Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paulo Santana
Estou voltando para esta coluna depois de uma semana de férias médicas. Não está nada
bem minha situação, mas está tudo sob controle.
Volto para meu lugar, onde sempre cumpro o dever de divertir os leitores ou de bradar
contra injustiças.
Quando escrevi há meses que era radicalmente contra a realização da Copa do Mundo
no Brasil, eu não estava sendo irresponsável.
Como vou provar hoje, eu estava sendo um profeta.
Eu vivo em que terra? Vivo onde não têm os governos verdadeiras quantias
ridiculamente pequenas para prever tragédias meteorológicas, enquanto os mesmos
governos, com o apoio de seus legislativos, despendem fortunas colossais de centenas
de bilhões de reais para realizar uma Copa do Mundo no Brasil em 2014.
Com migalhas orçamentárias poderíamos ter evitado a morte de oito pessoas no mínimo
em São Lourenço, além da dizimação de rebanhos inteiros pelas inundações.
Com os bilhões que serão gastos nas obras públicas da nossa Copa do Mundo
poderíamos acabar com a fila funérea e funesta das cirurgias e das consultas pelo SUS.
Mas preferimos,como governo e povo, assistir a que continuem a morrer milhares de
pessoas nas filas dos hospitais e das cirurgias, destinando verbas sagradas que deveriam
ser destinadas à saúde para a Copa do Mundo luxuosa e inconseqüente dos nossos
devaneios ludopédicos.
Não ter dinheiro para salvar vidas que clamam por socorro no SUS e outras vidas que
poderiam ser salvas se tivéssemos equipamentos meteorológicos que previssem
catástrofes naturais – e esbanjar fortunas para realizar uma Copa do Mundo que dura
menos de 30 dias – é uma das maiores monstruosidades sociais que sustentamos.
Então, este colunista que lhe escreve, quando teve a audácia de ser contra a realização
da Copa de 2014 no Brasil, contrariando toda a inteligência do sistema, não estava
sendo irresponsável, leviano e demagogo.
Estava sendo apenas profético. Além de humanista.