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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE- CCS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA

DISCIPLINA: BIOQUÍMICA PARA FARMÁCIA

MINISTRANTE: Profª Drª GRAÇA CASTELO BRANCO

CITOCROMOS P450 E BIOTRANSFORMAÇÃO DE DROGAS

Ricardo Felipe Silva Soares

TERESINA, NOVEMBRO DE 2009


CITOCROMOS P450 E BIOTRANSFORMAÇÃO DE DROGAS

1.0 - PROPIEDADES E FUNÇÕES:

Citocromos P450 (pigmento com uma absorbância a 450) são proteínas integrais de
membrana contendo um único grupo prostético ferro protoporfirina IX (heme). O ferro heme
dos citocromos P450 é capaz de formar 6 ligações, quatro com os quatro átomos de nitrogênio
pirrólicos do anel porfirínico e dois com ligantes axiais. Um dos ligantes axiais é um grupo
sulfidrila de um resíduo de cisteína localizado perto da extremidade de carboxila da molécula
de citocromo P450, e o outro ligante pode estar em aberto ou ocupado por oxigênio, CO, NO
ou água.

Todos os citocromos são moléculas triangulares. Metade da enzima consiste de estrutura em


α- hélice, e a outra metade é folha β e outras estruturas; uma longa hélice- I atravessa a
enzima, por trás da heme. Esta é a estrutura básica de todos os citocromos conhecidos embora
em alguns a localização relativa possa diferir ou alguns elementos minoritários estejam
faltando.

2.0 - CICLO DE REAÇÃO:

A reação catalizada por um citocromo P450 é:

NADPH + H⁺ + O₂ + SH → NADP⁺ + H₂O + SOH

Nessa reação o NADPH é um doador de dois elétrons e o substrato S pode ser um esteróide,
um acido graxo, uma droga ou outro componente químico que contenha um alcano, um
alceno, um anel aromático ou um anel heterocíclico substituinte que possa servir como sítio
de oxigenação. A reação é uma monoxigenação e a enzima é uma monoxigenase porque
incorpora apenas um dos átomos de oxigênio ao substrato.

O mecanismo geral pelo qual o citocromo P450 catalisam a monoxigenação de seus substratos
é parecido para todos eles. O ciclo de reação é iniciado pela ligação de substrato ao heme na
forma nativa, férrico, de alto spin, pentacoordenado. O primeiro elétron pode ser transferido
para o heme, reduzindo-o a forma ferroso, de alto spin, pentacoordenado só depois de o
substrato ter sido ligado. Agora, oxigênios pode então se ligar ao heme ferroso, e a segunda
transferência de elétrons é facilitada.
Subsequentemente, o oxigênio molecular é ativado e clivado, um átomo é inserido no
substrato( monoxigenação), e outro combina-se com dois prótons e dois elétrons para formar
H₂O.

Os dois elétrons necessários a oxidação são fornecidos ao NADPH, mas um problema


mecanístico básico é criado porque o NADPH é um doador de dois elétrons, e o citocromo
P450 com seu único ferro heme, pode aceitar um só elétron por vez. Esse problema é
resolvido pela presença de flavoproteína redutase NADPH- dependente, que aceita dois
elétrons do NADPH simultaneamente, mas transfere os elétrons individualmente para uma
proteína ferro-enxofre intermediária ou diretamente para o citocromo P450. O grupo redox
ativo da flavoproteína é o anel isoaloxazina, que é muito apropriado para realizar essa tarefa
química, uma vez que pode existir em estados totalmente oxidados ou reduzidos com um ou
dois elétrons. A transferência de NADPH para citocromo P450 é realizada por sistemas de
transporte de elétrons distintos. No reticulo endoplasmático, a flavoproteína doadora de
elétrons é o NADPH- citocromo P450 redutase. Nas mitocôndrias, esse é o NADPH-
Adrenodoxina redutase.

3.0 . NOMECLATURAS E ISOFORMAS:

Devido ao grande numero de citocromos P450 que foram indentificados, um sistema de


classificação das enzimas em grupos funcionais e nomeclatura foi desenvolvido. O sistema
escolhido é baseado em classificação de acordo com a indentidade relativa das sequencias de
aminoácidos das enzimas. A superfamília dos citocromos P450 é assim dividida inicialmente
em famílias, nas quais a indentidade das sequencias de aminoácidos é maior dos membros é
superior a 40%. A família é designada pelo prefixo “CYP”,em referência a cytochrome P450,
seguida por um numeral arábico (ex: CYP1, CYP2, CYP3 e etc). As famílias são ainda
divididas em subfamílias, nas quais a indentidade de sequencia de aminoácidos dos membros
é superior a 55%. A subfamília é indentificada por uma letra maiúscula arábica (ex: CYP1A,
CYP1B e etc). Os membros individuais de cada subfamília são então numerados na ordem em
que foram indentificados. Embora citocromos P450 sejam enzimas, os termos “isoenzima” ou
“isozima” não são usados pára descrever essas proteínas; em vez disso, o termo forma ou
isoforma é usado
Substratos para o citocromo P450 incluem tanto compostos sintetizados endogenamente como
colesterol, hormônios esteróides e ácidos graxos, como compostos exógenos, como drogas,
aditivos de alimentos, componentes de cigarros, pesticidas e compostos químicos, que são
ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele.

4.0- BIOTRANSFORMAÇÃO DE DROGAS POR CITOCROMOS P450

A biotransformação de drogas envolve reações bioquímicas específicas, sendo que cada etapa
tem a participação de seqüências enzimáticas altamente ordenadas.

Várias enzimas diferentes podem atuar no processo de biotransformação de drogas. Fazendo-


se a homogeneização do tecido hepático e, em seguida, a separação fracionada do
homogenado, pode-se obter três frações de interesse farmacológico: a fração mitocôndrica, a
fração microssômica e a fração solúvel. O sistema citocromo P450 faz parte da fração
microssômica e é responsável pelas reações de oxidação de inúmeras drogas, desempenhando
papel fundamental na biotransformação (Korolkovas e Burckhalter, 1988; DeLucia et al.,
1988 A).

Até o momento são conhecidas 11 famílias do citocromo P450 humano, que incluem 30
enzimas ou citocromos diferentes. Apenas as famílias CYP1, CYP2 e CYP3 são importantes
na biotransformação de drogas. Dentro dessas famílias, as isoenzimas 1A2, 2C9, 2C19, 2D6 e
3A3/4 são reconhecidamente as mais importantes para o metabolismo de drogas.

A seguir, a importância de duas izoenzimas P450 será detalhado. Tais isoenzimas são citadas
na farmacologia por seu papel na biotransfromação de algumas drogas.

4. 1- CYP 1A2.

Ainda não existe constatação da existência de polimorfismo envolvendo a isoenzima CYP1A2


devido à ausência de uma droga de teste padrão para esta análise in vivo. Isto significa que,
até o momento, nenhuma substância que seja exclusivamente metabolizada por este citocromo
foi identificada.

O metabolismo oxidativo da cafeína tem sido utilizado como teste de detecção in vivo da
atividade de CYP1A2, apesar de outras isoenzimas, como CYP2E1 e CYP3A3/4, também
contribuírem, embora em menor proporção, para o seu metabolismo. Apesar desta limitação, a
cafeína continua a ser o único teste in vivo existente para avaliar a atividade da isoenzima 1A2
(Riesenman, 1995). A desmetilação do analgésico fenacetina tem sido utilizada como teste in
vitro para caracterizar os efeitos indutor ou inibidor de diversas drogas sobre essa isoenzima
(Ozdemir et al., 1998).

Até o momento, poucos substratos de CYP1A2 foram identificados. Dentre as drogas


metabolizadas por este citocromo, pode-se citar os antipsicóticos clozapina e haloperidol, os
analgésicos fenacetina e paracetamol, o anticoagulante R-warfarin, o beta-bloqueador
propranolol, e o broncodilatador teofilina (Ereshefsky et al., 1995). O CYP1A2 catalisa
também a biotransformação de alguns antidepressivos, como por exemplo amitriplina,
clomipramina, imipramina e fluvoxamina (Hara e Rocha, 1998).

Em estudos com microssomas hepáticos humanos, os inibidores seletivos da recaptação de


serotonina (ISRSs) citalopram, N-demetilcitalopram, fluoxetina, norfluoxetina, paroxetina,
venlafaxina e sertralina mostram-se inibidores fracos da demetilação da fenacetina (substrato
de CYP1A2) à paracetamol (Coutts, 1994; Preskorn, 1997). A fluvoxamina, além de substrato
de CYP1A2, inibe de forma clinicamente significativa esta isoenzima. Sua utilização
concomitante a substratos de CYP1A2 produz efeitos tóxicos (Daniel et al., 1994). Por outro
lado, a fumaça do cigarro é um potente indutor de sua atividade (Hara e Rocha, 1998).

4.2- CYP3A3/4

O CYP3A3/4 é responsável pelo metabolismo oxidativo de uma grande quantidade de


substâncias como os benzodiazepínicos midazolam e alprazolam, bloqueadores dos canais de
cálcio, antiarrítmicos, antibióticos, anticonvulsivantes, os antiarrítmicos lidocaína,
propafenona e quinidina; os anti-histamínicos astemizole e terfenadina; o antipsicótico
clozapina; os bloqueadores dos canais de cálcio diltiazem, felodipina, nifedipina e verapanil;
os antidepressivos amitriptilina, clomipramina e imipramina, sertralina e nefazodona e ainda a
carbamazepina, a cisaprida, a eritromicina, o etinilestradiol e o tamoxifeno (Ereshefsky et al.,
1995; Hara e Rocha, 1998).
Os fármacos eritromicina, midazolam e omeprazol são utilizados como drogas de teste in vivo
para medir a atividade da isoenzima em questão (Bertilsson et al., 1997). O cetoconazol, a
fluvoxamina e a nefazodona são potentes inibidores da atividade de CYP3A3/4, enquanto a
carbamazepina e a fenitoína são fármacos indutores de sua atividade (Bertilsson et al., 1997).
Curiosamente, segundo Riesenman (1995), o suco de uva também inibe fortemente essa
isoenzima
5.0 – REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:

DEVLIN, Thomas M. Manual de bioquimica com correlacoes clinicas. 4ed. Sao Paulo:
Edgard Blucher, 2000. 1007p.

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