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Recebido em 27/6/2005
v.13, n.2, p.223-231, mai.-ago. 2006 Aceito em 12/4/2006
Resumo
O desafio do gestor de estoques é saber quando e quanto ressuprir de cada material e quanto deve manter em esto-
que de segurança. Com o crescente número de itens com diferentes padrões de demanda e características específicas,
a complexidade na administração de materiais aumenta devido à necessidade de controle diferenciado. Este trabalho,
por meio de um estudo de caso em uma empresa química, propõe um método de classificação dos materiais em famí-
lias afins com a adoção de políticas distintas de ressuprimento e estoques de segurança, com o objetivo de garantir o
balanceamento dos estoques e atender aos níveis de serviço requeridos à produção.
Palavras-chave: classificação multiitens, padrões de demanda, políticas de ressuprimento, estoques de segurança.
1. Introdução
A utilização de estoques, seja de segurança ou de co- estoques de materiais com diferentes padrões de deman-
bertura para atender à demanda média durante o lead time da, classificando-os em famílias afins para a aplicação de
é extremamente importante porque possibilita um melhor diferentes políticas de reposição e determinação dos esto-
nível de atendimento ao cliente e melhora a competitivi- ques de segurança. O que se pretende testar neste estudo
dade da empresa em relação aos concorrentes. de caso é se a segmentação dos itens em famílias para
Segundo Lenard e Roy (1995), o controle de estoque é controle e reposição vai, efetivamente, reduzir os níveis
estudado desde 1913 com Harris ao introduzir a fórmula de estoques de forma balanceada e garantir os níveis de
do lote econômico de compra. Para uma organização, a serviço requeridos à produção, estabelecidos como sendo
otimização do fluxo de materiais é de vital importância, a probabilidade de não faltar material na produção.
pois os estoques representam grande parte dos seus cus- A finalidade é relatar a solução de um problema prá-
tos logísticos. Além disso, a produção tem um ritmo que tico de controle de estoques pela aplicação de técnicas
não deve ser interrompido e o custo de manutenção dos combinadas, objetivando a otimização dos estoques da
estoques representa capital parado que poderia estar sen- empresa estudada, que é de médio porte e possui uma
do utilizado para outros fins. Krever et al. (2003) mos- extensa variedade de matérias-primas e produtos acaba-
traram em seu estudo que um gerenciamento eficiente de dos. Como os produtos são para pronta-entrega, de alta
estoques balanceia a disponibilidade de produto, o nível substituição e os espaços de armazenagem são limitados,
de serviço e os custos de manutenção. é fundamental um controle eficiente dos estoques de ma-
Este trabalho busca desenvolver um sistema de apoio térias-primas para que não se interrompa o fluxo normal
à tomada de decisão para auxiliar no gerenciamento dos da produção. A falta de matéria-prima altera todo o pla-
224 Santos e Rodrigues – Controle de Estoque de Materiais com Diferentes Padrões de Demanda: Estudo de Caso...
nejamento da produção, gerando mais setups e descon- vidualmente; e iii) itens utilizados em grupos funcionais
trole na coordenação da capacidade produtiva, além do são afetados, simultaneamente, pelas mesmas restrições.
fato de levar os produtos acabados à ruptura. Conseqüentemente, os materiais devem ser tratados em
A estrutura deste artigo se constitui da seguinte forma: famílias distintas, com políticas específicas para a toma-
a seção 2 corresponde à revisão da literatura dos assuntos da de decisão.
abordados neste trabalho; a seção 3 descreve o estudo de
caso; a seção 4 mostra a análise dos resultados; e a se- 2.2 A influência dos diferentes padrões de
ção 5 apresenta as conclusões. demanda dos produtos na definição das
políticas de estoque
Mudanças no mercado, como crescimento do nível de
2. �����������
Revisão da ����������
literatura customização e as fusões e aquisições no mercado indus-
trial, geraram uma demanda extremamente irregular, de-
2.1 Classificação
�������������� de
��� ��������
estoque ����������
multiitens nominada “lumpy”, que é caracterizada pelo alto nível de
Segundo Partovi e Anandarajan (2002), em ambientes variabilidade com picos de demanda seguidos de vários
com centenas de itens de estoque para controle, o geren- períodos de demanda baixa ou nula. Uma forma de me-
ciamento se torna mais complexo devido à diversidade. dir essa variabilidade da demanda (lumpiness) é usar o
Uma alternativa é a separação dos itens em subgrupos, coeficiente de variação (CV). A definição do valor de um
permitindo a escolha e adoção da política mais adequada CV alto, médio ou baixo varia entre os autores (Jacobs e
para cada um deles. Whybark, 1992). Segundo Pang et al. (2005), o CV é o
A Curva ABC é uma forma de classificação muito uti- percentual de variação de uma amostra em relação à sua
lizada que usa o critério valor de uso anual (quantidade média, ou seja, é o desvio padrão dividido pela média.
utilizada por ano x valor unitário). Entretanto, essa técnica Bartezzghi et al. (1999) comprovaram que as diferen-
só é considerada eficiente para classificação de itens quase tes formas das distribuições da demanda, originadas por
homogêneos, em que o valor de uso é a principal diferen- essa variabilidade impactam diretamente os níveis dos
ça (Ramanathan, 2004). Por meio da Curva ABC, pode-se estoques. Daí, a definição da política de ressuprimento
dedicar mais atenção aos itens A por representarem alta ser um problema desafiador, pois os estoques geralmen-
participação nos valores movimentados de estoque. te operam em presença de eventos aleatórios, tais como:
Uma grande variedade de itens no estoque aumenta falta de evidência, falta de certeza das evidências e sob
consideravelmente a complexidade do gerenciamento, informações imprecisas (Petrovic e Petrovic, 2001).
criando a necessidade de classificá-los com multicrité- De acordo com Yeh et al. (1997), para se determinar a
rios. Esses critérios podem ser vários, tais como: lead probabilidade de ruptura do estoque, é preciso descobrir
time, existência de atributos comuns, obsolescência, faci- qual distribuição de probabilidade rege a amostragem.
lidade de substituição, escassez, durabilidade, distribui- Ainda, a distribuição Gamma é obtida quando períodos
ção de demanda, dentre outros. com demandas nulas e com intervalos entre demandas
Outros autores abordam a classificação multicritério, também pequenos têm maior freqüência de incidência.
dentre eles Hautaniemi e Pirttilä (1999), Guvenir e Erel Hautaniemi e Pirttilä (1999) fazem uma comparação
(1998), Cohen e Ernst (1988) e Huiskonem et al. (2003). entre políticas de controle de estoques tais como MRP,
Esses autores citam a ferramenta Processo Hierárquico Ponto de Ressuprimento (PR) e sistemas de revisões
Analítico (AHP) como uma alternativa para a classifica- visuais como “two-bin” e dizem ser, equivocadamente,
ção dos materiais. Partovi e Anandarajan (2002) apontam consideradas mutuamente excludentes pela literatura.
como vantagem da sua adoção o fato de poder incorporar
critérios qualitativos e quantitativos e ser fácil de usar, 2.3 Estoque de segurança e
mas o fator emocional pode distorcer os resultados devi- ponto de ressuprimento
do à subjetividade dos aspectos qualitativos. Os estoques de segurança existem por causa das incer-
Segundo Lenard e Roy (1995), a maioria dos modelos tezas da demanda e do lead time de fornecimento. Segun-
publicados se concentra em controle de estoque monoi- do Ballou (2001), se a demanda fosse determinística e
tem, mas, na prática, os gestores lidam com centenas de a reposição fosse instantânea, não haveria a necessidade
itens. Portanto, defendem um modelo multiitem por 3 ra- desse tipo de estoque.
zões: i) a agregação dos itens em grupos permite uma De acordo com Buzzacott e Shanthikumar (1994),
economia de tempo que pode ser canalizado para o trata- uma alternativa para reduzir estas incertezas é o tempo
mento dos itens mais importantes; ii) mesmo que os mo- de segurança que é aplicável quando se tem uma previ-
delos tradicionais proponham soluções para cada item, são bem acurada, variando apenas o lead time. Entretan-
uma análise ainda deverá ser feita e, no caso de muitos to, flutuações da demanda durante o lead time diminuem
itens, essa análise se torna demorada para ser feita indi- sua atratividade por considerar a demanda constante. O
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.13, n.2, p.223-231, mai.-ago. 2006 225
tempo de segurança, que é o desvio padrão do lead time Chan et al. (1999) afirmam que, em muitas empresas,
(ES = σlt), incrementa o lead time de entrega médio, da os estoques de segurança estão diretamente relacionados
mesma forma que o estoque de segurança incrementa a ao desvio padrão da previsão e que há vários estudos que
demanda média durante o lead time. Quando a demanda combinam diferentes modelos de previsão com obtenção
de um material segue uma distribuição Normal, o cál- de melhores resultados.
culo do estoque de segurança pode ser feito pelo desvio Segundo Inderfurth e Minner (1998), usualmente, a
padrão da soma das variâncias do lead time e da deman- proteção contra as incertezas não é conseguida somente
da: com os estoques de segurança, mas pelo esforço geren-
ES = % _vd i LT + ^vLT h d 2 / * Z
2 2 cial, da flexibilidade e da capacidade de resposta dos pro-
(1)
cessos para reagir a uma situação inesperada.
Para a definição do ponto de ressuprimento, o estoque
Em que, de segurança deve ser somado com a demanda durante o
LT é o tempo de reabastecimento; (sd)2 é variância da lead time, independente da fórmula de cálculo (Ballou,
demanda durante o lead time; (sLT)2 é a variância do lead 2001).
time de entrega dos fornecedores; e Z é o número de des- Krever et al. (2003) propõem uma expressão analítica
vios tabelado que garante o nível de serviço requerido. para o ponto de ressuprimento baseados nas demandas
Krupp (1997) propõe uma forma de cálculo, conside- individuais com comportamento esporádico. Haksever e
rando o Z como o ponto de equilíbrio entre o valor inves- Moussourakis (2003) apresentam um modelo para lidar
tido em estoque de segurança e o lucro recuperado por com o problema do ressuprimento de materiais sujeito a al-
vendas que seriam perdidas. gumas restrições de tempo, espaço e recursos financeiros.
Segundo Inderfurth e Minner (1998), esta fórmula é
aplicada quando os comportamentos da demanda e do 2.4 Outros aspectos ligados ao gerencia-
lead time obedecem a uma distribuição Normal. Na prá- mento de estoques
tica, essa normalidade da distribuição não é garantida, o Lenard e Roy (1995) apresentam algumas críticas re-
que leva a rupturas no estoque (Eppen e Martin, 1988). ferentes aos modelos clássicos de estoque: i) os custos de
Eppen e Martin (1988) complementam dizendo que pedido, de manutenção e de falta são difíceis de serem
somente em alguns casos se pode encontrar um material mensurados; ii) a complexidade para serem compreen-
com uma distribuição Normal de demanda. Dada essa didos requer um relaxamento na implementação, o que
dificuldade, o procedimento padrão é assumir a distribui- enfraquece o realismo dos modelos; e iii) são inflexíveis
ção como sendo Normal com média e variância conhe- e fazem uma confusão entre variáveis de ação (níveis de
cidas para determinar o estoque de segurança e o ponto ressuprimento e lotes de compra) e de monitoramento
de ressuprimento. Este procedimento facilita, mas infe- (níveis de estoque, nível de serviço ao cliente e carga de
lizmente incorre em erros, levando a rupturas no estoque trabalho) no controle de estoques. Portanto, para os auto-
ou a excesso do mesmo. res, existe uma grande lacuna entre teoria e prática.
Ainda, segundo Krupp (1997), quando as distribuições Para Zomerdijk e Vries (2003), esses modelos e técni-
são desconhecidas, o que é comum, e algum método de cas normalmente são baseados em modelagem matemáti-
estimativa é usado para calcular a demanda em cada perí- ca e são bons na determinação de parâmetros de estoques
odo, o sistema pode computar os erros médios absolutos e planejamento de recursos, porém, quando os modelos
da previsão (MAD) em relação à demanda real e usá-los são confrontados com o mundo real, apresentam grandes
para definir os estoques de segurança, calculado da se- limitações.
guinte maneira: Atualmente, é reconhecido pelas empresas que o de-
ES = k * ]MADg *
sempenho dos sistemas de estoque não depende somente
Lt (2)
de como são planejados ou controlados, mas também da
Sendo que, arquitetura organizacional. Por isso, muitas delas, com
n o intuito de melhorá-lo, implementam, simultaneamente,
!x -u i i
(3) avançados sistemas com o uso de medidas organizacio-
MAD = i=1
n nais (Vries, 2004).
Em que,
ui é a previsão para o período i; xi é a demanda real no
3. Estudo de caso
período i; n é o total de períodos considerados; e k é o co- O estudo de caso foi realizado numa empresa de mé-
eficiente de proporcionalidade do estoque de segurança, dio porte que fabrica e comercializa produtos químicos
sendo encontrado numa tabela específica apresentada por para limpeza doméstica e industrial. As matérias-primas
Krupp (1997). totalizam 508 itens com as mais diversas características.
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Grande parte dos custos da empresa está ligada à manu- jul/2005. Esses foram extraídos do banco de dados da
tenção dos estoques para o atendimento da demanda. O empresa e submetidos ao software Best Fit versão 2.0d
histórico da empresa é de alto índice de avarias e grandes para análise da distribuição da demanda, que foi utili-
divergências nos inventários, causados pelo descontrole zada como outro critério hierárquico para estratificação
e grandes estoques, gerando falta de espaço para orga- dos itens após a classificação ABC. Esse software ajusta
nização e movimentação. Ainda, há a perturbação da os dados coletados às curvas e faz os testes de aderên-
produção por falta de material, enquanto há materiais se cia (neste trabalho, o teste utilizado foi o Qui-quadrado).
deteriorando pelo tempo de estocagem. A Figura 1 identifica as distribuições encontradas (Beta,
Para solucionar esses problemas, os itens foram clas- Gamma e Normal) para alguns itens e, também, aqueles
sificados em famílias por similaridade, definindo as polí- itens que não se ajustaram a nenhuma distribuição e fo-
ticas de ressuprimento e estoques de segurança de acordo ram considerados como irregulares.
com os níveis de serviço requeridos. Esse procedimento Dos 508 itens, 28 são fabricação própria; 5 novos, 1 pe-
busca otimizar os estoques, eliminando os excessos e recível, 1 abastecimento contínuo, 2 sazonais; 328 são C
garantindo os níveis de serviços. A Figura 1 apresenta a não-vitais, 7 são C vitais, 6 têm LT > HP, 32 são Normais,
classificação geral. 19 são Beta/Gamma com LT < IEC, 10 são Beta/Gamma
Em que, LT é o lead time de entrega; HP é o horizonte com LT > IEC, 48 são irregulares com LT < IEC e 21 são
de planejamento; IEC é o intervalo entre consumos. irregulares com LT > IEC.
Inicialmente, foi feita uma classificação dos materiais Uma filtragem dos dados foi feita para eliminar todas
entre comuns e especiais de acordo com a experiência as discrepâncias não explicadas e que afetam as análises.
dos gestores. O critério de separação foi considerar como As distribuições dos lead times foram consideradas nor-
especiais aqueles itens com características distintas que mais porque os fornecedores tendem a respeitar os prazos
os fazem destoar essencialmente dos demais. Os comuns de entrega médios previstos nos contratos.
se diferenciam apenas pelo padrão de demanda, impor- As seções seguintes descrevem os critérios de classi-
tância e valor movimentado por período. ficação e as políticas de ressuprimento detalhadas para
Posteriormente, foi feita uma classificação ABC dos cada família.
materiais de acordo com o seu valor mensal movimen-
tado. Os itens A e B foram tratados separadamente dos 3.1 Itens especiais
C, para canalizar atenção aos primeiros, devido ao alto Conforme a Figura 1, a primeira separação dos mate-
valor financeiro que representam, além de serem vitais riais em famílias foi entre os itens comuns e os especiais,
para o funcionamento da empresa. Apenas 12% dos 508 como sugerido por Hautaniemi e Pirttilä (1999). Os úl-
itens representaram 80% do valor anual movimentado timos se referem àqueles com características peculiares
(itens A). Em contrapartida, outros 66% dos itens repre- e que devem ser tratados individualmente, tais como fa-
sentou apenas 5% desse valor movimentado (itens C). bricação própria, itens novos, perecíveis, abastecimento
Daí a importância de se tratar os itens A com mais aten- contínuo e sazonal. Essas famílias foram definidas de
ção, pois qualquer otimização no seu controle terá grande acordo com a experiência dos gestores.
impacto no estoque médio, medido em Reais. Os itens de fabricação própria são produzidos de acor-
Para os itens A e B, foi feito um levantamento de da- do com a necessidade de ressuprimento estabelecida pelo
dos de demanda semanal dos materiais de jan/2001 a departamento de Planejamento e Controle da Produção
Materiais
Comuns Especiais
Fab. Própria
Itens A e B Itens C
Novos
Lt> Hp Lt< Hp C Não Vitais C Vitais
Perecíveis
Abast. Cont.
Irregular Beta/gamma Normal
Sazonais
(PCP). Esses itens são ressupridos sob pedido, de acordo têm consumo contínuo, são utilizados em vários produtos
com a política MTO (Make to Order), nas quantidades acabados e não têm substitutos. São baratos e importan-
exatas necessárias. tes, por isso, a adoção de estoques de segurança maiores,
Os itens novos não têm história e a única referência calculados pela fórmula tradicional usada para a distri-
que o gestor de materiais tem para efetuar as primeiras buição Normal com nível de serviço de 99%, vai prover
compras é a previsão de vendas, baseada em pesquisas segurança sem onerar os estoques. A política de ressupri-
de mercado, fornecida pelo departamento de Marketing. mento adotada foi Ponto de Ressuprimento (PR).
Normalmente, a partir do terceiro mês, a demanda do Os Itens C não vitais têm demanda irregular e sua im-
item começa a se estabilizar e deixa de ser especial. A portância unitária no conjunto é pequena. Normalmente,
compra desses materiais é acrescida de uma margem de são consumidos em poucos produtos acabados e sua falta
segurança definida pelo gestor. é absorvida pela flexibilidade da produção. A política de
Os itens perecíveis não podem ser mantidos em esto- ressuprimento escolhida também foi PR. Essa política é
que, sendo requisitados no momento em que serão con- normalmente aplicada quando o material tem uma de-
sumidos. A política de ressuprimento é, pois, MTO, já manda regular, caso contrário, tem sua eficiência redu-
que o ressuprimento só é feito quando uma requisição zida. Mesmo assim, foi adotada como forma de otimiza-
firme da produção é realizada. Chang et al. (2003) enfati- ção do tempo do gestor para permitir-lhe se ocupar com
zam que essa política prioriza a data programada, ou seja, os outros itens mais relevantes, conforme sugerido por
a previsão tem que ser bem acurada. Hautaniemi e Pirttilä (1999). Os estoques de segurança
A água está presente na composição de 97% dos pro- foram medidos pelo erro médio da previsão em relação
dutos e tem abastecimento contínuo por meio da compa- ao realizado (MAD). Como são itens baratos e não tão
nhia de abastecimento da cidade, o que dispensa quais- importantes, o nível de serviço adotado foi de 95%.
quer políticas de ressuprimento.
A última família de itens especiais é formada por aque- 3.2.2 Itens A e B
les que possuem fornecimento sazonal, ou seja, a dispo- Os itens A e B foram divididos comparando o lead
nibilidade de fornecimento é limitada a alguns períodos time de fornecimento (LT) de cada material com o hori-
do ano quando ocorre a safra. A política adotada é a revi- zonte de planejamento da produção (HP). O HP da em-
são periódica (REV), já que a compra é feita anualmente. presa é de 30 dias. Logo, qualquer política de ressupri-
A quantidade comprada é obtida calculando o consumo mento que dependa da previsão da produção ou consumo
médio até a próxima safra com uma margem de seguran- do item para mais de 30 dias não pode ser aplicada. Nesse
ça, proveniente do erro da previsão (MAD). caso, materiais com LT > HP, a política adotada foi a re-
visão periódica que se baseia no histórico para definição
3.2 Itens comuns de parâmetros de controle. Seu estoque de segurança foi
Os itens comuns são aqueles que não apresentam ne- calculado pelo erro médio da previsão de consumo em
nhuma característica especial que os distinga dos demais. relação ao realizado (MAD). Produtos com grandes lead
O que os diferencia entre si são os padrões de demanda. times normalmente apresentam maior incerteza na entre-
Existem os chamados fast moving e os slow moving. Os ga, logo, adotou-se um nível de serviço de 98%.
primeiros são aqueles de alto giro e padrões de demanda Os itens A e B com LT < HP foram subdivididos de
regulares, tendendo para o contínuo. Os outros são os de acordo com o ajuste às distribuições de probabilidade re-
baixo giro e demanda irregular, ou seja, existem vários alizado com a utilização do software Best Fit. As distri-
períodos em que não há registro de seu consumo. Dentro buições encontradas foram Normal, Beta e Gamma. Os
dessa classificação, primeiramente, houve a separação itens cujas demandas não se ajustaram a nenhuma distri-
dos itens entre A-B e C. buição foram denominados irregulares. Geralmente, os
itens fast moving foram aqueles de consumo contínuo re-
3.2.1 Itens C gular regidos pela distribuição Normal, enquanto os itens
Os itens C foram subdivididos em C vitais e C não slow moving foram aqueles de consumo intermitente e
vitais, tendo como critério de separação a regularidade do esporádico e que não se ajustaram a nenhuma distribui-
consumo. Os C vitais se ajustam à distribuição Normal, ção. Entre estas duas faixas, existem aqueles itens com
pois têm demanda contínua com períodos de demanda padrão de consumo intermitente, entretanto, sistemático
nula desprezíveis. Já os C não vitais não se ajustam à dis- e regular que se ajustaram às distribuições Beta e Gam-
tribuição Normal, pois possuem períodos consideráveis ma. A Figura 2 representa graficamente os padrões de
de demanda nula e irregular. demanda encontrados, distintos por sua continuidade e
Os itens C vitais, apesar do baixo valor movimentado, regularidade.
são críticos para o funcionamento da empresa e sua fal- Em que o item: i) Contínuo, é consumido toda se-
ta acarreta parada generalizada da produção. Esses itens mana; ii) intermitente, não é consumido toda semana;
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itens. O bom senso ajuda muito, considerando que cada nhada com os objetivos da organização, é um fator que
empresa é um caso diferente. contribui muito para a competitividade. É importante que
A adoção da política de ressuprimento adequada para não só a área de materiais seja otimizada, mas a cadeia
cada material com diferente padrão de demanda e de es- de suprimentos como um todo, desde o desenvolvimento
toque de segurança permite uma otimização do estoque de fornecedores, planejamento da produção até a distri-
e garante os níveis de serviço requeridos. A utilização de buição de produtos aos clientes, o que é assunto para tra-
uma boa ferramenta de suporte à tomada de decisão, ali- balhos futuros.
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Abstract
The main challenge of inventory managers is to define when and how many of each item to replenish and how much
to keep in a safety stock. The increasing number of items with different demand patterns and specific characteristics
requires different policies to ensure a good performance in this area. Based on a case study of a chemical company,
this paper proposes a method for classifying materials with different demand patterns into families, using specific re-
plenishment and safety stock policies aimed at maintaining a balance of stocks and meeting the service levels required
for production.
Keywords: multi-item classification, demand patterns, replenishment policies, safety stocks.