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RESUMO: A obra de M. Foucault aponta para um esgotamento dos valores que tiveram
vigência ate o inicio do Século XX, ela é destruidora de convicções,
problemastiza o passado e pergunta pela atualidade. A sua preocupação com "o
agora" faz com que Foucault oferece um Curso no College de France tomando como
tema um escrito de Kant "Wasist Aufklärung". Kant inaugura um novo tipo de
questão no campo da reflexão filosófica: "é a questão do presente, a questão da
qualidade. Que é que se passa hoje? Que é que se passa agora? E que é este agora
aonde estamos todos, uns e outros, e que define o momento aonde eu escrevo? O
que é o presente que faz sentido atualmente a uma reflexão filosófica ?" (
FOUCAULT, Dits et Ecrits, 1994, vol. IV, p. 680).
Na sua passagem por Salvador (BA) 1976, o objetivo das suas problematizações era
a questão sobre o poder, apresentando uma perspectiva completamente inovadora,
afastando-se das analises marxistas ou fenomenológicas.
Didier Eribon aponta como "O surgimento de novos problemas políticos (movimentos
feministas, homossexuais, lutas no setor de psiquiatria, da saúde, etc. )
permitiu a Foucalt abrir o questionamento teórico e critico para novos campos da
experiência. Compreende-se assim como a Histoire de la folie, com a condição de
suprimir-se o prefacio de 1960, pôde ser reintegrada a esse duplo movimento, e
ser percebida não só como um livro político, no sentido definido por Foucault,
mas descrita retrospectivamente como um livro anunciador desse novo
questionamento. Se o pensamento encarado como atividade histórica e critica-se o
próprio gesto político consiste em uma `problematizacao daquilo que nos parece
evidente, a Histoire de la folie pode doravante ser relida como uma obra
eminentemente subversiva: a dinamizadora das certezas".(Eribon,1996.p.125)
Numa carta particular anterior a sua doença ele expressou o desejo de que não
houvesse "publicação póstuma". Conhecendo seu amor a perfeição os herdeiros de
Michel Foucault hesitaram muito. É uma questão de interpelação, A minha é muito
clara. Há três partes: os textos inacabados ou abandonados, como um manuscrito
sobre Manet ou a correspondência. Quanto a isso há duvida: não se coagita de
publicar. Os cursos do Collège de France? É discutível, e ele próprio hesitava.
Parece que ainda o ouço disser: Há muita coisa inútil, mas também há muito
trabalho e pistas de trabalho que poderiam servir para os meninos .Em
compensação parece-me que quanto e esse quarto volume não há erro. Faz parte da
Histoire de lasexualité, é a chave da obra, o volume favorito de Foucault.
Estou plenamente convencido de que ele o rescreveria na integra, e essa
reelaboracao, que lhe era habitual, o levaria mais longe do que previa: ele me
prometeu (o livro) para dali a dois messes. Não obstante o manuscrito existe e
reflete um estado de pensamento de Foucault, um estado perfeitamente coerente;
(basta) um mínimo de maquilagem editorial ( como reincorporar citações, por
exemplo). Nesse caso me parece que não o publicar é uma grande responsabilidade.
Mas só me cabe respeita-la. (Eribon: 1990,p.303).
Foucault não tinha medo da morte: às vezes dizia isso aos amigos, quando falavam
sobre o suicídio, e os fatos mostraram, embora de outra maneira, que não era
bravata. Foucault incorporou ainda de outra sabedoria antiga: durante os últimos
oito messes de sua vida a redação de seus dois livros teve um papel que o texto
filosófico e o diário intimo desempenham na filosofia antiga: o de um trabalho
de si sobre si, de uma autoesterilização. Aqui se situa um incidente que guardo
na lembrança como um ato heróico. Nesses oito meses, portanto, Foucault se
dedicava a escrever e rescrever esses dois livros, a liquidar essa longa dadiva
consigo mesmo; falava-me sem parar desses livros, às vezes me submetia uma de
suas traduções, mas se queixava de uma tosse persistente e de uma febre
incessante que lhe diminuía o ritmo; por cortesia me fazia pedir conselhos a
minha mulher, que e medica e não podia fazer nada". "Seus médicos vão achar que
você esta com AIDS", eu lhe disse um dia. Brincando ( as brincadeiras reciprocas
sobre a diferença de nossa preleções amorosas eram um dos ritmos da amizade). "É
exatamente o que eles acham, e eu bem o entendi com as perguntas que me
fizeram". Os leitores de hoje terão dificuldade em acreditar que naquele mês de
fevereiro de 1994 uma febre e, uma tosse ainda não levantavam suspeitas: a
doença ainda era um flagelo tão distante e ignorado que parecia legendaria e ate
talvez imaginaria. Nenhum de seus familiares desconfiava de nada: só soubemos
depois. "Você devia descansar", continuei. Trabalhou demais com grego e latim,
isto o esvaziou." "Sim, mas depois", respondeu. "Primeiro quero terminar com
esse dois alfarrábios". "Essa AIDS existe mesmo ou é uma lenda moralizante?".
Perguntei, por simples curiosidade ( pois a historia da medicina não é a minha
principal paixão). "Pois bem, escute". Ele respondeu tranqüilamente e depois de
um instante de reflexão, "eu estudei o assunto de perto, li algumas coisas a
respeito: sim, existe, não é lenda. Os americanos estudam bem de perto". E em
duas ou três frases me deu detalhes metodológicos, que esqueci. Afinal ele era
historiador da medicina e como filosofo, pensei, se interessa pela atualidade.
Pois as noticias de fontes americanas sobre o " câncer dos homossexuais"( era
assim que se dizia) aparecem regularmente nos jornais. Hoje seu sangue frio
diante de minha pergunta boba me tira o fôlego; ele deve Ter pensado que um dia
seria assim, que eu meditaria sobre sua resposta e contaria com a minha memória
e teria pequenina e amarga consolação; dar exemplo vivo era outra tradição da
filosofia antiga ( Erbon: 1990,p.305)
Este trabalho é uma pequena homenagem ao pensador que foi Michel Foucault.
Resgatamos as palavras que ficaram por aqui, em Salvador, 1976, dispersas em
jornais. A conclusão ficara por conta do leitor. A obra de Foucault retrata a
atualidades por ele vivida. Os inúmeros trabalhos já escritos sobre a sua obra
ou daqueles que utilizam op seu pensamento como "ferramenta" para pensar a
realidade que nos aposenta hoje de um modo tão fragmentado, múltiplo e complexo
apontam o revolucionário que foi Michal Foucault.
NOTAS
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
__________ Des Espaces Autres. In: Dits et Ecrits. Vol IV, Paris<Gallinard,
1994
__________ Le retour de la morale. In: Di ts et Ecrits. Vol. IV, Paris,
Gallimard, 1994