aqueles que se encarregam do trabalho sujo. São eles: os escritores e as garotas de programa. Nós estamos aí, o que se há de fazer? Permanecemos sempre com vontade de nos debruçar sobre aquilo que todos já sabem a salteado, mas a preguiça macunaímica é mais forte e impede a maioria sempre. Existem temas mais originais, mais profun- dos (?) do que o sexo: como a flexibilidade dos galhos secos. E a vida sexual dos orangotangos é muitíssimo mais interessante do que a dos huma- nos. Você, por exemplo, deve ter visto mais docu- mentários sobre isso do que sobre os tratores. Por- tanto, Quenga de plástico é um livro pequeno, para não exaurir. Afinal, como no sexo, no livro existe a hora de entrar e a hora de sair. Esse livro tam- bém tem essa petulância de insistir no banal, no comum, no geral. Porque sei que é feio e imodesto mostrar as entranhas. E eu gosto de mostrá-las.
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São crônicas, apesar de parecerem contos. Decidi escrever crônicas porque o cronista tem muitos atributos, mas o essencial e que mais me deixa curiosa é a presunção. Esses seres que acreditam que o seu conversê vale algum níquel. Escrever crônica é falar sozinho. Não é amigável. Escrever crônica é pensar sobre temas atuais. E por acaso existe algum tema mais atual do que eu? Sim, sou presunçosa e acredito mais em minhas palavras banais do que em minha própria existên- cia. Me orgulho de todas as linhas que seguem e de todas as vezes em que abri minhas pernas. Dando dinheiro, continuarei dando a preço modesto para relatar no papel minhas aventuras levianas. Espero que seja ad aeternum. E se pensa que um dia minha bunda cairá, saiba que meu cérebro sobreviverá, e com ele vou me mantendo de mentiras e casos que apenas se esqueceram de acontecer. Se você tiver paciência de ler o livro inteiro, vai perceber que eu sou uma engraçadinha duma figa. Acontece que no decorrer do livro, minha profundidade foi se enunciando enquanto eu a descobria. Muito embora seja isso o que normal- mente acontece às pessoas que escrevem. Por isso decidi finalizar o serviço. Um tanto de medo de ser poeta e estar sempre olhando para o lado mais imprestável da vida. O meu otimismo doentio venceu a poesia!
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Também fiz um blog, porque sei o quanto sou interessante. E dele nasceu esse livro que você tem em mãos. Dizem que na vida devemos escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Eu já serrei uma árvore, fiz um aborto e agora quero muito quei- mar esse livrinho pós-moderno. Adeus a todos e até a moderna inquisição.
Fui gemendo.
Leysla Kedman
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