Você está na página 1de 12

FUNDAMENTOS DA ECONOMIA: perguntas mais freqüentes e

respostas mais simples


José Henrique de Faria1

Esse texto é destinado à formação de pessoas. Foram arroladas as


perguntas mais comuns e frequentes feitas em diversos cursos ministrados
pelo autor e destinados à população em geral, geralmente sem familiaridade
com a Economia. A partir dessas perguntas, surgidas ao longo de quase uma
década de cursos, o autor entendeu que uma forma de ampliar o conhecimento
e fornecer um material para os interessados, fosse sistematizar as dúvidas em
temas, organizar as questões e fornecer respostas o mais simples possível. É
esse material que está agora disponível no site.

A. PRODUTO
1. Por que algumas vezes se usa o PIB e outras o PNB como medida de
riqueza?
O Produto Interno Bruto mede o valor total de bens e serviços disponíveis na
economia. O Produto Nacional Bruto mede a quantidade de bens e serviços
produzidos pela economia. Alguns Fatores de Produção (RN; K; T; Tc)
utilizados no processo produtivo são de propriedade de residentes no exterior;
do mesmo modo, alguns residentes no país têm Fatores de Produção sendo
utilizados em outros países. Assim, parte da renda gerada no país é
pagamento de fatores de propriedade de não residentes e parte da renda
gerada em outros países é pagamento de fatores de propriedade de residentes
no país. A diferença entre produto interno e produto nacional é a renda líquida
enviada para o pagamento de fatores de propriedade de não residentes.
PN = PI + Renda Líquida Enviada ao Exterior
PNB = PIB + RLEE
Países que são grandes produtores e possuem mais empreendimentos no
exterior do que empreendimentos de estrangeiros em seu país preferem utilizar
o PNB porque este reflete a capacidade produtiva interna e externa da
economia. Países em que sua capacidade produtiva é fortemente influenciada
por empreendimentos de estrangeiros muito mais do que seus
empreendimentos influenciam a economia de outros países, preferem utilizar o
PIB como medida de seu desempenho. Tratam-se, ambas, no entanto, de
medidas de contas nacionais.
2. Qual a relação entre Produto e Renda?
O Produto é o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos na
economia em um determinado período de tempo (normalmente um ano)
expressos em valores monetários. A Renda, que também é expressa em
valores monetários, é o total dos pagamentos feitos aos fatores de produção
que foram utilizados para a obtenção do Produto (salários, juros, aluguéis e

1
Para citar: FARIA, José Henrique de. Fundamentos da Economia: perguntas mais freqüentes
e respostas mais simples. Curitiba: EPPEO, 2008. Texto de Formação. Acesso:
www.eppeo.org.br

1
lucros pagos aos agentes econômicos detentores dos Recursos Naturais,
Capital, Trabalho e Tecnologia).
3. O que é valor adicionado ou valor agregado?
A produção de bens é uma atividade que se processa através de cadeias
produtivas. Para efeito de medida do valor do Produto Final de um bem, não se
pode contar o valor da produção de um bem intermediário que o compõe senão
uma única vez ao longo da cadeia produtiva. O fio é computado na fabricação
de um tecido; o tecido é o valor do fio (custo de matéria prima) mais o valor
agregado para produzi-lo; a roupa é o valor do tecido (custo de matéria prima)
mais o valor agregado ou adicionado para produzi-la. Valores agregados são,
assim, aqueles que se somam aos já computados na produção de um bem, de
maneira a evitar a dupla contagem.
4. Qual a diferença entre Produto Nacional Bruto e Produto Nacional
Líquido e entre preço de mercado e custo de fatores?
Do total de bens e serviços finais produzidos por uma economia em um
determinado período de tempo, uma parte refere-se a máquinas e
equipamentos que vão compor o estoque de capital, incorporando-se ao
mesmo. Uma parcela destas máquinas e equipamentos, no entanto, vão repor
outras máquinas e equipamentos que se desgastaram durante o processo
produtivo, ou seja, que se depreciaram. Assim, o Produto Nacional Líquido
considera apenas a produção de bens finais destinados a repor o estoque de
capital consumido no período.
PNL = PNB – Depreciação
O Produto Nacional pode ser medido a preço de mercado e a custo de fatores
(PNapm e PNacf). O governo, ao longo de todo o processo produtivo e nas
diversas etapas de comercialização, cobra impostos indiretos (IPI, ICMS). O
valor cobrado dos impostos, em cada etapa, refere-se, contudo somente ao
valor agregado. Quando se mede o Produto Nacional pela soma dos valores
adicionados em cada etapa da produção, o resultado será o do produto a custo
de fatores. Quando se mede o Produto Nacional pela somatória dos preços de
venda, multiplicados pela quantidade de produtos vendidos, o resultado será o
produto a preço de mercado. Assim, a diferença entre estas duas medidas é o
total dos impostos indiretos.
PNacf = PNapm – Impostos Indiretos
5. Qual o significado de Renda Disponível do Setor Privado?
Significa o quanto o setor privado da economia teve ao seu dispor como
resultado da atividade econômica. Tomando-se a Renda Nacional acf e dela
deduzindo-se todos os impostos diretos (IRPF, Previdência) e a este resultado
acrescentando-se todas as transferências que o Setor Público faz ao Setor
Privado (aposentadorias, subsídios, etc.), tem-se a RDSP (que se destina a
Consumo e Poupança).
6. A Renda per Capita e/ou o Produto per Capita podem avaliar a riqueza
relativa de uma economia?
Em termos. Tratam-se, ambas, de medidas de renda/produto médias
(renda/produto dividido pelo número de pessoas). Entretanto, tal medida não
revela a concentração/distribuição de renda de uma economia, sendo assim
um indicador restrito.
7. Quais são e como se medem as Contas Nacionais?
São seis as contas: Conta Renda e Produto Nacionais (onde são lançadas as
transações envolvendo as unidades produtivas); Gastos das Famílias (onde

2
são lançadas as rendas e transferências recebidas pelas famílias bem como
seus gastos, impostos pagos e poupança); Gastos do Governo (onde são
lançadas as receitas e despesas correntes do Setor Público); Resto do Mundo
(onde são lançadas as transações com o exterior: o saldo representa o
superávit ou déficit em transações correntes, que é o item do Balanço de
Pagamentos que congrega importações e exportações de mercadorias –
Balança Comercial - e transações que envolvem serviços); Conta Consolidada
de Capital (onde são lançados os saldos das poupanças das contas anteriores,
os gastos com a formação de capital – investimentos e estoques – e a
depreciação). Mede-se:

a. Renda
RNLacf = Salários + Juros + Aluguéis + Lucros + Contribuição Previdenciária
Patronal + Impostos Diretos das Empresas + Renda do Governo + Rendas das
Famílias
RNLapm = RNLacf + Impostos Indiretos – Subsídios
RNBapm = RNLapm + Depreciação

b. Produto
PIBapm = Consumo das Famílias + Gastos (Consumo) do Governo +
Investimentos em Bens de Capital + Variação de Estoques + Exportações -
Importações
PNBapm = PIBapm – Renda Enviada ao Exterior + Renda Recebida do
Exterior

c. PNBamp = RNBapm

d. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBKf) = FBKf do Governo + FBKf do


Setor Privado (a qual é igual à produção da indústria de bens de capital +
importações de bens de capital)

B. JUROS
1. Por que o Governo aumenta os juros?
Porque o país começa a perder muitos dólares de suas reservas cambiais.
Quando as reservas ficam muito baixas, o país passa a ter dificuldades para
pagar suas contas no exterior (juros, dívidas, etc.). Aumentando a taxa de juros
o governo espera atrair ou manter o capital financeiro no país. Com o aumento
da taxa de juros o investimento financeiro passa a render mais, fazendo com
que investidores estrangeiros e nacionais mantenham suas aplicações no país
em lugar de buscar mercados mais seguros (EUA, Londres, etc.). Porém, a
captação de capital financeiro resolve um problema imediato, mas cria outro,
que é o aumento da dívida, pois todo o dinheiro que entra como crédito
aumenta o passivo (débito).
2. Todo o capital financeiro é adequado para o país?
A princípio sim. Porém, o capital financeiro que se transforma em investimento
produtivo tem efeitos benéficos, pois tem caráter de propagação, gerando
outros capitais. Já os capitais especulativos drenam as riquezas decorrentes da
produção, ainda que possam ser necessários para dar lastro às reservas.

3
3. Por que os investidores desejam retirar o dinheiro aplicado em um
país?
Os investidores e, mais especialmente, os especuladores, tiram seu dinheiro
quando há fortes indícios de fuga de dólares, seja pela ameaça de
instabilidade, seja pela baixa remuneração, seja pela composição entre o alto
risco e o baixo retorno. Começa, assim, um círculo vicioso. As reservas do país
começam a cair e os investidores temem que o dólar dispare. Nesta situação,
os investidores teriam de comprar dólar mais caro quando fossem deixar o
país, razão pela qual ficam ansiosos para levar rapidamente seu dinheiro
embora. Quando mais os dólares saem, mais instável fica a economia e maior
o risco.
4. A elevação dos juros acalma os mercados?
Sim e não. Os ganhos dos estrangeiros que estão no país se tornam maiores
do que os obtidos fora do país, o que, de certa forma, acalma o mercado. Por
outro lado, o mercado interno fica nervoso porque muitas empresas e bancos
precisam de dinheiro nacional para cumprir seus compromissos e o custo deste
dinheiro é o juro alto.
5. Quais os impactos da alta de juros?
As dívidas públicas (federais, estaduais e municipais) aumentam muito. Assim,
os governos ficam muito endividados sem gastar mais com obras ou serviços
(educação, saúde, etc.), tendo, portanto, de conseguir mais dinheiro para pagar
suas contas, o que fará com aumento de impostos, com empréstimos e/ou com
rolagem (repactuação) da dívida.
6. Que medidas o governo pode tomar além da alta de juros para segurar
as aplicações estrangeiras?
O governo pode isentar ou diminuir os impostos sobre as aplicações
estrangeiras em renda fixa; pode oferecer facilidades tributárias para diferentes
tipos de aplicações financeiras, escolhendo aquelas que mais lhe interessam
que fiquem no país; pode dar maiores facilidades para que o capital
especulativo permaneça no país lançando títulos em dinheiro nacional
indexados ao dólar, entre outras.
7. A política de alta de juros dá certo?
O capital estrangeiro está sempre mais interessado em segurança, em
credibilidade, do que em juros altos. A tendência é que quanto menor a
credibilidade, maior os juros. Mas isto tem um limite, acima do qual a economia
nacional entra em bancarrota. Assim, uma política de juros altos só dá
resultados se houver um mínimo de credibilidade.
8. Como o aumento dos juros afeta os cidadãos?
Quem tem dívidas em cheque especial ou em cartão de créditos, paga mais.
Quem financia a aquisição de bens ou de serviços sem taxa de juros pré-
fixada, verá suas parcelas aumentarem muito. Quem pretende comprar à
prazo, poderá ter mais dificuldades para obter crédito.
9. Quais são as duas pontas dos juros?
Em uma ponta está o juro básico, que é a taxa SELIC, monitorado pelo Banco
Central, que serve de parâmetro para aplicações financeiras e custo da dívida
do governo. Em outra ponta está o juro do crédito, que é formado pelo custo de
captação do dinheiro junto aos investidores, custos operacionais, impostos,
taxa de risco e lucro. O juro do crédito pode ficar mais caro mesmo que haja
queda do juro básico, pois o crédito contém um componente de incerteza; além
disto, a expectativa de alta de juros de crédito se reflete no mercado futuro (nos

4
Depósitos Interbancários – DI) e nas taxas dos Certificados de Depósitos
Bancários (CDB) oferecidos pelos bancos aos aplicadores.
10. O que é taxa SELIC
É a taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia – SELIC, divulgada
pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central. Ela tem vital
importância na economia, pois as taxas de juros cobradas pelo mercado são
balizadas pela mesma. Assim, se a taxa anual está em 17% e a inflação do
mesmo período foi de 5%, a taxa de juro real anual foi de 12% (a diferença). A
taxa overnight do SELIC, expressa na forma anual, é a taxa média ponderada
pelo volume das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos
públicos federais e realizadas no SELIC, na forma de operações
compromissadas. É a taxa básica utilizada como referência pela política
monetária

C. ESPECULAÇÃO
1. O que é um ataque especulativo?
É a aposta dos investidores contra a moeda de um país, no sentido de que a
mesma se desvalorize. A premissa é de que haja chance razoável de ganhar a
aposta. Como não há disponibilidade automática de toda a quantidade de
moeda solicitada, o governo é obrigado a desvalorizá-la ou elevar a taxa de
juros, ou ainda a adotar ambas as medidas para tentar segurar os investidores
no país. Se a moeda estiver sobrevalorizada ou o país estiver muito
dependente de moeda estrangeira, as possibilidades de sucesso dos
apostadores são boas.
2. Quando se sabe se a moeda está sofrendo ataque especulativo?
A moeda está sofrendo ataque especulativo quando as saídas de dólar do país
ocorrem mais como movimento de defesa contra uma eventual desvalorização
da moeda do que em decorrência de outras opções de ganhos financeiros por
parte dos investidores.
3. Como se pode enfrentar o ataque especulativo?
Sendo uma questão de aposta e de credibilidade, o que está ao alcance dos
governos é a obtenção de empréstimos externos para reforçar suas reservas e
a adoção de uma política de combate à especulação nos mercados financeiros
e nas bolsas. Estas medidas dão um tempo para respirar, mas não indicam o
fim do ataque, pois para isto é necessário que a economia esteja estável (como
é o caso da economia brasileira atualmente).
4. Qual o significado de comprado e vendido no mercado especulativo?
Comprado é o jargão que indica que um determinado banco comprou dólares,
tanto no mercado à vista quanto no mercado futuro (neste caso, expressa a
expectativa de desvalorização da moeda nacional frente ao dólar). Vendido é o
jargão utilizado para referir-se à situação em que um banco vendeu dólares no
mercado à vista ou futuro (neste caso, expressando sua expectativa de
valorização da moeda nacional frente ao dólar).
5. O que são os derivativos?
São as operações que derivam de outras, ou seja, as que negociam
expectativas a respeito do mercado físico. São negócios feitos no mercado
futuro, como opções de compra de produtos agropecuários, taxas de juro,
taxas de câmbio, metais, índices de ações e de conjuntura.
6. Qual a diferença entre mercado futuro e mercado pronto?

5
Mercado futuro é aquele em que se fazem negociações de contratos que
representam expectativas de variação nos mercados físicos em determinado
período. As partes envolvidas assumem o compromisso de pagar ou receber
determinado valor no prazo de vencimento. Este mercado pode envolver
câmbio, índices de bolsas de valores e opções de compras de mercadorias. Já
o mercado pronto é o mercado à vista, no qual as operações de compra e
venda são pagas em até dois dias úteis (D+2) após a efetivação da
negociação. É também chamado de mercado spot.

D. CAPITAL EXTERNO
1. O que é capital externo?
É como são chamados os investimentos, empréstimos ou financiamentos
estrangeiros recebidos pelo país. Este dinheiro pode ser aplicado nas Bolsas
de Valores, pode ser emprestado às empresas e ao governo ou investido
diretamente na produção (compra ou abertura de uma fábrica etc.).
2. Por que o capital externo ingressa no país?
Em busca de lucros. O capital ingressa onde a relação ganho/segurança for
melhor.
3. Quando um país é considerado um mercado arriscado?
Quando tem um histórico de inflação e de calotes das dívidas externa e interna,
quando a política econômica não inspira confiança porque o governo gasta
mais do que arrecada (déficit público) e o país importa mais do que exporta
(déficit comercial) sem que tal déficit seja compensado no Balanço de
Pagamentos.
4. O que é capital especulativo?
É o nome genérico que se dá para todos os investimentos externos que
buscam lucros altos em prazos curtos. Este dinheiro concentra-se nas Bolsas
de Valores (mercado acionário), nos investimentos de juros (derivativos) e
cambial. Trata-se de um tipo de capital que é transferido de um país para outro
com facilidade.
5. Atrair capital externo é ruim?
Em tese não. O capital externo permite que a economia de um país cresça
mais rapidamente ou, então, que o Governo amplie a oferta de serviços à
população ou que invista em infra-estrutura urbana e social. Capital externo é
uma “poupança externa” utilizada por um país quando sua poupança interna é
insuficiente para suas necessidades de investimento. Porém, quando um país
depende demasiadamente do capital externo (por falta de capacidade de
geração de poupança interna), acaba ficando sujeito às variações do mercado
internacional. Se este capital for especulativo, a situação é ainda mais frágil.
6. Como acontece a fuga de capitais?
Para ingressar em um país, os investidores externos trazem dólares, compram
a moeda local e fazem suas operações. Quando tais investidores acreditam
que está se tornando desvantajoso ou muito arriscado continuar no país,
compram seus dólares de volta e remetem ao exterior.
7. A fuga de capitais pode ser provocada por investidores nacionais?
Sim. Os investidores nacionais podem acreditar que é arriscado ou
desvantajoso manter seu dinheiro no país e, assim, trocam a moeda local que
possuem por dólares e os enviam ao exterior.
8. Quais as conseqüências da fuga de capitais?

6
Se muitos investidores decidem comprar dólares, o valor do dólar tende a subir,
comprometendo o controle dos preços internos (inflação). Para enfrentar a fuga
de capitais o governo eleva os juros, comprometendo o crescimento da
economia e elevando o desemprego. Se a fuga não for contida, o país ficara
sem divisas para honrar seus compromissos externos, o que pode gerar um
período de inflação e de profunda recessão.
9. Como a situação internacional pode afetar o país?
Mesmo que um país consiga conter a fuga de capitais, se a economia mundial
caminhar para um período de retração é inevitável o fato da queda do consumo
mundial prejudicar as exportações ao mesmo tempo em que há forte tendência
dos investimentos externos diminuírem bastante, fazendo com que o país
acompanhe o desaquecimento (recessão) mundial.
10. O que é reserva cambial?
É a soma de moedas estrangeiras e ouro acumulados pelo país, geralmente à
partir da diferença entre o ingresso e a saída de moeda forte. É uma espécie
de garantia de que o país conseguirá pagar sua dívida externa e assegurar que
os importadores conseguirão fazer câmbio para pagar suas compras no
exterior.

E. AJUSTE DAS CONTAS PÚBLICAS


1. Quando ocorre déficit público?
Ocorre quando o governo (federal, estadual e municipal) gasta acima de suas
receitas. Isto é possível de duas maneiras: emitindo moeda (o que gera
inflação) ou fazendo dívidas em títulos públicos (o que tende a elevar os juros).
Quando acontece a emissão de títulos, a quantidade de moeda em circulação
na economia diminui (entra papel e sai dinheiro) e as possibilidades de
investimento privado também diminuem (por dois motivos: porque o dinheiro
torna-se muito caro e porque são mais atrativos os ganhos financeiros do que
os decorrentes da produção).
2. Qual a diferença entre déficit nominal, operacional e primário?
2.1. Déficit nominal é o critério mais amplo para medir o déficit público, pois
leva em conta todos os gastos públicos, incluindo as despesas com o
pagamento das dívidas interna e externa;
2.2. Déficit operacional é um critério (introduzido no Brasil no período de
inflação alta) de medida que não leva em conta o crescimento da dívida pública
que resulta de correção monetária;
2.3. Déficit primário é um critério de medida que não leva em conta os
gastos com juros da dívida pública, mas apenas a diferença entre receitas e
outras despesas. Quando o Setor Público tem déficit primário, precisa fazer
dívidas para cobrir despesas de custeio, investimento e/ou pessoal. Voltaremos
a este assunto no item G, adiante.
3. Qual a relação entre déficit e juros?
O déficit público tende a provocar alta dos juros, por que o governo se torna o
principal devedor do mercado e é obrigado a pagar taxas cada vez mais altas
para conseguir dinheiro emprestado. Esta situação reflete um princípio do
mercado financeiro que diz que quanto maior o risco representado pelo
devedor, mais juro ele paga.
4. Qual a relação entre déficit e crescimento?

7
O déficit público pode estimular o crescimento econômico por meio de obras
que gerem empregos, de investimento em infra-estrutura social, em
desenvolvimento científico e tecnológico, em aportes ou financiamento de
atividades produtivas, entre outras. Quando o déficit público cresce a ponto de
gerar desconfiança no mercado, entretanto, ocorre uma alta nas taxas de juros
e a conseqüente redução dos investimentos públicos, comprometendo o
crescimento e o desenvolvimento econômico. Se o país tem poupança
suficiente para financiar o déficit e os investimentos, não precisa atrair
poupança externa; caso contrário, como já foi exposto anteriormente, torna-se
dependente do capital externo.
5. Que relação existe entre juro, câmbio e política monetária?
Política monetária é o conjunto de políticas adotadas pelo governo para
adequar a quantidade de moedas disponível no país às necessidades da
economia. Os dois grandes instrumentos de política monetária são os juros e o
câmbio, pois se tratam de formas de remunerar o dinheiro, de estabelecer o
seu valor e de definir a quantidade necessária para circular na economia.

F. CONTAS EXTERNAS
1. Como são divulgadas as contas externas brasileiras?
Desde janeiro de 2001, o Banco Central divulga as contas externas brasileiras
seguindo a metodologia recomendada no "Manual do Balanço de Pagamentos"
editado pelo Fundo Monetário Internacional. Esse manual define as normas
internacionais para a apuração das contas externas de forma integrada,
englobando os dados de fluxos (o Balanço de Pagamentos propriamente dito) e
os dados de estoques de ativos e passivos financeiros internacionais do País.
2. Qual a estrutura do Balanço de Pagamentos?
O Balanço de Pagamentos (BP) é estruturado em dois grandes grupos de
contas:
• A conta corrente, que agrega a balança comercial, a balança de serviços
e rendas e as transferências unilaterais correntes líquidas;
• A conta capital e financeira, que agrega os investimentos diretos e em
carteira de estrangeiros no País e de brasileiros no exterior, além de operações
com derivativos e outros investimentos.
A soma dos resultados das contas “corrente” e “capital e financeira” constitui o
resultado global do BP, resultado este que, por definição, é igual à variação das
reservas internacionais no conceito de liquidez internacional. Os erros e
omissões podem dar margem a uma discrepância estatística entre os dois
fluxos, sendo devidamente registrados no Balanço de Pagamentos.
3. Como a conta corrente brasileira tem evoluído?
A conta-corrente brasileira pós-Plano Real (1994) apresentou duas tendências
opostas. Até 1998, os déficits foram crescentes, atingindo o pico histórico
naquele ano (US$33,4 bilhões, equivalentes a 4,2% do PIB). A partir de 1999,
todavia, com a adoção do regime de câmbio flutuante, verificou-se um ajuste
gradual das transações correntes brasileiras, fechando 2004 com superávit de
US$11,7 bilhões ou 1,9% do PIB. Embora diversos fatores afetem o
desempenho do comércio externo (como o nível de atividade doméstica, a
demanda externa, os termos de troca – preços de exportação e importação – e
as tarifas e barreiras ao comércio), o principal motor do crescente saldo
comercial desde 1999 tem sido a taxa de câmbio real efetiva, que trouxe um

8
relativo ganho de competitividade para as exportações (de alguns produtos) e
impulsionou a substituição de importações por produção doméstica.
4. O que é a taxa de câmbio real efetiva?
A taxa de câmbio real efetiva, elaborada pelo Banco Central, é uma medida da
competitividade das exportações, dada pela cotação do real em relação às
moedas de nossos 15 principais mercados, ponderada pela participação
desses países no total das exportações brasileiras. Utiliza-se um índice
doméstico de inflação como deflator interno e os respectivos índices de preços
ao consumidor de cada país como deflator externo. É, portanto, um indicador
mais amplo da competitividade das exportações do que taxas de câmbio
bilaterais.
5. O que são as necessidades de financiamento externo?
Definem-se as necessidades de financiamento externo como sendo a diferença
entre o saldo em conta corrente e os investimentos estrangeiros diretos
líquidos (incluindo empréstimos intercompanhias). Ou seja, correspondem à
parcela do déficit de transações correntes não financiada pela entrada líquida
de investimentos diretos. Quando esse ingresso líquido é mais do que
suficiente para cobrir o déficit em conta-corrente, as necessidades são
negativas.
6. Qual o tamanho da dívida externa? Qual sua evolução recente?
Em 2005, a dívida externa brasileira fechou na casa dos US$200 bilhões. Após
uma fase de crescimento acelerado entre 1990 e 1998, o endividamento
externo passou a apresentar tendência de queda a partir de 2000. A dívida
externa de médio e longo prazos totalizava, em 2005, US$180 bilhões,
enquanto a dívida externa de curto prazo situava-se em US$20 bilhões.
7. Que proporção da dívida externa é pública?
Em 2005, o setor público não-financeiro (que inclui o Tesouro Nacional, o
Banco Central, os governos estaduais e municipais e as empresas estatais)
tinha responsabilidade sobre 63% da dívida externa de médio e longo prazos,
enquanto o setor privado e o setor público financeiro respondiam pelos 37%
restantes.
8. Qual a composição da dívida externa?
Em 2005, cerca de 35% da dívida era constituída por meio de bônus e 25% por
meio de empréstimos junto a organismos internacionais, incluindo o FMI, o
Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Essas duas
últimas categorias são majoritariamente de responsabilidade do setor público
não-financeiro. Há ainda um saldo de dívida de US$3,5 bilhões junto ao Clube
de Paris, também de responsabilidade do setor público não-financeiro. Já a
maior parte da dívida externa do setor privado é constituída por meio de notes2,
empréstimos bancários e créditos de fornecedores.
9. Qual a composição da dívida externa por moeda?
A maior parte da dívida externa está expressa em dólares norte-americanos
(70,8%), enquanto o euro responde por cerca de 9,6% do total e o iene japonês
por cerca de 7%. Cerca de 12,6% da dívida são expressos em DES (Direitos
Especiais de Saque), a "moeda" do FMI. Há ainda pequenas denominações da
dívida em libra esterlina, franco suíço e dólar canadense, que alcançam cerca
de 1% do total.

2
Obrigações de médio/longo prazo do tesouro norte-americano. Suas emissões têm
vencimentos entre 2 e 15 anos.

9
10. Que proporção da dívida externa está contratada a taxas de juros
fixas?
Quanto à composição da dívida por taxa de juros, 60,4% estão contratados a
taxas de juros fixas e 39,6% a taxas flutuantes (38,3% dos quais vinculados à
Libor3), em 2005.

G. DÍVIDA LÍQUIDA E NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO


SETOR PÚBLICO
1. Qual a diferença entre Setor Público e Governo no que se refere à
dívida?
Em função das peculiaridades histórico-institucionais do Brasil, temos dois
conceitos:
• Setor Público: utilizado para mensuração da dívida líquida e do déficit
público correspondente ao setor público não-financeiro mais Banco Central.
Considera-se como setor público não-financeiro as administrações diretas
federal, estaduais e municipais, as administrações indiretas, o sistema público
de previdência social e as empresas estatais não-financeiras federais,
estaduais e municipais, além da Itaipu Binacional. Incluem-se também no
conceito de setor público não-financeiro os fundos públicos que não possuem
característica de intermediários financeiros, isto é, aqueles cuja fonte de
recursos é constituída de contribuições fiscais ou parafiscais. O Banco Central
é incluído na apuração da dívida líquida pelo fato de transferir seu lucro
automaticamente para o Tesouro Nacional, além de ser o agente “arrecadador”
do imposto inflacionário.
• Governo: para obtenção de indicadores mais próximos dos padrões
internacionais, adota-se o conceito de Governo, que abrange as
administrações diretas federal, estaduais e municipais, bem como o sistema
público de previdência social.
2. O que é dívida líquida do Setor Público?
Corresponde ao saldo líquido do endividamento do setor público não-financeiro
e do Banco Central com o sistema financeiro (público e privado), com o setor
privado não-financeiro e com o resto do mundo. Entende-se por saldo líquido o
balanceamento entre as dívidas e os créditos do setor público não-financeiro e
do Banco Central. É importante ressaltar que os saldos da dívida líquida são
apurados pelo critério de competência4, ou seja, a apropriação de encargos é
contabilizada na forma pro rata (proporcionalmente ao tempo da dívida),
independente da ocorrência de liberações ou reembolsos no período. Deve-se
mencionar ainda que, diferentemente de outros países, o conceito de dívida

3
LIBOR é LONDON INTERBANK OFFERED RATE (Taxa Interbancária do Mercado de
Londres); PRIME é PRESCIBED RIGHT TO INCOME AND MAXIMUM EQUITY (Taxa
Preferencial de Juros - Bolsa de Valores de Nova York).
4
O regime de competência é um princípio contábil segundo o qual as receitas e as despesas
devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem,
independentemente de recebimento ou pagamento. Exemplo: O lojista aceita o pagamento das
compras de clientes através de cartões de crédito. As empresas de cartões cobram uma taxa
(comissão) sobre as vendas, a título de operacionalização e garantia do crédito. Tais taxas
devem ser apropriadas, contabilmente, pelo lojista, por ocasião da venda, e não somente por
ocasião da liberação (crédito) do valor em sua conta corrente.

10
líquida utilizado no Brasil considera os ativos e passivos financeiros do Banco
Central, incluindo, dessa forma, a base monetária.
3. O que é dívida bruta do Governo?
A dívida bruta do Governo abrange o total dos débitos de responsabilidade do
Governo Federal, dos governos estaduais e dos governos municipais, junto ao
setor privado, ao setor público financeiro, ao Banco Central e ao resto do
mundo. Os débitos de responsabilidade das empresas estatais das três esferas
de governo não são abrangidos pelo conceito. Os débitos são considerados
pelos valores brutos, sendo as obrigações vinculadas à área externa
convertidas para reais pela taxa de câmbio de final de período (compra). Os
valores da dívida mobiliária do Governo Federal (que abrange dívidas
securitizadas e carteira de títulos públicos federais no Banco Central) são
calculados com base na posição de carteira, que não leva em consideração as
operações compromissadas realizadas pelo Banco Central. São deduzidos da
dívida bruta do Governo Federal os créditos representados por títulos públicos
que se encontram em poder de seus órgãos da administração direta e indireta,
de fundos públicos federais, dos estados e dos municípios, a saber: aplicações
da previdência social em títulos públicos, aplicações do FAT (Fundo de Amparo
ao Trabalhador) e outros fundos em títulos públicos e aplicações dos estados
em títulos públicos federais. Analogamente, são deduzidas da dívida dos
governos estaduais e dos municipais as parcelas correspondentes aos títulos
em tesouraria.
4. Quais as diferenças entre déficit ou superávit nominal e primário?
• O resultado nominal (déficit ou superávit) corresponde à variação dos
saldos da dívida, deduzidos os ajustes patrimoniais efetuados no período
(privatizações e reconhecimento de dívidas). Abrange o componente de
atualização monetária da dívida, os juros reais e o resultado fiscal primário.
Dependendo das finalidades, sua metodologia de cálculo pode incluir, ainda, o
impacto da variação cambial sobre a dívida externa e sobre a dívida mobiliária
interna indexada a moeda estrangeira (ajuste metodológico).
• O resultado primário é, em resumo, uma operação simples que indica a
diferença entre a receita e as despesas. Os juros incidentes sobre a dívida
líquida dependem do nível de taxa de juros nominal e do estoque da dívida
que, por sua vez, é determinado pelo acúmulo de déficits nominais passados.
Assim, a inclusão dos juros no cálculo do déficit dificulta a mensuração do
efeito da política fiscal executada pelo Governo, motivo pelo qual se calcula o
resultado primário do setor público, que corresponde ao déficit nominal5
(NFSP) menos os juros nominais apropriados por competência, incidentes
sobre a dívida pública. A parcela dos juros externos e incidentes sobre a dívida
mobiliária vinculada a moeda estrangeira é convertida pela taxa média de
câmbio de compra.
5. O que significa ajuste patrimonial?
Significa variações nos saldos da dívida líquida não consideradas no cálculo do
déficit público. Inclui as receitas de privatização e a incorporação de passivos
contingentes (esqueletos) 6.

5
O déficit nominal corresponde às Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP).
6
Passivos contingentes (esqueletos) correspondem a dívidas juridicamente reconhecidas pelo
Governo, de valor certo, e representativas de déficits passados não contabilizados (o efeito
econômico já ocorreu no passado).

11
6. Por que é necessário fazer ajuste metodológico?
Ao obter financiamento no exterior, os governos em geral o fazem em moeda
do país em que o empréstimo é efetuado ou em alguma outra unidade de conta
válida para contratos no exterior (dólar americano, direitos especiais de saque,
euro, etc.). Portanto, variações de paridade entre moedas estrangeiras, ou a
variação cambial entre o dólar americano e o real, não aumentam nem
diminuem o déficit público, porque não afetam o saldo da dívida externa
medido na moeda em que o financiamento foi efetuado. Dessa forma, o
componente do setor externo nas NFSP é mensurado a partir dos fluxos
efetivos em dólares americanos, convertidos para a moeda nacional, à taxa
média de câmbio. A apuração da dívida externa líquida, uma medida de
estoque, é feita convertendo-se os saldos pela taxa de câmbio de final de
período. Na presença de variação cambial da moeda nacional, ou de paridade
entre as diferentes moedas e o dólar americano, fica claro que a variação da
dívida externa líquida, expressa em reais, é diferente dos fluxos externos
líquidos em moeda estrangeira, convertidos para reais. O ajuste metodológico,
portanto, é necessário porque se trata de uma medida desse diferencial, pois
corresponde à diferença entre a variação da dívida externa líquida convertida
pela taxa de câmbio de final de período e as necessidades de financiamento
externas, convertidas pela taxa média de câmbio.

12

Você também pode gostar