservatório permite fácil deslocamento
no decorrer das fases da obra. A possibilidade de utilização de sistema de pressurização
para a distribuição da água provinda diretamente do poço, não é descartada; no entanto,
deve-se lembrar que quanto maior a pressão de uma rede de alimentação maior será o
consumo de água e maior será a possibilidade de surgimento de pontos de vazamentos,
principalmente em redes precariamente executadas. 3: Sistema misto de abastecimento
de água com reservatório inferior e equipamento de pressurização. 4: Sistema indireto
de abastecimento com poço artesiano. 2.2 A escolha do hidrômetro A escolha do
hidrômetro também é um fator que pode influenciar bastante no funcionamento e no
custo direto de consumo de água em um canteiro de obras. Antes de definir pela
execução do cavalete definitivo, deve-se calcular, ou ao menos estimar, qual será o
intervalo de vazão solicitada pelo canteiro de obras. Os erros de leitura de medição são
mais suscetíveis em sistemas de abastecimento direto, onde o medidor é submetido a
grandes variações de vazão durante o decorrer do período de produção de um canteiro
de obras. Um hidrômetro instalado em local onde haja solicitação de vazões fora dos
limites para o qual foi dimensionado, pode ocasionar erros grosseiros na medição do
consumo de água, restringir a vazão devido a perdas de carga exageradas e ter seu
período de vida útil reduzido, ocasionando gastos extras com manutenção e aferição
(REIS; PAULA & OLIVEIRA, 2004). A sub-medição ocorre caso o hidrômetro seja
submetido a vazões bem inferiores àquelas para as quais foi concebido; já a
supermedição em casos em que o medidor é submetido a sobrecarga de vazões
(COELHO, 1996). Segundo o Manual de Dimensionamento de Hidrômetros da
SANEAGO (2001), as faixas de vazão limites máximas e mínimas dos hidrômetros são
as apresentadas na Tabela 2.1: Tabela 2.1 -Faixa de consumo dos hidrômetros
Hidrômetro (Capacidade/Diâmetro) 3,0 m /h x 3/4" 5,0 m /h x 3/4" 7,0 m /h x 1" 10,0 m
/h x 1" 20,0 m /h x 1.1/2" 30,0 m /h x 2" Woltmann 300 m /dia x 2" (50mm) Woltmann
1.100 m /dia x 3" (80mm) Woltmann 1.800 m /dia x 4" (100mm) Woltmann 4.000 m
/dia x 6" (150mm) Consumo Mensal Limite Mínimo (m /mês) 0 181 271 361 541 1.201
2.501 8.501 13.001 19.501 Limite Máximo (m /mês) 180 270 360 540 1.200 2.500
8.500 13.000 19.500 86.500 Consumo Diário Limite Máximo (m /dia) 12 20 28 40 80
120 300 1.100 1.800 4.000 Fonte: Manual de Dimensionamento de Hidrômetros
SANEAGO (2001). A melhor forma de se evitar problemas com erro de leitura do
medidor é optar pela utilização de um reservatório inferior, seja ele definitivo ou não,
por onde toda a água que entre na obra deverá passar antes de chegar aos pontos de
utilização. A torneira de bóia do reservatório inferior pode trabalhar com grandes ou
baixas vazões diárias, porém sempre a baixas vazões horárias, permitindo o correto
dimensionamento do medidor a ser instalado. COELHO (1996) verificou, através da
análise da .5, onde comparou as vazões mínimas registradas por medidores distintos em
um edifício residencial, a ocorrência de perdas ocasionadas pela seleção inadequada de
um hidrômetro. O mesmo pode ocorrer em um canteiro de obras, onde geralmente se
adota o hidrômetro dimensionado para a medição do consumo da edificação a ser
executada e não para a medição da vazão solicitada pelo canteiro. 5: Curva de consumo
de um edifício comparada com a vazão mínima de hidrômetros de capacidade e tipos
diferentes, obtida com equipamento Datalogger. Fonte: COELHO (1996). 3. AÇÕES
QUE INTERFEREM NO CONSUMO DE ÁGUA DE CANTEIROS DE OBRAS
Segundo OLIVEIRA & GONÇALVES (1999), o Programa de Uso Racional de Água
(PURA) define três ações que contribuem para a redução de consumo de água em
edifícios, sendo elas: ações econômicas: aplicação de capital e incentivos, podendo estes
serem implementados por meio de subsídios para a aquisição de sistemas e
componentes economizadores de água, e desincentivos, como por exemplo a
implantação de tarifas progressivas para grandes consumidores de água; ações
tecnológicas: substituição de sistemas e componentes convencionais por dispositivos
com tecnologia que permita um menor consumo de água; ações sociais: realizadas
através de programas de conscientização e educação dos usuários. Voltando-se às
instalações provisórias de água em canteiros de obras, além das ações acima citadas,
pode-se agregar a denominação ações preventivas, que seriam a adoção de critérios que
garantissem a execução de um sistema de qualidade e com baixos índices de
desperdícios, mesmo sendo ele temporário. 3.1 Ações econômicas As ações econômicas
que podem intervir nas instalações provisórias de canteiros de obras, de modo a
proporcionar o uso racional de água, estão geralmente ligadas às previsões de
disponibilidade de capital destinadas à execução dos sistemas. Não havendo provisão
suficiente de recursos financeiros, não há como investir em tecnologias que
proporcionem economias. Normalmente, medidas de incentivo e subsídio não são
consideradas aplicáveis a canteiros de obras, sendo comum as empresas construtoras
adquirirem os componentes (tubos e conexões) antecipadamente para a execução de
instalações provisórias convencionais. Entretanto, uma pequena alteração no
cronograma de entrega dos projetos de sistemas prediais da edificação a ser construída,
possibilita o levantamento de todo material a ser adquirido, podendo gerar interesses de
parcerias entre empresas construtoras e fornecedores de materiais para instalações.
Neste caso, antes do início da implantação do canteiro de obras, é possível negociar-se
com a empresa fornecedora de materiais a possibilidade de subsídio de custo para
aquisição de dispositivos economizadores de água, tubos e conexões para serem
utilizados nas instalações provisórias do canteiro. As ações econômicas de desincentivo,
como a cobrança progressiva pelo consumo excedente ao padrão de água que atingem
diretamente questões financeiras das construtoras, são outras formas de obrigarem as
empresas a estudarem novos meios de execução de instalações provisórias que
proporcionem consumo mais racional, de menor desperdício e menor precariedade. 3.2
Ações preventivas Por ter um curto período de "vida de serviço",normalmente os
profissionais que executam as instalações provisórias não se preocupam com a
utilização de materiais e técnicas executivas apropriadas. Deste modo, a utilização de
produtos de baixa qualidade ou que já tenham sua integridade física afetada, e que não
servem mais para a execução das instalações definitivas, são considerados erroneamente
como candidatos ideais para integrar parte das instalações provisórias. Nas instalações
provisórias de água, desde pedaços de tubos quebrados, pedaços de mangueiras, tiras de
borracha são aproveitados, conforme ilustram as Figuras 3.1, 3.2, 3.3 e 3.4. Conexões
como luva e curvas muitas vezes são descartadas, sendo as mesmas executadas
esquentando o próprio tubo. Procedimentos como estes por mais incorretos que sejam,
ocorrem ainda hoje, não por causa de desconhecimento técnico, mas por negligência
profissional. 1: União de tubo e mangueira de polietileno, bolsa feita através do
aquecimento do tubo. 2: Torneira com vazamento devido a precariedade da instalação
utilizando tira de borracha. 3: Curvas executadas através do aquecimento do tubo. 4:
Vazamento no adaptador com flange para caixa d água. O índice de desperdício em
instalações hidráulicas executadas de forma precária em canteiros de obras pode
ocasionar elevação do consumo de água a níveis muito altos. Em programas como o
PURA (OLIVEIRA & GONÇALVES, 1999) foram constatadas edificações com
índices de desperdício de água que chegavam a 94%,devido à existência de vazamentos
na rede hidráulica. Devido à cultura de execução precária das instalações provisórias, as
redes hidráulicas de canteiros de obras possuem maior probabilidade de agregar
vazamentos visíveis e não visíveis. A adoção de ações preventivas pode ajudar a reduzir
índices como os seguintes: um pequeno vazamento, que cause um gotejamento
constante e que passe despercebido à maioria das pessoas, durante um dia pode
consumir algo em torno de 46 litros de águas equivalente a 1.380 m /mês; já um filete
de água de 2 mm, escoando continuamente, pode levar a um consumo de quase 5,0
m /mês (DECA, 2004). Situações como estas, facilmente encontradas em canteiros de
obras, devem ser combatidas adotando-se programas de qualidade que garantam a
implementação das ações preventivas. As instalações provisórias de água devem ser
encaradas com maior seriedade no momento da execução. Como, normalmente, não há
projetos de instalações provisórias, pode-se solicitar que durante a contratação dos
projetos de instalações hidrossanitárias da edificação, seja também contratada a
consultoria de um profissional habilitado com experiência, para que sejam estabelecidos
critérios de execução e dimensionamento das redes hidráulicas. As ações preventivas de
caráter de orientação devem ser trabalhadas em conjunto pelos profissionais
responsáveis pela execução das instalações provisórias e o responsável técnico da obra
ou consultoria contratada. A utilização de materiais de qualidade satisfatória, a garantia
das condições de serviço de execução e a adoção de critérios de dimensionamento e de
estudos criteriosos de layout, podem parecer excesso de cuidados para a execução das
instalações provisórias, mas, certamente, implicarão em menores gastos com aquisição
de materiais, prevenção de vazamentos e também de pressões inadequadas além de
garantir um menor consumo de água. Um exemplo de adoção de técnicas preventivas é
a utilização de procedimentos para a realização de cortes retilíneos em tubos,
garantindo, assim, estanqueidade nos pontos de encaixe com as conexões. A .5 ilustra
formas de marcação, a utilização de módulo guia empregado para realização de cortes
retilíneos em tubos e a marcação da profundidade da bolsa para confirmação do encaixe
total do tubo na conexão. A .6 mostra um provável ponto de vazamento devido à não
utilização destas técnicas. Um corte não retilíneo restringe o tamanho da área de
soldagem entre o tubo e a conexão, criando um ponto vulnerável ao aparecimento de
vazamentos. 5: Métodos de marcação e corte que garantem um melhor acabamento do
sistema. Fonte: Manual Técnico Tigre (1986); BOTELHO & RIBEIRO Jr.,(1998).
Ponto sem contato .6: Provável ponto de vazamento devido ao corte não retilíneo
executado do tubo. Fonte: Manual do Encanador Tigre (1982). 3.3 Ações tecnológicas
O objetivo deste grupo de ações é substituir alguns dos componentes convencionais das
instalações provisórias por outras tecnologias disponíveis, com o intuito de alcançar a
redução do consumo de água independentemente do comportamento de utilização dos
usuários. Atualmente existem no mercado diversos componentes que propiciam a
economia de água para o consumidor, sendo vários deles voltados para
estabelecimentos públicos ou residenciais; entretanto, alguns podem ser implantados em
canteiros de obras com a finalidade de redução de consumo de água. No caso de
canteiros de obras recomenda-se, antes de se cogitar a adequação do sistema, realizar
uma avaliação técnica e econômica sobre os possíveis locais de implantação e reais
benefícios que estes dispositivos economizadores podem trazer. Por exemplo:
tecnicamente não é viável instalar uma torneira com fechamento automático em uma
central de argamassas; também, a implantação de válvulas de fechamento automático
em duchas, no banheiro dos funcionários, pode ocasionar descontentamentos e gerar
resultados contrários ao desejado. Componentes que afetam diretamente os hábitos dos
usuários, no caso os operários de um canteiro de obras, muitas vezes não agradam a
todos. Um grau de insatisfação elevado, quanto ao funcionamento das instalações
provisórias de água para consumo humano, pode ocasionar reações contrárias à redução
do consumo de água. Existem relatos de casos em que funcionários insatisfeitos com a
implantação de componentes economizadores de água criaram artimanhas para impedir
o correto funcionamento dos mecanismos reguladores de consumo. O grande risco de se
introduzir este tipos de componentes, sem realizar uma campanha de conscientização
em paralelo, é a indução a atos de vandalismo contra as instalações provisórias, o que
acarretaria em prejuízos maiores que os benefícios pretendidos com a adaptação do
sistema. Por outro lado, a utilização planejada de alguns destes componentes
economizadores de água, tais como: arejadores (.7), registros reguladores de vazão (.8),
válvulas para mictórios (.9), gatilhos para pontas de mangueiras, entre outros, mostra-se
viável na maioria das instalações provisórias existentes em canteiros de obras. A
economia gerada durante a vida útil do canteiro de obras, proporcionada pela utilização
de componentes redutores de consumo de água pode compensar o investimento inicial,
principalmente se a empresa construtora pensar em termos de aproveitamento desses
componentes em obras futuras. Os tópicos a seguir apresentam características técnicas e
econômicas de alguns dos componentes economizadores de água e soluções
tecnológicas que podem ser adotadas em instalações hidrossanitárias de canteiros de
obras com a finalidade de racionalizar o consumo: a instalação de torneiras
hidromecânicas pode gerar uma economia acima de 29% no consumo de água nos
pontos de utilização, quando comparado com as torneiras convencionais ÁVLILA et al.
(1991) apud OLIVEIRA (1999); o emprego de arejadores com vazão constante em
torneiras, pode limitar o fluxo de água em 6 l/min, 8 l/min ou 14 l/min, dependendo do
modelo, enquanto que uma torneira sem esse componente pode gerar um fluxo
aproximado de 20 l/min (ARANHA, 2002); em casos de utilização de torneiras de pia e
lavatórios em bancadas, pode-se empregar um registro regulador de vazão (.8), que
permite ajustar a vazão mais econômica em função da pressão disponível; Segundo
estudos realistados pelo departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade
Federal de Santa Maria (DOCOL, 2004) o uso de válvulas de descarga automáticas para
mictórios pode reduzir em aproximadamente 60% o consumo de água quando
comparado a mictórios com descarga de água contínuas de 0,05 l/s ou controlados por
registro de pressão; o uso de bacias turca, que funcionam tanto como bacia sanitária e
como mictório, também permite economia já que a vazão de água necessária para a
limpeza não é de fluxo contínuo; Segundo a Universidade Federal de Santa Maria
(DOCOL, 2004), a utilização de válvulas hidromecânicas em chuveiros proporcionou
uma redução de aproximadamente 60% no consumo de água, devido a seu
funcionamento, limitado a intervalos de 30 minutos; em caso de utilização de bacias
sanitárias, deve-se preferir a adoção de bacias com caixa de volume reduzido, como as
de 6 litros, ou, ainda, as bacias com acionamento seletivo, que permitem a regulagem de
3 ou 6 litros por acionamento. Estas bacias podem gerar uma redução considerável no
consumo de água quando comparadas com os modelos convencionais; A adoção de
bicos tipo gatilho nas pontas de mangueiras, também, contribui para reduções de
consumo de água em atividades de limpeza, como, por exemplo: a limpeza de fôrmas
por um período de 30 minutos, com uma torneira medianamente aberta, pode consumir
algo em torno de 216 Litros de água e até 560 Litros se estiver totalmente aberta. Um
bico tipo gatilho de fechamento automático, acoplado à ponta da mangueira, poderia
reduzir bastante o volume de água consumido durante a realização desta atividade, pois
eliminaria os intervalos de ociosidade com vazamento constante. 7: Arejadores em
torneiras garantem redução e regulagem de vazões. Fonte: DOCOL (2004); DECA
(2004). 8: Registro regulador de vazão. Fonte: DOCOL (2004). 9: Válvula para
mictório. Fonte: DECA (2004). 10: Torneira com fechamento automático. Fonte: DECA
(2004). 11: Válvula de automático para chuveiros. Fonte: DECA (2004). fechamento -o
aproveitamento de água de chuva também vem surgindo como solução para a redução
do consumo de água tratada em canteiros e execução de edifícios. Propostas de
pesquisas em estudo na Universidade Federal de Goiás pretendem analisar as
possibilidades de utilização desta água para emprego em áreas de vivência, limpeza,
execução de argamassas e concretos e outros fins. constatou-se, ainda, que algumas
empresas construtoras goianas gerenciam o consumo de água através de leituras diárias
dos hidrômetros de seus canteiros de obras e, que, juntamente com dados obtidos
através do diário de obra, estabelecem formas razoáveis de controle do volume de água
solicitado para a execução de certas atividades. sendo o processo de cura do concreto
uma atividade que gera elevado consumo de água, o emprego de sacos de tecidos ou de
qualquer outro material que retenha certo volume de água, pode proporcionar economia
de consumo devido a menor necessidade de ciclos de molhagem. 3.3.1 Banheiros
químicos Outra solução que pode proporcionar redução de consumo de água nos
canteiros de obras é a utilização de banheiros químicos, conforme apresenta a .12.
Segundo o engenheiro Lino (TÉCHNE 84, 2004), um banheiro químico, com bacia
sanitária e mictório, consome aproximadamente 20 litros de água a cada intervalo de
manutenção, além disso, não necessita que sejam executadas redes de água e esgoto,
prevenindo os constantes problemas de funcionamento das instalações provisórias de
água, tais como vazamentos e excessos de pressão. No canteiro de obras, os banheiros
químicos, além de proporcionarem economia de água, também, possibilitam uma maior
produtividade da mão-de-obra, pois podem ser distribuídos em diversos pavimentos da
construção, diminuindo assim o tempo de acesso dos funcionários ao mesmo. Segundo
Januário Fabrim, diretor da Planeta Saneamento (TÉCHNE 84, 2004), a locação de uma
cabine modelo standard, com manutenção semanal de coleta de dejetos, assepsia,
aplicação de bactericida e aromatização, custa aproximadamente o equivalente a um
salário mínimo por mês para uma construtora da Grande São Paulo. 12: Modelo de
cabine de banheiro químico com mictório e vaso sanitário Os banheiros químicos
funcionam através de tanques de armazenamento e coleta de dejetos, que possuem
produtos químicos biodegradáveis que inibem a proliferação de bactérias e odores
desagradáveis. Sua aplicação, em canteiros de obras, deve seguir as mesmas
recomendações estabelecidas pela NR-18 para banheiros convencionais, e os intervalos
entre manutenções podem seguir o prescrito na Tabela 3.1 abaixo. Tabela 3.1 -Cálculo
do Número Adequado de Cabines Nº de Funcionários 1 15 funcionários 30 funcionários
60 funcionários 90 funcionários 120 funcionários 200 funcionários 1 cabine 2 cabine 4
cabine 6 cabine 8 cabine Manutenções necessárias / semana 2 -1 cabine 2 cabine 3
cabine 4 cabine 7 cabine 3 -1 cabine 2 cabine 3 cabine 3 cabine 5 cabine 14 cabine
Fonte :Gisele Cichinelli Planeta Saneamento (2004) apud TÉCHNE 84 (2004). 3.4
Ações sociais Ao se executar um plano de redução de consumo de água é indispensável
que programas de educação e campanhas de conscientização do usuário sejam
implementadas. As ações sociais devem atuar no âmbito da informação de todos os
usuários do sistema e devem abordar tópicos como os seguintes: o motivo do uso
racional da água; a importância da redução de volume de água consumido; a
importância da identificação, informação e correção de vazamentos; informações sobre
procedimentos de racionalização em atividades que consomem água; vantagens da
utilização de dispositivos economizadores de água. Pesquisadores como (OLIVEIRA,
1999) afirmam que esta pode ser uma das melhores maneiras de se obter resultados de
economia através da redução de consumo de água. Em muitos casos uma campanha
bem planejada pode gerar resultados melhores do que a implantação de ações
tecnológicas, além do mais, não se impõem formas ditatórias de mudanças bruscas nos
hábitos dos usuários, não gerando índices de descontentamento. Entretanto, é
importante ressaltar que as campanhas de conscientização devem ser realizadas de
forma contínua, pois é característica do ser humano "relaxar" as medidas de auto-
policiamento após certo tempo de atuação. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo
REBOUÇAS (2002), aumentar a eficiência nos usos dos sistemas de hidráulicos, cuja
situação atual dominante ainda se caracteriza por grandes perdas de água tratada nas
redes de distribuição e grandes desperdícios pelos usuários, é um dos itens integrantes
da Carta das Águas Doces do Brasil, documento elaborado em parceria ABES e Sabesp
para contribuição para a Rio +5, que ocorreu em março de 1997 no Rio de Janeiro. O
item eficiência dos usos discute necessidades de se promover um melhoramento da
utilização dos serviços de saneamento em nosso país, diminuindo os índices de perdas e
desperdícios. Em épocas de escassez dos recursos naturais, em particular a da água, a
crescente preocupação com adoção de medidas de redução de consumo mostram-se
justificáveis. Como visto pela população em geral, em dezembro de 2003, não só os
reservatórios de água que abastecem a Grande São Paulo, mas também os reservatórios
de outras regiões do país atingiram suas capacidades mínimas, e o constante risco de
racionamento não escolhe classes sociais ou setores econômicos. A escassez afeta a
todos, e seus efeitos são traduzidos em prejuízos econômicos e queda na qualidade de
vida de toda a população. A busca pela eficiência de usos envolve todo e qualquer tipo
de usuário de água. Desta forma, também abrange soluções que possibilitem a
implementação de melhorias de desempenho das instalações provisórias em canteiros de
obras, trazendo economia de execução, diminuição de perdas além de consumo racional
dos recursos disponíveis. Simples cuidados durante a execução, a identificação e
controle de perdas por vazamentos, pequenas mudanças de hábitos dos usuários, adoção
de critérios de dimensionamento e layout hidráulico, entre outras, são ações que visam o
uso racional da água e que facilmente são implementadas em qualquer sistema predial
provisório que integre um canteiro de obras. O maior investimento e dispêndio de mão-
de-obra especializada, para a execução de sistemas prediais provisórios mais eficientes,
certamente se justificarão através do retorno de benefícios, tais como a redução de
consumo e preservação dos recursos naturais, além da economia financeira devido à
redução da taxa de serviço de água e energia. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Manual Técnico Tigre: Orientações sobre Instalações Hidráulicas e Sanitárias. 3ª Ed.
Joinvelle: TIGRE, 1986. p.94. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos
colegas da Universidade Federal de Goiás e da Universidade de São Paulo que
participaram da realização deste trabalho. E agradecem, também, ao CNPq pelo
financiamento da pesquisa através do fornecimento de bolsa de auxílio mestrado.